UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE NUTRIÇÃO GISELE NATALÍ HANAUER INTERAÇÕES ENTRE FÁRMACOS X NUTRIENTES EM UM GRUPO DE IDOSOS DO MUNICÍPIO DE HUMAITÁ – RS. CRICIÚMA, JUNHO DE 2009 2 GISELE NATALÍ HANAUER INTERAÇÕES ENTRE FÁRMACOS X NUTRIENTES EM UM GRUPO DE IDOSOS DO MUNICÍPIO DE HUMAITÁ – RS. Trabalho de conclusão de curso, apresentado para obtenção do grau no curso de Nutrição da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Orientador(a): Prof.ª MSc. Luciane Maria Daltoé CRICIÚMA, JUNHO DE 2009 3 GISELE NATALÍ HANAUER INTERAÇÕES ENTRE FÁRMACOS X NUTRIENTES EM UM GRUPO DE IDOSOS DO MUNICÍPIO DE HUMAITÁ – RS. Trabalho de conclusão de curso, apresentado para obtenção do grau no curso de Nutrição da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Criciúma, 30 de junho de 2009. BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________ Profª. Luciane Daltoé – Mestre – (UNESC) – Orientadora ________________________________________________________ Profº. Eduardo João Agnes – Mestre – (UNESC) ________________________________________________________ Profª. Maria Cristina Gonçalves de Souza – Mestre – (UNESC) 4 AGRADECIMENTOS Primeiramente à Deus, por me dar forças nesta árdua trajetória, me mostrando o melhor caminho a seguir. Por ter colocado em minha vida pessoas maravilhosas e por tornar os meus sonhos realidade. Aos meus pais, Norí e Goreti, por acreditarem em mim e sonharem junto comigo. Por todo o amor, incentivo e compreensão. Por não me deixarem desistir quando não parecia haver outra saída. Por abrirem mão ou adiarem suas realizações para proporcionar as minhas e por não medirem esforços para que eu alcançasse os meus objetivos. A minha irmã Jaqueline, por tudo o que ela tem feito por mim, pelo carinho e apoio, pelas palavras de conforto. Pelos momentos compartilhados, tanto os bons quanto os ruins. Por me dar força nos momentos que eu mais precisei e simplesmente por ela existir, e fazer parte da minha história. Ao meu noivo Joel, pelo incentivo, carinho, lealdade, paciência e confiança. Por acreditar que sou capaz. Pelas palavras de conforto nas horas difíceis e pela compreensão por estarmos distantes. A orientadora professora Luciane Daltoé, pela confiança depositada em mim. Por contribuir com sua sabedoria para essa pesquisa e por toda paciência e compreensão ao longo dela. Aos professores que estiveram ao meu lado durante o curso, disponibilizando o seu tempo e sua sabedoria em prol do nosso aprendizado e conhecimento. Aos meus amigos, os que estão perto, ou aqueles que estão distantes, pelo incentivo e por não me deixarem desanimar, ao longo desta trajetória. Ao enfermeiro chefe da unidade de saúde, a qual os indivíduos estão cadastrados, pelo apoio e por disponibilizar dados para a pesquisa. Aos indivíduos que aceitaram participar da pesquisa. Muito Obrigada!!! 5 “Aprendi que aconteça o que acontecer, pode até parecer ruim hoje, mas a vida continua e amanhã melhora. Aprendi que dá para descobrir muita coisa a respeito de uma pessoa observando-se como ela lida com três coisas: dia de chuva, bagagem perdida, luzes de árvore de Natal emboladas. Aprendi que, independentemente da relação que você tenha com seus pais, vai ter saudade deles quando se forem. Aprendi que 'ganhar a vida'[making a living] não é o mesmo que 'ter uma vida' [making a life]. Aprendi que a vida às vezes nos oferece uma segunda oportunidade. Aprendi que a gente não deve viver tentando agarrar tudo pela vida afora; tem que saber abrir mão de algumas coisas. Aprendi que quando decido alguma coisa com o coração, em geral vem a ser a decisão correta. Aprendi que mesmo quando tenho dores, não tenho que ser um saco. Aprendi que todo dia a gente deve estender a mão e tocar alguém. As pessoas adoram um abraço apertado, ou mesmo um simples tapinha nas costas. Aprendi que ainda tenho muito o que aprender. Aprendi que as pessoas esquecem o que você diz, esquecem o que você faz, mas não esquecem como você faz com que se sintam. Ainda não tenho 70 anos mais já aprendi muito...” (Maya Angelou) 6 RESUMO O Brasil vivencia hoje um processo crescente de envelhecimento populacional. Cresce também o índice de indivíduos com doenças crônicas, bem como o uso contínuo de medicamentos, a polifarmácia. Em virtude do uso abusivo de fármacos pode ocorrer um desequilíbrio de nutrientes por ação de um medicamento, ou um efeito farmacológico pode ser alterado pela ingestão de um nutriente ou pelo estado nutricional do paciente. Este trabalho teve como objetivo analisar as interações que podem ocorrer entre fármacos X nutrientes em um grupo de idosos do município de Humaitá - RS. Foram selecionados pacientes, com idade igual ou superior a 60 anos, participantes do programa Estratégia de Saúde da Família do município. Participaram do estudo 125 pacientes. Todos os pacientes foram avaliados em relação aos hábitos alimentares, composição de macronutrientes e micronutrientes e análise dos dados antropométricos. A avaliação dos compostos que teoricamente tem sua absorção reduzida pelos medicamentos foi feita pelo teste t de student. Dos 125 pacientes, 35 eram homens (28%) e 90 mulheres (72%). A média de idade do sexo masculino foi de 72 anos, enquanto no sexo feminino foi de 71 anos. O tempo médio de uso dos medicamentos pelo grupo participante foi de 10,2 anos para mulheres e 9 anos para os homens. Com relação aos cuidados com a ingestão concomitante de fármacos e alimentos, 87,2% relataram não tomar nenhum cuidado. A prevalência de sobrepeso foi de 57,78 %, seguida de 32,22% de eutróficos. As mulheres pesquisadas não estão tendo uma ingestão alimentar igual a recomendada pela DRI’s (p ≤ 0,05), com exceção do Zinco e da Vitamina B12. No grupo dos homens, há evidência de que estão ingerindo, em média, Ferro (p > 0,05) e Zinco (p > 0,05), em quantidades iguais as recomendadas pela DRI’s. Com relação aos demais nutrientes, há evidências que os homens estão ingerindo em quantidades, em média, diferentes das recomendadas pela DRI’s (p ≤ 0,05). Nesta amostra de pacientes, a maioria dos micronutrientes que tem sua absorção modificada pelos medicamentos, não foi ingerida em quantidade adequada se comparada com as recomendações. Isto pode ter ocorrido em virtude de que os alimentos ricos nestes micronutrientes são mais caros, o que demanda uma renda maior para sua aquisição, ou também porque não haja um incentivo para utilização dos mesmos. Palavras-chave: Envelhecimento, fármaco x nutriente, idosos. 7 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Dados demográficos dos participantes do estudo. Tabela 2 – Medicamentos empregados pelos pacientes. Tabela 3 – Principais características antropométricas dos participantes do estudo do sexo feminino. Tabela 4 – Principais características antropométricas dos participantes do estudo do sexo masculino. Tabela 5 – Consumo alimentar de energia e macronutrientes obtido pelo Recordatório alimentar de um dia habitual. Tabela 6 – Consumo alimentar de micronutrientes obtido pelo Recordatório alimentar de um dia habitual. Tabela 7 – Distribuição da frequência do consumo alimentar. 8 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Tabagismo entre o sexo feminino. Gráfico 2 – Tabagismo entre o sexo masculino. Gráfico 3 - Etilismo entre o sexo feminino. Gráfico 4 - Etilismo entre o sexo masculino. Gráfico 5 – Atividade física entre o sexo feminino. Gráfico 6 – Atividade física entre o sexo masculino. Gráfico 7 - Classificação do IMC entre membros do sexo feminino. Gráfico 8 - Classificação do IMC entre membros do sexo masculino. 9 LISTA DE ABREVIATURAS AAS - Ácido Acetilsalicílico. ABC – (Adenosine triphosphate (ATP)-binding cassete). AITR - Acidente Isquêmico Transitório Recorrente. AT 1 - Antagonistas da Angiotensina. ATII - Antagonistas da Angiotensina II. ATP - Adenosina Trifosfato. CMB - Circunferência Muscular do Braço. CNT - Transportadores Concentrativos (concentrativos transporters). CP - Circunferência da Panturrilha. DM - Diabetes Mellitus. DRI - Ingestão Dietética de Referência (Dietary Reference Intakes). ECA - Enzima Conversora de Angiotensina. ENDEF - Estudo Nacional de Despesa Familiar. ENT - Transportadores Equilibrativos. EPIC - European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition. ESF - Estratégias de Saúde da Família. HAS - Hipertensão Arterial Sistêmica. IASP - Sociedade Internacional para o Estudo da Dor (Internacional Association for the Study of Pain). IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IM - Infarto do Miocárdio. IMC - Índice de Massa Corporal. MCT - Transportadores de Ácido Monocarboxílico . MDR - Resistência a Múltiplas Drogas (Multidrug resistance). MS - Ministério da Saúde. ND - Não definido. NHANES – (Third National Health and Nutrition Examination Survey). OAT - Transportadores de Anion Orgânicos (organic anion transporting). 10 OATP - Transportadores de Ânions Orgânicos (organic anion transporting polypeptide). OCT - Transportadores de Cátions Orgânicos (organic cation transporting). OCTN - Transportadores de Cátions/Carnitina Orgânicos (organic cátion/carnitine transporting). OMS - Organização Mundial da Saúde. PEPT - Transportadores Peptídicos (peptide transport). Pgp - Glicoproteínas-P. QSFA - Questionário Semiquantitativo de Frequência Alimentar. R24 - Recordatório de 24 Horas. RDA - Ingestão Diária Recomendada (Recommended Dietetic Allowances.) SPSS - Statistical Package for the Social Science. TCLE - Termo de Consentimento Livre Esclarecido. TGI - Trato Gastrintestinal. UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense. VET - Valor Energético Total. 11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 14 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................... 18 2.1 Envelhecimento..................................................................................................... 18 2.2 Avaliação Nutricional............................................................................................. 19 2.3 Avaliação da Ingestão Alimentar........................................................................... 21 2.4 Recomendações Nutricionais Para Idosos............................................................ 22 2.5 Alterações Fisiológicas do Envelhecimento .......................................................... 24 2.6 Polifarmácia............................................................................................................ 25 2.7 Fase Biofarmacêutica............................................................................................. 26 2.8 Farmacocinética..................................................................................................... 26 2.9 Absorção e Metabolismo dos Fármacos................................................................ 27 2.10 Sítios de Absorção.............................................................................................. 29 2.11 Farmacodinâmica................................................................................................ 30 2.12 Interação Fármaco / Nutriente............................................................................. 30 2.13 Interferência do Estado Nutricional na Biodisponibilidade dos Fármacos.......... 33 2.14 Interferência do Fármaco no Estado Nutricional...................................................34 2.15 Doenças que mais Acometem Idosos.................................................................. 35 2.15.1 Hipertensão Arterial........................................................................................... 35 2.15.1 Tratamento Medicamentoso............................................................................... 36 2.15.1.1 Captopril.......................................................................................................... 36 2.15.1.2 Hidroclorotiazida............................................................................................. 37 2.15.1.3 Maleato de Enalapril ...................................................................................... 37 2.15.1.4 Propranolol .................................................................................................... 38 2.15.1.5 Losartan.......................................................................................................... 40 2.15.1.6 Atenolol........................................................................................................... 41 2.15.1.7 Verapamil.........................................................................................................41 2.15.2 Diabetes Mellitus................................................................................................ 42 2.15.2 Tratamento Medicamentoso .............................................................................. 43 2.15.2.1 Metformina...................................................................................................... 