Consumo de Antiflamatórios Não Estiróides em uma Farmácia

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1
ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
HÂNIA MARIA DE MENEZES SANTANA
CONSUMO DE ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO-ESTERÓIDES EM UMA
FARMÁCIA COMUNITÁRIA EM JUAZEIRO DO NORTE-CE
JUAZEIRO DO NORTE – CE
2006
2
HÂNIA MARIA DE MENEZES SANTANA
CONSUMO DE ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO-ESTERÓIDES EM UMA
FARMÁCIA COMUNITÁRIA EM JUAZEIRO DO NORTE-CE
Monografia apresentada à Escola de
Saúde Pública do Ceará, como parte dos
requisitos para obtenção do Título de
Especialista
Farmacêutica.
Orientadora:
Profª. Msc. Kelly Rose Tavares Neves
JUAZEIRO DO NORTE – CE
2006
em
Assistência
3
HÂNIA MARIA DE MENEZES SANTANA
“CONSUMO DE ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO-ESTERÓIDES EM UMA FARMÁCIA
COMUNITÁRIA EM JUAZEIRO DO NORTE-CE”
Curso de Especialização em Assistência Farmacêutica
Aprovada em ____/____/____
BANCA EXAMINADORA:
Kelly Rose Tavares Neves
Mestre
_________________________________________________
Msc. Maria das Graças Nascimento Silva
Mestre
_________________________________________________
Esp. Pollyanna Callou de Morais Dantas
Especialista
_________________________________________________
4
DEDICATÓRIA
A Deus, por tudo que conquistei, as
bênçãos recebidas, enfim, pela pessoa
que sou.
5
AGRADECIMENTOS
Inicialmente agradeço a minha orientadora, Profª. Msc. Kelly Rose Tavares Neves
pela paciência, pela atenção e orientação constante no transcorrer do trabalho
monográfico.
Agradeço às Farmácias Pague Menos por conceder liberação do trabalho durante o
curso e consentir na realização da pesquisa.
Ao meu esposo e aos meus filhos, pois souberam compreender a minha ausência
durante toda a concretização deste trabalho.
Aos meus pais pelo incentivo ao longo da vida.
Aos professores do Curso de Especialização pelos ensinamentos repassados..
Aos clientes da farmácia que se propuseram a responder aos nossos
questionamentos.
A colega de curso Janieide Lopes Bezerra pelo apóio e incentivo nas dificuldades
encontradas no decorrer do trabalho.
6
“O
desejo
de
tomar
medicamentos
talvez
represente o maior aspecto de distinção entre o
homem e os animais”.
Sir William Osler
7
RESUMO
Os Antiinflamatórios Não-Esteróides - AINE encontram-se entre o grupo de fármacos
mais amplamente consumidos em todo o mundo. O presente trabalho objetiva
analisar o consumo de AINE em uma farmácia comunitária localizada no centro de
Juazeiro do Norte –CE. Para a realização do mesmo utilizou-se pesquisa descritiva,
transversal e quantitativa. À amostra foi composta por clientes acima de 17 anos que
adquiriram algum AINE no local do estudo, no período de maio a agosto de 2006 no
horário da manhã. Foi elaborado um questionário contendo perguntas sobre o perfil
dos clientes e sobre o medicamento utilizado. A pesquisadora preenchia o
questionário com as informações dos clientes. Foram colhidos 80 questionários.
Deste total 90% foram do sexo feminino, 50% foram maiores de 60 anos. Com
relação ao grau de instrução 71% tem ensino médio e superior, 60% possuem renda
superior a 5 salários mínimos. O diclofenaco (30%) foi o AINE mais citado, seguido
do lumiracoxib (16,25%). 80% consomem com prescrição médica ou odontológica.
70% afirmaram não sentir nenhuma reação adversa ao consumir o medicamento e
50% não recebeu nenhum tipo de alerta sobre ocorrência de reações adversas ao
medicamento. 60% dos entrevistados afirmaram indicar o AINE a alguém. Dores nas
articulações foram o principal motivo do uso relatado. Após a analise dos dados
pode-se concluir que os AINE são muito utilizados para tratamento sintomático,
apontando para a necessidade de orientação na farmácia comunitária dos usuários
quanto ao uso racional de antiinflamatórios.
Palavras Chave: antiinflamatórios não-esteróides, farmácia comunitária, consumo
de medicamentos
8
ABSTRACT
The Non-Steroids Antiinflamatories - NSAI are among the group of drugs most
consumed in the whole world. The objective of the present suport is the analysis of
NSAI usage in a communitary pharmacy located in downtown Juazeiro do Norte.In
order for this survey to be done a descriptive, transversal and quantitative research
was used. The research was composed of clients over 17 years old who acquired
some NSAI in the study location beginning in May through August of 2006 in the
morning. A questionnaire was elaborated containing questions about the clients
profile and about the medication used. The researcher filled out the questionnaire
with the clients information. 80 questionnaires were selected. From this total, 90%
were female, 50% were over 60 years. About the education, 71% have high school
and college, 60% have superior income to 5 minimal salaries. The diclofenac (30%)
was the most cited NSAI, followed by lumiracoxib (16,25%). 80% consume with
medical or odontological prescription. 70% affirmed that they didn't feel any adverse
reaction by taking the medicine and 50% didn't get any kind of alert about the
occurrence of adverse reactions to the medicine. 60% of the interviewed confirmed to
indicate NSAI to someone. Joint pains were the main reason of the reported usage.
After the analysis of this data, it's concluded that NSAI are very widely used for
symptomatic treatment, pointing to the necessity of communitarian pharmacy to
orientate the users about the rational use of antiinflamatories.
Keywords: Non-steroids Antiinflamatories, communitarian pharmacy, medication
consumption.
9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AINE – Antiinflamatório não esteróide
CENASS – Conselho Nacional de Secretários de Saúde
CNC – Conselho Nacional de Saúde
COX – Enzima Cicloxigenase
OMS – Organização Mundial de Saúde
OTC – Over the Counter (Sobre o Balcão)
RAM – Reação Adversa ao Medicamento
SOBRAVIME – Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamento
SUS – Sistema Único de Saúde
10
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
FIGURA 1. Vias de transmissão da dor e locais de intervenção dos AINEs .............21
TABELA 1 Classificação química dos principais AINEs ............................................20
TABELA 2. Principais usos terapêuticos de alguns AINEs .......................................26
TABELA 3. Freqüência de AINE entre os entrevistados............................................38
TABELA 4. Sinais e sintomas que motivam o uso de AINE de acordo com os
participantes...............................................................................................................40
11
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Distribuição dos entrevistados quanto ao sexo...................................33
GRÁFICO 2 – Distribuição dos entrevistados quanto à idade...................................34
GRÁFICO 3 – Distribuição quanto ao grau de escolaridade dos entrevistados.........35
GRÁFICO 4 – Distribuição quanto à renda familiar dos entrevistados......................36
GRÁFICO 5 - Percentual de entrevistados segundo ao uso de AINE com e sem
prescrição...................................................................................................................37
GRÁFICO 6 - Distribuição dos AINE quanto à via de administração dos AINE
referidos pelos entrevistados......................................................................................41
GRÁFICO 7 - Distribuição dos entrevistados quanto a percepção de RAM..............42
GRÁFICO 8 - Distribuição dos entrevistados quanto ao alerta da ocorrência de
RAM............................................................................................................................43
GRÁFICO 9 - Percentual de entrevistados quanto a indicação de AINE à
alguém........................................................................................................................44
