TEXTO LIVRE: O PRAZER DE ESCREVER

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TEXTO LIVRE: O PRAZER DE ESCREVER
Tânia Regina Laurindo1
“Cultivaremos antes de tudo este desejo inato na criança de se comunicar
com outras crianças, de fazer conhecer ao redor de si seus pensamentos,
seus sentimentos, seus sonhos e esperanças. Assim, aprender a ler, a
escrever, a se familiarizar com o essencial daquilo que chamamos de
cultura será para ela função tão natural quanto a de aprender a andar.”
Célestin Freinet
O aprendizado da fala, para as crianças, acontece de uma forma natural e sem acertos
ou erros; mesmo quando elas trocam os fonemas das palavras todos acham “lindinho”. Porque
então o escrever não pode ser assim? Deveria haver para a escrita algo mais suave como a
conversa, com que se divaga até encontrar assunto para um discurso encadeado. Mas nos
ensinaram que escrever supunha texto prévio, mensagem já elaborada, quem de nós adultos
nunca escrevemos uma redação onde o título era a professora que dava: “Minhas férias”.
“Assim fomos alfabetizados, em obediência a certos rituais. Fomos induzidos a,
desde o início, escrever bonito e certo. Era preciso ter um começo, um
desenvolvimento e um fim predeterminados. Isso estragava, porque bitolava, o
começo e todo o resto.” (Marques, p.13 1997).
Não irei escrever sobre o processo de alfabetização, mas sim conversar com vocês sobre
uma técnica de Freinet que é justamente uma oportunidade para que a criança, no ato da escrita,
inicie uma conversa consigo mesma e com sua imaginação e escreva com liberdade o que quiser.
Esta técnica chama-se texto livre, e trata-se de, no processo de aquisição da escrita,
desde o início, dar a palavra à criança, dar-lhe meios de se exprimir e comunicar-se. E
justamente na primeira série em que as crianças estão ávidas para escrever tudo, esta livre
expressão, faz com que seus textos sejam vivos. Este texto deve ser realmente livre, na forma
e no tema, elaborado em qualquer momento que chega a inspiração, pois só assim ele trará em
suas histórias: espontaneidade, vida, criação.
O professor tem papel fundamental, pois é ele que irá trabalhar com a criança o prazer e
o entusiasmo de escrever e se expressar, ele irá inspirar-lhe o desejo de fazê-lo. Acreditar na
criatividade da criança e a cada dia encorajá-la para que alce novos vôos no sistema da escrita
ao escrever suas histórias é o nosso papel.
Eu, como professora de uma primeira série, geralmente, ouço dos meus alunos a seguinte
frase: “Hoje vamos ter ateliê de texto livre?” Fico muito satisfeita por eles estarem
demonstrando prazer pela escrita através desta técnica, pois mesmo os que ainda não lêem e
nem escrevem elaboram suas hipóteses através do texto livre. É lindo vê-los chegar com meia
folha de letras e me contarem a história que escreveram, e eu vou escrevendo para eles em
baixo da história. Este momento é mágico, pois há cumplicidade, amorosidade e respeito com o
trabalho da criança, portanto eles não apresentam o “medo” de errar e assim vão avançando cada
vez mais nas interpretações e criatividade para com a escrita. Avançam também nas estruturas
dos textos, na gramática, pois o professor como mediador de todo o trabalho irá, juntamente
com a criança, fazendo as correções do texto.
Portanto o texto livre é uma das formas mais prazerosas de escrever livremente de
acordo com a capacidade de cada um de imaginar e fantasiar através da escrita.
1
Professora da 1ª série tarde, 2000.
Rua Santa Maria Rosselo, 118. Campinas, SP.
13087-421
(19) 32562648
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