os mercados de câmbios

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MERCADOS CAMBIAIS E TAXAS DE CÂMBIO
As transacções internacionais, ao contrário das transacções domésticas, envolvem
mais do que uma moeda. Por isso vamos estudar as taxas de câmbio e os preços.
AS TAXAS DE CÂMBIO E OS PREÇOS
O QUE NOS DIZEM OS PREÇOS?
Os preços ajudam a os indivíduos e as empresas a decidirem o que consumir, produzir e
trocar. São os preços relativos que nos dão essa informação sobre os custos de
oportunidade dos vários bens. Nas transacções diárias raramente observamos os preços
relativos directamente. Não é habitual entrarmos numa loja e vermos os preços de um
quilo de maçãs anunciado em termos de dois quilos de bananas, ou de vermos uma
etiqueta a dizer que o preço de um carro são cinco computadores pessoais. Em vez disso
usamos os preços monetários: eles dizem-nos quantas unidades de moedas (dólares nos
USA, yens no Japão, bahts na Tailândia, pesos no México, ou yuans na China), temos
de pagar para comprarmos maçãs, bananas, carros, ou computadores pessoais. Se os
indivíduos e as firmas desejam tomar decisões económicas diárias de acordo com o
princípio das vantagens comparativas, os preços monetários devem reflectir os preços
relativos, ou custos de oportunidade.
Suponha que o bem X se vende nos USA a $10 por unidade e o bem Y a $5 por
unidade. O rácio destes dois preços monetários (Px/Py = $10/$5 = 2 unidades de Y por
cada unidade de X) dá o custo de oportunidade, ou preço relativo, do bem X. Ou seja,
para obtermos uma unidade do bem X devemos ceder duas unidades do bem Y. Do
mesmo modo, (PY/PX = $5/$10 = 0.5 unidades de X por cada unidade de Y), dá o custo
de oportunidade, ou preço relativo, do bem Y. Ou seja, para obtermos uma unidade do
bem Y, devemos ceder meia unidade do bem X. O preço relativo de um bem é por
vezes chamado de preço real. Isto significa que o preço é medido em termos reais (em
termos de outros bens) e não em termos monetários, ou nominais, tais como dólares, ou
yens. Dada a estreita relação entre preços reais e preços nominais, as pessoas usam os
preços nominais.
Notemos que os preços monetários podem mudar e os preços relativos permanecerem
intactos, desde que os preços nominais mudem proporcionalmente. Se os preços
monetários dos bens X e Y duplicarem, passando a P’x=$20 e P’Y=$10, os preços
relativos de X e Y mantém-se, ou seja, o preço de X continua a ser 2 unidades de Y
(P’x/P’y = $20/$10 = 2), ou, o que é o mesmo, o preço de Y continua a ser 0.5 unidades
de X (P’Y/P’X = $10/$20 = 0.5).
COMPARAÇÃO DE PREÇOS EM MOEDAS DISTINTAS
Como é que podemos comparar os preços em moedas diferentes? Como podemos
comparar os preços de um bem que se vende por $10 nos USA (PUS=$10) e por £5 no
Reino Unido (RU), ou seja, PRU=£5? Para isso, temos de conhecer a taxa de câmbio
entre a libra e o dólar. Definimos a taxa de câmbio1 (e) como o número de unidades de
1
Esta taxa de câmbio, e, é denominada de taxa de câmbio ao incerto do dólar. A taxa de câmbio ao certo
do dólar seria dada por 1/e.
1/22
moeda doméstica, necessárias para comprarmos uma unidade de moeda
estrangeira – no nosso exemplo o número de dólares necessários para comprarmos £1.
Podemos escrever a taxa de câmbio sob a forma de rácio, ou seja, e=$/£; por exemplo,
se a taxa de câmbio for 2, então é porque necessitamos de $2 para comprarmos £1
(e=$2/£1).
A taxa de câmbio também se pode exprimir como o número de unidade de moeda
estrangeira que são necessárias para comprarmos uma unidade de moeda
doméstica2, ou e’=£/$. Claro que e’ é apenas 1/e. Ambas as definições são usadas. No
entanto, para evitarmos confusão, notemos que comprar £1 com $2 (e = $2/£1) é
diferente do que comprar £2 com $1 (e’=£2/$1 1/e). O que é igual é comprar £1
com $2 (e=$2/£1), ou comprar $1 com £0.5 (e’=1/e=£0.5/$1=£1/$2).
Neste livro, vamos, em princípio, definir a taxa de câmbio como o preço da moeda
estrangeira em termos de moeda doméstica. No nosso exemplo, em que a moeda
estrangeira são as libras (£) e a moeda doméstica os dólares ($), a taxa de câmbio é
dada por e=$/£.
Suponhamos que os USA e o RU ambos produzem um bem idêntico. Aos preços,
PUS=$10 e PRU=£5 e à taxa de câmbio e=$2/£1, os indivíduos ficariam indiferentes
entre comprar o bem dos USA, ou o bem do RU, ignorando os custos de transporte.
Um Americano para obter £5, necessários para comprar o bem do RU, teria de pagar
$10, ou seja, $2 por cada £1; isto torna idêntico o preço em dólares de ambos os bens.
Do mesmo modo, um Inglês, teria de pagar £5 para adquirir os $10 necessários para
comprar o bem americano, ou seja, (£0.5/$1)* $10 =£5, ou, (1/e) *PUS= PUS/e.
Se e>2 e PUS=$10 e PRU=£5, os indivíduos de ambos os países teriam um incentivo
para comprarem o bem americano, pois como cada libra custa mais em termos de
dólares, eleva-se o preço do bem em libras quando convertido (expresso) em
dólares; se e<2 passariam a ter um incentivo para comprarem o bem do RU.
Consideremos, agora, a compra de bens que são produzidos apenas num país como, por
exemplo, compra de bilhetes em dólares para a Super Liga, espectáculo realizado
apenas nos USA, e compra de bilhetes em libras para o torneio de ténis em
Wimbledon, realizado apenas no RU. Admitamos, por simplicidade, que um bilhete
para a Super Liga custa $125 e um bilhete para Wimbledon custa £75. A taxa de câmbio
entre dólares e libras permite comparar estes preços.
Em 1992, a taxa de câmbio ao incerto entre o dólar e a libra era de e=$1.77/£. Do ponto
de vista de um Americano, um bilhete para a Super Liga custava $125, enquanto que
um bilhete para Wimbledon custava = [($1.77/£) * £75] = $132.75. Assim, o preço
relativo para um americano dos dois eventos desportivos era igual a
$125/$132.75=0.94. Um residente do RU compararia os preços em libras. Assim, para
um britânico, o preço em libras do bilhete para a Super Liga seria dado pelo preço do
bilhete em dólares dividido pelo preço em dólares de uma libra, ou seja, PUS/e = PUS *
(1/e). Ou seja, o preço seria $125/[$1.77/£.] = $125 * £/$1.77 = $125* 0.56£/$1 = £70.
Assim, o preço relativo para um britânico seria £70/£75=0.94 – o mesmo resultado.
Sob o ponto de vista de qualquer nacionalidade a taxa de câmbio em 1992 tornou a
Super Liga mais barata do que Wimbledon, porque as libras necessárias para
comprar um bilhete para Wimbledon eram menos do que os dólares necessários
para comprar um bilhete para a Super Liga (£70<$132.75).
Mas, em 1998, o preço em dólares de uma libra caiu de $1.77/£ para $1.65/£. Na
perspectiva Americana, a mudança na taxa de câmbio elevou o preço relativo da
Super Liga em relação a Wimbledon, pois 75*(1.65/£1) = 123.75  125/123.75 =
2
Taxa de câmbio ao certo do dólar.
2/22
1,01 (ou, de modo mais directo para $125/[$1.65/£]*£75 = $125/$123.75 = 1.01). Do
mesmo modo, para um residente do Reino Unido, um bilhete para a Super Liga
custaria agora $125/($1.65/£) = $125 * (0.606£/$) = £75.75, enquanto que um bilhete
para Wimbledon custaria £75. Assim, o preço relativo de um bilhete para a Super Liga
seria £75.75/£75=1.01.
A queda no preço em dólares de 1 libra, entre 1992 e 1998, fez subir o preço dos
bilhetes da Super Liga em relação aos preços de Wimbledon, de ambos os pontos
de vista, Americano e do Reino Unido.
Estes exemplos ilustram que uma mudança na taxa de câmbio, mantendo-se tudo o
mais constante, muda os preços estrangeiros em relação aos preços domésticos.
Quando o preço em dólares de uma libra cai (uma queda em e), os bens do RU ficam
mais baratos em relação aos bens dos USA. Se o preço em dólares de uma libra se eleva
(uma subida em e), os bens do RU ficam mais caros em relação aos bens dos USA. Por
isso, os consumidores, as firmas e os governos preocupam-se com a taxa de câmbio.
Mudanças nas taxa de câmbio podem alterar os preços relativos dos bens
domésticos e estrangeiros, afastando a procura dos bens que se tornam mais caros
para os bens mais baratos.
Como as taxas de câmbio mudam, necessitamos de uma teoria que explique essas
mudanças. Por isso, passamos a analisar os mercados de câmbios.
