OS SUJEITOS APRENDENTES DA EDUCAÇÃO: aprendemos com quem? Fernando Antonio Abath Luna Cardoso Cananéa1 “No processo educativo não pode haver lugar para a insensibilidade. Estou convencido de que as diferentes formas do conhecimento devem ser dinâmicas e prazerosas para dar lugar a uma educação comprometida com o social e centrada no prazer de aprender a aprender” (ASSMANN apud CANANÉA, 2013). RESUMO Este artigo pretende refletir sobre uma questão deveras atual na sociedade em rede, que é a questão O Que Significa Hoje Aprender? Realiza uma reflexão, ainda que preliminar, sobre a pedagogia da sociedade aprendente. Estamos vivendo uma verdadeira revolução com os avanços das tecnologias da informação e da comunicação, as novas descobertas nas biociências, o mergulho nas pesquisas sobre o cérebro humano-mente, as transformações da vida cotidiana frente a um mundo que não prescinde mais das conectividades em tudo (sistema financeiro, sistema educacional, sites, blogs, fóruns, salas de bate papo e outros interconectores) e o que é mais preocupante frente a tudo isso são as novas formas de exclusão social. “Tá conectado? Se não estiver, tá fora da jogada.” Nessa perspectiva, no meu entendimento, são os novos/velhos desafios que a educação está enfrentando. Assustamo-nos e ao mesmo tempo nos fascinamos frente a essas possibilidades transdisciplinares. Para iniciar o diálogo É preciso tomar consciência e conhecimento crítico que a sociedade da informação e da comunicação trouxe, para muito perto de nós, uma sociedade de novas configurações do trabalho, do não trabalho, onde os contratos de trabalho em geral e dos docentes, em particular, estão sendo precarizados e terceirizados. Essas questões, aparentemente de natureza estritamente econômica, têm fortes implicações na perspectiva de aprendizagem educacional. Estamos vivendo uma era da irracionalidade com uma profunda deteriorização das condições humanas de vida.Os constantes entraves ao longo do processo educativo têm se agravado cada vez mais e essa situação tem produzido sentimentos negativos, em relação à educação brasileira, no que se referem a metodologias, didáticas e diferentes experiências criativas. _______ Doutorando em Educação/UFPB. Mestre em Educação/UFPB. Membro do Grupo de Pesquisa em Extensão Popular-EXTELAR/PPGE/CE/UFPB. Coordenador Técnico e Pedagógico da ONG MARÉ Produções Artísticas e Educacionais. Consultor do Projeto de Extensão Arte e Cultura Catarina/PRAC/COEX/UFPB. Para Hugo Assmann (2011) a melhor alternativa é propor uma persistência nos processos de aprendizagem que enfatizem e despertem novidades fascinantes e estimulantes visando a motivação do aluno. É o que Assmann chama de reencantar a educação, propondo ele que os educadores devem abrir caminho para a “explosão dos espaços de conhecimento, com todos os valores a si inerentes”. A educação carece, ainda segundo Assmann (idem), de uma visão antropológica a fim de propiciar uma lucidez política, ética e solidária, produzindo consensos políticos e educacionais. Nesse sentido se faz necessário ser criativo e se revestir de ternura, ciente de um compromisso de prazer individual e coletivo. Encontramos nessa afirmação uma visão de alteridade muito forte. Como o prazer e a ternura na educação passa pela experiência sensorial do corpo, a morfogênese do conhecimento tem que ser dinâmica, prazerosa e curativa, com uma pluri-sensualidade que passe pelo cérebro, pelas emoções, e se expresse no corpo. Assim, o monopólio da educação visual-auditiva dará lugar a uma educação instrutiva e criativa, cheia de encantamentos e acessível, comprometida com o social e centrada no prazer de aprender e ensinar, e onde a educação se reveste novamente de encantos. (ASSMANN,2011) Diante desse quadro histórico, faz-se necessário que a instituição educacional, em geral, venha a se mostrar como espaço político e ideológico, o qual preserve, construa e incentive a pluralidade do conhecimento em todos os níveis e para todas as pessoas, mas que seja, também, terno e sensível, pois do contrário afastará os alunos do seu convívio. Nesse sentido, um problema bastante atual é em relação a sabermos como as lutas de emancipação em defesa dos interesses da maioria vão atuar para combater os efeitos perversos da globalização, no caso, as diferentes formas de exclusão social por meio, inclusive, da educação, fazendo as pessoas crerem que não estão em situação melhor porque são incapazes de aprender. A exclusão digital é uma nova e vibrante faceta dessa dita pós modernidade. Talvez seja melhor, nesse momento do presente texto, colocar-me frente