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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE NUTRIÇÃO
GISELE NATALÍ HANAUER
INTERAÇÕES ENTRE FÁRMACOS X NUTRIENTES EM UM GRUPO DE
IDOSOS DO MUNICÍPIO DE HUMAITÁ – RS.
CRICIÚMA, JUNHO DE 2009
2
GISELE NATALÍ HANAUER
INTERAÇÕES ENTRE FÁRMACOS X NUTRIENTES EM UM GRUPO DE
IDOSOS DO MUNICÍPIO DE HUMAITÁ – RS.
Trabalho de conclusão de curso, apresentado para
obtenção do grau no curso de Nutrição da
Universidade do Extremo Sul Catarinense –
UNESC.
Orientador(a): Prof.ª MSc. Luciane Maria Daltoé
CRICIÚMA, JUNHO DE 2009
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GISELE NATALÍ HANAUER
INTERAÇÕES ENTRE FÁRMACOS X NUTRIENTES EM UM GRUPO DE
IDOSOS DO MUNICÍPIO DE HUMAITÁ – RS.
Trabalho de conclusão de curso, apresentado para
obtenção do grau no curso de Nutrição da
Universidade do Extremo Sul Catarinense –
UNESC.
Criciúma, 30 de junho de 2009.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Profª. Luciane Daltoé – Mestre – (UNESC) – Orientadora
________________________________________________________
Profº. Eduardo João Agnes – Mestre – (UNESC)
________________________________________________________
Profª. Maria Cristina Gonçalves de Souza – Mestre – (UNESC)
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente à Deus, por me dar forças nesta árdua trajetória, me
mostrando o melhor caminho a seguir. Por ter colocado em minha vida pessoas
maravilhosas e por tornar os meus sonhos realidade.
Aos meus pais, Norí e Goreti, por acreditarem em mim e sonharem junto
comigo. Por todo o amor, incentivo e compreensão. Por não me deixarem desistir
quando não parecia haver outra saída. Por abrirem mão ou adiarem suas realizações
para proporcionar as minhas e por não medirem esforços para que eu alcançasse os
meus objetivos.
A minha irmã Jaqueline, por tudo o que ela tem feito por mim, pelo carinho e
apoio, pelas palavras de conforto. Pelos momentos compartilhados, tanto os bons
quanto os ruins. Por me dar força nos momentos que eu mais precisei e simplesmente
por ela existir, e fazer parte da minha história.
Ao meu noivo Joel, pelo incentivo, carinho, lealdade, paciência e confiança.
Por acreditar que sou capaz. Pelas palavras de conforto nas horas difíceis e pela
compreensão por estarmos distantes.
A orientadora professora Luciane Daltoé, pela confiança depositada em mim.
Por contribuir com sua sabedoria para essa pesquisa e por toda paciência e
compreensão ao longo dela.
Aos professores que estiveram ao meu lado durante o curso, disponibilizando
o seu tempo e sua sabedoria em prol do nosso aprendizado e conhecimento.
Aos meus amigos, os que estão perto, ou aqueles que estão distantes, pelo
incentivo e por não me deixarem desanimar, ao longo desta trajetória.
Ao enfermeiro chefe da unidade de saúde, a qual os indivíduos estão
cadastrados, pelo apoio e por disponibilizar dados para a pesquisa.
Aos indivíduos que aceitaram participar da pesquisa.
Muito Obrigada!!!
5
“Aprendi que aconteça o que acontecer, pode até parecer ruim hoje, mas a vida
continua e amanhã melhora.
Aprendi que dá para descobrir muita coisa a respeito de uma pessoa observando-se
como ela lida com três coisas: dia de chuva, bagagem perdida, luzes de árvore de Natal
emboladas.
Aprendi que, independentemente da relação que você tenha com seus pais, vai ter
saudade deles quando se forem.
Aprendi que 'ganhar a vida'[making a living] não é o mesmo que 'ter uma vida' [making a
life].
Aprendi que a vida às vezes nos oferece uma segunda oportunidade.
Aprendi que a gente não deve viver tentando agarrar tudo pela vida afora; tem que
saber abrir mão de algumas coisas.
Aprendi que quando decido alguma coisa com o coração, em geral vem a ser a decisão
correta.
Aprendi que mesmo quando tenho dores, não tenho que ser um saco.
Aprendi que todo dia a gente deve estender a mão e tocar alguém. As pessoas adoram
um abraço apertado, ou mesmo um simples tapinha nas costas.
Aprendi que ainda tenho muito o que aprender.
Aprendi que as pessoas esquecem o que você diz, esquecem o que você faz, mas não
esquecem como você faz com que se sintam.
Ainda não tenho 70 anos mais já aprendi muito...”
(Maya Angelou)
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RESUMO
O Brasil vivencia hoje um processo crescente de envelhecimento populacional. Cresce
também o índice de indivíduos com doenças crônicas, bem como o uso contínuo de
medicamentos, a polifarmácia. Em virtude do uso abusivo de fármacos pode ocorrer um
desequilíbrio de nutrientes por ação de um medicamento, ou um efeito farmacológico
pode ser alterado pela ingestão de um nutriente ou pelo estado nutricional do paciente.
Este trabalho teve como objetivo analisar as interações que podem ocorrer entre
fármacos X nutrientes em um grupo de idosos do município de Humaitá - RS. Foram
selecionados pacientes, com idade igual ou superior a 60 anos, participantes do
programa Estratégia de Saúde da Família do município. Participaram do estudo 125
pacientes. Todos os pacientes foram avaliados em relação aos hábitos alimentares,
composição de macronutrientes e micronutrientes e análise dos dados antropométricos.
A avaliação dos compostos que teoricamente tem sua absorção reduzida pelos
medicamentos foi feita pelo teste t de student. Dos 125 pacientes, 35 eram homens
(28%) e 90 mulheres (72%). A média de idade do sexo masculino foi de 72 anos,
enquanto no sexo feminino foi de 71 anos. O tempo médio de uso dos medicamentos
pelo grupo participante foi de 10,2 anos para mulheres e 9 anos para os homens. Com
relação aos cuidados com a ingestão concomitante de fármacos e alimentos, 87,2%
relataram não tomar nenhum cuidado. A prevalência de sobrepeso foi de 57,78 %,
seguida de 32,22% de eutróficos. As mulheres pesquisadas não estão tendo uma
ingestão alimentar igual a recomendada pela DRI’s (p ≤ 0,05), com exceção do Zinco e
da Vitamina B12. No grupo dos homens, há evidência de que estão ingerindo, em
média, Ferro (p > 0,05) e Zinco (p > 0,05), em quantidades iguais as recomendadas
pela DRI’s. Com relação aos demais nutrientes, há evidências que os homens estão
ingerindo em quantidades, em média, diferentes das recomendadas pela DRI’s (p ≤
0,05). Nesta amostra de pacientes, a maioria dos micronutrientes que tem sua absorção
modificada pelos medicamentos, não foi ingerida em quantidade adequada se
comparada com as recomendações. Isto pode ter ocorrido em virtude de que os
alimentos ricos nestes micronutrientes são mais caros, o que demanda uma renda
maior para sua aquisição, ou também porque não haja um incentivo para utilização dos
mesmos.
Palavras-chave: Envelhecimento, fármaco x nutriente, idosos.
7
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Dados demográficos dos participantes do estudo.
Tabela 2 – Medicamentos empregados pelos pacientes.
Tabela 3 – Principais características antropométricas dos participantes do estudo do
sexo feminino.
Tabela 4 – Principais características antropométricas dos participantes do estudo do
sexo masculino.
Tabela 5 – Consumo alimentar de energia e macronutrientes obtido pelo Recordatório
alimentar de um dia habitual.
Tabela 6 – Consumo alimentar de micronutrientes obtido pelo Recordatório alimentar de
um dia habitual.
Tabela 7 – Distribuição da frequência do consumo alimentar.
8
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Tabagismo entre o sexo feminino.
Gráfico 2 – Tabagismo entre o sexo masculino.
Gráfico 3 - Etilismo entre o sexo feminino.
Gráfico 4 - Etilismo entre o sexo masculino.
Gráfico 5 – Atividade física entre o sexo feminino.
Gráfico 6 – Atividade física entre o sexo masculino.
Gráfico 7 - Classificação do IMC entre membros do sexo feminino.
Gráfico 8 - Classificação do IMC entre membros do sexo masculino.
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LISTA DE ABREVIATURAS
AAS - Ácido Acetilsalicílico.
ABC – (Adenosine triphosphate (ATP)-binding cassete).
AITR - Acidente Isquêmico Transitório Recorrente.
AT 1 - Antagonistas da Angiotensina.
ATII - Antagonistas da Angiotensina II.
ATP - Adenosina Trifosfato.
CMB - Circunferência Muscular do Braço.
CNT - Transportadores Concentrativos (concentrativos transporters).
CP - Circunferência da Panturrilha.
DM - Diabetes Mellitus.
DRI - Ingestão Dietética de Referência (Dietary Reference Intakes).
ECA - Enzima Conversora de Angiotensina.
ENDEF - Estudo Nacional de Despesa Familiar.
ENT - Transportadores Equilibrativos.
EPIC - European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition.
ESF - Estratégias de Saúde da Família.
HAS - Hipertensão Arterial Sistêmica.
IASP - Sociedade Internacional para o Estudo da Dor (Internacional Association for the
Study of Pain).
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IM - Infarto do Miocárdio.
IMC - Índice de Massa Corporal.
MCT - Transportadores de Ácido Monocarboxílico .
MDR - Resistência a Múltiplas Drogas (Multidrug resistance).
MS - Ministério da Saúde.
ND - Não definido.
NHANES – (Third National Health and Nutrition Examination Survey).
OAT - Transportadores de Anion Orgânicos (organic anion transporting).
10
OATP - Transportadores de Ânions Orgânicos (organic anion transporting polypeptide).
OCT - Transportadores de Cátions Orgânicos (organic cation transporting).
OCTN - Transportadores de Cátions/Carnitina Orgânicos (organic cátion/carnitine
transporting).
OMS - Organização Mundial da Saúde.
PEPT - Transportadores Peptídicos (peptide transport).
Pgp - Glicoproteínas-P.
QSFA - Questionário Semiquantitativo de Frequência Alimentar.
R24 - Recordatório de 24 Horas.
RDA - Ingestão Diária Recomendada (Recommended Dietetic Allowances.)
SPSS - Statistical Package for the Social Science.
TCLE - Termo de Consentimento Livre Esclarecido.
TGI - Trato Gastrintestinal.
UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense.
VET - Valor Energético Total.
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 14
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................... 18
2.1 Envelhecimento..................................................................................................... 18
2.2 Avaliação Nutricional............................................................................................. 19
2.3 Avaliação da Ingestão Alimentar........................................................................... 21
2.4 Recomendações Nutricionais Para Idosos............................................................ 22
2.5 Alterações Fisiológicas do Envelhecimento .......................................................... 24
2.6 Polifarmácia............................................................................................................ 25
2.7 Fase Biofarmacêutica............................................................................................. 26
2.8 Farmacocinética..................................................................................................... 26
2.9 Absorção e Metabolismo dos Fármacos................................................................ 27
2.10 Sítios de Absorção.............................................................................................. 29
2.11 Farmacodinâmica................................................................................................ 30
2.12 Interação Fármaco / Nutriente............................................................................. 30
2.13 Interferência do Estado Nutricional na Biodisponibilidade dos Fármacos.......... 33
2.14 Interferência do Fármaco no Estado Nutricional...................................................34
2.15 Doenças que mais Acometem Idosos.................................................................. 35
2.15.1 Hipertensão Arterial........................................................................................... 35
2.15.1 Tratamento Medicamentoso............................................................................... 36
2.15.1.1 Captopril.......................................................................................................... 36
2.15.1.2 Hidroclorotiazida............................................................................................. 37
2.15.1.3 Maleato de Enalapril ...................................................................................... 37
2.15.1.4 Propranolol .................................................................................................... 38
2.15.1.5 Losartan.......................................................................................................... 40
2.15.1.6 Atenolol........................................................................................................... 41
2.15.1.7 Verapamil.........................................................................................................41
2.15.2 Diabetes Mellitus................................................................................................ 42
2.15.2 Tratamento Medicamentoso .............................................................................. 43
2.15.2.1 Metformina...................................................................................................... 43
12
2.15.2.2 Glibenclamida..................................................................................................44
2.15.3 Analgésicos........................................................................................................ 44
2.15.3 Tratamento medicamentoso............................................................................... 45
2.15.3.1 Paracetamol.....................................................................................................45
2.15.3.2 Tylex ............................................................................................................... 46
2.15.3.3 Ácido acetilsalisílico ........................................................................................ 46
2.15.3.4 Dipirona.............................................................................................................47
2.15.4 Acidez intragástrica.............................................................................................48
2.15.4 Tratamento medicamentoso................................................................................48
2.15.4.1 Omeprazol ......................................................................................................48
2.15.4.2 Hidróxido de alumínio ......................................................................................49
2.15.4.3 Cimetidina ........................................................................................................49
2.15.4.4 Ranitidina .........................................................................................................50
3 OBJETIVOS................................................................................................................ 51
3.1 Objetivo Geral:......................................................................................................... 51
3.2 Objetivos Específicos:.............................................................................................. 51
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS....................................................................52
4.1 Delineamento Da Pesquisa......................................................................................52
4.2 População e Amostra...............................................................................................52
4.3 Critérios de Inclusão.................................................................................................53
4.4 Critérios de Exclusão................................................................................................54
4.5 Coleta de Dados.......................................................................................................54
4.5.1 Inquérito Clínico.....................................................................................................55
4.5.2 Inquérito Dietético................................................................................................. 55
4.5.3 Medidas Antropométricas..................................................................................... 56
4.5.4 Avaliação Nutricional.......................................................................................... ..57
4.6 Forma de Coleta de Dados......................................................................................58
4.7 Análise Estatística...................................................................................................58
4.8 Aspectos Éticos.......................................................................................................59
4.9 Limitações do Estudo..............................................................................................59
5 RESULTADOS...........................................................................................................60
13
5.1 Descrição do Perfil Demográfico da População..................................................60
5.2 Hábitos Diários e uso de Medicamentos.............................................................61
5.2.1 Tabagismo e consumo de bebida alcoólica......................................................61
5.2.2 Nível de Atividade Física..................................................................................64
5.2.3 Utilização de medicamentos............................................................................65
5.3 Avaliação antropométrica....................................................................................66
5.4 Avaliação do recordatório de um dia habitual.....................................................68
5.5 Avaliação da frequência do consumo de alimentos............................................70
6 DISCUSSÃO..........................................................................................................73
7 CONCLUSÃO........................................................................................................81
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.............................................................................84
APÊNDICE...............................................................................................................95
9.1 Apêndice I – Termo De Consentimento............................................................96
9.2 Apêndice II – Inquérito Clínico............................................................................97
9.3 Apêndice III – Questionário Semiquantitativo De Frequência Alimentar............98
9.4 Apêndice IV – Recordatório Alimentar..............................................................100
ANEXOS................................................................................................................ 101
Aprovação comitê de ética... ................................................................................. 102
14
1 INTRODUÇÃO
Envelhecer pode ser definido como um processo de desgaste cumulativo,
irreversível, universal e não patológico que provoca a deterioração do organismo
maduro, tornando-o progressivamente incapaz de cumprir com as funções fisiológicas
básicas, levando o indivíduo à morte. Embora isso seja verdadeiro e comum a todos os
seres, a forma como esse processo de desgaste ocorre e como é encarado, no caso do
ser humano, não é a mesma para todos os homens, nem igual em todos os contextos.
Depende de características individuais, de como os homens produzem e reproduzem a
sua vida material e espiritual, e se modifica de acordo com a cultura e os valores de
cada sociedade concreta. O idoso, por exemplo, é uma categoria socialmente
construída que ajuda a dar conformação e a traduzir uma forma específica de inserção,
na sociedade moderna, de uma parcela da população em idade avançada (FONSECA,
2008).
A temática do idoso tem ganhado relevância, nos últimos anos, a partir da
constatação do crescimento proporcionalmente maior de pessoas com idade avançada
em relação a outras faixas etárias, provocando o envelhecimento da população. Esse
fenômeno, que resulta em última instância do declínio da fecundidade e do aumento da
expectativa de vida, foi observado primeiramente nos países desenvolvidos, e nas
últimas décadas, também em países em desenvolvimento como o Brasil. O
envelhecimento
da
população
se
traduz
como
transição
demográfica,
com
estreitamento da base da pirâmide populacional e alargamento do ápice. As alterações
demográficas são acompanhadas por mudanças no perfil epidemiológico, em que se
observa uma redução da incidência de doenças infecto-contagiosas e o aumento das
doenças crônico-degenerativas, próprias das faixas etárias mais avançadas. Tais
transformações exigem novas políticas e novas formas de intervenção no campo da
atenção à saúde (FONSECA, 2008).