12
SUMÁRIO
RESUMO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
01 INTRODUÇÃO ........................................................................................
14
2. REVISÃO DA LITERATURA......................................................................... 18
2.1 Histórico ................................................................................................... 18
2.2 Ações Farmacológicas e Mecanismo de Ação............................................ 19
2.3 Reações Adversas...................................................................................... 22
2.3.1 Reações Gastrintestinais......................................................................... 22
2.3.2 Reações Renais....................................................................................... 23
2.3.3 Reações Hepáticas.................................................................................. 23
2.3.4 Reações de Hipersensibilidade................................................................ 24
2.3.5 Reações Hematológicas........................................................................... 24
2.3.6 Outras Reações Adversas........................................................................ 25
2.4 Principais Usos dos AINEs ......................................................................... 25
03. OBJETIVOS................................................................................................ 28
3.1 Geral............................................................................................................ 28
3.2 Específicos...............................................................................................
28
04 METODOLOGIA ......................................................................................... 29
4.1 Tipo de estudo............................................................................................. 29
4.2 Descrição da área de estudo...................................................................... 29
4.3 População e amostra.................................................................................
30
4.4 Instrumento de coleta de dados.................................................................. 30
13
4.5 Aspectos Éticos..........................................................................................
31
4.6 Procedimento de coleta de dados ...........................................................
31
4.7 Analise dos dados....................................................................................... 32
05 Resultados e discussões............................................................................
33
5.1 Descrição dos entrevistados....................................................................... 33
5.2 Sobre os antiinflamatórios não esteróides.................................................. 37
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 47
APÊNDICE................................................................................................................... 50
APÊNDICE A Questionários aplicado aos clientes..................................
51
APÊNDICE B Termo de esclarecimento...................................................
52
APÊNDICE C Termo de consentimento....................................................
53
APENDICE D Termo de autorização.........................................................
54
ANEXO.............................................................................................................. 55
ANEXO A - Parecer do Comitê de Ética............................................. 56
14
1. INTRODUÇÃO
Nas
ultimas
décadas
têm
surgido
importantes
avanços
nos
conhecimentos médicos sobre a etiologia e a fisiopatologia de diversas doenças e,
paralelamente, têm sido desenvolvidos novas opções terapêuticas e novos
medicamentos.
O consumo de medicamentos tem demonstrado crescimento em todo o
mundo.
No
Brasil,
por
exemplo,
o
mercado
farmacêutico
movimenta
aproximadamente 10,3 bilhões de dólares anuais e está entre os cinco maiores
consumidores de medicamentos do mundo (Wilken & Bermudez, 1998).
Entre os medicamentos mais amplamente consumidos em todo o mundo
encontram-se os Antiinflamaórios Não-esteroides – AINE, respondendo por 70
milhões das prescrições e com mais de 30 bilhões de comprimidos comercializados
anualmente nos Estados Unidos (Wolfe et al,1999).
O Brasil encontra-se em nono colocado no ranking mundial de
comercialização de AINE (Frutuoso, 2004). Além disso, pesquisas nacionais
confirmam este grupo farmacológico como um dos mais consumidos pela população,
apesar do histórico de toxicidades e de efeitos colaterais, principalmente
gastrintestinais.
A maioria dos AINE tem eficácia antiinflamatória similar. Eles exercem
seus efeitos através da inibição da enzima cicloxigenase (COX), resultando em
formação
diminuída
dos
precursores
de
prostaglandinas
e
tromboxanos
(Wannamacher & Ferreira, 1995). As suas propriedades analgésicas, antipiréticas e
antiinflamatórias justificam o seu alto consumo, pois as condições envolvidas nesses
casos estão presentes na vida da maioria das pessoas.
Várias pesquisas estudaram a importância de fatores como sexo e idade
na determinação do uso de AINE, evidenciando que as mulheres utilizam mais
comumente, entretanto, a idade não é um forte preditor da utilização dos mesmos
15
(Antonov et al, 1996; Eggen 1993).
Outros possíveis fatores determinantes da utilização de AINE ainda
encontram-se em discussão, tais como: hábitos de vida e presença de morbidades
especificas, principalmente relacionadas à dor (Porteus et al, 2005, Antonov et al,
1996).
No Brasil são poucos os estudos específicos sobre a utilização destes
fármacos. Estudos realizados por Ferraz et al (1996), Arrais et al (1997), Mosegui et
al (1999) e, mais recentemente, Luz (2003) e Ribeiro et al (2005) merecem
destaque.
Um resultado importante da pesquisa realizada por Ferraz et al (1996),
em uma amostra de farmácias em São Paulo, sobre a indicação de fármacos overthe-counter1 (OTC) por balconistas, foi que entre o grupo de fármacos mais
sugeridos os AINE responderam por 42,85%.
Em um estudo descritivo da automedicação no Brasil, Arrais et al (1997)
evidenciaram que os AINE foram a terceira classe terapêutica mais relatada. Deste
grupo, o diclofenaco atingiu 53%, ocupando o quinto lugar entre todos os fármacos.
Mosegui et al (1999) avaliaram a qualidade do uso de medicamentos em
mulheres com idade superior a 60 anos, no Rio de Janeiro. Neste estudo, os AINE
fora a quinta classe terapêutica mais consumida. Entretanto, aparecem em primeiro
lugar se considerar seu envolvimento em eventos de redundância, que é o uso de
fármacos pertencentes a uma mesma classe terapêutica.
Pesquisa realizada por Luz (2003) sobre fatores associados ao uso de AINE
em população de funcionários de uma universidade do Rio de Janeiro confirma que
as mulheres são as maiores usuárias de AINE bem como os indivíduos com maior
carga de trabalho.
1
O termo OTC vem do idioma inglês que significa "over the counter", ou seja, "sobre o balcão". São
aqueles medicamentos que podem ser comercializados sem a necessidade de prescrição médica. No
Brasil, estes produtos são conhecidos como MIP, sigla que significa Medicamentos Isentos de
Prescrição.
16
O estudo realizado por Ribeiro et al (2005) chama a atenção para a
associação entre o uso de AINE e a presença de sintomas gastrointestinais.
Alertando para a necessidade de uma maior atenção por parte dos profissionais de
saúde para as possíveis reações adversas associadas ao uso desta classe
terapêutica.
É importante ressaltar que os antiinflamatórios, como todo medicamento,
reúnem possibilidades de benefício ou de risco. Dentre os riscos, citam-se: lesão
gástrica, dores abdominais, sensação de plenitude,
flatus
e meteorismo,
constipação, diarréia, náuseas, azia, dispepsia e até ulcerações gástricas, com
perfurações, hemorragia, colite e enterite regional (Bjarnason & Macpherson, 1994).
Um a cada cinco ou dez consumidores de AINE sofre de úlcera segundo
estatísticas Americanas. Quatro milhões de dólares é o custo estimado do
tratamento de complicações gastrintestinais causadas por estes antiinflamatórios
nos Estados Unidos no ano de 1991 (Chetley, 1995).
Os AINE são antiagregantes plaquetários, atravessam a barreira
placentária, podendo ser teratogênicos se utilizados em altas doses, e também
prolongar o trabalho de parto. Medicamentos como anticoagulantes, fibrinolíticos e
outros antiplaquetários, podem ter seus efeitos potencializados pelo uso simultâneo
de AINE, conforme relatou Dionne & Gordon (1994).
O consumo de antiinflamatórios sem prescrição médica está crescendo,
não somente para doenças especificas, como artrite reumatóide ou osteoartrite, mas
também para muitas outras, como fenômenos dolorosos em geral, incluindo as dores
de cabeça, gripes e cólicas menstruais (www astrazeneca.com.br, 2006). Isto é
preocupante, visto que a automedicação pode aumentar os riscos de interações
medicamentosas e de reações adversas.
