Os Paradigmas da História Podemos notar que o duplo conceito de cultura e civilização, surgiu no século XVIII, empregado pelos filósofos franceses e alemães, para se referir ao processo material e mental da humanidade. Na vertente francesa, civilização seria a alta cultura caracterizada pela urbanização, a escrita, o estado, a divisão do trabalho, a diferença de status entre indivíduos e grupos. A civilização era vista de forma superior à cultura. Para os alemães cultura era habitualmente, os costumes específicos de sociedades, que sofriam mudanças lentas em oposição á civilização, definida como urbana, cosmopolita e rápida em suas transformações. A posição básica da perspectiva entre as visões francesa e alemã dificulta o entendimento de correntes paramarxistas, conhecida como escola de Frankfurt (1968 – 1989) onde ocorreu o deslocamento de paradigmas nas áreas das ciências humanas e sociais; mudanças que afetam a história, promovendo a formulação de uma nova história, que tem como ambição a diversidade dos objetos e a alteridade cultural. Assim a disciplina histórica é apresentada hoje a partir de oposições entre paradigmas polares chamados de “modernos” ou iluministas filiado ao marxista e ao grupo dos Annales que foram influentes e prestigiados no período de 1929 a 1989. A visão marxista foi sintetizada por Adam Schaff (1991) que afirma a realidade social como algo mutável, onde seus fatores sofrem mudanças, sendo submetidos á leis cujo reflexo são as leis dinâmicas da ciência, que conduz ao estudo de equilíbrio relativo. O objeto do marxismo é a união em um único movimento do pensamento e da visão de estruturação e transformação da sociedade humana. Um conhecimento real de algo que existe por si mesmo e pode ser conhecido, um vinculo epistemológico e dialético entre presente e passado. A preocupação dos marxistas transcende as esferas humanas, naturais e historiográficas; aparecendo ambas em um movimento dialético vinculado um ao outro. A principal contradição dialética entre o homem e natureza, se relaciona no desenvolvimento das forças produtivas; a partir da análise integrada dessas contradições é que surgem os conceitos históricos como modo de produção, formação econômica, sociedade, classes sociais; sendo uma corrente evolucionista em relação à visão materialista do homem a respeito da vida. Na aurora do estudo sobre os paradigmas da história notamos uma compatibilidade entre os marxistas e os ideais dos grupos dos Annales e dos enumeros seguidores da chamada escola de Frankfurt. Tal compatibilidade se relaciona com a inclinação teórica dos historiadores pelas as mudanças sociais e a ausência da preocupação com o individuo, devido à obsessão pelo que é estrutural e transindividual, sendo insuficientes suas indicações acerca da noção de poder. No caso dos Annales se relaciona com a polêmica contra uma história tradicional de corte político militar; levantando discussões e críticas em relação à ciência e sua objetividade, implicando ao mesmo tempo ao idealismo e ao materialismo, fatos os quais mesmo com a ausência da solução de problemas não deixaram de sucitar teorias, ideologias e utopias. O paradigma pós-modernista revela resultado de trajetória pessoal de intelectuais na década de 1970, revolucionários desiludidos, muitos abandonavam a crença na possibilidade de uma transformação global; partindo para movimentos de luta ou reivindicação, desembocarando por fim no neoconservadorismo ou neoliberalismo, processo que se desenvolveu no Ocidente. Os pós-modernistas costumam ser retóricos em seus argumentos, promovendo afirmações em sua apresentação como se fossem autovidentes não demonstrando um conhecimento teórico, isto ocorre pela falta de estrutura teórica e metodológica. Podemos apontar as deficiências centrais no pensamento históricos pós-moderno, ou seja, na nova história o foco principal de estudo esta relacionado com o cotidiano, voltado às questões da microhistória; abandonando os instrumentos críticos da razão, na tentativa de buscar novos significados para sua objetividade, sendo condenados à dispersão e a irrelevância, ficando visivelmente a critica á história em migalhas. Alguns dos aspectos da Nova História vieram para ficar, entre eles a ampliações dos objetos, as estratégias de pesquisa e de reivindicação