ao conceito de pós modernidade. O geógrafo Georges Benko afirma que o “pós” é incontornável, o fim do século XX se conjuga em “pós”. Mal estar ou renovação das ciências, das artes, da filosofia estão em uso. Particularmente, assumo a ousadia de minha parte, não vejo pós em uma sociedade em que as pessoas continuam com fome, sofrem com o analfabetismo, a falta de moradia, transporte e tantas outras necessidades vitais para a vida humana, apesar de termos domínio sobre inúmeras tecnologias para realizarmos essa superação. Mas os sistemas financeiros e econômicos globalizados não permitem que isso aconteça, poisdiminuiria seu lucro exorbitante. Várias são as características da pós modernidade, mas podemos enumerar apenas algumas que já dão uma luz acerca do entendimento que estamos defendendo aqui sobre esse conceito. Uma dessas características é a falência dasmetanarrativas emancipadoras como aquelas propostas pela Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Uma forte propensão a se deixar dominar pela imaginação das mídias eletrônicas, colonização do seu universo pelos mercados econômico, político, cultural e social, endeusamento do consumo como expressão pessoal e de status social, pluralidade cultural com perda de identidade e uma acelerada polarização social devido aos distanciamentos proporcionados pelo valor da acumulação de rendimentos. Vale quanto tem. Para Márcio Cavalcante(2013), A pós-modernidade recobre todos esses fenômenos, conduzindo, em um único e mesmo movimento, a uma lógica cultural que valoriza o relativismo e a (in)diferença, a um conjunto de processos intelectuais flutuantes e indeterminados, à uma configuração de traços sociais que significaria a erupção de um movimento de descontinuidade da condição moderna: mudanças dos sistemas produtivos e crise do trabalho, eclipse da historicidade, crise do individualismo e onipresença da cultura narcisista de massa. Em outras palavras: a pós-modernidade tem predomínio do instantâneo, da perda de fronteiras, gerando a ideia de que o mundo está cada vez menor através do avanço da tecnologia. Estamos diante de um mundo virtual, com imagem, som e texto em uma velocidade instantânea. Nem todos podem ter acesso a essa dita pós modernidade. Ao analisarmos essas novas formas de desigualdade social vamos entender que a educação está imersa nas contradições de uma sociedade classista que quer fazer acreditar que a educação é neutra, é apolítica. E é evidente que não existe essa neutralidade, pois a educação é pedagógica, é política sim, e quando dirigida às massas, numa ação deliberadamente neoliberal, é veículo de dominação e não de transformação.A escola é, nessa perspectiva, um aparelho ideológico de Estado. O enfrentamento a essa realidade, passa, segundo Hugo Assmann (2011) pela tentativa de se responder: O Que Significa Aprender Hoje? Qual a Relação entre Biociências e a Pedagogia? O que é uma Organização Aprendente? Um tema chave para a escola do futuro é, sem sobra de dúvida a interatividade cognitiva entre aprendentes humanos e máquinas inteligentes e aprendentes. O mundo está se transformando numa trama complexa de sistemas aprendentes. Para Castells (1996) uma sociedade em rede, multifacetada, cheia de conecções, a exigir novas compreensões acerca de como se dá o conhecimento e o processo educacional. Teorias que contribuíram para a construção da Pedagogia da Sociedade Aprendente Com o advento do século XXI e com a expansão da utilização das novas tecnologias da informação e comunicação (TICs),a dicotomia entre educação e conhecimento é construída por meio da análise das implicações, para a pedagogia e para o desenvolvimento de capacidades individuais e da consolidação de um Estado (e sociedade) em rede (CASTELLS, 1996). É neste sentido que a modernidade assumiu a escola – mais precisamente o sistema escolar – como um dos instrumentos centrais da sua realização. As fundações dos sistemas educativos nos diferentes países europeus ganham uma consistência e coerência notáveis: a produção de cidadãos por meio da educação dos indivíduos. Os sistemas escolares foram eleitos como a forma privilegiada de construção e de consolidação dos Estados-nação (NÓVOA, 1998; CANDEIAS, 2002). O conhecimento surge, neste contexto, ao mesmo tempo como o mediador entre a ignorância e o saber e como o organizador da relação entre a natureza e a humanidade. A socialização escolar surge como o modo a partir do qual a natureza natural dos homens se transforma em natureza social. Com o advento da sociedade em rede, o conhecimento e a educação tomaram outras formas. Os processos de