Os AINE são uma classe de medicamentos bastante atraente para a
indústria farmacêutica pelo seu elevado consumo e, conseqüentemente, pelo seu
alto potencial de lucratividade. Nos últimos 10 anos observa-se a proliferação de
novos AINE, entretanto, sem grandes avanços com relação à eficácia (Wannmacher,
17
1998). Pelo contrário, alguns destes são rapidamente retirados do mercado devido a
graves efeitos adversos. É o caso, por exemplo, do rofecoxib e do benoxifeno que
foram retirados do mercado devido à alta incidência de efeitos graves, incluindo
óbitos.
Pesquisas que envolvam o conhecimento sobre o perfil de utilização de
medicamentos, perfil de prescrição, qualidade do que se usa, automedicação,
vendas e custos comparativos, contribuem para a formação de uma consciência
crítica entre os profissionais que prescrevem, os que dispensam medicamentos e os
consumidores (Bertoldi et all, 1997).
O tema proposto foi motivado pela experiência profissional da
pesquisadora como farmacêutica responsável técnica por uma farmácia comunitária,
onde pôde constatar um consumo bastante elevado de AINE, quando comparado
com outros grupos farmacológicos, com e sem prescrição médica.
No Brasil, a maior parte dos estudos sobre a utilização de AINE foi
desenvolvida nas Regiões Sul e Sudeste do país, portanto, espera-se encontrar
peculiaridades no consumo destes medicamentos na Região Nordeste, onde está
localizado o Município de Juazeiro do Norte, devido as diferenças de indicadores
sócio-econômicos, epidemiológicos e de acesso aos serviços de saúde.
Portanto, tendo em vista a importância dos AINE e o seu impacto sobre a
saúde da população, esta pesquisa pretende fornecer informações relevantes sobre
a utilização deste grupo de medicamentos que possam servir de ferramentas para
profissionais de saúde, autoridades sanitárias, instituições de saúde e pelos próprios
consumidores de medicamentos.
18
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 HISTÓRICO
Os medicamentos antiinflamatórios constituem um grupo de compostos
mais comumente prescrito em todo o mundo e estão entre os mais utilizados na
prática da automedicação (Motola, 2004). Seu uso é muito difundido estando
continuamente em crescimento. Sua comercialização mundial alcança a cifra de 2,2
bilhões de dólares, com 73 milhões de prescrições anuais em todo o mundo (Fuchs
& Wannmcher, 1998).
Há muito conhecido pela humanidade, a história dos compostos
antiinflamatórios não esteróides (AINE) remete ao uso do extrato de casca de
salgueiro e de outras plantas conhecidas por diversas culturas através dos séculos.
Os assírios utilizavam extratos de folhas de salgueiro para o alívio de sintomas
músculo-esquelético e os egípcios utilizavam decocção de folhas de murta e
salgueiro para dores nas articulações e para o alívio da dor e da inflamação
associadas a ferimentos (Jones, 2001).
Em 1853 o ácido acertilsalicílico foi sintetizado. Com a demonstração dos
seus efeitos antiinflamatórios foi introduzido definitivamente na medicina por Dreser
em 1899 com a denominação de Aspirina (Spiraea designa o gênero da planta a
partir do qual foi obtido e Saure significa ácido no vocábulo alemã). Por ter maior
eficácia e menor custo, rapidamente a aspirina substituiu os produtos obtidos a partir
de fontes naturais, e, passados mais de 90 anos continua sendo um dos remédios
mais amplamente utilizados pela humanidade (Katzung, 2003).
Compostos alternativos a aspirina foram surgindo a partir de 1941.
Inicialmente a Fenilbutazona, com poderosos efeitos antiinflamatórios aprovado nos
Estados Unidos para o tratamento da artrite reumatóide ou da osteoartrite (Katzung,
2003 ).
19
Novos AINE proliferaram nos últimos 10 anos, entretanto comparados à
aspirina nenhum deles conseguiu sobrepujar sua eficácia, quer em estudos
experimentais ou em ensaios clínicos randomizados (Fuchs & Wannmacher, 1998).
Conhecidos como “coxibs”, esta nova classe de antiinflamatórios merece
destaque por apresentar seletividade para a enzima ciclooxigenase 2 resultando na
manutenção dos efeitos terapêuticos dos AINE com restrição de seus efeitos
deletérios tradicionais (Emery, 2001).
Schnitzer (2001), ressalta alguns efeitos
colaterais que essa classe apresentam quando comparados com os antiinflamatórios
tradicionais, principalmente a nível renal, manifestando-se por um aumento na
incidência de hipertensão e edema, devendo, segundo o autor ser melhor avaliados
através de ensaios clínicos bem controlados.
2.2 Ações farmacológicas e mecanismo de ação
Os antiinflamatórios não-esteróides (AINE) fazem parte de um grupo
heterogêneo de compostos, que mesmo não estando quimicamente relacionados,
compartilham
algumas
ações
terapêuticas
como
propriedades
analgésica,
antitérmica, antiinflamatória e antitrombótica (Goodman & Gilman, 1996).
Praticamente todos os AINE são analgésicos e antipiréticos, variando o
grau de atividade antiinflamatória. Como analgésicos geralmente são eficazes para
dor de intensidade leve a moderada, sendo a sua principal vantagem a ausência de
dependência física ou psíquica com o uso prolongado, quando comparados aos
opióides. Como antitérmicos reduzem a temperatura corpórea nos estados febris.
Porém devido aos seus efeitos tóxicos alguns não são convenientes para
uso
prolongado ou rotineiro (Goodman & Gilman, 1996).
São como agentes antiinflamatórios que os AINE tem sua principal
aplicação.
Alguns
são
fortemente
antiinflamatórios
Exemplo:
Indometacina,
piroxicam, outros possuem atividade antiinflamatória moderada como: Ibuprofeno e
nabumetona e ainda os que possuem ação antiinflamatória mínima o paracetamol é
20
um exemplo (Rang & Dale, 2001).
A Tabela 1 destaca a classificação química dos principais AINE :
Tabela 1: Classificação química dos principais AINE
Derivados do ácido salicílico
Ácido acetil salicílico, salicilato de sódio, trissalicilato de
magnésio
e
colina,
salsalato,
diflunisal,
ácido
salicilsalícico, sulfasalazina, olsalazina
Derivados
do
aminofenol,
para- Paracetamol ou acetaminofeno
aminofenol e anilina
Derivados
do
ácido
antracílico
(fenantranos)
Ácidos mefenâmico, ácido meclofenâmico
Derivados do ácido enólico
Oxicans (piroxicam, tenoxicam), pirazolidinodionas
(fenilbutazona, oxifentatrazona)
Derivados do ácido indolacético
Indometacina, sulindaco, glucametacina, benzidamina,
benziflex
Derivados do ácido fenilacético
Derivados do ácido propiônico
Diclofenaco, fenclofefeno, fentiazaco, aceclofenaco
Ibuprofeno, cetoprofeno, fenoprofeno, flubiprofeno,
naproxeno, fenbufeno, oxaprozina
Derivados da sulfoanilida
Nimesulida, deflogen
Derivados da quinolonas
Celecoxib, rofecoxib, valdecoxib
Derivados da naftilcalonas
Nabumetona, proquazona
Fonte: Revista Pharmacia Brasileira, 2003.
O processo inflamatório consiste na resposta orgânica mais precoce
diante de lesão tissular ou infecção. Este processo fisiológico envolve uma ação
coordenada entre o sistema imunológico e o tecido no qual ocorreu a lesão (Tilley,
Coffman, Koller, 2001).
