AU TO RA L TO EI DI R DE UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES LE I PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PR OT EG ID O PE LA AVM FACULDADE INTEGRADA CÉREBRO AUTISTA DO CU M EN TO O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA NO Por: Andreia Pinheiro Velozo Orientador Prof. Marta Relvas Pires São Gonçalo 2013 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA NO CÉREBRO AUTISTA Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica. Por: Andreia Pinheiro Velozo 3 AGRADECIMENTOS ...agradeço a Deus por mais uma vitoria em minha vida, as minhas amigas de pós que sempre me incentivaram e nunca me deixaram desistir desta conquista e aos professores que deixaram suas marcas em minha vida nesse um ano de convívio. Tenham a certeza que levarei cada um de vocês em meu coração... 4 DEDICATÓRIA ...dedico esta monografia aos meus pais por sempre estarem ao meu lado, ao meu namorado por toda paciência e compreensão e em especial a P. meu eterno aluno e grande inspirador, que me ensinou a ser não apenas uma profissional melhor, mas principalmente um ser humano melhor... 5 RESUMO O autismo é um distúrbio do desenvolvimento do ser humano que apresenta alterações a partir dos três anos de idade, ao qual possui desvios qualitativos em sua comunicação, em sua interação social e no uso de sua imaginação, o que vem a trazer grandes dificuldades em sua socialização e cognição, pois o mesmo vive como se estivesse em um mundo diferente, ao qual não se tem muitas vezes como fazer parte. Portanto, se faz necessário aos portadores do Transtorno do Espectro Autístico cuidados especiais tanto no campo social e familiar, como no contexto escolar, especialmente no processo de aprendizagem da leitura e escrita, para que assim possam viver em sociedade do modo mais feliz e integrado possível. Sendo assim, surge a Neurociência como meio de identificar e sanar tais necessidades. A neurociência é o estudo cientifico do Sistema Nervoso, de como ele se desenvolve e funciona. E ela que revela como se propicia o comportamento humano, suas emoções, suas formas de aprender e ensinar. Contudo, a Neurociência é um conjunto formado pelo cérebro, pelo aluno, pelo professor que conduz e toda uma equipe multidisciplinar, a qual um não pode atuar sem o outro, em busca de uma perfeita harmonia para o real benefício do docente. Palavras-chave: Autismo, Neurociência, Aprendizagem, Leitura, Escrita. 6 METODOLOGIA Esta pesquisa caracteriza-se pela necessidade de romper com alguns preconceitos em relação ao individuo portador de autismo, enquanto ser de capacidades, baseando-se em pesquisa bibliográfica, fundamentada em autores como Relvas, Lent, Perissinoto, Rapin e Tuchman. E no estudo de caso acerca da utilização de métodos pedagógicos como o de Freire e Ferreiro como facilitadores no desenvolvimento cognitivo de um aluno autista de dez anos, docente de uma turma de Classe Especial em uma Instituição Privada de Ensino. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - Aprendizagem, leitura e escrita – processos neurais 10 CAPÍTULO II – Um convite ao mundo do autismo 21 CAPÍTULO III – Vivendo e aprendendo 38 CONCLUSÃO 57 ANEXOS 58 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 70 WEBGRAFIA CONSULTADA 74 ÍNDICE 76 8 INTRODUÇÃO Hoje em dia, o processo de aprendizagem de pessoas com espectro autista está fortemente relacionado ao acesso ao conhecimento neurocientíficos do professor. O autismo é uma patologia que há muitos anos vem sendo estudada pela sua complexidade e isso tem chamado a atenção de leigos, educadores e profissionais da área da saúde aos estudos neurocientíficos. Por possuir manifestações comportamentais anormais, se assim pode-se dizer, o individuo autista traz uma imensa dificuldade de conviver socialmente, o que gera um déficit em sua aprendizagem escolar. Desta feita, a criança autista precisa ser estimulada a construir alicerce mais autônomo à sua comunicação e exploração do meio. E neste processo que a neurociência oferece-se como condutora de outros caminhos (campos de estudos e conhecimentos pedagógicos) e práticas de ensino no sentido da aprendizagem da leitura e da escrita. A partir disto, se vê a necessidade de ferramentas que venham a analisar o processo de aprendizagem de leitura e da escrita de um autista no intuito de minimizar suas dificuldades cognitivas e sociais, a partir da compreensão de suas particularidades e na pretensão de se interferir de forma construtiva e satisfatória na vida escolar e social do autista. E para compreender melhor estas questões, este presente trabalho irá aprofundar novos conhecimentos no que se refere ao processo de aprendizagem da leitura e escrita da criança autista, descrevendo as dificuldades encontradas neste processo, através da identificação de 9 mecanismos neurobiológicos de suas causas e sintomas e a partir de estudo de caso de uma criança autista de dez anos. 10 CAPÍTULO I APRENDIZAGEM, LEITURA E ESCRITA PROCESSOS NEURAIS O cérebro é a base de todo o trabalho pedagógico de entender o funcionamento para se ensinar e aprender. E para saber como se processa a aprendizagem, em especial, a aquisição da leitura e escrita, é de fundamental importância conhecer como esse cérebro recebe estímulos, se consolida, ou seja, como estabelece suas redes neurais. 1.1 - Aprendizagem O ato de aprender foi instituído formalmente no Egito antigo em 3000 a.C. Tinham como foco o desenvolvimento das habilidades de comunicação, linguagem, noções para o comércio, agricultura e ações religiosas. Entretanto, acreditava-se que o centro de todo esse processo era o coração. O encéfalo era apenas uma massa cinzenta dentro da caixa craniana e não possuía valor algum. Mas a partir das evidências de Hipocrates de um cérebro dividido em dois hemisférios com suas funções biológicas e mentais, cada vez mais pesquisadores expandiram suas pesquisas em busca de novos paradigmas sobre o Homem e o cérebro, sobre como se dá a aprendizagem. O termo aprendizagem vem do latim APREHENDERE, “agarrar, tomar posse de” e de acordo com o dicionário Aurélio, aprendizagem é o ato de tomar conhecimento de algo, retê-lo na memória, ou seja, a ação de aprender. ‘Todo o processo de informação implica alguma aprendizagem, indicando simplesmente que alguém veio saber algo, que não sabia, como uma informação, um conceito, uma habilidade, capacidade. Mas não implica que esse “algo novo” 11 que se aprendeu transformou esse alguém em um “novo alguém”. E essa é uma característica forte do conceito de formação: uma aprendizagem só é formativa na medida que opera transformações na constituição daquele que aprende. É como se o conceito de formação indicasse a forma pela qual nossas aprendizagens e experiências nos constituem como um ser singular no mundo.’ (RELVAS, 2010, p25) Vários fatores e aspectos se estabelecem e influenciam direta ou indiretamente no ato de aprender, assim, o aprendizado é um processo pelo qual o cérebro reage a estímulos, gerando conexões neurais como circuitos que processam e armazenam informações significativas. Cada individuo, grupo, sociedade a partir de suas competências, entendimentos, atitudes ou valores, geram mudanças de comportamento, resultados das experiências constituídas, sejam elas estabelecidas por fatores emocionais, neurológicos, relacionais ou ambientais. (CHIESA, 2012) explica que o aprender é resultado da integração de todas as informações percebidas e processadas pelo individuo e que tal integração toma forma de acordo com as modificações estruturais do cérebro, permitindo que as mesmas informações se tornem um “traço” físico de sua passagem. Segundo Silva (2012), as capacidades de aprendizagem que nos permitem aprender são sensórias, cognitivas e motoras. SENSORIAS - Está ligada aos cinco sentidos. As estruturas sensoriais dos órgãos são terminações nervosas, ou seja, canais receptores das informações, que ao receberem um determinado estímulo, transforma-os em impulsos nervosos, mandando tal informação para a memória de curto prazo. COGNITIVAS – Relaciona-se a memória, o raciocínio e atenção. Memória – De acordo com CHIESA (2012, p.41), durante o processo de aprendizado, sinais são deixados através do processamento e integração de informações percebidas, ativando 12 assim a memória, ou seja, a memória possui reações químicas e circuitos interligados de neurônios. Ao neurônio ser ativado, neurotransmissores são liberados atingindo células nervosas através de sinapses. O autor ainda relata que a memória é um processo pelo qual as experiências já vividas pelo indivíduo podem ser lembradas, tanto em termos de aquisição de novas informações (fase do desenvolvimento do sinal) quanto ao relembra-las (fase de reativação do sinal). Quanto mais reativado o processo, mais “marcada” será a lembrança, e, portanto menos passível de ser esquecida. Quanto mais conexões neurais, mais memória. Memória de curto prazo – Sistema de memória de curto volume de duração de segundos ou minutos, retendo apenas informações momentâneas. Memória de longo prazo - Possui dois aspectos importantes: duração e capacidade. Está sob a forma inconsciente armazenando as informações significativas captadas pela memória de curto prazo. “Memória é a reprodução mental das experiências captadas pelo corpo por meio de movimentos dos sentidos. É também a capacidade de planejamento, abstração, julgamento crítico e atenção. (RELVAS, 2010.p 40) Raciocínio – É a capacidade de pensar em busca de resoluções e respostas. Tem a função de selecionar (Raciocínio linear), combinar (Raciocínio hipotético) de modo a respondê-las. Além disso, há o Raciocínio lógico-matemático que seleciona e combina informações de natureza qualitativa e quantitativa. Atenção - É um processo cognitivo intelectual que evidencia e seleciona estímulos, estabelecendo relação entre eles e ligando à informação e compreensão da mesma . “A atenção é o que poderíamos chamar a primeira estação de tratamento da informação. Através dela os estímulos são filtrados, permitindo a seleção e, portanto, a concentração da 13 atividade mental numa determinada informação. A capacidade seletiva é a característica essencial da atenção.” (Sim-Sim, 1998, por Silva 2012) MOTORAS – È a habilidade de executar movimentos simples ou complexos, implicadas caracterizando-se como na a fase da exteriorização resposta/desempenho, do trabalho mental previamente desenvolvido pelo raciocínio. É fundamental para os educadores buscarem uma compreensão maior da base cientifica do aprendizado e há quatro níveis importantes que devem ser respeitados: Organismo, corpo, desejo e inteligência, aos quais devem ser permeados pelos princípios ligados ao ato de aprender: Atividade, criatividade, autoridade e liberdade. (RELVAS, 2010. p64) possibilitando assim um ensino centrado no docente, em suas necessidades e seu desenvolvimento como um todo. 1.1.1 - Anatomia da aprendizagem O cérebro é composto por uma vasta quantidade de neurônios (recebe, processa, armazena e envia informações adquiridas do ambiente) e células glias (regula essa rede e comunicações, interferindo na transmissão de informações ou propiciando condições para seu funcionamento) suas unidades operacionais básicas. Além disso, possui áreas especificas e altamente especializadas no qual contribuem em certos aspectos da nossa percepção. Relvas (2010) descreve essas áreas corticais e as funções desenvolvidas por diferentes regiões corticais, sendo elas: LOBO FRONTAL (Córtex pré-frontal) – Relaciona-se com as funções superiores, as quais são representadas por variados aspectos comportamentais humanos. Recebe impulsos nervosos dos lobos 14 parietal e temporal por meio de feixes de longas fibras de associações localizados no giro cíngulo. LOBO TEMPORAL – Possui funções situadas em porções diferentes, isto é, a parte posterior está relacionada com a recepção e a decodificação de estímulos auditivos, coordenando-se com impulsos visuais e a parte anterior relaciona-se com a atividade motora visceral (olfação e gustação) e além de aspectos de comportamentos instintivos. LOBO PARIETAL – Refere-se à interpretação, à integração de informações visuais (provido do córtex occipital) e ás somatossensitivas primárias, especialmente o tato. LOBO OCCIPITAL – Esta região é responsável pela integração visual a partir da recepção dos estímulos ocorridos nas áreas primárias, levando informações, leva as informações para á serem apreciadas e decodificadas nas áreas secundárias e de associação visual. Estes centros visuais conectam-se por fibras intra-hemisféricas ao córtex do parietal do mesmo lado, bem como ao lobo temporal, para outras atividades integradoras. Além da integração intra-hemisférica, ás áreas parietais direita e esquerda e temporais posteriores conectam-se por meio do corpo caloso, transmitindo aos dois hemisférios pelas fibras inter-hemisféricas. CEREBELO – Responsável por coordenar os movimentos automatizados e voluntários, segurança, proprioceptividade, regulação de padrões motores. CÓRTEX MOTOR PRIMÁRIO – Tem a funcionalidade de iniciar o comportamento motor voluntário. CÓRTEX SENSITIVO PRIMÁRIO - Tem a função de receber informações sensitivas do corpo. CÓRTEX VISUAL PRIMÁRIO – Tem a funcionalidade de detectar os estímulos visuais. 15 CÓRTEX AUDITIVO PRIMÁRIO - Tem a função de coordenar os estímulos auditivos. CÓRTEX DE ASSOCIAÇÃO MOTORA (área pré-motora) - Tem a funcionalidade de coordenação dos movimentos complexos. CÓRTEX DE ASSOCIAÇÃO VISUAL – Tem funcionalidade no processamento da visão complexa. CÓRTEX DE ASSOCIAÇÃO AUDITIVO – Tem a função de processar a audição complexa. ÁREA PRÉ-FRONTAL – Tem função de planejamento, emoção e julgamento. ÁREA TEMPORAL E PARIETAL – Tem a funcionalidade percepção espacial. Dentro das regiões corticais há duas regiões que merecem o devido destaque, pois estão relacionadas diretamente ao processo de leitura e escrita, que são: área de Broca e área de Wernicke. Localizado no giro frontal inferior (Lobo frontal), a área de Broca tem papel fundamental na produção da fala, no processamento da linguagem e compreensão. Além disso, compreende as unidades motoras que controlam o movimento dos músculos, produzindo a fala e está conectada a área de Wernicke, localizada na unção dos lobos temporais e parietais, e o mesmo é responsável pelo reconhecimento da fala e está relacionada ao conhecimento, interpretação e associação das informações. As áreas de Broca e Wernicke são interligados pelo fascículo longitudinal superior e é através desse fascículo que relevantes informações para a correta expressão da linguagem passam da área de Wernicke para a de Broca. De acordo com a revista Neuroeducação (2012 2º Ed.), trabalhos realizados pela neuropsiquiatra americana Susan Bookheimer apontam que a área de Broca não associa-se apenas a produção da linguagem, mas a uma 16 série mais ampla de funções linguísticas, além disso, a pesquisadora relata que a área de Wernicke se relaciona com a semântica e que tais estruturais dizem respeito a níveis elevados de processamento, de forma que, não se restringem a estímulos auditivos. Informações visuais podem se processadas também linguisticamente, como no caso da comunicação por meio de sinais. O cérebro em toda sua complexidade e funcionalidade cortical, não trabalha por partes. As áreas entram em cooperação umas com as outras, ou seja, geram redes cognitivas em busca de uma aprendizagem significativa. “A ativação de uma área cortical, determinada por um estímulo, provoca alterações também em outras áreas (...) isto ocorre em virtude da existência de um grande número de vias de associações, precisamente organizadas, atuando nas direções. Estas vias podem ser muito curtas, ligando áreas vizinhas que trafegam de um lado para outro sem sair da substância cinzenta. Outras podem construir feixes longos e trafegam pela substância branca para conectar um giro a outro de um lobo a outro, dentro do mesmo hemisfério cerebral. São as conexões intra-hemisféricas. Por ultimo, existem feixes comissuras que conduzem a atividade d um hemisfério para outro, sendo o corpo caloso o mais importante deles.” (Relvas, 2010, p.26) 1.2 – Leitura e escrita “A aprendizagem da leitura e da escrita é talvez o maior desafio que as crianças têm que enfrentar nas fases iniciais da escolaridade. Ganhar esse desafio é, num mundo dominado pela informação escrita, o primeiro passo para que cada uma das crianças que hoje frequenta a escola seja no futuro um cidadão efetivamente livre e autônomo nas decisões que toma. A alfabetização não apenas condiciona todo o posterior percurso acadêmico, como igualmente vai moldar o acesso a novos conteúdos e processos intelectuais, determinando, em parte, os limites daquilo que é a liberdade individual de cada um.” (Martins e Silva, 1999) Por muitos anos, estudiosos consideravam o ato de leitura como uma atividade de essência perceptiva e derivava de uma boa capacidade de 17 discriminação visual e sonora. De acordo com Mialaret (1974 apud CUNHA 2011) a leitura era vista como uma habilidade altamente mecânica de descodificação de signos e escritos que exigiam um nível de maturidade acerca de um conjunto de aptidões psicológicas, tais como: estruturação espacial e temporal, organização perceptivo-motora, desenvolvimento da função simbólica da linguagem, a organização do esquema corporal e o desenvolvimento intelectual. Tais aptidões eram vistas como pré-requisitos para ser um bom leitor. Uma das abordagens desenvolvidas atualmente é de que a leitura é um processo de aquisição da “lectoescrita” e, como tal, compreende operações fundamentais: decodificação e decifração/compreensão (STAMPA, 2009, p42). Primeiramente, realiza-se o reconhecimento visual global de uma série de palavras comuns de sua frequência como o nome. Após faz-se a conversão das letras em seus respectivos sons, repedindo-as rapidamente de forma a entender o que se lê e por fim, memorizam-se as palavras obtendo-se uma boa pronúncia a leitura e boa produção ortográfica na escrita. Logicamente, que o ato de ler vai além da decodificação dos símbolos em sons, pois a partir do momento que a palavra é decodificada, o entendimento do significado de um texto requer recursos suplementares, como o conhecimento semântico de seus sentidos usuais, as regras de sintaxe que governam sua organização, entre outros. O que se sabe de fato, é que aprender a ler exige o domínio de uma gama de habilidades complexas, e cada vez mais pesquisas neurobiológicas vem mudando concepções e revelando novos processos em termos de circuitos neurais básicos. O modelo mais abrangente e sustentado até hoje é a teoria da ”rota dupla” criada pelos neurocientistas Gael Jobard, Fabrice Crivello e Nathalie Tzourio-Mazoyer. O ponto inicial da leitura é o movimento dos olhos sobre a 18 página, os olhos se movimentam da esquerda para direita mediante alguns saltos rápidos denominados movimentos oculares sacádicos (STAMPA, 2009), esse estímulo é primeiramente processado pelo córtex visual primário, ocorrendo após o processamento pré-léxico na junção occipitotemporal. Postula-se que o processamento segue em diante um de dois caminhos complementares. O “caminho montado” - etapa intermediaria da conversão de letras e palavras em sons, processadas nas áreas temporal e frontal, incluindo área de Broca. Já o “caminho endereçado” – realiza transferência direta de informações do processamento pré-léxico ao significado (acesso semântico). Terminando ambos, na área temporal basal esquerda, no giro frontal interior esquerdo e no giro médio posterior esquerdo, ou a área de Wernicke.