Métodos Matemáticos 2012 –Notas de Aula Equações Diferenciais Ordinárias II A C Tort∗ 25 de setembro de 2012 1 O fator integrante Suponha que a EDO de primeira ordem seja da forma: y ′ (x) + p(x) y(x) = g(x). (1) u(x) y ′ (x) + u(x) p(x) y(x) = u(x) g(x). (2) u′ (x) = u(x) p(x), (3) u(x) y ′ (x) + u′ (x) y(x) = u(x) g(x), (4) d [u(x) y(x)] = u(x) g(x). (5) Multiplicando a EDO por u(x): Definindo: ficamos com: ou ainda: Portanto, u(x) y(x) = Z u(x) g(x) dx + C, (6) onde C é uma constante de integraçnao que deve ser determinada com uma condição adicional sobre y(x). Segue que: R u(x) g(x) dx + C . (7) y(x) = u(x) Para obter o fator integrante u(x) voltamos à Eq. (3) : d u(x) = u(x) p(x). dx Usando o método de separação de variáveis rescrevemos esta equação na forma: du = p(x) dx. u Integrando obtemos: ∗ email: [email protected] 1 (8) (9) 2 Notas de Aula. AC TORT 2012 ln u = Z p(x) dx + K, (10) Z (11) ou ainda fazendo K = 0 e invertendo: u(x) = exp p(x) dx . Exemplo 1 A lei de resfriamento de Newton Seja T a temperatura do meio ambiente e θ(t) a temperatura de um corpo imerso nesse meio. A lei do resfriamento de Newton nos diz que: dθ = −κ (θ − T ) , (12) dt onde κ é uma constante, a constante de resfriamento, que depende de condições específicas ao meio e ao corpo. Para obter uma solução geral desta equação com o método do fator integrante escrevemos: dθ + κ θ = κ T, dt e fazemos as identificações: p(t) = κ e g(t) = κT . Segue que: Z u(t) = exp κ dt = exp (κ t), (13) (14) e, logo, θ(t) = R exp (κ t) κT dt + C κT exp(κ t)/κ + C = = T + C exp (−κ t) . exp (κ t) exp (κ t) (15) Para determinar C deve-se conhecer a temperatura do corpo em um determinado instante t0 (problema do valor inicial) θ(t0 ) = θ0 . E XERCÍCIO 1: Mostre que se θ(t0 ) = θ0 , a temperatura do corpo varia de acordo com: θ(t) = T + (θ0 − T ) exp [−κ (t − t0 )] . E XERCÍCIO 2: (16) A que mecanismo de transmissão de calor a lei de resfriamento de Newton está associada? Exemplo 2 CSI - Rio Suponha que um cadáver seja encontrado em condições suspeitas no instante t0 = 0. A temperatura do corpo é medida imediatamente pelo perito e o valor obtido é θ0 = 29 o C. O corpo é retirado da cena do suposto crime e duas horas depois sua temperatura é novamente medida e o valor encontrado é θ1 = 23 o C. O crime parece ter ocorrido durante a madrugada e corpo foi encontrado pela manhã bem cedo. A perícia então faz a suposição adicional de que a temperarura do meio ambiente entre a hora da morte tm e a hora em que o cadáver foi encontrado t0 tenha se mantido mais ou menos constante T ≈ 20 o C. A perícia sabe também que a temperatura normal de um ser humano vivo é de 37 o C. Com esses dados como a perícia pode determinar a hora do crime? Solução O primeiro passo é reunir os dados. Temos t0 = 0 (por simplicidade), θ0 = 29 o C ; t1 = 2 h, θ1 = 23 o C; T = 20 o C. O segundo passo é determinar a constante de resfriamento κ para este caso com a solução (16): θ1 − T = (θ0 − T ) exp (−κ t1 ) . Aplicando logarítmos e substituindo valores: 1 1 θ1 − T 23 − 20 1 1 = − ln = − ln ≈ 0.55 h−1. κ = − ln t1 θ0 − T 2 29 − 20 2 3 (17) (18) 3 Notas de Aula. AC TORT 