pág.491 Efeitos hemodinâmicos da nifedipina na

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Hemodynamics effects of nifedipine as a tocolytic agent in preterm labour
Resumo
Realizou-se revisão da literatura a respeito do uso da nifedipina no trabalho de parto prematuro,
descrevendo-se os principais aspectos farmacológicos, eficiência como agente de tocólise, bem como
os potenciais efeitos adversos maternos e fetais, com ênfase na hemodinâmica útero-placentária. De
acordo com as evidências atuais, a nifedipina é a medicação de escolha para tocólise, apresentando boa
eficácia na inibição das contrações uterinas, custo mais baixo quando comparada aos demais fármacos
e melhor tolerância materna por ter menos efeitos colaterais, sobretudo em relação aos betamiméticos.
Os efeitos colaterais maternos mais freqüentes com o uso da medicação são a cefaléia, a fadiga e o rubor
cutâneo. Os efeitos adversos fetais são pouco conhecidos. Pesquisas futuras são necessárias objetivando
encontrar um regime posológico padrão que apresente boa eficácia tocolítica e nenhum ou mínimos
efeitos adversos para o binômio materno-fetal.
AT U A L I Z A Ç Ã O
Efeitos hemodinâmicos da nifedipina na inibição
do trabalho de parto prematuro
Alex Sandro Rolland Souza1
Marcelo Marques de Souza Lima2
3
Melania Maria Ramos Amorim
4
Antônio Fernandes Moron
Carolina Prado Diniz5
Palavras-chave
Nifedipino
Bloqueadores dos Canais de Cálcio
Trabalho de Parto Prematuro
Tocolíticos
Abstract
Keywords
Nifedipine
Calcium Channel Blockers
Obstetric Labor, Premature
Tocolytic Agents
A literature review on nifedipine in preterm labour was performed describing its pharmacological aspects,
efficiency as tocolytic agent and its potential maternal-fetal side effects, emphasizing utero-placental
hemodynamics. Recent evidence supports the use of nifedipine as medication of choice for tocolysis,
presenting a satisfactory action to inhibit uterine contraction, lower proce when compared to other
tocolytics agents and better maternal tolerance. The most frequent side effects with nifedipine for
tocolysis are cutaneous flush, headache and fatigue. Fetal side effects are less known. Future research is
necessary to find an ideal nifedipne posologic scheme which presents a satisfactory tocolysis performance
and none or minimal maternal-fetal side effects.
1
Pós-graduando (Doutorado) em Saúde Materno Infantil no Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira - IMIP,
Recife - PE. Coordenador da Residência Médica em Medicina Fetal do Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira
- IMIP, Recife - PE.
2
Mestre em Ostetrícia pela Universidade de São Paulo - UNIFESP, São Paulo - SP. Superintendente do Hospital Dom
Malam (IMIP/HDM), Petrolina - PE.
3
Doutora em Tocoginecologia pela Universidade de Campinas - UNICAMP, Campinas - SP. Professora da Pós-graduação
em Saúde Materno Infantil do Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira - IMIP, Recife - PE
4
Professor titular de Obstetrícia da Universidade de São Paulo - UNIFESP, São Paulo - SP.
5
Pós-graduanda (Mestre) em Obstetrícia pela Universidade de São Paulo - UNIFESP, São Paulo - SP. Coodenadora do
Setor de Ultra-sonografia do Hospital Dom Malam (IMIP/HDM), Petrolina - PE.
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Efeitos hemodinâmicos da nifedipina na inibição do trabalho de parto prematuro
Introdução
O parto prematuro ocorre quando a gestação termina antes
de 37 semanas completas, ou de 259 dias, contados a partir do
primeiro dia do último período menstrual. Nos países desenvolvidos,
a incidência de parto prematuro é de 6 a 7%, sendo responsável
1
por 75 a 80% da mortalidade perinatal. No nosso meio, pesquisas
realizadas no Instituto Materno Infantil de Professor Fernando
Figueira (IMIP) constataram incidência de 27,3% dos partos.2
A prematuridade é um problema de saúde pública mundial,
responsável por aproximadamente dois terços da mortalidade
neonatal precoce, acarretando graves prejuízos econômicos e
sociais para a população, principalmente nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Assim, como o mecanismo do
desencadeamento fisiológico do trabalho de parto a termo não
está totalmente esclarecido, os processos fisiopatológicos do
trabalho de parto prematuro permanecem ainda com inúmeros
3
questionamentos.