Diante de um trauma tissular, o acúmulo local de prostaglandinas,
tromboxanos e outros mediadores químicos (substância P, serotonina etc)
ocasionam a "sensibilização periférica" da dor, que se caracteriza por uma alteração
no limiar de nociceptores, com conseqüentes hiperalgia (sensibilidade exacerbada
21
ao estímulo nóxico) e/ou alodinia (sensações não dolorosas sendo experimentadas
como dor). Estes nociceptores sensibilizados enviam sinais, via fibras nervosas
aferentes A delta e C, para o corno posterior da medula, onde fazem sinapses
principalmente com neurônios das lâminas I,II e V e, como conseqüência, geram a
"sensibilização central" da dor. A partir da medula, o estímulo doloroso ainda
prossegue via trato espinotalâmico para estruturas como tálamo e córtex cerebral,
onde existe muito mais a se esclarecer sobre a sensibilização dolorosa nessas áreas
(Figura 1).
Figura 1 – Vias de Transmissão de Dor e Locais
de Intervenção dos AINES. Adptado de Gottschalk e col.
Fonte: Revista Brasileira de Anestesiologia, 2002; 52:
4: 498 – 512
Antiinflamatórios Não Esteróides
Inibidores da Ciclooxigenase-2 (COX-2): Aspectos
AtuaisCarmen Luize Kummer, Tereza Cristina R. B. Coelho
Vane (1971) foi o primeiro a propor que os efeitos terapêuticos e
colaterais dos antiinflamatórios não-esteroides resultavam da inibição da enzima
ciclooxigenase por estes compostos.
22
Há, pelo menos duas isozimas da COX (enzima araquidonato
ciclooxigenase), a ciclooxigenase 1 (COX-1) e a ciclooxigenase 2 (COX-2). A
primeira é uma enzima essencial, presente na maioria das células e tecidos que esta
relacionada a inúmeras funções fisiológicas, entre estas a modulação da formação
de secreções gástricas protetoras. A segunda é induzida no contesto inflamatório
pelas citocinas e mediadores da inflamação (Katzung, 2003).
A inibição da COX-1 é em parte responsável por alguns efeitos adversos
dos AINEs, como toxicidades renal e gastrintestinal .O que não ocorre de forma
acentuada com a inibição da COX-2, evidenciada através de estudos clínicos e
farmacológicos onde a sua inibição é suficiente para promover efeitos analgésicos e
antiinflamatórios (Katzung, 2003).
2.3 Reações adversas
Os AINE compartilham vários efeitos adversos, presumivelmente devido a
inibição da cicloxigenase. Quando utilizados em doenças articulares (geralmente em
doses altas e por tempo prolongado), verifica-se elevada incidência de efeitos
colaterais – mais frequentemente no trato gastrintestinal, porém também no fígado,
rim, baço, sangue e medula óssea. Esses efeitos variam em intensidade e
freqüência, dependendo do fármaco ou classe de fármacos, bem como das reações
individuais de cada doente (Rang & Dale, 2001)
2.3.1 Reações Gastrintestinais
Representam a principal queixa dos usuários de AINE. Compreendem:
eritema e erosões , ulceração gástrica e duodenal, dispepsia, dor epigástrica,
náuseas e vômitos , anorexia, flautulência, diarréia (podendo em certas ocasiões
provocar constipação) e perda de sangue pelo tubo digestivo.Pacientes usuários
crônico apresentam risco relativo
de desenvolver complicações gastrintestinais
colaterais cerca de três vezes maior em comparação aos não usuários (Rang &
Dale, 2001).
23
Com exceção dos derivados do p-aminofenol, todos os outros
antiinflamatórios tem tendência a produzir efeitos colaterais gastrintestinais variáveis.
Entretanto tais efeitos podem ser minorados reduzindo-se a dosagem, utilizando-se
apresentações de formas farmacêuticas de desintegração entérica, como também
administração concomitante de alimentos ou antiácidos. A substituição do AINE
inicial por outro representante, também é alternativa para redução dos efeitos
gastrintestinais (Fuchs & Wannmacher, 1998).
É sabido que a incidência de complicações (hemorragia/perfuração
gástrica) não é igual para todos os AINE já disponíveis. Tem-se procurado explicar
essas diferenças com base na “seletividade parcial” para a inibição da cicloxigenase
tipo 2. Devem manter-se reservas sérias quanto a muitas dessas informações que
se baseiam muitas vezes numa única determinação e em condições muito
particulares de ensaio. De qualquer modo, entre os antiinflamatórios disponíveis há
evidências de inibição preferencial da cicloxigenase tipo 2 , para o meloxicam e a
nimesulida (infamed, 2006).
2.3.2 Reações Renais
Indivíduos saudáveis, não apresentam problemas renais quando utilizam
doses terapêuticas de AINE. Justifica-se provavelmente, porque a produção de
prostaglandinas vasodilatadoras exerça menor papel na função renal dos
mesmos.Todavia em pacientes com disfunção renal preexistente ou com
comprometimento da perfusão podem desenvolver complicações renais que
compreendem insuficiência renal aguda ou crônica , síndrome nefrótica, necrose
papilar aguda e nefrite intersticial aguda. Esses problemas são raros e reversível
com a interrupção do fármaco em uso. Exceto quanto a hipercalemia que pode ser
fatal (Fuchs & Wannmacher, 1998).
2.3.3 Reações Hepáticas
Em decorrência do uso de AINE podem surgir alterações transitórias
(aumento de aminotransferaes séricas) até quadros fatais (Fuchs & Wannmacher,
24
1998). As reações graves são raras e imprevisíveis sugerindo que a maioria ocorra
devido à hipersensibilidade ou idiossincrasia .A fenilbutazona tem sido associada a
necrose hepática
e hepatite granulomatosa e as substâncias
sulindaco,
indometacina, ibuprofeno e naproxeno podem desencadear a hepatite colestática. O
uso prolongado com AINE, pode causar hepatite crônica (Fuchs & Wannmacher,
1998). O diclofenaco está associado a um transtorno hepatocelular agudo
reconhecido como causa rara de lesão hepatocelular aguda ( Meylers, 2000).
2.3.4 Reações de Hipersensibilidade
A intolerância demonstrada por algumas pessoas aos AINE manifesta-se
por sintomas que variam da rinite vasomotora com secreções aquosas abundantes,
edema angioneurótico, urticária generalizada e asma brônquica , até o edema da
laringe e broncoconstriçao, hipotensão e choque (Goodman & Gilman 1996).
A hipersensibilidade à aspirina é uma contra-indicação para o uso de
quaisquer das substâncias AINE,pois podem provocar uma reação potencialmente
fatal semelhante ao choque anafilático (Goodmas & Gilman 1996).
2.3.5 Reações Hematológicas
Os
derivados
pirazolônicos
podem
causar
graves
desordens
hematológicas como trombocitopenia, agranulocitose, anemia aplastica e anemia
hemolítica. Devendo ser evitados entre idosos por ser a faixa etária que apresenta
maior risco de reações com o uso de AINE (Fuchs & Wannacher, 1998). A
trombocitopenia é de gravidade geralmente moderada e reversível e tem baixa
letalidade, entretanto mortes por hemorragia tem sido notificadas, especialmente
com a indometacina e a fenilbutazona. Pode ocorrer também leucopenia (Meyles,
2000}.
Segundo Castilho et al. (1998), discrasias sanguíneas são pouco
freqüentes, aparecendo manifestações clínicas em pacientes com distúrbios
hematológicos ou que fazem uso de anticoagulantes.
