Intoxicação espontânea por Jatropha ribifolia em caprinos no estado da Bahia Madureira, K.M., Ferreira, M.M., Lima, E.B., Silva, D.N., Jesus, L.S., Pinto, M.P.R., Cunha, V.A.F., Peixoto, T.C. Autor correspondente: [email protected] (Peixoto, T.C), Universidade Federal da Bahia, Escola de Medicina Veterinária, Departamento de Patologia e Clínicas, Av. Adhemar de Barros, 500, Ondina, Salvador, BA, 40170110. PALAVRAS-CHAVE: Doenças de pequenos ruminantes, Patologia, Plantas tóxicas. INTRODUÇÃO: Jatropha ribifolia (Euphorbiaceae), popularmente conhecida como “pinhão rasteiro”, é um arbusto amplamente encontrado no semiárido nordestino brasileiro [8,9]. Até o momento, são conhecidas mais de 300 espécies deste gênero, que são comuns na África e nas Américas [4]. No homem, diversos casos de intoxicação por essas plantas têm sido atribuídos à ingestão acidental de seus frutos [5,6]. Experimentalmente, a intoxicação por folhas de J. gossypifolia já havia sido demonstrada em ovinos [7], bem como o efeito tóxico das sementes de J. curcas em bezerros [2], caprinos [1] e ovinos [3], contudo, apenas recentemente [8) descreveram, pela primeira vez, surtos de intoxicação natural por J. ribifolia em caprinos criados em regime extensivo, além de reproduzir a doença experimentalmente. No presente trabalho, objetivou-se relatar um surto de intoxicação natural por Jatropha ribifolia em caprinos no norte do estado da Bahia. MATERIAL E MÉTODOS: Em abril de 2013, três caprinos, fêmeas, mestiços e adultos, criados em sistema extensivo na caatinga em uma propriedade no município de Casa Nova, no extremo norte da Bahia foram encaminhados enfermos ao Centro de Desenvolvimento da Pecuária (CDP) da UFBA, onde permaneceram internados. No dia seguinte, uma das cabras foi eutanasiada in extremis e imediatamente necropsiada. À necropsia foram coletados fragmentos dos principais órgãos. Esse material foi fixado em formalina a 10% tamponada com fosfato. Após a fixação, os fragmentos foram processados pela técnica rotineira de inclusão em parafina e corados pela hematoxilina e eosina. RESULTADOS: Segundo o proprietário o rebanho era formado por 200 caprinos adultos, dos quais 80 eram machos e 120 fêmeas, destes 40 manifestaram sinais clínicos (10 machos e 30 fêmeas) caracterizados, em geral, por emagrecimento progressivo, apatia e decúbito. No período de setembro de 2012 a abril de 2013, vinte animais morreram (5 machos e 15 fêmeas). Ao exame físico realizado no CDP-UFBA, observaram-se nos três animais estado nutricional ruim, desidratação moderada, mucosas hipocoradas, manchas de coloração castanhoenegrecida nos dentes incisivos (pigmentação), hiporexia, diminuição no consumo de água, apatia, decúbito, debilidade, marcada retração abdominal e severo desvio lateral da coluna cervical (pescoço). À necropsia, observaram-se sinais de emaciação (atrofia muscular, reduzido tecido adiposo de reserva e atrofia serosa da gordura), além de moderado espessamento da parede do intestino delgado, linfonodos mesentéricos aumentados de tamanho e edemaciados. Ao exame da cavidade oral, verificaram-se pré-molares e molares também de coloração castanho-enegrecida. A avaliação histopatológica não revelou alterações dignas de nota. Os outros dois animais se recuperaram, mas em um deles o desvio da coluna cervical foi irreversível. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO: O diagnóstico de intoxicação natural por Jatropha ribifolia em caprinos foi estabelecido com base nos dados epidemiológicos, clínico-patológicos e pela confirmação da existência da planta em grande quantidade na área de caatinga onde os animais eram mantidos. No surto aqui relatado, os sinais clínicos e as alterações macroscópicas foram semelhantes às recentemente descritas por [8). A ação primária do princípio ativo da planta, ao que tudo indica os ésteres de forbol [8,9] e faz sobre o sistema digestório, embora não sejam observadas alterações histopatológicas específicas [8]. Os casos de intoxicação por J. ribifolia geralmente ocorrem em períodos de escassez de pastagens o que leva os animais a ingerirem folhas, flores e frutos dos galhos das extremidades da planta, que é muito resistente a seca [9], de fato, segundo o proprietário, os primeiros casos começaram a ocorrer no mês de setembro de 2012 (época da seca). Cabe ressaltar que, após o início da ingestão da planta, outros animais por um mecanismo de facilitação social também começam a ingerir a planta [7]. A remoção dos três animais intoxicados do pasto invadido pela planta, após o início dos primeiros sinais clínicos (para diagnóstico e tratamento no CDP), mostrou-se uma boa alternativa, uma vez que, dois animais se recuperaram, o que confirma a eficácia das medidas de controle propostas por outros autores [8,9]. O surto ora relatado, reforça a importância local da intoxicação natural por J. ribifolia em caprinos no norte da Bahia, em virtude da perda econômica causada aos proprietários com a morte de animais e destaca ainda a importância do reconhecimento da presença da planta no pasto para que sejam efetivadas as medidas adequadas de controle e profilaxia [10]. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Adam, S.E.I., Magzoub, M. Toxicity of Jatropha curcas for goats. Toxicol. 4: 347–354, 1975. 2. Ahmed, O.M.M., Adam, S.E.I. Effects of Jatropha curcas on calves. Vet.Pathol. 16: 476–482, 1979. 3. Ferreira, O.R. et al. Poisoning of sheep by Shells of Jatropha curcas. In: Riet-Correa, et. al. Poisoning by plants, mycotoxins and related toxins. CABI International, Wallingford, pp. 472-476, 2011. 4. Leal, C.K.A., Agra, M.F. Estudo Farmacobotânico Comparativo das folhas de Jatropha molissima (Pohl) Baill. e Jatropha ribifolia (Pohl) Baill. (Euphorbiaceae) ActaFarm. Bonaerense. 24(1): 5-13, 2005. 5. Levin, Y. et al. Rare Jatropha multifida intoxication in two children. J.Emerg.Med. 19 (2): 173–175, 2000. 6. Menezes, R.G. et al. Jatropha curcas poisoning. IndianJ.Pediat. 73 (7): 634, 2006. 7. Oliveira, L.I. et al. Intoxicação experimental com as folhas de Jatropha gossypiifolia (Euphorbiaceae) em ovinos. Pesq.Vet.Bras. 28 (6): 275–278, 2008. 8. Pimentel, L. A. Poisoning by Jatropha ribifolia in goats. Toxicon 59, Elsiever, 587–591, 2012. 9. Riet-Correa F. et al. Plantas Tóxicas do Nordeste. Sociedade Vicente Pallotti, Santa Maria. 2011. 82p. 10. Riet-Correa F. et al. A pecuária brasileira e as plantas tóxicas. Revista UFG. Ano XIII. nº 13, Dez. 2012.