FÁRMACIA VERDE - ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO DE PACIENTES USUÁRIOS DE PLANTAS MEDICINAIS NA FARMÁCIA ESCOLA DE MANIPULAÇÃO – UNIARP. ESTUDO DE PORTADORES DE INSÔNIA CRÔNICA UTILIZANDO INFUSÃO AQUOSA DE Melissa officinalis e Cymbopogon citratus Jéssica da Silva Oliveira¹ Laira Katie Wagner² Talize Foppa³ Talita Regina Granemann Nunes4 Vilmair Zancanaro5 RESUMO A população de países mais pobres utiliza plantas medicinais por tradição e ausência de alternativas econômicas viáveis. O Brasil apresenta-se com um grande potencial para pesquisa na área de plantas medicinais, porém devido aos poucos estudos na área somente pequena porcentagem tem suas propriedades terapêuticas exploradas. A utilização de plantas medicinais no tratamento da insônia crônica visa desestimular práticas ineficazes ou prejudiciais á saúde do usuário. A insônia pode ser entendida como a dificuldade em iniciar ou manter o sono, comprometendo o bom desempenho das atividades diurnas. O sono é um estado fisiológico cíclico com 5 estágios. Fatores como luminosidade e o calor do dia, a escuridão e a redução da temperatura ambiental à noite, entre outros são elementos que nos condicionam a manter um ritmo de atividade alternada com repouso e intercalada com funções de ingestão e eliminação, dentro do ciclo circadiano. O presente estudo realizou o acompanhamento farmacoterapêutico de 14 pacientes portadores de insônia crônica residentes no município de Caçador – SC. Os pacientes passaram por anamnese e foram avaliados através da Escala de Pittsburgh, sendo os resultados compilados em gráficos e tabelas. Os pacientes foram divididos em dois grupos, um destes tratado com infusão aquosa de Melissa officinalis e o outro com infusão aquosa de Cymbopogon citratus. Ao término do acompanhamento os pacientes responderam novamente a Escala de Pittsburgh apresentando melhora na qualidade do sono, sensação de relaxamento, diminuição do tempo para iniciar o sono e maior duração de horas dormidas. Palavras-chave: Sono, Melissa officinalis, Cymbopogon citratus 1 Jéssica da Silva Oliveira - Acadêmica do Curso de Farmácia, Universidade Alto Vale do Rio do Peixe – UNIARP - Caçador/SC CEP: 89500-000 e-mail: [email protected] 2 Laira Katie Wagner - Acadêmica do Curso de Farmácia, Universidade Alto Vale do Rio do Peixe – UNIARP - Caçador/SC CEP: 89500-000 e-mail:[email protected] 3 Talize Foppa - Mestre em fármacos e medicamentos, docente/UNIARP, Caçador /SC. Rua Victor Baptista Adami, 800 UNIARP – Caçador. Fone: 3561-62000 ramal: 6280, e-mail: [email protected] 4 Talita Regina Granemann Nunes – Farmacêutica na Farmácia Escola, docente/UNIARP. Rua Vitor Batista Adami, 800 UNIARP – Caçador. Fone 3561-6200, e-mail: [email protected] 5 Vilmair Zancanaro – – Farmacêutica na Farmácia Escola, docente/UNIARP. Rua Vitor Batista Adami, 800 UNIARP – Caçador. Fone 3561-6200, e-mail: [email protected] ABSTRACT The population of the poorest countries uses medicinal plants by tradition and lack of viable economic alternatives. Brazil presents itself with a great potential for research in medicinal plants, but due to the few studies in only a small percentage have explored their therapeutic properties . The use of medicinal plants in the treatment of chronic insomnia aims to discourage ineffective or injurious to health of the user. Insomnia can be understood as difficulty initiating or maintaining sleep, jeopardizing the good performance of the daytime activities. Sleep is a cyclic 5- stages physiological state. Factors such as heat and light of day, dark and reducing environmental temperature at night, are among other factors affecting the rate to maintain an alternating with rest and activity interspersed with intake and output functions within the circadian cycle. The present study demonstrated the biweekly pharmacotherapeutic monitoring conducted during four