25
2.3.6 Outras Reações Adversas
O uso em doses elevadas de aspirina pode provocar o aparecimento de
salicilismo, intoxicação crônica caracterizada por zumbidos, confusão, surdez para
altos tons, delírios, psicoses, estupor, coma e ventilação superficial por edema
pulmonar (Fuches & Wannmacher, 19980.
Em pacientes predispostos (aqueles que apresentam rinite vasomotora,
congestão e pólipos nasais) pode aparecer asma induzida por AINE em uma
proporção de1 para 10, acompanha-se de rinorréia, hiperemia da conjuntiva e outros
sintomas respiratórios altos (Fuchs & Wannmacher, 1998).
As reações cutâneas aparecem particulamente com o uso do ácido
mefenâmico e do sulindaco, variando de erupções leves, urticárias e reações de
fotossensibilidade até doenças mais graves e potencialmente fatais (que felizmente
são raras) (Rang & Dale, 2001).
2.4 Uso dos AINE
Os objetivos básicos do tratamento de pacientes com inflamação são
dois: primeiramente aliviar a dor, que na maioria das vezes é sua principal queixa e
em segundo lugar retardar ou – teoricamente – interromper o processo responsável
pela lesão tecidual (Katzung, 2003).
Em quase todas as lesões produzidas no organismo humano a reação
inflamatória está presente. Traumas, infecções, reações imunitárias a agentes
externos e processos auto-imune acompanham-se em maior ou menor intensidade,
de reações inflamatórias. Destacando que no trauma a inflamação é componente
indispensável a reparação tecidual não justificando o uso de AINE. Assim como nas
infecções em que a reação inflamatória representa uma defesa do organismo
devendo direcionar o tratamento para a gênese do problema (ou seja uso da
quimioterapia antimicrobiana específica) (Fuchs & Wannmacher, 1998).
26
A terapia antiinflamatória é indicada quando o desconforto advindo das
manifestações inflamatórias (dor, edema, limitações funcional) suplanta o benefício
da regeneração tecidual determinado pela reação inflamatória. O seu uso quase
sempre produz alívio da dor durante um período significativo de tempo. Ressaltando
que quando há dor isolada analgésicos não-opióides ou opióides podem ser
suficientes ( Fuchs & Wannmacher, 1998).
Designadas genericamente de doenças reumáticas, esses distúrbios
compreendem artrite reumatóide, gota, osteoartrite, polimiosite, lupus eretematoso
sistêmico, esclerose sistêmica progressiva, poliarterite/granulomatose de Wegener,
polimialgia reumática, espondilite aquilosante e entesopatias. Nelas as articulações
e tecido conjuntivo são afetados levando à disfunção e incapacitação do órgão
afetado. São de natureza crônica, tendo evolução de meses ou anos . Atingem
milhões
de pessoas em todo o mundo acarretando ônus pessoal (dor e
incapacidade funcional) e inestimável perdas econômicas.Nesses processos
inflamatórios crônicos estão
indicado a terapia antiinflamatória (Fuche &
Wannmacher,1998).
Tabela 2: Principais usos terapêuticos de alguns AINE
AINE
Principais usos terapêuticos
Ibuprofeno
Tratamento sintomático de artrite reumatóide, osteoartrite, tendinite e
bursite aguda em pacientes com intolerância gastrintestinal a outros
AINE
Nimesulida
Tratamento de curto prazo das doenças antiinflamatórias em pacientes
hipersensíveis ao ácido acetilsalicílico
Paracetamol
Pouca atividade antiinflamatória, utilizado como analgésico e antipirético
Indometacina
Tratamento de artrite reumatóide e gota aguda
Diclofenaco
Tratamento crônico de artrite reumatóide, lesões músculo-esquléticas e
inflamações oftálmicas
Celecoxib
Rofecoxib
e Tratamento crônico da artrite, apresentando menos efeitos colaterais
sobre o trato gastro-intestinal
Fonte: Revista Pharmacia Brasileira, 2003.
Os AINE são também indicados para reduzir a dor de intensidade leve a
moderada,incluindo a da dismenorréia primária e a da enxaqueca e a febre. Alguns
27
AINE inibem o trabalho de parto prematuro, sendo considerados agentes tocolíticos.
A antiadesividade plaquetária evidenciadas por aspirina e outros AINE são
empregados na prevenção primária e secundária dos acidentes tromboembólicos
(Fuchs & Wannmacher, 1998). A tabela 2 discrimina os principais usos terapêuticos
de alguns AINE.
Por apresentar eficácia similar, a escolha terapêutica de um AINE deve
basear-se em certos critérios: toxicidade relativa, conveniência
para o
paciente ,
custo e experiência de emprego, ressaltando que apesar de eficazes no alívio da
dor, não interferem na história natural das doenças inflamatórias
Wannmacher, 1998).
.
(Fuchs &
28
3. OBJETIVOS
3.1 Geral:
Analisar o consumo de antiinflamatórios não-esteróides (AINE) em uma
farmácia comunitária na cidade de Juazeiro do Norte-CE.
3.2 Específicos:
♦ Descrever o perfil sócio-econômico dos consumidores de AINE;
♦ Avaliar o consumo de AINE com e sem prescrição médica ou odontológica;
♦ Identificar os representantes mais consumidos desta classe farmacológica;
♦ Relacionar os AINE quanto ao motivo de uso mencionado pelos usuários, quanto
à via de administração;
♦ Avaliar a percepção dos consumidores a respeito das possíveis reações
adversas aos AINE.
29
4. METODOLOGIA
4.1 Tipo de estudo
Foi realizada uma pesquisa descritiva, transversal e quantitativa. Para
Trivinos (1987) a pesquisa descritiva tem como foco essencial descrever fatos e
fenômenos com a finalidade de conhecer uma determinada realidade.
4.2 Descrição da área de estudo
A pesquisa foi realizada em uma farmácia comunitária, este termo é
utilizado nos Estados Unidos em substituição a expressão farmácia comercial que é
inconveniente, porque a farmácia não é um balcão de negócios
mas um
estabelecimento de saúde (Zubioli,1997), situada no centro comercial em Juazeiro
do Norte-CE.
O município de Juazeiro do Norte-CE está localizado ao sul do estado,
distante 563 km de Fortaleza, sendo o segundo maior em número de habitantes do
Ceará. No setor saúde, dispõe de quatro hospitais privados, um hospital público
atendendo nas áreas de Pediatria, neonatologia, ginecologia e obstetrícia, uma
unidade de emergência pública, contando também com 48 equipes do Programa
Saúde da Família. Possui 49 farmácias para atender uma população de cerca de
250 mil habitantes, onde a maior parte se concentra na zona urbana.
Sustentada pelo turismo religioso, a população de Juazeiro do Norte é
bastante heterogênea, atraindo milhares de devotos que em dias festivos chega a
ter a sua população aumentada em até oito vezes.
A farmácia comunitária que foi campo da pesquisa possui um horário de
funcionamento das 7:00 hs às 22:00 hs diariamente, totalizando em média um fluxo
mensal de 9.000 clientes, com uma média de 300 clientes por dia.
30
Esta farmácia foi escolhida por estar localizada em um ponto privilegiado
da cidade, no início do centro comercial, próxima a diversas agências bancárias,
clínicas médicas e odontológicas, situando-se a poucos metros da principal praça da
cidade. Próxima a um terminal de transportes coletivos com linha para as cidades
vizinhas de Crato, Barbalha, Missão Velha e Caririaçu. Além dos pontos de apoio
para transportes que vêm dos municípios adjacentes como Exu, Mauriti, Milagres,
Cedro entre outros.
4.3 População e amostra
A população de estudo foi composta pelos clientes acima de 17 anos que
adquiriram medicamentos antiinflamatórios em uma farmácia comunitária de
Juazeiro do Norte-CE e concordaram em participar.