Vários agentes farmacológicos foram utilizados na tentativa de
prolongar o tempo da gestação, como betamiméticos (salbutamol,
terbutalina e ritodrina), sulfato de magnésio, nitroglicerina e atosiban
(antagonista do receptor da ocitocina). Entretanto, metanálises
de ensaios clínicos têm sido realizadas, indicando que os agentes
tocolíticos podem prolongar a gravidez por aproximadamente
sete dias, mas não diminuir a incidência de parto prematuro e
da morbimortalidade perinatal. O maior benefício dessa prática
rotineira é a redução das contrações uterinas temporariamente,
dando a oportunidade para que o parto ocorra em centros especializados para o atendimento ao recém-nascido pré-termo, além
de permitir a administração da corticoterapia para a aceleração
da maturidade pulmonar fetal e de outras medidas coadjuvantes,
1,2
contribuindo para a melhora dos resultados neonatais.
Recente atenção vem sendo dada à determinação do melhor
agente tocolítico, ou seja, que resulte na inibição do trabalho
de parto prematuro, com a menor dose possível e ausentes ou
mínimos efeitos colaterais, ocasionando segurança para o binômio
1,4,5
materno-fetal.
A nifedipina foi primeiramente relatada no ano de 1980, em
um estudo observacional, como efetivo agente tocolítico e com
6
efeitos colaterais mínimos. Posteriormente, foram feitas pesquisas comparando a nifedipina a outras drogas tocolíticas, sendo
atualmente disponibilizada na biblioteca Cochrane uma revisão
sistemática com metanálise de ensaios clínicos, a qual observou
superioridade dos bloqueadores dos canais de cálcio em relação
aos outros agentes farmacológicos para a inibição do trabalho
de parto pré-termo.1
492
A presente revisão foi realizada com o objetivo de descrever
os principais aspectos farmacológicos, eficiência como agente
tocolítico, bem como os potenciais efeitos adversos maternos
e fetais, com ênfase na hemodinâmica útero-placentária. Serão
apresentadas ainda as atuais evidências e recomendações para
o seu uso na prática clínica diária.
Foram pesquisados os bancos de dados Medline/Pubmed,
LILACS/SciELO e Biblioteca Cochrane para pesquisa das evidências científicas disponíveis nos últimos 10 anos. Utilizaram-se
os seguintes descritores para pesquisa, na língua portuguesa e
inglesa: trabalho de parto pré-termo, trabalho de parto prematuro,
bloqueadores dos canais de cálcio, nifedipino, ensaios clínicos e
metanálise. Para análise dos níveis de evidências e dos graus de
recomendação foram utilizados os critérios do Oxford Centre for
Evidence-based Medicine, de 2001.
Mecanismo de ação
As contrações miometriais necessitam do aumento da concentração intracelular de cálcio. Esta, por sua vez, pode ser influenciada
pela atividade dos canais de cálcio “tipo” voltagem dependente. As
concentrações dos canais de cálcio voltagem-dependente podem variar
de acordo com a idade gestacional e sofrer a modulação de fatores
endógenos inibidores de sua atividade. Esses fatores moduladores
são responsáveis tanto pela manutenção do repouso miometrial
como pela transição para sua fase ativa no termo da gestação.7
A nifedipina é um derivado diidropiridínico, utilizado pela
primeira vez na prática clínica na década de 70, no tratamento
8
de doenças cardiovasculares. É absorvida rapidamente pela via
gastrintestinal e os níveis séricos inicial e máximo são alcançados
em seis a 15 minutos, respectivamente, com duração do efeito de
aproximadamente seis horas. O mecanismo de ação é baseado
na sua propriedade de inibir a entrada de cálcio no interior do
miócito. Esta atuação é decorrente do bloqueio dos canais de
membrana, ocasionando diminuição do tônus da musculatura
8
uterina, com conseqüente relaxamento miometrial.
