As implicações econômicas do Brexit Informativo Assessoria Econômica Julho | 2016 Ben S. Bernanke | 28 de junho de 2016 Traduzido e adaptado pela Assessoria Econômica da ABBC. Ainda mais evidente agora do que antes do referendo, em termos econômicos, os maiores perdedores serão os próprios britânicos. O resultado produzirá anos de enorme incerteza, acerca das regras que governarão o comércio do Reino Unido com os seus vizinhos continentais, o destino dos trabalhadores estrangeiros e dos britânicos no exterior e a condução política no país, incluindo em última instância onde permanecerão as fronteiras. Essa fundamental incerteza irá deprimir a geração de negócios, o investimento de capital e as contratações. De fato, esse movimento já tinha se iniciado mesmo previamente à votação. A desaceleração econômica do Reino Unido será impulsionada pela queda no valor dos ativos (casas, imóveis comerciais, ações) e pela perda do sentimento de confiança de parte das famílias e empresas. Ironicamente, ao tornar as exportações mais competitivas e se mantidas as demais condições, a depreciação da libra poderá servir como amortecedor do desaquecimento. No longo prazo, a incerteza será dissipada, mas ainda os custos econômicos para o Reino Unido excederão os benefícios. Os serviços financeiros e outras indústrias com orientação global que dependem do acesso irrestrito ao mercado e do intercâmbio europeu serão pressionados. Ao mesmo tempo, os supostos ganhos com a ausência de amarras à excessiva regulamentação de Bruxelas serão limitados, pois o Reino Unido terá que aceitar a maioria dessas regras (agora sem capacidade de influenciá-las), como parte da reestruturação dos acordos comerciais. A imigração é impopular e o desejo de sua redução foi uma motivação para que os eleitores optassem pelo “leave”. Entretanto, um crescimento mais lento da força de trabalho provavelmente reduzirá a expansão econômica. O restante da Europa também será negativamente afetado, apesar de que Frankfurt e algumas outras cidades possam ganhar maior relevância na prestação de serviços financeiros, em detrimento de Londres. Os maiores riscos aqui são políticos, como amplamente observado. Em particular, os mercados já estão começando a precificar o risco de que outros países ou regiões demandem maior autonomia em relação à Bruxelas. Mesmo aqueles simpáticos às exigências devem se preocupar com as tentativas de relaxamento das condições dos acordos comerciais e regulamentares que eventualmente poderiam ser altamente desestabilizadoras, como provavelmente será para o Reino Unido. Particularmente, um movimento de saída de um membro da Zona do Euro geraria instabilidade, criando a possibilidade de que um país deixasse de adotar a moeda comum, com o risco de ocorrência de corridas bancárias e ataques especulativos sobre as dívidas soberanas dos demais países encarados como os próximos da fila. O desafio para os líderes europeus será o de manter a trajetória do processo de integração, e simultaneamente encontrar maneiras de endereçar as preocupações de países que ofereçam risco de desligamento da União Europeia. Uma questão que poderia ser revisitada é o compromisso de permitir, de forma absoluta, a livre circulação de pessoas entre as fronteiras, o que parece mais um princípio político do que econômico. A percepção de que o Reino Unido tinha perdido o controle de suas fronteiras foi um dos argumentos mais eficazes pelo "leave" e movimentos separatistas em outros lugares também têm se aproveitado dessa questão. [1] As implicações econômicas do Brexit| Página 01 As implicações econômicas do BREXIT Informativo Assessoria Econômica Julho | 2016 Globalmente, o choque Brexit está sendo transmitido principalmente pelos mercados financeiros, com os investidores desfazendo as suas posições de maior risco e correndo em busca de supostos refúgios seguros, como o dólar e a dívida soberana dos EUA, Alemanha e Japão. Os investidores estão talvez mais avessos ao risco do que em outras ocasiões, porque têm conhecimento que os bancos centrais em outros países dispõem de menos espaço para flexibilização da política monetária. Entre os países mais atingidos encontra-se o Japão, cujo avanço contra a deflação poderá retroceder com a valorização do iene e a queda nos preços das ações. Nos Estados Unidos, é improvável que a recuperação econômica seja prejudicada pela turbulência nos mercados, pelo menos se as condições nos mercados financeiros não se deteriorarem significativamente. Até o momento, o fortalecimento do dólar e as quedas das ações norte-americanas foram relativamente moderados. Além disso, o declínio nas taxas de juros dos EUA de longo prazo (incluindo as taxas das hipotecas) compensa parcialmente os efeitos contracionistas da apreciação cambial e dos preços das ações nas condições financeiras. No entanto, o Fed e os outros formuladores de política econômica dos EUA permanecerão cautelosos até que os efeitos da votação britânica estejam mais claramente delineados. Embora os preços das ações dos bancos estejam pressionados, especialmente no Reino Unido e na Europa, até o momento parece bastante improvável que se tenha uma crise financeira. Os bancos centrais estão monitorando as fontes de liquidez e as condições financeiras dos bancos e por enquanto problemas graves não têm ocorrido (o conhecimento antecipado da data do referendo foi um fator contributivo, dado que as autoridades tiveram tempo para se preparar. A maior capitalização dos bancos que ocorreu nos últimos anos também foi positiva). Por meio de suas linhas de swap de moedas, estabelecidas durante a crise financeira global, o Fed está certo de que outros grandes bancos centrais têm acesso ao dólar. Como já sugerido, no momento os maiores riscos para a estabilidade financeira não são econômicos, mas parecem ser políticos, especificamente o risco de novas deserções ou o colapso da União Europeia. A história pode ainda não estar finalizada. ________________________________________ [1] A Grã-Bretanha recebe a imigração substancial dos membros e de países não pertencentes à UE. O debate sobre Brexit às vezes parecia confundir os dois, apesar de apenas o primeiro ser protegido pelos Tratados da UE. Ben S. Bernanke – Ex-Presidente do Board of Governors of the Federal Reserve System e PhD in Economics pelo Massachusetts Institute of Technology. As implicações econômicas do Brexit| Página 02 Assessoria Econômica Av. Paulista, 949 – 6º andar – Bela Vista CEP: 01311-100 – São Paulo – SP Telefone: (5511) 3288-1688 | Fax: (5511) 3288-3390 [email protected]