4.4 Instrumento
Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário
(Apêndice A), que está dividido em dois blocos, o primeiro trata dos dados pessoais
do entrevistado (sexo, idade e grau e instrução). No segundo bloco constam
perguntas sobre o medicamento como: qual o antiinflamatório que está sendo
adquirido no ato da entrevista, se é por prescrição médica ou não, o motivo do uso,
a via de administração, dados sobre outros antiinflamatórios normalmente
consumidos pelo entrevistado e informações sobre reações adversas aos
medicamentos.
4.5 Aspectos Éticos
O presente estudo teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte – FMJ (Anexo A) e seguiu as diretrizes
da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
31
Foi entregue a cada participante um Termo de Esclarecimento (Apêndice
B) onde constam os objetivos da pesquisa e informa sobre os direitos garantidos
pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), bem como o
telefone da pesquisadora para qualquer outro esclarecimento. Aqueles que
consentiram em participar assinaram o Termo de Consentimento (Apêndice C).
4.6 Procedimentos de coleta de dados
Esta pesquisa foi realizada no interior da farmácia comunitária, no horário
da manhã, de Segunda-feira a Sábado, com clientes maiores de 17 anos que
adquiriram algum AINE com ou sem prescrição médica ou odontológica e
concordaram em participar.
Os dados foram coletados pela pesquisadora que preenchia o
Questionário com as informações dos participantes.
A pesquisadora é a farmacêutica responsável técnica pela farmácia onde
foram coletados os dados, dessa forma, o requisito da Diretoria da rede de
estabelecimentos farmacêuticos para autorizar a realização da pesquisa foi o
compromisso de não interromper o fluxo normal da farmácia, nem constranger os
clientes. Esta autorização foi oficializada (Apêndice D).
Na fase de entrevistas enfrentou-se grande dificuldades pelo fato de
vários clientes se negarem em participar da pesquisa, e quando aceitavam, era
preciso concorrer com a pressa de muitos em retornar aos seus afazeres. Por esse
motivo só foi possível obter 80 questionários preenchidos.
Inicialmente ficou estabelecido que a coleta dos dados seria durante o
mês de maio de 2006, mas, como nesse período havia um número reduzido de
clientes que aceitaram participar, sentiu-se a necessidade de estender o prazo, que
foi interrompido devido às férias da pesquisadora e retomado durante todo o mês de
agosto de 2006.
32
4.7 Análise dos dados
Para análise dos dados recorreu-se à interpretação estatísticas utilizando
o Programa Excel (versão 2003). Respaldando as discussões na literatura científica.
Os resultados foram apresentados nas formas de gráficos e tabelas.
33
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Descrição dos Entrevistados
Após a aplicação de questionário a 80 clientes de uma farmácia
comunitária em Juazeiro do Norte-Ce, vimos que 90% era do sexo feminino e 10%
dos sexo masculino, como mostra o gráfico 1.
10%
90%
Feminino
Masculino
GRÁFICO 1 – Distribuição dos entrevistados quanto ao sexo. Juazeiro do Norte, 2006
O sexo feminino predomina na maioria dos estudos sobre consumo de
medicamentos, pois as mulheres, de acordo com a literatura, possuem maior
preocupação com a sua saúde e historicamente são responsáveis pelos cuidados de
saúde da sua família, além de procurar mais os serviços de saúde do que os
homens. Portanto, estão mais atentas à sintomatologia das doenças e costumam
procurar precocemente ajuda. As mulheres também são submetidas a uma maior
pressão da classe médica e da mídia em relação a problemas específicos de cada
fase da vida, como é o caso dos incômodos do período menstrual, da menopausa e
a sua sintomatologia associada.
Embora pudessem participar do estudo clientes acima de 17 anos, a
menor idade dos entrevistados foi 20 anos. Dessa forma, 15% dos entrevistados
34
encontra-se na faixa entre 20 e 39 anos, 30% entre 40 e 59 anos, 55% acima de 60
anos. O gráfico 2 demonstra os dados.
15%
55%
30%
Entre 20 e 39
Entre 40 e 59
Maiores de 60
GRÁFICO 2 – Distribuição dos entrevistados quanto à idade. Juazeiro do Norte, 2006
Entre os entrevistados, a faixa etária predominante foi acima de 60
anos, isso deve-se ao fato de que a partir dessa idade começam a surgir os
sintomas de doenças inflamatórias crônicas degenerativas, então, aumenta a
necessidade da utilização desse tipo de medicamento.
Estudo realizado por Arrais et al (2005) observou que o consumo de
medicamentos aumenta com a idade e que o mesmo é 1,4 vez maior entre as
pessoas de 50 anos ou mais anos em comparação com outras faixas etárias.
De acordo com NEVES (2004), o Brasil experimenta mudanças no perfil
epidemiológico com o envelhecimento. Deste modo, amplia-se a necessidade de uso
de medicamentos destinados ao tratamento das doenças crônico-degenerativas.
Com relação ao grau de instrução, verifica-se que 25% dos entrevistados
cursaram o Ensino Fundamental, 50% o Ensino Médio 21% Nível Superior e 4%
Analfabetos.
35
21%
4%
25%
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Nível Superior
Analfabeto
50%
GRÁFICO 3 – Distribuição quanto ao grau de escolaridade dos entrevistados.
Juazeiro do Norte, 2006
Chama atenção o alto nível de escolaridade em que os entrevistados se
autodeterminaram, com 21 % de nível superior e poucos analfabetos, este, porém,
não representa o nível de escolaridade no município.
Entretanto, de acordo com Bertolni et al (2004) a escolaridade não está
relacionada ao maior ou menor uso de medicamentos.
Franco et al.(1987) evidenciaram que de modo geral, um maior nível de
escolaridade está associado a um maior conhecimento e discernimento sobre o
processo saúde-doença, porém é a maior renda que propicia uma maior cobertura a
planos de saúde e acesso aos serviços de saúde, e consequentemente um maior
consumo de medicamentos .
Quanto à renda familiar, 10% dos entrevistados não quiseram revelar,
30% afirmaram ganhar entre 2 a 4 salários mínimos, 50% entre 5 e 10 salários
mínimos e 10% mais de 10 salários mínimos.
36
Não opinaram
10%
10%
Entre 2 a 4 salários
50%
30%
Entre 5 e 10
salários
Mais de 10 salários
GRÁFICO 4 – Distribuição quanto à renda familiar dos entrevistados
Juazeiro do Norte, 2006
A maioria dos entrevistados têm um poder aquisitivo alto em relação à
população dos brasileiros. Isso pode ser devido ao tipo de clientela da farmácia,
localizada no centro comercial da cidade. É provável que pessoas com poder
aquisitivo menor recorram a farmácias de bairro, alem de procurarem o SUS, para
ter aceso aos medicamentos.
Pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde CONASS (2003) evidenciou o poder aquisitivo das pessoas como fator determinante
para o uso de medicamentos, o que também foi verificado em outras pesquisas, pois
observou-se que pessoas com renda familiar mensal maior que 3 salários mínimos
consomem mais medicamentos que aqueles com renda familiar igual ou inferior a 3
salários mínimos.
Entretanto, sabe-se que grande parte da população brasileira não tem
condições financeiras para suprir suas necessidades de medicamentos, por isso é
importante que o governo garanta o acesso aos medicamentos essenciais à
população através do SUS.
Um outro problema é a questão do uso irracional de medicamentos.
37
Bertolni et al (2004) chamam a atenção para o fato de que o poder aquisitivo das
pessoas pode favorecer o uso de medicamentos sem considerar a real necessidade,
o que pode levar a graves conseqüências para a saúde das pessoas.