months in 14 patients with chronic insomnia selected in the county of Hunter - SC. Patients underwent clinical history and were assessed using the Scale of Pittsburgh, and the results are compiled in tables and graphs. The patients were divided into two groups; one treated with aqueous infusion these Melissa officinalis and the other with aqueous infusion of Cymbopogon citratus. At the end of monitoring patients responded again to Pittsburgh Scale showed improvement in sleep quality, feeling of relaxation, decreased time to fall asleep and longer hours slept . Key words: Sleep, Melissa officinalis , Cymbopogon citratus INTRODUÇÃO O Brasil é o país com a maior biodiversidade genética vegetal do mundo, contando com mais de 55 mil espécies catalogadas de um total estimado entre 350 e 550 mil. Apesar de grande parte desta biodiversidade vegetal ter alguma propriedade útil á população, seja medicinal ou não, segundo a opinião de muitos autores, menos de 1% das espécies com potencial foi objeto de estudos adequados (CARVALHO & ALMANÇA, 2003). Se a população dos países mais pobres utiliza as plantas medicinais por tradição e ausência de alternativas econômicas viáveis, nos países mais desenvolvidos observa-se um maior uso de fitomedicamentos influenciado pelos modismos de consumo de produtos naturais. Este modismo favoreceu a difusão das promessas de cura através das plantas medicinais para males como a impotência, a ansiedade e a obesidade, algumas vezes em um único extrato. Em decorrência da disseminação do uso de produtos naturais surgiu o conceito de que as plantas medicinais não representam riscos para a saúde humana uma vez que são naturais e foram testadas através de séculos de utilização pelas populações, algo que deve ser avaliado com cautela, já que as plantas medicinais e seus subprodutos não são destituídos de ação farmacológica (VEIGA JR et al., 2008). O preparo de fitoterápicos necessita de trabalho multidisciplinar com objetivo de promover a seleção correta da espécie vegetal, cultivo adequado, avaliação e determinação dos teores dos princípios ativos entre outros parâmetros para que se possa obter um produto com qualidade e eficácia terapêutica para aplicação na clínica médica (CAMARGO, 1998). Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada no. 48/2004 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, fitoterápicos são medicamentos preparados exclusivamente com plantas ou partes de plantas medicinais (raízes, cascas, folhas, flores, frutos ou sementes), que possuem propriedades reconhecidas de cura, prevenção, diagnóstico ou tratamento sintomático de doenças, validadas em estudos etnofarmacológicos, documentações tecnocientíficas ou ensaios clínicos de fase 3. A utilização de plantas medicinais vem sendo recomendada internacionalmente pela OMS como forma de apoio à implantação de políticas farmacêuticas públicas de baixo custo, segurança e eficácia garantida (OGAVA et al., 2003). O papel do farmacêutico no acompanhamento do uso de plantas medicinais e fitoterápicos é de grande importância, sendo este profissional habilitado para orientar sobre as indicações corretas, além de ter um amplo conhecimento sobre outras classes terapêuticas que os pacientes por ventura utilizam juntamente com as plantas medicinais e/ou fitoterápicos. Este tipo de acompanhamento é realizado em diversas patologias, dentre elas a insônia. Para isso, é necessário que o profissional tenha conhecimento da fisiologia do sono e seus interferentes. Pensando nisso criou-se a FARMÁCIA VERDE uma parceria do curso de Farmácia e curso de Agronomia da UNIARP juntamente com a prefeitura municipal de Caçador. A implantação da horta de plantas medicinais em Caçador/SC foi iniciada através de um convênio entre a Universidade Alto vale do Rio do Peixe (UNIARP) e a Prefeitura Municipal de Caçador/SC em 2012, baseando-se prioritariamente