OS MERCADOS DE CÂMBIOS
Os mercados de câmbios são os locais onde se trocam as diferentes moedas. Com tantas
moedas diferentes existem milhares de taxas de câmbio, pois cada moeda tem um preço
em relação a outra.
Os principais participantes nos mercados cambiais são os bancos.
Notemos que vender dólares e comprar libras significa usar fundos de um depósito
bancário em dólares para abrir ou, aumentar os fundos em libras de outra conta
bancária.
TIPOS DE TRANSACÇÕES NOS MERCADOS CAMBIAIS
Vejamos a razão pela qual se compram e vendem depósitos em várias moedas? A
resposta básica é a de que um banco, uma firma, ou um indivíduo tem de escolher a
melhor maneira de aplicar a sua riqueza entre vários activos. Um activo é algo que
possui valor, como, por exemplo, uma casa, um terreno, um diamante, um depósito
bancário, uma acção da Microsoft, ou um título de tesouro norte-americano. Uma
carteira de activos é um conjunto de activos detidos por um indivíduo, ou por uma
firma. Uma escolha de carteira (gestão de carteira) é a decisão de repartir a riqueza
por vários tipos de activos, alguns dos quais podem produzir satisfação através do
seu consumo (por exemplo, casas, compactos disco, bilhetes para espectáculos) e
outros dos quais dão origem a rendimentos (por exemplo, o juro de depósitos
bancários, ou os ganhos de capital das acções). Vamos admitir que o indivíduo, ou a
firma, já decidiram como repartir as sua riqueza entre esses dois tipos de activos e
vamo-nos concentrar na repartição que ocorre no âmbito do segundo tipo de
activos (os que dão rendimento). Em particular, vamos examinar o que é que
determina a procura por depósitos bancários em várias moedas, pois ela é que
determinar, por sua vez, a taxa de câmbio (quando a oferta de depósitos é fixa).
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A primeira determinante na detenção de qualquer tipo de activo é a sua taxa de
retorno esperada, ou seja, a alteração esperada no seu valor futuro expressa em
relação ao seu preço de compra. Qualquer maximizador da riqueza adiciona às suas
carteiras os activos cujo valor se elevará no futuro e abandonará aqueles cujo valor
descerá. Mas como não se sabe ao certo qual a situação que ocorrerá, a gestão de
carteira implica a recolha de informação sobre os vários activos e a formação de
expectativas sobre as suas futuras taxas de retorno.
A maximização da taxa de retorno de uma carteira de activos pode conduzir a
quatro tipos de transacções distintas nos mercados cambiais. Vamos começar por
analisar essas quatro opções, no contexto de um mercado de câmbios à vista, ou seja,
um mercado em que os participantes trocam moedas com entrega imediata, mais
precisamente, dentro de um prazo de dois dias úteis.
1º TIPO DE TRANSACÇÃO - COMPENSAÇÂO (CLEARING)
Suponhamos que uma firma nos USA decide comprar um título (acção) de uma firma
do RU. A firma dos USA entra no mercado de câmbios à vista para comprar libras,
moeda em que a firma do RU deseja ser paga pelo título que emitiu. O pagamento
acontece quando a firma dos USA dá uma instrução ao seu banco para debitar a sua
conta em dólares e creditar a conta em libras da firma estrangeira. Este tipo de
operação no mercado cambial é denominado compensação (clearing). A firma dos USA
compra moeda estrangeira (depósitos bancários em libras), em troca de moeda
doméstica (depósitos bancários em dólares). Na realidade, a localização da transacção
pouco importa, pois os mercado estão ligados por um processo de arbitragem. Isto
significa que a taxa à qual os depósitos em dólares se trocam por depósitos em
libras, será aproximadamente a mesma quer o comprador do título faça a
transacção cambial nos USA, quer o vendedor do título a faça no RU.
2º TIPO DE TRANSACÇÃO - ARBITRAGEM
A arbitragem refere-se ao processo pelo qual os bancos, ou indivíduos, procuram
obter um lucro aproveitando-se da discrepância entre os preços que vigoram em
simultâneo em vários mercados. Por exemplo, imaginemos uma situação hipotética,
segundo a qual em New York (NY) a taxa de câmbio é dada por eNY= $2/£1, enquanto
que em Londres ela corresponde a eL= $2.2/£1 e que dispomos de $100 para arbitrar no
mercado cambial. Nesse caso, podemos usar o depósito de $100 para comprar um
depósito de £50 - ($100/($2/£1)) - em New York e, depois, usar o depósito de £50 (£50
* $2.2/£1), para comprarmos um depósito de $110 em Londres. Assim ficaríamos com
um lucro de $10, o equivalente a uma taxa de retorno de 10% ($10/$100=10%),
ignorando os custos de transacção, que são praticamente nulos nos mercados cambiais,
onde a transacções são processadas electronicamente em grandes quantias. Claro que
não seriamos os únicos a fazê-lo. A transacção não só se revela lucrativa, como não
envolve riscos, pois as transacções em New York e em Londres são feitas em
simultâneo. Mas, se todos procurarmos fazer a mesma acção lucrativa, aumentamos a
procura de depósitos em libras em New York (onde vendemos $ em troca de £) e
aumentamos a procura de depósitos em dólares em Londres (onde compramos $ em
troca de £). Isto faz com que eNY se eleve e com que eL, baixe. Esta arbitragem
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continua a ser lucrativa até que as duas taxas de câmbio (eNY e el) se tornem iguais, a
um valor que fica situado entre $2 e $2.2 por libra.
A arbitragem garante que os dólares e as libras sejam trocados à mesma taxa de
câmbio tanto em New York, como em Londres e que as taxas de câmbio entre as
moedas sejam consistentes. Suponhamos que a taxa de câmbios nos permitia comprar
4 marcos (DM) por um dólar ($1/DM4); 1 libra por 8 DM; e, 3 dólares por 1 libra.
Trata-se de uma situação inconsistente, que desapareceria na presença de arbitragem.
Assim, suponhamos que temos, de novo, $100 para arbitrar. Podemos comprar um
depósito de DM400 - ($100 / ($1/DM4) = $100 * DM4/$1 = DM 400) - usar os marcos
para comprar um depósito de £50 – (DM 400 / (DM8/£1) = DM 400 * (£1/DM8) = £50
- e voltar a usar as £50 para comprar $150 – £50 * ($3/£1) = $150) - uma taxa de
retorno de 50% - ($150-$100)/$100 = 0.5 - obtida sem qualquer esforço. Claro que o
exemplo exagera as diferenças de taxas de câmbio e para além disso não seriamos os
únicos a aproveitar da arbitragem. Os nosso esforços, em simultâneo com os dos
outros, tenderiam a elevar o preço em dólares dos marcos, o preço em marcos das
libras, e o peço em libra do dólar. Assim, eliminar-se-ia a oportunidade de uma
arbitragem lucrativa e terminaria a inconsistência entre as taxas de câmbio. Dada a
possibilidade de uma arbitragem triangular (envolvendo três moedas), podemos esperar
que $/£=$/DM x DM/£ (porquê?).
Até um período recente, as taxas de câmbio directas entre várias moedas não eram
publicadas. A maioria das transacções cambiais desenvolviam-se em dois passos, com o
dólar a servir de intermediário. Quem desejasse trocar depósitos em marcos por
depósitos em yens trocava os marcos por dólares e, depois, dólares por yens. Contudo,
com a liberalização das trocas mundiais começaram a generalizar-se as transacções
directas entre moedas.
No caso de muitas moedas em que não existem publicadas taxas de câmbio directas, a
melhor aproximação é a taxa que seria consistente. O grau de consistência de uma
moeda depende do grau de arbitragem permitida. Se o governo impõe restrições sobre
as compras e vendas de moedas, as taxas de inconsistência podem subsistir.
3º TIPO DE TRANSACÇÃO - COBERTURA DO RISCO (HEDGING)
Uma outra razão para justificar as transacções cambiais é denominada cobertura do
risco (hedging). A cobertura do risco é um modo de transferirmos parte do risco
cambial, de todas as transacções não instantâneas que envolvem duas moedas, tais
como as transacções típicas do comércio internacional. Por exemplo, suponhamos que
somos importadores dos USA e que acabamos de comprar £1000 de bens a um
exportador do RU. O pagamento será feito em libras e dentro de 30 dias. Existem duas
alternativas: (1) ou entramos agora no mercado cambial à taxa de câmbio à vista (spot)
actual, comprando um depósito de £1000 e ganhamos o juro até à data do pagamento;
ou (2) podemos reter os $1000 em depósito a render juro até daqui a 30 dias e nessa
data entramos no mercado cambial, comprando um depósito de £1000 à taxa de câmbio
à vista que vigorar na altura. Por outra palavras, podemos escolher entre deter um
depósito em libras, ou um depósito em dólares, durante os próximos 30 dias.
Se escolhermos a primeira alternativa e comprarmos libras agora, estamos a fazer
cobertura do risco para evitarmos o risco de que o preço em dólares das libras suba
durante o período de 30 dias. Se escolhermos a alternativa 2, estamos com uma
carência temporária (short position –posição deficitária) em libras – isto é, estamos
carenciado de libras de que necessitaremos dentro de 30 dias. A opção 1 (comprar agora
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as libras), permite evitar essa carência e o risco cambial que lhe está associado. Quando
tivermos adquirido as libras, já não seremos afectados por mudanças nas taxas de
câmbio. Nesse caso detemos um equilíbrio (folga) em libras, ou seja, detemos as libras
necessárias para fazer face ao pagamento futuro em libras.