43 12 2.15.2.2 Glibenclamida..................................................................................................44 2.15.3 Analgésicos........................................................................................................ 44 2.15.3 Tratamento medicamentoso............................................................................... 45 2.15.3.1 Paracetamol.....................................................................................................45 2.15.3.2 Tylex ............................................................................................................... 46 2.15.3.3 Ácido acetilsalisílico ........................................................................................ 46 2.15.3.4 Dipirona.............................................................................................................47 2.15.4 Acidez intragástrica.............................................................................................48 2.15.4 Tratamento medicamentoso................................................................................48 2.15.4.1 Omeprazol ......................................................................................................48 2.15.4.2 Hidróxido de alumínio ......................................................................................49 2.15.4.3 Cimetidina ........................................................................................................49 2.15.4.4 Ranitidina .........................................................................................................50 3 OBJETIVOS................................................................................................................ 51 3.1 Objetivo Geral:......................................................................................................... 51 3.2 Objetivos Específicos:.............................................................................................. 51 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS....................................................................52 4.1 Delineamento Da Pesquisa......................................................................................52 4.2 População e Amostra...............................................................................................52 4.3 Critérios de Inclusão.................................................................................................53 4.4 Critérios de Exclusão................................................................................................54 4.5 Coleta de Dados.......................................................................................................54 4.5.1 Inquérito Clínico.....................................................................................................55 4.5.2 Inquérito Dietético................................................................................................. 55 4.5.3 Medidas Antropométricas..................................................................................... 56 4.5.4 Avaliação Nutricional.......................................................................................... ..57 4.6 Forma de Coleta de Dados......................................................................................58 4.7 Análise Estatística...................................................................................................58 4.8 Aspectos Éticos.......................................................................................................59 4.9 Limitações do Estudo..............................................................................................59 5 RESULTADOS...........................................................................................................60 13 5.1 Descrição do Perfil Demográfico da População..................................................60 5.2 Hábitos Diários e uso de Medicamentos.............................................................61 5.2.1 Tabagismo e consumo de bebida alcoólica......................................................61 5.2.2 Nível de Atividade Física..................................................................................64 5.2.3 Utilização de medicamentos............................................................................65 5.3 Avaliação antropométrica....................................................................................66 5.4 Avaliação do recordatório de um dia habitual.....................................................68 5.5 Avaliação da frequência do consumo de alimentos............................................70 6 DISCUSSÃO..........................................................................................................73 7 CONCLUSÃO........................................................................................................81 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.............................................................................84 APÊNDICE...............................................................................................................95 9.1 Apêndice I – Termo De Consentimento............................................................96 9.2 Apêndice II – Inquérito Clínico............................................................................97 9.3 Apêndice III – Questionário Semiquantitativo De Frequência Alimentar............98 9.4 Apêndice IV – Recordatório Alimentar..............................................................100 ANEXOS................................................................................................................ 101 Aprovação comitê de ética... ................................................................................. 102 14 1 INTRODUÇÃO Envelhecer pode ser definido como um processo de desgaste cumulativo, irreversível, universal e não patológico que provoca a deterioração do organismo maduro, tornando-o progressivamente incapaz de cumprir com as funções fisiológicas básicas, levando o indivíduo à morte. Embora isso seja verdadeiro e comum a todos os seres, a forma como esse processo de desgaste ocorre e como é encarado, no caso do ser humano, não é a mesma para todos os homens, nem igual em todos os contextos. Depende de características individuais, de como os homens produzem e reproduzem a sua vida material e espiritual, e se modifica de acordo com a cultura e os valores de cada sociedade concreta. O idoso, por exemplo, é uma categoria socialmente construída que ajuda a dar conformação e a traduzir uma forma específica de inserção, na sociedade moderna, de uma parcela da população em idade avançada (FONSECA, 2008). A temática do idoso tem ganhado relevância, nos últimos anos, a partir da constatação do crescimento proporcionalmente maior de pessoas com idade avançada em relação a outras faixas etárias, provocando o envelhecimento da população. Esse fenômeno, que resulta em última instância do declínio da fecundidade e do aumento da expectativa de vida, foi observado primeiramente nos países desenvolvidos, e nas últimas décadas, também em países em desenvolvimento como o Brasil. O envelhecimento da população se traduz como transição demográfica, com estreitamento da base da pirâmide populacional e alargamento do ápice. As alterações demográficas são acompanhadas por mudanças no perfil epidemiológico, em que se observa uma redução da incidência de doenças infecto-contagiosas e o aumento das doenças crônico-degenerativas, próprias das faixas etárias mais avançadas. Tais transformações exigem novas políticas e novas formas de intervenção no campo da atenção à saúde (FONSECA, 2008). Como forma de enfrentamento desse problema de saúde pública, o Ministério da Saúde, em 1999, instituiu a Política de Saúde dos Idosos, por meio da Portaria N° 1395/GM e em outubro de 2006 reformulou-a com a Portaria N° 2528/GM. Entre os 15 temas abordados na política nacional para os idosos, está a promoção do envelhecimento saudável e a manutenção da máxima capacidade funcional, pelo maior tempo possível (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). O processo de envelhecimento provoca uma série de alterações biológicas, fisiológicas, psicológicas e sociais que aumentam a susceptibilidade às doenças e provocam incapacidades. Estudos demonstram que com frequência os idosos são portadores de múltiplas doenças, principalmente as crônico-degenerativas, que podem provocar limitações e dependência. Contudo, os idosos, mesmo acometidos por doenças, podem ter boa qualidade de vida, que geralmente é expressa pela funcionalidade positiva no desempenho de tarefas e/ou papéis sociais e na capacidade de executar atividades do cotidiano, sem a necessidade de auxílio de outras pessoas (FONSECA, 2008). Nesse sentido, as alterações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento possuem relação direta com o estado nutricional, principalmente pelas mudanças alimentares impostas pelas patologias, uso abusivo de medicamentos e condições do organismo (ALVES, 2006). O uso de medicamentos é importante e necessário, bem como a alimentação das pessoas, independentemente da cultura, da época ou da idade. A alimentação é fundamental para que o indivíduo tenha saúde, para que consiga fornecer ao organismo nutrientes necessários para a manutenção do corpo. É necessário um equilíbrio entre ambos, para que se tenha uma absorção e o efeito desejado de cada um deles. Em todos os grupos populacionais é importante que exista harmonia entre estas duas necessidades, porém os idosos são um grupo mais vulnerável, que oferece maior risco, tanto pela debilitada absorção de nutrientes como também pelo uso contínuo e aumentado de medicamentos nesta faixa etária. Principalmente medicamentos usados para sintomas com dores, acidez estomacal, e também medicamentos que são utilizados para controle de doenças crônicas não transmissíveis como: hipertensão, diabetes, colesterol e outros (MOURA, et al, 2002). Atualmente, o uso de medicamentos pelos idosos tem gerado preocupação quanto aos gastos excessivos e aos possíveis efeitos, benéficos ou indesejáveis. O perfil de uso obedece a peculiaridades de idade, gênero, inserção social, estado de 16 saúde e classe terapêutica. A inadequação traduz-se por quantidade e qualidade impróprias dos produtos empregados (ROZENFELD, 2003). Há indícios de aumento do "multiuso de fármacos" em diversos países. Na Finlândia, Klaukka et al, (1993 apud ROZENFELD, 2003) analisam os dados de três inquéritos de saúde comparáveis e representativos do País, realizados em 1976, 19781980 e 1987. Segundo os resultados, o uso simultâneo de cinco ou mais fármacos prescritos, em todas as idades, cresce durante o período, e os idosos são, em parte, responsáveis: em 1976, 44% dos "multiusuários" são idosos e, em 1987, são 55%. Isso ocorre porque, entre os mais idosos, as doenças são mais graves, o uso dos serviços médicos é mais intenso e há dificuldade de discutir os complexos problemas, que acabam sendo medicalizados. Há quem estime não existirem diferenças importantes no perfil de fármacos usados entre os "multiusuários", sejam eles jovens ou idosos. Ainda assim, é possível admitir o "multiuso" como mais prejudicial aos idosos do que aos jovens e, potencialmente, iatrogênico (ROZENFELD, 2003). A farmacologia para os idosos tem peculiaridades, pois com a idade diminui a massa muscular e a água corporal. O metabolismo hepático, os mecanismos homeostáticos, assim como a capacidade de filtração e de excreção renal podem ficar comprometidos (MAGNONI, CUKIER e OLIVEIRA, 2005). Disso decorre a dificuldade de eliminação de metabólitos, o acúmulo de substâncias tóxicas no organismo e a produção de reações adversas. Pode, inclusive, haver superposição entre essas últimas e os quadros mórbidos pré-existentes. Há medidas importantes a serem seguidas diante do paciente idoso: estímulo ao emprego de medidas não farmacológicas; acompanhamento, com revisão periódica do conjunto dos medicamentos e de seus possíveis efeitos adversos; preferência por monodrogas, em detrimento das associações em doses fixas; preferência por fármacos de eficácia comprovada através de evidências científicas; suspensão do uso, sempre que possível; verificação da compreensão da prescrição e das orientações farmacológicas ou não farmacológicas; simplificação dos esquemas de administração; atenção aos preços (ROZENFELD, 2003). A partir do exposto acima, verificou-se a necessidade de analisar as interações que podem ocorrer entre fármacos X nutrientes em um grupo de idosos, 17 pois, sabe-se que complexos de fármacos com nutrientes podem impedir a absorção do medicamento, nutriente ou de ambos, fármacos podem alterar a acidez gástrica, e também danificar a superfície da mucosa, podendo diminuir a absorção de algumas vitaminas e minerais. Os fármacos podem aumentar o metabolismo de nutrientes, resultando em necessidades aumentadas e risco de deficiência, além disso, também podem causar antagonismo entre as vitaminas, inibindo a conversão de algumas vitaminas à sua forma ativa. Os fármacos podem aumentar a perda urinária de alguns nutrientes, causando carências. Alguns fármacos diminuem a excreção de alguns nutrientes. O volume, a temperatura, a viscosidade, a pressão osmótica, o caráter ácido básico dos fármacos modificando a motilidade gastrointestinal, o pH intra lumenal, a morfologia celular da mucosa e a atividade de enzimas intestinais, a flora bacteriana e formando complexas mais ou menos insolúveis, alteram a solubilização e a absorção de nutrientes (MARTINS et al, 2003). 