Como forma de enfrentamento desse problema de saúde pública, o Ministério
da Saúde, em 1999, instituiu a Política de Saúde dos Idosos, por meio da Portaria N°
1395/GM e em outubro de 2006 reformulou-a com a Portaria N° 2528/GM. Entre os
15
temas abordados na política nacional para os idosos, está a promoção do
envelhecimento saudável e a manutenção da máxima capacidade funcional, pelo maior
tempo possível (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
O processo de envelhecimento provoca uma série de alterações biológicas,
fisiológicas, psicológicas e sociais que aumentam a susceptibilidade às doenças e
provocam incapacidades. Estudos demonstram que com frequência os idosos são
portadores de múltiplas doenças, principalmente as crônico-degenerativas, que podem
provocar limitações e dependência. Contudo, os idosos, mesmo acometidos por
doenças, podem ter boa qualidade de vida, que geralmente é expressa pela
funcionalidade positiva no desempenho de tarefas e/ou papéis sociais e na capacidade
de executar atividades do cotidiano, sem a necessidade de auxílio de outras pessoas
(FONSECA, 2008).
Nesse sentido, as alterações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento
possuem relação direta com o estado nutricional, principalmente pelas mudanças
alimentares impostas pelas patologias, uso abusivo de medicamentos e condições do
organismo (ALVES, 2006).
O uso de medicamentos é importante e necessário, bem como a alimentação
das pessoas, independentemente da cultura, da época ou da idade. A alimentação é
fundamental para que o indivíduo tenha saúde, para que consiga fornecer ao organismo
nutrientes necessários para a manutenção do corpo. É necessário um equilíbrio entre
ambos, para que se tenha uma absorção e o efeito desejado de cada um deles. Em
todos os grupos populacionais é importante que exista harmonia entre estas duas
necessidades, porém os idosos são um grupo mais vulnerável, que oferece maior risco,
tanto pela debilitada absorção de nutrientes como também pelo uso contínuo e
aumentado de medicamentos nesta faixa etária. Principalmente medicamentos usados
para sintomas com dores, acidez estomacal, e também medicamentos que são
utilizados para controle de doenças crônicas não transmissíveis como: hipertensão,
diabetes, colesterol e outros (MOURA, et al, 2002).
Atualmente, o uso de medicamentos pelos idosos tem gerado preocupação
quanto aos gastos excessivos e aos possíveis efeitos, benéficos ou indesejáveis. O
perfil de uso obedece a peculiaridades de idade, gênero, inserção social, estado de
16
saúde e classe terapêutica. A inadequação traduz-se por quantidade e qualidade
impróprias dos produtos empregados (ROZENFELD, 2003).
Há indícios de aumento do "multiuso de fármacos" em diversos países. Na
Finlândia, Klaukka et al, (1993 apud ROZENFELD, 2003) analisam os dados de três
inquéritos de saúde comparáveis e representativos do País, realizados em 1976, 19781980 e 1987. Segundo os resultados, o uso simultâneo de cinco ou mais fármacos
prescritos, em todas as idades, cresce durante o período, e os idosos são, em parte,
responsáveis: em 1976, 44% dos "multiusuários" são idosos e, em 1987, são 55%. Isso
ocorre porque, entre os mais idosos, as doenças são mais graves, o uso dos serviços
médicos é mais intenso e há dificuldade de discutir os complexos problemas, que
acabam sendo medicalizados. Há quem estime não existirem diferenças importantes no
perfil de fármacos usados entre os "multiusuários", sejam eles jovens ou idosos. Ainda
assim, é possível admitir o "multiuso" como mais prejudicial aos idosos do que aos
jovens e, potencialmente, iatrogênico (ROZENFELD, 2003).
A farmacologia para os idosos tem peculiaridades, pois com a idade diminui a
massa muscular e a água corporal. O metabolismo hepático, os mecanismos
homeostáticos, assim como a capacidade de filtração e de excreção renal podem ficar
comprometidos (MAGNONI, CUKIER e OLIVEIRA, 2005). Disso decorre a dificuldade
de eliminação de metabólitos, o acúmulo de substâncias tóxicas no organismo e a
produção de reações adversas. Pode, inclusive, haver superposição entre essas últimas
e os quadros mórbidos pré-existentes. Há medidas importantes a serem seguidas
diante do paciente idoso: estímulo ao emprego de medidas não farmacológicas;
acompanhamento, com revisão periódica do conjunto dos medicamentos e de seus
possíveis efeitos adversos; preferência por monodrogas, em detrimento das
associações em doses fixas; preferência por fármacos de eficácia comprovada através
de evidências científicas; suspensão do uso, sempre que possível; verificação da
compreensão da prescrição e das orientações farmacológicas ou não farmacológicas;
simplificação dos esquemas de administração; atenção aos preços (ROZENFELD,
2003).
A partir do exposto acima, verificou-se a necessidade de analisar as
interações que podem ocorrer entre fármacos X nutrientes em um grupo de idosos,
17
pois, sabe-se que complexos de fármacos com nutrientes podem impedir a absorção do
medicamento, nutriente ou de ambos, fármacos podem alterar a acidez gástrica, e
também danificar a superfície da mucosa, podendo diminuir a absorção de algumas
vitaminas e minerais.
Os fármacos podem aumentar o metabolismo de nutrientes, resultando em
necessidades aumentadas e risco de deficiência, além disso, também podem causar
antagonismo entre as vitaminas, inibindo a conversão de algumas vitaminas à sua
forma ativa. Os fármacos podem aumentar a perda urinária de alguns nutrientes,
causando carências. Alguns fármacos diminuem a excreção de alguns nutrientes. O
volume, a temperatura, a viscosidade, a pressão osmótica, o caráter ácido básico dos
fármacos modificando a motilidade gastrointestinal, o pH intra lumenal, a morfologia
celular da mucosa e a atividade de enzimas intestinais, a flora bacteriana e formando
complexas mais ou menos insolúveis, alteram a solubilização e a absorção de
nutrientes (MARTINS et al, 2003).
18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Envelhecimento
O envelhecimento é, hoje, uma realidade na maioria das sociedades
desenvolvidas e em desenvolvimento, tornando-se temática e relevante do ponto de
vista científico e de políticas públicas, mobilizando pesquisadores e promotores de
políticas sociais, na discussão do desafio que a longevidade humana está colocando
para as sociedades (MARTIN; CORDONI JÚNIOR; BASTOS, 2005).
Morais et al, (2008) diz que, o envelhecimento é definido pela Organização
Pan-Americana de Saúde e referendado pelo Ministério da Saúde como "um processo
sequencial,
individual, acumulativo,
irreversível, universal, não
patológico,
de
deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie de
maneira que o tempo torne capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e,
portanto aumente sua possibilidade de morte".
O Brasil, à semelhança dos demais países latino-americanos, está passando
por um processo de envelhecimento rápido e intenso. A evolução da população
geriátrica brasileira constitui um grande desafio, enquanto a população brasileira
crescerá 3,22 vezes até o ano 2025, o segmento acima de 65 anos aumentará 8,9
vezes, e o acima de 80 anos, 15,6 vezes. Com isso, a proporção de idosos que em
1980 era menor que 6%, subirá em menos de 50 anos, para 14%, devendo o Brasil
ocupar o sexto lugar na esfera mundial no ano 2025, com uma estimativa de 31,8
milhões. Mantendo-se a tendência demográfica atual, em números absolutos, o país
terá uma das maiores populações de idosos do mundo (CAMPOS et al, 2000).
Pavarini et al, (2005) relata que pesquisadores da longevidade humana
explicam que o aumento da esperança de vida tem coincidido com uma concentração
da longevidade média e a curva de sobrevivência está tomando uma forma cada vez
mais retangular. Na prevalência de doenças crônicas são importantes dois fatores: as
taxas de reabilitação e os índices de mortalidade. Assim, a relação com as intervenções
19
no estado de saúde, que permitem retardar o surgimento de doenças e incapacidades,
sobretudo aquelas que afetam as capacidades funcionais, são aspectos determinantes
para que se produzam aproximações entre a morbidade, a esperança de vida e a
mortalidade. O aumento da expectativa de vida deveria ser acompanhado de um
aumento também na expectativa de saúde.
2.2 Avaliação Nutricional
O indicador antropométrico é essencial na avaliação nutricional geriátrica,
entretanto algumas alterações que ocorrem com o envelhecimento podem comprometer
a determinação de um diagnóstico antropométrico acurado e preciso, caso cuidados
específicos não sejam tomados no sentido de neutralizar ou amenizar o efeito dessas
alterações sobre a avaliação. Serão discutidas a seguir as principais alterações que
podem interferir na avaliação nutricional antropométrica (SAMPAIO, 2004).
Em relação à altura, estudos apontam uma redução na altura com a idade.
Perissinotto et al, (Apud SAMPAIO, 2004) encontraram um decréscimo de 2cm/década
a 3cm/década. Este declínio se inicia por volta dos 40 anos e torna-se mais acentuado
com o avançar da idade. As razões para este declínio são: achatamento das vértebras,
redução dos discos intervertebrais, cifose dorsal, escoliose, arqueamento dos membros
inferiores e/ou achatamento do arco plantar.
Para o indicador peso, estudos mostram que o homem ganha peso até os 65
anos de idade e, a partir daí, passa a perder, enquanto que a mulher aumenta de peso
até os 75 anos e, apenas a partir desta idade, ela começa com a perda ponderal. As
causas principais são: a perda de água corporal e a redução no peso das vísceras,
além da redução de tecido muscular (DUARTE, 2007).
A reserva de tecido muscular pode ser estimada antropometricamente pela
circunferência muscular do braço (CMB) e circunferência da panturrilha (CP). A CMB,
apesar de não levar em consideração a irregularidade no formato dos tecidos do braço,
deve ser o indicador de escolha, tendo em vista que o Third National Health and
20
Nutrition Examination Survey (NHANES III) apresenta dados de referência para este
indicador. A CP é considerada um indicador sensível de alterações musculares no
indivíduo idoso e deve ser utilizada para monitoração dessas alterações (DUARTE,
2007).
A identificação do tipo de distribuição de gordura corporal é de suma
importância, pois o acúmulo de gordura na região abdominal apresenta estreita relação
com alterações metabólicas, as quais podem desencadear o aparecimento de
enfermidades como as cardiovasculares e diabetes mellitus. Estudos evidenciam que,
com o avançar da idade, ocorre aumento da gordura visceral e que a relação entre
acúmulo de gordura abdominal e alterações metabólicas se mantém com a idade
(SAMPAIO, 2004).
O Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado a partir do peso (em kg)
dividido pelo quadrado da altura em metros (Peso/Altura2 — kg/m2), tem como
finalidade avaliar a massa corporal em relação à altura. Apesar do seu uso frequente,
ele deve estar sempre associado a outros indicadores, tendo em vista que o mesmo
não reflete a distribuição regional de gordura ou qualquer mudança na distribuição de
gordura ocorrida com o processo de envelhecimento, sendo considerado, portanto, um
indicador pobre para avaliar riscos em idosos (MARTINS, 2008).
Segundo Martins, (2008) não há consenso sobre a definição do que seja um
IMC elevado ou baixo para o indivíduo idoso. Apesar da Organização Mundial da Saúde
(OMS) sugerir para avaliação do idoso a utilização dos pontos de corte propostos para
o adulto jovem (IMC< 18,5kg/m2= magreza; IMC> 30kg/m2= obesidade), supõe-se que
valores superiores sejam mais adequados, já que o idoso necessita de uma reserva
maior no sentido de prevenir a desnutrição.
Em pesquisas populacionais, a maioria dos estudos utiliza o IMC médio
interno de suas amostras. Na prática clínica geriátrica, o IMC< 20kg/m2 é o ponto de
corte adotado para classificar o idoso como apresentando magreza. Este critério é
utilizado para que indivíduos em risco nutricional sejam detectados precocemente. Para
o diagnóstico da obesidade, utiliza-se o ponto de corte sugerido pela OMS, associando
o IMC à prega cutânea triciptal (SANTOS et al, 2006).
21
2.3 Avaliação da Ingestão Alimentar
Os inquéritos dietéticos são úteis, pois determinam o padrão alimentar da
população e sua evolução com o tempo, além de detectar a deficiência nutricional em
seu estágio inicial. O inquérito alimentar mais importante realizado no país foi o Estudo
Nacional de Despesa Familiar (ENDEF-1974/1975). Mais recentemente destaca-se o
Estudo Multicêntrico sobre o Consumo Alimentar e Estado Nutricional (1996), realizado
em cinco cidades brasileiras, utilizando o Questionário Semiquantitativo de Frequência
Alimentar (QSFA). O QSFA, referente ao último ano, tem sido utilizado em inúmeras
investigações, apesar das discussões recentes acerca de sua adequação em estimar a
ingestão de nutrientes. Na pesquisa epidemiológica são necessários instrumentos de
avaliação do consumo alimentar de fácil aplicação, baixo custo e capazes de
caracterizar a dieta habitual dos indivíduos, objetivos estes que o QSFA contempla de
maneira satisfatória. Também, a magnitude do seu erro tem sido avaliada em estudos
de validação, reprodutibilidade e calibração (LOPES et al, 2005).
LOPES et al, (2005) enfatiza também que estudos de calibração são
particularmente úteis na correção do erro de medida do QSFA e têm sido indicados
como alternativa em situações, nas quais a realização de inquérito alimentar de vários
dias para o estudo de validação é inviável. A calibração consiste na correção estatística
da ingestão de nutrientes aferida pelo instrumento teste (QSFA) com aquela obtida pelo
método referência, dada à inexistência de um padrão-ouro que avalie o consumo
alimentar. Essa metodologia tem sido utilizada em estudos internacionais como o EPIC
– European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition, e também no Brasil,
como no estudo realizado em Bambuí, Minas Gerais, Brasil. Neste estudo, o consumo
de nutrientes foi calibrado por meio da comparação do QSFA, com recordatório 24
horas associado a réplicas de alimentos (R24).
22
2.4 Recomendações Nutricionais para Idosos
A taxa metabólica de repouso, considerada como a taxa mínima de energia
consumida necessária para suportar todas as funções celulares, responde por 60 a
70% do total do gasto energético diário nos humanos, representando o principal
componente do gasto energético (FONSECA; LEAL, 2007). No idoso, a necessidade
energética diminui, ocorrendo consequentemente a redução da taxa metabólica basal,
sendo esta diminuição associada a uma perda de massa muscular, resultando em um
menor metabolismo ativo (REZENDE; SANTOS, 2006).
As RDAs (Recommended Dietary Allowances) são caracterizadas como a
ingestão de nutriente diária suficiente para satisfazer às necessidades de todos os
indivíduos saudáveis, entre 97 e 98%, que compreende um determinado grupo, gênero,
idade e estágio de vida (AMAYA-FARFAN; DOMENE; PADOVANI, 2001).
De acordo com as RDAs (2002), as necessidades calóricas de acordo com a
faixa etária são de 10% menores na faixa de 51 a 75 anos de idade, devendo haver
desconto diário de 200 kcal em homens e mulheres no valor energético total (VET),
naqueles com mais de 76 anos há redução de 20 a 25% na necessidade calórica,
devendo-se reduzir 500 kcal por dia para homens e 400 kcal para mulheres. Os valores
calóricos para o grupo de mais de 51 anos equivale a 30 kcal por quilo de peso corporal
ideal por dia (WELLMAN, 1994).
Em relação à recomendação nutricional de macronutrientes, o consumo de
carboidratos deve corresponder aproximadamente de 55% a 60% do valor energético
total ingerido pelo idoso (FRANK et al, 2004).
Em relação às proteínas, conforme as pessoas envelhecem e perdem massa
tecidual esquelética, as reservas de proteínas no músculo esquelético podem ser
insuficientes para atender as necessidades para a síntese de proteínas (MAHAN;
ESCOTT-STUMP, 2005). Recomenda-se a ingestão de 0,8g/kg de peso ao dia de
proteínas de alto valor biológico, para idosos saudáveis, e de pelo menos 1,0g/kg de
peso para casos de doenças ou ingestão insuficiente de proteínas, em percentuais
23
devendo alcançar de 12% a 15% do valor calórico total (FOOD AND NUTRITION
BOARD, 1989 apud FRANK et al, 2004).
As recomendações de lipídios devem contribuir cerca de 25 a 30% do valor
calórico total (CUKIER et al, 2005). Abaixo estão descritas as recomendações de
carboidratos, proteínas e lipídeos para idosos.
Carboidratos
Proteína
Lipídeo
(g/dia)
(g/dia)
(g/dia)
Homens 50-70 anos
130
56
ND
+70 anos
130
56
ND
130
46
ND
130
46
ND
Mulheres 50–70 anos
+ 70anos
ND – sem recomendação
Fonte: CUKIER, C., et al, 2005.
Muitas vitaminas e minerais estão envolvidos em mudanças metabólicas e
patológicas comuns em idosos, como por exemplo, deficiências em vitaminas e
minerais antioxidantes (A, C e E, zinco) e vitaminas do complexo B (B1, B6 e folato) e
suas relações com as doenças cardiovasculares, níveis inadequados de vitamina D,
cálcio e magnésio e desenvolvimento de osteoporose, ou ainda cromo e zinco atuando
no metabolismo de carboidratos (CUKIER, 2005). As recomendações de alguns
micronutrientes estão descritos abaixo.
Vit.B12
Vit. D
(µg/dia)
Homens 50-70 anos
+70 anos
Mulheres50–70 anos
+ 70anos
Cálcio
Ferro
Folato
Potássio
Zinco
Magnésio
(µg/dia)
(mg/dia)
(mg/dia)
(µg/dia)
(g/dia)
(mg/dia)
(mg/dia)
2,4
10
1.200
8
400
4,7
11
420
2,4
15
1.200
8
400
4,7
11
420
2,4
10
1.200
8
400
4,7
8
320
2,4
15
1.200
8
400
4,7
8
320
Fonte: CUKIER, C., et al, 2005.
