Biomedicina Profa. Dra. Milena Araújo Tonon Correa Anti-inflamatórios O sistema imune e a resposta inflamatória estão envolvidos na defesa contra os organismos invasores. • Vasodilatação (prostaglandinas, bradicinina, substância P, histamina) levando ao eritema (vermelhidão) • Aumento da permeabilidade vascular levando ao Edema • Recrutamento de leucócitos para os tecidos, migração celular intensa (interleucinas, citocinas, neutrófilos, etc) • Mediadores químicos (prostaglandinas, bradicinina, substância P, histamina) que diminuem o limiar da dor (Dor) • Substâncias pirogênicas (Febre) • Em casos crônicos esses fatores podem alterar as funções dos tecidos (Perda de função) TODO ANTIINFLAMATORIO É ANALGÉSICO E ANTITÉRMICO Analgésicos: Fármacos que, mediante ação no SNC, aliviam a dor sem causar entorpecimento ou perda de consciência. Analgésicos suaves (AINES): eliminam dores moderadas como cefaléias, mialgias, artralgias e outras. Antipiréticos: Fármacos que eliminam ou aliviam os estados febris; não baixam a temperatura normal, mas apenas quando ela está elevada e não eliminam a causa. Antiinflamatórios: Fármacos que aliviam os sintomas das doenças reumáticas: dor e inflamação. Mediadores da inflamação: histamina, serotonina, cininas, despolimerizadores do ácido hialurônico, acetilcolina, epinefrina, prostaglandinas, complexos antígenoanticorpo, enzimas lisossômicas. Efeitos fisiológicos: aumento da permeabilidade vascular (edema, dor) “A FEBRE é um aumento na temperatura corporal devido a um aumento no set point termorregulatório. Porém, ela não é o resultado de uma incapacidade do organismo de regular a temperatura, e sim de regulá-la em um nível mais alto.” Vários constituintes da parede externa de bactérias (Grampositivas e -negativas) são moléculas pirogênicas, ou seja, estimulam o sistema imunológico facilitando o surgimento da febre Bactérias Vírus Fungos Ativação de células do sistema imune Síntese de pirógenos endógenos (interleucina1, -6, TNF-α) Síntese de ciclooxigenase (COX) e prostaglandinas (PGs) Alteração da Temperatura Corporal Muitos estudos têm demonstrado a importância da febre na sobrevida dos pacientes, pois: • aumentam a capacidade das células de defesa de matarem os microorganismos; • diminuem o crescimento e a multiplicação desses patógenos. O tratamento, quando necessário, pode ser feito com anti-inflamatórios não esteroidais (paracetamol, dipirona, diclofenaco, AAS) que são inibidores da enzima ciclooxigenase, catalisadora da síntese de prostaglandinas. DOR Receptores nociceptores são os “apreciadores da dor”. Transmissão da informação através da medula. A passagem da informação da dor para os centros cerebrais são controlados por uma série de neurotransmissores. PG, Histamina, Bradicinina • Os anti-inflamatórios não esteroidais atuam reduzindo a síntese de prostaglandinas pela inibição das enzimas ciclooxigenases (COX -1 e COX-2), diferindo na seleção de ação sobre elas. Exercem efeito analgésico, antitérmico e antinflamatório. • A atividade analgésica é semelhante a do paracetamol. • Agem como sintomáticos, não interferindo no decurso das doenças. • Seu uso deve ser evitado quando o processo inflamatório atue como reparador tecidual ou na defesa do organismo, como em traumas pós-cirúrgicos e em infecções. Prostaglandinas, tromboxanos, prostaciclinas e leucotrienos Estrutura geral São derivados de ácidos graxos de 20 carbonos e apresentando um anel ciclopentano, produzidos nos tecidos de mamíferos a partir de ácidos graxos poliinsaturados. - Têm sido encontradas em todo o corpo. – - Biossíntese de prostaglandinas, prostaciclinas, tromboxanos e leucotrienos: Funções: Prostaglandinas (PGD2, PGE2, PGF2α): - crescimento celular - vasodilatação - relaxamento traqueal, bronquial e da musculatura lisa gastrointestinal estimula o aumento de AMPc - inibição de LTB4, de radicais livres e de IL-1 Prostaciclinas (PGI2): - inibição da agregação plaquetária e da trombogênese - vasodilatador potente - potencializador dos quadros de dor – agente citoprotetor da mucosa gástrica Tromboxanos (TXA2, TXBB2): - agentes vasoconstritores - trombogênico Leucotrienos (HETE, LTB4, LTC4, LTD4, LTE4, LTF4): - agentes quimiotáticos (leucócitos polimorfonucleares) - hipotensivos e broncoconstritores - Cicloxigenase (prostaglandina endoperóxido sintase): COX-1 (constitutiva) e COX-2 (induzida). Fosfolípides de Membrana Estímulos Ácido Araquidônico Fosfolipase A2 Prostaglandina G2 COX-1/2 Prostaglandina H2 PGI2 Sintase Endotélio PGI2 IP TX Sintase Plaquetas TXA2 TP Vasodilatação Vasoconstrição agregação plaquetária agregação citoproteção gástrica plaquetária Isomerases Específicas Mastócitos PGD2 DP Vasodilatação agregação plaquetária PGF2 FP Contração uterina e febre PGE2 EP 1, 2, 3, 4 COX-1 : expressa constitutivamente em todos os tecidos do organismo. É a única isoforma presente em plaquetas, onde leva à formação de TXA2. É encontrada, entre outros tecidos, na mucosa gástrica, onde catalisa a biossíntese de prostaglandinas citoprotetoras, no endotélio vascular e no tecido renal. COX-1 também tem participação em condições patológicas como inflamação. COX-2 tem sua expressão aumentada principalmente durante processos inflamatórios e transformação celular, apesar de ter sido demonstrada sua expressão constitutiva em alguns tecidos do sistema nervoso central e do rim. Inibidores não-seletivos da COXs Derivados do ácido salicílico: sódio, sulfasalazina ácido acetil-salicílico, diflunisal, salicilato de Derivados do paraaminofenol: paracetamol Derivados da Pirazolona: dipirona, antipirina, aminopirina Derivados Indólicos: indometacina, sulindaco, etodolaco, ácidos heteroaril acéticos,tolmetina, cetorolaco Derivados propiônicos: ibuprofeno, naproxeno, cetoprofeno, fenoprofeno, flurbiprofeno Derivado do ácido fenilacético: diclofenaco Ácidos enólicos: piroxicam (feldene), meloxicam Fenamatos: derivados do (Ponstan), meclofenamato ácido N-fenil-Antranílico: ácido mefenâmico INIBIDORES SELETIVOS DA COX-2 Furanonas diaril-substituídas :Rofecoxib Pirazóis diaril substituídos: Celecoxib Sulfonanilidas: Nimesulida INIBIDORES SELETIVOS DA COX-2 Este grupo de medicamentos carece de um grupo carboxílico presente na maioria dos AINEs e, por isso, são capazes de orientar-se na enzima COX-2 de maneira seletiva, que difere daquela dos outros antinflamatórios. Câmara Técnica de Medicamentos – CATEME Riscos e benefícios dos inibidores seletivos de COX-2: recomendações da Câmara Técnica de Medicamentos (CATEME) Em 30 de novembro e 1° de dezembro de 2004, durante a 27ª reunião ordinária da Câmara Técnica de Medicamentos (CATEME), foi feita apresentação e discussão sobre o rofecoxibe e demais coxibes inibidores seletivos de COX-2, tema que foi incluído na pauta em função da então recente retirada do mercado, em nível mundial, do VIOXX® (rofecoxibe), e da preocupação com a segurança de outros medicamentos do mesmo grupo, já comercializados ou em via de comercialização no Brasil. Desta reunião saiu a versão preliminar de um documento, o qual foi revisado e ampliado na 28ª reunião ordinária daquela Câmara, realizada em 15 e 16 de fevereiro de 2005. Esse documento é aqui resumido, e deve subsidiar as decisões da Anvisa a respeito dos medicamentos dessa classe atualmente registrados no país, ou que aqui estejam sendo utilizados em pesquisas clínicas. A CATEME considerou que existem evidências de eficácia dos coxibes como analgésicos e/ou antinflamatórios para diversas indicações aprovadas no Brasil para os seguintes produtos: Princípio ativo Nome comercial Fabricante Celecoxibe CELEBRA® Pfizer Etoricoxibe ARCOXIA® Merck Sharp & Dohme Lumiracoxibe PREXIGE® Novartis Parecoxibe BEXTRA IM/IV® Pfizer Rofecoxibe* VIOXX® Merck Sharp & Dohme BEXTRA® Pfizer Valdecoxibe *Registro cancelado. Em 2000, foi publicado o primeiro estudo a apontar os riscos, que o fez ao comparar rofecoxib a naproxeno. Seguiram a ele diversas publicações com resultados controversos sobre o potencial risco cardiovascular do rofecoxib e da classe de inibidores específicos de COX-2, até que o medicamento foi retirado de circulação, em setembro de 2004. Vioxx Gastrintestinal Outcomes