nas espécies de plantas medicinais dotadas de ação farmacológica listadas e publicadas pelo Ministério da Saúde (2006) através do documento “A Fitoterapia no SUS e o Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais da Central de Medicamentos”, bem como na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse do SUS (RENISUS, 2009). Até o momento doze espécies de plantas medicinais são cultivadas nesta horta de plantas medicinais: Chamomilla recutita (Camomila), Equisetum arvense (cavalinha), Foeniculum vulgare (funcho), Rosmarinus officinalis (alecrim), Malva sylvestris (malva), Maytenus ilicifolia (espinheira santa), Mentha piperita (hortelã), Melissa officinalis (erva – cidreira ou melissa), Pimpinella anisum (erva doce ou anis), Plantago major (tanchagem), Zingiber officinale (gengibre) e Achillea millefolium (mil folhas). A utilização de plantas medicinais junto ao acompanhamento farmacêutico visa desestimular as práticas ineficazes ou prejudiciais à saúde ou ao bem-estar do usuário, a partir de estudos na literatura ou do emprego nas práticas caseiras com identificação botânica e investigação experimental, considerando a comprovação de sua eficácia e segurança terapêuticas. Visa também desenvolver programas que permitam estimular o uso correto das plantas selecionadas, através de seu cultivo e ampla distribuição, tendo como objetivo preservar as plantas medicinais (MATOS, 2002). Essas ações pretendem, além da redução nos gastos com medicamentos, proporcionar maior adesão ao tratamento, valorização da cultura popular além de contribuir para a validação científica das espécies brasileiras estimulando a pesquisa e manejo da biodiversidade vegetal. O trabalho que vem sendo feito junto a Farmácia Verde/Farmácia escola traz resultados de um acompanhamento farmacoterapêutico de um grupo de pacientes que possuíam queixa de insônia e que foram acompanhados ao utilizar infusões aquosas de Melissa Oficinallis e Cymbopogun Citrattus. A insônia popularmente é conhecida como uma queixa de sono, sendo descrita pela Sociedade Brasileira de Sono, como dificuldade em iniciar e/ou manter o sono, presença de sono não reparador, ou seja, insuficiente para manter uma boa qualidade de alerta e bem-estar físico e mental durante o dia, com o comprometimento consequente do desempenho nas atividades diurnas. Apresenta-se uma prevalência de cerca de 30 a 35% da população, na qual a maior predominância ocorre entre mulheres. Também, observa-se piora do problema com o aumento da idade (ROBAINA et al., 2009). O transtorno do sono, hoje, é reconhecido pela OMS como um problema de saúde pública devido ao impacto negativo á saúde física e mental, atividade social, capacidade para o trabalho e qualidade de vida dos indivíduos. No entanto, este tema não tem recebido a devida atenção dos profissionais da área da saúde e os próprios insones, na maioria dos casos, não procuram ajuda profissional qualificada (ROBAINA et al., 2009). É importante para o tratamento da insônia a separação entre casos primários e secundários, a identificação dos fatores predisponentes, precipitantes e perpetuantes, e a indicação da melhor terapêutica em um determinado momento. As opções terapêuticas disponíveis do sintoma da insônia apresentadas são: tratamento não farmacológico, tratamento farmacológico e a combinação de ambos (POYARES et al., 2003). A utilização de plantas medicinais no tratamento da insônia crônica visa desestimular as práticas ineficazes ou prejudiciais à saúde ou ao bem-estar do usuário, a partir de estudos na literatura ou do emprego nas práticas caseiras com identificação botânica e investigação experimental, considerando a comprovação de sua eficácia e segurança terapêuticas (MATOS, 2002). A espécie Cymbopogon citratus, originária da Índia é vulgarmente conhecida no Brasil como capim-cidró, capim-limão, capim-cheiroso, erva-cidreira e