18 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Envelhecimento O envelhecimento é, hoje, uma realidade na maioria das sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento, tornando-se temática e relevante do ponto de vista científico e de políticas públicas, mobilizando pesquisadores e promotores de políticas sociais, na discussão do desafio que a longevidade humana está colocando para as sociedades (MARTIN; CORDONI JÚNIOR; BASTOS, 2005). Morais et al, (2008) diz que, o envelhecimento é definido pela Organização Pan-Americana de Saúde e referendado pelo Ministério da Saúde como "um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie de maneira que o tempo torne capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto aumente sua possibilidade de morte". O Brasil, à semelhança dos demais países latino-americanos, está passando por um processo de envelhecimento rápido e intenso. A evolução da população geriátrica brasileira constitui um grande desafio, enquanto a população brasileira crescerá 3,22 vezes até o ano 2025, o segmento acima de 65 anos aumentará 8,9 vezes, e o acima de 80 anos, 15,6 vezes. Com isso, a proporção de idosos que em 1980 era menor que 6%, subirá em menos de 50 anos, para 14%, devendo o Brasil ocupar o sexto lugar na esfera mundial no ano 2025, com uma estimativa de 31,8 milhões. Mantendo-se a tendência demográfica atual, em números absolutos, o país terá uma das maiores populações de idosos do mundo (CAMPOS et al, 2000). Pavarini et al, (2005) relata que pesquisadores da longevidade humana explicam que o aumento da esperança de vida tem coincidido com uma concentração da longevidade média e a curva de sobrevivência está tomando uma forma cada vez mais retangular. Na prevalência de doenças crônicas são importantes dois fatores: as taxas de reabilitação e os índices de mortalidade. Assim, a relação com as intervenções 19 no estado de saúde, que permitem retardar o surgimento de doenças e incapacidades, sobretudo aquelas que afetam as capacidades funcionais, são aspectos determinantes para que se produzam aproximações entre a morbidade, a esperança de vida e a mortalidade. O aumento da expectativa de vida deveria ser acompanhado de um aumento também na expectativa de saúde. 2.2 Avaliação Nutricional O indicador antropométrico é essencial na avaliação nutricional geriátrica, entretanto algumas alterações que ocorrem com o envelhecimento podem comprometer a determinação de um diagnóstico antropométrico acurado e preciso, caso cuidados específicos não sejam tomados no sentido de neutralizar ou amenizar o efeito dessas alterações sobre a avaliação. Serão discutidas a seguir as principais alterações que podem interferir na avaliação nutricional antropométrica (SAMPAIO, 2004). Em relação à altura, estudos apontam uma redução na altura com a idade. Perissinotto et al, (Apud SAMPAIO, 2004) encontraram um decréscimo de 2cm/década a 3cm/década. Este declínio se inicia por volta dos 40 anos e torna-se mais acentuado com o avançar da idade. As razões para este declínio são: achatamento das vértebras, redução dos discos intervertebrais, cifose dorsal, escoliose, arqueamento dos membros inferiores e/ou achatamento do arco plantar. Para o indicador peso, estudos mostram que o homem ganha peso até os 65 anos de idade e, a partir daí, passa a perder, enquanto que a mulher aumenta de peso até os 75 anos e, apenas a partir desta idade, ela começa com a perda ponderal. As causas principais são: a perda de água corporal e a redução no peso das vísceras, além da redução de tecido muscular (DUARTE, 2007). A reserva de tecido muscular pode ser estimada antropometricamente pela circunferência muscular do braço (CMB) e circunferência da panturrilha (CP). A CMB, apesar de não levar em consideração a irregularidade no formato dos tecidos do braço, deve ser o indicador de escolha, tendo em vista que o Third National Health and 20 Nutrition Examination Survey (NHANES III) apresenta dados de referência para este indicador. A CP é considerada um indicador sensível de alterações musculares no indivíduo idoso e deve ser utilizada para monitoração dessas alterações (DUARTE, 2007). A identificação do tipo de distribuição de gordura corporal é de suma importância, pois o acúmulo de gordura na região abdominal apresenta estreita relação com alterações metabólicas, as quais podem desencadear o aparecimento de enfermidades como as cardiovasculares e diabetes mellitus. Estudos evidenciam que, com o avançar da idade, ocorre aumento da gordura visceral e que a relação entre acúmulo de gordura abdominal e alterações metabólicas se mantém com a idade (SAMPAIO, 2004). O Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado a partir do peso (em kg) dividido pelo quadrado da altura em metros (Peso/Altura2 — kg/m2), tem como finalidade avaliar a massa corporal em relação à altura. Apesar do seu uso frequente, ele deve estar sempre associado a outros indicadores, tendo em vista que o mesmo não reflete a distribuição regional de gordura ou qualquer mudança na distribuição de gordura ocorrida com o processo de envelhecimento, sendo considerado, portanto, um indicador pobre para avaliar riscos em idosos (MARTINS, 2008). Segundo Martins, (2008) não há consenso sobre a definição do que seja um IMC elevado ou baixo para o indivíduo idoso. Apesar da Organização Mundial da Saúde (OMS) sugerir para avaliação do idoso a utilização dos pontos de corte propostos para o adulto jovem (IMC< 18,5kg/m2= magreza; IMC> 30kg/m2= obesidade), supõe-se que valores superiores sejam mais adequados, já que o idoso necessita de uma reserva maior no sentido de prevenir a desnutrição. Em pesquisas populacionais, a maioria dos estudos utiliza o IMC médio interno de suas amostras. Na prática clínica geriátrica, o IMC< 20kg/m2 é o ponto de corte adotado para classificar o idoso como apresentando magreza. Este critério é utilizado para que indivíduos em risco nutricional sejam detectados precocemente. Para o diagnóstico da obesidade, utiliza-se o ponto de corte sugerido pela OMS, associando o IMC à prega cutânea triciptal (SANTOS et al, 2006). 21 2.3 Avaliação da Ingestão Alimentar Os inquéritos dietéticos são úteis, pois determinam o padrão alimentar da população e sua evolução com o tempo, além de detectar a deficiência nutricional em seu estágio inicial. O inquérito alimentar mais importante realizado no país foi o Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF-1974/1975). Mais recentemente destaca-se o Estudo Multicêntrico sobre o Consumo Alimentar e Estado Nutricional (1996), realizado em cinco cidades brasileiras, utilizando o Questionário Semiquantitativo de Frequência Alimentar (QSFA). O QSFA, referente ao último ano, tem sido utilizado em inúmeras investigações, apesar das discussões recentes acerca de sua adequação em estimar a ingestão de nutrientes. Na pesquisa epidemiológica são necessários instrumentos de avaliação do consumo alimentar de fácil aplicação, baixo custo e capazes de caracterizar a dieta habitual dos indivíduos, objetivos estes que o QSFA contempla de maneira satisfatória. Também, a magnitude do seu erro tem sido avaliada em estudos de validação, reprodutibilidade e calibração (LOPES et al, 2005). LOPES et al, (2005) enfatiza também que estudos de calibração são particularmente úteis na correção do erro de medida do QSFA e têm sido indicados como alternativa em situações, nas quais a realização de inquérito alimentar de vários dias para o estudo de validação é inviável. A calibração consiste na correção estatística da ingestão de nutrientes aferida pelo instrumento teste (QSFA) com aquela obtida pelo método referência, dada à inexistência de um padrão-ouro que avalie o consumo alimentar. Essa metodologia tem sido utilizada em estudos internacionais como o EPIC – European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition, e também no Brasil, como no estudo realizado em Bambuí, Minas Gerais, Brasil. Neste estudo, o consumo de nutrientes foi calibrado por meio da comparação do QSFA, com recordatório 24 horas associado a réplicas de alimentos (R24). 22 2.4 Recomendações Nutricionais para Idosos A taxa metabólica de repouso, considerada como a taxa mínima de energia consumida necessária para suportar todas as funções celulares, responde por 60 a 70% do total do gasto energético diário nos humanos, representando o principal componente do gasto energético (FONSECA; LEAL, 2007). No idoso, a necessidade energética diminui, ocorrendo consequentemente a redução da taxa metabólica basal, sendo esta diminuição associada a uma perda de massa muscular, resultando em um menor metabolismo ativo (REZENDE; SANTOS, 2006). As RDAs (Recommended Dietary Allowances) são caracterizadas como a ingestão de nutriente diária suficiente para satisfazer às necessidades de todos os indivíduos saudáveis, entre 97 e 98%, que compreende um determinado grupo, gênero, idade e estágio de vida (AMAYA-FARFAN; DOMENE; PADOVANI, 2001). De acordo com as RDAs (2002), as necessidades calóricas de acordo com a faixa etária são de 10% menores na faixa de 51 a 75 anos de idade, devendo haver desconto diário de 200 kcal em homens e mulheres no valor energético total (VET), naqueles com mais de 76 anos há redução de 20 a 25% na necessidade calórica, devendo-se reduzir 500 kcal por dia para homens e 400 kcal para mulheres. Os valores calóricos para o grupo de mais de 51 anos equivale a 30 kcal por quilo de peso corporal ideal por dia (WELLMAN, 1994). Em relação à recomendação nutricional de macronutrientes, o consumo de carboidratos deve corresponder aproximadamente de 55% a 60% do valor energético total ingerido pelo idoso (FRANK et al, 2004). Em relação às proteínas, conforme as pessoas envelhecem e perdem massa tecidual esquelética, as reservas de proteínas no músculo esquelético podem ser insuficientes para atender as necessidades para a síntese de proteínas (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005). Recomenda-se a ingestão de 0,8g/kg de peso ao dia de proteínas de alto valor biológico, para idosos saudáveis, e de pelo menos 1,0g/kg de peso para casos de doenças ou ingestão insuficiente de proteínas, em percentuais 23 devendo alcançar de 12% a 15% do valor calórico total (FOOD AND NUTRITION BOARD, 1989 apud FRANK et al, 2004). As recomendações de lipídios devem contribuir cerca de 25 a 30% do valor calórico total (CUKIER et al, 2005). Abaixo estão descritas as recomendações de carboidratos, proteínas e lipídeos para idosos. Carboidratos Proteína Lipídeo (g/dia) (g/dia) (g/dia) Homens 50-70 anos 130 56 ND +70 anos 130 56 ND 130 46 ND 130 46 ND Mulheres 50–70 anos + 70anos ND – sem recomendação Fonte: CUKIER, C., et al, 2005. Muitas vitaminas e minerais estão envolvidos em mudanças metabólicas e patológicas comuns em idosos, como por exemplo, deficiências em vitaminas e minerais antioxidantes (A, C e E, zinco) e vitaminas do complexo B (B1, B6 e folato) e suas relações com as doenças cardiovasculares, níveis inadequados de vitamina D, cálcio e magnésio e desenvolvimento de osteoporose, ou ainda cromo e zinco atuando no metabolismo de carboidratos (CUKIER, 2005). As recomendações de alguns micronutrientes estão descritos abaixo. Vit.B12 Vit. D (µg/dia) Homens 50-70 anos +70 anos Mulheres50–70 anos + 70anos Cálcio Ferro Folato Potássio Zinco Magnésio (µg/dia) (mg/dia) (mg/dia) (µg/dia) (g/dia) (mg/dia) (mg/dia) 2,4 10 1.200 8 400 4,7 11 420 2,4 15 1.200 8 400 4,7 11 420 2,4 10 1.200 8 400 4,7 8 320 2,4 15 1.200 8 400 4,7 8 320 Fonte: CUKIER, C., et al, 2005. 