A nifedipina é um bloqueador dos canais de cálcio tipo 2
e inibe a entrada do fluxo de cálcio por meio de canais lentos
7
do tipo L da membrana celular. Essa ação leva primariamente
ao relaxamento do músculo liso, atuando principalmente sobre
a musculatura vascular, uterina e vesical. Como resultado, a
nifedipina diminui em 20% a pressão arterial sistólica, diastólica
e média nas pacientes hipertensas, não ocasionando mudanças
8
importantes sobre a pressão arterial nas normotensas, podendo
ser utilizada para a inibição do trabalho de parto prematuro.
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Efeitos hemodinâmicos da nifedipina na inibição do trabalho de parto prematuro
Evidências científicas
Vários agentes tocolíticos têm sido estudados, na tentativa de
determinar o mais eficaz agente farmacológico com o mínimo de
efeitos colaterais.4,5 Com base em revisões sistemáticas da literatura
com metanálise de ensaios clínicos randomizados (nível de evidência
Ia, grau de recomendação A), tem sido documentada a superioridade
da nifedipina em relação aos outros agentes tocolíticos.1
Recentemente, foi publicada na biblioteca Cochrane uma
metanálise que avaliou 12 ensaios clínicos randomizados envolvendo 1.029 gestantes. Evidenciou-se que a nifedipina, quando
comparada a outros agentes tocolíticos, principalmente aos
β-agonistas, reduzia o números de nascimentos com sete dias de
tratamento (RR 0,76; IC 95% 0,60–0,97) e antes de 34 semanas
de gestação (RR 0,83; IC 95% 0,69–0,99). Além disso, entre as
pacientes que receberam nifedipina também ocorreu redução dos
efeitos adversos, da solicitação das gestantes de interromper o
tratamento devido aos efeitos colaterais, da síndrome de desconforto respiratório do recém-nascido, da freqüência de enterocolite
1
necrotisante e de hemorragia intraventricular.
Os betamiméticos também têm sido avaliados em revisões
sistemáticas, tendo uma delas incluído 12 ensaios clínicos envolvendo 1.320 gestantes. Em relação ao uso de placebo, observou-se
diminuição do número de partos prematuros em 48 horas (RR 0,63;
IC 95% 0,53–0,75), sem diminuição do número de nascimentos após
sete dias. Assim, os revisores concluíram que os betamiméticos
contribuem para o prolongamento da gestação, permitindo a transferência dessas pacientes a centros especializados e a administração
5
da corticoterapia, contudo, à custa de freqüentes efeitos colaterais.
Entretanto, essas drogas estão relacionadas com maior freqüência de
efeitos colaterais e a superioridade da nifedipina já foi mencionada
1
na revisão sistemática disponível na Biblioteca Cochrane.
Em relação ao atosiban (antagonista dos receptores da ocitocina), observou-se, em uma revisão sistemática de seis ensaios
clínicos envolvendo 1.695 gestantes, que esse agente tocolítico
não reduziu a incidência de partos pré-termo ou melhorou o
4
prognóstico neonatal. Entretanto, um recente ensaio clínico
randomizado incluindo 63 gestantes em trabalho de parto prematuro comparou a nifedipina ao atosiban, não sendo observada
diferença significativa quanto à eficácia e à efetividade para tocólise entre os dois grupos, havendo mais efeitos colaterais nas
pacientes que utilizaram a nifedipina. Os autores observaram,
ainda, que o atosiban apresentou melhor resposta nas pacientes
com passado de parto prematuro anterior, enquanto a nifedipina
obteve melhor eficácia nas gestantes com idade gestacional
abaixo de 28 semanas.9
Por outro lado, quando se avaliou o sulfato de magnésio para
inibição do trabalho de parto prematuro, uma revisão sistemática
envolvendo 23 ensaios clínicos sugeriu que esta droga é ineficaz
na prevenção do nascimento pré-termo, além de se encontrar
associada ao aumento da mortalidade perinatal (RR 2,82; CI 95%
1,20–6,62; 7 trials; 727 infantes).10
Desta forma, a nifedipina representa, atualmente, uma droga mais eficaz e bem tolerada do que os β-agonistas (nível de
evidência Ia, grau de recomendação A). Entretanto, pesquisas
posteriores são necessárias para a avaliação do melhor regime
posológico e do prognóstico neonatal.