dos indivíduos, tornando possível a legitimação da história. Como consequência a sociedade humana passa por um continuo processo de transformação, em relação às ciências sociais e humanas, onde ambas não escolhem entre teorias deterministas e teorias voluntaristas; conduzindo a desconstrução do império do relativismo e da microanálise. No decorrer da pesquisa, a pluralidade disciplinar é evidenciada; as ideias se mantém vivas, uma disciplina que tem como objeto o estudo da história das ideias que teve que enfrentar como adversário como a tradição marxista e a historiografia francesa dos Annales. Mas boa parte dos historiadores prefere hoje denominar como história, algo que de forma essencial ajuda o homem a pensar em uma história que até pouco tempo não constituía um campo e sim o objeto de estudo de alguns departamentos da filosofia. As ideias propõem uma representação mental de um objeto ou fato, enfocando uma problemática complexa, observando a intertextualidade e a contextualização, desempenhando diversas funções, mesmo assim observa-se que os historiadores mantêm uma relação precária com as ideias; utilizando constantemente uma gama de categorias, conceitos e noções; remetendo ao senso comum, teórico e especifico. E importante deixar claro que ás ideias teve papel decisivo na história, não se tratando ainda de uma história das ideias e sim uma história geral das civilizações relacionada ao conceito cultura; mas não existe recorte das “ideias” enquanto objeto particular historiográfico. Pois a historiografia do século XIX desenvolveu segundo percursos metodológicos: a perspectiva discursiva, explicativa, compreensiva e historicista. Em função ao processo metodológico, a historiográfica se divide em dois períodos: o primeiro, no começo do século VXIII até mais ou menos 1870, caracterizado pela oposição entre romantismo, em relação à crítica dos iluministas e dos positivismos como base no pensamento iluminista. Na segunda parte do começo do século XX, por volta de 1976, ocorre a fusão entre os ideais românticos e a concepção positivista, compartilhando de um grau diverso de formas variadas de modelos e de reflexão. O idealismo romântico produziu as filosofias especulativas da história de Herber Fichte e, sobretudo de Hegel (1820) um campo do conhecimento histórico que articula a coexistência de conflitos, entre a filosofia e a exigência erudita da crítica documental. Em relação à historiografia romântica, as escolas histórica alemã de Humboldt e Ranke (1795) condenaram e concretizaram um paradoxo epistemológico que desenvolve em oposição da explicação discursiva e redutora. Percebe-se que a ideia se relaciona com a realidade real, histórica, única e singular; assim podemos compreender o sentido da famosa frase de Ranke (1795) “A tarefa do historiador é expor aquilo que realmente aconteceu”. As ideias não é algo acrescentado na história ao contrário é algo que aparece na conexão natural das coisas. Ao longo da construção historiográfica a historiografia romântica teve forte conotação política e ideológica, daí o hábito de se subdividir em duas vertentes; uma dita conservadora, mais tradicionalista e outra progressista; uma historiografia que se dizia “positivista”, mas na realidade propunha uma ideia evolucionista e cientifica que compreende as varias vertentes históricas, em função de suas diferenças quanto conhecimento histórico; que se busca no positivismo propriamente uma teoria darwinista, porém o materialismo histórico de Marx e Engels propõe uma superação tanto do positivismo como do idealismo. No espaço historiográfico desse “positivismo” metodológico a compartimentalização disciplinar deslocou e pluralizou a história das ideias. Ideias que não constitui uma esfera distinta e separada da existência social, as quais são unidades estruturais da historia. No século XX a historiografia das “ideias” diversificou-se bastante, funcionando como orientadorada temporal de acesso as questões em debate e abordagens a modelos e métodos propostos. Um período que visa à recuperação da importância dos anos de 1890 e 1914 para compreensão da história intelectual, que foi marcada pela revolta antipositivista, um modelo de reflexão estrutural ou integral. A revolta antipositivista foi criada com o fim do