24 2.5 Alterações Fisiológicas do Envelhecimento Fisiologicamente, o envelhecimento tem início relativamente precoce, logo após o término da fase de desenvolvimento e estabilização, perdurando por longo período perceptível, até que as alterações estruturais/funcionais tornam-se grosseiramente evidentes. As primeiras alterações atribuídas ao envelhecimento são detectadas ao fim da terceira década de vida, geralmente discretas e progressivas, estas alterações não causam insuficiência absoluta do órgão ou aparelho (FILHO, 2000). Na maioria dos sistemas, ocorre uma paulatina diminuição de reserva funcional, o que compromete sua capacidade de adaptação às modificações do meio externo e/ou interno, prejudicando em última análise a eficácia dos mecanismos de manutenção da homeostasia. O envelhecimento natural é caracterizado como “a progressiva incapacidade de manutenção do equilíbrio homeostático em condições de sobrecarga funcional” (FILHO, 2000). Moura et al, (2002) mostra que dentre as principais modificações fisiológicas que acontecem com o envelhecimento estão: • Músculo magro é substituído por gordura (mesmo sem ganho de peso); • Modificações na atividade enzimática e nos componentes de secreções gástricas; • Atividade da amilase salivar é frequentemente reduzida; • Enzimas de atividade proteolítica podem estar diminuídas; • Hipocloridria e acloridria são frequentes; • Tolerância à glicose tende a diminuir; • Fluxo sanguíneo renal e velocidade de filtração estão reduzidos mesmo na ausência de doença renal; 25 2.6 Polifarmácia Medicamentos representam um dos itens mais importantes da atenção à saúde do idoso. Pessoas com idade avançada tendem a usar mais produtos farmacêuticos e apresentam particularidades farmacocinéticas e farmacodinâmicas que as tornam particularmente vulneráveis a efeitos adversos. O conhecimento do perfil de utilização de medicamentos pela população geriátrica é fundamental para o delineamento de estratégias de prescrição racional de fármacos entre esse segmento etário (FILHO et al, 2004). Estima-se que 23% da população brasileira consomem 60% da produção nacional de medicamentos, principalmente as pessoas acima de 60 anos. Esse padrão elevado no consumo de medicamentos entre os idosos que vivem na comunidade tem sido descrito em outros estudos no Brasil (FLORES et al, 2005). O uso múltiplo de medicamentos é mais frequente entre idosos, devido à alta prevalência de doenças crônicas nessa fase da vida. Em países desenvolvidos, estudos farmacoepidemiológicos de base populacional têm mostrado que, entre idosos, o número de doenças crônicas, a utilização de serviços de saúde, ser do sexo feminino e ter idade mais avançada estão relacionados ao uso múltiplo de medicamentos (FILHO et al, 2008). Focando na saúde e, em especial, nas pessoas da terceira idade, o consumo de medicamentos é uma das variáveis importantes que podem interferir na qualidade de vida dessa população. Segundo Mosegui et al, (1999) cerca de 90% dos idosos consomem pelo menos um medicamento e 1/3 deles, cinco ou mais simultaneamente. No estudo de Ballone (2004), verificou-se que 52,7% dos idosos faziam uso de 1 a 4 medicamentos, 34,4% utilizavam entre 5 e 10 medicamentos e 3,8% utilizavam mais de 10 medicamentos, regularmente. Quase 40% das prescrições são destinadas aos idosos. Há evidências de que os idosos americanos, vivendo na comunidade, tomam em média de 2,7 a 4,2 medicamentos prescritos ou não prescritos. Apesar de não existir um consenso sobre qual número expresse polifarmácia, ela tem sido definida, 26 basicamente, de duas formas: como o uso concomitante de fármacos, medida por contagem simples dos medicamentos ou como a administração de um maior número de medicamentos do que os clinicamente indicados, avaliada nas revisões clínicas, usando critérios específicos. Quantitativamente, ela tem sido classificada por alguns autores como uso concomitante de cinco ou mais medicamentos. Divide e avalia graus de polifarmácia da seguinte forma: de cinco a seis; de sete a nove e >10 medicamentos (FLORES et al, 2005). 2.7 Fase Biofarmacêutica Compreende todos os processos que ocorrem com o medicamento a partir da sua administração, incluindo as etapas de liberação e dissolução do princípio ativo. Esta fase deixa o fármaco disponível para a absorção. Entretanto, sua natureza química, estado físico, tamanho e superfície da partícula, quantidade e tipo dos excipientes utilizados, processo farmacêutico empregado e formulação são fatores, os quais podem influir na biodisponibilidade do princípio ativo, fazendo variar o tempo de absorção e a quantidade absorvida (MOURA et al, 2002). 2.8 Farmacocinética Esta fase inclui os processos, nos quais o organismo interfere sobre o fármaco. A farmacocinética é o estudo dos processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção. O metabolismo ocorre em dois tipos de reações básicas, referidas como reações fase I e fase II. A primeira inclui reações bioquímicas, como oxidação, redução e hidrólise, as quais conduzem a modificações nas moléculas dos fármacos. A segunda corresponde àquelas que conjugam os grupos funcionais dos fármacos a moléculas endógenas. Estas reações são catalisadas por enzimas ou 27 sistemas enzimáticos, sendo o fígado o principal local de metabolismo de compostos ativos, em função de seu amplo sistema microssomal. Outros órgãos e tecidos, como pulmões, rins, mucosa intestinal, pele e plasma sanguíneo, também podem participar deste processo (SILVA, 1994). O sistema de catálise do metabolismo oxidativo, dependente do citocromo P450, atua sobre uma ampla gama de substâncias endógenas, bem como sobre substâncias químicas estranhas, tais como fármacos, poluentes ambientais e carcinógenos (Anderson et al, 1988 apud. MOURA et al, 2002). 2.9 Absorção e Metabolismo dos Fármacos Os processos de absorção de drogas estão relacionados à permeabilidade de compostos através de membranas biológicas sob influência das características físicoquímicas de ambos. O transporte de fármacos para o interior da membrana intestinal é complexo e dinâmico. Ele inclui, e acontece principalmente por transporte passivo, através dos enterócitos (transcelular), das junções entre os enterócitos (paracelular) e os mecanismos ativos, via transportadores (Balimane et al, 2000 Apud, Souza et al, 2007). Dentre as principais famílias de transportadores de fármacos que promovem a absorção estão: os transportadores ABC (ATP Binding Cassete), compostos pelos grupos de resistência a múltiplas drogas (MDR), cujos substratos típicos são os compostos hidrofóbicos, agentes antitumorais, digoxina e imunossupressores, e proteína relacionada à multiresistência (MRP), cujos substratos típicos são conjugados aniônicos, agentes antitumorais, metotrexato e pravastatina. Existem também os transportadores peptídicos (PEPT) que são responsáveis pelo transporte de di e tripeptídeos e antibióticos β -lactâmicos; os transportadores de ácido monocarboxílico (MCT) que atuam na permeação de ácido lático e ácido salicílico; os transportadores de ânions orgânicos (OATP), cujo exemplo de substrato típico é a tiroxina, e de íons orgânicos (OAT, OCT e OCTN), cujos exemplos de substratos típicos são dopamina, 28 metotrexato e cimetidina e os transportadores nucleosídeos (CNT e ENT), que atuam no transporte de nucleosídeos purínicos e pirimidínicos (Souza et al, 2007). Cabe ressaltar os transportadores de efluxo ou secreção, ou seja, aqueles que transportam os fármacos da membrana intestinal de volta para o lúmen. Estes transportadores funcionam como barreira à absorção. Os principais componentes desta classe são as glicoproteínas-P (Pgp), que são dependentes de ATP (170-180 KDa) e estão presentes em inúmeros órgãos e tecidos, incluindo cérebro, fígado, intestino, glândula adrenal, placenta, barreira hemato-encefálica e rim (Katsura, Inui, 2003 apud SOUZA et al, 2007). Dentre os fatores fisiológicos podem-se ressaltar o tempo de esvaziamento gástrico e o trânsito intestinal das diversas formas farmacêuticas. O primeiro é mais lento em presença de alimento, sendo o segundo menos afetado pelas condições alimentares. A combinação entre os efeitos referentes ao maior tempo para ocorrer o esvaziamento gástrico e a potencial ligação entre os componentes alimentares e o fármaco pode diminuir sua absorção, principalmente para fármacos hidrossolúveis com alta biodisponibilidade. Fármacos pouco solúveis em água ou com solubilidade pH dependente são altamente afetados pelas mudanças pós-prandial do trato gastrintestinal (TGI) podendo ter diferenças significativas na sua biodisponibilidade (MACHERAS, ARGYRAKIS, 1997; CHARMAN et. al. 1997). As alterações de pH, a área superficial de contato, a atividade enzimática, e a microflora presente também podem modificar a absorção de fármacos (LIMA, 1997). A velocidade e a extensão da absorção de um fármaco podem ser alteradas devido à sua lipofilicidade, estado de ionização ou tamanho das partículas. Fatores inerentes às formas farmacêuticas sólidas, administradas por via oral, como velocidade e extensão de desintegração e dissolução também são relevantes (SOUZA, 2007). 29 2.10 Sítios de Absorção Os parâmetros anatômicos e fisiológicos do TGI afetam drasticamente a velocidade e a extensão da absorção de fármacos e nutrientes administrados por via oral. A porção do TGI onde ocorre maior absorção é o duodeno e a parte proximal do jejuno. A mucosa onde este fenômeno ocorre consiste em um epitélio colunar simples, com uma membrana proeminente e vascular denominada lâmina própria. Para aumentar sua área superficial e, consequentemente, sua capacidade de promover absorção, esta mucosa possui pregas, depressões e microvilosidades. O epitélio formado não é uniforme, mas o principal tipo de células são os enterócitos. Estes se compõem de células epiteliais colunares, que são interligadas por estreitas junções. Existem numerosas microvilosidades na membrana celular apical das células epiteliais colunares, o que ocasiona aumento significativo da área superficial disponível para absorção e a aparência de borda em escova quando visualizadas ao microscópio (BRUNTON et al, 2006). Brunton et al, (2006) descreve que fármacos ácidos são também absorvidos no estômago, pois nesta região, o pH ácido dificulta sua dissociação, promovendo sua difusão passiva pela porção lipofílica da bicamada da membrana. Fármacos básicos são absorvidos preferencialmente no intestino. As reações metabólicas são divididas em fase 1 (oxidação, redução e hidrólise) e fase 2 (conjugação). Os produtos de degradação (metabólitos), por sua vez, podem ser inativos ou ativos. Em relação ao fármaco de origem, os metabólitos ativos podem agir por mecanismos de ação similares ou diferentes, ou até mesmo por antagonismo (Pereira, 2007). O uso crônico de medicamentos pode induzir alterações da função hepática de determinado paciente, resultando em indução enzimática, em que a atividade metabólica se torna exacerbada, ou, contrariamente, de inibição da função enzimática hepática (PEREIRA, 2007). 30 2.11 Farmacodinâmica A fase farmacodinâmica ocupa-se dos estudos dos efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e seus mecanismos de ação. A análise detalhada da ação de um fármaco pode proporcionar as bases para seu uso terapêutico racional e para o desenvolvimento de outros agentes terapêuticos mais novos e eficazes. As pesquisas básicas de farmacodinâmica também fornecem informações fundamentais acerca da regulação bioquímica e fisiológica. Os efeitos da maioria dos fármacos são atribuídos a sua interação com os componentes macromoleculares do organismo. Estas interações alteram a função do componente envolvido e, desta forma, produzem as alterações bioquímicas e fisiológicas que caracterizam a resposta ao fármaco (BRUNTON et al, 2006). 2.12 Interação Fármaco / Nutriente Há similaridades na absorção, mas as distribuições metabólicas do fármaco e do nutriente são diferentes. Os nutrientes entram no processo metabólico normal da célula também na forma de substrato para reações bioenergéticas, produzindo energia para contrabalançar a entropia ou na forma de co-fator para as reações anabólicas e catabólicas. Já os fármacos, geralmente participam de reações que resultam na modificação química, na atividade farmacológica e na sua excreção (GORZONI, 1995). O efeito clínico de um fármaco está relacionado, na maioria das vezes com sua biodisponibilidade. Esta pode ser afetada pela ingestão alimentar de forma não intencional, produzindo um aumento ou diminuição na biodisponibilidade, resultando em uma falha no tratamento, ou causando toxicidade, que pode influenciar negativamente no estado geral do paciente, contribuir na morbidade e prolongar o tempo de tratamento ou hospitalização. Desde a ingestão até a evacuação, podem ocorrer interações entre fármaco e nutriente, que altera tanto a biodisponibilidade quanto o efeito clínico. A 31 relação entre parâmetros farmacocinéticos e efeitos farmacológicos nem sempre são simples e, geralmente, influenciam na biodisponibilidade de um fármaco induzidas por um alimento podem ser somente um marcador ou indicador de uma interação fármacoalimento (MOURA et al, 2002). Salazar, (2007) descreve que uma interação dada entre fármaco/ alimento pode evoluir somente se o impacto clínico é quantificado, porém em muitos casos este efeito farmacológico não é diretamente quantificado. Os mecanismos deste tipo de interações podem dividir-se em farmacocinéticos afetando a absorção, distribuição, metabolismo ou eliminação, que são as mais comuns e farmacodinâmicos, em que um alimento, ou derivado afeta a ação do fármaco em nível de receptor. Considerando as reações fármaco/ alimento, precisa levar em conta uma série de circunstâncias que podem influir, de alguma maneira, no curso, prognóstico e desenlace, como: • Características do fármaco; • Característica do alimento; • Parâmetros farmacocinéticos; • Parâmetros do efeito clínico. As características físicas e químicas de um fármaco são importantes, e podem combinar, dependendo da