Posologia
Na revisão sistemática da biblioteca Cochrane envolvendo 12
ensaios clínicos, comparando-se os bloqueadores dos canais de
cálcio a outros agentes tocolíticos quanto à eficácia e efetividade,
sem considerar a dose utilizada da nifedipina, encontraram-se
os mais diversos esquemas terapêuticos. A via de administração
utilizada foi oral ou sublingual, sob a forma de cápsulas ou comprimidos (inteiros ou dissolvidos em água). A dose total variou de
30 mg/d a 160 mg/d até a inibição das contrações uterinas.1
No Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira
(IMIP) obteve-se resposta satisfatória com a utilização de 20 mg
de nifedipina de ação rápida (dose de ataque), por via sublingual
(SL), repetindo 10 mg SL, após 20 a 40 minutos, caso não se
verificasse a inibição da contratilidade uterina. A dose de manutenção é de 10 mg por via oral a cada 6 horas por 24 horas (nível
11
de evidência IV, grau de recomendação C).
Atualmente, existem poucos questionamentos sobre a eficácia da nifedipina como agente de tocólise. Entretanto, estudos
comparando os diversos esquemas terapêuticos não foram encontrados na literatura pesquisada, incluindo revisões sistemáticas
(Medline/Pubmed, LILACS/SciELO e Biblioteca Cochrane). Desta
maneira, deve-se estimular a realização desses ensaios clínicos,
tanto para a comparação do regime posológico ideal como para a
forma de apresentação da droga, que proporcionem os mínimos
colaterais materno-fetais.
Efeitos adversos
Os efeitos colaterais maternos mais freqüentes da nifedipina
são a cefaléia, a fadiga e o flush cutâneo. De maneira geral são
todos bem tolerados, raramente indicando-se a interrupção do
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Efeitos hemodinâmicos da nifedipina na inibição do trabalho de parto prematuro
uso da medicação. Em uma revisão sistemática, a nifedipina
apresentou redução dos efeitos colaterais maternos (RR 0,32; IC
95% 0,24–0,41) e expressiva redução na solicitação das pacientes
para pararem o tratamento devido às reações colaterais (RR 0,14;
IC 95% 0,05 – 0,44).1
Alguns estudos epidemiológicos salientaram a associação
do uso da nifedipina com o aumento da mortalidade por doença
cardiovascular, neoplasias e hemorragia digestiva em pacientes
não-gestantes, porém outros trabalhos envolvendo casuísticas
12
maiores não revelaram essas associações. É possível que essas
complicações possam ocorrer com o uso crônico da medicação,
mas pouco provável que aconteçam com o uso transitório, como
é o caso da inibição do parto prematuro.
Já foi sugerida associação entre depressão da função miocárdica
e o uso da nifedipina de ação rápida utilizada de maneira simultânea
com o sulfato de magnésio.13 Entretanto, essa observação não
foi confirmada em estudos posteriores incluindo elevado número
de participantes. No Magpie, aproximadamente 30% das 10.141
pacientes envolvidas receberam associação de sulfato de magnésio
14
com nifedipina, sem efeitos deletérios registrados.
Os efeitos vasomotores dos bloqueadores dos canais de cálcio
podem ser vistos tanto em territórios maternos quanto fetais.
A droga tem ação inotrópica negativa e inibe a condução átrioventricular, além de apresentar efeito vasodilatador coronariano
e na circulação periférica. A nifedipina não promove hipotensão
em cobaias grávidas e o seu efeito hipotensor é mais evidente
nas pacientes hipertensas,1,15,16 sendo de muita importância os
estudos sobre os efeitos hemodinâmicos dos bloqueadores dos
canais de cálcio, particularmente a nifedipina, sobre a circulação
útero-placentária e feto-placentária.
Efeitos sobre os parâmetros
clínicos maternos
Diante da atual indicação da utilização dos bloqueadores
de canais de cálcio como agentes inibidores das contrações
uterinas, e considerando os possíveis efeitos desses agentes
terapêuticos sobre o sistema cardiovascular, faz-se necessária
a avaliação, particularmente da nifedipina, sobre os parâmetros
clínicos maternos.