(Revista neuroeducação Ed. 2) A escrita é um método de comunicação criado pelo homem como um sistema de registro. A escrita ocorreu de um processo evolutivo de milhares de anos até o aparecimento da escrita alfabética. A aprendizagem da escrita supõe a formação na memória de todas as suas convenções e tal formação depende de áreas distintas do cérebro, ligadas à percepção e ao processamento de imagens (letras e palavras), as quais precisam estar articuladas ao significado. “A escrita deve ter significado para as crianças, despertando nelas uma necessidade intrínseca e deve ser incorporada numa tarefa necessária e relevante para a vida.” (Vigotski, 1988) Formar os conceitos de letras, sílaba e palavra está relacionado às dimensões do léxico, da semântica, da morfologia e da fonologia. A sintaxe e a prosódia podem ser utilizadas como recurso metodológico. A sintaxe é fundamental para a formulação do sentido de uma frase. Semântica trata de elementos básicos da criação do significado da escrita. Para escrever é necessário integrar as palavras em sentenças 19 segundo a estrutura gramatical, de forma que o significado possa ser constituído. Léxico = vocabulário. Entender a formação das palavras ajuda tanto na ampliação do léxico, como na escrita correta das palavras (fonologia e ortografia). A prosódia é o que permite comunicar na escrita a qualificação de estados de emoção, movimento, intencionalidade e humor que a linguagem oral apresenta. A prosódia depende do uso de classes gramaticais diferentes. Já para formar o conceito de frase e de texto é necessário o trabalho com as todas as dimensões linguísticas da escrita. “Para atribuir significado ao que lê, a pessoa utiliza seus acervos de memória (visual, auditiva e semântica). Para escrever necessita “trabalhar” conscientemente com a estrutura da sintaxe para escolher as palavras. Tomar decisões constantemente é uma característica básica da escrita. Recorre-se à memória para buscar palavras e para disponibilizar o método para escrever. Enquanto na leitura a pessoa forma o significado a partir do que o autor escreveu, na escrita a pessoa é autora das escolhas e estas devem corresponder exatamente à intenção de significado dela”. (LIMA p.7) A linguagem gráfica representada pela escrita se estabelece pelo amadurecimento do controle neuromotor. Controle postural, segurança gravitacional, lateralização e segmentação digital são funções essenciais ao movimento do grafismo. “O inicio do movimento da escrita parte do córtex da área de Broca que organiza os atos motores, quando escreve seus pensamentos. Esta área recebe informações visuais e auditivas, facilitando o planejamento do controle das mãos.” (RELVAS, 2011 p.68) Relvas (2011) descreve que a organização dos movimentos da escrita varia de individuo para individuo, pois depende da forma que cada um foi 20 alfabetizado. A utilização da fala/fonação durante a aprendizagem é de suma importante para a criação da “imagem cerebral escrita”, pois se utiliza de modelos preestabelecidos e existentes. A autora ainda relata que à medida que os neurônios frontais aprendem a escrever as letras, a escrita das palavras organiza-se a partir dos neurônios parietais de memorização visual dessas palavras e de controle visual dos movimentos da mão. Tal aprendizado se realiza através da potencialização das conexões entre todas as células. 21 CAPÍTULO II UM CONVITE AO MUNDO DO AUTISMO A sociedade desde sua origem parece viver em torno de uma visão baseada na normalidade, ou seja, em pessoas ditas normais, esquecendo-se das que não se enquadrarem nessa norma, gerando assim sua exclusão. Mas com o decorrer do tempo, isso vem se modificando, mas precisamente a partir da primeira metade do século XX, onde a deficiência num todo era conceituada como algo que já vinha com a pessoa e que não mudaria em nada com o passar do tempo. A partir disso, inúmeras pesquisas e trabalhos foram surgindo numa busca de detectar e discriminar todos os tipos de transtornos existentes, aumentando assim a compreensão e aceitação desses indivíduos. Por isso, embarque numa viagem ao mundo de um dos transtornos mais complexos de se compreender, que é o mundo autista. O autismo foi descrito pela primeira vez em 1943, pelo psiquiatra infantil austríaco Leo kanner em seu artigo “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo” (Autistic disturbences of Affcetive Contact), no qual relatou onze casos de pacientes que apresentavam incapacidades do desenvolvimento humano e características de déficit de relações interpessoais como o de Donald, um menino de apenas cinco anos de idade. “(...) eu fiquei perplexo com as peculiaridades que Donald exibia; desde a idade de dois anos e meio ele conseguia dizer os nomes de todos os presidentes, falar as letras do alfabeto na sequencia habitual e de trás para frente, e recitar de forma impecável o salmo 3; ao mesmo tempo ele era incapaz de manter uma conversação ordinária; não estabelecia contacto com as pessoas, embora pudesse nomear objetos com facilidade; sua memória era fenomenal; as poucas vezes em que ele se dirigia a alguém, em geral para satisfazer suas necessidades, ele se referia a ele mesmo como ‘você’, e a 22 pessoa como ‘eu’; ele não respondia a nenhum teste de inteligência, porém conseguia manipular encaixes complexos com destreza” (KANNER, 1943 apud SCHWARTZMAN, 2003, p.5) Outro personagem muito importante na história do autismo foi Hans Asperger, também psiquiatra austríaco, que em 1944, teve sua tese de doutorado publicada ao qual se intitulava “Psicopatia Autística”, descrevendo casos similares aos de Kanner, mas que depois passaria a ser conhecida como síndrome de Asperger. Ambos nomeavam os sintomas de seus pacientes como autismo, termo cunhado pelo psiquiatra Eugen Bluer, em 1911, para descrever pacientes com esquizofrenia, definida como ”fuga da realidade”, ou seja, pessoas que buscavam o isolamento em seus próprios mundos. Apesar de possuírem sintomas em comum, a síndrome de Asperger contempla indivíduos que se aproximam da normalidade (Pereira 1996), pois apresentam uma linguagem e comunicação mais desenvolvidas, o que permite uma melhor adaptação ao meio. A partir disso, as diferenças encontradas sugerem que a síndrome de Asperger é uma entidade clínica distinta e não um mero subgrupo do autismo. 2.1- Características Vários autores veem abordando e defendendo uma caracterização do autismo baseada em três desvios, chamados segundo Lorna Wing de Tríade, aos quais serão levantados alguns pontos importantes. Esses desvios são: Comunicação – A pessoa autista possui dificuldades ou ausência total da linguagem verbal, o que muitas vezes é confundida com surdez-mudez ou afasia. É como se ao ser chamado, ele apenas ouvisse um zumbido ou falassem em outra língua. Receber e expressar essa linguagem e vocabulário 23 pode ser muito difícil para o autista, pois por se utilizarem de poucos gestos ou expressões faciais, não conseguem compreender e se fazer compreender, o que impossibilidade a sua comunicação. Já para os que possuem linguagem verbal, é dificultoso iniciar e/ou manter uma conversa, onde na maioria das vezes os de rendimento intelectual maior acabam aparentando ter um conhecimento que não possuem por se utilizarem termos não esperados para sua idade e outros apenas repetem palavras ou frases que lhe foram ditas, o que é chamado de ecolalia (Tardia ou Imediata), sendo estas em grande parte, ditas fora do contexto. Interação social - Um dos principais pontos da falta de relações interpessoais do autista e devido a sua não verbalização. Além disso, pesquisadores acreditam que certas aproximações são aleatórias, sem a troca de sentimentos pela incapacidade de distinguir pessoas ou lugares. Pelos sintomas autísticos poderem se manifestar desde os primeiros anos de vida, algumas mães relatam que seus filhos nunca olharam em seus olhos, assim como casos em que existe o contato visual, porém muito rápido. Como numa maneira de decifrar o que esta acontecendo, alguns fixam o olhar em nossa boca ou demais regiões do corpo, ausentando-se do olhar. Pode até parecer que os autistas não querem fazer amigos, mas eles possuem dificuldades em compartilhar / expressar seus sentimentos, o que gera um maior isolamento. Alguns têm rejeição ao toque ou ate mesmo barulhos, como um simples estourar de uma bola, parecendo que ele vai se estourar juntamente com a bola. Imaginação - O autista apresenta rigidez e inflexibilidades que se estendem as várias áreas do pensamento, linguagem e comportamento. Marques refere que “As perturbações da imaginação manifestam-se por incapacidade de simular, imaginar e participar de jogos de faz de conta” (1993, p.62). Sendo assim, possuem dificuldades de fazer abstrações, ou seja, piadas, gírias, duplas intenções, etc., o que torna seu pensamento concreto. Sua rigidez e inflexibilidade se apresentam através de restrições e repetições de atividades e interesses por um a determinada área. Em muitos casos 24 colecionam ou se apegam a certos objetos e rotinas na maioria