Entrar no mercado cambial para cobertura do risco é um modo de evitar os riscos
cambiais; a cobertura do risco (hedging) isola a nossa riqueza dos efeitos negativos de
mudanças adversas nas taxas de câmbio. Mas, se praticamos cobertura do risco e
compramos libras agora, então pode acontecer que se venha a verificar que na altura
do pagamento o valor do dólar tenha caído em relação á libra, ou seja, que
tenhamos de pagar menos dólares por uma libra. Nesse caso, teria sido possível
compramos as libras na altura do pagamento, por menos dólares do que pagamos há 30
dias atrás. Apesar da estratégia de cobertura do risco ter permitido evitar a
possibilidade de que as libras se tornassem mais caras na data do pagamento, não
permitiu que nos aproveitássemos do facto de eventualmente o preço das libras ter
descido.
4º TIPO DE TRANSACÇÃO - ESPECULAÇÃO
A especulação é ainda outra razão para efectuarmos transacções no mercado cambial à
vista. Num sentido a especulação é exactamente o oposto da cobertura do risco. Ela
significa fazer depender a nossa riqueza de flutuações na taxa de câmbios: (1)
comprando um depósito em moeda estrangeira (ocupando uma posição longa), na
expectativa de que o preço daquela moeda venha a subir, permitindo vender o
depósito mais tarde com lucro, ou (2) prometendo vender um depósito em moeda
estrangeira no futuro (ocupando uma posição curta), na expectativa de que o preço
dessa moeda venha a cair, permitindo comprar a moeda a um preço baixo e vendê-la
com lucro. Quando especulamos as mudanças na taxa de cambio afectam a nossa
riqueza. Os movimentos das taxas de cambio na direcção esperada proporcionam
aumentos de riqueza, enquanto que na direcção oposta à antecipada reduzem a
riqueza. A divisória entre a cobertura do risco (hedging) e a especulação é pouco nítida.
Contudo, o termo especulação aplica-se quando alguém compra (vende) um depósito
numa moeda estrangeira apenas porque espera que o preço da moeda suba (ou desça),
sem ligação ao financiamento de qualquer outra transacção, como sucede com a
cobertura do risco (hedging).
COMPRA DE MOEDA ESTRANGEIRA NO PRESENTE PARA TROCAR NO
FUTURO
A maioria dos mercados cambiais são mercados de câmbios a prazo (forward).
Nestes mercados os participantes assinam contratos em que as trocas cambiais se
efectuarão em determinada data no futuro (habitualmente 30, 90 ou 180 dias). O
importante é que a taxa de câmbio da operação futura (taxa a prazo) é acordada no
presente. A taxa de câmbio futura a 30 dias, de dólares por libras, é simplesmente o
preço em dólares de um contracto no momento presente, em troca de um pagamento
em libras efectuado dentro de 30 dias. A diferença percentual entre a taxa de
câmbio a prazo, por exemplo, a 30 dias, (ef) e a taxa câmbio à vista, e, é chamada de
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prémio futuro se for positiva (ef > e) e, desconto futuro, se for negativa3. Se uma
libra se vender em relação ao dólar com um prémio futuro de 10%, o preço em dólares
de um depósito em libras, a ser entregue dentro de 30 dias (ef), é 10% mais elevado do
que o preço em dólares de um depósito em libras, a ser entregue hoje, e. Isto é: ef = e
+0.1 x e. Se, pelo contrário, uma libra a ser entregue a 180 dias custa 5% a menos, do
que uma libra a ser entregue hoje, a libra vende-se com um desconto futuro de 5% em
relação ao dólar.
Como se pode ver, qualquer transacção internacional não instantânea, implica um
risco cambial para um dos contratantes, porque a taxa de câmbio à vista pode mudar
durante o período da transacção. A existência de mercados de câmbios a prazo permite
aos contratantes transferirem aqueles riscos.
Suponhamos o caso de uma firma americana que detém $1000. O que é que acontece
se ela espera que o dólar se desvalorize em relação à libra (isto é, que o preço em
dólares de uma libra suba) nos próximos 30 dias4? A firma pode comprar um
depósito em libras agora, no mercado de câmbios à vista, detê-lo por 30 dias e vendêlo nessa data, no mercado de câmbios à vista, em troca por dólares; ou,
alternativamente, pode comprar um depósito em libras agora, no mercado de
câmbios à vista, e comprar (também agora) um depósito em dólares daqui a 30
dias, no mercado de câmbios a prazo (30 dias), para “fixar” o preço a que é possível
obter dólares dentro de 30 dias5; ou, pode também, simplesmente deter dólares
durante todo o período.
A alternativa que maximizará a sua taxa de retorno esperada, depende: a) da taxa
de câmbio a prazo (ef), b) das taxas de juro de curto-prazo nos depósitos em ambas
as moedas (i$ e i£), c) da taxa de câmbio à vista que se espera que vigore dentro de
30 dias (ee); e d) da taxa de câmbio à vista (e).
Se escolhermos comprar libras agora, no mercado de câmbios à vista actual, e vendêlas, no mercado de câmbios à vista futuro, as taxas de câmbio à vista actuais e futuras,
bem como a taxa de juro dos depósitos em libras determinarão a taxa de retorno. Isto é
uma estratégia de risco, porque a taxa de câmbio a vista futura, (ef), não é
conhecida no momento presente. A escolha depende da atitude face ao risco e das
expectativas sobre a taxa de câmbios à vista esperada no futuro (ee)6.
Se decidirmos comprar libras agora no mercado de câmbios à vista (e) e, no futuro,
trocar por dólares no mercado de câmbios a prazo, à taxa (ef), a sua taxa de retorno
dependerá da taxa de câmbio à vista actual, (e), da taxa de câmbio a prazo, (ef), e da
taxa de juro, i£, aplicável ao depósito em libras que será detido durante 30 dias.
Se decidirmos deter um depósito em dólares, a sua taxa de retorno dependerá apenas da
taxa de juro aplicável aos depósitos em dólares, i$.
As decisões colectivas de muitos indivíduos, pesando as distintas alternativas, é que
determinarão a condição de equilíbrio entre a taxa de câmbio à vista actual (e), a taxa de
câmbio a prazo (ef), que vigora no futuro, as taxas de juro de curto-prazo que se aplicam
aos depósitos em ambas as moedas, (i$ e i£), e as expectativas dos indivíduos sobre o
valor da taxa de câmbio à vista esperada no futuro, (ee). Os esforços de todos os
Se ef sobe em relação a e  prémio futuro – melhor comprar depósitos em moeda estrangeira agora;
Se ef desce em relação a e  desconto futuro - melhor comprar depósitos em moeda estrangeira agora
4
Prémio (compra agora as libras).
5
Não só troca agora o depósito em dólares num depósito em libras à taxa e, como volta a acordar,
também agora, a taxa a que trocará esse depósito em libras, de novo num depósito em dólares, dentro
de 30 dias.
6
A taxa de câmbio à vista esperada no futuro, ee, é a taxa a prazo que, neste momento, as pessoas
acreditam, de acordo com as suas expectativas, que irá vigorar a prazo. Assim, se as suas expectativas
actuais forem correctas, então, ef = ee .
3
7/22
indivíduos na economia, para maximizarem as suas taxas de retorno esperadas das
suas carteiras de activos, resultam em duas condições – chamadas condições de
paridade de juro – que traduzem as relações entre as taxas de câmbio à vista e a
prazo e as taxas de juro de curto prazo nos depósitos detidos em ambas as moedas.
A PARIDADE DA TAXA DE JURO
A paridade da taxa de juro pode aplicar-se em dois casos distintos, nomeadamente:
a) a paridade da taxa de juro a descoberto, que se aplica a transacções cujos os
participantes não usam taxas de câmbio a prazo para transferirem os riscos
cambiais e b) a paridade da taxa de juro a coberto, que se refere a transacções em
que se usam as taxas de câmbio à vista. Vamos examinar ambos os casos.
A PARIDADE DA TAXA DE JURO A DESCOBERTO
Suponhamos que a taxa de juro a 30 dias sobre depósitos em dólares é de 1%, (i$=1%),
que a taxa de juro a 30 dias sobre depósitos em libras é de 1%, (i£=2%) e que a taxa de
câmbio à vista entre o dólar e a libra é dada por, e=$2/£. Se possuir $1000, deverá:
- comprar um depósito bancário de £500 - $1000 * (£0.5 / $1) = £500;
- ou, manter um depósito em dólares durante os próximos 30 dias?
Se decidir manter os seus $1000 num depósito em dólares a uma taxa de 1%, no final
dos 30 dias terá um depósito de $1010, ou seja, o equivalente a uma taxa de retorno de
1% - ($1010 - $1000)/ $1000 =0.1.