produção, distribuição e consumo transformaram-se profundamente com a centralidade do conhecimento e da informação nesses processos globalizados e conectados. Nada é mais tão próximo ou tão distante. Existem em realidades reais e virtuais. Bernstein (1996) enfatiza o papel do conhecimento na transição de uma sociedade baseada em recursos físicos (matérias-primas, força de trabalho, instalações) para uma sociedade fundada em informação e conhecimento. Torna-se imperativo o entendimento como é que o acesso à informação e ao conhecimento científico e técnico, embora estes tenham sido desde sempre importantes para a produção capitalista, assumiu uma centralidade renovada naquilo a que ele chama de capitalismo flexível, em razão principalmente do fato de que tanto a informação quanto o conhecimento não serem somente cruciais para as respostas flexíveis exigidas pelos mercados globais, mas também porque se tornaram eles próprios mercadorias. A educação perdeu o encanto e virou mercadoria. Diante dessa realidade, se faz imperativo resgatar a educação e o ato de educar como a mais avançada tarefa social emancipatória, dinamizando os espaços do conhecimento. Na sociedade em rede várias são essas possibilidades. A educação a distância é uma dessas possibilidades: pelo Rádio, Universidade Aberta do Brasil, Fóruns de Discussão, Sites de Pesquisa, Blogs de Disciplinas, são alguns exemplos Nessa perspectiva várias teorias contribuem nessa construção da Sociedade Aprendente como a Teoria da Complexidade de Edgar Morin, as Teorias da Autopoiese e da Biologia do Conhecer de Humberto Maturana, as Interações de Pierre Levy e a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner.Rencantar a educação significa colocar ênfase numa visão da ação educativa como ensejamento e produção de experiências de aprendizagem. Precisamos reintroduzir na escola o princípio de que toda a morfogênese do conhecimento tem algo a ver com a experiência do prazer. O prazer como dinamizador do conhecimento. O conhecimento só emerge em sua dimensão vitalizadora quando ligado ao prazer. Aprender tem que ser gostoso.A ação da educação deve levar o nome de experiências de aprendizagem e não simplesmente aquisição de conhecimentos supostamente já prontos e disponíveis para o ensino, concebidos como simples transmissões.A partir dessas questões podemos refletir sobre como surge o conhecimento. Nessa perspectiva é preciso mudar o cenário epistemológico do debate sobre a educação integrando nele conceitos como: sistemas complexos e adaptativos, sistemas aprendentes, parâmetros dinâmicos e auto-organizativos, bio-semiótica. Quando alguém aprende algo novo, não é apenas esse elemento novo que se acrescenta ao que já foi adquirido, mas, ocorre uma reconfiguração do cérebro-mente inteiro, enquanto sistema dinâmico. Neste sentido, qualquer processo pedagógico e político somenteserá significativo para os aprendentes na medida em que produzir essa reconfiguração mental.As informações serão mais rapidamente apreendidas, quanto maior for o prazer em apreendê-las. Para Assmann (2003) existem alguns impasses nas teorias sociais, antropológicas e pedagógicas que, segundo ele, não conseguem imaginar-se sob a forma de processos autoconstitutivos. Uma crítica muito forte feita a pedagogia é a demora que essa ciência teve em inspirar-se nos grandes avanços das biociências. Não se pode reduzir as fontes inspiradoras das linguagens sobre a educação a uma única matriz científica. A pedagogia nasceu do carinho dos genitores e das ambiências de sobrevivência e das formas de conviviabilidade que a espécie humana aprendeu a configurar. Auto-organização, organização aprendente e educação A auto-organização não é um processo intencional. Para as biociências a autoorganização tem um sentido oposto, são processos que se apresentam espontâneos e sem propósito intencional. A influência organizadora ocorre de desde dentro. Dentro dessa compreensão entendemos que educar vai significar a recriação de novas condições para que ocorra a auto-organização. As discussões sobre organizações aprendentes surgiram entre 1980/1990 no contexto da organização das teorias gerenciais. Inicialmente essa teoria esteve impregnada de uma visão administrativa e limitada em sua ação. Referia-se inicialmente ao contexto das interrelações humanas e homens – máquinas. Organização aprendente é aquela em que os seus agentes envolvidos estão habilitados a buscar, em todos os níveis, no plano individual e coletivo, aumentar a sua capacidade de planejar, organizar, dirigir e controlar os recursos disponíveis para criar fatores