Micro e Pequeno Empresário e o cenário do emprego Junho - 2016 MICRO E PEQUENO EMPRESÁRIO DE VAREJO E SERVIÇOS – PANORAMA PARA O MERCADO DE TRABALHO Desde o último ano, o mercado de trabalho brasileiro vem mostrando enfraquecimento. A taxa de desemprego, que se mantinha em torno dos 7% desde o início de 2012, atingiu 11,2% no trimestre findo em abril de 20161, evidenciando o crescimento do número de brasileiros que se encontram desempregados. Essa piora do mercado de trabalho é reflexo direto da recessão que vem permeando a economia do país desde meados de 2014. A inflação tem se mantido persistentemente elevada, obrigando a adoção de medidas recessivas por parte das autoridades monetárias, como a manutenção da taxa de juros em altos patamares, limitando o consumo das famílias e a realização de novos investimentos por parte dos empresários. Com o aumento constante dos preços, o poder de compra da população, especialmente dos mais pobres, acaba sendo afetado. Soma-se a estes fatores a baixa confiança dos consumidores, e como consequência acabamos vivenciando uma redução do consumo. Diante deste cenário, a confiança dos empresários termina por ser também abalada. O Indicador de Condições Gerais da Economia2, que avalia a percepção do micro e pequeno empresariado de varejo e serviços sobre o desempenho de suas empresas e da economia brasileira nos últimos seis meses mostrou 23,65 pontos em junho, bastante inferior à marca de 50 pontos, nível neutro do indicador. O resultado indica que para a maioria relativa dos micro e pequeno empresários a economia piorou ao longo dos últimos seis meses. Durante o período, empresários e consumidores vivenciaram uma crise política que acabou paralisando a agenda econômica e agravando o quadro recessivo, deprimindo ainda mais a confiança dos agentes. Com tudo isso, a produção industrial foi também reduzida e o nível de emprego diretamente afetado. Para entender melhor o cenário atual e o que se pode esperar do mercado de trabalho do país para os próximos meses, o presente estudo ouviu micro e pequeno empresários, 1 Pnad Contínua, IBGE. Abril de 2016. Indicador de Confiança da Micro e Pequena Empresa (ICMPE), SPC Brasil e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Junho de 2016. 2 tanto do setor de varejo quanto de serviços, a respeito do assunto. As empresas desse porte representam parcela importante do número de estabelecimentos de ambos os segmentos: dados da Relação Anual de Informações (Rais) mostram que as micro e pequenas empresas com algum empregado respondiam, em 2013, por 47,2% dos estabelecimentos no segmento de Comércio e 37,3% dos estabelecimentos de Serviços3. 20,5% dos entrevistados afirmaram ter demitido algum funcionário no mês de junho: 9,1% alega que o desligamento aconteceu porque as atividades do negócio diminuíram e, portanto, acabaram ficando com mão-de-obra ociosa, e 5,4% porque precisavam reduzir a folha de pagamentos da empresa, mesmo que ainda precisassem do funcionário. Outros 6,0% demitiram algum funcionário, mas contrataram outro para substituí-lo. Considerando apenas esses empresários que afirmaram ter realizado alguma demissão, 60,4% desligaram um empregado apenas, enquanto 26,8% tiveram que demitir dois funcionários, e 8,5% três. Na média, este grupo se viu obrigado a demitir 1,6 empregados. O Indicador de Expectativas4 dos micro e pequeno empresários, que avalia a percepção deste público a respeito dos próximos seis meses para a economia e para os seus negócios, apresentou crescimento em junho, passando de 56,12 pontos em maio, para 57,39 pontos. Levemente acima do nível neutro de 50 pontos, o indicador mostrou que a maior parte dos empresários está um pouco mais otimista com o ambiente de negócios no curto prazo. Ainda assim, quando questionados a respeito de seus planos acerca do quadro de funcionários ao longo deste ano, mais da metade (59,3%) dos empresários ouvidos mostraram-se avessos a realização de novas contratações. 