Research indicou elevação significativa de 3,9 na incidência de efeitos tromboembólicos adversos no grupo recebendo rofecoxib, comparado ao grupo recebendo placebo. Em seguida, foi também detectado aumento significativo do risco de evento adverso cardiovascular com o uso de celecoxib comparado ao placebo. Síndrome de Reye é caracterizada por encefalopatia e dano hepático (aumento da pressão do cérebro e acúmulo de gordura no fígado) Doença viral + salicilatos (principalmente aspirina) http://www.reyessyndrome.org/what.html Aspirina Inibição irreversível das COX-1 e COX-2 Acetilação da serina 530 Mais antigo, menos oneroso e mais estudado. Efeito analgésico semelhante ao paracetamol. Efeito antinflamatório menor que os demais (precisa de dose maior). Não deve ser utilizado em menores de 16 anos devido à sindrome de Reye. Por que não é indicado o uso de antinflamatórios em casos de dengue? A inibição de PG é responsável por seus principais efeitos colaterais: gastrite, disfunção plaquetária, comprometimento renal e broncopespasmo. O efeito antitrombótico ocorre pelo bloqueio da COX-1, inibindo a produção do TX e ocasionando o predomínio da atividade de prostaciclina endotelial. Efeitos colaterais bloqueadores não seletivos: Ulcerações Gastrointestinais/Intolerancia Bloqueio da agregação plaquetária (dengue) Inibição da motilidade uterina (prolongamento da gestação Inibição da função renal mediada por PGs Reações de hipersensibilidade (Asma) Sindrome de Reye aspirina + virus (influenza, catapora) : encefalopatia, lesão hepática http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/dengue_manejo_clinico_2006.pdf São as prostaglandinas que favorecem a produção de muco e bicarbonato na mucosa gastroduodenal. Com as defesas diminuídas, o tubo digestivo fica vulnerável à ação do ácido clorídrico e da pepsina (substâncias produzidas pelo estômago para auxiliar na digestão dos alimentos), que agem agressivamente, provocando lesões como gastrite e úlcera. SECREÇÃO ÁCIDA GÁSTRICA Dipirona sódica é largamente empregada no Brasil no tratamento de dor pós-operatória, cólica renal, dor oncológica e enxaqueca, bem como de febre. Tendo igual eficácia e menor segurança do que outros analgésicos, considera-se que não há razão para seu emprego. Haveria indicação apenas para tratamento de febre intensa, não controlada por outras intervenções ou em pacientes e não toleram outros antitérmico Paracetamol é agente de primeira escolha, por sua eficácia e maior segurança nas doses recomendadas. Além disso, pode ser combinado a analgésico opióide, como codeína, para obter aumento de efeito. Apesar de ser equivalente a ácido acetilsalicílico, prefere-se em pacientes com possibilidade de efeitos adversos de salicilatos e em crianças com infecções virais. Pode ser prescrito a crianças, grávidas e idosos. Em puérperas, é o analgésico não-opioide mais indicado, por não acarretar efeitos indesejáveis ao lactente. Recentemente foi descoberta uma variante do gene da COX-1, descrito como COX-3. Essa parece ser expressa em altos níveis no sistema nervoso central e pode ser encontrada também no coração e na aorta. Essa enzima é seletivamente inibida por drogas analgésicas e antipiréticas, como paracetamol e dipirona, e é pontencialmente inibida por alguns AINEs. Essa inibição pode representar um mecanismo primário central pelo qual essas drogas diminuem a dor e possivelmente a febre. A relevância dessa isoforma ainda não está clara. Anti-inflamatórios esteroidais GLICOCORTICÓIDES Hormônios esteroidais: Hormônios sexuais e Hormônios do Córtex da Adrenal. Adrenocorticosteróides glicocorticóides (cortisol) ; Mineralocorticóides (aldosterona); e Andrógenos Adrenais O cortisol ou hidrocortisona é o principal GC natural circulante no ser humano. Sua síntese é regulada pelo hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), secretado pela hipófise anterior em resposta à liberação, pelo hipotálamo, do neuropeptídeo corticotrofina (CRH). denominado fator liberador de A utilização de corticosteroides por longo prazo causa supressão da atividade