5.2 Sobre os antiinflamatórios não esteróides
Com relação ao consumo de AINE com e sem prescrição, foi considerado
o que o entrevistado respondeu. Nos casos em que o cliente afirmava que possuia
uma prescrição médica ou odontológica, mesmo sem apresenta-la, a sua resposta
era contabilizada. Dessa forma, (64) 80% dos entrevistados possuíam ou afirmaram
possuir uma prescrição, destas 59 era médica e 5 odontológica.
Por
outro
lado,
dos
20%
que
reconheciam
estar
consumindo
medicamento sem a prescrição de um profissional da saúde habilitado, 15%
disseram que o faziam por conta própria e 5% por indicação de um amigo.
20%
Com prescrição
Sem prescrição
80%
GRÁFICO 5: Percentual de entrevistados segundo ao uso de AINE com e sem
prescrição, Juazeiro do Norte, 2006
Estudos realizados na Europa e nos Estados Unidos estimam que entre
50% a 90% das doenças são inicialmente tratadas por automedicação, e somente
38
um terço da população com algum mal estar ou enfermidade consultam o médico
(SOBRAVIME, 2001).
A automedicação é conceituada como a prática de ingerir substâncias de
ação medicamentosa sem o aconselhamento e/ou acompanhamento de um
profissional de saúde qualificado (Paulo & Zanine).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) um certo nível de
automedicação é aceitável, desde que se realize de forma responsável. De acordo
com a OMS, esta prática apresenta aspectos positivos pela, conveniência para o
paciente e economia para o Estado por reduzir a procura pela assistência médica
em situações de menor gravidade. E aspectos negativos decorrente da inexperiência
do consumidor em usar por conta própria remédios, que podem levar ao
mascaramento de sintomas e à dificuldade em chegar ao diagnóstico correto,
agravando a situação e podendo levar até a morte.
O percentual de entrevistados que afirmaram estar fazendo uso de
automedicação é baixo, talvez pela metodologia empregada. É possível que se
fossem considerados as prescrições médicas e odontológicas apenas quando
apresentadas ao pesquisador, este resultado fosse diferente.
Tabela 3 – Freqüência dos AINE consumidos entre os entrevistados
Medicameto (nomes genéricos)
Diclofenaco
Lumiracoxib
Nimesulida
Etoricoxib
Celecoxib,
Fenilbutazona
Meloxican
Etodolaco
Cetoprofeno
Naproxeno
Ibuprofeno
Piroxicam
Tenoxicam
Total
Freqüência
24
13
11
08
04
04
04
03
02
02
02
02
01
80
39
A automedicação é provavelmente incentivada pelo bombardeio de
publicidade de medicamento e pela facilidade com que se compra estes produto nas
farmácias, mesmo os medicamentos de tarja vermelha, como os AINE, que pela lei
só poderiam ser vendidos com a apresentação da prescrição.
O AINE mais consumido, de acordo com a presente pesquisa, foi o
diclofenaco com 30%, seguido pelo lumiracoxib (Prexige) com 16,25%, a
nimesulida com 13,75%; o etoricoxibe (Arcoxia) com 10% e o celecoxibe
(Celebra) com 5%, meloxicam com 5%, fenilbutazona com 5%, etodolaco com
3,75%, ibuprofeno 2,5%, piroxicam com 2,5%, naproxeno com 2,5%, cetoprofeno
com 2,5% e tenoxicam com 1,25%.
Apesar do lançamento de novos medicamentos com mecanismos de ação
mais seletivos, foi observado que os entrevistados continuam consumindo bastante
o diclofenaco, o que tem o lado positivo de evitar reações adversas ainda
desconhecidas dos medicamentos recém lançados. Mas, por outro lado, é
preocupante em função do maior risco relativo para o desenvolvimento de
hemorragia gastrointestinal superior e perfuração.
Em segundo lugar no rol dos mais consumidos está o lumiracoxib
(Prexige), que encontra-se em primeiro lugar quando analisadas as prescrições
médicas. Trata-se de um medicamento novo, que encontrava-se em plena atividade
de divulgação na cidade pelos propagandistas do laboratório farmacêutico no
período de realização desta pesquisa, principalmente entre os médicos. Isso pode
ser um indicador do quanto as prescrição médica são influenciadas pelos
laboratórios farmacêuticos.
O diclofenaco também foi fármaco mais referido na pesquisa realizada por
Luz (2003) em uma população de funcionários de uma universidade do Rio de)
Janeiro, com cerca de 60% do total, seguido do ácido mefenâmico (11,4%),
piroxicam (6,1%) e nimesulida (5,7%).
Chama a atenção que 5% dos consumidores da substância fenilbutazona
adquiriram a mesma sem prescrição médica confirmando o desconhecimento em
40
relação aos seus efeitos tóxicos principalmente hematológicos (incluindo anemia
aplásica). Hoje em dia, é raramente utilizada, não sendo comercializada no mercado
da América do Norte e maior parte da Europa (Katzung,2003).
Tabela 4 – Sinais e sintomas que motivam o uso de AINE de acordo com os
participantes. Juazeiro do Norte, 2006.
Sinais e sintomas
Cefaléia
Cólica menstrual
Dor de dente ou relacionado a procedimento odontológico
Dor em membros
Dor nas articulações
Dor nas costas (coluna)
Dor no corpo todo
Dor relacionada a fratura ou trauma
Dor relacionada à amigdalite
Freq.
01
02
10
05
35
07
06
06
08
E possível que muitas pessoas utilizam um antiinflamatório como se
fossem analgésicos. De acordo com Fuchs & Wannmacher, ( 1998) é preciso
considerar que ao procurarem o tratamento com antinflamatórios as pessoas
buscam, em primeiro lugar, o alívio da dor, que é o sintoma inicial e principal queixa.
A propriedade analgésica dos antiinflamatórios é muitas vezes, tão eficaz
que estes acabam sendo usados em situações que poderiam ser resolvidas com
analgésicos não-opióides comum ou com tratamento não farmacológicos como
repouso, fisioterapia e outros.
Quanto a via de administração, 95% usam oralmente, 5% de forma
injetável, como destaca o gráfico 6.
41
5%
Oral
95%
Injetável
GRÁFICO 6: Distribuição dos AINE quanto à via de administração dos
AINE referidos pelos entrevistados. Juazeiro do Norte, 2006.
Em geral os AINE são utilizados por via oral por apresentarem uma
comodidade para o paciente. São administrados com os alimentos para diminuir a
irritação no estômago. Alguns AINE apresentam formas injetáveis, como o
diclofenaco e o meloxicam. A meia vida dos fármacos determina o intervalo entre as
doses.
Nos
Estados
Unidos
à
forma
injetável
do
diclofenaco
não
é
comercializada, devido ao elevado risco de causar lesões graves e mutilantes,
(Anacleto e Melo, 2000).Têm sido descritos na literatura casos de abcessos e
necrose tecidual após o uso de diclofenaco injetável.
A pergunta subsequente foi com relação se sentiu alguma reação com o
uso dos antiinflamatórios, a maioria disse que não, 70%; enquanto 30% afirmaram
que sim, como mostra o gráfico a seguir:
42
70%
30%
Sim
Não
Gráfico 7: Distribuição dos entrevistados quanto a percepção de RAM.
Juazeiro do Norte 2006
Não era objeto desta pesquisa saber exatamente quais reações adversas
eram sentidas, mas verificar a percepção dos consumidores a respeito das possíveis
reações adversas aos AINE. Até porque, para concluir se a reação foi ou não
provocada pelo medicamento em questão é preciso um estudo mais detalhado de
farmacologia e que inclui seguir algoritmos próprios da farmacovigilância.
