Geometria analítica: descobrindo a reta que tange duas circunferências e entendendo a construção geométrica. Sobre Ontem estava pensando em algumas funções interessantes para implementar em um editor de imagem vetorial e me veio em mente traçar guias tangenciando circunferências simultaneamente. Fiz uma busca rápida e encontrei apenas a construção geométrica (clique para abrir em nova aba) no blog “O baricentro da mente”. A construção A construção é relativamente simples, começamos com duas circunferências, sendo que uma não pode conter (completamente) a outra. No exemplo temos os pontos A(3,3) e B(16,2) como centros de circunferências com raios 3 e 1, respectivamente. Outra circunferência é criada para auxiliar o desenho, sendo que ela possui o mesmo centro que a maior e o raio resultante da subtração do raio maior e do menor. No exemplo teremos uma circunferência com centro em A e raio 2. Depois traçamos o ponto médio (C) entre os centros, no exemplo C(9,5 ; 2,5). Depois basta construir uma circunferência com centro em C e diâmetro AB. Usando o ponto A e os pontos de intercessão dos dois círculos auxiliares, traçamos duas retas, até a intercessão com o círculo maior. Traçando os segmentos BD e BE e depois prolongando retas paralelas até os pontos em laranja (intercessões na circunferência maior) temos as duas retas que tangenciam simultaneamente as duas circunferências. A lógica da coisa Toda construção geométrica não passa da representação de processos algébricos na forma de desenho. Essa forma que apresentei visa simplificar a construção “transformando” a circunferência menor em um ponto. Para que uma reta tangencie uma circunferência em um ponto P é preciso que o ângulo entre a reta e o segmento que parte do centro até P seja reto. Observe na figura acima a reta que passa pelos pontos de tangência F e E, considerando a formação do ângulo reto nesses pontos podemos afirmar que as semi-retas que partem do centro das circunferências até o ponto de tangência são paralelas entre si e perpendiculares à reta tangente. A reta que passa pelos pontos B e D é paralela à reta tangente, sendo perpendicular as retas vermelhas, mas com o diferencial de passar pelo centro da circunferência menor. A subtração dos raios existe simplesmente para deslocar a reta e permitir que ela passe pelo centro. Agora precisamos resolver mais um problema: como determinar o ponto onde passa a reta tangente no círculo criado pela subtração dos raios? Uma propriedade interessante das circunferências é que unindo um ponto qualquer do perímetro com o segmento do diâmetro o triângulo formado será retângulo. Veja no exemplo acima. Aqui está a grande sacada dessa construção: considerando o segmento AB o diâmetro de uma circunferência de centro C temos que qualquer ponto de intercessão no perímetro dessa circunferência formará um triângulo retângulo. Olhando por outra ótica: a reta que contém o cateto DB é tangente à circunferência de centro A e passa por B. Acompanhe abaixo: Agora basta criar uma reta paralela a reta do cateto BD e movê-la na reta que contém AD uma distância correspondente ao raio do círculo de centro em B. A matemática da coisa Dadas as circunferências c e d, com