formulação. Fármacos de um mesmo grupo podem apresentar diferentes características químicas. Por outro lado, não somente os conhecimentos das características físico-químicas de um fármaco podem informar uma possível interação, são necessários estudos farmacocinéticos e seus efeitos. A ingestão de alimentos poderá afetar a biodisponibilidade do fármaco através de interações físico-químicas ou químicas. Sendo afetada, por modificação dos processos farmacocinéticos, ocorrerá alteração da farmacodinâmica e da terapêutica. Assim, é de fundamental importância conhecer as substâncias ativas cuja velocidade de absorção e/ou quantidade são alteradas, bem como aquelas que não são afetadas pela presença de nutrientes. Estudos aprofundados com humanos sobre estes mecanismos têm sido realizados, com a finalidade de demonstrar mais precisamente os efeitos dos nutrientes sobre a biodisponibilidade dos fármacos (MOURA et al, 2002). Analgésicos e anti-inflamatórios, por exemplo, são com frequência administrados com alimentos. O objetivo é diminuir a irritação da mucosa gástrica 32 provocada, principalmente, pela administração destes medicamentos por tempo prolongado. De acordo com a maioria das pesquisas realizadas, os nutrientes diminuem a velocidade de absorção dos fármacos, provavelmente por retardarem o esvaziamento gástrico (SOUICH et al, 1992). A biodisponibilidade de fármacos lipofílicos se incrementa por alimentos gordurosos, isso pelo aumento na solubilidade, e estimulação da secreção de bile. Os alimentos ricos em fibras podem diminuir a biodisponibilidade de digoxina e lovastatina ao unir-se a fibra. A disponibilidade de um fármaco depende da absorção e do metabolismo de primeira passagem. As interações mais importantes acontecem por troca da absorção devido a reações químicas, as trocas fisiológicas acontecem em resposta à ingestão de alimentos (modificações na acidez gástrica, secreção e motilidade gastrintestinal) (FARHAT et al, 2007). A absorção de fármacos é um mecanismo que mais acomete interações fármaco/alimento. Preparações com alto teor de gordura retardam o esvaziamento gástrico, assim como fármacos com propriedades anticolinérgicos e pode produzir retardo na absorção. O leite e seus derivados podem incrementar o pH gástrico, produzindo uma dissolução prematura de comprimidos revestidos, modificando a absorção. Os fármacos são absorvidos mais rapidamente quando administrados juntamente com água (SALAZAR, 2007). A natureza das diferentes interações pode apresentar os seguintes caminhos: • alguns nutrientes podem influenciar no processo de absorção de fármacos; • alguns nutrientes podem alterar o processo de biotransformação de algumas substâncias; • alterações na excreção de fármacos podem ocorrer por influência de nutrientes; • fármacos podem afetar o estado nutricional; • o estado nutricional pode interferir sobre o metabolismo de certos fármacos, diminuindo ou anulando seu potencial terapêutico ou aumentando seu efeito tóxico (MOURA et al, 2002). Segundo Salazar, (2007) os nutrientes podem afetar o tempo de trânsito intestinal, o fluxo sanguíneo hepático, e podem atuar como uma barreira. Com o envelhecimento, se produz um incremento de gordura corporal e alguns fármacos 33 lipossolúveis são “sequestrados”, em tecido adiposo, aumentando a meia vida e a duração da ação. Nutrientes com alto conteúdo de vitamina K (espinafre e alface) antagonizam os efeitos anticoagulantes da warfarina. O aumento de sódio na dieta pode diminuir a efetividade de muitos anti-hipertensivos e alterar a eliminação renal de lítio. A monoaminoxidase é uma enzima que catalisa a destruição de serotonina, adrenalina, noradrenalina e dopamina. Também se encontra no trato gastrintestinal e metaboliza a tiramina que está presente nos alimentos, antes de chegarem à circulação sistêmica. Os inibidores da monoaminoxidase produzem acúmulo de tiramina nos neurônios adrenérgicos, com a ingestão de alimentos com alto conteúdo de tiramina (queijos, vinho tinto, chocolate, etc) podem ser liberadas grandes quantidades de noradrenalina, que pode desencadear um quadro de cefaleia, hipertensão e arritmias cardíacas (SALAZAR, 2007). 2.9 Interferência do Estado Nutricional na Biodisponibilidade dos Fármacos As deficiências nutricionais resultam de quantidades de nutrientes essenciais ingeridas inadequadamente, o que acarreta precariedade do estado nutricional. Este, por sua vez, pode afetar a ação do fármaco, por alterar a absorção, a distribuição, a biotransformação e a excreção, influenciando, portanto, a resposta terapêutica. O fator mais importante do regime alimentar no metabolismo de compostos ativos é a quantidade de proteína na dieta. Um regime alimentar com elevado teor de proteína e baixo teor de carboidrato aumenta a velocidade do metabolismo do fármaco, enquanto dieta com baixo teor de proteína e alto teor de carboidrato favorece o efeito oposto (MOURA, et al, 2002). Alguns alimentos podem interferir no metabolismo de fármacos, pelo fato de influenciar na atividade de enzimas, como do citocromo P 450 e pode aumentar a biodisponibilidade, alterando o tempo de meia-vida de alguns fármacos. Com menor frequência se produzem interações farmacodinâmicas no efeito farmacológico de um 34 fármaco, podendo ser potencializado ou antagonizado por esse efeito do alimento (SALAZAR, 2007). 2.14 Interferência do Fármaco no Estado Nutricional Oliveira, (1999) comenta que os idosos sofrem com mais frequência do que os jovens aos efeitos adversos dos medicamentos. Isto é consequência da queda de suas funções vitais, da múltipla e simultânea medicação e de seu estado nutricional, muitas vezes deficiente nesta fase da vida. Os efeitos metabólicos e digestivos adversos, que alguns medicamentos de uso habitual em geriatria produzem, devem ser considerados na análise da ingestão de alimentos. Os mais frequentes são: - Tranquilizantes e psicofármacos: favorecem o relaxamento e diminuem a absorção intestinal; - Diuréticos e laxantes: ocasionam desidratação e depleção de eletrólitos como magnésio, potássio e zinco; - Antibióticos: alteram a absorção intestinal por destruição da flora. Provocam má absorção de carboidratos, vitamina B12, cálcio, ferro, magnésio e cobre e inibem a síntese proteica; - Glicocorticoides: predispõem à gastrite, osteoporose (interferem na absorção do cálcio) e hiperglicemia; - Analgésicos: favorecem as gastrites e úlceras. Os idosos, em geral, apresentam multiplicidade de doenças, e, portanto consomem maior número de medicamentos. O uso de diferentes medicamentos, nesta época da vida, tem deixado de ser esporádico para converter em habitual. A polifarmácia, em idosos, aumenta a incidência de efeitos colaterais e interações medicamentosas e o seu uso inadequado, frequentemente, provoca complicações graves. Nesse sentido, a utilização a longo prazo, de drogas terapêuticas que interferem na digestão, na absorção e no metabolismo de nutrientes podem, também, 35 ocasionar desnutrição nos idosos, além de desenvolver anorexia (CAMPOS et al, 2000). 2.15 Doenças que mais Acometem Idosos 2.15.1 Hipertensão arterial A hipertensão arterial sistêmica (HAS), doença cardiovascular é largamente conhecida como fator de risco para o desenvolvimento de outras doenças cardiovasculares. Apresenta alta prevalência na população adulta mundial, principalmente acima dos 40 anos. No Brasil, em estudos realizados entre 1980 e 1998, em diversas regiões, foram estimadas prevalências de HAS entre 8% e 33% (TOSCANO, 2004). Certamente é um dos fatores mais importantes na configuração da mortalidade brasileira, contribuindo para que as doenças cardiovasculares sejam a primeira causa de mortalidade nos últimos vinte anos. Em 1999, representaram 32% dos óbitos no país (CAVALINI; CHOR, 2003). Toscano, (2004) estima que 40% dos acidentes vasculares encefálicos e em torno de 25% dos infartos ocorridos em pacientes hipertensos poderiam ser prevenidos com terapia anti-hipertensiva adequada. No entanto, parcela importante da população adulta com hipertensão não sabe que é hipertensa; e muitos dos que sabem não estão sendo adequadamente tratados. A hipertensão arterial é uma co-morbidade extremamente comum no diabético, representando um risco adicional a este grupo de pacientes para o desenvolvimento de complicações macrovasculares. 2.15.1 Tratamento Medicamentoso 36 2.15.1.1 Captopril O exato mecanismo de ação do Captopril ainda não foi completamente elucidado. Os efeitos benéficos na hipertensão e na insuficiência cardíaca parecem resultar principalmente da supressão do sistema renina-angiotensina-aldosterona. O Captopril impede a conversão da angiotensina I em II, pela inibição da enzima conversora de angiotensina (ECA), resultando na diminuição das concentrações séricas de angiotensina II, que é uma das mais potentes substâncias vasoconstritoras endógenas. A redução da angiotensina II leva a uma secreção diminuída de aldosterona e, como resultado, pode ocorrer pequenos aumentos de potássio sérico, juntamente com perda de sódio e líquidos (SUCAR, 2000). O Captopril é rapidamente absorvido por via oral e os níveis sanguíneos máximos ocorrem por volta de 1 hora. A absorção mínima média é de aproximadamente 75%. A presença de alimentos no trato gastrintestinal reduz a absorção do Captopril em cerca de 30% a 40%, motivo pelo qual o produto deve ser administrado uma hora antes das refeições. A associação com substitutos do sal contendo potássio aumenta o potássio sanguíneo. O magnésio e o cálcio interferem na biodisponibilidade da droga. Aproximadamente 25% a 30% da droga circulante ligam-se às proteínas plasmáticas. A meia-vida de eliminação é inferior a 3 horas. Em um período de 24 horas, mais de 95% da droga absorvida é eliminada na urina; 40% a 50% como droga inalterada e o restante como metabólitos (bissulfeto dímero de Captopril e bissulfeto de captopril-cisteína) (RANG, 2003). Após a administração oral de uma dose isolada de Captopril, reduções máximas da pressão arterial são frequentemente observadas dentro de 60 a 90 minutos (RANG, 2003). 37 2.15.1.2 Hidroclorotiazida Os inibidores da anidrase carbônica são bem absorvidos após administração oral. Verifica-se um aumento do pH urinário, devido à diurese de bicarbonato, dentro de 30 minutos; esse aumento torna-se máximo em 2 horas e persiste por 12 horas após a administração de uma dose única. A excreção da droga ocorre por secreção no segmento S2 do túbulo proximal (KATZUNG, 2006). A inibição da atividade da anidrase carbônica deprime profundamente a reabsorção de bicarbonato no túbulo proximal. Em sua dose máxima administrada com segurança, 85% da capacidade de reabsorção de bicarbonato do túbulo proximal superficial são inibidos. Todavia, algum bicarbonato ainda pode ser reabsorvido em outros locais do néfron, através de mecanismos que não dependem da anidrase carbônica. O efeito da administração de acetazolamida consiste em inibição de cerca de 45% de toda a reabsorção renal de bicarbonato. Entretanto a inibição da anidrase carbônica provoca perdas significativas de bicarbonato e acidose metabólica hiperclorêmia (KATZUNG, 2006). No nível sanguíneo há diminuição de sódio, cloro, potássio, zinco, magnésio e glicose. Na urina há aumento da excreção urinária de sódio, cloro, potássio, zinco, magnésio, glicose, bicarbonato e riboflavina, que interferem significativamente no estado nutricional. No nível urinário há também diminuição da excreção de cálcio e ácido úrico (REIS, 2004). 2.15.1.3 Maleato de Enalapril Enalapril é uma droga que é hidrolisada antes da absorção formando um metabólito ativo, enalaprite, um inibidor competitivo da ECA (SYED et al, 2006), que transforma os inativos angiotensina I em biologicamente ativo angiotensina II. Sob a 38 influência de enalapril os níveis plasmáticos de angiotensina II e aldosterona diminuem (GOMES, 2005). O maleato de enalapril oral é rapidamente absorvido e as concentrações máximas plasmáticas ocorrem em uma hora. Com base na recuperação na urina, a taxa de absorção oral é de aproximadamente 60%. As concentrações máximas plasmáticas do enalaprilato ocorrem 3 a 4 horas depois de uma dose oral de maleato de enalapril. Em indivíduos com função renal normal, as concentrações séricas em estado de equilíbrio do enalaprilato foram atingidas por volta do quarto dia da administração do maleato de enalapril. A meia-vida efetiva para acúmulo do enalaprilato após múltiplas doses de maleato de enalapril oral é de 11 horas. A absorção do maleato de enalapril oral não é influenciada pela presença de alimentos no trato gastrintestinal. A extensão da absorção e a hidrólise são semelhantes para as diversas doses na faixa terapêutica recomendada (DEF, 2008). A inibição efetiva da atividade da ECA usualmente ocorre 2 a 4 horas depois da administração oral de uma única dose de enalapril. O início da atividade antihipertensiva geralmente foi observado em uma hora e as reduções máximas, em 4 a 6 horas após a administração. A duração do efeito é relacionada à dose. Entretanto, nas doses recomendadas, demonstrou-se que os efeitos anti-hipertensivo e hemodinâmico se mantêm durante 24 horas, no mínimo (DEF, 2008). No nível sanguíneo há aumento de potássio, ureia nitrogenada, creatinina; diminuição do sódio e, na urina, há proteinúria (REIS, 2004). 