Se decidir usar os seus $1000 no mercado de câmbios à vista para compra um depósito
de £500 - $1000 * (£0.5/$1) =£500 - ele vencerá dentro de 30 dias, rendendo 2% de juro
em libras, ou seja, transformar-se-á em £510. Então, será possível trocar as £510 obtidas
em dólares à taxa de câmbio à vista que vier a vigorar dentro de 30 dias, (ee30). A taxa
de retorno no depósito em dólares dependerá da taxa de câmbio à vista que vigorar
dentro de 30 dias, (ee30). Por exemplo, se a taxa de câmbio à vista não mudar durante 30
dias, obter-se-á $1020 - £510 * ($2/£1) = $1020. Nesse caso, a taxa de retorno em
dólares será igual a 2% - (1020 – 1000/1000). A escolha de manter um depósito em
libras provou ser correcta.
Mas, se a taxa de câmbio à vista cair durante os 30 dias, para e=$1.50/£ o que
acontecerá? Nesse caso ao converter as £510 em dólares, obter-se-á apenas $765 - £510
* ($1.5/£1) = $765 - o que equivale a uma taxa de retorno negativa de –23%, que inclui
os 2% de juros ganhos no depósito em libras e a perda de 25% do depósito em libras,
por a libra se ter depreciado 25% em relação ao dólar, durante os 30 dias [$1.5/£1 $2/£1]/($2/£1) = -25%. Neste caso, seria preferível manter o depósito em dólares e
receber uma taxa de retorno de 1% em juros sobre o depósito em dólares.
Claro o incentivo para comprar o depósito em libras dependerá não só da comparação
das taxas de juro, mas, também, nas expectativas dos indivíduos sobre o comportamento
da taxa de câmbio à vista durante o período de vida do depósito. Não se pode saber
antecipadamente (antes de tomar a decisão de compra do depósito) o valor da taxa de
câmbio à vista no futuro. O indivíduo deve formar uma expectativa sobre a taxa de
câmbio à vista no futuro e basear a sua gestão de activos nessa expectativa,
denominada taxa de câmbio à vista esperada, (ee), ou seja, a taxa que as pessoas
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hoje esperam que prevalecerá no futuro7. Se a expectativa for correcta, o resultado da
decisão tomada será o correcto. Se, pelo contrário, a expectativa for errada, o resultado
da decisão tomada será prejudicial, embora o indivíduo tenha baseado a sua decisão na
melhor informação disponível na altura.
Quando todos os indivíduos na economia escolhem comprar depósitos em dólares e em
libras de modo a maximizarem a taxa de retorno esperada, o resultado é uma relação
entre as taxas de juro, a taxa de câmbio à vista actual, e as expectativas individuais
sobre o valor futuro dessa taxa. O valor esperado da taxa de retorno em dólares de um
depósito em dólares é apenas a taxa de juro, i$. O valor esperado da taxa de retorno em
dólares sobre um depósito em libras tem duas componentes: a) a taxa de juro no
depósito, i£, e a taxa esperada de mudança no valor da libra em relação ao dólar, [(eee)/e]. Os detentores de activos comprarão mais depósitos em libras se a taxa de
retorno dos depósitos em dólares for inferior à taxa de retorno dos depósitos em
libras. Algebricamente:
Primeiro Caso Geral
Se i$ < i£ + [(ee- e)/e]  deve-se comprar depósitos em libras
Exemplo Numérico
1.5% < 1% + [($2.02/£1-$2/£1)/($2/£1)]  1.5% < 1%+1% = 2%  1.5% < 2% 
dever-se-á comprar depósitos em libras
(12.1)
em que:
a)
b)
c)
d)
ee = $2.02/£1 (prémio futuro, pois ee subiu, em relação a e=$2/£1);
i$ = 1.5%;
i£ =1%;
[($2.02/£1-$2/£1)/($2/£1)] = 1%.
Assim, o valor esperado da taxa de retorno em dólares sobre os depósitos em libras
(=1%+1% = 2%), é superior ao da taxa de retorno sobre os depósitos em dólares
(=1.5%); e os detentores de activos escolherão comprar depósitos em libras para
ganharem uma maior taxa de retorno esperada.
Segundo Caso Geral
Os detentores de activos comprarão mais depósitos em dólares, se a taxa de retorno dos
depósitos em dólares for superior à taxa de retorno esperada dos depósitos em libras.
Algebricamente:
Se i$  i£ + [(ee- e)/e],  deve-se comprar depósitos em dólares.
7
De novo, ee representa o valor antecipado da taxa a prazo ef .
9/22
Exemplo Numérico
3%  1% + [($2.02/£1-$2/£1)/($2/£1)] = 2%  dever-se-á comprar depósitos em
dólares
(12.2)
Neste caso, a taxa de retorno (em dólares) sobre os depósitos em dólares (=3%), é
superior à taxa de retorno sobre os depósitos em libras (1% + 1% = 2%). O juro extra
ganho sobre os depósitos em dólares é suficientemente elevado para compensar a perda
cambial resultante de deter dólares (1%). Portanto, os gestores de carteira mudam os
seus depósitos de libras para dólares.
Não existirá nenhum incentivo a mudar de uma moeda para outra quando as taxas de
retorno esperadas, em dólares, nos dois tipos de depósitos forem iguais. Esta condição
de equilíbrio é conhecida por condição da paridade das taxas de juro a descoberto.
Ela verifica-se quando:
Terceiro Caso Geral
i$ = i£ + [(ee- e)/e],  condição de paridade das taxas de juro a descoberto, caso em
que não se compram, nem vendem depósitos em qualquer das moedas.
Exemplo Numérico
2% = 1% + [($2.02/£1-$2/£1)/($2/£1)] = 2%
(12.3)
A relação expressa na equação 12.3, é uma condição de equilíbrio, pois as taxas de
retorno esperadas sobre os dois tipos de depósitos não diferem e esperamos que os
detentores e gestores reajustem os seus activos em termos de depósitos nas duas
moedas. Quando a condição se verifica, os dois tipos de depósitos proporcionam as
mesmas taxas de retorno esperadas e esperamos um equilíbrio na repartição entre os
dois tipos de depósitos, sem tendência para mudanças.
Um modo alternativo de escrevermos a condição da paridade das taxas de juro a
descoberto é colocarmos o diferencial das taxas de juro, (i$ - i£), no primeiro
membro. Deste modo, o termo no membro da direita é a subida esperada (se for
positivo), ou diminuição (se for negativo) no valor da libra contra o dólar 8, expresso em
termos percentuais. Verifica-se a paridade das taxas de juro a descoberto quando i$ i£ = [(ee- e)/e], ou seja, quando a diferença nas taxas de juro dos depósitos nas duas
moedas é igual à diferença percentual entre a taxa de câmbio à vista corrente e a
taxa de câmbio à vista esperada no futuro, dessas mesmas moedas. Se o diferencial
de juros a favor dos depósitos (activos) em dólares for inferior ao esperado aumento no
valor da libra em relação ao dólar, ee (preço em dólares, da libra), i.e., se (i$ - i£)  [(eee)/e], então os detentores dos activos tem um incentivo para desfazerem-se dos
depósitos em dólares e comprarem depósitos em libras; se, pelo contrário, o diferencial
de taxas de juro a favor dos depósitos em dólares for superior o aumento esperado no
valor da libra em relação ao dólar (preço em dólares, da libra), i.e., se (i$ - i£)  [(eee)/e], então os detentores dos activos tem um incentivo para desfazerem-se dos
depósitos em libras e comprarem depósitos em dólares.
8
preço em dólares, das libras.
10/22
Como é que os ajustamentos da carteira de depósitos conduzem à condição de
equilíbrio da paridade das taxas de juro a descoberto? Suponhamos que se verifica
a equação 12.1. A taxa de juro dos depósitos em dólares excede a dos depósitos em
libras, (i$ - i£)0, mas num montante inferior ao que se espera que a libra se valorize em
relação ao dólar (ee suba, em relação a e  (i$ -i£) < [(ee- e)/e]), tornando-a mais cara
(são precisos mais dólares por cada libra, ou menos libras por dólar). Os detentores de
activos comprarão depósitos em libras, pois o ganho esperado devido à valorização da
libra, mais do que compensa a perda de juros em libras; por outras palavras, comprarão
depósitos em libras porque a taxa de retorno esperada sobre os depósitos em libras
excede a dos depósitos em dólares.
À medida em que muitos indivíduos tentam comprar depósitos em libras e poucos
desejam vendê-los, o preço dos depósitos em libras começa a subir em relação aos
depósitos em dólares. Ou seja, eleva-se a actual taxa de câmbio à vista do dólar, pois
procuram-se mais libras e menos dólares. Isto faz diminuir o membro direito da
equação 12.1, levando à condição da paridade das taxas de juro a descoberto
(equação 12.3).
As escolhas de activos apresentadas implicam um risco de câmbio. O retorno esperado
dos activos inclui o juro ganho e os ganhos ou perdas esperadas do valor da moeda
nacional (o dólar, no nosso caso). Os indivíduos e as entidades tomam decisões
baseadas nas suas expectativas sobre o valor futuro da taxa de câmbio à vista. Se as
expectativas provam ser incorrectas, podem resultar enormes perdas. Por isso muitos
bancos hesitam em efectuar grandes operações nos mercados cambiais.
