ECOSSISTEMA ÂNIMA DE APRENDIZAGEM: CONCEITO1 Oriundo do campo da Biologia, o termo ecossistema é a unidade principal de estudo da ecologia e pode ser definido como um sistema integrado e intrincado de relações amplas e complexas dos seres vivos entre si e com meio ambiente em que vivem. Nesse sistema, a manutenção da vida dá-se pela forma como os seres vivos (bióticos), na interação entre si e com o meio (abiótico), se adaptam e alcançam equilíbrio diante dos desafios impostos pela natureza. Dito em outras palavras, a vida só se mantém quando os indivíduos, na interação com seus pares e com o meio, desenvolvem aprendizagem. As biociências nos revelam, portanto, que a vida é, basicamente, uma 1 Excerto retirado de BARRETO , Inês A.; EVANGELISTA , Helivane de A.; JOSÉ Edson F. Projeto Acadêmico Ănima . Belo Horizonte: mimeo, 2015. persistência dos processos de aprender. Seres vivos são seres que conseguem manter, de forma flexível e adaptativa, a dinâmica de continuar aprendendo.2 Transpondo o conceito de ecossistema para o ambiente da educação e de seus desafios, - face às intrincadas, amplas e complexas relações da sociedade contemporânea deparamo-nos com um contexto profunda e rapidamente modificado pela penetração intensa, extensa e irreversível das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que vêm transformando muitos aspectos da vida cotidiana, fazendo-nos mergulhar, em menos de um século, na Sociedade da Informação (SI).3 Não obstante, debates recentes sob enfoque mais analítico e sociopedagógico, portanto menos tecnicista e binário, têm defendido a concepção de Sociedade do Conhecimento (knowledge society), por considerá-la terminologia mais rica, já que o conhecimento, - e não os simples dados informatizados, digitalizados e disponíveis em rede - é que será o recurso humano, econômico e sociocultural mais determinante nesta nova fase da história humana em curso. Embora a constatação e o entendimento das mudanças histórico-sociais tragam em seu bojo amplas potencialidade positivas, é certo, também, que lhe venham atrelados muitos riscos, tais como os fenômenos da exclusão digital e da “inempregabilidade”, riscos que, somados às inexoráveis e irreversíveis mudanças no mundo globalizado e tecnologizado, contundente, confrontam os sistemas de educação de maneira explicita e conclamando-nos a repensar as bases estruturantes em que tradicionalmente se assentam concepções de currículo e de ensino-aprendizagem. Face a este confronto e por pressuposto a esse contexto, têm-se, então, o entendimento de que estamos implicados a viver em uma Sociedade Aprendente (learning society), isto é, uma sociedade em estado permanente de aprendizagem, transformada e transformando-se constantemente em imensa rede de ecologias cognitivas, constituindo verdadeiros sistemas cognitivos complexos, ecossistemas de aprendizagem, por assim dizer, baseados no conhecimento, que abarcam tanto os 2 ASSMAN, H. Reencantar a educaçao: rumo à sociedade aprendente. 11.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. 3 ibid.ibid. processos naturais quanto os sociais, em que se geram formas de aprendizagem sofisticadas, como, por exemplo, a já existente interatividade cognitiva entre aprendentes humanos e máquinas “inteligentes", as quais também, elas mesmas, aprendentes. As propostas de uma Sociedade Aprendente, no contexto da complexa e interativa Sociedade do Conhecimento, impele-nos, então, como Instituição de Ensino Superior, a buscar um Projeto Acadêmico que, em suas bases e concepções, olhe para este presente promissor e positivo, sem descuidar dos riscos da exclusão e da inempregabilidade dele advindos, buscando, como via para a superação desses riscos, o equacionamento entre educação e empregabilidade, na perspectiva de constituir um design curricular renovado, contemplando novas ambientações e novas formas pedagógicas que façam emergir, no processo de formação integral dos estudantes, experiências de aprendizagem integradas a novas tecnologias, vistas como elementos coestruturantes, sem desconsiderar, por outro lado e sobretudo, das prioridades sociais como base da formação humanística, vistas como princípio ético inalienável da solidariedade humana e do cuidado para consigo mesmo, para com o outro e para com o meio ambiente .4 Parece-nos necessário, neste passo adiante de se constituir um ecossistema de aprendizagem, alargar o conceito do que seja aprender e enfrentar o desafio de atualizar uma proposta acadêmica que dê conta deste novo e amplo espectro social e das necessidades da aprendizagem contínua, constituído por um desenho curricular rizomático, que englobe a rede das ecologias cognitivas, ultrapassando meras hierarquias, linearidades ou simples conectividades, compreendendo processos cognitivos como sinônimo de processo vitais, em que a dinâmica da vida e a dinâmica do conhecimento estejam intimamente e significativamente imbricadas. 4 ibid.ibid.