capimcidreira. A medicina popular utiliza o chá, preparado a partir de suas folhas (FRATINI et al., 2001). É amplamente utilizada para fins medicinais, sobretudo na forma de chá e tem o uso e aplicação nas indústrias farmacêuticas, alimentícias, de cosméticos e perfumaria, devido ao óleo essencial, cujo principal componente é o citral, uma mistura dos isômeros neral (cis-citral) e geranial (trans-citral). Com o uso das folhas já foram constatadas atividades sedativa, depressora do sistema nervoso central, analgésica, antimicrobiana e fungistática (MARTINAZZO; 2006). A melissa (Melissa officinalis L.), também chamada de erva-cidreira-verdadeira, pertencente à família Lamiaceae, é perene, arbustiva, podendo atingir de 30 a 100 cm de altura, caule quadrangular, herbáceo, ereto, piloso e aromático, ramificando-se a partir da base formando touceiras. As folhas são verde-escuras na parte superior e verde-clara na parte inferior, com 5 a 8 cm de comprimento, são pecioladas, opostas, ovais, pilosas e com nervuras bem salientes. As flores, quando surgem são brancas ou amareladas, reunidas em fascículos de 2 a 6. A planta possui atividade sedativa, tendo um papel importante no controle das emoções. É tranquilizante e também indutora do sono. O citral, seu constituinte majoritário, é responsável pela ação relaxante (BLANK et al., 2005). Há uma quantidade reduzida de estudos voltados a atividade da Melissa officinalis e Cymbopogon citratus na modulação do sono, desta forma o objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade do sono antes e após 4 meses fazendo uso da infusão aquosa destas plantas. Além disso, comparar os resultados obtidos. METODOLOGIA Foram selecionados, no município de Caçador – SC, pacientes apresentando sintomas de insônia. Após a concordância através da assinatura da ficha de consentimento foi realizada uma entrevista baseada na Escala de Avaliação do Sono de Pittsburgh (POYARES et al., 2003). O acompanhamento foi realizado na Farmácia escola da UNIARP onde o paciente foi submetido no primeiro encontro à anamnese e em seguida os retornos às consultas a cada 15 dias. (TARQUINO et al., 2011) Para a preparação do chá os participantes voluntários da pesquisa foram orientados a utiliza 2 gramas de folhas secas deixadas por 10 minutos em infusão em uma xícara (coberta) contendo 150 ml de água fervente. Este chá foi ingerido aproximadamente 1 hora antes da hora de dormir. (BOSTON HEALING LANDSCAPE PROJECT, 2013) ou 3 colheres de chá de folhas secas em 1 xícara de água (TESKE & TRENTINI, 2001). As folhas desidratadas e embaladas (em pacotes de 20 gramas cada) de Melissa officinalis eCymbopogon citratus para a preparação do chá foram fornecidas pelos pesquisadores aos participantes da pesquisa na Farmácia Escola da UNIARP, provenientes do cultivo na horta de plantas medicinais da UNIARP/ Prefeitura de Caçador/SC. Os resultados foram compilados e apresentados em gráficos ou tabelas de acordo com os parâmetros avaliados, sendo que os resultados finais foram comparados com os resultados prévios para cada parâmetro analisado, em relação ao efeito do chá de Melissa officinalis e Cymbopogon citratus na insônia. O projeto foi submetido ao comitê de ética em pesquisa com seres humanos da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe – UNIARP. Todos os voluntários participantes de qualquer etapa do projeto assinaram um termo de consentimento livre esclarecido o qual continha todas as orientações necessárias. Este estudo foi realizado com 14 pessoas voluntárias, do sexo masculino ou feminino, maiores de 18 anos que apresentaram problemas de insônia, e desejaram participar como voluntários neste estudo. Os critérios de exclusão deste estudo foram idade inferior a 18 anos, gestação, ser portador de alguma doença crônica que contraindique a utilização dos chás de melissa e capim-limão, uso de algum medicamento