incomum, como brincar com a roda de um carrinho, ao qual ele pode ficar durante horas, o que se torna um padrão de vida, não apenas dele, mas de quem esta em seu convívio. Seus movimentos corporais são estereotipados, tais como ficar girando, pulando, mexendo os dedos, etc. Algo que chama atenção e que algumas crianças autistas possuem é uma flexibilidade de movimentos incríveis, conseguindo subir ou descer de lugares inesperados e rapidamente sem se machucar, aparentam não ter medo ou noção do perigo. Entretanto, uma simples mudança de sua rotina, pode acarretar crises, "chilique", birra, escândalo e até mesmo agressões aos demais e em si próprias. Dentro dos critérios de diagnostico do autismo, há a presença de padrões rítmicos, repetitivos de forma despropósital e involuntária, que são as estereotipias. Elas são rítmicas e continuas, mas com o passar do tempo tendem a diminuir, conforme a criança fica mais velha. Segundo Rapin e Tuchman (2009) neurobiologicamente não há conhecimento de que mecanismos efetivos geram as estereotipias, entretanto, acredita-se que emergem dos gânglios da base ou de circuitos corticais dos gânglios da base (talamocortias). Os neurotransmissores da dopamina e serotonina supostamente desempenham um papel importante na manutenção dos comportamentos repetitivos. Baseados nos comportamentos atípicos da tríade, alguns pesquisadores levantaram hipóteses de falhas primárias no desenvolvimento do individuo autista. Uta Frith e Simon baron-Cohen abordam que tais falhas se dão pela inabilidade do autista em compreender o ponto de vista do outro, ou mentalizar, decorrente da impossibilidade de formar uma meta- representação da realidade. (PERISSINOTO, 2003 P.26) Esta teoria é chamada por eles de Teoria da Mente. De acordo com revisa Mente e cérebro (2010), o cérebro possui um circuito neural especializado ao qual possibilita o sujeito a penar sobre si próprio e sobre o outro, gerando assim formulações 25 sofisticadas sobre sua própria mente e a de outrem, de forma prever o comportamento de seus semelhantes. “Para entender o estado interior de outra pessoa, é preciso ser capaz de interpretar expressões emocionais e comportamentos. Em geral, o individuo com autismo de funcionamento elevado compreende o que a outra pessoa pensa, mas não é capaz de inferir pistas sociais sutis a partir das expressões emocionais e do comportamento. A difícil compreensão de os outros possuem crenças, intenções e desejos é uma habilidade essencial que, quando deficiente, leva ao comprometimento da interação social recíproca.” (BARON-COHEN, 1985 apud RAPIN e TUCHMAN, 2009) Outra concepção cognitiva discutida é sobre a construção da Coerência Central, que consiste no modo em que a informação é interpretada pelo sujeito, considerando altamente os fatores focais no processamento de tal informação, tendo a atenção fixa a detalhes e não no todo. “O individuo autista não constrói interpretações compreensivas de situações, pois não integra as informações a que esta exposto, é inapto para fazer interferências e identificar as relações de causa e efeito entre ações.” (PERISSINOTO, 2003 p.26) Outros autores abordam que o comportamento autistico deriva de falhas nas funções executivas, responsável por planejar, iniciar, executar e finalizar uma tarefa. Ou seja, o sujeito autista apresenta falhas no planejamento de ações futuras com objetivos específicos. Tal concepção foi gerada a partir das preposições de que a Teoria da Mente não compreende os comportamentos repetitivos e o circulo restrito de interesses (ilhas de habilidades) por si só. De forma que esta falha de planejamento seria subjacente a Teoria da Mente, devido a um dano cerebral, no córtex préfrontal. (PERISSINOTO, 2003) Diferentemente de outras deficiências, como por exemplo, a síndrome de Down, a pessoa autista não possui características faciais e/ ou físicas que a 26 discriminem aparentemente, portanto, a definição do autismo é basicamente comportamental (SCHWARTZMAN,2003). Fechar um diagnóstico de uma pessoa autista é um imenso desafio, pois é um problema de tantas faces, devido à diversidade de sintomas apresentados que varia de indivíduo para individuo, desde retardo mental a níveis de inteligência acima da média. “(...) O diagnostico deve ser realizado por um profissional qualificado que irá se pautar fundamentalmente em observações e entrevistas. Deve haver um número de sintomas para classificar uma criança autista. Justamente, por esse motivo, o autismo é confundido com muitas outras síndromes ou outros transtornos.” (DORLA, PEREIRA E MARINHO, 2006, p.2) 2.2 – Definições Na busca de se fazer uma melhor compreensão sobre o autismo, vários termos foram criados no decorre dos tempos. Atualmente, o autismo esta inserido pelo sob um termo mais abrangente, Transtorno do Espectro Autista (TEA), referindo-se ao agrupamento de cinco transtornos específicos: Transtorno autístico ou autismo; Transtorno desintegrativo da infância; Transtorno de Asperger; Transtorno de Rett; Transtorno invasivo ou global do desenvolvimento: não especificado em outra categoria. Todos possuem sinais comportamentais similares na comunicação, habilidades e padrões sociais e interesses, mas ao mesmo tempo possuem grandes diferenças devido à forma em que se apresentam suas habilidades atuais e seus critérios de diagnósticos específicos. 27 Conforme já citado, os diagnósticos do autismo são bastante variáveis: “Alguns especialistas afirmam que os diferentes níveis de funcionamento intelectual, a variação na idade de ocorrências do distúrbio, o número e a gravidade dos sintomas sugerem subtipos.” (KOEGEL e KOEGEL, 1995; WING, 1989 apud SMITH, 2008 p.12) Esses subtipos são: Autismo de bom funcionamento (Leve) – falam e têm um bom funcionamento de ações e reações. Apresentam algumas dificuldades de comunicação, socialização e as “manias” de forma branda. A criança adquire fala a se alfabetiza, onde algumas conseguem frequentar uma escola regular, podendo, inclusive, chegar à conclusão de um curso universitário. Podem se casar, ter uma carreira e participar da comunidade, apesar de apresentarem algumas dificuldades em compreender situações sociais mais complexas (como por exemplo, o jogo de sedução), ironias, metáforas e piadas. Com isto, alguns demonstram ser ingênuos para a faixa etária e muitas vezes se comportam de maneira inapropriada em determinada situação sem se dar conta. No autismo clássico (severo) - a criança dificilmente adquire linguagem. Tende a manter o isolamento social e, com frequência, apresenta intensa estereotipia motora e automutilação. 2.3 - Epidemiologia O Mundo vem evoluindo cada vez mais, tanto no âmbito tecnológico, quanto cientifico, permitindo assim uma maior conscientização da sociedade em relação ao Transtorno Autístico, o que antes era desconhecido por muitos. O autismo vem atingindo uma expressão considerável, com estimativas de um autista para cada 500 indivíduos, o que pode parecer ser um exagero, mas é 28 uma realidade a qual nos encontramos. Só no Brasil, o autismo atinge cerca de dois milhões de pessoas e no mundo, segundo dados da ONU, já são 70 milhões. (O Globo On line, 01/04/2011) Sabe-se também que a taxa de incidência seria de quatro vezes mais frequente no sexo masculino do que no sexo feminino, entretanto, quando afetadas, o quadro clínico costuma ser mais severo. Algumas hipóteses foram levantadas sobre a possível predominância nos meninos, como os elevados níveis de testosterona (principal hormônio masculino) apresentados na formação cerebral, ao qual seria responsável pela formatação do sistema nervoso central, deixando-os assim com baixa imunidade, ou seja, mais suscetíveis a contrair certas condições patológicas. Outra teoria é baseada nas diferenças de funções cerebrais entre os homens e as mulheres, onde questões como a superioridade feminina na linguagem, na percepção, nas empatias, nas habilidades manuais finas, nas brincadeiras de faz de contas e as habilidades masculinas desenvolvidas como o raciocínio matemático, geometria, resoluções de problemas matemáticos, figuras ocultas são analisados. Além disso, uma nova hipótese surge para a defesa da teoria acima citada, em que os homens possuem cérebros maiores do que as mulheres, tendo os autistas cérebros maiores do que os ditos homens normais. Segundo Rapin e Tuchman (2009), a importância deste fato, não se dá por dizer que cérebros grandes sejam inerentes ao autismo, mas por se apresentarem em comparação ao tamanho dos cérebros em geral, maiores em indivíduos jovens do que o previsto. A realização de estudos evidenciam um aumento da circunferência da cabeça, aumento do tecido e o volume ventricular lateral, e em regiões especificas como nos lobos corticais (temporal, parietal, occipital e frontal). Além disso, foi identificado um aumento das substâncias cinzentas e brancas no cérebro e também no cerebelo. 