Embora a literatura confirme que é bastante comum o desenvolvimento de
RAM com o uso de todos os AINE, somente 24 participantes desta pesquisa
afirmaram sentir algum desconforto. Isso pode ser explicado pelo fato de que as
RAM provocadas pelos AINE, em geral, são bastante leves e podem até mesmo não
serem percebidas ou associada ao uso do medicamento.
40% dos entrevistados afirmaram que foram alertados com relação aos
possíveis efeitos causados pelos antiinflamatórios, enquanto 50% falaram que não
receberam nenhum tipo de alerta, e ainda, 10% afirmaram buscar esta informação
com a leitura da bula do medicamento. Os dados se encontram no gráfico abaixo:
43
10%
40%
50%
Sim
Não
Ler a bula
Gráfico 8: Distribuição dos entrevistados quanto ao alerta da ocorrência de RAM.
Juazeiro do Norte,2006
Segundo Goodman & Gilman, (1996) muitos estudos sugerem que um
número muito grande de médicos não instrui o paciente adequadamente sobre a
maneira de tomar a medicação prescrita . Dose tomada errada, na hora errada ,
tratamento terapêutico incompleto, constituem alguns dos erros básicos que
poderiam ser solucionados se houvesse um diálogo melhor entre médico e paciente.
Soma-se a isso o despreparo de muitos balconistas que por não conhecerem a
farmacologia
dos medicamentos adquiridos deixam de esclarecer dúvidas dos
usuários.
Com relação à indicar os antiinflamatórios a alguém, o resultado da
entrevista nos mostrou que 60% afirmaram que sim, 40% disseram que não, como
mostra o gráfico 9.
44
40%
Sim
Não
60%
Gráfico 9: Percentual de entrevistados quanto a indicação de AINE à alguém.
Juazeiro do Norte, 2006
Percebe-se aqui uma contradição na respostas dos entrevistados, pois a
maioria refere usar medicamento com prescrição, no entanto, reconhece que indica
medicamentos a outras pessoas.
O brasileiro costuma se automedicar, e o mais agravante é a mania que
tem de medicar os outros, achando que não vai causar nenhum dano, no entanto, só
deve-se tomar o AINE com a prescrição médica. Somente um profissional habilitado
pode definir o tratamento a ser seguido. O uso incorreto pode atrasar o
reconhecimento de doenças e até agravá-las.
45
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados, o perfil das pessoas que mais consomem
AINE em uma farmácia comunitária de Juazeiro do Norte é composto por mulheres,
na faixa etária maior que 60 anos, com nível escolar e padrão de renda bons.
O perfil encontrado coincide com o que a literatura indica, provavelmente
pelo fato de que as mulheres, em geral, procuram cuidar mais da sua saúde e da
sua família, e por isso estão mais expostas ao uso de medicamentos. As pessoas
mais velhas tendem a fazer uso com mais freqüência de AINE devido ao surgimento
de doenças inflamatórias crônicas comuns com a idade.
A prescrição médica ou odontológica é a principal responsável pelo
consumo de AINE na população estudada, entretanto a maioria dos entrevistados
afirmaram que indicam este tipo de medicamento para outras pessoas.
Esperava-se que o uso de AINE sem prescrição fosse mais freqüente,
devido às pesquisas apontarem para uma cultura da automedicação no Brasil. No
entanto, pela metodologia empregada, os resultados mostraram o contrário. Mesmo
assim o hábito da automedicação é confirmado quando as pessoas assumem que
recomendam AINE a seus pares.
Os AINE mais consumidos foram o diclofenaco, o lumiracoxib e a
nimesulida, por via oral. Dores nas articulações foram o motivo de uso mais relatado.
A maioria dos entrevistados negam sentir reações adversas com o uso de AINE.
É importante considerar que muitas vezes os AINE são usados em
situações que poderiam ser resolvidas com o emprego de analgésicos comuns ou
através de tratamento não farmacológico.
Os resultados deste estudo levam a uma reflexão sobre o papel do
farmacêutico e sobre a responsabilidade deste profissional na promoção do uso
adequado dos medicamentos. Através de informações claras e da dispensação
46
correta é possível que os tratamentos com medicamentos sejam efetuados de forma
mais racional, eficaz e segura. Reforçando, assim, a função da farmácia comunitária
como uma unidade de saúde e não apenas como um estabelecimento comercial.
47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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50
APÊNDICE
51
APÊNDICE A
QUESTIONÁRIO APLICADO AOS CLIENTES DE UMA FARMÁCIA NA CIDADE
DE JUAZEIRO DO NORTE-CE
I - Dados Pessoais
Nome: ______________________________________________________
1) Sexo: ________________
2) Idade: ______________
3) Grau de instrução:
4) Renda familiar:
Até 1 Salário Mínimo
De 5 a 10 Salário Mínimo
De 2 a 4 Salários Mínimos
Mais de 10 Salário Mínimo
II – Dados sobre os antiinflamatórios:
5) Qual o AINE que você está comprando agora?
6) Têm prescrição médica ou odontológica?
7) Se não: Foi indicado por quem?
8) Qual o motivo do uso?
9) Qual a via de administração?
10) Você acha que melhora seu problema com o uso do AINE?
11) Alem deste, você costuma usar outros antiinflamatórios?
12) Você já sentiu alguma reação adversa ao medicamento (RAM)?
13) Alguém já orientou você sobre as possíveis reações adversas ao medicamento
(RAM) com o uso de AINE.
14) Você indica este medicamento a alguém?
52
APÊNDICE B
TERMO DE ESCLARECIMENTO
Estamos
desenvolvendo
a
pesquisa
CONSUMO
DE
ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO-ESTERÓIDES EM UMA FARMÁCIA COMUNITÁRIA –
JUAZEIRO DO NORTE-CE. Com a mesma pretendemos avaliar o consumo de
antiinflamatórios em uma farmácia comunitária. Assim, gostaríamos de contar com a
sua participação, permitindo que possamos entrevista-lo(a).
Esta pesquisa não traz risco à sua saúde, e você estará contribuindo para
esclarecer questões relacionadas ao consumo de antiinflamatórios, que são
amplamente utilizados em todo o mundo, mas com raras pesquisas sobre o assunto.
Informamos que você pode desistir de participar da mesma no momento
em que decidir, sem que isso lhe acarrete qualquer penalidade. E que serão
respeitados os direitos garantidos pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde (CNS), que incluem os seguintes requisitos:
1. Receber esclarecimento a qualquer dúvida acerca da pesquisa e do caráter de
minha participação;
2. Retirar meu consentimento a todo o momento da pesquisa, sem que isso ocorra
em penalidade de qualquer espécie;
3. Receber garantias de que não haverá divulgação de nomes ou qualquer outra
informação que ponha em risco a minha privacidade e o meu anonimato;
4. Acessar as informações sobre os resultados do estudo.
Se necessário, pode entrar em contato com a coordenadora da pesquisa
Hânia Maria de Menezes Santana, fone (88) 3566-4005.
_____________________________________
Assinatura do Coordenador da Pesquisa
53
APÊNDICE C
TERMO DE CONSENTIMENTO
Tendo sido informado(a) sobre a pesquisa CONSUMO DE ANTIINFLAMATÓRIOS
NÃO-ESTERÓIDES EM UMA FARMÁCIA COMUNITÁRIA – JUAZEIRO DO
NORTE-CE, concordo em participar da mesma.
Nome: ___________________________________________________________
Assinatura: _______________________________________________________
Juazeiro do Norte, _____ de _____________ de 2006
54
APÊNDICE D
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
55
ANEXO
56
ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA
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