que apresentasse interação medicamentosa de relevância clínica com as plantas Melissa officinalis eCymbopogon citratus RESULTADOS E DISCUSSÕES Inicialmente os participantes voluntários da pesquisa foram avaliados quanto aos seus hábitos de sono, diagnóstico de doenças crônicas, uso de medicamentos, rotina diária, alimentação e índice de massa corporal. A cada 15 dias os participantes foram contatados por telefone ou visita domiciliar para avaliar a efetividade da utilização da infusão, assim como se o voluntário observou algum efeito adverso quanto ao uso do chá. A Escala de Avaliação do Sono de Pittsburgh foi elaborada em 1989 por Buysse DJ. Desde a sua elaboração a Escala tem sido amplamente utilizada para medir a qualidade de sono em diferentes grupos de pacientes, por exemplo, nos pacientes com doença renal crônica, diabéticos, doença de Parkinson, além daqueles com transtornos psiquiátricos ou do sono. Esta escala foi validada para uso em diversos países, podendo-se encontrar versões em espanhol, chinês, japonês, holandês, alemão, francês e português (BERTOLAZI, 2008). O tratamento de cada participante voluntário com o chá teve a duração de 4 meses, sendo que os voluntários poderiam recusar-se a continuar participando da pesquisa em qualquer momento, direito assegurado no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). De acordo com a literatura os efeitos cientificamente comprovados da Melissa officinalis são: antioxidante, sedativo, anti-inflamatório intestinal, hepatoprotetor, digestivo, antibacteriano, antifúngico, antiviral, anti-histamínico, redutor da motilidade gastrointestinal, redutor do colesterol, redutor do estresse e da agitação e eficácia no controle da demência em casos leves a moderados de Alzheimer (GUGINSKI, 2007). Sabe-se que, ao menos parte das ações da planta ocorre devido às suas atividades sobre o sistema colinérgico. O extrato tem forte ação ativadora sobre os receptores nicotínicos e muscarínicos do SNC, além de uma fraca atividade inibitória sobre a acetilcolinesterase (GUGINSKI, 2007). As espécies da família Lamiaceae são amplamente utilizadas pela população em geral como a M. officinalis que, além de possuir óleos essenciais, apresenta cerca de 0,5 % compostos fenólicos em folhas, como glicosídeos de luteolina, quercetina, ácido caféico e ácido rosmarínico, sendo utilizados como antioxidantes, antiespasmódicos e nos distúrbios gastrintestinais e do sono (MÜZELL, 2006). A figura 1mostra a diferença entre as horas de sono dos voluntários antes e após utilizar a infusão aquosa de Melissa officinalis. Figura 1 – Comparação da quantidade de horas de sono dos pacientes que utilizaram infusão aquosa de Melissa officinalis antes e após 4 meses de tratamento. 10 Horas 8 6 Horas de sono, antes do tratamento 4 Horas de sono, depois do tratamento 2 0 19 11 12 14 15 13 18 Pacientes A figura 1 mostra que 86% dos pacientes tratados com infusão aquosa de Melissa officinalis apresentaram aumento nas horas de sono após o tratamento de quatro meses, 14% dos pacientes mantiveram as mesmas de horas de sono. O relato dos pacientes sugere que os mesmos sentiram-se mais relaxados, com uma redução do tempo que utilizavam para iniciar o sono, conforme demonstrado na figura 2. Figura 2 - Comparativo da quantidade de tempo em minutos até adormecer dos pacientes tratados com Melissa officinalis antes e após 4 meses de uso da infusão Minutos aquosa. 