2.15.1.4 Propranolol O Propranolol é um agente bloqueador, de receptores β-adrenérgicos inespecífico, lipossolúvel, absorvido quase totalmente pelo trato gastrintestinal, metabolizado em grande parte no fígado e com grande capacidade ligante às proteínas (91 a 95%). Cerca de 1% é excretado via renal sem qualquer modificação. O mecanismo do efeito anti-hipertensivo de propranolol não está totalmente elucidado. 39 Entre os fatores que podem estar envolvidos, contribuindo para a ação antihipertensiva, estão a diminuição do débito cardíaco, inibição da secreção de renina pelos rins e a diminuição do tônus simpático proveniente dos centros vasomotores do cérebro (HAUM, 2001). O propranolol tem demonstrado causar um pequeno aumento na concentração sérica do potássio, quando usado no tratamento de pacientes hipertensos. Não há correlação simples entre o nível plasmático ou dose e o efeito terapêutico. A principal razão para isto é que o tônus simpático varia consideravelmente entre os indivíduos. Uma vez que não há teste seguro para estimar o tônus simpático ou determinar se o bloqueio β-adrenérgico total foi alcançado. A dose exata requer rastreamento (CORRÊA, 2006). O propranolol é grandemente metabolizado e tem uma meia-vida de eliminação curta (2 a 5 horas). Sofre metabolismo hepático de primeira passagem e como este é um fenômeno biológico variável, induz grandes diferenças individuais na concentração plasmática. Isto ocorre com todos os β-bloqueadores lipofílicos. Estas drogas podem estar envolvidas com interações a outras drogas que afetam a atividade enzimática microssomal. Além disso, estes β-bloqueadores tem acesso ao sistema nervoso central e podem produzir mais efeitos colaterais (DEF, 2008). Em contraste, os β-bloqueadores hidrofílicos têm menor absorção, maior meia-vida de eliminação, não são metabolizados no fígado e menor variabilidade nas concentrações plasmáticas interpacientes. No entanto, as diferenças entre os muitos agentes bloqueadores β-adrenérgicos não resultam em diferença clinicamente significante de ação anti-hipertensiva, com preferência de um a outro em função de especificidades farmacocinéticas e efeitos adversos (CORRÊA, 2006). A absorção do Propranolol aumenta quando ingerido com alimentos, principalmente os hiperproteicos, aumentando o clearence em aproximadamente 74%, pois tem capacidade ligante à proteína. O aumento da biodisponibidade deste fármaco se deve a uma redução na eliminação pré-sistêmica do medicamento, por um aumento transitório no fluxo sanguíneo hepático provocado pelo alimento (REIS, 2004). 40 2.15.1.5 Losartan É o primeiro derivado de uma nova geração de medicamentos denominados antagonistas da angiotensina II (ATII), que desenvolve um efeito gradual e prolongado sobre os valores sisto-diastólicos de indivíduos hipertensos. Trata-se de uma substância sintética de estrutura química original befeniltetrazol, de natureza não peptídica, que pela sua semelhança estrutural compete com o receptor específico da angiotensina II, inibindo, dessa forma, sua ligação com esse agonista endógeno. Sua elevada afinidade e especificidade in vitro e in vivo sobre os receptores AT 1 da angiotensina II, localizados preferentemente no músculo liso vascular e em outras estruturas (miocárdio, rim, cérebro, suprarrenal), e seu comportamento como agonista puro sem efeito agonista parcial, o destacam como um agente anti-hipertensivo seguro e eficaz, diferença do seu antecessor, a saralasina (somente para uso intravenoso em infusão contínua) (KOROLKOVAS et al, 2008). O losartan é ativo por via oral, em doses de 50mg diários em uma tomada única (tendo a mesma potência que 10mg de enalapril). Após a sua administração oral, esse derivado imidazólico benzil-substituído sofre uma biotransformação hepática (efeito de primeira passagem) que reduz significativamente sua absorção sistêmica a 33% e produz um metabólito ativo, o ácido 5-carboxílico, de meia-vida prolongada, que contribui para prolongar a ação anti-hipertensiva durante 24 horas com uma única tomada diária, graças à ação aditiva ou de somação entre o fármaco e seu metabólito ativo. A meia-vida plasmática é de 2,3 horas para o losartan e de 6,7 horas para o metabólito ativo (E-3174), enquanto que à proporção que se liga às proteínas é elevada (> 99%). A absorção digestiva do fármaco não é afetada pela presença de alimentos no estômago; depois da administração de uma dose única oral de 50mg, atinge o pico plasmático máximo em 60 minutos, com um volume de distribuição de 34 litros, aproximadamente, sem que seja observado fenômeno de acumulação com a administração contínua e prolongada, inclusive de doses (KOROLKOVAS et al, 2001). elevadas (100mg) 41 2.15.1.6 Atenolol O atenolol é um fármaco cardiosseletivo e de longa duração de ação. Administrado oralmente mostra-se efetivo no tratamento de angina pectoris e outras doenças coronarianas isquêmicas, reduzindo a gravidade e a frequência de ataques isquêmicos, o consumo de nitroglicerina e melhorando a função cardiovascular durante o exercício. Além disso, este agente β-bloqueador pode ser administrado com segurança, devido ao alto índice terapêutico (LEITE, 2006). Segundo Leite (2006), em relação à farmacocinética do atenolol, a literatura relata que para indivíduos saudáveis apenas 50% da dose são absorvidos pelo trato gastrintestinal após a administração oral. Uma vez atingida a corrente circulatória, o atenolol é rapidamente distribuído para os tecidos devido à sua baixa ligação às proteínas plasmáticas (ao redor de 5%), embora o mesmo apresente uma extensão de distribuição relativamente baixa (0,95 L/kg). Devido a sua característica hidrofílica, a eliminação do atenolol é predominantemente renal, sendo que a fração da dose absorvida é recuperada na urina dentro de 48 horas, apresentando meia-vida biológica de 4 a 8 horas e depuração plasmática de 1,8 a 2,2 mL/min.kg. 2.15.1.7 Verapamil O verapamil é um derivado da papaverina, antagonista dos canais de cálcio no nível da membrana celular, levando ao relaxamento das arteríolas cardíacas e sistêmicas, diminuindo o consumo de oxigênio pelo miocárdio. Com meia-vida de 6 horas, apresenta nível terapêutico meia hora após a ingestão do comprimido (VASCONCELLOS et al, 2000). A ação anti-hipertensiva do cloridrato de verapamil é resultado de uma diminuição da resistência vascular periférica, sem a ocorrência de taquicardia reflexa (RANG et al, 2003). 42 O pico terapêutico é atingido em 3 a 5 minutos após administração em bolus de verapamil. Possui capacidade ligante às proteínas (albumina de 90%). É quase completamente absorvido no trato gastrintestinal, com níveis plasmáticos de pico atingidos em uma a duas horas após uma dose oral (REIS, 2004). A sua meia-vida é de 3,5 horas. É metabolizado no fígado através do citocromo P450. A meia-vida de eliminação é de 3 a 7 horas. Aproximadamente 70% da dose administrada é eliminada por via renal sob a forma de seus metabólitos e 3 a 4% sob a forma inalterada; 50% da dose é eliminada via renal em 24 horas e 70% em cinco dias. Dezesseis por cento da dose é eliminada nas fezes (KOROLKOVAS et al, 2008). 2.15.2 Diabetes Mellitus Em 1995 foi estimado que o diabetes mellitus (DM) atingia 4% da população adulta mundial e que, em 2025, atingirá 5,4% da população, o que equivalerá a aproximadamente 300 milhões de diabéticos. A maior parte desse aumento se dará em países em desenvolvimento, e neles se acentuará o atual padrão de concentração de casos na faixa etária de 45-64 anos (King, 1998 apud. TOSCANO, 2004). A elevação dos níveis glicêmicos e a maior prevalência de diabetes mellitus estão diretamente relacionados ao processo de envelhecimento e são consequentes as alterações no metabolismo dos carboidratos observadas em idosos (Davidson, 1979; Andres, 1971; Jackson et al, 1982, apud. GORZONI; NETO, 1995). Há relação entre a idade e o aumento dos níveis glicêmicos. A causa das alterações no metabolismo dos carboidratos relacionadas à idade ainda está em discussão. Algumas possibilidades estão relacionadas à dieta insuficiente, inatividade física, diminuição da massa magra corporal, secreção alterada de insulina e resistência à glicose (TAVARES et al, 2008). A diminuição da elasticidade das paredes arteriais, decorrente do aumento da idade, acarreta o aumento da pressão arterial, estando diretamente relacionada às complicações do diabetes (TAVARES et al, 2008). 43 O tratamento do diabetes deve enfatizar a manutenção dos níveis glicêmicos em taxas consideradas normais e as ações preventivas, de forma a postergar as complicações. Assim, adaptando seu cotidiano, o idoso poderá manter vida saudável e digna (MONTEAGUDO et al, 1998). 2.15.2 Tratamento Medicamentoso 2.15.2.1 Metformina A metformina é uma biguanida que melhora o controle glicêmico, aumentando principalmente a sensibilidade hepática (por meio da supressão da glicogenólise e inibição da gluconeogenese no fígado) e em menor extensão melhora a sensibilidade do músculo à insulina (maior captação periférica de glicose e armazenamento no músculo). Também tem ação diminuindo a oxidação dos ácidos gordurosos e a absorção de glicose intestinal, mas a contribuição desses efeitos na ação antihiperglicemiante é considerada pequena. Além disso, colabora na redução do colesterol, dos triglicerídeos e do peso corporal (GABBAY, 2008). Provoca diminuição de vitamina B12 e folato (REIS, 2004). 44 2.15.2.2 Glibenclamida A glibenclamida é uma sulfonilureia de segunda geração. Sua ação antihiperglicemiante se deve ao aumento da liberação da insulina pelo pâncreas, porém efeitos extrapancreáticos devem estar envolvidos (SILVA et al, 2005). As sulfonilureias levam à hipoglicemia pela estimulação das células pancreáticas do tipo β das ilhotas de Langerhans, provocando o aumento da secreção de insulina na corrente sanguínea. Além do incremento na produção de insulina, as sulfonilureias, em pacientes com diabetes mellitus tipo II, favorece a elevação dos níveis de insulina pela redução da depuração hepática deste hormônio, provocando redução aguda e manutenção crônica da concentração de glicose no plasma (SILVA, 2005). Segundo Silva, (2005) a glibenclamida é bem absorvida no trato gastrintestinal, apesar de ter sua absorção diminuída se administrada juntamente com alimentos e em estados de hiperglicemia (estados hiperglicêmicos inibem a motilidade gástrica e intestinal, podendo retardar a absorção de muitas drogas). A absorção é rápida, chegando a atingir uma concentração considerável no plasma após 30 a 60 minutos de administração. As sulfonilureias, principalmente a glibenclamida, possuem alta capacidade de se ligarem às proteínas plasmáticas (90 a 99 %), especialmente à albumina, num volume de distribuição de cerca de 0,2 L/Kg. Embora a sua meia-vida seja curta (1,5 a 5 horas), seus efeitos hipoglicêmicos são evidentes por 12 a 24 horas, podendo ser administrada uma vez ao dia. A razão desta discrepância entre a meia- -vida e a duração dos efeitos não estão bem esclarecidas. 2.15.3 Analgésicos Dor é definida pela Sociedade Internacional para o Estudo da Dor (IASP) como uma experiência sensitiva emocional desagradável relacionada à lesão tecidual 45 ou descrita em tais termos. Trata-se de uma manifestação subjetiva, que envolve mecanismos físicos, psíquicos e culturais (PEDROSO et al, 2006). Analgésicos são drogas cuja ação predominante é a de suprir a dor, sendo que também alguns são antipiréticos. Diferem dos narcóticos e anestésicos, por não determinarem torpor e inconsciência, e dos corticoides, que aliviam a dor aparentemente por sua ação anti-inflamatória (GORZONI ; NETO, 1995). 2.15.3 Tratamento medicamentoso 2.15.3.1 Paracetamol Paracetamol é um analgésico-antipirético pertencente à classe dos derivados do p-aminofenol. É obtido por acetilação do p-aminofenol com ácido acético glacial e anidrido acético. Esse fármaco se apresenta como um pó branco, inodoro e ligeiramente hidrossolúvel e as suas atividades analgésicas e antipiréticas são similares às da acetanilida e fenacetina, da qual é metabólito (ANICETO, 2002). Ingerido com a alimentação, produz um enlentecimento na sua absorção, em decorrência do lento esvaziamento gástrico, embora o fármaco seja absorvido tanto no estômago como no intestino. Interfere ligeiramente na absorção das vitaminas B1, B6, K e folacina. O Paracetamol não produz irritação gástrica, não sendo necessárias precauções referentes à coincidência de horário entre a administração do medicamento e a ingestão de alimentos. Em contrapartida, se deseja um efeito analgésico rápido, as dietas hiperglicídicas, contendo principalmente pectina, retardam significativamente a absorção do fármaco, pois dificultam a solubilidade da droga por sua grande viscosidade, gerando níveis plasmáticos inferiores (REIS, 2004). 