24
2.5 Alterações Fisiológicas do Envelhecimento
Fisiologicamente, o envelhecimento tem início relativamente precoce, logo
após o término da fase de desenvolvimento e estabilização, perdurando por longo
período
perceptível,
até
que
as
alterações
estruturais/funcionais
tornam-se
grosseiramente evidentes. As primeiras alterações atribuídas ao envelhecimento são
detectadas ao fim da terceira década de vida, geralmente discretas e progressivas,
estas alterações não causam insuficiência absoluta do órgão ou aparelho (FILHO,
2000).
Na maioria dos sistemas, ocorre uma paulatina diminuição de reserva
funcional, o que compromete sua capacidade de adaptação às modificações do meio
externo e/ou interno, prejudicando em última análise a eficácia dos mecanismos de
manutenção da homeostasia. O envelhecimento natural é caracterizado como “a
progressiva incapacidade de manutenção do equilíbrio homeostático em condições de
sobrecarga funcional” (FILHO, 2000).
Moura et al, (2002) mostra que dentre as principais modificações fisiológicas
que acontecem com o envelhecimento estão:
•
Músculo magro é substituído por gordura (mesmo sem ganho de peso);
•
Modificações na atividade enzimática e nos componentes de secreções
gástricas;
•
Atividade da amilase salivar é frequentemente reduzida;
•
Enzimas de atividade proteolítica podem estar diminuídas;
•
Hipocloridria e acloridria são frequentes;
•
Tolerância à glicose tende a diminuir;
•
Fluxo sanguíneo renal e velocidade de filtração estão reduzidos mesmo na
ausência de doença renal;
25
2.6 Polifarmácia
Medicamentos representam um dos itens mais importantes da atenção à
saúde do idoso. Pessoas com idade avançada tendem a usar mais produtos
farmacêuticos e apresentam particularidades farmacocinéticas e farmacodinâmicas que
as tornam particularmente vulneráveis a efeitos adversos. O conhecimento do perfil de
utilização de medicamentos pela população geriátrica é fundamental para o
delineamento de estratégias de prescrição racional de fármacos entre esse segmento
etário (FILHO et al, 2004).
Estima-se que 23% da população brasileira consomem 60% da produção
nacional de medicamentos, principalmente as pessoas acima de 60 anos. Esse padrão
elevado no consumo de medicamentos entre os idosos que vivem na comunidade tem
sido descrito em outros estudos no Brasil (FLORES et al, 2005).
O uso múltiplo de medicamentos é mais frequente entre idosos, devido à alta
prevalência de doenças crônicas nessa fase da vida. Em países desenvolvidos, estudos
farmacoepidemiológicos de base populacional têm mostrado que, entre idosos, o
número de doenças crônicas, a utilização de serviços de saúde, ser do sexo feminino e
ter idade mais avançada estão relacionados ao uso múltiplo de medicamentos (FILHO
et al, 2008).
Focando na saúde e, em especial, nas pessoas da terceira idade, o consumo
de medicamentos é uma das variáveis importantes que podem interferir na qualidade de
vida dessa população. Segundo Mosegui et al, (1999) cerca de 90% dos idosos
consomem pelo menos um medicamento e 1/3 deles, cinco ou mais simultaneamente.
No estudo de Ballone (2004), verificou-se que 52,7% dos idosos faziam uso de 1 a 4
medicamentos, 34,4% utilizavam entre 5 e 10 medicamentos e 3,8% utilizavam mais de
10 medicamentos, regularmente. Quase 40% das prescrições são destinadas aos
idosos.
Há evidências de que os idosos americanos, vivendo na comunidade, tomam
em média de 2,7 a 4,2 medicamentos prescritos ou não prescritos. Apesar de não
existir um consenso sobre qual número expresse polifarmácia, ela tem sido definida,
26
basicamente, de duas formas: como o uso concomitante de fármacos, medida por
contagem simples dos medicamentos ou como a administração de um maior número de
medicamentos do que os clinicamente indicados, avaliada nas revisões clínicas, usando
critérios específicos. Quantitativamente, ela tem sido classificada por alguns autores
como uso concomitante de cinco ou mais medicamentos. Divide e avalia graus de
polifarmácia da seguinte forma: de cinco a seis; de sete a nove e >10 medicamentos
(FLORES et al, 2005).
2.7 Fase Biofarmacêutica
Compreende todos os processos que ocorrem com o medicamento a partir da
sua administração, incluindo as etapas de liberação e dissolução do princípio ativo. Esta
fase deixa o fármaco disponível para a absorção. Entretanto, sua natureza química,
estado físico, tamanho e superfície da partícula, quantidade e tipo dos excipientes
utilizados, processo farmacêutico empregado e formulação são fatores, os quais podem
influir na biodisponibilidade do princípio ativo, fazendo variar o tempo de absorção e a
quantidade absorvida (MOURA et al, 2002).
2.8 Farmacocinética
Esta fase inclui os processos, nos quais o organismo interfere sobre o
fármaco. A farmacocinética é o estudo dos processos de absorção, distribuição,
biotransformação e excreção. O metabolismo ocorre em dois tipos de reações básicas,
referidas como reações fase I e fase II. A primeira inclui reações bioquímicas, como
oxidação, redução e hidrólise, as quais conduzem a modificações nas moléculas dos
fármacos. A segunda corresponde àquelas que conjugam os grupos funcionais dos
fármacos a moléculas endógenas. Estas reações são catalisadas por enzimas ou
27
sistemas enzimáticos, sendo o fígado o principal local de metabolismo de compostos
ativos, em função de seu amplo sistema microssomal. Outros órgãos e tecidos, como
pulmões, rins, mucosa intestinal, pele e plasma sanguíneo, também podem participar
deste processo (SILVA, 1994).
O sistema de catálise do metabolismo oxidativo, dependente do citocromo
P450, atua sobre uma ampla gama de substâncias endógenas, bem como sobre
substâncias químicas estranhas, tais como fármacos, poluentes ambientais e
carcinógenos (Anderson et al, 1988 apud. MOURA et al, 2002).
2.9 Absorção e Metabolismo dos Fármacos
Os processos de absorção de drogas estão relacionados à permeabilidade de
compostos através de membranas biológicas sob influência das características físicoquímicas de ambos. O transporte de fármacos para o interior da membrana intestinal é
complexo e dinâmico. Ele inclui, e acontece principalmente por transporte passivo,
através dos enterócitos (transcelular), das junções entre os enterócitos (paracelular) e
os mecanismos ativos, via transportadores (Balimane et al, 2000 Apud, Souza et al,
2007).
Dentre as principais famílias de transportadores de fármacos que promovem
a absorção estão: os transportadores ABC (ATP Binding Cassete), compostos pelos
grupos de resistência a múltiplas drogas (MDR), cujos substratos típicos são os
compostos hidrofóbicos, agentes antitumorais, digoxina e imunossupressores, e
proteína relacionada à multiresistência (MRP), cujos substratos típicos são conjugados
aniônicos, agentes antitumorais, metotrexato e pravastatina. Existem também os
transportadores peptídicos (PEPT) que são responsáveis pelo transporte de di e
tripeptídeos e antibióticos β -lactâmicos; os transportadores de ácido monocarboxílico
(MCT) que atuam na permeação de ácido lático e ácido salicílico; os transportadores de
ânions orgânicos (OATP), cujo exemplo de substrato típico é a tiroxina, e de íons
orgânicos (OAT, OCT e OCTN), cujos exemplos de substratos típicos são dopamina,
28
metotrexato e cimetidina e os transportadores nucleosídeos (CNT e ENT), que atuam
no transporte de nucleosídeos purínicos e pirimidínicos (Souza et al, 2007).
Cabe ressaltar os transportadores de efluxo ou secreção, ou seja, aqueles
que transportam os fármacos da membrana intestinal de volta para o lúmen. Estes
transportadores funcionam como barreira à absorção. Os principais componentes desta
classe são as glicoproteínas-P (Pgp), que são dependentes de ATP (170-180 KDa) e
estão presentes em inúmeros órgãos e tecidos, incluindo cérebro, fígado, intestino,
glândula adrenal, placenta, barreira hemato-encefálica e rim (Katsura, Inui, 2003 apud
SOUZA et al, 2007).
Dentre os fatores fisiológicos podem-se ressaltar o tempo de esvaziamento
gástrico e o trânsito intestinal das diversas formas farmacêuticas. O primeiro é mais
lento em presença de alimento, sendo o segundo menos afetado pelas condições
alimentares. A combinação entre os efeitos referentes ao maior tempo para ocorrer o
esvaziamento gástrico e a potencial ligação entre os componentes alimentares e o
fármaco pode diminuir sua absorção, principalmente para fármacos hidrossolúveis com
alta biodisponibilidade. Fármacos pouco solúveis em água ou com solubilidade pH
dependente
são
altamente
afetados
pelas
mudanças
pós-prandial
do
trato
gastrintestinal (TGI) podendo ter diferenças significativas na sua biodisponibilidade
(MACHERAS, ARGYRAKIS, 1997; CHARMAN et. al. 1997). As alterações de pH, a
área superficial de contato, a atividade enzimática, e a microflora presente também
podem modificar a absorção de fármacos (LIMA, 1997).
A velocidade e a extensão da absorção de um fármaco podem ser alteradas
devido à sua lipofilicidade, estado de ionização ou tamanho das partículas. Fatores
inerentes às formas farmacêuticas sólidas, administradas por via oral, como velocidade
e extensão de desintegração e dissolução também são relevantes (SOUZA, 2007).
29
2.10 Sítios de Absorção
Os parâmetros anatômicos e fisiológicos do TGI afetam drasticamente a
velocidade e a extensão da absorção de fármacos e nutrientes administrados por via
oral. A porção do TGI onde ocorre maior absorção é o duodeno e a parte proximal do
jejuno. A mucosa onde este fenômeno ocorre consiste em um epitélio colunar simples,
com uma membrana proeminente e vascular denominada lâmina própria. Para
aumentar sua área superficial e, consequentemente, sua capacidade de promover
absorção, esta mucosa possui pregas, depressões e microvilosidades. O epitélio
formado não é uniforme, mas o principal tipo de células são os enterócitos. Estes se
compõem de células epiteliais colunares, que são interligadas por estreitas junções.
Existem numerosas microvilosidades na membrana celular apical das células epiteliais
colunares, o que ocasiona aumento significativo da área superficial disponível para
absorção e a aparência de borda em escova quando visualizadas ao microscópio
(BRUNTON et al, 2006).
Brunton et al, (2006) descreve que fármacos ácidos são também absorvidos
no estômago, pois nesta região, o pH ácido dificulta sua dissociação, promovendo sua
difusão passiva pela porção lipofílica da bicamada da membrana. Fármacos básicos
são absorvidos preferencialmente no intestino.
As reações metabólicas são divididas em fase 1 (oxidação, redução e
hidrólise) e fase 2 (conjugação). Os produtos de degradação (metabólitos), por sua vez,
podem ser inativos ou ativos. Em relação ao fármaco de origem, os metabólitos ativos
podem agir por mecanismos de ação similares ou diferentes, ou até mesmo por
antagonismo (Pereira, 2007).
O uso crônico de medicamentos pode induzir alterações da função hepática
de determinado paciente, resultando em indução enzimática, em que a atividade
metabólica se torna exacerbada, ou, contrariamente, de inibição da função enzimática
hepática (PEREIRA, 2007).
30
2.11 Farmacodinâmica
A fase farmacodinâmica ocupa-se dos estudos dos efeitos bioquímicos e
fisiológicos dos fármacos e seus mecanismos de ação. A análise detalhada da ação de
um fármaco pode proporcionar as bases para seu uso terapêutico racional e para o
desenvolvimento de outros agentes terapêuticos mais novos e eficazes. As pesquisas
básicas de farmacodinâmica também fornecem informações fundamentais acerca da
regulação bioquímica e fisiológica. Os efeitos da maioria dos fármacos são atribuídos a
sua interação com os componentes macromoleculares do organismo. Estas interações
alteram a função do componente envolvido e, desta forma, produzem as alterações
bioquímicas e fisiológicas que caracterizam a resposta ao fármaco (BRUNTON et al,
2006).
2.12 Interação Fármaco / Nutriente
Há similaridades na absorção, mas as distribuições metabólicas do fármaco e
do nutriente são diferentes. Os nutrientes entram no processo metabólico normal da
célula também na forma de substrato para reações bioenergéticas, produzindo energia
para contrabalançar a entropia ou na forma de co-fator para as reações anabólicas e
catabólicas. Já os fármacos, geralmente participam de reações que resultam na
modificação química, na atividade farmacológica e na sua excreção (GORZONI, 1995).
O efeito clínico de um fármaco está relacionado, na maioria das vezes com
sua biodisponibilidade. Esta pode ser afetada pela ingestão alimentar de forma não
intencional, produzindo um aumento ou diminuição na biodisponibilidade, resultando em
uma falha no tratamento, ou causando toxicidade, que pode influenciar negativamente
no estado geral do paciente, contribuir na morbidade e prolongar o tempo de tratamento
ou hospitalização. Desde a ingestão até a evacuação, podem ocorrer interações entre
fármaco e nutriente, que altera tanto a biodisponibilidade quanto o efeito clínico. A
31
relação entre parâmetros farmacocinéticos e efeitos farmacológicos nem sempre são
simples e, geralmente, influenciam na biodisponibilidade de um fármaco induzidas por
um alimento podem ser somente um marcador ou indicador de uma interação fármacoalimento (MOURA et al, 2002).
Salazar, (2007) descreve que uma interação dada entre fármaco/ alimento
pode evoluir somente se o impacto clínico é quantificado, porém em muitos casos este
efeito farmacológico não é diretamente quantificado. Os mecanismos deste tipo de
interações podem dividir-se em farmacocinéticos afetando a absorção, distribuição,
metabolismo ou eliminação, que são as mais comuns e farmacodinâmicos, em que um
alimento, ou derivado afeta a ação do fármaco em nível de receptor. Considerando as
reações fármaco/ alimento, precisa levar em conta uma série de circunstâncias que
podem influir, de alguma maneira, no curso, prognóstico e desenlace, como:
•
Características do fármaco;
•
Característica do alimento;
•
Parâmetros farmacocinéticos;
•
Parâmetros do efeito clínico.
As características físicas e químicas de um fármaco são importantes, e
podem combinar, dependendo da formulação. Fármacos de um mesmo grupo podem
apresentar diferentes características químicas. Por outro lado, não somente os
conhecimentos das características físico-químicas de um fármaco podem informar uma
possível interação, são necessários estudos farmacocinéticos e seus efeitos.
A ingestão de alimentos poderá afetar a biodisponibilidade do fármaco
através de interações físico-químicas ou químicas. Sendo afetada, por modificação dos
processos farmacocinéticos, ocorrerá alteração da farmacodinâmica e da terapêutica.
Assim, é de fundamental importância conhecer as substâncias ativas cuja velocidade de
absorção e/ou quantidade são alteradas, bem como aquelas que não são afetadas pela
presença de nutrientes. Estudos aprofundados com humanos sobre estes mecanismos
têm sido realizados, com a finalidade de demonstrar mais precisamente os efeitos dos
nutrientes sobre a biodisponibilidade dos fármacos (MOURA et al, 2002).
Analgésicos
e
anti-inflamatórios,
por
exemplo,
são
com
frequência
administrados com alimentos. O objetivo é diminuir a irritação da mucosa gástrica
32
provocada, principalmente, pela administração destes medicamentos por tempo
prolongado. De acordo com a maioria das pesquisas realizadas, os nutrientes diminuem
a velocidade de absorção dos fármacos, provavelmente por retardarem o esvaziamento
gástrico (SOUICH et al, 1992).
A biodisponibilidade de fármacos lipofílicos se incrementa por alimentos
gordurosos, isso pelo aumento na solubilidade, e estimulação da secreção de bile. Os
alimentos ricos em fibras podem diminuir a biodisponibilidade de digoxina e lovastatina
ao unir-se a fibra. A disponibilidade de um fármaco depende da absorção e do
metabolismo de primeira passagem. As interações mais importantes acontecem por
troca da absorção devido a reações químicas, as trocas fisiológicas acontecem em
resposta à ingestão de alimentos (modificações na acidez gástrica, secreção e
motilidade gastrintestinal) (FARHAT et al, 2007).
A absorção de fármacos é um mecanismo que mais acomete interações
fármaco/alimento. Preparações com alto teor de gordura retardam o esvaziamento
gástrico, assim como fármacos com propriedades anticolinérgicos e pode produzir
retardo na absorção. O leite e seus derivados podem incrementar o pH gástrico,
produzindo uma dissolução prematura de comprimidos revestidos, modificando a
absorção. Os fármacos são absorvidos mais rapidamente quando administrados
juntamente com água (SALAZAR, 2007).
A natureza das diferentes interações pode apresentar os seguintes caminhos:
• alguns nutrientes podem influenciar no processo de absorção de fármacos;
• alguns nutrientes podem alterar o processo de biotransformação de algumas
substâncias;
•
alterações na excreção de fármacos podem ocorrer por influência de nutrientes;
•
fármacos podem afetar o estado nutricional;
• o estado nutricional pode interferir sobre o metabolismo de certos fármacos,
diminuindo ou anulando seu potencial terapêutico ou aumentando seu efeito tóxico
(MOURA et al, 2002).
