AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE AMOSTRAS DE GUACO COMERCIALIZADOS NA CIDADE DE TUBARÃO SC. Denise Ferraz Tezza * Simony Davet Müller ** * Acadêmica do Curso de Farmácia da Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL ** Docente Mestre em Ciências Farmacêuticas - Curso de Farmácia - Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL RESUMO Atualmente, a utilização de plantas medicinais no Brasil vem crescendo rapidamente, devido à procura da população por outros meios para cura ou alívio de doenças. Porém, drogas vegetais de má qualidade podem comprometer a saúde da população humana. O objetivo desta pesquisa foi avaliar amostras de guaco, comercializados na cidade de Tubarão/SC. Foram avaliadas 3 marcas distintas, sendo dois lotes de cada, quanto aos critérios de autenticidade, pureza e comparadas com uma amostra autêntica adquirida de um produtor rural da região da AMUREL. As amostras analisadas apresentaram um ou mais dos parâmetros avaliados, fora dos padrões preconizados pelos órgãos regulamentadores, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Os resultados parciais obtidos demonstraram a necessidade da realização de controle de qualidade destes produtos, para proporcionar maior segurança ao consumidor. Palavras-chave: planta medicinal; controle de qualidade; Mikania glomerata 1 INTRODUÇÃO A qualidade pode ser considerada como um conjunto de critérios que caracterizam a matéria-prima para uso destinado, sendo que, para a utilização desta matéria-prima é necessário garantir a autenticidade da planta e a presença de princípios ativos de acordo com os parâmetros de qualidade, preconizados em diferentes literaturas, como a Farmacopéia (FARIAS, 2003; CELEGHINI et al, 2001). Dentre muitas espécies de uso medicinal largamente utilizado em nosso país, destaca-se o Guaco (Mikania glomerata), devido aos seus efeitos farmacológicos que consistem em efeitos antiinflamatórios, broncodilatadores e antialérgicos (SANTOS, 2005; CASTRO et al, 2003; SILVA et al, 2008). Devido a grande demanda de comercialização de produtos fitoterápicos a qualidade destes vem sendo afetada negativamente, sendo que muitos produtos apresentam alguma irregularidade, principalmente devido à presença de contaminantes e baixos teores de princípios ativos, dentre outros parâmetros (REIS et al, 2003). Segundo Silva (2003), produtos de má qualidade podem interferir na saúde do consumidor, e a busca de qualidade é condição importantíssima para o êxito técnico e mercadológico na área de plantas medicinais. Considerando o exposto, torna-se então necessária a realização do controle de qualidade das matérias-primas vegetais, visando a obtenção de medicamentos fitoterápicos eficientes e seguros. Neste contexto, o presente artigo teve por objetivo avaliar a qualidade de amostras de guaco (Mikania glomerata) comercializados em Tubarão – SC. Através de testes de controle de qualidade possíveis de serem aplicados em pequenos laboratórios, autenticidade e pureza, verificando a presença ou ausência de algum controle de qualidade nestes produtos, ressaltando-se a importância do emprego de metodologias farmacognósticas. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Empregou-se como droga vegetal padrão a espécie M. glomerata coletada numa propriedade rural em Grão Pará SC e identificada pelo botânico Professor Jasper J. Zanco e armazenadas no Herbário Laelia purpurata da UNISUL. Para este estudo, foram adquiridas 3 marcas distintas de amostras de guaco, do comércio de Tubarão/SC na forma de planta rasurada destinada para infuso. Sendo que foram analisados dois lotes de cada marca, totalizando 6 amostras. Em seguida as amostras foram submetidas as análises de autenticidade e pureza no Laboratório de Farmacognosia da UNISUL, sendo a metodologia baseada na Farmacopéia Brasileira (1988, 2000, 2005) e na Organização Mundial da Saúde (1998). Os dados parciais adquiridos foram analisados e os resultados divulgados em forma de tabelas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Todas as amostras apresentaram odor aromático característico da planta, sabor amargo e coloração pardo-esverdeada, conforme descrito pela Farmacopéia Brasileira (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2005). Evidenciou-se o alto teor de material estranho encontrado em todas as amostras, constituído por fragmentos estranhos não identificados, que podem ser partes de outras plantas ou fragmentos de insetos, indícios de contaminação por microorganismos (fungos) e principalmente por caules. Realidade semelhante foi encontrada num estudo realizado por Leite e Biavatti (1996), sobre o controle de qualidade de chás do comércio de Itajaí SC, onde foram encontrados insetos e partes visíveis deles em 15,79% das amostras analisadas, ainda os autores afirmam que drogas contaminadas por estes, podem representar condição de armazenamento do material em local com umidade elevada. Recentemente num outro estudo realizado por Alvarenga, et al (2009), onde avaliaram drogas vegetais e tinturas de guaco, adquiridos do