46 2.15.3.2 Tylex O tylex contem duas substâncias ativas, paracetamol e codeína fosfato. Esta combinação de medicamentos é muitas vezes referida como co-codamol. Sua biotransformação da codeína faz-se principalmente por glucoronidação, e uma menor parte por N-demetilação para norcodeína via CYP 3A4 e O-demetilação para morfina via enzima CYP 2D6. A codeína tem uma afinidade muito pequena para receptores opioides, obtendo seu efeito analgésico através da formação de morfina. Portanto, a enzima CYP 2D6 apresenta papel fundamental na analgesia proporcionada pela codeína. Esta enzima pode ter um funcionamento normal (metabolizador rápido), ou estar inativa geneticamente (metabolizadores pobres) (MARCOLIN, 2004). Um metabolizador rápido pode ser farmacologicamente convertido a pobre por inibição gerada por determinadas drogas. Pacientes que recebem codeína com inibidores de CYP 2D6 podem experimentar menor analgesia tanto se forem metabolizadores rápidos (ditos normais) quanto metabolizadores pobres, pois os fármacos que inibem a CYP 2D6 reduzem a potência analgésica da codeína que dela necessita para a formação de morfina, essência de sua analgesia (MARCOLIN, 2004). 2.15.3.3 Ácido acetilsalisílico O ácido acetilsalicílico é o protótipo dos medicamentos anti-inflamatórios nãoesteroides, também inibe a agregação plaquetária. É prescrito como analgésico, antipirético, anti-inflamatório e, em baixas doses, na redução da incidência e mortalidade do infarto do miocárdio (BRUNTON, 2006). A inibição da agregação plaquetária é decorrente de uma interferência com a produção de tromboxano A2 no interior da plaqueta (CAYTON et al, 2006). Segundo Cayton et al, (2006), AAS pode, ainda, ser utilizado para reduzir o risco de ataque isquêmico transitório recorrente (AITR) ou nos pacientes com histórico 47 de isquemia cerebral transitória devida a embolia fibrino-plaquetária assim como para reduzir o risco de infarto do miocárdio (IM), fatal ou não, naqueles pacientes com história de infarto prévio ou de angina pectoris instável. O uso crônico diminui a disponibilidade da vitamina C, por aumentar sua excreção urinária, aumenta a excreção urinária das vitaminas B1, B6 e K, diminui os níveis séricos de folato, ferro e potássio, diminui as proteínas plasmáticas levando a um balanço nitrogenado negativo e promove alterações no metabolismo intermediário dos glicídios (acidose). A ingestão de alimentos sólidos antes da administração do AAS diminui seus níveis plasmáticos. Os alimentos diminuem os distúrbios gastrintestinais, mas, retardam e reduzem a absorção da droga (REIS, 2004). 2.15.3.4 Dipirona A dipirona é um pó cristalino branco, solúvel em água e álcool, que apresenta atividades analgésicas e antipiréticas. Essa droga é rapidamente absorvida após administração oral e amplamente metabolizada (MARCOLINO et al, 2005). A dipirona parece atuar exercendo bloqueio direto da hiperalgesia inflamatória por PGE2, supostamente promovendo dessensibilização dos nociceptores periféricos (Lorenzetti, Ferreira, 1985 apud MARCOLINO, et al. 2005). Este mecanismo de dessensibilização, provavelmente envolve a ativação da via óxido-nítrico – GMPc no nociceptor (Duarte et al, 1992; Lorenzetti, Ferreira, 1996 apud MARCOLINO, et al, 2005). Bonacella, (2003) mostra que seu mecanismo de ação não se encontra completamente investigado. Alguns dados indicam que a dipirona sódica e seu principal metabólito (4-N-metilaminoantipirina) possuem mecanismos de ação central e periféricos combinados. 48 2.15.4 Acidez intragástrica Os antiácidos são bases fracas que reagem com o ácido clorídrico gástrico, formando sal e água. Embora seu principal mecanismo de ação consista em redução da acidez intragástrica, os antiácidos também podem promover os mecanismos de defesa da mucosa através da estimulação da produção de prostaglandinas na mucosa (KATZUNG, 2006). 2.15.4 Tratamento medicamentoso 2.15.4.1 Omeprazol O omeprazol é uma base fraca, concentrada e convertida à sua forma ativa no meio ácido dos canalículos intracelulares da célula parietal, onde inibe a enzima ATPase H+/K+ dependente (bomba de ácido) (HOWLAND et al, 2007). A absorção ocorre no intestino delgado, completando-se em 3 a 6 horas. A ligação do omeprazol às proteínas plasmáticas é de 95% e deve ser ingerido em jejum. Provoca diminuição da absorção de ferro e Vitamina B12 (REIS, 2004). A média da fase terminal da curva de concentração plasmática-tempo de omeprazol é de 40 minutos. Não há nenhuma alteração na meia-vida durante o tratamento (RANG et al, 2003). O omeprazol é completamente metabolizado, especialmente no fígado. Os metabólitos identificados no plasma são sulfona, sulfito e hidroxi-omeprazol; esses metabólitos carecem de ação sobre a secreção ácida gástrica e 80% são excretados pela urina e o resto pelas fezes. Os dois metabólitos urinários principais são hidroxiomeprazol e o ácido carboxílico correspondente (RANG et al, 2003). 49 2.15.4.2 Hidróxido de alumínio O hidróxido de alumínio é um medicamento antiácido que neutraliza a acidez do estômago e também protege, mediante barreira física a mucosa (camada interna) desse órgão. Sua ação começa minutos após a administração. A velocidade com que o hidróxido de alumínio neutraliza o ácido gástrico é mais lenta do que realiza o sal de magnésio ou bicarbonato. A absorção deste composto é muito pequena sendo, portanto, discreta sua interferência no metabolismo hidroeletrolítico. Pode haver pequeno aumento na concentração sérica de alumínio. O alumínio é eliminado na urina. A ingestão de alimentos ricos em proteínas reduz a capacidade de neutralidade dos antiácidos e administração concomitante com sucos cítricos aumenta o risco de toxicidade pelo alumínio em razão do aumento de sua absorção (DEF, 2003). Diminui a absorção de B12, ácido fólico, vitamina A, ferro, potássio, cobre e cálcio. Interage quimicamente com o fósforo, depletando-o, e aumentando a destruição de tiamina. O ferro e o ácido fólico devem ser usados com intervalo de duas horas, e frutas cítricas, de três horas, para que não haja interferência na absorção (REIS, 2004) O hidróxido de alumínio neutraliza o ácido clorídrico no estômago, com a formação de cloreto de alumínio e água (Al(OH)3 + 3HCl AlCl3 + 3H2O). Através do aumento de pH, resultante da reação de neutralização, ocorre alívio dos sintomas de hiperacidez gástrica. O mecanismo de ação dos antiácidos inclui o aumento da secreção de bicarbonato e muco, aumento da produção e liberação de prostaglandinas e manutenção da microcirculação (DEF, 2003). 2.15.4.3 Cimetidina A cimetidina é um medicamento utilizado para redução da acidez do estômago, sendo eficaz no tratamento de úlcera gástrica e duodenal. A cimetidina 50 faz parte do grupo de fármacos antagonistas dos receptores H2 da histamina (DEF, 2003). Após administração oral, a cimetidina é absorvida no intestino de forma rápida e eficiente. Sendo que 70% do total administrado é absorvido, sendo o pico de concentração sanguínea alcançado em 60 e 90 minutos. A meia-vida da cimetidina é de aproximadamente duas horas, e sua principal via de eliminação é a urinária, sendo que cerca de 60% a 70% são excretados na forma inalterada (DEF, 2003). A cimetidina não diminui a secreção de pepsina, mas sua produção total fica reduzida, como consequência do efeito exercido sobre o volume das secreções gástricas. A cimetidina não influencia os níveis séricos de gastrina. Além de seu efeito anti-secretor, a cimetidina é dotada de atividade citoprotetora e, portanto, exerce um efeito benéfico na manutenção da integridade da barreira mucosa gástrica (DEF, 2003). O cálcio, o magnésio, a cafeína e as xantinas diminuem a absorção da droga. Já em relação aos nutrientes, há diminuição na absorção de ferro, ácido fólico, vitamina A, B12 e B1 (REIS, 2004). 2.15.4.4 Ranitidina O cloridrato de ranitidina é um antagonista H2 específico, de ação rápida e relativamente duradoura. Uma única dose de 150mg suprime eficientemente a secreção de ácido do estômago por doze horas. Inibe a secreção basal e estimulada de ácido, reduzindo tanto o volume quanto o conteúdo de ácido e pepsina da secreção gástrica. A absorção da ranitidina após administração oral é rápida, sendo as concentrações plasmáticas máximas atingidas, geralmente, dentro de duas horas da administração. A absorção não é significativamente comprometida por alimentos ou antiácidos. A meiavida de eliminação da ranitidina é de aproximadamente duas horas (SILVEIRA, 2002). Deve ser ingerida com alimento, mas cafeína e xantinas diminuem a absorção da droga. Já em relação aos nutrientes, há diminuição na absorção de vitamina A, B12 e B1 (REIS, 2004). 51 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Analisar as interações que podem ocorrer entre fármacos X nutrientes em um grupo de idosos do município de Humaitá-RS. 3.2 Objetivos Específicos • Avaliar o estado nutricional do grupo; • Analisar a ingestão alimentar do grupo e compará-las as recomendações preconizadas das DRI’s; • Identificar de que forma os medicamentos poderão interferir na absorção de nutrientes através de revisão bibliográfica; • Avaliar se os compostos que teoricamente tem sua absorção diminuída pelo medicamento estão sendo ingeridos em quantidades suficientes na dieta dos pesquisados. 52 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 4.1 Delineamento da Pesquisa O presente estudo caracterizou-se por um delineamento do tipo quantitativo / qualitativo, descritivo de corte transversal, com análise das interações que podem ocorrer entre fármacos X nutrientes em um grupo de idosos do município de HumaitáRS. 4.2 População e Amostra Humaitá, localizada na região do Alto Uruguai no noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, a população é de 5.228 habitantes (IBGE, 2007). Destes 2.549 pertencem ao sexo masculino e 2.679 ao feminino, sendo que muitos com idade igual ou superior a 60 anos. A densidade demográfica é de 39,26 HAB/ Km2. A média de moradores por domicílio é de 3.3. Em 18 de fevereiro de 1959, Humaitá foi declarado oficialmente município pela lei nº 3.727, no entanto, a comunicação pública da criação do município ocorreu no dia 01 de março do mesmo ano. Por ser um município pequeno, não dispõe de muitas indústrias, sendo a agricultura sua principal fonte de renda. Fato este, que faz com que muitos jovens busquem por outros lugares para trabalhar. Muito dos habitantes são idosos, e isso faz com que a prefeitura tenha muitos gastos com a saúde, principalmente com a população na faixa etária de 60 anos ou mais, que se torna mais vulnerável com o avançar da idade, o que faz com que usem um número maior de medicamentos, que na sua maioria são fornecidos pela prefeitura. Do total, 840 destes idosos fazem parte do programa de Estratégia de Saúde da Família (ESF). Este programa é uma estratégia do Ministério da Saúde (MS) para 53 mudar a forma tradicional de prestação de assistência, visando estimular a implantação de um novo modelo de Atenção Primária que resolvesse a maior parte (cerca de 85%) dos problemas de saúde. O programa promove a saúde, almejando a integralidade da assistência ao usuário como sujeito integrado à família, ao domicílio e à comunidade (BESEN, et al, 2007). A maioria dos participantes do programa, 90%, faz uso de algum tipo de medicamento que lhes é fornecido. Dentre os medicamentos disponibilizados podemos citar: • Anti-hipertensivos: Captopril, Hidroclorotiazida, Enalapril, Propranolol, Losertan, Atenolol, Verapamil; • Hipoglicemiantes: Metformina, Glibenclamida, Insulina NPH; • Analgésicos: Paracetamol, Tylex, Ácido Acetilsalisílico, Dipirona; • Antiácidos: Omeprazol, Hidróxido de alumínio, Cimetidina, Ranitidina; O número total de participantes do Programa Estratégia de Saúde da Família da Unidade de Saúde do Município de Humaitá – RS foi obtido através de informação repassada pelo responsável pelo programa. A amostra foi de 125 idosos, obtida por demanda espontânea, sendo inclusos no estudo todos os indivíduos, homens e mulheres com idade igual ou superior a 60 anos, pertencentes ao ESF da Unidade de Saúde do Município de Humaitá – RS, que faziam uso de algum tipo de medicamento. O indivíduo que aceitou participar deste estudo assinou um Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) (Apêndice I), estando ciente de sua participação. 4.3 Critérios de Inclusão Todos os indivíduos idosos participantes do ESF da Unidade de Saúde do Município de Humaitá – RS, que faziam uso de medicamentos, tanto disponibilizados 54 pela unidade, quanto adquiridos particularmente, e que aceitaram participar da pesquisa. 4.4 Critérios de Exclusão Foram excluídos do estudo, os indivíduos que tinham menos de 60 anos, e idosos que não faziam parte do ESF. Os que faziam parte do programa, porém não faziam uso de medicamentos e os que não aceitaram participar da pesquisa. 