29 A partir do método de parcelamento topográfico com base na neuroanatomia (Makris et al., 1999; Meyer et al., 1999 apud Rapin e Tuchman, 2009) apresentou-se: ”que o aumento do volume restringe-se à zona radiada, ou seja, à substância branca cortical composta basicamente, da corona radiada e das fibras U. (...) a substância branca do lobo frontal mostrou a maior hipertrofia (27%) quando comparada aos indivíduos-controle.” (p.138) Conforme a revista Mente e cérebro (2012), os autistas possuem o cérebro mais pesado e os números de neurônios na área do córtex pré-frontal é superior ao do cérebro “normal”, ao qual está relacionada às habilidades cognitivas, comunicativas e de interação social. O pesquisador Eric Courchersne e sua equipe descobriram a partir de analise de tecidos do córtex pré-frontal do cérebro de sete autistas, onde os mesmo possuíam 67% mais neurônios que os grupos de controle, mas tal observação refere-se apenas a este tipo de células. Outras estruturas neurais tiveram a porcentagem igual ao grupo de controle. Segundo Rapin e Tuchman (2009), uma das hipóteses levantadas por alguns investigadores para o possível aumento na prevalência do autismo é de que a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) teria relação com a causa do autismo. O que se torna perigoso, pois alguns pais ao buscarem proteger seus filhos acabam os deixando mais vulneráveis, ate pelo fato de não existirem evidências de que a vacina é causadora do autismo. O que se pode dizer de fato: “O autismo é uma síndrome, não uma doença no sentido em que entendemos o sarampo e a anemia falciforme, pois, apesar de seu notável fenótipo comportamental, falta-lhe uma etiologia singular ou uma patologia específica. (...)” (RAPIN e TCHUMAN, 2009. p.23) 2.4 – Neurobiologia do autismo 30 O autismo vem sendo estudado há muito tempo e acreditava-se que a indiferença da mãe em relação ao seu filho, conhecida como “mãe-geladeira”, era o que ocasionava o autismo. Pais frios e rígidos, que não permitiam mesmo que inconscientemente, a melhora de seus filhos e deveriam ser afastados, ao menos por algum tempo. Com a evolução das pesquisas cientificas, novas teorias foram surgindo, deixando para trás a ideia de um distúrbio adquirido pela falta de contacto afetivo. Hoje, fala-se em fatores genéticos relacionados a causas ambientais, fatores Pré e Peri natais e alterações orgânicas (lesões encefálicas). No aspecto de fatores genéticos, há estudos com relação a gêmeos monozigotos ou univitelinos (gêmeos idênticos) autistas. Conforme a mente e cérebro (2012), um ou mais genes sofrem uma espécie de mutação em vários trechos do DNA, atribuídos à perda da funcionalidade de um dos quatros genes a seguir: neuroglina 3, neurglina 4, neuroxina 4 e SHANK 3, sendo neuroglina 4 o mais afetado. Tais mutações influenciam diretamente nos “códigos” que especificam as funções das proteínas no sistema nervoso, determinando na formação de sinapses para transmissão das informações. Esses genes formam uma rede proteica sobra à fenda sináptica que se interrompida prejudica a transmissão dos sinais das sinapses. Entretanto, alguns pesquisadores lançam a hipótese de que os gêmeos monozigotos não adquirem o autismo somente por traços genéticos, mas também como resultado do ambiente físico e pelos recursos intrauterinos. Síndromes genéticas associadas ao autismo também estão sendo investigadas. A principal delas é a síndrome do X frágil, pois apresenta sinais como à falta de contato visual, movimentos estereotipados, fala repetitiva. Estimativas atuais desta comorbidade variam de 15 a 25%. (RAPIN e TUCHMAN, 2009). Estudos atuais levam ao debate que certas regiões 31 cromossômicas (15q11-13; 7q22-31; 22q11;22q13; 2q37) consideradas hot spots para o Autismo, devem ser pesquisadas em todos os portadores do Transtorno.(MENTE E CÉREBRO, 2010) Um estudo sobre a influência de traumas e hábitos adquiridos em vida na alteração de nossa composição genética, designada por Epigenética, traz a ideia de que o ambiente pode alterar nossa herança celular. Tal mudança não seria exatamente no DNA, mas na ativação de cada gene, não se tratando assim de uma mutação genética. Esta modificação ou não do gene é que deixaria uma marca Epigenética transmitida á cada nova divisão celular no mesmo corpo, sendo assim transmitida a outras gerações. Outro suposto fator estudado pelo neurologista David Beversdorf e seus colegas, para a causa do autismo, relaciona o estresse a gestação. A partir de entrevistas realizadas por eles, foram encontradas mães de crianças autistas, com significativa taxa alta de estresse entre a 21ª e a 32ª semana de gestação (idade embriológica de formação das estruturas anatômicas cerebrais que no autismo se encontram alteradas.) (MENTE E CÉREBRO, 2012). Interferências na gestação podem afetar as proteínas que possibilitam o desenvolvimento do cérebro social, ou seja, as proteínas ativam a conexão entre os neurônios que desta forma ativam o cérebro social para analise e interpretação de pistas sócias (sons da fala, percepção de estímulos sensoriais, gestos, movimentos, etc.). “cérebro social define-se como uma complexa rede de áreas cerebrais ou rede neural, que nos permite reconhecer outros indivíduos, avaliar os seus estados mentais (por exemplo, suas intenções, disposições, desejos e crenças)” (PINHEIRO, 2011 p.12) Além disso, a prematuridade, o baixo peso ao nascerem, infecções neonatais graves e traumatismo de parto já são considerados risco para o autismo. 32 Dentro do aspecto anatômico, varias estruturas cerebrais são relacionadas à causa e/ou falhas no desenvolvimento do autismo, como: lobo frontal medial, temporal medial, gânglios da base, tálamo, hipocampo, corpo caloso e etc., todavia há algumas áreas que tem sido de grande destaque em diferentes literaturas neurocientificas. São elas: Cerebelo – Diferentes estudiosos como Rapin e Tchuman (2009), Courrchesne (2005), entre outros vêm abordando anormalidades cerebelares como a redução no número das células Purkinje, hipoplasia (patologia por insuficiência de desenvolvimento de um tecido ou de um órgão) nos lóbulos vermianos cerebelares VI-VII e a elevação do volume cerebelar devido ao aumento da substância branca. Amígdala cerebral – A amígdala cerebral vem sendo descrita por muitos pesquisadores de suma importância para os estudos das bases neurobiológicas do espectro autista, devido suas funções relacionadas à sociabilidade e padrões emocionais. (CODY et al.,2002 apud MERCADANTE). Descargas de informações sensoriais são processadas e transmitidas para a amígdala cerebral que determina a reação emocional, ou seja, a resposta emocional que se deve dar a cada estímulo de forma a percorrer todo o sistema límbico, atingindo assim o sistema nervoso autônomo, que por sua vez, envia sinais ao cérebro, amplificando tais respostas emocionais. Conforme o tempo, a amígdala cerebral gera um mapa topográfico dos significados emocionais do ambiente. O que no autismo, entretanto, não ocorre devido às conexões entre a amígdala e as áreas sensoriais ou entre as estruturas límbicas e os lobos frontais estarem distorcidos. Explicando assim as reações emocionais extremas a coisas banais. (MENTE E CÉREBRO, 2012) Tronco encefálico – De acordo com a revista Mente e Cérebro (2010) o tronco cerebral dos autistas seria mais curto do que nas demais 33 pessoas. O núcleo facial seria menor que o normal e estaria juntamente com o corpo trapezoide mais próximo do núcleo hipogloso e não haveria a presença da oliva superior. Já a partir de dados coletos por Rapin e Tuchman (2009) sobre estudos de outros pesquisadores com autistas, a oliva inferior possuía neurônios em tamanho anormal, havia a presença anormal de fibras mielinizadas no nível do núcleo facial, o núcleo hipogloso continha estrutura bilateral atipica, infiltrações linfócitas perivasculares e nódulos microglias foram notados em um sujeito de 16 anos, além de anormalidades na medula oblonga, na ponte, no lócus ceruleus, na estria medular e nos núcleos arqueados de cada indivíduo. Neurônios espelho – O sistema dos neurônios-espelho oportuniza que o cérebro assuma o papel de “simulador de ação”, ao realizar algo, simula-se automaticamente a ação no cérebro, como se a própria pessoa o realiza-se. Desta forma, estas células se encontram englobadas na capacidade de prever intenções complexas. Pesquisas recentes mostram que os neurônios–espelho localizam-se em diferentes regiões corticais como: córtex pré-motor (controla os movimento e percebe as intenções), córtex cingular (empatia), córtex insular (dor) e no giro angular (centro para linguagem). Acredita-se que os neurônios-espelho estão correlacionados à capacidade de imitar, de presumir como uns enxergam os outros e que possuam importante papel na autopercepção, na introspecção, funções que no autismo estão comprometidas, o que explica à ausência de habilidade social, falta de empatia e lenta aquisição de linguagem (fundamental no processo e leitura e escrita). (MENTE E CÉREBRO, 2012) Neurotransmissores – Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (PSIQUE, 2012) o autismo apresenta desequilíbrios nos neurotransmissores (substancias que ajudam na comunicação das células) serotonia e glutamato. Responsável por modular a ação de outros transmissores a serotonina vem apresentando em alguns casos 34 de autismo nível elevado na corrente sanguínea e nas plaquetas. Outra suposição para o autismo é de mutações na enzima que metaboliza a serotonina. Alguns estudos também sugerem que há atraso na inervação do córtex cerebral pelos axônios que contem serotonina e que um déficit de serotonina durante o período fundamental do desenvolvimento cortical poderia contribuir para as anormalidades neuronais do autismo. (RAPIN e TUCHMAN, 2009). Principal neurotransmissor excitatório do cérebro, o glutamato é responsável por transmitir informações, controlando a atividade rápida das sinapses nos circuitos neuronais, contribuindo assim na aprendizagem, na memória e variada formas de plasticidade. Estudos vêm apontando que o glutamato, possui grande incidência com relação às convulsões no autismo. Além disso, a evidencias da correlação do autismo com mudanças nas sinapses do glutamato devido a mutações nos genes para a neuroglina 3 e 4 de moléculas de adesão celular. O glutamato plasticidade e de suma importância no desenvolvimento e na cortical, onde interage com a serotonina no desenvolvimento dos circuitos talamocorticais. (RAPIN e TUCHMAN, 2009) 2.5 – Linguagem (leitura e escrita) Quando se fala em autismo, dois aspectos em seu desenvolvimento são de grande destaque: inabilidades sócias e alterações na linguagem. Para muitos, a falta ou redução da linguagem derivava do fato do individuo autista não interagir com o meio (pessoas e ambiente) em que se encontra. Hoje, considera-se o inverso, a inabilidade social do sujeito autista se dá pela falta ou dificuldade em se fazer compreender pela linguagem, seja ela, verbal ou gráfica. A relação linguagem e escrita deve ser considerada em todos os seus aspectos, independentemente da forma que se protagonize. 