comércio da cidade de Belo Horizonte MG, os resultados demonstraram que 45,29% das amostras estavam com presença de fragmentos de insetos e caules. Quanto ao teor de umidade das amostras, todas apresentaram teores próximos aos limites recomendados pela Farmacopéia Brasileira e OMS (8 a 14%), ficando entre 12 a 13,41%. Os resultados das análises referentes às cinzas insolúveis em ácido demonstraram que todas as amostras analisadas estavam acima dos limites recomendados. Fato que pode estar relacionado com a falta de padronização no cultivo, coleta e no processamento da droga vegetal. A cumarina (1,2-benzopirona) é um dos principais constituintes químicos do Guaco, sendo o produto de seu metabolismo secundário, e está presente em grande quantidade em suas folhas (SANTOS, 2005). Ela é responsável em parte pelo efeito farmacológico, sendo o marcador químico para o controle de qualidade de produtos que utilizam o extrato de Guaco (SILVA et al, 2008; SANTOS, 2005). Nos perfis cromatográficos por Cromatografia de Camada Delgada (CCD), 3 amostras apresentaram mancha fluorescente verde equivalente ao padrão cumarina (BRASIL, 2004; FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2005). Em 3 amostras o marcador cumarina não foi visível, demonstrando estar ausente ou em quantidade não detectável. As espécies M. glomerata e M. laevigata são empregadas popularmente, para os mesmos fins medicinais. As análises macroscópicas mostraram que a maioria das amostras foram identificadas como sendo da espécie Mikania laevigata. Segundo Alvarenga et al (2009), as duas espécies apresentam semelhanças morfoanatômicas, sendo comercializadas sem distinção. Em apenas uma amostra, foi possível visualizar estruturas histológicas que contribuíram para a confirmação da autenticidade botânica da Mikania glomerata de acordo com a Farmacopéia Brasileira (2005) e Oliveira (1996). Segundo Gomes et al (2008), os chás são passíveis de contaminação microbiológica. Isto ocorre devido á má qualidade da matériaprima vegetal, associado ao teor de umidade e outros fatores, que predispõe a contaminação por vários microrganismos patogênicos ao consumidor. A presença de bactérias pode ser considerada como indicativo de falhas nas condições sanitárias de processamento pós-colheita. A Farmacopéia Brasileira (1988) estabelece as seguintes especificações para produtos de uso oral: 103 bactérias aeróbias/g ou mL, e ausência de Salmonella sp, Escherichia coli e Staphylococcus aureus. A especificação da OMS é de, no máximo, 5,0x107UFC/g para materiais vegetais destinados ao uso na forma de chás e infusões e de, no máximo, 5,0x10 5UFC/g para uso interno (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). Nenhuma das amostras analisadas apresentaram contaminação pelos microorganismos patogênicos Salmonella sp., Shiguela sp., Escherichia coli. O limite de bactérias totais apresentou-se dentro dos parâmetros permitidos pela literatura científica. No entanto, deve-se salientar que os resultados parciais obtidos até o momento não são indicativos de que as amostras possam ser consideradas ideais para o consumo e produção de fitoterápicos, sendo então necessário, levar em consideração outras análises que são complementares e garantem a qualidade das amostras analisadas. Outro fator que chama atenção nos resultados parciais do estudo é que as amostras desta espécie adquirida do comércio para análise, apresentavamse na forma sugerida de preparo como infuso/chá. De acordo com a Resolução de Diretoria Colegiada - RDC Nº. 267, de 22 de Setembro de 2005 que visa estabelecer as espécies vegetais para o preparo de chás, a espécie Mikania não consta na lista da RDC vigente. Entendendo-se que esta não poderia estar sendo comercializada na forma de infuso/chá. Fato que evidencia a falta de fiscalização nestes produtos. 4 CONCLUSÃO Os resultados parciais adquiridos através das análises demonstraram que as amostras foram consideradas inadequadas para a comercialização, demonstrando a carência de controle de qualidade no controle da qualidade da droga vegetal e a falta de fiscalização dos órgãos responsáveis. Enfatiza-se que a melhor medida seria a implantação de um controle de qualidade adequado, visando a melhor seleção, armazenamento e manipulação destas matérias-primas, a fim de se evitar quaisquer danos à saúde do consumidor. Ressalta-se também a importância da responsabilidade dos órgãos fiscalizadores em verificarem, o cumprimento das exigências legais para a produção de fitoterápicos, assim como fazem para os outros medicamentos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A NOVA CERIMÔNIA DO CHÁ: Revista Veja. Ed. Abril, n. 2057, 2008. ALVARENGA, F. C. R, et al. Avaliação da qualidade de amostras comerciais de folhas e tinturas de guaco. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.19, n. 2, p. 442-448, 2009. BRASIL, Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RE nº. 89, de16 de março de 2004. Lista de Registro Simplificado de Fitoterápicos. Brasília. CASTRO, E. M, et al. 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