A PARIDADE DA TAXA DE JURO A COBERTO
Efectuar uma transacção no mercado de câmbios a prazo ao mesmo tempo em que a
decisão de gestão de activos é tomada, pode cobrir o risco cambial. Um residente nos
USA que compra um depósito em libras no mercado cambial à vista poderia comprar
dólares (vendendo libras) em simultâneo, no mercado cambial a prazo (ou seja, poderia
fixar agora, a taxa de câmbio a que se efectuará a transação futura, ef), evitando o risco
do preço dos dólares se poder elevar durante a vida do depósito. Para um indivíduo que
use o mercado de câmbios a prazo com o fim de cobrir os riscos cambiais, a informação
relevante, para escolher entre um depósito em dólares ou em libras, continua a passar
por uma comparação entre as taxas de retorno nos dois depósitos. A taxa de retorno nos
depósitos em dólares é a taxa de juro i$. O retorno nos depósitos em libras consiste de
duas componentes: a taxa de juro, i£, e a taxa de câmbio a prazo, ef. Ou seja:
Primeiro Caso Geral
Se i$ < i£ + [(ef- e)/e]  deve-se comprar depósitos em libras
Exemplo Numérico
1.5% < 1% + [($2.02/£1-$2/£1)/($2/£1)] = 2%  dever-se-á comprar depósitos em
libras
(12.4)
11/22
Nesta situação, a taxa de retorno nos depósitos em libras excede a dos depósitos em
dólares; portanto, os detentores de activos mudam os seus activos para depósitos em
libras. Os depósitos em dólares rendem um juro mais alto, mas as libras vendem-se
a um prémio futuro9 (ou, o que é o mesmo, os dólares vendem-se a um desconto
futuro10). O prémio futuro ganho pelos detentores de libras durante os 30 dias, mais
do que compensam o juro perdido.
Do mesmo modo que uma taxa de juro mais alta nos depósitos em dólares não implica
que as pessoas mudem os seus activos para dólares, também uma mais alta taxa de juro
nos depósitos em libras não implica, necessariamente, uma mudança para activos em
libras. Na equação 12.5, a taxa de juro nos depósitos em dólares excede a dos depósitos
em libras.
Segundo Caso Geral
Se i$  i£ + [(ef- e)/e]  (i$ - i£) > [(ef- e)/e]  deve-se comprar depósitos em
dólares
Exemplo Numérico
1%  2% + [($1.50/£1-$2/£1)/($2/£1)] = -23%  dever-se-á comprar depósitos em
dólares
(12.5)
Em resumo, tanto o diferencial de juro, como o prémio futuro, ou o desconto
futuro, no mercado cambial devem ser tomados em consideração ao escolher entre
depósitos em moedas diferentes, com base nas suas taxas de retorno. Quando os
indivíduos tomam as suas decisões baseados nas regras das equações 12.4 e 12.5, a
condição de equilíbrio resultante é a condição de paridade da taxa de juro a
coberto. Esta condição é satisfeita quando as taxas de retorno nos depósitos em
libras e dólares são idênticas.
Terceiro Caso Geral
Se i$ = i£ + [(ef- e)/e]  (i$  i£) = [(ef- e)/e]  condição de paridade das taxas de
juro a coberto, caso em que não se compram, nem vendem depósitos em qualquer das
moedas.
Exemplo Numérico
2% = 1% + [($2.02/£1)-($2/£1)/($2/£1)] = 2%
(12.6)
Quando se verifica a condição de paridade da taxa de juro a coberto, as taxas de
retorno nos depósitos em dólares e libras são idênticas, pelo que não existe nenhum
9
São precisos mais dólares para comprar libras  e sobe.
São precisas menos libras para comprar dólares  1/e desce.
10
12/22
incentivo para alterar a composição dos activos. Portanto, os mercados cambiais estão
em equilíbrio.
Também podemos descrever a condição de paridade da taxa de juro a coberto, como
uma comparação entre o diferencial de juros e o prémio ou desconto futuros (a diferença
percentual entre as taxas de câmbio a prazo e à vista). Quando (i$ - i£) = [(ef- e)/e], as
taxas de retorno nos dois tipos de activos são idênticas e os mercados cambiais estão em
equilíbrio. Se (i$ - i£)  [(ef- e)/e], os detentores de activos mudam para depósitos em
dólares; e se (i$ - i£)  [(ef- e)/e], os detentores de activos mudam para depósitos em
libras.
O quadro 12.1 resume os resultados da condição de paridade da taxa de juro a
coberto. A taxa de câmbio à vista é influenciada por mudanças na taxa de juro
doméstica, na taxa de juro do estrangeiro, na taxa de câmbio à vista esperada e na
taxa de câmbio a prazo. Quando estas mudanças causam uma mudança de activos,
a favor de depósitos em moeda doméstica, a taxa de câmbio tende a cair. Quando
acontece algo que leve os detentores de activos a mudarem para depósitos em
moeda estrangeira, a taxa de câmbio à vista tende a elevar-se.
VERIFICA-SE A PARIDADE DA TAXA DE JURO?
A paridade da taxa de juro a coberto é uma das condições mais testadas em economia
internacional. A evidência empírica a favor da relação é muito forte, mas os resultados
são sensíveis à técnica de análise.
Mais em concreto a paridade da taxa de juro verifica-se com maior probabilidade
quando todos os depósitos usados no teste são emitidos num só país. Por exemplo, um
teste das condições de paridade das taxas de juro, usando certificados de depósitos em
dólares e em libras ambos emitidos por um banco de Zurique, revelam uma relação de
paridade mais estreita, do que um teste usando certificados de depósitos em dólares,
emitido por um banco de Nova Iorque e em libras, emitido por um banco em Londres.
Por isso é que quando discutimos as condições de paridade das taxas de juro falamos de
taxas de juro em depósitos em termos de moedas distintas ( i$ e i£) em vez de taxas de
juro em países distintos (iUSA e iRU).
Qual é a diferença? Um factor, para além da taxa de retorno esperada, que influencia as
decisões de gestão de carteira de activos, é o risco de que o país imponha restrições
sobre o movimento de capitais que atravessam as fronteiras nacionais. Uma elevada
taxa de retorno num depósito emitido por um banco de Londres teria pouca importância
para um americano se o RU impusesse controlos que impedissem o proprietário de
converter em dólares os retornos do depósito, transferindo-os de volta para os USA.
Quando comparamos um certificado de depósito em dólares, emitido por um banco de
Nova Iorque e um certificado de depósito em libras, emitido por um banco de Londres,
existem três elementos que se distinguem: a) a moeda, b) o banco, e c) o país. A
paridade da taxa de juro diz respeito ao elemento descrito na alínea a). Para a
maioria dos bancos nos países industrializados o elemento da alínea b) é de pouca
relevância, pois os incumprimentos dos bancos são raros e, quando ocorrem, os
depósitos são protegidos pelos seguros governamentais, como os que são fornecidos
pela Companhia Federal Norte Americana de Seguros de Depósitos. Mas, o factor
descrito na alínea c) pode interferir com a paridade da taxa de juro, sobretudo em
tempos de incerteza – quando os actores participantes nos mercados tenderiam a esperar
mudanças nas políticas governamentais.
13/22
Ao testar a paridade das taxas de juro usando depósitos emitidos por um mesmo país
mas em moedas distintas, o risco de restrições impostas pelo governo sobre os
movimentos de capitais torna-se idêntico nas várias moedas, permitindo um teste mais
objectivo. Os mercados cambiais offshore fornecem a oportunidade ideal para testar a
paridade das taxas de juro. Os depósitos offshore (ou eurodivisas) são depósitos em
moedas fora do seu país de emissão; por outras palavras um depósito em dólares
detido em qualquer país fora dos USA é um depósito em eurodólares,
independentemente de quem detém o depósito. A paridade das taxas de juro verificase tão fortemente entre os depósitos offshore detidos no mesmo país mas em moedas
distintas, que os negociantes usam a relação de paridade como uma maneira para
calcular as taxas de câmbio a prazo que eles oferecem.
PROCURA E OFERTA NO MERCADO CAMBIAL
Vamos desenvolver um modelo simples de procura e oferta de moeda estrangeira
(divisas) com base nas condições de paridade da taxa de juro. Veremos que o equilíbrio
no mercado de divisas e a paridade da taxa de juro são condições equivalentes. A
procura e a oferta de divisas são semelhantes à procura e oferta de outros activos. O
aspecto importante a reter é que a procura por uma moeda é realmente a procura por
depósitos bancários nessa moeda, não a procura por papel moeda. A curva da procura
por divisas mostra quantas unidades de moeda os indivíduos desejam deter a
várias taxas de câmbio. Por outras palavras, a curva da procura resume a relação
entre a quantidade procurada e o preço da moeda estrangeira, mantendo
constantes as restantes variáveis económicas que influenciam a quantidade
procurada. Do mesmo modo, a curva da oferta de moeda estrangeira mostra quantas
unidades de depósitos em divisas estão disponíveis para serem detidas pelos
indivíduos a várias taxas de câmbio.
O modelo de procura e oferta no mercado de divisas é um modelo de equilíbrio parcial
e, assim, ignora muitas das relações entre as variáveis. Apesar desta limitação o modelo
é um primeiro passo para entender a determinação das taxas de câmbio e o seu papel na
macroeconomia internacional. As relações entre as taxas de câmbio e o resto da
macroeconomia são objecto de outros capítulos.