centros em A(1,7) e B(4,2) e raios 2 e 2 2, respectivamente, encontre que tangencia simultaneamente as circunferências. Podemos desenhar o círculo auxiliar com centro em B, que deve ter raio 2 2− 2= 2 e marcar o ponto médio M entre os centros: 1+4 7+2 , → 𝑀 2,5 ; 4,5 2 2 𝑀 Podemos agora definir o raio da circunferência de diâmetro AB e centro em M: 𝑟= 𝑥𝑎 − 𝑥𝑏 𝑟= 2 + 𝑦𝑎 − 𝑦𝑏 2 2 34 2 As equações que representam a circunferência de centro em M e a circunferência auxiliar de centro em B são: 𝑒: 𝑥 − 4 𝑓: 5 𝑥− 2 2 + 𝑦−2 2 2 9 + 𝑦− 2 2 = 2 = 34 4 Desenvolvendo as equações, temos: 𝑒: 𝑥² − 8𝑥 + 𝑦² − 4𝑦 = −18 𝑓: 𝑥² − 5𝑥 + 𝑦² − 9𝑦 = 18 Subtraindo as equações: 𝑡: − 3𝑥 + 5𝑦 = 0 A reta “t” resultante está destacada de laranja na imagem abaixo e ela possui os dois pontos de intercessão das circunferências “e” e “f”: Isolando uma variável da reta e substituindo em “e” ou “f”, temos: 𝑦= 𝑥 2 − 8𝑥 + 3𝑥 5 3𝑥 5 2 −4 3𝑥 = −18 5 𝑥 ′ = 5 𝑒 𝑥 ′′ = 45 17 𝑦 ′ = 3 𝑒 𝑦 ′′ = 27 17 𝐷 5 ,3 𝑒 𝐶 45 27 , 17 17 Para descobrir as retas que tangem a circunferência auxiliar “e” basta encontrar as retas que contém os segmentos AC e AD, exemplificarei apenas para AD. A equação da reta “s” que contém AD – que está destacada de laranja é: 𝑠: 𝑥 + 𝑦 = 8 Agora é hora de “subir” a reta de forma que ela tangencie as duas circunferências originais, vamos começar traçando o caminho por onde se dará o deslocamento, a reta “v”, que contém o segmento BD: 𝑣: 𝑥 − 𝑦 = 2 O segmento que representa o deslocamento (representado pela fecha vermelha) possui o mesmo comprimento que o raio da circunferência “c”, já que ele é a parte do raio da circunferência “d” reduzida para formar a circunferência “e”, ambas concêntricas. Podemos imaginar o deslocamento como um vetor e decompor em um deslocamento vertical e outro horizontal, logo: 𝑑𝑡 ² = 𝑑𝑣 ² + 𝑑ℎ ² Tomando o deslocamento vertical como sendo x, e considerando a equação geral da reta, temos: 𝐴𝑥 + 𝐵𝑦 + 𝐶 = 0 Para cada aumento de A vezes na horizontal (x) há um aumento de B vezes na vertical (y), logo: 𝑑ℎ = 𝑥 𝑑𝑣 = 𝐵𝑥 𝐴 E para descobrir x: 𝑑𝑡 ² = 𝑥² 1 + 𝐵² 𝐴² Esses valores informam o deslocamento em vertical ou horizontal sobre um caminho retilíneo, e é notável que um deslocamento vertical apenas soma (ao subir) ou subtrai (ao descer) um valor 𝑑𝑣 no termo isolado (C). Já um deslocamento horizontal soma (para a esquerda) ou subtrai (para a direita) um valor 𝑑𝑥 ∗ 𝐴 no termo isolado (C). Voltando ao exemplo temos que mover a reta “s” sobre a reta “v”, sendo suas equações na forma geral: 𝑠: 𝑥 + 𝑦 − 8 = 0 𝑣: 𝑥 − 𝑦 − 2 = 0 Como o deslocamento ocorre sobre a reta “v” e possui o comprimento de 2, temos: 2 ² = 𝑥² 1 + (−1)² (1)² 𝑥 = 1 ; 𝑑𝑣 = 1 ; 𝑑ℎ = 1 Considerando a reta “s” deslocada para a direita e para cima: 𝑠′: 𝑥 + 𝑦 − 8 – 𝑑𝑥 ∗ 𝐴 − 𝑑𝑣 = 0 𝑠′: 𝑥 + 𝑦 − 10 = 0 E ai a reta que tange as duas circunferências citadas! Um caminho provavelmente mais simples seria após descobrir a reta que tange a circunferência auxiliar e o centro da menor circunferência manter o coeficiente angular (A), substituir na equação de um dos círculos originais, reduzir a equação para duas raízes e eliminar a possibilidade que não tange. Em anexo está um modelo interativo no Geogebra com essa construção.