Segundo Salazar, (2007) os nutrientes podem afetar o tempo de trânsito
intestinal, o fluxo sanguíneo hepático, e podem atuar como uma barreira. Com o
envelhecimento, se produz um incremento de gordura corporal e alguns fármacos
33
lipossolúveis são “sequestrados”, em tecido adiposo, aumentando a meia vida e a
duração da ação.
Nutrientes com alto conteúdo de vitamina K (espinafre e alface) antagonizam
os efeitos anticoagulantes da warfarina. O aumento de sódio na dieta pode diminuir a
efetividade de muitos anti-hipertensivos e alterar a eliminação renal de lítio. A
monoaminoxidase é uma enzima que catalisa a destruição de serotonina, adrenalina,
noradrenalina e dopamina. Também se encontra no trato gastrintestinal e metaboliza a
tiramina que está presente nos alimentos, antes de chegarem à circulação sistêmica.
Os inibidores da monoaminoxidase produzem acúmulo de tiramina nos neurônios
adrenérgicos, com a ingestão de alimentos com alto conteúdo de tiramina (queijos,
vinho tinto, chocolate, etc) podem ser liberadas grandes quantidades de noradrenalina,
que pode desencadear um quadro de cefaleia, hipertensão e arritmias cardíacas
(SALAZAR, 2007).
2.9 Interferência do Estado Nutricional na Biodisponibilidade dos Fármacos
As deficiências nutricionais resultam de quantidades de nutrientes essenciais
ingeridas inadequadamente, o que acarreta precariedade do estado nutricional. Este,
por sua vez, pode afetar a ação do fármaco, por alterar a absorção, a distribuição, a
biotransformação e a excreção, influenciando, portanto, a resposta terapêutica. O fator
mais importante do regime alimentar no metabolismo de compostos ativos é a
quantidade de proteína na dieta. Um regime alimentar com elevado teor de proteína e
baixo teor de carboidrato aumenta a velocidade do metabolismo do fármaco, enquanto
dieta com baixo teor de proteína e alto teor de carboidrato favorece o efeito oposto
(MOURA, et al, 2002).
Alguns alimentos podem interferir no metabolismo de fármacos, pelo fato de
influenciar na atividade de enzimas, como do citocromo P 450 e pode aumentar a
biodisponibilidade, alterando o tempo de meia-vida de alguns fármacos. Com menor
frequência se produzem interações farmacodinâmicas no efeito farmacológico de um
34
fármaco, podendo ser potencializado ou antagonizado por esse efeito do alimento
(SALAZAR, 2007).
2.14 Interferência do Fármaco no Estado Nutricional
Oliveira, (1999) comenta que os idosos sofrem com mais frequência do que
os jovens aos efeitos adversos dos medicamentos. Isto é consequência da queda de
suas funções vitais, da múltipla e simultânea medicação e de seu estado nutricional,
muitas vezes deficiente nesta fase da vida. Os efeitos metabólicos e digestivos
adversos, que alguns medicamentos de uso habitual em geriatria produzem, devem ser
considerados na análise da ingestão de alimentos. Os mais frequentes são:
- Tranquilizantes e psicofármacos: favorecem o relaxamento e diminuem a absorção
intestinal;
- Diuréticos e laxantes: ocasionam desidratação e depleção de eletrólitos como
magnésio, potássio e zinco;
- Antibióticos: alteram a absorção intestinal por destruição da flora. Provocam má
absorção de carboidratos, vitamina B12, cálcio, ferro, magnésio e cobre e inibem a
síntese proteica;
- Glicocorticoides: predispõem à gastrite, osteoporose (interferem na absorção do
cálcio) e hiperglicemia;
- Analgésicos: favorecem as gastrites e úlceras.
Os idosos, em geral, apresentam multiplicidade de doenças, e, portanto
consomem maior número de medicamentos. O uso de diferentes medicamentos, nesta
época da vida, tem deixado de ser esporádico para converter em habitual. A
polifarmácia, em idosos, aumenta a incidência de efeitos colaterais e interações
medicamentosas e o seu uso inadequado, frequentemente, provoca complicações
graves. Nesse sentido, a utilização a longo prazo, de drogas terapêuticas que
interferem na digestão, na absorção e no metabolismo de nutrientes podem, também,
35
ocasionar desnutrição nos idosos, além de desenvolver anorexia (CAMPOS et al,
2000).
2.15 Doenças que mais Acometem Idosos
2.15.1 Hipertensão arterial
A hipertensão arterial sistêmica (HAS), doença cardiovascular é largamente
conhecida como fator de risco para o desenvolvimento de outras doenças
cardiovasculares.
Apresenta
alta
prevalência
na
população
adulta
mundial,
principalmente acima dos 40 anos. No Brasil, em estudos realizados entre 1980 e 1998,
em diversas regiões, foram estimadas prevalências de HAS entre 8% e 33%
(TOSCANO, 2004). Certamente é um dos fatores mais importantes na configuração da
mortalidade brasileira, contribuindo para que as doenças cardiovasculares sejam a
primeira causa de mortalidade nos últimos vinte anos. Em 1999, representaram 32%
dos óbitos no país (CAVALINI; CHOR, 2003).
Toscano, (2004) estima que 40% dos acidentes vasculares encefálicos e em
torno de 25% dos infartos ocorridos em pacientes hipertensos poderiam ser prevenidos
com terapia anti-hipertensiva adequada. No entanto, parcela importante da população
adulta com hipertensão não sabe que é hipertensa; e muitos dos que sabem não estão
sendo adequadamente tratados. A hipertensão arterial é uma co-morbidade
extremamente comum no diabético, representando um risco adicional a este grupo de
pacientes para o desenvolvimento de complicações macrovasculares.
2.15.1 Tratamento Medicamentoso
36
2.15.1.1 Captopril
O exato mecanismo de ação do Captopril ainda não foi completamente
elucidado. Os efeitos benéficos na hipertensão e na insuficiência cardíaca parecem
resultar principalmente da supressão do sistema renina-angiotensina-aldosterona. O
Captopril impede a conversão da angiotensina I em II, pela inibição da enzima
conversora de angiotensina (ECA), resultando na diminuição das concentrações séricas
de angiotensina II, que é uma das mais potentes substâncias vasoconstritoras
endógenas. A redução da angiotensina II leva a uma secreção diminuída de
aldosterona e, como resultado, pode ocorrer pequenos aumentos de potássio sérico,
juntamente com perda de sódio e líquidos (SUCAR, 2000).
O Captopril é rapidamente absorvido por via oral e os níveis sanguíneos
máximos ocorrem por volta de 1 hora. A absorção mínima média é de
aproximadamente 75%. A presença de alimentos no trato gastrintestinal reduz a
absorção do Captopril em cerca de 30% a 40%, motivo pelo qual o produto deve ser
administrado uma hora antes das refeições. A associação com substitutos do sal
contendo potássio aumenta o potássio sanguíneo. O magnésio e o cálcio interferem na
biodisponibilidade da droga. Aproximadamente 25% a 30% da droga circulante ligam-se
às proteínas plasmáticas. A meia-vida de eliminação é inferior a 3 horas. Em um
período de 24 horas, mais de 95% da droga absorvida é eliminada na urina; 40% a 50%
como droga inalterada e o restante como metabólitos (bissulfeto dímero de Captopril e
bissulfeto de captopril-cisteína) (RANG, 2003).
Após a administração oral de uma dose isolada de Captopril, reduções
máximas da pressão arterial são frequentemente observadas dentro de 60 a 90 minutos
(RANG, 2003).
37
2.15.1.2 Hidroclorotiazida
Os inibidores da anidrase carbônica são bem absorvidos após administração
oral. Verifica-se um aumento do pH urinário, devido à diurese de bicarbonato, dentro de
30 minutos; esse aumento torna-se máximo em 2 horas e persiste por 12 horas após a
administração de uma dose única. A excreção da droga ocorre por secreção no
segmento S2 do túbulo proximal (KATZUNG, 2006).
A inibição da atividade da anidrase carbônica deprime profundamente a
reabsorção de bicarbonato no túbulo proximal. Em sua dose máxima administrada com
segurança, 85% da capacidade de reabsorção de bicarbonato do túbulo proximal
superficial são inibidos. Todavia, algum bicarbonato ainda pode ser reabsorvido em
outros locais do néfron, através de mecanismos que não dependem da anidrase
carbônica. O efeito da administração de acetazolamida consiste em inibição de cerca de
45% de toda a reabsorção renal de bicarbonato. Entretanto a inibição da anidrase
carbônica provoca perdas significativas de bicarbonato e acidose metabólica
hiperclorêmia (KATZUNG, 2006).
No nível sanguíneo há diminuição de sódio, cloro, potássio, zinco, magnésio
e glicose. Na urina há aumento da excreção urinária de sódio, cloro, potássio, zinco,
magnésio, glicose, bicarbonato e riboflavina, que interferem significativamente no
estado nutricional. No nível urinário há também diminuição da excreção de cálcio e
ácido úrico (REIS, 2004).
2.15.1.3 Maleato de Enalapril
Enalapril é uma droga que é hidrolisada antes da absorção formando um
metabólito ativo, enalaprite, um inibidor competitivo da ECA (SYED et al, 2006), que
transforma os inativos angiotensina I em biologicamente ativo angiotensina II. Sob a
38
influência de enalapril os níveis plasmáticos de angiotensina II e aldosterona diminuem
(GOMES, 2005).
O maleato de enalapril oral é rapidamente absorvido e as concentrações
máximas plasmáticas ocorrem em uma hora. Com base na recuperação na urina, a taxa
de absorção oral é de aproximadamente 60%. As concentrações máximas plasmáticas
do enalaprilato ocorrem 3 a 4 horas depois de uma dose oral de maleato de enalapril.
Em indivíduos com função renal normal, as concentrações séricas em estado de
equilíbrio do enalaprilato foram atingidas por volta do quarto dia da administração do
maleato de enalapril. A meia-vida efetiva para acúmulo do enalaprilato após múltiplas
doses de maleato de enalapril oral é de 11 horas. A absorção do maleato de enalapril
oral não é influenciada pela presença de alimentos no trato gastrintestinal. A extensão
da absorção e a hidrólise são semelhantes para as diversas doses na faixa terapêutica
recomendada (DEF, 2008).
A inibição efetiva da atividade da ECA usualmente ocorre 2 a 4 horas depois
da administração oral de uma única dose de enalapril. O início da atividade antihipertensiva geralmente foi observado em uma hora e as reduções máximas, em 4 a 6
horas após a administração. A duração do efeito é relacionada à dose. Entretanto, nas
doses recomendadas, demonstrou-se que os efeitos anti-hipertensivo e hemodinâmico
se mantêm durante 24 horas, no mínimo (DEF, 2008).
No nível sanguíneo há aumento de potássio, ureia nitrogenada, creatinina;
diminuição do sódio e, na urina, há proteinúria (REIS, 2004).
2.15.1.4 Propranolol
O Propranolol é um agente bloqueador, de receptores β-adrenérgicos
inespecífico, lipossolúvel, absorvido quase totalmente pelo trato gastrintestinal,
metabolizado em grande parte no fígado e com grande capacidade ligante às proteínas
(91 a 95%). Cerca de 1% é excretado via renal sem qualquer modificação. O
mecanismo do efeito anti-hipertensivo de propranolol não está totalmente elucidado.
39
Entre os fatores que podem estar envolvidos, contribuindo para a ação antihipertensiva, estão a diminuição do débito cardíaco, inibição da secreção de renina
pelos rins e a diminuição do tônus simpático proveniente dos centros vasomotores do
cérebro (HAUM, 2001).
O propranolol tem demonstrado causar um pequeno aumento na
concentração sérica do potássio, quando usado no tratamento de pacientes
hipertensos. Não há correlação simples entre o nível plasmático ou dose e o efeito
terapêutico. A principal razão para isto é que o tônus simpático varia consideravelmente
entre os indivíduos. Uma vez que não há teste seguro para estimar o tônus simpático
ou determinar se o bloqueio β-adrenérgico total foi alcançado. A dose exata requer
rastreamento (CORRÊA, 2006).
O propranolol é grandemente metabolizado e tem uma meia-vida de
eliminação curta (2 a 5 horas). Sofre metabolismo hepático de primeira passagem e
como este é um fenômeno biológico variável, induz grandes diferenças individuais na
concentração plasmática. Isto ocorre com todos os β-bloqueadores lipofílicos. Estas
drogas podem estar envolvidas com interações a outras drogas que afetam a atividade
enzimática microssomal. Além disso, estes β-bloqueadores tem acesso ao sistema
nervoso central e podem produzir mais efeitos colaterais (DEF, 2008).
Em contraste, os β-bloqueadores hidrofílicos têm menor absorção, maior
meia-vida de eliminação, não são metabolizados no fígado e menor variabilidade nas
concentrações plasmáticas interpacientes. No entanto, as diferenças entre os muitos
agentes bloqueadores β-adrenérgicos não resultam em diferença clinicamente
significante de ação anti-hipertensiva, com preferência de um a outro em função de
especificidades farmacocinéticas e efeitos adversos (CORRÊA, 2006).
A absorção do Propranolol aumenta quando ingerido com alimentos,
principalmente os hiperproteicos, aumentando o clearence em aproximadamente 74%,
pois tem capacidade ligante à proteína. O aumento da biodisponibidade deste fármaco
se deve a uma redução na eliminação pré-sistêmica do medicamento, por um aumento
transitório no fluxo sanguíneo hepático provocado pelo alimento (REIS, 2004).
40
2.15.1.5 Losartan
É o primeiro derivado de uma nova geração de medicamentos denominados
antagonistas da angiotensina II (ATII), que desenvolve um efeito gradual e prolongado
sobre os valores sisto-diastólicos de indivíduos hipertensos. Trata-se de uma
substância sintética de estrutura química original befeniltetrazol, de natureza não
peptídica, que pela sua semelhança estrutural compete com o receptor específico da
angiotensina II, inibindo, dessa forma, sua ligação com esse agonista endógeno. Sua
elevada afinidade e especificidade in vitro e in vivo sobre os receptores AT 1 da
angiotensina II, localizados preferentemente no músculo liso vascular e em outras
estruturas (miocárdio, rim, cérebro, suprarrenal), e seu comportamento como agonista
puro sem efeito agonista parcial, o destacam como um agente anti-hipertensivo seguro
e eficaz, diferença do seu antecessor, a saralasina (somente para uso intravenoso em
infusão contínua) (KOROLKOVAS et al, 2008).
O losartan é ativo por via oral, em doses de 50mg diários em uma tomada
única (tendo a mesma potência que 10mg de enalapril). Após a sua administração oral,
esse derivado imidazólico benzil-substituído sofre uma biotransformação hepática
(efeito de primeira passagem) que reduz significativamente sua absorção sistêmica a
33% e produz um metabólito ativo, o ácido 5-carboxílico, de meia-vida prolongada, que
contribui para prolongar a ação anti-hipertensiva durante 24 horas com uma única
tomada diária, graças à ação aditiva ou de somação entre o fármaco e seu metabólito
ativo. A meia-vida plasmática é de 2,3 horas para o losartan e de 6,7 horas para o
metabólito ativo (E-3174), enquanto que à proporção que se liga às proteínas é elevada
(> 99%). A absorção digestiva do fármaco não é afetada pela presença de alimentos no
estômago; depois da administração de uma dose única oral de 50mg, atinge o pico
plasmático máximo em 60 minutos, com um volume de distribuição de 34 litros,
aproximadamente, sem que seja observado fenômeno de acumulação com a
administração contínua e prolongada, inclusive de doses
(KOROLKOVAS et al, 2001).
elevadas (100mg)
41
2.15.1.6 Atenolol
O atenolol é um fármaco cardiosseletivo e de longa duração de ação.
Administrado oralmente mostra-se efetivo no tratamento de angina pectoris e outras
doenças coronarianas isquêmicas, reduzindo a gravidade e a frequência de ataques
isquêmicos, o consumo de nitroglicerina e melhorando a função cardiovascular durante
o exercício. Além disso, este agente β-bloqueador pode ser administrado com
segurança, devido ao alto índice terapêutico (LEITE, 2006).
Segundo Leite (2006), em relação à farmacocinética do atenolol, a literatura
relata que para indivíduos saudáveis apenas 50% da dose são absorvidos pelo trato
gastrintestinal após a administração oral. Uma vez atingida a corrente circulatória, o
atenolol é rapidamente distribuído para os tecidos devido à sua baixa ligação às
proteínas plasmáticas (ao redor de 5%), embora o mesmo apresente uma extensão de
distribuição relativamente baixa (0,95 L/kg). Devido a sua característica hidrofílica, a
eliminação do atenolol é predominantemente renal, sendo que a fração da dose
absorvida é recuperada na urina dentro de 48 horas, apresentando meia-vida biológica
de 4 a 8 horas e depuração plasmática de 1,8 a 2,2 mL/min.kg.
2.15.1.7 Verapamil
O verapamil é um derivado da papaverina, antagonista dos canais de cálcio
no nível da membrana celular, levando ao relaxamento das arteríolas cardíacas e
sistêmicas, diminuindo o consumo de oxigênio pelo miocárdio. Com meia-vida de 6
horas, apresenta nível terapêutico meia hora após a ingestão do comprimido
(VASCONCELLOS et al, 2000).