As condições de paridade da taxa de juro sugerem que os indivíduos repartem os seus
activos entre depósitos em diferentes moedas comparando as taxas de retorno
esperadas, que dependem das taxas de juro, das taxas de câmbio à vista, das taxas
de câmbio à vista esperadas e das taxas de câmbio a prazo. Quando a paridade da
taxa de juro se verifica, as pessoas estão satisfeitas com a sua carteira de activos; não
existe incentivo para mudar os depósitos em moeda estrangeira, para outra moeda.
Portanto, o mercado cambial está em equilíbrio quando, dadas as taxas de juro
correntes, as taxas de câmbio à vista e a prazo, e as expectativas sobre as taxas de
câmbio, os indivíduos estão satisfeitos, ao deterem a quantidade oferecida de depósitos
em cada moeda. Por outras palavras, a paridade da taxa de juro e o equilíbrio no
mercado cambial são dois modos de analisar as mesmas relações.
A QUANTIDADE DE DIVISAS
A relação entre a quantidade procurada de divisas e a taxa de câmbio à vista
(expressa em termos do preço em moeda doméstica, de uma unidade de moeda
14/22
estrangeira) é negativa: quando aumenta a taxa de câmbio, a quantidade de divisas
procurada cai. É fácil de perceber a razão. À medida em que a taxa de câmbio à vista
se eleva, cada unidade de divisas torna-se mais cara em termos de moeda
doméstica. Dadas as taxas de juro actuais, as taxas de câmbio à vista esperadas no
futuro e taxas de câmbio a prazo, os depósitos em moeda estrangeira tornam-se
menos atractivos do que os depósitos em moeda doméstica, pois a taxa de retorno
esperado dos depósitos em divisas cai. Assim, os indivíduos escolhem deter menos
depósitos m moeda estrangeira nas suas carteiras. Por outro lado, uma queda na taxa de
câmbio torna os depósitos em moeda estrangeira mais atractivos, pois a sua taxa de
retorno esperada eleva-se, levando as pessoas a deterem mais depósitos em divisas nas
suas carteiras.
A curva com inclinação negativa da Fig. 12.5 ilustra a relação negativa entre a
quantidade procurada de divisas e a taxa de câmbio. Tal como acontece em outros
mercados, a taxa de câmbio é apenas uma das determinantes da quantidade procurada.
Cada curva de procura é desenhada para determinados valores da taxa de juro
doméstica (i$), da taxa de juro estrangeiro (i£), da taxa de câmbio à vista esperada (ee) e
da taxa de câmbio a prazo (ef). Uma mudança em qualquer destes valores faz com
que os indivíduos procurem uma quantidade diferente de depósitos em moeda
estrangeira a cada valor da taxa de câmbio à vista; isto é, causa uma deslocação da
curva da procura.
Se a taxa de juro doméstica se eleva, a curva da procura por moeda estrangeira
desloca-se para a esquerda. Quanto mais alta for a taxa de juro paga nos depósitos em
moeda doméstica, mais as pessoas mudam os seus depósitos em moeda estrangeira para
depósitos em moeda doméstica, cuja taxa de retorno subiu, a cada taxa de câmbio.
Uma queda na taxa de juro doméstica desloca a curva da procura por divisas para
a direita. Na fig. 12.5 o sinal negativo (-) sobre a taxa de juro doméstica (i$), representa
esta relação, ou seja, quando a taxa de juro doméstica muda, a curva da procura por
moeda estrangeira desloca-se na direcção oposta.
Uma elevação na taxa de juro dos depósitos em moeda estrangeira eleva a
quantidade de depósitos procurada a qualquer valor da taxa de câmbio; a curva da
procura desloca-se para a direita. Uma queda na taxa de juro dos depósitos em
moeda estrangeira, baixa a taxa de retorno nos depósitos em moeda estrangeira, e
desloca a curva da procura para a esquerda. O sinal mais (+)sobre a taxa de juro em
depósitos de moeda estrangeira i£, representa a relação positiva entre a taxa de juro
estrangeira e a quantidade procurada de depósitos em moeda estrangeira; uma mudança
em i£, desloca a curva da procura na mesma direcção.
Usando as equações 12.1 e 12.3, podemos ver que uma subida na taxa de câmbio à
vista esperada eleva a quantidade procurada de divisas. Essa mudança significa
que se espera uma elevação no preço em moeda doméstica (dólares) da moeda
estrangeira (libra); durante a mudança, as pessoas desejam deter libras (cujo valor
está a aumentar) e não dólares (que estão a perder valor). Portanto, na fig. 12.5, o
termo que representa a taxa de câmbio esperada tem o sinal mais (+); a procura
por libras desloca a curva da procura de divisas, na mesma direcção de mudanças
em ee.
Do mesmo modo, as equações 12.4 a 12.6 implicam que uma elevação na taxa de
câmbio a prazo eleva a quantidade procurada de divisas. Quando ef se eleva, a
reconversão em dólares dos retornos dos depósitos em libras dá origem a mais
dólares (libra depreciou-se e o dólar apreciou-se), pelo que a detenção de depósitos
em libras torna-se mais atractiva. O sinal mais (+) sobre ef , na fig. 12.5, implica que
15/22
quando a taxa de câmbio a prazo muda, a curva de procura por libras desloca-se na
mesma direcção.
O modelo de procura por divisas apresentado é um modelo de activos. Ele considera a
procura de activos como a procura unicamente de depósitos em moeda estrangeira. Pode
ser tentador perguntar “e o comércio internacional?”. Será que os Americanos não
procuram yens para comprarem Toyotas, enquanto que os Japoneses procuram dólares
para comprarem Boeings 777? A resposta é claramente afirmativa. A detenção de
depósitos em divisas para efectuar transacções, e não para renderem juros, é
chamada o motivo transacções, ou de liquidez. Mas, na economia mundial actual a
actividade financeira internacional diminuiu a importância desse comércio
internacional. Os especialistas estimam que menos de 5% das transacções em divisas
reflectem trocas de bens e serviços. Em 1988, as transacções cambiais representavam
1/3 do total de trocas mundiais de mercadorias durante todo o ano. Por outro lado, uma
transacção comercial internacional, como, por exemplo, a compra de um bem
importado, envolve uma decisão de gestão da carteira de activos, pois não se exige
habitualmente um pagamento imediato; o comprador tem de decidir que moeda
deter, enquanto não paga. Como as transacções financeiras não comerciais dominam
os mercados cambiais nos últimos anos, isto deve estar retractado nos modelos
económicos.
A OFERTA DE DIVISAS
Os indivíduos determinam a procura de depósitos em divisas, através dos seus
esforços para ganharem as taxas de retorno mais elevadas nas suas carteiras de activos,
como reflectem as condições de paridade da taxa de juro. Pelo contrário, as políticas
governamentais, em combinação com as decisões de empréstimos dos bancos,
determinam a oferta de depósitos em moeda estrangeira. Vamos explorar este
processo em mais detalhe mais tarde. De momento, basta dizermos que as transacções
privadas não podem nem criar, nem destruir depósitos em moeda estrangeira. Um
indivíduo apenas pode vender, ou comprar, um depósito a outro indivíduo, ou entidade.
Em qualquer dos casos o stock total de depósitos em moeda estrangeira permanece
inalterado; apenas mudou de dono.
Como o stock disponível de depósitos em moeda estrangeira num dado momento é fixo,
podemos representar a oferta de divisas, por uma recta vertical, S£, na fig. 12.6.
A curva de oferta é vertical porque a oferta de depósitos, existente em qualquer
momento não depende da taxa de câmbio.
Agora, podemos combinar as curvas da procura e oferta de divisas, para vermos
como se determina a taxa de câmbio.
Embora possamos desenhar as curvas da procura e da oferta para determinarmos as
taxas de câmbio, os governos escolhem se querem, ou não, deixar que a procura e a
oferta determinem o valor das taxas de câmbio das suas moedas domésticas. Em
cada país, os governos decidem que tipo de política desejam seguir em relação à taxa de
câmbio. Os economistas chamam a estas políticas, regimes de taxa de câmbio.
Existem quatro tipos de regime: 1) taxas de câmbio flexíveis ou flutuantes; 2) taxas
de câmbio fixas (pegged); 3) um misto de taxas de câmbio fixas e flexíveis; 4)
controlos de taxas de câmbio. Vamos discutir todos esses regimes nos capítulos
seguintes. Começamos pelo mais simples, o regime de taxas de câmbio flexíveis, ou
flutuantes.
16/22
DETERMINAÇÃO DAS TAXAS DE CÂMBIO NUM REGIME DE CÂMBIOS
FLEXÍVEIS
Desde os começos da década de 70 que muitos países adoptaram taxas de câmbio
flexíveis, ou flutuantes. Sob esse regime, a procura e a oferta de divisas no mercado
cambial determina a taxa de câmbio. O mercado de divisas é um mercado de
concorrência perfeita, pois participam milhões de indivíduos e muitas entidades, as
divisas são um bem homogéneo, existe informação quase perfeita, e a entrada e saída do
mercado são livres.