35 Segundo Perissinoto (2003), “as relações entre a reação ao outro, a troca de olhar e sorriso, produção de sons, a imitação e uso de gestos intencionais de aproximação, dependem da combinatória de habilidades e envolve processos motores, cognitivos e linguísticos.” (p.39) A mente e cérebro (2010) vêm reforçar relatando: “Para estabelecer laços com nossos semelhantes e realizar escolhas que, no caso de nós humanos, não são predeterminadas, dependemos dessa construção singular e inconsciente que nos é transmitida por obra da linguagem.” (p.52) Reportando-se a visão de Perissinoto (2003), o processamento da linguagem engloba a representação e organização de experiências mentais, que ao serem codificadas por representações verbais, orais (leitura) ou gráficas (escrita) constituem sofisticadamente a comunicação entre os seres humanos. Além disso, a percepção visual associa-se à percepção auditiva para a constituição do código linguístico, sendo a memória e atenção colaboradoras neste processo de forma a discriminarem, codificarem, armazenarem fonemas, palavras e gestos. A autora discute que a linguagem do individuo autista deve ser considerada por diferentes dimensões como: inabilidades no código, nos processos de aquisição do código e significados, na dinâmica relacional entre os interlocutores e circunstancias de estimulação e sustentação da comunicação. Segundo a Mente e cérebro (2012), estudos neurocientíficos vêm revelando alterações cerebrais significativas em autistas nas regiões ligadas a funções expressivas e interpretativas da linguagem como a escassez de atividade na região do sulco temporal superior esquerdo próximo a área de 36 Wernicke (funções linguísticas) e alterações na área 44 de Boca (funções expressivas/ patologias afásicas). As dificuldades do individuo autista no processo da linguagem, leitura e escrita que é o foco deste presente trabalho, não é exclusividade de apenas uma área cortical, mas de uma serie de disfunções corticais em variadas áreas, pois as áreas cerebrais não trabalham isoladamente, umas necessitam das outras para que a ação aconteça. Várias alegações sobre o autismo foram e são apresentadas, muitas racionais e outras não tão racionais assim. O que fato pode-se levar disso tudo e que as buscas de um entendimento e cura do transtorno autista estão sendo realizadas incansavelmente. Ao mesmo tempo em que o autismo é um transtorno confuso, distante e enigmático, ele se mostra tão fascinante pelo simples fato desse mistério que gira em torno da mente humana. Tentar decifrar o que passa na mente de um autista é incondicionalmente prazeroso, o que faz milhares de pessoas embarcarem sem medo nessa grande viagem de desafios por uma cura real. 37 CAPÍTULO III VIVENDO E APRENDENDO Para fundamentar o trabalho aqui proposto, será neste capitulo analisado e avaliado, a partir de estudo de caso, o desenvolvimento de um aluno de dez anos, portador do espectro autista em seu processo de leitura e escrita. Tal aplicação se deu em uma turma de Educação Especial á nível de 1º ano em uma Instituição de Ensino Privado, localizado no município de São Gonçalo, no período letivo de dois mil e doze. 3.1 – Freire e Ferreiro Dois grandes teóricos pedagógicos que fundamentaram este estudo de caso foram Paulo Freire e Emília Ferreiro. Freire acreditava que a leitura das palavras se propiciava pela compreensão da leitura do mundo. O método de Freire realiza-se pela busca do conhecimento das expressões, desejos, frustrações e esperanças dos indivíduos, ou seja, palavras e temas a cerca da vida do aluno e da comunidade a qual se esta inserida, constituindo assim, os conteúdos trabalhados na prática. Uma vez as palavras geradoras identificadas, as mesmas são estudadas por divisão de silábica. Cada sílaba se desdobra em uma família silábica. E são a partir dessa família silábica que se constituem novas palavras. Temas variados são discutidos através das palavras geradoras de forma que a alfabetização não seja um mero processo de codificar e decodificar, objetivando assim uma conscientização maior acerca dos problemas do dia-a-dia, do mundo e da realidade social. (BRANDÂO, 1981) 38 Para Ferreiro, o processo de aprendizagem da escrita, perpassa por uma serie de representações da linguagem, descriminadas em cinco níveis. Nível I - Hipótese pré-sílabica - A criança não estabelece vínculo entre fala e escrita; - Demonstra intenção de escrever através de traçados linear com formas diferentes; - Usa letras do próprio nome ou letras e números na mesma palavra; - Caracteriza uma palavra com letra inicial; - Tem leitura global, individual e instável do que escreve; só ela sabe o que quis escrever. Nível II – Intermediário I - Devido à caracterização de cada nível não ser determinante, a criança pode estar em um nível ainda com características do nível anterior. Tal instabilidade entre os níveis, frequentemente ocasiona um conflito cognitivo. Nível III – Hipótese Silábica - A criança já supõe que a escrita representa a fala; - Tenta fonetizar a escrita e dar valor sonoro às letras; - Já supõe que a menor unidade de língua seja a silaba; - Em frases, pode escrever uma letra para cada palavra. Nível IV – Hipótese Silábico-Alfabética ou Intermediário II - A criança inicia a superação da hipótese silábica; - Compreende que a escrita representa o som da fala; - Consegue combinar vogais e consoantes numa mesma palavra, numa tentativa e combinar sons, sem tomar, ainda, sua escrita socializável. Nível V – Hipótese Alfabética - A criança compreende que a escrita tem função social; - Compreende o modo de construção do código da escrita; - Omite letras quando mistura as hipóteses alfabética e silábica; - Não tem problemas de escrita no que se refere a conceito. 39 Ferreiro ainda descreve que a escrita é um objeto de conhecimento, levando em conta as tentativas individuais infantis; e o ponto de vista da interação, o aspecto social da escrita, onde a alfabetização é um processo discursivo. (SILVA, 1998) 3.2 – P. um menino mais que especial Durante o ano letivo de dois mil e doze, o aluno P., mostrou na escola um comportamento alegre, esperto e inteligente. Na área sócio-afetivo e comportamental apresentou grandes avanços no relacionamento com a professora, colegas de turma e funcionários da escola, demonstrando carinho, dando beijos, abraços e cafunés. Quando alguém faltava às aulas, ele sentia falta e chamava espontaneamente o nome da pessoa, perguntando o motivo que não estava presente também já estava procurando mais os colegas para brincar. Suas estereotipias e ecolalias diminuíram de intensidade e assim foi permitindo uma maior concentração nas atividades propostas. O aluno passou a expor mais seus interesses, de forma verbal simples (palavras diretas, como: “não quero’, “que xixi”, “obrigado”, “desculpa”, “licença”, “show de bola”, ‘ta bonito?”, etc.) Em alguns momentos, quando contrariado começava a gritar, mas ao não se valorizar tal atitude o mesmo logo parava. Na área cognitiva, apresentou evolução na leitura, na escrita e na linguagem. No processo de aquisição da leitura e escrita estava na transição da fase pré-silábica para a silábica. Quando alguma sílaba tinha relação com seu nome ou algo de seu interesse, o aluno lia e escrevia com maior facilidade. Sua leitura era realizada a partir das letras, fazendo junção para as sílabas, para após formar as palavras. 40 A linguagem oral de P. estava mais fortalecida, convertendo as letras em seus respectivos sons, procurando entender o que estava lendo e prestando mais atenção naquilo que era dito pela professora ou amigos. A interpretação de textos foi trabalha com P. através de imagens, onde ele relatava de forma muito direta, a partir de perguntas da professora, como: O que é isso? – passarinho - O que o passarinho está fazendo? – Comendo, Etc. (Todas as palavras que o aluno tentava escrever eram com sílabas simples) Na área do raciocínio lógico-matemático, demonstrou maior facilidade em realizar contas da operação da adição com números simples, do que na subtração, entretanto, necessitando de imagens ou material concreto e o auxilio da professora para referência dele, especialmente ao fazer contas nos dedos. O aluno reconhecia os números até trinta, quantia trabalhada em sala de aula, sendo que em alguns momentos se perdia ao escrevê-los na sua sequencia ou não. Na área psicomotora, apresentou uma boa coordenação motora fina e ampla, demonstrado em atividades especificas e em seus desenhos e pinturas. Além disso, o aluno apresentou uma grande aptidão na área musical, aonde chegava a cada dia cantando uma musica nova e da atualidade. A partir do mês de agosto o aluno P. apresentou uma baixa em seu rendimento escolar devido algumas mudanças em sua vida familiar, mas seus avanços e objetivos foram explorados e atingidos com sucesso no decorrer do ano letivo de dois mil e doze. 41 A participação da família e a colaboração dos terapeutas do aluno foram de suma importância para seu crescimento tanto no desenvolvimento cognitivo quanto social. 