A ação anti-hipertensiva do cloridrato de verapamil é resultado de uma
diminuição da resistência vascular periférica, sem a ocorrência de taquicardia reflexa
(RANG et al, 2003).
42
O pico terapêutico é atingido em 3 a 5 minutos após administração em bolus
de verapamil. Possui capacidade ligante às proteínas (albumina de 90%). É quase
completamente absorvido no trato gastrintestinal, com níveis plasmáticos de pico
atingidos em uma a duas horas após uma dose oral (REIS, 2004).
A sua meia-vida é de 3,5 horas. É metabolizado no fígado através do
citocromo P450. A meia-vida de eliminação é de 3 a 7 horas. Aproximadamente 70% da
dose administrada é eliminada por via renal sob a forma de seus metabólitos e 3 a 4%
sob a forma inalterada; 50% da dose é eliminada via renal em 24 horas e 70% em cinco
dias. Dezesseis por cento da dose é eliminada nas fezes (KOROLKOVAS et al, 2008).
2.15.2 Diabetes Mellitus
Em 1995 foi estimado que o diabetes mellitus (DM) atingia 4% da população
adulta mundial e que, em 2025, atingirá 5,4% da população, o que equivalerá a
aproximadamente 300 milhões de diabéticos. A maior parte desse aumento se dará em
países em desenvolvimento, e neles se acentuará o atual padrão de concentração de
casos na faixa etária de 45-64 anos (King, 1998 apud. TOSCANO, 2004).
A elevação dos níveis glicêmicos e a maior prevalência de diabetes mellitus
estão diretamente relacionados ao processo de envelhecimento e são consequentes as
alterações no metabolismo dos carboidratos observadas em idosos (Davidson, 1979;
Andres, 1971; Jackson et al, 1982, apud. GORZONI; NETO, 1995).
Há relação entre a idade e o aumento dos níveis glicêmicos. A causa das
alterações no metabolismo dos carboidratos relacionadas à idade ainda está em
discussão. Algumas possibilidades estão relacionadas à dieta insuficiente, inatividade
física, diminuição da massa magra corporal, secreção alterada de insulina e resistência
à glicose (TAVARES et al, 2008).
A diminuição da elasticidade das paredes arteriais, decorrente do aumento da
idade, acarreta o aumento da pressão arterial, estando diretamente relacionada às
complicações do diabetes (TAVARES et al, 2008).
43
O tratamento do diabetes deve enfatizar a manutenção dos níveis glicêmicos
em taxas consideradas normais e as ações preventivas, de forma a postergar as
complicações. Assim, adaptando seu cotidiano, o idoso poderá manter vida saudável e
digna (MONTEAGUDO et al, 1998).
2.15.2 Tratamento Medicamentoso
2.15.2.1 Metformina
A metformina é uma biguanida que melhora o controle glicêmico, aumentando
principalmente a sensibilidade hepática (por meio da supressão da glicogenólise e
inibição da gluconeogenese no fígado) e em menor extensão melhora a sensibilidade
do músculo à insulina (maior captação periférica de glicose e armazenamento no
músculo). Também tem ação diminuindo a oxidação dos ácidos gordurosos e a
absorção de glicose intestinal, mas a contribuição desses efeitos na ação antihiperglicemiante é considerada pequena. Além disso, colabora na redução do
colesterol, dos triglicerídeos e do peso corporal (GABBAY, 2008). Provoca diminuição
de vitamina B12 e folato (REIS, 2004).
44
2.15.2.2 Glibenclamida
A glibenclamida é uma sulfonilureia de segunda geração. Sua ação antihiperglicemiante se deve ao aumento da liberação da insulina pelo pâncreas, porém
efeitos extrapancreáticos devem estar envolvidos (SILVA et al, 2005).
As sulfonilureias levam à hipoglicemia pela estimulação das células
pancreáticas do tipo β das ilhotas de Langerhans, provocando o aumento da secreção
de insulina na corrente sanguínea. Além do incremento na produção de insulina, as
sulfonilureias, em pacientes com diabetes mellitus tipo II, favorece a elevação dos
níveis de insulina pela redução da depuração hepática deste hormônio, provocando
redução aguda e manutenção crônica da concentração de glicose no plasma (SILVA,
2005).
Segundo Silva, (2005) a glibenclamida é bem absorvida no trato
gastrintestinal, apesar de ter sua absorção diminuída se administrada juntamente com
alimentos e em estados de hiperglicemia (estados hiperglicêmicos inibem a motilidade
gástrica e intestinal, podendo retardar a absorção de muitas drogas). A absorção é
rápida, chegando a atingir uma concentração considerável no plasma após 30 a 60
minutos de administração. As sulfonilureias, principalmente a glibenclamida, possuem
alta capacidade de se ligarem às proteínas plasmáticas (90 a 99 %), especialmente à
albumina, num volume de distribuição de cerca de 0,2 L/Kg. Embora a sua meia-vida
seja curta (1,5 a 5 horas), seus efeitos hipoglicêmicos são evidentes por 12 a 24 horas,
podendo ser administrada uma vez ao dia. A razão desta discrepância entre a
meia-
-vida e a duração dos efeitos não estão bem esclarecidas.
2.15.3 Analgésicos
Dor é definida pela Sociedade Internacional para o Estudo da Dor (IASP)
como uma experiência sensitiva emocional desagradável relacionada à lesão tecidual
45
ou descrita em tais termos. Trata-se de uma manifestação subjetiva, que envolve
mecanismos físicos, psíquicos e culturais (PEDROSO et al, 2006).
Analgésicos são drogas cuja ação predominante é a de suprir a dor, sendo que
também alguns são antipiréticos. Diferem dos narcóticos e anestésicos, por não
determinarem torpor e inconsciência, e dos corticoides, que aliviam a dor
aparentemente por sua ação anti-inflamatória (GORZONI ; NETO, 1995).
2.15.3 Tratamento medicamentoso
2.15.3.1 Paracetamol
Paracetamol é um analgésico-antipirético pertencente à classe dos derivados
do p-aminofenol. É obtido por acetilação do p-aminofenol com ácido acético glacial e
anidrido acético. Esse fármaco se apresenta como um pó branco, inodoro e
ligeiramente hidrossolúvel e as suas atividades analgésicas e antipiréticas são similares
às da acetanilida e fenacetina, da qual é metabólito (ANICETO, 2002).
Ingerido com a alimentação, produz um enlentecimento na sua absorção, em
decorrência do lento esvaziamento gástrico, embora o fármaco seja absorvido tanto no
estômago como no intestino. Interfere ligeiramente na absorção das vitaminas B1, B6, K
e folacina. O Paracetamol não produz irritação gástrica, não sendo necessárias
precauções referentes à coincidência de horário entre a administração do medicamento
e a ingestão de alimentos. Em contrapartida, se deseja um efeito analgésico rápido, as
dietas hiperglicídicas, contendo principalmente pectina, retardam significativamente a
absorção do fármaco, pois dificultam a solubilidade da droga por sua grande
viscosidade, gerando níveis plasmáticos inferiores (REIS, 2004).
46
2.15.3.2 Tylex
O tylex contem duas substâncias ativas, paracetamol e codeína fosfato. Esta
combinação de medicamentos é muitas vezes referida como co-codamol.
Sua biotransformação da codeína faz-se principalmente por glucoronidação, e
uma menor parte por N-demetilação para norcodeína via CYP 3A4 e O-demetilação
para morfina via enzima CYP 2D6. A codeína tem uma afinidade muito pequena para
receptores opioides, obtendo seu efeito analgésico através da formação de morfina.
Portanto, a enzima CYP 2D6 apresenta papel fundamental na analgesia proporcionada
pela codeína. Esta enzima pode ter um funcionamento normal (metabolizador rápido),
ou estar inativa geneticamente (metabolizadores pobres) (MARCOLIN, 2004).
Um metabolizador rápido pode ser farmacologicamente convertido a pobre
por inibição gerada por determinadas drogas. Pacientes que recebem codeína com
inibidores de CYP 2D6 podem experimentar menor analgesia tanto se forem
metabolizadores rápidos (ditos normais) quanto metabolizadores pobres, pois os
fármacos que inibem a CYP 2D6 reduzem a potência analgésica da codeína que dela
necessita para a formação de morfina, essência de sua analgesia (MARCOLIN, 2004).
2.15.3.3 Ácido acetilsalisílico
O ácido acetilsalicílico é o protótipo dos medicamentos anti-inflamatórios nãoesteroides, também inibe a agregação plaquetária. É prescrito como analgésico,
antipirético, anti-inflamatório e, em baixas doses, na redução da incidência e
mortalidade do infarto do miocárdio (BRUNTON, 2006).
A inibição da agregação plaquetária é decorrente de uma interferência com a
produção de tromboxano A2 no interior da plaqueta (CAYTON et al, 2006).
Segundo Cayton et al, (2006), AAS pode, ainda, ser utilizado para reduzir o
risco de ataque isquêmico transitório recorrente (AITR) ou nos pacientes com histórico
47
de isquemia cerebral transitória devida a embolia fibrino-plaquetária assim como para
reduzir o risco de infarto do miocárdio (IM), fatal ou não, naqueles pacientes com
história de infarto prévio ou de angina pectoris instável.
O uso crônico diminui a disponibilidade da vitamina C, por aumentar sua
excreção urinária, aumenta a excreção urinária das vitaminas B1, B6 e K, diminui os
níveis séricos de folato, ferro e potássio, diminui as proteínas plasmáticas levando a um
balanço nitrogenado negativo e promove alterações no metabolismo intermediário dos
glicídios (acidose). A ingestão de alimentos sólidos antes da administração do AAS
diminui seus níveis plasmáticos. Os alimentos diminuem os distúrbios gastrintestinais,
mas, retardam e reduzem a absorção da droga (REIS, 2004).
2.15.3.4 Dipirona
A dipirona é um pó cristalino branco, solúvel em água e álcool, que apresenta
atividades analgésicas e antipiréticas. Essa droga é rapidamente absorvida após
administração oral e amplamente metabolizada (MARCOLINO et al, 2005).
A dipirona parece atuar exercendo bloqueio direto da hiperalgesia inflamatória
por PGE2, supostamente promovendo dessensibilização dos nociceptores periféricos
(Lorenzetti, Ferreira, 1985 apud MARCOLINO, et al. 2005). Este mecanismo de
dessensibilização, provavelmente envolve a ativação da via óxido-nítrico – GMPc no
nociceptor (Duarte et al, 1992; Lorenzetti, Ferreira, 1996 apud MARCOLINO, et al,
2005).
Bonacella, (2003) mostra que seu mecanismo de ação não se encontra
completamente investigado. Alguns dados indicam que a dipirona sódica e seu principal
metabólito (4-N-metilaminoantipirina) possuem mecanismos de ação central e
periféricos combinados.
48
2.15.4 Acidez intragástrica
Os antiácidos são bases fracas que reagem com o ácido clorídrico gástrico,
formando sal e água. Embora seu principal mecanismo de ação consista em redução da
acidez intragástrica, os antiácidos também podem promover os mecanismos de defesa
da mucosa através da estimulação da produção de prostaglandinas na mucosa
(KATZUNG, 2006).
2.15.4 Tratamento medicamentoso
2.15.4.1 Omeprazol
O omeprazol é uma base fraca, concentrada e convertida à sua forma ativa
no meio ácido dos canalículos intracelulares da célula parietal, onde inibe a enzima
ATPase H+/K+ dependente (bomba de ácido) (HOWLAND et al, 2007).
A absorção ocorre no intestino delgado, completando-se em 3 a 6 horas. A
ligação do omeprazol às proteínas plasmáticas é de 95% e deve ser ingerido em jejum.
Provoca diminuição da absorção de ferro e Vitamina B12 (REIS, 2004). A média da fase
terminal da curva de concentração plasmática-tempo de omeprazol é de 40 minutos.
Não há nenhuma alteração na meia-vida durante o tratamento (RANG et al, 2003).
O omeprazol é completamente metabolizado, especialmente no fígado. Os
metabólitos identificados no plasma são sulfona, sulfito e hidroxi-omeprazol; esses
metabólitos carecem de ação sobre a secreção ácida gástrica e 80% são excretados
pela urina e o resto pelas fezes. Os dois metabólitos urinários principais são
hidroxiomeprazol e o ácido carboxílico correspondente (RANG et al, 2003).
49
2.15.4.2 Hidróxido de alumínio
O hidróxido de alumínio é um medicamento antiácido que neutraliza a acidez
do estômago e também protege, mediante barreira física a mucosa (camada interna)
desse órgão. Sua ação começa minutos após a administração.
A velocidade com que o hidróxido de alumínio neutraliza o ácido gástrico é
mais lenta do que realiza o sal de magnésio ou bicarbonato. A absorção deste
composto é muito pequena sendo, portanto, discreta sua interferência no metabolismo
hidroeletrolítico. Pode haver pequeno aumento na concentração sérica de alumínio. O
alumínio é eliminado na urina. A ingestão de alimentos ricos em proteínas reduz a
capacidade de neutralidade dos antiácidos e administração concomitante com sucos
cítricos aumenta o risco de toxicidade pelo alumínio em razão do aumento de sua
absorção (DEF, 2003).
Diminui a absorção de B12, ácido fólico, vitamina A, ferro, potássio, cobre e
cálcio. Interage quimicamente com o fósforo, depletando-o, e aumentando a destruição
de tiamina. O ferro e o ácido fólico devem ser usados com intervalo de duas horas, e
frutas cítricas, de três horas, para que não haja interferência na absorção (REIS, 2004)
O hidróxido de alumínio neutraliza o ácido clorídrico no estômago, com a
formação de cloreto de alumínio e água (Al(OH)3 + 3HCl
AlCl3 + 3H2O). Através do
aumento de pH, resultante da reação de neutralização, ocorre alívio dos sintomas de
hiperacidez gástrica. O mecanismo de ação dos antiácidos inclui o aumento da
secreção de bicarbonato e muco, aumento da produção e liberação de prostaglandinas
e manutenção da microcirculação (DEF, 2003).
2.15.4.3 Cimetidina
A cimetidina é um medicamento utilizado para redução da acidez do
estômago, sendo eficaz no tratamento de úlcera gástrica e duodenal.
A
cimetidina
50
faz parte do grupo de fármacos antagonistas dos receptores H2 da histamina (DEF,
2003).
Após administração oral, a cimetidina é absorvida no intestino de forma
rápida e eficiente. Sendo que 70% do total administrado é absorvido, sendo o pico de
concentração sanguínea alcançado em 60 e 90 minutos. A meia-vida da cimetidina é de
aproximadamente duas horas, e sua principal via de eliminação é a urinária, sendo que
cerca de 60% a 70% são excretados na forma inalterada (DEF, 2003).
A cimetidina não diminui a secreção de pepsina, mas sua produção total fica
reduzida, como consequência do efeito exercido sobre o volume das secreções
gástricas. A cimetidina não influencia os níveis séricos de gastrina. Além de seu efeito
anti-secretor, a cimetidina é dotada de atividade citoprotetora e, portanto, exerce um
efeito benéfico na manutenção da integridade da barreira mucosa gástrica (DEF, 2003).
O cálcio, o magnésio, a cafeína e as xantinas diminuem a absorção da droga.
Já em relação aos nutrientes, há diminuição na absorção de ferro, ácido fólico, vitamina
A, B12 e B1 (REIS, 2004).
2.15.4.4 Ranitidina
O cloridrato de ranitidina é um antagonista H2 específico, de ação rápida e
relativamente duradoura. Uma única dose de 150mg suprime eficientemente a secreção
de ácido do estômago por doze horas. Inibe a secreção basal e estimulada de ácido,
reduzindo tanto o volume quanto o conteúdo de ácido e pepsina da secreção gástrica. A
absorção da ranitidina após administração oral é rápida, sendo as concentrações
plasmáticas máximas atingidas, geralmente, dentro de duas horas da administração. A
absorção não é significativamente comprometida por alimentos ou antiácidos. A meiavida de eliminação da ranitidina é de aproximadamente duas horas (SILVEIRA, 2002).
Deve ser ingerida com alimento, mas cafeína e xantinas diminuem a
absorção da droga. Já em relação aos nutrientes, há diminuição na absorção de
vitamina A, B12 e B1 (REIS, 2004).
51
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Analisar as interações que podem ocorrer entre fármacos X nutrientes em um
grupo de idosos do município de Humaitá-RS.
3.2 Objetivos Específicos
• Avaliar o estado nutricional do grupo;
• Analisar a ingestão alimentar do grupo e compará-las as recomendações
preconizadas das DRI’s;
• Identificar de que forma os medicamentos poderão interferir na absorção
de nutrientes através de revisão bibliográfica;
• Avaliar se os compostos que teoricamente tem sua absorção diminuída
pelo medicamento estão sendo ingeridos em quantidades suficientes na dieta
dos pesquisados.
52
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 Delineamento da Pesquisa
O presente estudo caracterizou-se por um delineamento do tipo quantitativo /
qualitativo, descritivo de corte transversal, com análise das interações que podem
ocorrer entre fármacos X nutrientes em um grupo de idosos do município de HumaitáRS.