críticos de sucesso e resultados aos quais estão orientados ou, no caso de sistemas humanos, pelos quais estão efetivamente interessados para garantir continuidade. Levemos, pois essa discussão para a escola e perguntemo-nos se a escola pode ser uma organização aprendente. As instituições empenhadas no processo educacional, enquanto ambientes coletivos de experiências de aprendizagem, não devem apenas intensificar aprendizagens individuais, supondo equivocadamente que a somatória desses redundará automaticamente em melhorias. Ou seja, não contam apenas as atuações individuais, mas o clima organizacional. Espaços individuais não criam aprendizagens coletivas. Interdisciplinaridade versus transdisciplinaridade: transdisciplinaridade para melhorar a aprendizagem Esse debate entre se o melhor caminho é a interdisciplinaridade ou a transdisciplinaridade vem sendo travado de muito nos ambientes educacionais. Entendemos interdisciplinaridade como o diálogo entre os vários campos do saber, na compreensão de que proporciona troca de informações, conhecimento e críticas. Usamos indistintamente essa palavra, confundindo-a com um outro termo muito próximo, a transdisciplinaridade, mas precisamos compreender que a interdisciplinaridade tem por objetivo experimentar a vivência de uma realidade global que se inscreve nas experiências cotidianas do aluno, do professor e do povo e que, na escola tradicional é compartimentada e fragmentada. Articular saber, conhecimento, vivência, escola, família, comunidade e meio ambiente se traduz, na prática escolar por um trabalho coletivo e solidário. Na discussão sobre o conceito de transdisciplinaridade precisamos levar em conta dois conceitos básicos apresentados por Edgar Morin que são: é preciso termos clareza que se trata de algo mais que a mera intensificação do necessário diálogo entre as distintas áreas e disciplinas científicas, porque a questão que precisa ser explicitada é a da mudança de paradigma epistemológico e numa outra direção, mas convergente com o primeiro conceito, é afirmar que o diálogo entre as ciências será mais profundo se houver uma transmigração de certos conceitos fundantes através das diversas disciplinas. A transdisciplinaridade é uma etapa que sucede a interdisciplinaridade eliminando a fronteira entre os conhecimentos e transcendendo objetos e métodos disciplinares. Articula elementos que passam entre, além e através das diferentes disciplinas, não mais separando-as. A superação será o surgimento de uma nova macrodisciplina. Aprendizagem e inteligências múltiplas Outra questão fundamental ao discutirmos aprendizagem é tratarmos das inteligências múltiplas de Howard Gardner. Para ele (1985), não existe inteligência genérica nem a ideia de QI com visões unitárias de inteligência, que focalizam sobretudo as habilidades importantes para se alcançar o sucesso escolar. Para Gardner é preciso redefinir a inteligência à luz das origens biológicas da habilidade para resolver problemas. É necessário que a Pedagogia preocupe-se em diversificar os modos e as formas de conhecer, e não impor pedagogicamente um único modelo de conhecimento. É preciso que exista uma verdadeira preocupação com o direito dos alunos de ver valorizada sua forma pessoal de aprender. A pedagogia deve ser centrada no compreender, pois o que não se compreende, não se aprende para valer e durar. Aprender na era das redes vem a exigir uma produção de si mesmo e estudos transdisciplinares acerca da comunicação e significação nos sistemas vivos. São os requisitos de abertura e criatividade de uma nova maneira de aprender.A nossa preocupação aqui, antes, é a de questionar quais as implicações da sociedade em rede para o desenvolvimento das capacidades individuais, nomeadamente em contexto educativo. Participar plenamente na rede traz vantagens importantes que se relacionam não só com a acumulação de capital social e comunicacional, mas também com a possibilidade de serem produzidas competências pelos próprios utilizadores da rede, na qualidade de agentes na rede e de não meros navegantes. A lógica da rede é da mesma ordem do tipo de conhecimento que se funda exclusivamente na informação, que nela circula. É desprovida de crítica e autocrítica. Para a educação um tema fundamental é a relação entre corporeidade, autoorganização e a experiência do tempo. Para Assmann (2011) o corpo é uma das instâncias ao lado da inteligência e do desejo. Como o prazer e a ternura na educação passam experiência sensorial do corpo, as diversas formas do conhecimento têm que ser dinâmica, prazerosa e curativa, com uma pluri-sensualidade que