O mercado de divisas num regime de câmbios flexíveis funciona como o mercado de
qualquer outro bem. O preço (taxa de câmbio) move-se em direcção ao ponto em que
a quantidade procurada é igual à quantidade oferecida. No caso do mercado de
divisas o bem em questão é um activo, sob a forma de depósito bancário em moeda
estrangeira. A taxa de câmbio ajusta-se até que a quantidade de depósitos em moeda
estrangeira que os indivíduos desejam deter, venha a igualar a sua quantidade disponível
ou, de modo equivalente, até que as taxas de retorno nos depósitos em moeda
doméstica e estrangeira sejam iguais, ou, seja, até que se verifique a paridade das
taxas de juro.
A fig. 12.7 mostra a taxa de câmbio de equilíbrio entre o dólar e a libra, e3. Se a taxa de
câmbio se situasse acima do equilíbrio, os indivíduos desejariam deter menos
depósitos em moeda estrangeira (libras) dos que são oferecidos, havendo excesso
de moeda estrangeira (libras). Um excedente de divisas (libras) causaria uma
queda no seu preço em termos de moeda doméstica (dólares), à medida em que os
indivíduos começassem a trocar depósitos em moeda estrangeira (libras) por mais
depósitos em moeda doméstica (dólares) - fazendo baixar a taxa de câmbio, e, pois
a moeda doméstica (o dólar) apreciava-se em relação à moeda estrangeira (libra).
Se a taxa de câmbio se situar abaixo da taxa de equilíbrio, os indivíduos desejariam
deter mais do que a quantidade de depósitos que é oferecida em moeda estrangeira (
libras), havendo escassez de moeda estrangeira (libras). A escassez de divisas (libras)
causaria uma elevação no seu preço (fazendo elevar a taxa de câmbio, e, pois a
moeda estrangeira (libras) apreciava-se em relação à moeda doméstica (dólar) - ou
seja, a moeda doméstica (o dólar) depreciava-se em relação à moeda estrangeira (
libra), pelo que a taxa de câmbio, e, elevava-se, à medida em que as pessoas
começassem a trocar depósitos em dólares, por mais depósitos em libras. Apenas
em e3 é que a quantidade procurada de divisas é igual à quantidade oferecida, e,
portanto, o mercado está em equilíbrio. A essa taxa de câmbio (para dados valores de
i$, i£, ee e ef) é que os indivíduos estão satisfeitos em deterem exactamente S£ de
depósitos em moeda estrangeira (libras) nas suas carteiras e a paridade das taxas de juro
é satisfeita, pois as taxas de retorno nos depósitos em moeda doméstica (dólares) e em
moeda estrangeira (libras) são idênticas.
Sob um regime de taxas flexíveis, o mecanismo de preços iguala a quantidade total
procurada de cada moeda à sua quantidade oferecida; portanto, os mercados de
câmbios equilibram-se automaticamente. Em capítulos subsequentes exploraremos os
argumentos para o uso de um regime de câmbios flexíveis, bem como as implicações
desse regime em termos de políticas macro-económicas.
Quando a taxa de câmbio é flexível, uma elevação na taxa de câmbio determinada
pelo mercado, é denominada depreciação da moeda cujo preço caiu e uma
apreciação da moeda cujo preço subiu. Uma mudança na taxa de câmbio de e1 para
17/22
e2 , implica uma depreciação da moeda estrangeira (libra), ou o que é o mesmo, uma
apreciação da moeda doméstica (dólar). Um movimento de e2 para e3 implica uma
depreciação da moeda doméstica (dólar) e uma apreciação da moeda estrangeira
(libra). Notemos que na discussão da apreciação e depreciação temos de nos referir
sempre a uma moeda específica. Como uma mudança na taxa de câmbio implica
sempre a apreciação de uma moeda e a depreciação da outra, dizermos que “a taxa de
câmbio entre o yen e o franco se apreciou” é equivalente a nada dizermos. Temos
de dizer que, ou o yen se apreciou em relação ao franco (implicando que o franco se
depreciou em relação ao yen), ou o franco se apreciou em relação ao yen (implicando
que o yen se depreciou em relação ao franco).
Usando os instrumentos clássicos da análise da procura e da oferta, qualquer mudança
nas variáveis que aumentam a procura de moeda estrangeira (libras) causa uma
apreciação da moeda estrangeira (libra). Essas mudanças poderiam incluir uma
elevação em i£, uma queda em i$, uma elevação em ee, ou em ef, como indica a fig. 12.8.
Uma queda na procura de moeda estrangeira (libras) causa uma depreciação da
moeda estrangeira (libra). Isto pode ser o resultado de queda em i£, uma elevação em
i$, ou uma queda em ee, ou em ef, como indica a referida figura.
A DETERMINAÇÃO DA TAXA DE CÂMBIO NUM REGIME DE CÂMBIOS
FIXOS
As taxas de câmbio não tem sido sempre flexíveis ao longo da história económica. Na
verdade as taxas de câmbio flexíveis eram raras até o começo da década de 70.
Alternativamente, os bancos centrais da maioria dos países usavam taxas fixas, ou
fixavam-nas a outras taxas (moedas) indexando-as (pegging). Esse regime é
semelhante a fixarmos o preço de qualquer bem. A procura e a oferta de divisas ainda
existem, mas não determinam a taxa de câmbio, como no regime de taxas flexíveis.
Os bancos centrais (tais como o FED, o banco de Inglaterra, ou o banco do Japão)
devem estar prontos para absorverem qualquer excesso de procura, ou de oferta,
numa divisa, mantendo a taxa de câmbio fixa.
Suponhamos que o governo dos USA decide fixar a taxa de câmbio entre o dólar e a
libra em ep1, na fig. 12.9. Em ep1, a quantidade oferecida de libras excede a quantidade
procurada. O preço da libra mais elevado, torna os depósitos em dólares atraentes, em
relação aos depósitos em libras: a quantidade de libras procurada é, portanto, baixa. O
excedente de libras no mercado de divisas ao nível ep1 cria uma tendência para
uma queda da taxa de câmbio (isto é, a libra deprecia em relação ao dólar, sendo
necessários mais dólares por uma libra, ou, o que é o mesmo, o dólar aprecia em relação
à libra, ou seja, são necessários menos dólares por uma libra – a taxa de câmbio e
desce), à medida em que as pessoas tentam vender depósitos em libras, em troca por
mais depósitos em dólares.
Para manter a taxa de câmbio ao nível ep1, o governo americano deve intervir no
mercado e comprar o excedente de depósitos em libras. Isto chama-se uma política
de intervenção do governo no mercado cambial. As pessoas vendem depósitos em
libras, que já não desejam, ao banco central americano, em troca de depósitos em
dólares, a uma taxa de câmbio de ep1 por libra. A distância horizontal entre D£ e S£, ao
nível ep1, na fig. 12.9 representa o montante de intervenção necessário.
Alternativamente, se o banco central escolhe fixar a taxa de câmbio a um nível abaixo
de ep1, a política é chamada de revalorização do dólar. Uma revalorização num
regime de câmbio fixos, é análogo a uma apreciação em regime de câmbio flexíveis;
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isto é, tanto a revalorização, como a apreciação, referem-se a uma elevação no
valor da moeda doméstica (neste caso o dólar) em relação a outra moeda
estrangeira (neste caso a libra), ou seja, uma diminuição no montante de dólares
necessários para obter uma libra- a taxa de câmbio, e, desce.
Suponhamos que, alternativamente, o governo americano decide manter a taxa de
câmbio entre o dólar e a libra ao nível ep2, abaixo do valor da taxa de equilíbrio,
como podemos ver na fig. 12.10. Ao nível ep2 a quantidade procurada de libras
excede a quantidade oferecida. Isto porque o baixo valor da taxa de câmbio, torna os
depósitos em libras mais atraentes do que os depósitos em dólares. As forças da procura
e da oferta no mercado cambial fazem pressões no sentido da subida do preço em
dólares da libra (apreciação da libra em relação ao dólar, ou seja, depreciação do
dólar em relação à libra – a taxa de câmbio, e, sobe). Se a taxa de câmbio deve
permanecer em ep2, o banco central tem de intervir no mercado cambial,
fornecendo libras suficientes para cobrir a diferença entre a quantidade procurada
e a quantidade oferecida àquele nível. Para poder intervir, o governo deteve stocks de
depósitos em várias moedas, chamados reservas em divisas. No nosso exemplo, o
banco central dos USA venderia uma parte das suas reservas em divisas, comprando
depósitos em dólares com os depósitos em libras, satisfazendo, assim, a procura de
libras pelos detentores de carteiras de activos.
Durante períodos curtos, a intervenção no mercado cambial pode ocorrer em escala
maciça. Durante o mês de Setembro de 1992, quando os mercados de divisas europeias
exibiram uma grande volatilidade, provocada pela incerteza relativa ao futuro da
integração da União Europeia, registou-se uma intervenção num montante de 24 biliões
de marcos e de 10 biliões de libras. Também em Setembro de 1992, a intervenção do
Canadá para manter o dólar canadiano – face à incerteza política sobre o futuro do
Quebeque – totalizou um recorde de $4.26 biliões de dólares.