da glândula suprarrenal, que pode persistir por anos depois da interrupção do tratamento. A retirada abrupta subsequente ao uso por um período prolongado pode provocar insuficiência suprarrenal aguda, hipotensão ou até óbito. Outros sinais e sintomas possíveis são febre, mialgia, artralgia, rinite, conjuntivite, nódulos cutâneos dolorosos e pruriginosos e perda de peso. APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS • Doenças autoimunes • Transplante de órgãos/tecidos • Inflamação crônica • Reações de hipersensibilidade Corticosteroides Prednisolona Dexametasona Hidrocortisona USOS CLÍNICOS DOS GLICOCORTICOIDES São utilizados para reduzir os sinais e sintomas de reações inflamatórias indesejadas; Como os AINES, são fármacos de efeitos paliativos e não curativos. Lembrar sempre: são fármacos imunossupressores Usos Clínicos dos glicocorticoides •Psoríase, Pênfigo, • asma, bronquite crônica (inalação ou sistemicamente) • eczema, rinites, conjuntivites alérgicas • hipersensibilidades (e.g. respostas alergicas severas a drogas ou venenos de insetos • Doenças autoimunes / inflamatórias (e.g. reumatóide; Lupus eritematoso) • enxertos de tecidos transplantes de órgãos • Reposição na falência adrenal (Síndrome de Addison) artrite - Efeitos Metabólicos: • Possuem importantes efeitos relacionados com a dose sobre o metabolismo dos carboidratos, das proteínas e dos lipídios. • Os glicocorticóides são necessários para a gliconeogênese e a estimulam em jejum ou na presença de diabetes. • No fígado, aumentam a deposição de glicogênio: a) estimulam a atividade da glicogênio sintase. b) aumentam a produção de glicose a partir de proteínas (consequentemente, ↑ liberação de insulina). • Inibem a captação de glicose pelas células adiposas, resultando em aumento da lipólise ( ↑ secreção insulina → estimula a lipogênese, com consequente ↑ deposição de gorduras). Mecanismo de ação Agem sobre os mediadores inflamatórios: diminuição na produção e ação das citocinas, diminuição da produção de prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos, diminuição da produção de IgG, diminuição dos componentes do complemento no sangue. Menor produção de histamina. O glicocorticóide cruza a membrana citoplamática por difusão passiva, se liga ao receptor intracelular que sofre, então, uma mudança conformacional expondo o domínio de ligação com o DNA. Em seguida, o complexo GC-receptor forma dímeros, migra para o núcleo e se liga ao DNA. Ocorre então a repressão e a indução de genes específicos responsáveis pela síntese de proteínas envolvidas na inflamação (COX-2, citocinas, NOS, lipocortina-1) Inibição da transcrição de genes para: • COX-2 • citocinas, quimiocinas • moléculas de adesão celular • isoforma induzível da NO sintase • PLA2 Indução de genes: lipocortina-1/anexina-1; - ao contrário, feedback negativo no eixo HPA - síntese de endonucleases: linfócitos e eosinófilos apoptose em Efeitos antinflamatórios e imunossupressores • Inibem as fases inicial e tardia de todos tipos de resposta inflamatória: • inicial: eritema, calor, dor, edema • tardia: cicatrização e reparo; reações proliferativas da inflamação crônica • Rejeição de enxertos tratamento é mais efetivo quando iniciado antes (menor efeito na resposta já estabelecida) Potencia Relativa e doses equivalentes de glicocorticóides Composto Potencia Anti- Potencia de inflamatória retenção de Dose equivalente Na+ Cortisol 1 1 20 0.8 0.8 25 Prednisona 4 0.8 5 Prednisolona 4 0.8 5 6-metilprednisolona 5 0.5 4 Triamcinolona 5 0 4 Betametasona 25 0 0.75 Dexametasona 25 0 0.75 Cortisona Analgésicos O tratamento da dor segue as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS), com ajustes necessários conforme cada caso clínico. Após protocolos de avaliação e reavaliação da dor de acordo com as escalas de mensuração adequadas para cada paciente, inicia-se o tratamento medicamentoso. A Escada Analgésica da OMS sugere a organização e padronização do tratamento analgésico da dor baseado em uma escada de três degraus de acordo com a intensidade de dor que o paciente apresenta.