neo-romantico, neohistoricista, antiintelectualista e irracionalista etc. Ambos atingiram o alvo comum à teoria filosófica e as ciências socias típicas do “pensamento” iluminista, todavia a crítica antipositivista não era necessariamente “irracionalista” não sendo a razão que se rejeitava mais sim certo tipo ou concepção da razão iluminista. Todavia não podemos perder de vista as permanências da história que prosseguem por muito tempo, a hegemonia positivista, que no fundo trata-se do antagonismo entre os idealismos. A história das ideias cede lugar a história sociocultural; o mesmo ocorrendo com a história das mentalidades; os historiadores abandonam as velhas questões tradicionais e partirem em busca de “longos períodos” e para isto inventam novos métodos e instrumentos. Foucault (1986) pensa em uma história econômica e social, quantitativa “novidade” que encanta ou irrita os historiadores das ideias; pois ocorreu uma rejeição das cadeias evolutivas das “visões de mundo” e outras noções típicas da história tradicional. Os historiadores pretendem ver cada ideia ou cada pensador em um “microcosmo” no qual se articula passado e presente numa estrutura especifica, preservando o eixo temporal das relações históricas, promovendo a conexão dos objetivos comum aos historiadores dos diversos grupos. A noção de “internalização” no âmbito da história intelectual e das ideias abrange um vasto campo de tendência definida em função aos métodos utilizados ou do tipo de objeto abordado. A compartimentalização tende a não computar as histórias das ideias, produzidas pelos colegas de outras áreas das ciências humanas e sociais, não deixando de lado a produção dos não historiadores. Voltando ao termo cultura, devemos fazer um diálogo com a cristandade, pois a religião cristã é supostamente superior, a outra sociedade cristã do mundo, pois sua ideologia é formada na Idade Média, onde os limites da cristandade eram os limites humanos; um movimento de lutas entre humanos, cristãos e pagões. A abertura á alteridade está totalmente envolvida com a nova forma de se fazer história, pois o “outro”, o “diferente” começa a fazer parte da história como sujeito, ou seja, objeto de discussão da disciplina histórica. A descoberta do outro, foi sem duvida um acontecimento surpreendente na história do ocidente, fundando um movimento interno, ocorrido na Europa Ocidental, decorrente da desagregação do feudalismo, que expõe o individuo ao meio de produção, fundando a sociedade moderna e ao mesmo tempo, abrindo portas para venda da força de trabalho e da escravização do individuo ao capital, libertando também as estruturas e valores familiares tradicionais, autocentrados e limitadores do exercício de vontades individuais e coletivas. A descoberta de si e do outro, permite a existência de aceitação das diferenças em conjuntos do desenvolvimento da sociedade capitalista que se torna individualista quebrando as rupturas e padrões sociais; perceber-se que os povos considerados até então irracionais e não cristãos, também eram dotados de virtudes; pois os cristãos temiam se igualar e ser confundido com eles, por isso fica claro que a descoberta do outro, promoveu um encontro eurocentrico prevalecendo à singularidade da ascendência ocidental. O pensamento ocidental caminha para forma mais elaborada de classificação do outro, consolidando a raça branca como superior; desenvolvendo a teoria de desigualdade; enfrentando a miscigenação, o hibridismo que trazia em si a infalível decadência da particularidade, durante o século XIX e boa parte do século XX, não faltou esforço de aprimorar o conceito de raça, legando a perspectiva biológica comportamental; abrindo caminho para estudo antropológico, mais profundo que fornece a base para o desgaste acentuado do etnocentrismo ocidental. Lévi Strauss (1976) chama de primitivo a ciência moderna onde o universo é objeto do pensamento, pelo menos como Strauss, sustenta a diferença entre o grupo étnico, que no lugar da raça surge como elemento definidor da identidade de grupos humanos, ocorrendo uma interação e interferência entre duas ou mais tradições culturais, pois é inegável o efeito cultural que oferece no decorrer do contato. Tal dinâmica das sociedades não só ocidentais, contribui também para um processo de trocas culturais plenas e verdadeiras.