3.3 – Atividades realizadas Inúmeras foram às atividades trabalhadas com o aluno durante o ano letivo de dois mil e doze. E para melhor compreendermos como foi desenvolvido o estudo de caso, as principais atividades serão explanadas abaixo em divisões por palavras-chave, atividades de interpretação, ditado e atividades de leitura. Palavra-chave BOLA Uma das primeiras palavras a ser apresentada pela professora a P. foi Bola, pois era algo de interesse de todos na turma. Para dar introdução a palavra-chave foi ouvida a música A bola do Trem da alegria. Eu levo chute Mil cabeçadas Bato no peito Faço a jogada Eu rolo, rolo Eu pulo, pulo Bato na trave Se o jogo é duro Eu levo bico Às vezes furo Se batem forte Eu pulo o muro Faço a alegria Da garotada Se estou de fora Não tem pelada Bola de pano Bola de meia Bola de couro Vai rolando pela areia Bola na grama Fazendo o show Bola na rede Todo mundo grita gol Bola pra mim Bola pra você Bate, bate bola Que agora eu quero ver Bola pra mim Bola pra você Rola, rola a bola Que a gente vai vencer. Fonte: www.letras.mus.br 43 Logo após diferentes tipos de bolas foram entregues para manusearem. P. só queria saber d chutar e correr atrás das bolas. Num segundo momento, a professora apresentou a palavra no quadro e as sílabas da consoante B (família silábica), onde a mesma pedia que repetisse as sílabas conforme ela falava e depois o próprio aluno iria identificar as sílabas conforme ela era apontada no quadro. P. localizava e pronunciava cada sílaba corretamente. No terceiro momento P. realizou uma atividade no caderno. Como se pode ver abaixo P. possuía uma boa coordenação motora, entretanto só escrevia em letra bastão. Depois que a atividade foi explicada o aluno não teve grandes dificuldades em realiza-la. Apenas na questão número três foi necessário maior intervenção da professora, onde a mesma pronunciava a primeira sílaba da palavra e o aluno completava. Atividade realizada por P. Fonte: caderno de aula de P. Palavra-chave BAÚ 44 Dando continuidade as sílabas da consoante B, apresentou-se uma nova palavra: Baú. Todo o trabalho das palavras-chave escola partia realizado pela ponto de do encantamento, ou seja, encantar os alunos de forma a sentirem prazer em Baú mágico. Fonte: Máquina fotográfica da professora. conhecer palavras novas, desenvolvendo assim sua leitura e escrita. Portanto, nada melhor do que um baú mágico para ajudar nessa grande tarefa. Ao entrar na sala, P. e seus amigos de turma se depararam com um baú, onde todos se assustaram. Quem será que colocou esse baú aqui? Foi à pergunta geral. Suposições como fadas e até piratas foram ditas. Em cima do objeto encontrado, havia uma carta dizendo que aquele baú era mágico e que cada vez que eles se esforçassem para aprender, coisas novas iram surgir ali. Ao abri-lo, P. encontrou várias letras em EVA, significando assim, que aprenderiam a partir daquele momento diferentes palavras. Baú com as letras em EVA Fonte: Máquina fotográfica da professora P. e amigos mexendo no baú Fonte: Máquina fotográfica da professora Após, foi relembrado no quadro às sílabas da consoante B, seguido do jogo de letras móveis, onde P montou as sílabas trabalhadas. 45 Palavra-chave VACA Outra palavra-chave chega como novidade. Dentro do baú P. acha um cartaz com o desenho de uma vaca e como se escreve essa palavra. O mesmo imita o som do animal, fazendo toda a turma rir. Em seguida, a professora pergunta que tipo de animal acham que a vaca é, onde mora, o que come, etc. Em seguida, faz uma nova pergunta, como se escreve a palavra vaca? P. e seus amigos soletram letra por letra. Após, é apresentado às sílabas da consoante V no quadro, como de costume a professora pede para repetir e identificar as sílabas apontadas no quadro. P. não apresentou nenhuma dificuldade nessa proposta. Logo em seguida, o aluno realizou atividade no caderno. Nesta atividade P. necessitou de auxílio maior na questão número dois, onde a sua professora o ensinou a separar as sílabas batendo palmas, ou seja, cada pedacinho falado, uma palma era dada. Dessa forma o aluno conseguia organizar a mente, separando as sílabas corretamente. Na questão três, a professora leu as palavras da questão dois e pediu que ele escolhesse uma. Após ele escolher ela pergunta: P. faz o que com o ovo? – come foi à resposta. Então a mesma faz o raciocínio com ele. Eu (no caso P.) comi Atividade realizada porpara P. ovo. Na hora de escrever foi necessário dizer as palavras bem devagar Fonte: caderno de aula de P. que o aluno pudesse se organizar. Cada palavra-chave era trabalhada por cerca de duas a três semanas de acordo com a necessidade do aluno e/ turma. Possibilitando assim maior assimilação dos conteúdos apresentados. 46 Em outro dia dando continuidade ao conteúdo, foi realizada a atividade da sílaba da consoante V através do uso das letras móveis, que constantemente era utilizado para fixação dos conteúdos. Dessa vez a professora foi citando palavras simples as quais P. deveria formar. Ex: uva, vaca, vela, Ivo, vovó e etc. Palavra-chave MACACO Dentro do baú mágico havia um cartaz com o desenho e a palavra macaco, sendo que a palavra estava escondida. Ao amostrar a imagem, foi perguntado o que se conhecia sobre este animal e como se soletrava a palavra macaco. Em seguida, P. e seus amigos aprenderam uma parlenda. “Você diz que sabe muito, o macaco sabe mais! Anda de pernas pra cima, coisa que você não faz!” Fonte: Livro Akpalô – 1º ano Esta parlenda foi escrita em uma folha ofício, onde P. deveria circular as palavras que começam com a letra M e dizer quantas palavras circulou. Em seguida, foram apresentadas as sílabas da consoante M no quadro, onde P. já dava as respostas antes de escrevê-las no quadro. Após, realizou atividade no caderno, apresentando dificuldade apenas na questão dois, onde a professora o auxiliou a partir das numerações acima das palavras. Atividade realizada por P. Fonte: caderno de aula de P. 47 Para fixação, P. deveria formar as sílabas da consoante m a partir da colagem de sílabas móveis. Aproveitando que se estava no mês de maio, foi proposto também atividades sobre o dia das mães e atividades de geografia sobre moradias, palavras que possuem a letra M. Atividade realizada por P. Fonte: caderno de aula de P. Atividade realizada por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora. Palavra-chave PAPAGAIO Diferentes imagens de papagaio foram retiradas do baú, além do cartaz com o nome do animal em letra cursiva e bastão. Assim como foi feito na atividade do macaco, foi perguntado o que se sabia sobre o papagaio, como era seu corpo, se era um animal mamífero ou ovíparo (conteúdo já assimilado), etc. Após, P. soletrou a palavra-chave. Em seguida, como costume apresentou-se as sílabas da consoante P no quadro, leitura coletiva das mesmas e identificação pessoal de cada uma delas. Como já citado, P. não apresentada dificuldades em realizar tal proposta. trabalharam-se atividades no caderno. Além disso, 48 Ao criar a frase se fez necessário o auxilio da professora, iniciando verbalmente a frase para que P. pudesse completa-la, pois o mesmo não tinha oralidade suficiente para expor suas ideias. Atividade realizada por P. Fonte: caderno de aula de P. Outro tipo de atividade que é de costume ser solicitada pela professora é pesquisa em revistas e jornais de palavras que se iniciem com a consoante pedida, nesse caso a letra P. Atividade realizada por P. Fonte: caderno de aula de P. Sempre a cada duas ou três palavras-chave se fazia uma semana de revisão, de forma a fixar e observar o desenvolvimento cognitivo do aluno. Palavra-chave DINOSSAURO 49 A apresentação da palavra-chave foi iniciada por um vídeo do desenho Família Dinossauro (http://www.youtube.com/watch?v=Ilte3cDjick) e logo após com a ajuda da professora foi lido diversas vezes um verso sobre dinossauros, de forma a trabalhar a memorização e a rima. “Dino, o dinossauro, era uma animal elegante. Tinha cara de bebê, mas era maior que um elefante!” Fonte: Akpalô-1º ano Sem seguida, P. teve que localizara apalavra dinossauro no verso escrito no quadro. Além disso, as sílabas da consoante D foram apresentadas, da mesma maneira que as outras palavras-chave, seguida de atividade no caderno. Atividade realizada por P. Fonte: caderno de aula de P. Nos jogos das letras móveis, P. escreveu palavras com a letra D de sua escolha, objetivando desenvolver sua memória, linguagem e escrita. 