Autores alcançaram sucesso terapêutico com a nifedipina
utilizada como agente tocolítico, não observando efeitos adversos materno-fetais importantes, particularmente alterações
significativas na pressão arterial e pulso materno, bem como na
freqüência cardíaca fetal.17
494
Pesquisas foram realizadas para observar efeitos na pressão
sistólica, diastólica e freqüência cardíaca materna após o uso da
nifedipina para tocólise. Em recente publicação não foram encontradas alterações nos parâmetros citados após três horas do uso
da medicação (ataque de 10-40 mg). Contudo, com a manutenção
da droga (60-160 mg) por períodos de 24 a 48 horas, obteve-se
significante redução da pressão arterial sistólica e diastólica, não
18
sendo evidenciados efeitos na freqüência cardíaca materna.
Efeitos sobre a circulação
útero-placentária e feto-placentária
Com a utilização dos bloqueadores dos canais de cálcio na
gestação, foram realizados estudos sobre a toxicidade desses
agentes terapêuticos. Os dados sobre a toxicidade fetal em animais
eram inconsistentes e os efeitos teratogênicos foram observados
somente com a utilização de doses supraterapêuticas em fases
19
iniciais da gestação.
Estudos reproduzidos em animais expostos aos bloqueadores dos canais de cálcio demonstraram aumento da freqüência
de anomalias em membros e dígitos, provavelmente devido à
redução do fluxo útero-placentário. Entretanto, em gestantes
humanas observou-se que os bloqueadores dos canais de cálcio
não representam risco mais alto de teratogenicidade, incluindo
o primeiro trimestre da gestação.20 Confirmando os achados
anteriormente descritos, ressaltou-se que, apesar da nifedipina
atravessar a barreira placentária, a medicação não apresenta
21
efeitos teratogênicos.
Não parece haver, atualmente, questionamento sobre a eficácia da nifedipina quanto à sua atividade tocolítica. Entretanto,
algumas dúvidas sobre a sua interferência na circulação úteroplacentária têm sido levantadas, estimulando a realização de
pesquisas avaliando essa possível influência.
Alguns trabalhos destacaram diminuição da perfusão fetal com
o uso da nifedipina. A administração de nicardipina, cronicamente,
em fetos de macaco Rhesus cateterizados não provocou elevação
da freqüência cardíaca fetal, porém os fetos ficaram acidóticos
e hipoxêmicos. Postulou-se que tais alterações poderiam ser
15
decorrentes da redução do fluxo das artérias uterinas.
Estudo em que se administrou nifedipina intravenosa em
ovelhas grávidas constatou que uma infusão de 5 μg/kg/min
resultava em aumento do fluxo cerebral fetal, enquanto que em
infusão maior, de 10 μg/kg/min, ocorria decréscimo do fluxo nas
artérias uterinas em 21% e do oxigênio arterial fetal em 15%, sem
haver aumento do fluxo cerebral.22
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Efeitos hemodinâmicos da nifedipina na inibição do trabalho de parto prematuro
Pesquisadores avaliaram o fluxo da artéria umbilical em
pacientes que foram submetidas à dose de ataque de 30 mg de
nifedipina seguidos de 20 a 30 mg a cada quatro a seis horas e
outro grupo que foi submetido à tocólise com a ritodrina. A dopplervelocimetria foi realizada após duas a três horas da primeira
dose do tratamento com a nifedipina. Os autores relatam que
apesar de a análise dopplervelocimétrica poder sofrer variações
diante de contrações uterinas, estas não influenciaram os resul23
tados finais entre os grupos.
Estudo semelhante avaliou a dopplervelocimetria da artéria
umbilical antes e uma hora depois da inibição com a nifedipina. Foi
utilizada uma dose de ataque de 30 mg seguida de 20 mg a cada
seis horas nas primeiras 24 horas e 20 mg a cada oito horas no
segundo dia. Os autores não encontraram diferenças significativas
da relação sístole/diástole nos dois momentos avaliados.16
Estudo envolvendo 11 fetos cujas mães receberam a nifedipina
para tratamento do trabalho de parto prematuro foi realizado
com gestantes que receberam uma dose de ataque de 30 mg
via oral da medicação seguida de 20 mg quatro horas depois
da dose inicial. O estudo dopplervelocimétrico foi realizado
antes da medicação e cinco horas após a primeira dose da
nifedipina. Os seguintes territórios vasculares foram avaliados:
artéria cerebral média, artéria renal, artéria umbilical, ducto
arterioso, valvas pulmonar e aórtica e as artérias uterinas. Não
foram constatadas alterações significativas após a inibição com
nifedipina nos vasos estudados. Os autores concluíram que
a nifedipina, no regime posológico avaliado, não esteve associada a efeitos adversos tanto na circulação útero-placentária
23
quanto na fetal.