Se um banco central tentasse manter a taxa de câmbio entre a sua moeda e outra moeda
a um nível abaixo do equilíbrio, durante um longo período, ele acabaria por gastar as
suas reservas em divisas. Nessas circunstâncias as escolhas de políticas seriam: a)
contrair empréstimos em divisas de outros bancos centrais, ou do Fundo
Monetário Internacional, a fim de continuar a intervenção; b) mudar a taxa de
câmbio, fixando-a a um nível mais consistente com o equilíbrio no mercado cambial, ou
c) permitir uma maior flexibilidade da taxa de câmbio. Se o banco central escolhe
mudar o nível da taxa de câmbio para um nível superior a ep2, a política é chamada de
desvalorização do dólar em relação à libra, semelhante à depreciação em regime de
câmbios flexíveis.
Mais tarde analisaremos a influência de um regime de câmbios fixos nas políticas
macro-económicas. Por agora, notemos que o tipo de risco cambial, analisado no âmbito
da nossa discussão sobre a cobertura de risco (hedging), resulta da possibilidade de
mudança da taxa de câmbio à vista, ao longo do tempo. Se os governos pudessem
manter a taxa de câmbio à vista, de tal modo que todos tivessem a certeza de que ela
não mudaria, deixaria de existir qualquer risco cambial do tipo referido. Existiria
pouca necessidade de um mercado de câmbios a prazo, pois todos saberiam que no
futuro se poderia comprar divisas à mesma taxa de câmbio existente hoje. As taxas
de câmbio fixas eliminariam muitas, mas não todas as funções dos mercados de divisas
– se a taxa de câmbio fosse fixada dentro de bandas curtas que fossem
permanentes e dependentes. Infelizmente, a história sugere que nenhum sistema de
taxas fixas consegue dar um grau de certeza completa, pois existe sempre a
possibilidade que, devido a deslocações na procura e oferta de determinada moeda,
o governo se veja impossibilitado, ou não deseje, manter a taxa fixa. Veremos mais
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tarde que estes assuntos foram determinantes na crise financeira asiática, de 1997-98.
Os bancos e outras empresas em países como a Tailândia e a Indonésia contraíram
empréstimos em divisas, admitindo que os seus governos manteriam as taxas de
câmbio fixadas aos seus valores vigentes na altura. Em vez disso, os governos, face a
dificuldades económicas, desvalorizaram as suas moedas (ou seja, tornou-se
necessário mais moeda doméstica para comprar uma unidade de moeda
estrangeira – a taxa de câmbio, e, subiu). Assim, os bancos e as restantes empresas,
que tinha partido do pressuposto de que poderiam comprar divisas no futuro às taxas
fixadas há muito, de repente tiveram de enfrentar preços muito mais elevados, para
obterem divisas que necessitavam para pagar as suas dívidas.
A TAXA DE CÂMBIO EFECTIVA
Como a taxa de câmbio é simplesmente o preço relativo de duas moedas, reflectindo as
procuras e ofertas de depósitos nessas moedas, a moeda pode apreciar-se em relação a
algumas outras moedas, ao mesmo tempo que se deprecia em relação a outras. Isto
significa que é impossível, com base em taxas de câmbio bilaterais, determinar se
uma moeda está a apreciar-se ou a depreciar-se nos mercados cambiais. Contudo, é
muitas vezes útil, termos um indicador da tendência dos movimentos de uma moeda
em relação a uma “média” ponderada das outras moedas. A taxa de câmbio
efectiva do dólar, por exemplo, dá uma medida do valor do dólar em relação a um
conjunto de outras moedas, dos principais parceiros comerciais dos USA.
Várias agências governamentais, organizações internacionais e instituições financeiras
privadas calculam a taxa de câmbio efectiva do dólar, que passou a ser calculada pela
Reserva Federal, para os anos em que o dólar começou a flutuar.
As várias medidas da taxa de câmbio efectiva diferem nos pesos que estão associados
às médias ponderadas das taxas bilaterais. Durante períodos curtos, essas diferenças
nos pesos podem causar variações significativas nas medidas das taxas de câmbio.
Por exemplo, durante a depreciação do dólar em 1985 e 1986, as medidas que serviram
de peso às moedas Japonesa e Europeia, tendiam a revelar uma maior depreciação do
dólar, porque este diminui, sobretudo, em relação a estas moedas. Outras medidas
incluíam as moedas de parceiros comerciais mais desenvolvidos; e, como a depreciação
bilateral do dólar em relação a essas moedas era pequena (e em alguns casos o dólar
apreciou-se mesmo) a taxa de câmbio efectiva, calculada através dessas medidas,
revelou um menor declínio.
MERCADOS CAMBIAIS OFFSHORE
Relembremo-nos de que um depósito offshore é, simplesmente, um depósito
bancário na moeda de um país, que não seja o país onde o depósito esteja
localizado. Um depósito em dólares num banco de Londres ou um depósito em libras
num banco de Hong Kong, são ambos depósitos offshore, independentemente das
nacionalidades dos seus detentores. O que transforma um depósito em depósito offshore
é uma combinação da localização do banco e da moeda em que o depósito é feito.
Uma pergunta óbvia acerca dos mercados de moeda offshore, é sobre a razão pela
qual eles existem? Existem três respostas, duas primariamente de natureza
económica e a outra de natureza política. Elas incluem as razões mais citadas para a
emergência e rápida expansão de mercados offshore.
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A maioria dos países regulam fortemente a actividade bancária dentro das suas
fronteiras. Os USA, por exemplo, impõem regras sobre reservas, revelações ao
público, seguros e muitas outras restrições sobre a actividade bancária. O mesmo
procedimento existe em outros países, embora com variantes. Existem várias razões
para regular a indústria. Devido às ligações entre os bancos e o processo de criação de
moeda, o funcionamento regular do sistema bancário constitui um importante elemento
para o sucesso da política monetária. A confiança no sistema bancário é um aspecto
crítico; e a reserva, seguro e normas de informação colocada à disposição do público,
impostas sobre os bancos, garantem a estabilidade do sector bancário e, promovem a
confiança do público.
No entanto, se é verdade que as regulamentações bancárias impostas por vários
governos conferem benefícios, não é menos verdade que elevam os custos da
actividade bancária. Como os bancos – pelo menos os dos USA – são negócios
privados, maximizadores do lucro, os custos da regulamentação implicam que os
paguem reduzidas taxas de juro aos depositantes e, cobrem elevadas taxas aos
tomadores de empréstimos. Qualquer banco que possa escapar às regulamentações
onerosas nacionais, baixando os custos operacionais, pode pagar taxas mais elevadas
aos depositantes, e cobrar taxas mais baixas aos tomadores de empréstimos. Os
mercados offshore conseguem atingir este objectivo. O governo dos USA, por
exemplo, tem pouco controlo sobre outro país que aceite depósitos em dólares. Mesmo
no caso de subsidiárias ou ramos de um banco americano, uma localização no
estrangeiro reduz o poder que o governo tem para exercer a sua regulamentação. Ao
escapar à regulamentação, os bancos que operam nesses países podem oferecer
taxas de juro mais atractivas, tanto para depositantes, como para tomadores de
empréstimos. Os países que têm favorecido o crescimento de bancos offshore incluem o
Reino Unido, a Suíça, o Panamá, o Bahrain, as ilhas Cayman, Singapura e Hong Kong.
Outros países, incluindo os USA, a Alemanha, e o Japão, têm usado leis para
impedir, ou desencorajar, a actividade bancária em outras moedas, dentro das
suas fronteiras. Contudo, com o rápido crescimento do segmento bancário offshore
(muitas estimativas ascendem a $8 milhões de dólares) os USA ajustaram as suas leis,
de modo a permitir que os bancos americanos capturem uma maior fatia do negócio.
O rápido crescimento do comércio internacional e da actividade financeira, tem causado
um crescimento na procura de serviços bancários offshore pelas firmas. Quando uma
firma compra e vende em muitos países no mundo, a detenção de depósitos
bancários em várias moedas integra a estratégia de minimizar os custos, o que
pode explicar o crescimento dos mercados offshore.
Os ramos e as subsidiárias dos principais bancos americanos dominam actualmente o
mercado de moeda offshore. Cerca de metade dos depósitos offshore são em dólares.
Outras moedas usadas no estrangeiro são o marco alemão, o yens, o franco francês, e o
franco suíço. Inicialmente, a grande fatia era constituída por depósitos em dólares
detidos na Europa. O que permite explicar a razão pela qual os depósitos offshore são
denominados de eurodivisas, ou eurodólares. Como um grande número de moedas
passaram a ser utilizadas em mercados de divisa ao ffshore, os próprio mercados
começaram a proliferar no mundo. Os depósitos offshore tendem a deslocar-se para
áreas de menor regulamentação.
O principal efeito dos mercados de divisas offshore tem sido o de aumentar a
mobilidade do capital financeiro. Anteriormente era difícil comprar activos de curto
prazo em moedas estrangeiras. O investimento no estrangeiro era, sobretudo,
investimento directo, compras de acções em firmas estrangeiras, ou compras de
obrigações. Agora, os depósitos bancários offshore permitem deter activos em
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moeda estrangeira por períodos muito curtos, por vezes alguns dias. A maioria dos
depósitos no mercado offshore são depósitos com vencimentos desde o dia seguinte, até
vencimentos dentro de alguns anos.
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