50 Palavra-chave NAVIO Ao entrar na sala P. se depara com vários navios de dobradura espalhados pelo ambiente. Dentro do baú, há o cartaz da palavra-chave navio. Pergunta-se a P. se ele gosta de navios, se são bonitos, e ele sempre responde de forma direta: gosto, bonito. Depois diferentes imagens de navios, barcos, canoas foram amostradas para perceber a diferença entre esses tipos de embarcações. Logo em seguida, apresentou-se a cantiga abaixo, onde se deveria descobrir qual era a palavra que começava coma a letra N. Marinheiro, marinheiro Marinheiro só Quem te ensinou a nadar? Marinheiro só Foi o tombo do navio? Marinheiro só Ou foi o balanço do mar? Após trabalhou-se as sílabas da consoante N no quadro, seguida de atividade no caderno para fixação. Atividade realizada por P. Fonte: caderno de aula de P. 51 Palavra-chave RATO Para dar inicio a apresentação da palavra-chave rato, foi contato a fábula: O rato da cidade e o rato do campo. Após a leitura, P. criou com auxílio da professora um rato de dobradura, onde o mesmo o pintou e escreveu o nome do animal na folha. Atividade realizada por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora Em seguida foram trabalhadas as sílabas da consoante R, complementada por atividade no caderno. As atividades realizadas com essa consoante foram a de maior facilidade para P, pois é uma das letras que compõem o seu nome. Outra atividade de grande valia foi o Bingo do R. Várias palavras simples com R foram escritas no quadro, P. teve que escolher seis delas e copiar em uma espécie de cartela. P. conseguiu reconhecer tranquilamente as palavras que eram ditas na sua cartela. Foi um dia muito divertido e alegre. Atividade realizada por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora. 52 Palavra-chave SAPO Ao chegar à sala P encontrou diversos objetos de sapo: estojo, bonecos, adesivos, uma colher de pau no formato de sapo, etc. Como de costume perguntou-se o que se estava vendo e como se escrevia essa palavra. Sem seguida foram cantadas variadas musicas que falem de sapo. Ex: O sapo não lava o pé. Algo muito legal foi quando se explorou o trava-língua O sapo. “Olha o sapo Dentro do saco E o saco Com o sapo dentro O são batendo papo E o papo do sapo Soltando vento.” P. imitou todos os gestos realizados pela professora ao ler tal travalíngua. Ele pegava o saco plástico e colocava o sapo de brinquedo dentro, fingia que o sapo estava conversando e imitava o vento. Por se estar também na época do Folclore, os personagens do Sítio do Pica-pau amarelo foram explorados, em especial o Saci-pererê. P. pintou um lindo desenho do saci e colocou dentro de uma garrafinha de refrigerante para que o saci ficasse preso, assim como conta sua lenda. Atividade realizada por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora. 53 Palavra-chave TARTARUGA Em um primeiro momento, a palavra-chave foi apresentada através de uma advinha (criada pela professora), onde P. junto aos amigos de turma iria tentar descobrir que palavra seria essa. “Vivo no mar e adoro nadar, Sou uma animal que coloca ovos. Nas minhas costas tenho a minha casa. Eu sou a...” Após, confeccionou-se uma tartaruga feita com o fundo da garrafinha de refrigerante. Atividade realizada por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora Em seguida apresentação das sílabas da consoante T no quadro e exercício no caderno. Conforme o tempo foi se passando as atividades foram se intensificando. Palavra-chave LEÃO Um dos animais preferidos de P. era o leão. Todas as vezes que se falava em animais, ele imitava o animal rugindo. Pouco se pode trabalhar esta 54 palavra com o aluno, pois o mesmo teve que sair da escola. Para ele a letra L tinha uma relação muito forte, pois era a letra de seu melhor amigo na escola. Desenhocriado criado por por P.. Desenho P. Fonte: caderno de aula de P. Atividades de interpretação de texto Todas as atividades interpretativas do aluno P. eram a partir de imagens como citado anteriormente neste capitulo, e era totalmente necessário o auxilio da professora para realização das mesmas. As principais atividades foram baseadas nos contos literários como Chapeuzinho vermelho e Rapunzel, além de parlendas. A partir desta proposta o aluno construiu recontos em formato de livros. (atividades em anexos p.59) Ditados Como proposta de saber como estava o desenvolvimento cógnito do aluno, a cada palavra chave trabalhada era realizada um ditado. Tal proposta era abordada pela professora de forma bem tranquila, onde a mesma falava a palavra e depois repetidas vezes a pronunciava silabicamente. Em nenhum momento se interferia no que o aluno escrevia. No final de tudo o próprio aluno 55 fazia a correção das palavras com o auxilio da professora. P. veio demonstrando grandes avanços quanto à escrita. Sempre se mostrou esforçado nas atividades propostas. Atividade realizada por P. Fonte: caderno de aula de P. Atividade realizada por P. Fonte: caderno de aula de P. Atividade realizada por P. Fonte: caderno de aula de P. Atividades de leitura 56 Dentro da proposta pedagógica da escola, a cada palavra-chave trabalhada uma leitura refrente a esta palavra e entregue ao aluno. Assim como em outras atividades P. sempre demonstrou interesse em ler. Com auxilio da professora, o aluno reconhecia as duas primeiras letras, formando assim a primeira sílaba, para pós fazer o mesmo com o restante, descobrindo assim a palavra. Toda vez que ele terminava de ler silabicamente, a professora falava a apalavra inteira e pedia que ele repetisse. (atividades em anexos p.67) Independente do tipo de atividade e/ou conteúdos realizados, a professora utilizou-se de alguns mecanismos de trabalho. Tudo que era apresentado na sala era soletrado e repetido inúmeras vezes a partir de diferentes estímulos. Todas as frases verbalizadas pelo aluno de forma repetitiva (ecolalia) eram direcionadas, dando função a elas, assim como as músicas que o aluno cantava. Devido a todo o conjunto de mecanismos e atividades propostas, P. passou a interagir melhor verbalizando o que era de seu interesse (com frase simples), a imitar sua professora explicando uma atividade ou até conseguindo dar sentido as frases ou palavras utilizadas. Sendo assim, foi perceptível o crescimento cognitivo e social do aluno, onde o mesmo tornou-se mais independente e especialmente confiante com relação ao ato de leitura e escrita. 57 CONCLUSÃO P. assim como todo ser humano tem a necessidade de conquistar seu espaço em meio à sociedade. E para tal, foi visto que a neurociência é uma ferramenta importante a favor do individuo autista, a qual pode e deve ser utilizada como mecanismo complementar no contexto educacional. Percebe-se que a partir da relação homem-cérebro o desenvolvimento de P. foi trabalhado como um todo, trazendo grandes benefícios para sua vida, em especial no âmbito cognitivo e social. Paradigmas gerados em torno de P. foram superados, mostrando que o mesmo é um ser capaz de criar, identificar, decodificar e decifrar através de diferentes processos e adaptações mentais, garantindo uma aprendizagem eficaz a aquisição da leitura e escrita, promovendo sua independência em seu próprio desenvolvimento, e assim, inserindo-se eficazmente na escola e no meio social. Através de uma prática educacional de qualidade, novas condições cerebrais para a aquisição da leitura e da escrita são potencializadas. O autismo é um campo muito amplo, assim como o ato da leitura e escrita, se fazendo necessária uma constante formação, de forma, que cabe ao professor refletir e buscar caminhos que estimulem e motivem este aluno a uma aprendizagem de sucesso. Uma coisa é certa, independente das estratégias adotadas, a criança autista, assim como P., deve ser considerada como um ser de habilidades. Por mais, que este mundo vivido por ele pareça algo obscuro e impenetrável, quando se tem um objetivo e se lida com o outro com carinho, respeitando sua singularidade, permite-se abrir novas portas, novos caminhos para uma aprendizagem, uma vida mais feliz. 58 ANEXOS Índice de anexos Anexo 1 >> Atividades de Interpretação de texto Anexo 2 >> Atividades de leitura . 59 ANEXO 1 ATIVIDADES DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Atividades realizadas por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora 60 Atividades realizadas por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora 61 Atividades realizadas por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora 62 Atividades realizadas por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora 63 Atividades realizadas por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora 64 Atividades realizadas por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora 65 Atividades realizadas por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora 66 Atividades realizadas por P. Fonte: Máquina fotográfica da professora 67 ANEXO 2 ATIVIDADES DE LEITURA Fonte: Plano de aula da professora 68 Fonte: Plano de aula da professora 69 Fonte: Plano de aula da professora 70 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BENETE, Hercilia M. Fayão. Aprendizagem na diversidade: perspectivas de alfabetização. In: V simpósio de Educação do sudeste Goiano. Educação Brasileira: Análise das mudanças recentes. Jataí/GO, 2006. BOSA, Cleonice. As relações entre Autismo, comportamento social e função executiva. Artigo científico. Rio grande do sul: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2011. p.281-287 BRANDÃO, Carlos Rodrigues. 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Acessado em: http://cyberselfneurofilosofia.blogspot.com.br/2009/07/cerebro-social.html em 18/01/2013. 76 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I APRENDIZAGEM, LEITURA E ESCRITA – PROCESSOS NEURAIS 10 1.1 - Aprendizagem 11 1.1.1 – Anatomia da Aprendizagem 1.2 - Leitura e escrita 13 16 CAPÍTULO II UM CONVITE AO MUNDO DO AUTISMO 21 2.1 - Características 22 2.2 - Definições 26 2.3 - Epidemiologia 27 2.4 - Neurobiologia do autismo 29 2.5 - Linguagem (Leitura e escrita) 34 CAPÍTULO III VIVENDO E APRENDENDO 37 3.1 - Freire e Ferreiro 37 3.2 - P. um menino mais que especial 39 3.3 - Atividades realizadas 41 77 CONCLUSÃO 57 ANEXOS 58 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 70 WEBGRAFIA CITADA 74 ÍNDICE 76