Em 2004, um grupo de estudos avaliou 21 gestantes que
receberam 10 a 40 mg de nifedipina sublingual de ataque durante
a primeira hora de tocólise, sendo iniciada a manutenção de 60 a
160 mg da medicação após esse momento. Os autores pesquisaram
parâmetros dopplervelocimétricos das artérias uterinas, umbilical,
cerebral média e das valvas atrioventriculares, além da freqüência
cardíaca fetal antes e três horas após o uso da nifedipina. Não
foram percebidas alterações dos índices de pulsatilidade dos
vasos pesquisados, bem como na razão da resistência da artéria
umbilical sobre a artéria cerebral. Os autores observaram não
existir interferência da droga nos batimentos cardíacos e no débito
cardíaco do concepto, sendo necessários estudos posteriores para
avaliar os efeitos tardios e da manutenção do tocolítico.24
Posteriormente, foi conduzida nova investigação que acompanhou 28 gestantes submetidas à tocólise com nifedipina, sendo
que desta vez a avaliação dopplervelocimétrica foi realizada antes,
24 e 48 horas após o uso da medicação. O esquema posológico
adotado, bem como as variáveis analisadas, foi semelhante ao
estudo anterior. Os pesquisadores descreveram que os índices
de pulsatilidade das artérias uterinas e cerebral média diminuíram
significativamente após 24 e 48 horas de tocólise, enquanto que
o mesmo índice da artéria umbilical não apresentou alterações. A
razão do índice de pulsatilidade da artéria cerebral sobre a umbilical
caiu significativamente após 24 horas de uso da nifedipina, não
sendo verificadas alterações na freqüência e débito cardíacos no
18
mesmo intervalo.
No Brasil, em uma dissertação de mestrado defendida na
25
UNIFESP, Souza Lima (2006) encontrou vasodilatação da artéria
cerebral média fetal, avaliada pelo índice de resistência durante
a utilização de terapia tocolítica com nifedipina, sem efeitos
significativos sobre as artérias umbilical e uterinas.
Considerações finais
De acordo com o exposto, pode-se compreender a importância do uso dos bloqueadores dos canais de cálcio como agentes
tocolíticos, sendo a nifedipina atualmente considerada a droga de
primeira linha para inibição do trabalho de parto prematuro. Sua
efetividade e segurança foram já demonstradas por evidências
nível Ia (metanálises de ensaios clínicos randomizados), prolongando a gravidez sem ocasionar efeitos deletérios importantes
para a mãe e para o feto.
A maioria dos estudos compara a nifedipina com os β-agonistas,
porém existem dados insuficientes sobre o regime posológico a
ser adotado, a via de administração e a duração do tratamento,
necessitando-se de estudos posteriores para consolidação da
dose a ser administrada.
Os efeitos hemodinâmicos da nifedipina estão bem descritos
nas mulheres não-grávidas, porém ainda há necessidade de estudos mais profundos em gestantes. Em virtude do caráter benigno
desses efeitos, a nifedipina vem sendo utilizada na gestação com
relativa segurança para a mãe. Contudo, os efeitos sobre a hemodinâmica do feto permanecem por ser elucidados. Assim, em
virtude do largo uso dessa medicação para fins de tocólise, são
necessárias pesquisas que estudem de forma especial a possível
interferência sobre a circulação materno-fetal, contribuindo para
a sedimentação desta prática obstétrica.
As publicações sobre os efeitos da nifedipina sobre a circulação
materno-fetal são originadas do exterior e escassas, incluindo baixo
número de gestantes. A ausência de estudos nacionais levanta
dúvidas e inquietações a respeito da existência de variações entre
diferentes populações.
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Efeitos hemodinâmicos da nifedipina na inibição do trabalho de parto prematuro
Leituras suplementares
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Avaliação do impacto da corticoterapia antenatal para aceleração da
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FEMINA | Agosto 2008 | vol 36 | nº 8
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23.09.08 10:27:55
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