4.2 População e Amostra
Humaitá, localizada na região do Alto Uruguai no noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul, a população é de 5.228 habitantes (IBGE, 2007). Destes 2.549
pertencem ao sexo masculino e 2.679 ao feminino, sendo que muitos com idade igual
ou superior a 60 anos. A densidade demográfica é de 39,26 HAB/ Km2. A média de
moradores por domicílio é de 3.3.
Em 18 de fevereiro de 1959, Humaitá foi declarado oficialmente município
pela lei nº 3.727, no entanto, a comunicação pública da criação do município ocorreu no
dia 01 de março do mesmo ano. Por ser um município pequeno, não dispõe de muitas
indústrias, sendo a agricultura sua principal fonte de renda. Fato este, que faz com que
muitos jovens busquem por outros lugares para trabalhar. Muito dos habitantes são
idosos, e isso faz com que a prefeitura tenha muitos gastos com a saúde,
principalmente com a população na faixa etária de 60 anos ou mais, que se torna mais
vulnerável com o avançar da idade, o que faz com que usem um número maior de
medicamentos, que na sua maioria são fornecidos pela prefeitura.
Do total, 840 destes idosos fazem parte do programa de Estratégia de Saúde
da Família (ESF). Este programa é uma estratégia do Ministério da Saúde (MS) para
53
mudar a forma tradicional de prestação de assistência, visando estimular a implantação
de um novo modelo de Atenção Primária que resolvesse a maior parte (cerca de 85%)
dos problemas de saúde. O programa promove a saúde, almejando a integralidade da
assistência ao usuário como sujeito integrado à família, ao domicílio e à comunidade
(BESEN, et al, 2007). A maioria dos participantes do programa, 90%, faz uso de algum
tipo de medicamento que lhes é fornecido. Dentre os medicamentos disponibilizados
podemos citar:
•
Anti-hipertensivos:
Captopril,
Hidroclorotiazida,
Enalapril,
Propranolol,
Losertan, Atenolol, Verapamil;
•
Hipoglicemiantes: Metformina, Glibenclamida, Insulina NPH;
•
Analgésicos: Paracetamol, Tylex, Ácido Acetilsalisílico, Dipirona;
•
Antiácidos: Omeprazol, Hidróxido de alumínio, Cimetidina, Ranitidina;
O número total de participantes do Programa Estratégia de Saúde da Família
da Unidade de Saúde do Município de Humaitá – RS foi obtido através de informação
repassada pelo responsável pelo programa.
A amostra foi de 125 idosos, obtida por demanda espontânea, sendo inclusos
no estudo todos os indivíduos, homens e mulheres com idade igual ou superior a 60
anos, pertencentes ao ESF da Unidade de Saúde do Município de Humaitá – RS, que
faziam uso de algum tipo de medicamento.
O indivíduo que aceitou participar deste estudo assinou um Termo de
Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) (Apêndice I), estando ciente de sua
participação.
4.3 Critérios de Inclusão
Todos os indivíduos idosos participantes do ESF da Unidade de Saúde do
Município de Humaitá – RS, que faziam uso de medicamentos, tanto disponibilizados
54
pela unidade, quanto adquiridos particularmente, e que aceitaram participar da
pesquisa.
4.4 Critérios de Exclusão
Foram excluídos do estudo, os indivíduos que tinham menos de 60 anos, e
idosos que não faziam parte do ESF. Os que faziam parte do programa, porém não
faziam uso de medicamentos e os que não aceitaram participar da pesquisa.
4.5 Coleta dos Dados
A coleta de dados foi baseada no referencial teórico do estudo no qual foi
realizado um inquérito clínico (Apêndice II), para que se obtivesse o maior número
possível de informações dos participantes, por meio de entrevistas pelo próprio
pesquisador com aplicação de Questionário Semiquantitativo de Frequência Alimentar
(QSFA) (Apêndice III), e Recordatório alimentar de um dia usual (Apêndice IV), nos
quais além de informações dos dados pessoais, investigou-se a ingestão alimentar dos
participantes. Foram também coletados os dados antropométricos, como peso, altura,
circunferência da cintura, do braço e da panturrilha de idosos com idade superior a 60
anos, inseridos no ESF do Município de Humaitá – RS.
Todos os dados foram coletados exclusivamente pela pesquisadora, para que
este aspecto não interferisse nos resultados finais da pesquisa.
55
4.5.1 Inquérito Clínico
O inquérito clínico foi desenvolvido com o objetivo de descrever e obter mais
características de cada indivíduo que participou da pesquisa. O inquérito clínico era
composto por perguntas que foram respondidas pelos entrevistados, perguntas de
ordem pessoal. Estas informações facilitaram a identificação do indivíduo, bem como
dos medicamentos mais utilizados pelos participantes da pesquisa.
Após saber o princípio ativo dos remédios utilizados pelos participantes, foi
identificada a farmacocinética e a farmacodinâmica dos mesmos, e compará-las as dos
alimentos, para mostrar em que ponto da absorção um interfere na absorção do outro, e
se houver, de que forma isso pode ser evitado.
4.5.2 Inquérito Dietético
O inquérito alimentar, parte do inquérito de saúde, objetivou criar bases
metodológicas para a investigação epidemiológica nutricional e verificação da
adequação da ingestão de alimentos e nutrientes na população. Para essa investigação
foi utilizado o QSFA, e o Recordatório alimentar de um dia usual.
No questionário de frequência alimentar, os alimentos forma distribuídos em
11 grupos. Neste, foi questionada a frequência de utilização destes alimentos que pode
ser: Nunca, Menos de uma vez ao mês, 1 a 3 vezes ao mês, 1 vez na semana, 2 a 4
vezes na semana, 1 vez ao dia, bem como foi descrito a quantidade consumida de cada
alimento.
O questionário recordatório alimentar de um dia usual foi preenchido em uma
única via. Tinha por objetivo questionar os alimentos normalmente ingeridos em cada
refeição ao longo de 24 horas. Questionou-se o entrevistado sobre horário, local,
alimentos e medidas caseiras. Para facilitar a identificação das medidas caseiras, foi
utilizado um álbum seriado, no qual constavam figuras de alimentos (Zabotto, 1996).
56
O recordatório alimentar de um dia usual, também foi utilizado para verificar a
ingestão dos nutrientes que tem sua absorção modificada com o uso dos
medicamentos, avaliado desta forma, se esta ingestão estava de acordo com a
recomendada
para
a
faixa
etária.
Foi
avaliada
a
quantidade
calórica,
os
macronutrientes, tais como carboidratos, lipídeos e proteínas ambos em quilocalorias e
percentagem da ingestão diária total, já em relação aos micronutrientes foram
avaliados, Vitamina B12 (µg/dia), cálcio (mg/dia), ferro (mg/dia), folato (mg/dia), potássio
(g/dia), zinco (mg/dia), magnésio (mg/dia). Foram selecionados estes micronutrientes
devido à absorção reduzida pelos fármacos utilizados no grupo que foi pesquisado.
Após a obtenção dos dados do inquérito dietético, as medidas foram
convertidas em gramas e mililitros para a análise quantitativa dos nutrientes ingeridos
através do software “DietwWin" – versão 2008.
4.5.3 Medidas Antropométricas
A metodologia aplicada para a mensuração do peso, foi utilizada balança
eletrônica digital portátil, tipo plataforma, marca Filizola®, com capacidade para 160 Kg
e sensibilidade de 100g. O indivíduo, no ato da coleta do peso, estava vestindo o
mínimo de roupas possíveis, roupas leves (camiseta e bermuda), sem calçados, sem
nenhum tipo de adornos, e ficava em pé sobre a balança com os pés unidos, olhando
para o horizonte e sem escorar-se em nada.
A estatura foi aferida utilizando fita antropométrica milimetrada da marca Pró
Fisiomed®, de altura máxima de 1,5 m e precisão de 1 mm. Para aferição da altura, o
indivíduo estava encostado em uma parede, em posição ereta, com os pés descalços e
unidos, os calcanhares encostados na parede, olhando para o horizonte, para que não
houvesse erro na aferição da estatura.
Para a aferição da circunferência da panturrilha foi utilizada a mesma fita,
citada anteriormente, passando-a em torno do maior diâmetro da panturrilha direita do
57
indivíduo, sem que o indivíduo estivesse fazendo uso de calça, tendo como valor
padrão para esta medida, 31 cm, valores inferiores a este informam depleção proteica.
Para obtenção dos valores da circunferência do braço, foi utilizada fita métrica
no ponto médio entre o olécrano e o acrômio, sendo aferida diretamente na pele, sem
nenhum tipo de roupa.
Para aferição da circunferência da cintura, o examinador ficou de frente para
o examinando e colocou a fita métrica horizontalmente ao redor da cintura natural ou na
menor curvatura localizada entre as costelas e a crista ilíaca. A circunferência
abdominal foi medida dois dedos à cima da cicatriz umbilical.
Foi classificado o valor da circunferência da cintura, para determinar a
localização da gordura, e definir o risco de doenças cardiovasculares apresentado pelos
indivíduos analisados. Valores acima de 88 cm para mulheres e 102 cm para homens,
já apresentam risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, esta medida
foi obtida diretamente na cintura, sem haver roupas sob a fita.
4.5.4 Avaliação Nutricional
O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado através da relação entre peso
corporal total, em quilogramas, e estatura, em metros ao quadrado, anteriormente
citado. A avaliação do estado nutricional foi realizada por meio do IMC, utilizando-se os
pontos de corte para idosos propostos por Lipschitz.
IMC (kg / m2)
Classificação
< 22
Magreza
22 – 27
Eutrofia
> 27
Excesso de peso
Fonte: Adaptado de LIPSCHITZ, 1994.
58
4.6 Forma de Coleta de Dados
Primeiramente, foi feito um contato com a Unidade de Saúde escolhida,
pedindo permissão para a realização da pesquisa e explicando os objetivos desta.
A coleta dos dados de toda a população de pesquisa foi realizada
exclusivamente pela pesquisadora, para que este fato não alterasse os dados, já que
existem formas individuais de coleta de dados, e estás podem afetar de forma
significativa os resultados obtidos na pesquisa.
Após estipulada a data, a pesquisadora visitou em seus domicílios os idosos
pertencentes ao programa, explicava as finalidades do presente trabalho, realizando o
Recordatório Alimentar, o Questionário de Frequência Alimentar e a coleta de medidas
antropométricas anteriormente citadas.
4.7 Análise Estatística
Os dados foram obtidos após a aplicação dos instrumentos de coletas de
dados a cada indivíduo entrevistado, e no final do período de pesquisa, todos os
resultados foram tabulados e analisados, e foram realizadas as análises estatísticas
necessárias.
Para a análise dos dados descritivos, os resultados foram expressos como
média, desvio padrão e porcentagens utilizando o aplicativo Excel 2003 e apresentados
por meio de tabelas, de acordo com as variáveis. A análise estatística foi realizada pelo
software Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 9.0 para Windows
através da análise de variância seguida pela aplicação do teste t de Student com nível
de significância p ≤ 0,05.
59
4.8 Aspectos Éticos
O presente estudo recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
Humana da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC (projeto número
343/2008). Imediatamente antes de iniciar a pesquisa foi entregue um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido aos idosos (Apêndice I). O trabalho de coleta de
dados foi iniciado após os participantes receberem informações sobre a pesquisa e,
livremente, aceitavam ou não participar da mesma, sendo necessário que o mesmo
assinasse o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para fazer parte do estudo.
4.9 Limitações do Estudo
As limitações do presente estudo estão relacionadas aos questionários. Pelo
fato de ser um estudo realizado com seres humanos, no qual, uma das coletas de
dados será por meio de questionários, pode ter ocorrido omissão de informações, o que
pode influenciar nos resultados.
60
5 RESULTADOS
5.1 Descrição do Perfil Demográfico da População
O estudo envolveu 125 sujeitos de ambos os gêneros, oriundos do programa
Estratégia de Saúde da Família, localizado no município de Humaitá, RS. Vinte oito por
cento eram do sexo masculino com média de idade de 72 anos, com desvio padrão de
7,15 anos, indicando, assim como na idade das mulheres, uma variabilidade não muito
grande, onde a mínima foi de 60 anos e a máxima de 83 anos, e 72% do sexo feminino
com média de idade de 71 anos com desvio padrão de 7,48 anos, mostrando uma
variabilidade não muito grande das idades, já que a idade mínima foi de 60 anos e a
idade máxima foi de 91 anos.
61
Tabela 1 – Dados demográficos dos participantes do estudo
Idade – anos + DP
Raça - n (%)
Brancos
Negros
Mulatos
Escolaridade (%)
Analfabeto
Ensino Fund.
Incompleto
Ensino Fund.
Completo
Ensino Médio
Incompleto
Ensino Médio
Completo
Ensino Superior
Renda familiar em
salários mínimos/mês
1–3
4–6
7–9
Média dos gastos
com alimentação/mês
(R$)
Constituição Familiar
n(%)
1
2
3
4
5
6
Homens
(n = 35)
72+7,1
Mulheres
(n = 90)
71,1+7,5
Total
(n = 125)
71,4+7,4
25 (71,42)
6 (17,15)
4 (11,43)
70 (77,78)
9 (10)
11 (12,22)
95 (76)
15 (12)
15 (12)
2 (5,6)
32 (91,4)
8 (8,9)
81 (90)
10 (8)
113 (90,4)
0
0
0
0
1 (1,1)
1 (0,8)
0
0
0
1 (2,9)
0
1 (0,8)
20 (57,1)
14 (40)
1(2,9)
64 (71,1)
23 (25,5)
3 (3,4)
84 (67,2)
37 (29,6)
4 ( 3,2)
564,64
521,80
534,22
4 (11,4)
17 (48,6)
10 (28,6)
4 (11,4)
0
0
15 (16,7)
43 (47,8)
24 (26,6)
6 (6,7)
1 (1,1)
1 (1,1)
19 (15,2)
60 (48)
34 (27,2)
10 (8)
1 (0,8)
1 (0,8)
Dados referentes à raça, escolaridade, situação sócio econômica e gastos
mensais com alimentação e medicação estão descritos na tabela 1.
Os participantes da pesquisa, todos eram aposentados, 100% deles recebiam
algum tipo de benefício do governo federal.
5.2 Hábitos Diários e uso de Medicamentos
62
5.2.1 Tabagismo e consumo de bebida alcoólica
Em relação aos hábitos diários dos participantes da pesquisa, em ambos os
gêneros, apresentavam o hábito de fumar.
Gráfico 1 – Tabagismo entre o sexo feminino
Feminino
21%
Fumantes (%)
Não fumantes (%)
79%
Gráfico 2 – Tabagismo entre o sexo masculino
Masculino
23%
Fumantes (%)
Não fumantes (%)
77%
Em relação ao consumo de bebidas alcoólicas, em ambos os gêneros,
relataram fazer uso, mesmo que socialmente.
63
Gráfico 3 - Etilismo entre o sexo feminino.
Feminino
39%
etilistas (%)
Não etilistas (%)
61%
Gráfico 4 - Etilismo entre o sexo masculino.
Masculino
46%
etilistas (%)
Não etilistas (%)
54%
Dos indivíduos que participaram da pesquisa, a maioria, 77 % relataram que
o intestino funciona normalmente (evacuações com frequência mínima de 1 vez a cada
2 dias), no sexo feminino, 11% das participantes relatou ter dificuldade para evacuar,
ficando às vezes até 3 dias sem evacuar, 8% dos indivíduos do sexo masculino relatam
ser constipados, podendo ficar de 4 a 5 dias sem evacuar.
64
5.2.2 Nível de Atividade Física
A prática de atividade física entre ambos os gêneros está representada nos
gráficos 5 e 6.
Gráfico 5 – Atividade física entre o sexo feminino
feminino
1%
2%
48%
Caminhadas
Não faz atividade física
Ginástica
49%
Caminhada e hidroginástica
Gráfico 6 – Atividade física entre o sexo masculino
masculino
0%
0%
Caminhadas
43%
Não faz atividade física
Ginástica
57%
Caminhada e hidroginástica
65
5.2.3 Utilização de medicamentos
Por pertenceram ao grupo que existe na unidade de saúde do município, 100
% dos participantes da pesquisa recebem os medicamentos, estes são fornecidos pela
unidade de saúde.
Os medicamentos empregados com frequência diária pelos pacientes estão
relatados na tabela 2.
Tabela 2 – Medicamentos empregados pelos pacientes
Medicamentos
n (%)
ASS
Antidepressivos
Diuréticos
Hipoglicemiante oral
Insulina
β bloqueadores
Inibidores da ECA*
Inibidores da Bomba de
Prótons
Antiarrítmicos
Homens
(n = 35)
6 (17,14)
1 (2,85)
19 (54,29)
6 (17,14)
5 (14,29)
6 (17,14)
15 (42,85)
1 (2,85)
Mulheres
(n = 90)
17 (18,89)
8 (8,89)
51 (56,67)
22 (24,44)
2 (2,22)
19 (21,11)
38 (42,22)
11 (12,22)
Total
(n = 125)
23 (18,4)
9 (7,2)
70 (56)
28 (22,4)
7 (5,6)
25 (20)
53 (42,4)
12 (9,6)
1(2,85)
4 (4,44)
5 (4)
* ECA – Enzima conversora de angiotensina
O tempo médio de uso dos medicamentos pelo grupo participante foi de 6,8
anos para as mulheres que usam medicamentos para diabetes, e 10,2 anos para
mulheres que fazem uso para medicamentos para hipertensão arterial, 6,6 anos para os
homens que usam medicamentos para controle de diabetes e 9 anos para homens que
fazem uso de medicamentos para controle da pressão arterial.