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Tempo que levava para pegar no sono, antes do tratamento Tempo que levou para pegar no sono, depois do tratamento 19 11 12 14 15 Pacientes 13 18 Conforme demonstrado na figura 02 todos os pacientes relataram adormecer mais cedo após o tratamento com Melissa officinalis. Reduzindo em até 2 horas e meia para o início do sono. A tabela1 apresenta alguns dados relevantes da Escala de Pittsburgh aplicada aos pacientes portadores de insônia crônica antes e após o tratamento de 4 meses utilizando infusão Melissa officinalis. Tabela 1 – Dados de relevância extraídos da Escala de Pittsburgh para avaliação da qualidade do sono respondidos pelos pacientes tratados com infusão aquosa de Melissa officinalis. Não acorda Nº do durante a paciente noite 19 X 11 X 12 X 14 15 X 13 18 X Acorda menos durante a noite X X Adormeceu mais cedo X X X X X X X Acorda mais disposto X X X X X X Qualidade do sono antes do tratamento Boa Ruim Ruim Muito Ruim Ruim Ruim Ruim Qualidade do sono após 4 meses de tratamento Muito Boa Boa Muito Boa Boa Muito Boa Boa Muito Boa Os dados demonstram que grande parte dos pacientes usuários da infusão aquosa de Melissa oficinallis tiveram resultados positivos na melhora da qualidade do sono. Podemos citar o paciente nº11, 42 anos, feminino, portadora de ansiedade e insônia crônica. Fazia uso diário de Peridal® 10mg (1 vez ao dia), lanzoprazol 40mg(1 vez pela manhã) e hemitartarato de zolpiden 10mg (1 vez a noite). Apresentava como queixa a demora de 3 a 4 horas para dormir, acordando várias vezes durante a noite. Iniciou o acompanhamento utilizando a Melissa officinalis com objetivo de não necessitar administrar o hemitartarato de zolpiden para dormir. Avaliava a qualidade do sono como “RUIM”, tendo cerca de 5 horas de sono por noite. Nos primeiros 15 dias observou melhora na qualidade do sono, sentindo-se mais relaxada e adormecendo mais cedo, porém permanecia despertando ao longo da noite. Após um mês a paciente relatou tomar apenas ¼ do medicamento, e não estava mais despertando durante a noite. Passou a avaliar a qualidade do sono como “BOA”. Decorridos dois meses de uso, a paciente relatou diminuição da ansiedade e redução de peso. Manteve ¼ do medicamento. Ao término do acompanhamento relatou ter 8 horas de sono. O segundo grupo de pacientes utilizou o Cymbopogon citratus conhecido popularmente como capim-limão ou capim-cidrão. O capim-cidrão foi indicado como medicamento para “males psiconeurológicos” por 201 entre 479 mulheres que frequentam centros de saúde de São Paulo, sendo a planta mais utilizada para esta finalidade. No Estado do Paraná, o capim-limão também destaca-se em vários estudos etnobotânicos como sedativo.(GOMES; NEGRELLE, 2003) O Cymbopogon citratus possui como atividades farmacológicas ser antihipertensivo, antiespasmódico, antiasmático, antisséptico, antiparasitário, antitérmico, antirreumático, miorrelaxante e repelente para insetos (SILVA, 2009). Devido seu efeito sedativo, observou-se um aumento nas horas de sono dos pacientes que fizeram uso da infusão aquosa de Cymbopogon citratus no período de quatro meses, conforme figura 3. Figura 3 – Comparação da quantidade de horas de sono dos pacientes que utilizaram Horas infusão aquosa de Cymbopogon citratus antes e após 4 meses de tratamento. 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Horas de sono, antes do tratamento Horas de sono, depois do tratamento 2 5 6 7 8 9 20 Pacientes Todos os pacientes apresentaram aumento nas horas de sono após o tratamento de quatro meses, com aumento de duas horas a mais quando comparados ao início do tratamento. Além de aumentar o número de horas de sono, a infusão aquosa de Cymbopogoon citratus apresentou resultados benéficos quanto a redução do tempo que os pacientes demoravam para dormir a pertir do momento que se deitavam, conforme apresentado na figura 4 Figura 4 - Comparativo da quantidade de tempo em minutos até adormecer dos pacientes tratados com Cymbopogon citratus antes e após 4 meses de uso da infusão aquosa. 