passe pelo cérebro, pelas emoções, e se expresse no corpo. Assim, o monopólio da educação visual e auditiva dará lugar a uma educação instrutiva e criativa, cheia de encantamentos e acessível. Comprometida com o social e centrada no prazer de aprender e ensinar, a educação se revestirá novamente de encantos. Educar, nos dias de hoje, mais do que ensinar, é valorizar vidas. A educação é vital na criação da sensibilidade social necessária para reorientar a humanidade. Nas condições atuais de produtividade, está surgindo uma posição que desafia os sistemas. Fico feliz em constatar A humanidade entrou numa fase na qual nenhum poder econômico ou político é capaz de controlar e colonizar inteiramente a explosão dos espaços do conhecimento. A internet é um exemplo para entender o que se pretende dizer sobre essa questão. Por isso a dinamização dos espaços do conhecimento se tornou a tarefa emancipatória politicamente mais significativa. Dito de outra maneira, parece que surgiu uma brecha profunda entre a acumulação do capital e a explosão e difusão dos conhecimentos. Se ficar comprovada, caberá à educação aproveitar e entrar nessa brecha. Apesar dos inegáveis esforços do capital financeiro globalizado buscando a todo custo manter o hipercontrole da cultura, das linguagens e dos comportamentos, surgem múltiplos descontroles, vazamentos e insurgências alternativas, especialmente naquilo que se refere aos valores éticos. Trata-se de ocupar, de forma intensa, criativa e competente, os diferentes acessos ao conhecimento disponível nas redes e de gerar, positivamente, propostas de direcionamento dos processos cognitivos, quer dos indivíduos quer das organizações coletivas, para atingir metas do tecido social. A educação é vital na criação da sensibilidade social necessária para reorientar a humanidade. O ambiente pedagógico tem de ser lugar de fascinação e inventividade sem inibir o aprendente e que vise um processo de aprendizagem que aconteça como mistura de todos os sentidos. A aprendizagem, segundo essa visão, é antes de qualquer coisa, um processo corporal. Todo conhecimento, para Assmann(2011), tem uma inscrição corporal e é preciso que ela venha acompanhada de sensações de prazer, pois o prazer, mesmo o de aprender, não pode ser considerado secundário. Precisamos reintroduzir na escola o princípio de que toda a morfogênese do conhecimento tem algo a ver com a experiência do prazer. Quando essa sensação está ausente, a aprendizagem vira um processo meramente instrucional. Informar e instruir acerca de saberes já acumulados pela humanidade é um aspecto importante da escola, que deve ser, neste aspecto, uma central de serviços qualificados. Mas a experiência de aprendizagem implica, além da instrução normativa, a reinvenção e construção personalizada do conhecimento. Reencantar a educação significa colocar a ênfase numa visão da ação educativa como ensejamento e produção de experiências de aprendizagem. A vida se gosta. Por isso os educadores deveriam analisar de que forma a vida dos alunos é uma vida concreta que, em seu mais profundo dinamismo vital e cognitivo, sempre gostou de si, ou ao menos tentou e volta a tentar gostar de si. A não ser que a própria educação cometa o crime de anular essa dinâmica vital de desejos de vida, transformando os aprendentes em meros receptáculos instrucionais, pensando apenas na transmissão de conhecimentos supostamente já prontos. Levando em consideração todas essas questões levantadas por Hugo Assmann podemos conduzir a novas e interessantes discussões; Aprender é um processo criativo que se auto- organiza; todo conhecimento tem uma inscrição corporal do conhecimento; dinâmica da vida e dinâmica do conhecimento estão unidas; o prazer como dinamizador do conhecimento; urge curar e re-flexibilizar as linguagens pedagógicas. A questão da qualidade cognitiva e social da educação deve ser encarada primordialmente, desde a sua base pedagógica, a partir das experiências do prazer de estar conhecendo/aprendendo. REFERÊNCIAS ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo a sociedade aprendente.11 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. BENJAMIM, Walter. Sobre o conceito da história. In:_____. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura.7 ed. SP: Brasiliense, 1994. BAUMAN, Zygmunt.Ensaios sobre o conceito de cultura. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. 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In: Série Educação popular e Democracia 1: Educação Popular para uma democracia na América Latina. Recife: Representação do CEAAL no Brasil, 1989/1996.