2012 Agora usamos uma vez mais a solução (16) para estimar a hora da morte tm : θm = T + (θ0 − T ) exp (−0.55 tm) . (19) Procedendo como no cálculo de κ: 1 1 θm − T 37 − 20 17 1 =− =− ≈ −1.16 h. ln ln tm = − ln κ θ0 − T 0.55 29 − 20 0.55 9 (20) Portanto, o crime ocorreu há um pouco mais de uma hora antes do corpo ser descoberto. Curva de resfriamento 40 Temperatura (C) 35 30 25 20 –4 –2 0 t (horas) 2 4 Figura 1: Curva de resfriamento. E XERCÍCIO 3: Quais são os pontos fracos desta técnica pericial? Diferenciais exatas Dada uma função de duas variáveis u(x, y) sua diferencial total ou exata se escreve: du = ∂u ∂u dx + dy. ∂x ∂y (21) Suponha agora que u(x, y) = C, onde C é uma constante. Então: du(x, y) = 0. (22) u = x + x2 y 3 = C. (23) du = 1 + 2xy 3 dx + 3x2 y 2 dy = 0. (24) Exemplo 3 Considere: A diferencial exata desta função é Segue que: 1 + 2xy 3 dy ′ . =y =− dx 3x2 y 2 (25) 4 Notas de Aula. AC TORT 2012 Isto siginifca que se nos fosse dada esta última EDO, poderíamos manipulá-la algebricamente colocando-a na forma de uma diferencial exata e depois integrá-la. Resumindo: uma EDO de primeira ordem da forma: M (x, y) dx + N (x, y) dy = 0, (26) é dita ser exata se o L.E. desta equação diferencial for uma diferencial total ou exata de uma função u(x, y), isto é: ∂u = M (x, y) , ∂x ∂u = N (x, y) . ∂y (27) Neste caso, u(x, y) = C é a solução implícita da EDO. Por outro lado, é possível provar que a condição necessaria e suficiente para que a Eq. (26) seja uma diferencial exata é que: ∂M (x, y) ∂N (x, y) = . ∂y ∂x (28) Exemplo 4 Resolvendo uma equação diferencial exata Considere x3 + 3xy 2 dx + 3x2 y + y 3 dy = 0. (29) Começamos fazendo o teste de exatidão: M (x, y) = x3 + 3xy 2 , ∂M (x, y) = 6xy, ∂y (30) N (x, y) = 3x2 y + y 3 , ∂N (x, y) = 6xy, ∂x (31) logo, a ED é exata. Podemos escrever: Z Z u = M (x, y) dx + K(y) = x3 + 3xy 2 dx + K(y)., (32) ou ainda: u= x4 3 + x2 y 2 + K(y). 4 2 (33) Para determinar K(y) escrevemos: ∂u = N, ∂y (34) ou 3x2 y + dK (y) = 3x2 y + y 3 . dy (35) Segue que: dK (y) = y3, dy K(y) = y4 + C. 4 (36) Portanto, a solução é u(x, y) = 1 4 x + 6x2 y 2 + y 4 = C ′ . 4 (37) 5 Notas de Aula. AC TORT 2012 Exemplo 5 Um contra-exemplo Considere: y dx − x dy = 0. (38) Agora M (x, y) = y e N (x, y) = −x. Segue que Mx (x, y) = 1 e Ny (x, y) = −1. Portanto a equação diferencial acima não é exata, o que não significa que não possa ser resolvida, mas o método que usamos acima falha. Para verificar esta afirmativa procedamos como no Exemplo 4: Z u = M (x, y) dx + K(y) = yx + K(y). (39) dK (y) ∂u =N =x+ . ∂y dy (40) Mas N (x, y) = −x, logo: x+ dK (y) = −x dy (41) ou ainda: dK (y) = −2x, dy (42) que é uma contradição já que K e dK/dy dependem somente de y. E XERCÍCIO 4: Resolva a EDO: y dx − x dy = 0, (43) pelo método de separação de variáveis. Resposta: y = Cx. Referências [1] E. Kreyszig: Advanced Engineering Mathematics. (Wileyl: New York) 1993. [2] G. E. H. Reuter: A Elementary Differential Equations & Operators. (Routledge & Kegan Paul: London) 1958. [3] W. E. Boyce & R. C. DiPrima: Elementary Differential Equations and Boundary Value Problems 6th ed. (Wileyl: New York) 1997.