120 Minutos 100 80 Tempo que levava para pegar no sono, antes do tratamento 60 40 Tempo que levou a pegar no sono, depois do tratamento 20 0 2 5 6 7 8 9 20 Pacientes Supõe-se que pela atividade miorrelaxante do Cymbopogoon citratus os pacientes tratados com a infusão aquosa desta planta tenham conseguido reduzir em ate 1 hora e 30 minutos o tempo que levavam para dormir. (SILVA, 2009) A tabela 2 foi elaborada com base nos principais dados extraídos da Escala de Pittsburgh, apresentando critérios de avaliação com respostas dos pacientes quanto a qualidade do sono antes e após o tratamento. Tabela 2 – Dados de relevância extraídos da Escala de Pittsburgh para avaliação da qualidade de sono respondidos pelos pacientes tratados com infusão aquosa de Cymbopogon citratus. Não acorda Nº do durante a paciente noite 2 5 6 7 8 9 20 Acorda menos durante a noite X X X X X X X Qualidade do Qualidade do sono Adormeceu Acorda mais sono antes do após 4 meses de mais cedo disposto tratamento tratamento X X X X X X X X X X X X X Ruim Ruim Ruim Ruim Boa Muito Ruim Muito Ruim Muito Boa Boa Boa Boa Muito Boa Boa Boa A tabela 2 mostra que os pacientes usuários da infusão aquosa de Cymbopogoon citratus apresentaram melhora na qualidade do sono. Um exemplo é observado no paciente nº 9, masculino, 47 anos, portador de insônia crônica e enxaqueca. Costumava tomar diariamente chimarrão ao longo do dia. Levava em torno de 2 horas para dormir. Não fazia uso de medicamentos e avaliava a qualidade do sono como “MUITO RUIM”. Após 15 dias relatou diminuição no tempo para início do sono, porém ainda acordava durante a noite. Foi orientado a diminuir a ingestão de chimarrão no período da noite, pelo fato do mesmo contribuir para o estado de vigília. Após 30 dias, os efeitos permaneceram benéficos. Ao término do tratamento, observou diminuição no tempo para dormir, acordando menos durante a noite, despertando pela manhã mais disposto, passando a avaliar a qualidade do sono como “BOA”. Os dados apresentados mostram que 71,42% dos pacientes tratados com Melissa officinalis apresentaram melhora na manutenção do sono, sem despertar durante a noite. Pode-se supor que o resultado foi melhor comparado aos pacientes tratados com infusão aquosa de Cymbopogon citratus, onde 42,85% dos pacientes não voltaram a despertar no período da noite. Quando questionados quanto a qualidade do sono dos 7 pacientes que utilizavam Melissa officinalis, 5 avaliavam o sono antes do tratamento como “RUIM”, 1 como “MUITO RUIM” e 1 como “BOA”. Após os 4 meses de acompanhamento 4 pacientes descreveram a qualidade do sono como “MUITO BOA”, e 3 como “BOA”. Enquanto o grupo que utilizou Cymbopogon citratus 4 pacientes relataram ter o sono antes do tratamento como “RUIM”, 2 “MUITO RUIM” e 1 “BOA”. Após os 4 meses de acompanhamento 2 pacientes avaliaram a qualidade do sono como “MUITO BOA”e 5 como “BOA”. CONCLUSÕES O tratamento realizado em 14 pacientes portadores de insônia crônica utilizando a infusão aquosa de Melissa officinalis e Cymbopogon citratus teve duração de quatro meses. Com a avaliação quinzenal dos pacientes foi possível chegar aos resultados positivos, visto que ambos os grupos demonstraram melhora quando se compara aos dados explicitados no início do tratamento. No início do tratamento 71,42% dos pacientes tratados com a infusão aquosa de Melissa officinalis e 57,14% dos pacientes tratados com infusão aquosa de Cymbopogoon citratus classificavam o sono como “RUIM” quando avaliados pela Escala de Pittsburgh no início do tratamento. Conforme a avaliação pela mesma escala respondidos pelos voluntários decorridos os quatro meses de tratamento, 57,14% dos pacientes tratados com Melissa officinalis e 28,57% dos tratados com Cymbopogoon citratus escolheram o critério “MUITO BOA” para descrever a qualidade do sono. Levando-se em consideração os critérios “RUIM” e “MUITO BOA” para descrever a qualidade do sono sugere-se que a infusão de Melissa officinalis demonstrou-se mais efetiva que a de Cympopogoon citratus, sendo necessário maiores estudos para tal confirmação. REFERÊNCIAS BERTOLAZI, N.A. 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