Com relação aos cuidados com a ingestão concomitante com alimentos
12,8 % dos participantes relataram tomar algum cuidado com a ingestão concomitante
com os alimentos. Já no grupo dos homens 85,71 % relataram não tomar nenhum
cuidado. No grupo das mulheres 12,22% relataram tomar algum tipo de cuidado com a
ingestão concomitante com algum alimento.
66
5.3 Avaliação Antropométrica
A análise das principais características antropométricas dos participantes do
estudo estão representadas nos gráficos 7 e 8 e na tabela 4.
Gráfico 7 - Classificação do IMC entre membros do sexo feminino
Feminino
10,00%
32,22%
57,78%
Desnutrição
Eutróficos
Sobrepeso
67
Gráfico 8 - Classificação do IMC entre membros do sexo masculino
Masculino
8,57%
54,29%
37,14%
Desnutrição
Eutróficos
Sobrepeso
Tabela 4 – Principais características antropométricas dos participantes do estudo
Feminino
Variáveis
n
Média
Desvio
Padrão
Mínimo
Máximo
Idade (em anos)
Peso (em Kg)
Altura (em metro)
Circunferência da Cintura (em cm)
Circunferência do Braço (em cm)
Circunferência da Panturrilha (em cm)
90
90
90
90
90
90
71,11
70,13
1,58
95,39
30,55
35,21
7,48
14,49
0,07
11,68
3,65
3,51
60,00
32,30
1,43
62,00
19,00
25,00
91,00
118,80
1,82
125,00
40,00
45,00
O peso médio entre as pacientes femininas pesquisadas foi de 70,13 quilos,
com desvio padrão de 14,49 quilos, mostrando uma grande variabilidade entre os pesos
das 90 pacientes pesquisadas. Podemos observar essa variabilidade analisando o peso
mínimo que foi de 32,30 quilos e o peso máximo de 118,80 quilos.
68
A altura média das idosas foi de 1,58 metros, com desvio padrão de 0,07
metros, apontando uma pequena variabilidade da altura, onde a altura mínima foi de
1,43 metros e a altura máxima de 1,82 metros.
Masculino
Variáveis
n
Média
Desvio
Padrão
Mínimo
Máximo
Idade (em anos)
Peso (em Kg)
Altura (em metro)
Circunferência da Cintura (em cm)
Circunferência do Braço (em cm)
Circunferência da Panturrilha (em cm)
35
35
35
35
35
35
72,00
80,04
1,70
102,31
29,80
35,74
7,15
13,71
0,09
10,07
3,50
2,89
60,00
53,90
1,42
75,00
22,00
29,00
83,00
120,10
1,89
126,00
40,00
42,00
O peso médio entre os idosos masculinos foi de 80,04 quilos, com desvio
padrão de 13,71 quilos, apresentando uma grande variabilidade entre os 35 pacientes
pesquisados, com peso mínimo de 53,90 quilos e peso máximo de 120,10 quilos.
Já a altura média entre os homens foi de 1,70 metros, com desvio padrão de
0,09 metros, mostrando assim como nas mulheres pesquisadas, uma pequena
variabilidade, com altura mínima de 1,42 metros e altura máxima de 1,89 metros.
5.4 Avaliação do Recordatório de um dia Habitual
Com base na ingestão média de nutrientes através da avaliação da ingestão
alimentar de um dia usual, foram calculados os valores de energia, macronutrientes e
micronutrientes para ambos os gêneros.
A ingestão diária de energia e nutrientes dos participantes da pesquisa
encontra-se descrita na tabela 5.
69
Tabela 5 – Consumo alimentar de energia e macronutrientes obtido pelo
Recordatório alimentar de um dia habitual
Energia e Macronutrientes
Média / +DP
Energia (kcal)
Carboidrato
Valor absoluto (g)
Percentual do VET (%)
Proteína
Valor absoluto (g)
Percentual do VET (%)
Lipídio
Valor absoluto (g)
Percentual do VET (%)
Homens
(n = 35)
1587,98 (194,90)
Mulheres
(n = 90)
1483,18 (268,36)
Total
(n = 125)
1511,68 (254,31)
177,98 (30,76)
44,83 ( 7,74)
183,93 (37,29)
49,6 (10,05)
182,26 (35,70)
48,22 (9,44)
61,35 (14,47)
15,45 ( 3,64)
52,34 (11,90)
14,11 (3,20)
54,86 (13,30)
14,5 (3,52)
69,80 (13,55)
39,55 (7,68)
60,57 (16,62)
36,7 (10,08)
63,15 (16,34)
37,59 (9,72)
A ingestão diária de micronutrientes no grupo estudado encontra-se descrita
na tabela 6.
Tabela 6 – Consumo alimentar de micronutrientes obtido pelo Recordatório
alimentar de um dia habitual
Micronutrientes
Média / +DP
Fibras (g)
Cálcio (mg)
Ferro (mg)
Folato (mg)
Magnésio (mg)
Potássio (mg)
Vitamina B12 (mg)
Vitamina D
Zinco (mg)
Homens
(n = 35)
18,34(5,59)
538,07(236)
8,03(2)
168,74(85,79)
246,81(90,05)
2167,74(410,78)
4,55(1,48)
3,26(2,16)
11,77(4,31)
Mulheres
(n = 90)
16,02(5,13)
513,50(205,94)
7(2,55)
145,66(85,98)
229,30(90,54)
1959,60(400,20)
6,24(2,37)
3,25(1,73)
10,02(2,92)
Total
(n = 125)
16,67 (5,35})
520,24 (214,49)
7,29(2,45)
152,13(86,56)
234,21(87,93)
2017,88(411,96)
5,77(2,24)
3,25(1,85)
10,51(3,45)
Podemos observar, com 95% de confiança, que há evidência de que as
mulheres pesquisadas não estão tendo uma ingestão alimentar igual à recomendada
pela DRI’s (p ≤ 0,05), com exceção do Zinco e da Vitamina B12.
Também utilizando o teste t de Student para uma amostra, podemos
observar, com 95% de confiança, que há evidência de que os homens pesquisados
estão ingerindo, em média, Ferro (p > 0,05) e Zinco (p > 0,05), em quantidades iguais
as recomendadas pela DRI’s. Pros demais nutrientes, com os mesmos 95% de
confiança, há evidências que os homens estão ingerindo em quantidades, em média,
diferentes dos recomendados pela DRI’s (p ≤ 0,05).
70
5.5 Avaliação da Frequência do Consumo de Alimentos
Os dados da frequência de ingestão de vários tipos de alimentos consumidos
estão descritos na tabela 7.
Tabela 7 – Distribuição da frequência do consumo alimentar
Grupo de Alimentos
n (%)
1.Leite e Derivados
Leite
Iogurte
Queijo
Margarina
2.Carne e ovos
Carne bovina
Carne suína
Frango
Peixe
Ovos
Fígado
3. Leguminosas
Feijão
Lentilha
Ervilha
Soja
4. Cereais
Arroz
Batata inglesa
Farinha mandioca
Macarrão
Pão
Biscoito
5. Frutas
6. Vegetais
7. Açúcar
8. Gordura
9.Refrigerante
10. Chocolate
11. Balas
Nunca
<
1/m
Homens
(n = 35)
1
- 1/s
3/m
4
16
9
5
0
2
1
0
1
4
6
0
2
5
2
0
4
7
9
5
24
1
8
25
11
26
20
13
1
4
3
0
1
16
12
0
1
8
11
3
20
24
33
7
56
12
11
67
15
42
29
18
1
6
4
0
2
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3
13
13
3
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3
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1
4
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1
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2
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2
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2
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1
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35
2
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27
8
7
3
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1
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1
2
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1
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2
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9
9
5
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1
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1
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1
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1
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1
0
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0
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1
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1
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2
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0
0
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0
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0
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6
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1
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3
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15
15
74
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21
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74
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3
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20
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0
2
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1
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0
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6
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5
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9
1
0
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0
33
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8
44
12
1
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3
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38
20
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20
102
29
95
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70
22
12
9
3
28
17
44
103
9
5
10
121
25
99
112
40
121
5
0
22
2 –
4/s
1/d
Nunca
<
1/m
Mulheres
(n = 90)
1
- 1/s
3/m
2 –
4/s
1/d
Nunca
<
1/m
Total
(n = 125)
1
- 1/s
3/m
2
–
4/s
1/d
Verificou-se que entre os alimentos consumidos em maior frequência diária
está o leite, o pão, o arroz, os vegetais e as gorduras.
73
6 DISCUSSÃO
Observa-se um aumento gradativo da longevidade, resultado da diminuição
das taxas de fecundidade e de mortalidade nas últimas décadas. Como consequência,
desencadeia-se o fenômeno de envelhecimento populacional, gerando novas
demandas sociais.
Com o aumento da idade cronológica, podem surgir inúmeras causas de
fragilidade ou risco para os indivíduos, das quais, destacam-se a presença de múltiplas
patologias, situação econômica precária, internação hospitalar nos últimos 12 meses,
ingestão de muitos medicamentos, e reações adversas a esses medicamentos
(FLORES; MENGUE, 2005).
A polifarmácia tem sido classificada por alguns autores como o uso
concomitante de cinco ou mais medicamentos clinicamente indicados. Estima-se que
23% da população brasileira consomem 60% da produção nacional de medicamentos,
principalmente as pessoas acima de 60 anos (FLORES; MENGUE, 2005).
O presente estudo foi proposto com a finalidade de conhecer um pouco sobre
os hábitos alimentares, a utilização de medicamentos e dados antropométricos de um
grupo de indivíduos pertencentes ao programa de Estratégia de Saúde do município de
Humaitá, região noroeste do RS. Dessa forma, o intuito da pesquisa foi demonstrar as
possíveis interações que acontecem entre os medicamentos utilizados, e a alimentação
que essa faixa etária tem, e as possíveis deficiências que podem acometer estes
indivíduos, além de avaliá-los nutricionalmente.
Sabe-se que, na população idosa, o número de mulheres é maior em relação
aos homens, estando essa diferença relacionada à expectativa de vida, assim como as
mudanças sociais ocorridas no decorrer dos anos. Nesta perspectiva, a feminilização da
população idosa gera transformações sociais, que necessitam ser apreendidas para
que se possa contribuir com a sua qualidade de vida e sua atividade social (TAVARES,
et al, 2007).
A distribuição por sexos do contingente dos idosos deste estudo segue a
tendência apresentada nos diversos estudos e nas pesquisas de base populacional
74
sobre envelhecimento, ou seja, um maior número de mulheres, 87 para 50 de homens,
numa proporção de 100 mulheres para 57,5 homens. Segundo informações do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, para cada 100 mulheres idosas,
existem 78,6 homens idosos. O diferencial por sexo entre os idosos, acentuado nos
últimos anos, pode ser explicado pela diferença no ritmo de crescimento das
populações idosas, feminina e masculina, causado principalmente pela situação de
mortalidade diferencial por sexo (MORAIS et al, 2008).
Quanto à cor da pele, a maioria dos participantes é de cor branca, a história
da colonização e da formação do município pode explicar o elevado índice de idosos de
cor branca, 71% dos homens são de cor branca, 10% das mulheres são negras, no total
dos participantes, somente 15% são mulatos, e os demais são na minoria negros, estes
dados podem ser comparados com os dados das pesquisas do IBGE, que afirma que a
Região Sul é constituída por 80,8% de pessoas brancas.
Com relação à escolaridade, a maioria dos participantes só cursou as
primeiras séries, que hoje chamamos Ensino Fundamental incompleto, na sua maioria
só sabem assinar seu nome, e os demais são analfabetos, e a minoria terminou o
Ensino Médio. Dos participantes do sexo masculino, 91% não concluíram o Ensino
Fundamental, e do sexo feminino, 8% são analfabetos, esta pesquisa vem de encontro
com um estudo realizado por Morais et al, (2008) em uma cidade do interior gaúcho
onde a maioria, 58,8%, é de analfabetos e/ou assinam o nome, que demonstra a baixa
escolaridade em ambos os sexos.
O progressivo envelhecimento da população, aliado às condições como a
alteração na estrutura familiar, a migração, as fracas condições habitacionais, a
desadaptação das casas às necessidades dos idosos, a grande probabilidade das
alterações de saúde destes, faz com que a maioria dos idosos resida com algum
familiar (PEREIRA et al, 2007). O que acontece com a maioria dos idosos participantes
da pesquisa, pois os mesmos não residem sozinhos, com exceção de alguns.
Durante a década de noventa, a importância da aposentadoria, na renda
domiciliar,
aumentou
substancialmente,
principalmente
nos
domicílios
com
trabalhadores não-qualificados. (CAMARGO et al, 2008). Este estudo condiz com o
75
realizado no município de Humaitá, onde mostra que 100% dos participantes recebem
algum tipo de benefício.
A maioria dos entrevistados relatou nunca ter fumado, fato este que vem de
encontro com um estudo realizado em todo o país, que diz que na região Sul, metade
dos idosos nunca havia fumado, enquanto na região Nordeste do Brasil a maioria dos
idosos era composta pelos grupos de ex-fumantes e fumantes atuais (RODRIGUES et
al, 2009).
Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, mesmo que socialmente, a
maioria das mulheres relata não fazer uso desta bebida, o que vem de encontro com o
estudo realizado em Minas Gerais em pacientes diabéticos, que o resultado foi que e a
maioria dos participantes não consumia bebida alcoólica, 61,90% (GERALDO et al,
2008), porém no sexo masculino, este dado não pode ser comparado ao mesmo
estudo, já que os participantes da pesquisa, a maioria faz uso de algum tipo de bebida
alcoólica.
A relação entre atividade física, saúde, qualidade de vida e envelhecimento
vem sendo cada vez mais discutida e analisada cientificamente. Atualmente é
praticamente um consenso entre os profissionais da área da saúde que a atividade
física é um fator determinante no sucesso do processo do envelhecimento.
Um grande número de idosos participantes da pesquisa não faz nenhum tipo
de atividade física, dado este que pode ser confrontado com dados de uma revisão
bibliográfica realizada por Matsudo et al, (2001) que mostrou que existe uma
prevalência de atividade física de 37% no sexo masculino e 24% no sexo feminino, e
bem como no estudo realizado no município de Humaitá, a atividade física comumente
realiza foi a caminhada, que na revisão de Matsudo et al, (2001) mostra que 69% dos
homens e 75% das mulheres praticantes de atividade física, realizam este tipo de
exercício. O estudo realizado também pode ser comparado com o feito por Geraldo et
al, (2008) em pacientes idosos diabéticos, onde em relação aos hábitos de vida, no
início do estudo observou-se um maior percentual de indivíduos sedentários, 54,76%
em ambos os sexos, como acontece no grupo de idosos pesquisados em Humaitá.
A hipertensão arterial é uma doença altamente prevalente em nosso meio,
atingindo cerca de 15 a 20% da população adulta com mais de 18 anos, chegando a
76
índices de 50% nas pessoas idosas. Um estudo realizado com médicos de todo o país,
mostrou que a associação de medicamentos mais prescritos pelos mesmos, coincide
com os utilizados nos indivíduos que participaram da pesquisa, que são: inibidor da
ECA, diurético, betabloqueador, fármacos de ação central (MION et al, 2001).
A incidência de doenças crônicas é alta nos indivíduos idosos e o risco de
desenvolvê-las ou de torná-las mais graves, levando a incapacidade, deve ser
identificada precocemente. Isso é possível a partir da avaliação adequada do estado
nutricional, a qual deve considerar as especificidades de cada indivíduo idoso, uma vez
que este é parte de um grupo bastante heterogêneo (SAMPAIO, 2004).
Em relação à altura, estudos apontam uma redução na altura com a idade.
Este declínio se inicia por volta dos 40 anos e torna-se mais acentuado com o avançar
da idade. As razões para este declínio são: achatamento das vértebras, redução dos
discos intervertebrais, cifose dorsal, escoliose, arqueamento dos membros inferiores
e/ou achatamento do arco plantar. (SAMPAIO, 2004). No estudo realizado, os homens
têm média de altura que corresponde com a média de altura de homens da região sul,
que é de 171,6cm, enquanto que na região Nordeste é de 167,9cm e na região Norte é
de 165,0cm (ACUÑA; CRUZ, 2004).
Para o indicador peso, estudos mostram que o homem ganha peso até os 65
anos de idade e, a partir daí, passa a perder, enquanto que a mulher aumenta de peso
até os 75 anos e, apenas a partir desta idade, ela começa com a perda ponderal. As
causas principais são: a perda de água corporal e a redução no peso das vísceras,
além da redução de tecido muscular. Segundo dados do Índice de Massa Corpórea
(IMC), a maior prevalência foi de sobrepeso que nas mulheres foi de 57,78% seguido
de eutróficas que foi de 32,22%, e nos homens de 54,29% apresentavam sobrepeso,
também seguidos de eutróficos que totalizavam 37,14%, estes dados condizem com
dados de uma pesquisa realizada com idosos em Minas Gerais, onde a prevalência foi
de sobrepeso (52,4%), seguido de eutrofia (28%) e de baixo peso (19,5%) (BUENO et
al, 2008).