35,8% não tem condições financeiras de aumentar sua folha de pagamentos no período e 12,1% se encontram com mão-de-obra ociosa no momento, já que as atividades da empresa caíram. Ambos os motivos foram os mais citados para não realizar novas contratações ao longo deste ano. Apenas 25% dos empresários sondados pretendem aumentar o número de funcionários. A principal razão, citada por 21,3%, é a perspectiva de que sua empresa e atividades cresçam em 2016. 3 Os dados constam da Anuário do Trabalho Sebrae/Dieese. Indicador de Confiança da Micro e Pequena Empresa (ICMPE), SPC Brasil e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Maio de 2016. 4 Ao longo de 2016, pretende aumentar o número de funcionários? RU SIM Sim, tenho perspectiva de que a empresa e suas atividades cresçam, demandando mais mão-de-obra % 25,0% 21,3% Sim, o quadro atual de funcionários já não dá conta das atividades 2,6% Sim, mas se a economia melhorar 1,1% NÃO 59,3% Não tenho condições, pois não tenho condições de aumentar minha folha de pagamentos 35,8% Não, pois as atividades da empresa caíram e tenho mão-de-obra ociosa 12,1% Não, pois quadro atual é suficiente para a minha demanda/não há necessidade 8,8% Não 1,9% Não, vou fechar a empresa 0,6% Não, porque trabalhamos em família 0,1% Não sei Prefere não responder 15,0% 0,8% Para os próximos meses, a perspectiva é de que o quadro recessivo da economia se estabilize. Com a expectativa de resolução da crise política e a retomada da agenda econômica, paulatinamente deve voltar a haver alguma retomada da confiança dos empresários e dos consumidores, e o ciclo de queda nas vendas do varejo irá se atenuar. Só então, o mercado de trabalho pode voltar a apresentar resultados positivos. De qualquer forma, esse movimento de retomada do crescimento econômico deve ganhar força apenas no próximo ano. Prova disso, é a cautela com que os empresários demonstraram estar tratando as novas contratações ainda para 2016. O momento pede, portanto, ainda certa atenção por parte dos brasileiros, que devem esperar que as coisas se estabilizem em breve. METODOLOGIA A pesquisa abrange todo o território nacional e considera somente as empresas de micro e pequeno porte que atuam no Varejo e no Setor de Serviços. Ao todo, são consultados 800 empresários, que avaliam a evolução da economia e dos negócios nos últimos seis meses e revelam suas expectativas para os próximos seis. As sondagens são realizadas nos 10 primeiros dias úteis de cada mês. O Indicador de Confiança (IC) é uma média ponderada de dois outros indicadores: o Indicador de Condições Gerais e o Indicador de Expectativas. Por meio do Indicador de Condições Gerais, busca-se medir como os empresários avaliam a evolução da economia e do seu negócio nos últimos seis meses. Por meio do Indicador de Expectativas, buscase medir o que os empresários esperam para a economia nos próximos seis meses. Em ambos os casos, a escala dos indicadores varia de zero a 100, tendo como ponto neutro o valor de 50. Assim, para valores abaixo de 50, o Indicador de Condições Gerais da Economia mostra que, na percepção dos micro e pequenos empresários, as Condições Gerais da economia pioraram nos seis meses; para valores abaixo de 50, o Indicador de Expectativas para a Economia mostra que os empresários estão pessimistas com os rumos do país; valores acima de 50 indicam que os empresários estão confiantes. A mesma regra vale para os indicadores de negócios. Como média ponderada dos demais indicadores, o IC (Indicador de Confiança) também varia de zero a 100. O número irá refletir a avalição dos micro e pequenos empresários sobre o presente e o futuro da economia e de seus negócios. Abaixo de 50, indicará falta de confiança; acima de 50, indicará confiança.