A circunferência da panturrilha é considerada um indicador sensível de
alterações musculares no indivíduo idoso e deve ser utilizada para monitoração dessas
alterações, fornece a medida mais sensível de medir massa muscular no idoso, sendo
77
superior à circunferência do braço. A maioria dos indivíduos da pesquisa não apresenta
perda de massa magra pelas medidas da circunferência da panturrilha.
Um estudo realizado em São Paulo (SARNO et al, 2007) para ambos os
sexos, houve aumento uniforme e significativo da prevalência da hipertensão arterial
com o aumento do IMC e da circunferência abdominal, utilizando-se classificações
usuais desses indicadores e/ou a classificação baseada em quartis da distribuição
observada.
Apesar de não diagnosticar estado nutricional, a utilização de medidas
antropométricas para identificação do tipo de distribuição da gordura corporal, é
fundamental na avaliação de risco para doenças associadas à obesidade. A
classificação obtida da circunferência da cintura apontou que a maioria das mulheres
apresentava esta medida aumentada e pela média das mesmas (95,39 cm) todas as
participantes do sexo feminino apresentavam alto risco de desenvolver doenças
cardiovasculares, já entre os homens a média obtida (102,31 cm) mostra que os
mesmos, igualmente apresentam um alto risco de desenvolver este tipo de doenças.
Este dado pode ser comparado com dados coletados em um estudo com diabéticos
onde o resultado foi que a classificação obtida da circunferência da cintura apontou que
80,0% das mulheres e 70,5% dos homens apresentavam esta medida aumentada
(GERALDO et al, 2008).
Entre os vários tipos de constipação, destaca-se a funcional que se
caracteriza pela ausência de causas orgânicas definidas, detectáveis pelos métodos de
investigações atualmente disponíveis. É a forma mais comum da constipação em
nosso meio. A constipação intestinal funcional, de acordo com os critérios de Roma II,
é diagnosticada em pacientes que apresentam pelo menos duas das seguintes
queixas, com duração de no mínimo 12 semanas, não necessariamente consecutivas,
durante o último ano: a) menos de três evacuações por semana; b) fezes duras ou
sensação de evacuação incompleta em pelo menos 25% das evacuações; c)
dificuldade para evacuar em pelo menos 25% das evacuações; d) necessidade de
manipulação digital para facilitar a saída das fezes (LOPES et al, 2008). No estudo
realizado, os índices de constipação foram encontrados em ambos os sexos. Além da
constipação, os indivíduos também relataram ter dificuldade de evacuar, mais de 8%
78
dos participantes do sexo masculino relataram serem constipados, e mais de 2%
relataram ter dificuldade de evacuar, já no sexo feminino, mais de 15% das
participantes confirmam ser constipadas, e mais de 11% tem dificuldade de evacuar.
Nutrição saudável tem por base o reconhecimento de que um nível ótimo de
saúde depende da nutrição. Com o aumento da obesidade e das doenças associadas à
obesidade, no Brasil, há que se combinar orientações para a redução das deficiências
nutricionais, ainda presentes, com orientações visando a prevenção das doenças
crônicas não transmissíveis (SICHIERI et al, 2000).
A pirâmide alimentar proposta para pacientes com mais de 70 anos, tem
como objetivo evitar as carências nutricionais e as doenças relacionadas com a má
alimentação. As recomendações que mais se destacam são as seguintes: Ingestão de
alimentos ricos em fibras, com baixa concentração de gorduras e açúcares refinados e
ingestão das quantidades superiores ao número de frações diárias de cada grupo de
alimentos; Consumir diariamente oito copos de água; Possível necessidade de
suplementar à dieta com cálcio e vitamina D (para reduzir o risco de fraturas ósseas) e
vitamina B12; Nos grupos de alimentos, devem-se consumir alimentos integrais,
produtos lácteos com pouca gordura, carnes magras, pescados e aves (SOUSA et al,
2009).
Portanto, mesmo que muitos estudos epidemiológicos, em doenças crônicas,
busquem um nutriente específico que seria o responsável pela diminuição da
incidência, e mesmo que em alguns casos este conhecimento possa representar, no
futuro, a forma mais efetiva de prevenção para uma doença específica, a abordagem
coletiva das doenças crônicas não transmissíveis parece ser a forma mais indicada de
prevenção primária. Assim, uma proposta de alimentação saudável, para prevenção
das doenças crônicas não transmissíveis, há de propor dietas que estejam ao alcance
da sociedade como um todo, e que tenham um impacto sobre os mais importantes
fatores relacionados às várias doenças. Aumentar o consumo de frutas e verduras e
estimular o consumo de arroz e feijão são exemplos de proposições que preenchem
estes requisitos (SICHIERI et al, 2000).
Autores mostram que o que acontece com o grupo pesquisado é a realidade
de maioria dos idosos, que em ambos os sexos, há um déficit na ingestão tanto de
79
micronutrientes, como também dos macronutrientes, e isso acarreta uma ingestão
calórica menor do que a média desejada nesta faixa etária.
O consumo calórico dos pacientes que entraram no estudo mostrou-se
adequado quanto às recomendações, sendo, em ambos, bastante próximo ao consumo
calórico médio dos brasileiros (IBGE).
Ao estratificar o valor energético total em relação à composição de
macronutrientes, constatou-se que, em ambos os grupos, a distribuição foi semelhante.
Os carboidratos foram responsáveis por 45% do VET total no grupo dos homens e 50%
em pacientes do sexo feminino. Em relação às proteínas, estas foram responsáveis por
15% nos homens e 14% nas mulheres. Os lipídios corresponderam a 39% do VET nos
homens e 37% nas mulheres.
Os achados da presente pesquisa diferem dos dados descritos pelo IBGE,
que relatou serem os carboidratos responsáveis por quase 60% do VET na população
brasileira. Em relação à ingestão de proteínas e lipídios, estes correspondem, segundo
o IBGE, a 12,8% e 27,6% do VET, respectivamente.
Em relação aos micronutrientes, os resultados demonstraram que, nos
grupos, a ingestão diária de ferro, vitamina B12 e zinco foram comparáveis e dentro dos
valores normais descritos para idade e sexo.
Quando se analisaram o cálcio e vitamina D, constatou-se que a ingestão
encontrava-se diminuída em relação aos valores considerados adequados para a idade
e sexo. Pode-se sugerir que, muito provavelmente, o grupo de pacientes estudado
apresente uma ingestão insuficiente de leite, o que poderia explicar a baixa ingestão de
cálcio. Este resultado preocupa, pois cabe ressaltar que a osteoporose é considerada
uma endemia no Brasil, talvez até por motivos da baixa ingestão de cálcio como o
identificado neste estudo.
O consumo de leite e carboidratos complexos prevaleceu sobre o consumo
de frutas e vegetais nos grupos analisados. Esses resultados corroboram os resultados
de outros autores (RUSSEL; SUTER, 1993). Dessa forma, pode-se inferir que também
ocorra uma ingestão de fibras, minerais e vitaminas de forma inadequada. Veras et al,
(2003) alertam que a característica qualitativa da dieta está relacionada à prevalência
de doenças crônico-degenerativas.
80
Segundo o IBGE, o consumo de alimentos como carne, leite e derivados,
frutas e leguminosas, condimentos, comidas prontas e bebidas alcoólicas aumentam
conforme aumenta a renda. Já o consumo de feijão, raízes e tubérculos aumentam
conforme diminui a renda.
Como considerações finais, pode-se sugerir que, devido ao aumento
crescente da população de idosos em nosso meio e, portanto, de doenças crônicas,
estudos envolvendo os hábitos alimentares e indicadores nutricionais que possam
contribuir para identificar precocemente a presença de erros alimentares e, dessa
forma, instituir ações terapêuticas e educativas, deveriam ser estimulados e apoiados
pelas organizações governamentais responsáveis pela saúde do idoso.
81
7 CONCLUSÃO
A população estudada era composta na sua maioria por mulheres, com baixo
nível de escolaridade e renda familiar média. A maioria dos idosos que participaram da
pesquisa apresentaram risco muito alto para desenvolvimento de doenças crônicas não
transmissíveis, além daquelas que já apresentavam. Observaram-se também altas
prevalências de sobrepeso no grupo estudado, em ambos os sexos.
Quanto à ingestão de macronutrientes, o que chama a atenção é o elevado
consumo de lipídeos por este grupo pesquisado, que na média da população estudada
ultrapassa 37%, sendo um pouco maior no sexo masculino quanto comparado ao
feminino. Este consumo elevado de gordura pode ser em virtude da carne que é muito
consumida naquela região, ou então pelo consumo de leite e seus derivados que são
consumidos na sua forma integral, por ser uma cidade do interior gaúcho, estes
produtos são oriundos de produtores rurais, sem passar por nenhum tipo de
industrialização que possa diminuir o teor de gordura desses produtos. Já em relação à
proteína, como dito anteriormente, existe um consumo elevado de carnes em geral, e
laticínios, isso garante a ingestão adequada de proteínas. Quanto aos carboidratos, a
ingestão fica um pouco abaixo da recomendada para esta faixa etária. Este dado vem
na contramão do que normalmente acontece na maioria da população idosa, onde a
ingestão deste macronutriente sempre ultrapassa as recomendações. A ingestão
diminuída de carboidratos pode acontecer, em virtude de no grupo estudado, não haver
o hábito de tomar café da tarde.
Tendo em vista os medicamentos utilizados pelos participantes da pesquisa,
pode-se chegar até os micronutrientes que têm sua absorção diminuída. Essa
absorção é modificada pelo processo ou caminhos que ambos seguem (nutriente X
fármaco ou vice-versa). Na maioria dos casos não se teve um cuidado nos horários de
administração dos medicamentos, isto pode influenciar na absorção do fármaco. Estas
interações podem acontecer também em virtude de possíveis alterações que
acontecem nos órgãos ou meios comuns a ambos, o nutriente e o fármaco, interferindo
na absorção. Outro fator que pode interferir é o tipo de alimento utilizado, ou o principio
82
ativo do fármaco que está sendo administrado, bem como o local de ação predestinado
do fármaco, e o local de absorção do nutriente.
Ao analisar a ingestão de micronutrientes, principalmente àqueles que têm
sua absorção diminuída por alguns fármacos, notou-se que eles estão abaixo das
necessidades estabelecidas pelas DRI’s para essa faixa etária. Com exceção do Zinco,
da Vitamina B12 e ferro que quase alcançam, os demais micronutrientes avaliados não
atingiram as recomendações, o que torna preocupante, pois além destes nutrientes já
não serem absorvidos de forma adequada pelo organismo dos indivíduos idosos eles
não foram consumidos dentro de uma recomendação estabelecida para esta faixa
etária. Estes micronutrientes são encontrados principalmente em frutas, verduras e
alimentos integrais, e estes alimentos não são muito consumidos por esta população. A
baixa ingestão pode ser, em virtude, de que estes alimentos são mais caros, o que
demanda uma renda maior para sua aquisição, ou também porque não há um incentivo
para utilização dos mesmos, pois não se tem o hábito de consumir estes alimentos. Há
também, a questão de que alimentos refinados e industrializados são menos
trabalhosos para o preparo do que alimentos naturais, que precisam ser lavados,
descascados e só depois consumidos, enquanto que biscoitos, balas, doces não
demandam essa mão-de-obra.
Ao final da década de 90, verificou-se uma vasta literatura demonstrando
como os constituintes dos alimentos podem influenciar a biodisponibilidade de
fármacos e vice-versa. Entretanto, depara-se com a falta de informações de ordem
prática, em programas voltados para a população, os quais ajudariam muito à equipe
de saúde e, principalmente, os usuários de medicamentos de uso contínuo, portadores
de doenças crônicas degenerativas, idosos e aqueles com estado nutricional
inadequado. Muitos dos efeitos adversos observados ao longo da vida de um indivíduo
não são documentados ou, então, são simplesmente entendidos como consequências
do medicamento, não se considerando o processo de interação fármaco-nutriente.
A avaliação nutricional antropométrica do idoso é de extrema importância
para a identificação das alterações que acompanham o envelhecimento e se refletem
no estado nutricional, carências nutricionais e no possível desenvolvimento de
doenças. Diante dos resultados encontrados, nota-se que as atividades desenvolvidas
83
em programas abertos para a terceira idade devem ser voltadas às necessidades e
expectativas da população, promovendo melhora da qualidade de vida para os idosos.
Programas de educação nutricional continuada e de monitoramento do estado
nutricional e de saúde são necessários para melhoria da qualidade de vida destes
indivíduos, com o intuito de que esta fase da vida possa ser vivida da melhor maneira
possível, com mais intensidade, diminuindo o risco de enfermidades.
84
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95
APÊNDICE
96
9.1 APÊNDICE I – TERMO DE CONSENTIMENTO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DO PARTICIPANTE
Estamos realizando um projeto para o Trabalho de Conclusão (TCC) de
Curso de Nutrição intitulado “Interações entre fármacos X nutrientes em um grupo
de idosos do município de Humaitá – RS”. O (a) sr(a). foi plenamente esclarecido de
que participando deste projeto, estará participando de um estudo de cunho acadêmico,
que tem como um dos objetivos
“analisar as interações que podem ocorrer entre
fármacos X nutrientes em um grupo de idosos do município de Humaitá – RS. Embora
o (a) sr(a) venha a aceitar a participar neste projeto, estará garantido que o (a) sr (a)
poderá desistir a qualquer momento bastando para isso informar sua decisão. Foi
esclarecido ainda que, por ser uma participação voluntária e sem interesse financeiro o
(a) sr (a) não terá direito a nenhuma remuneração. Desconhecemos qualquer risco ou
prejuízos por participar dela. Os dados referentes ao sr (a) serão sigilosos e privados,
preceitos estes assegurados pela Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde, sendo que o (a) sr (a) poderá solicitar informações durante todas as fases do
projeto, inclusive após a publicação dos dados obtidos a partir desta. Autoriza ainda a
gravação da voz na oportunidade da entrevista.
A coleta de dados será realizada pela acadêmica Gisele Natalí Hanauer (fone: 4891223466 ou 55- 35251419 ) da 7ª fase da Graduação de Nutrição da UNESC e
orientado pela professora Luciane Maria Daltoé. O telefone do Comitê de Ética é
3431.2723.
Criciúma (SC)____de______________de 2008.
______________________________________________________
Assinatura do Participante
97
9.2 APÊNDICE II – INQUÉRITO CLÍNICO
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE
Nome
Idade
Data de nascimento
Telefone
/
/
Sexo
Profissão
Endereço
Bairro
Raça
Grau de instrução
Renda familiar
.Renda disponível para a alimentação
Gasto com medicamentos
Nº de pessoas que residem em sua casa
2. INQUÉRITO CLÍNICO
Patologia....................................................................................................................
Medicação..................................................................................................................
Tempo de uso………………………………………………………………………………
Toma algum cuidado com a ingestão concomitante com alimentos………………..
História Clínica..........................................................................................................
Hábito intestinal
( ) normal
( ) constipado
( ) difícil
Tabagismo:________________________ Etilismo:__________________________
Atividade Física:______________________________________________________
3. Dados Antropométricos
IMC = peso (kg) / altura (m)²
Circunferência da cintura: cm
Circunferência da panturrilha: cm
Circunferência do braço: cm
98
9.3 APÊNDICE III – QUESTIONÁRIO SEMIQUANTITATIVO DE FREQUÊNCIA
ALIMENTAR
Grupo de
alimentos
1. Leite e
derivados
1 xícara
Iogurte
Queijo
Manteiga
1 colher
2. Carnes e
ovos
Carne bovina
1 bife
Carne suína
1 pedaço
Frango
1 sobrecoxa
Peixe 1 filé
Ovo 1 unidade
Fígado 1 bife
3.
Leguminosa
Feijão
1concha
Lentilha
1concha
Ervilha 1
concha
Soja 1 concha
4. Cereais
Arroz
Colher de
sopa
Batata inglesa
1 unidade
colher de sopa
Farinha ___
Macarrão 1
concha
Frequência de Consumo
Nunca
Menos
1 – 3/
de uma
mês
vez ao
mês
1/
semana
2 – 4/
semana
1/ dia
99
Pão francês
Unidade
Biscoito
unidade
5. Frutas ___
unidade
6. Vegetais
___
concha
7. Açúcar ___
colher
8. Gordura
___
colher
9.
Refrigerante
copo
10. Chocolate
unidade
11. Balas
unidade
100
9.4 APÊNDICE IV – RECORDATÓRIO ALIMENTAR
Inquérito Alimentar: Recordatório alimentar de um dia usual
Refeição
Alimento
Quantidade ( Medidas caseiras )
Hora/local
_____________ __________________________ ____________________________
_____________ __________________________ ____________________________
_____________ __________________________ ____________________________
____________
____________
__________________________ ____________________________
__________________________ ____________________________
__________________________ __________________________
_____________ __________________________ __________________________
_____________ __________________________ __________________________
_____________ __________________________ __________________________
__________________________ __________________________
__________________________ __________________________
__________________________ __________________________
__________________________ __________________________
__________________________ __________________________
__________________________ __________________________
____________
____________
__________________________ ____________________________
__________________________ ____________________________
__________________________
_____________ __________________________
_____________ __________________________
_____________ __________________________
_________________________
____________
____________
__________________________
__________________________
__________________________
__________________________
__________________________
__________________________ ____________________________
__________________________ ____________________________
FONTE: FISBERG et al, 2005
101
ANEXO
102
10.1 Aprovação comitê de ética
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