4.5 Coleta dos Dados A coleta de dados foi baseada no referencial teórico do estudo no qual foi realizado um inquérito clínico (Apêndice II), para que se obtivesse o maior número possível de informações dos participantes, por meio de entrevistas pelo próprio pesquisador com aplicação de Questionário Semiquantitativo de Frequência Alimentar (QSFA) (Apêndice III), e Recordatório alimentar de um dia usual (Apêndice IV), nos quais além de informações dos dados pessoais, investigou-se a ingestão alimentar dos participantes. Foram também coletados os dados antropométricos, como peso, altura, circunferência da cintura, do braço e da panturrilha de idosos com idade superior a 60 anos, inseridos no ESF do Município de Humaitá – RS. Todos os dados foram coletados exclusivamente pela pesquisadora, para que este aspecto não interferisse nos resultados finais da pesquisa. 55 4.5.1 Inquérito Clínico O inquérito clínico foi desenvolvido com o objetivo de descrever e obter mais características de cada indivíduo que participou da pesquisa. O inquérito clínico era composto por perguntas que foram respondidas pelos entrevistados, perguntas de ordem pessoal. Estas informações facilitaram a identificação do indivíduo, bem como dos medicamentos mais utilizados pelos participantes da pesquisa. Após saber o princípio ativo dos remédios utilizados pelos participantes, foi identificada a farmacocinética e a farmacodinâmica dos mesmos, e compará-las as dos alimentos, para mostrar em que ponto da absorção um interfere na absorção do outro, e se houver, de que forma isso pode ser evitado. 4.5.2 Inquérito Dietético O inquérito alimentar, parte do inquérito de saúde, objetivou criar bases metodológicas para a investigação epidemiológica nutricional e verificação da adequação da ingestão de alimentos e nutrientes na população. Para essa investigação foi utilizado o QSFA, e o Recordatório alimentar de um dia usual. No questionário de frequência alimentar, os alimentos forma distribuídos em 11 grupos. Neste, foi questionada a frequência de utilização destes alimentos que pode ser: Nunca, Menos de uma vez ao mês, 1 a 3 vezes ao mês, 1 vez na semana, 2 a 4 vezes na semana, 1 vez ao dia, bem como foi descrito a quantidade consumida de cada alimento. O questionário recordatório alimentar de um dia usual foi preenchido em uma única via. Tinha por objetivo questionar os alimentos normalmente ingeridos em cada refeição ao longo de 24 horas. Questionou-se o entrevistado sobre horário, local, alimentos e medidas caseiras. Para facilitar a identificação das medidas caseiras, foi utilizado um álbum seriado, no qual constavam figuras de alimentos (Zabotto, 1996). 56 O recordatório alimentar de um dia usual, também foi utilizado para verificar a ingestão dos nutrientes que tem sua absorção modificada com o uso dos medicamentos, avaliado desta forma, se esta ingestão estava de acordo com a recomendada para a faixa etária. Foi avaliada a quantidade calórica, os macronutrientes, tais como carboidratos, lipídeos e proteínas ambos em quilocalorias e percentagem da ingestão diária total, já em relação aos micronutrientes foram avaliados, Vitamina B12 (µg/dia), cálcio (mg/dia), ferro (mg/dia), folato (mg/dia), potássio (g/dia), zinco (mg/dia), magnésio (mg/dia). Foram selecionados estes micronutrientes devido à absorção reduzida pelos fármacos utilizados no grupo que foi pesquisado. Após a obtenção dos dados do inquérito dietético, as medidas foram convertidas em gramas e mililitros para a análise quantitativa dos nutrientes ingeridos através do software “DietwWin" – versão 2008. 4.5.3 Medidas Antropométricas A metodologia aplicada para a mensuração do peso, foi utilizada balança eletrônica digital portátil, tipo plataforma, marca Filizola®, com capacidade para 160 Kg e sensibilidade de 100g. O indivíduo, no ato da coleta do peso, estava vestindo o mínimo de roupas possíveis, roupas leves (camiseta e bermuda), sem calçados, sem nenhum tipo de adornos, e ficava em pé sobre a balança com os pés unidos, olhando para o horizonte e sem escorar-se em nada. A estatura foi aferida utilizando fita antropométrica milimetrada da marca Pró Fisiomed®, de altura máxima de 1,5 m e precisão de 1 mm. Para aferição da altura, o indivíduo estava encostado em uma parede, em posição ereta, com os pés descalços e unidos, os calcanhares encostados na parede, olhando para o horizonte, para que não houvesse erro na aferição da estatura. Para a aferição da circunferência da panturrilha foi utilizada a mesma fita, citada anteriormente, passando-a em torno do maior diâmetro da panturrilha direita do 57 indivíduo, sem que o indivíduo estivesse fazendo uso de calça, tendo como valor padrão para esta medida, 31 cm, valores inferiores a este informam depleção proteica. Para obtenção dos valores da circunferência do braço, foi utilizada fita métrica no ponto médio entre o olécrano e o acrômio, sendo aferida diretamente na pele, sem nenhum tipo de roupa. Para aferição da circunferência da cintura, o examinador ficou de frente para o examinando e colocou a fita métrica horizontalmente ao redor da cintura natural ou na menor curvatura localizada entre as costelas e a crista ilíaca. A circunferência abdominal foi medida dois dedos à cima da cicatriz umbilical. Foi classificado o valor da circunferência da cintura, para determinar a localização da gordura, e definir o risco de doenças cardiovasculares apresentado pelos indivíduos analisados. Valores acima de 88 cm para mulheres e 102 cm para homens, já apresentam risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, esta medida foi obtida diretamente na cintura, sem haver roupas sob a fita. 4.5.4 Avaliação Nutricional O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado através da relação entre peso corporal total, em quilogramas, e estatura, em metros ao quadrado, anteriormente citado. A avaliação do estado nutricional foi realizada por meio do IMC, utilizando-se os pontos de corte para idosos propostos por Lipschitz. IMC (kg / m2) Classificação < 22 Magreza 22 – 27 Eutrofia > 27 Excesso de peso Fonte: Adaptado de LIPSCHITZ, 1994. 58 4.6 Forma de Coleta de Dados Primeiramente, foi feito um contato com a Unidade de Saúde escolhida, pedindo permissão para a realização da pesquisa e explicando os objetivos desta. A coleta dos dados de toda a população de pesquisa foi realizada exclusivamente pela pesquisadora, para que este fato não alterasse os dados, já que existem formas individuais de coleta de dados, e estás podem afetar de forma significativa os resultados obtidos na pesquisa. Após estipulada a data, a pesquisadora visitou em seus domicílios os idosos pertencentes ao programa, explicava as finalidades do presente trabalho, realizando o Recordatório Alimentar, o Questionário de Frequência Alimentar e a coleta de medidas antropométricas anteriormente citadas. 4.7 Análise Estatística Os dados foram obtidos após a aplicação dos instrumentos de coletas de dados a cada indivíduo entrevistado, e no final do período de pesquisa, todos os resultados foram tabulados e analisados, e foram realizadas as análises estatísticas necessárias. Para a análise dos dados descritivos, os resultados foram expressos como média, desvio padrão e porcentagens utilizando o aplicativo Excel 2003 e apresentados por meio de tabelas, de acordo com as variáveis. A análise estatística foi realizada pelo software Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 9.0 para Windows através da análise de variância seguida pela aplicação do teste t de Student com nível de significância p ≤ 0,05. 59 4.8 Aspectos Éticos O presente estudo recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Humana da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC (projeto número 343/2008). Imediatamente antes de iniciar a pesquisa foi entregue um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos idosos (Apêndice I). O trabalho de coleta de dados foi iniciado após os participantes receberem informações sobre a pesquisa e, livremente, aceitavam ou não participar da mesma, sendo necessário que o mesmo assinasse o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para fazer parte do estudo. 4.9 Limitações do Estudo As limitações do presente estudo estão relacionadas aos questionários. Pelo fato de ser um estudo realizado com seres humanos, no qual, uma das coletas de dados será por meio de questionários, pode ter ocorrido omissão de informações, o que pode influenciar nos resultados. 60 5 RESULTADOS 5.1 Descrição do Perfil Demográfico da População O estudo envolveu 125 sujeitos de ambos os gêneros, oriundos do programa Estratégia de Saúde da Família, localizado no município de Humaitá, RS. Vinte oito por cento eram do sexo masculino com média de idade de 72 anos, com desvio padrão de 7,15 anos, indicando, assim como na idade das mulheres, uma variabilidade não muito grande, onde a mínima foi de 60 anos e a máxima de 83 anos, e 72% do sexo feminino com média de idade de 71 anos com desvio padrão de 7,48 anos, mostrando uma variabilidade não muito grande das idades, já que a idade mínima foi de 60 anos e a idade máxima foi de 91 anos. 61 Tabela 1 – Dados demográficos dos participantes do estudo Idade – anos + DP Raça - n (%) Brancos Negros Mulatos Escolaridade (%) Analfabeto Ensino Fund. Incompleto Ensino Fund. Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Médio Completo Ensino Superior Renda familiar em salários mínimos/mês 1–3 4–6 7–9 Média dos gastos com alimentação/mês (R$) Constituição Familiar n(%) 1 2 3 4 5 6 Homens (n = 35) 72+7,1 Mulheres (n = 90) 71,1+7,5 Total (n = 125) 71,4+7,4 25 (71,42) 6 (17,15) 4 (11,43) 70 (77,78) 9 (10) 11 (12,22) 95 (76) 15 (12) 15 (12) 2 (5,6) 32 (91,4) 8 (8,9) 81 (90) 10 (8) 113 (90,4) 0 0 0 0 1 (1,1) 1 (0,8) 0 0 0 1 (2,9) 0 1 (0,8) 20 (57,1) 14 (40) 1(2,9) 64 (71,1) 23 (25,5) 3 (3,4) 84 (67,2) 37 (29,6) 4 ( 3,2) 564,64 521,80 534,22 4 (11,4) 17 (48,6) 10 (28,6) 4 (11,4) 0 0 15 (16,7) 43 (47,8) 24 (26,6) 6 (6,7) 1 (1,1) 1 (1,1) 19 (15,2) 60 (48) 34 (27,2) 10 (8) 1 (0,8) 1 (0,8) Dados referentes à raça, escolaridade, situação sócio econômica e gastos mensais com alimentação e medicação estão descritos na tabela 1. Os participantes da pesquisa, todos eram aposentados, 100% deles recebiam algum tipo de benefício do governo federal. 5.2 Hábitos Diários e uso de Medicamentos 62 5.2.1 Tabagismo e consumo de bebida alcoólica Em relação aos hábitos diários dos participantes da pesquisa, em ambos os gêneros, apresentavam o hábito de fumar. Gráfico 1 – Tabagismo entre o sexo feminino Feminino 21% Fumantes (%) Não fumantes (%) 79% Gráfico 2 – Tabagismo entre o sexo masculino Masculino 23% Fumantes (%) Não fumantes (%) 77% Em relação ao consumo de bebidas alcoólicas, em ambos os gêneros, relataram fazer uso, mesmo que socialmente. 63 Gráfico 3 - Etilismo entre o sexo feminino. Feminino 39% etilistas (%) Não etilistas (%) 61% Gráfico 4 - Etilismo entre o sexo masculino. Masculino 46% etilistas (%) Não etilistas (%) 54% Dos indivíduos que participaram da pesquisa, a maioria, 77 % relataram que o intestino funciona normalmente (evacuações com frequência mínima de 1 vez a cada 2 dias), no sexo feminino, 11% das participantes relatou ter dificuldade para evacuar, ficando às vezes até 3 dias sem evacuar, 8% dos indivíduos do sexo masculino relatam ser constipados, podendo ficar de 4 a 5 dias sem evacuar. 64 5.2.2 Nível de Atividade Física A prática de atividade física entre ambos os gêneros está representada nos gráficos 5 e 6. Gráfico 5 – Atividade física entre o sexo feminino feminino 1% 2% 48% Caminhadas Não faz atividade física Ginástica 49% Caminhada e hidroginástica Gráfico 6 – Atividade física entre o sexo masculino masculino 0% 0% Caminhadas 43% Não faz atividade física Ginástica 57% Caminhada e hidroginástica 65 5.2.3 Utilização de medicamentos Por pertenceram ao grupo que existe na unidade de saúde do município, 100 % dos participantes da pesquisa recebem os medicamentos, estes são fornecidos pela unidade de saúde. Os medicamentos empregados com frequência diária pelos pacientes estão relatados na tabela 2. Tabela 2 – Medicamentos empregados pelos pacientes Medicamentos n (%) ASS Antidepressivos Diuréticos Hipoglicemiante oral Insulina β bloqueadores Inibidores da ECA* Inibidores da Bomba de Prótons Antiarrítmicos Homens (n = 35) 6 (17,14) 1 (2,85) 19 (54,29) 6 (17,14) 5 (14,29) 6 (17,14) 15 (42,85) 1 (2,85) Mulheres (n = 90) 17 (18,89) 8 (8,89) 51 (56,67) 22 (24,44) 2 (2,22) 19 (21,11) 38 (42,22) 11 (12,22) Total (n = 125) 23 (18,4) 9 (7,2) 70 (56) 28 (22,4) 7 (5,6) 25 (20) 53 (42,4) 12 (9,6) 1(2,85) 4 (4,44) 5 (4) * ECA – Enzima conversora de angiotensina O tempo médio de uso dos medicamentos pelo grupo participante foi de 6,8 anos para as mulheres que usam medicamentos para diabetes, e 10,2 anos para mulheres que fazem uso para medicamentos para hipertensão arterial, 6,6 anos para os homens que usam medicamentos para controle de diabetes e 9 anos para homens que fazem uso de medicamentos para controle da pressão arterial. Com relação aos cuidados com a ingestão concomitante com alimentos 12,8 % dos participantes relataram tomar algum cuidado com a ingestão concomitante com os alimentos. Já no grupo dos homens 85,71 % relataram não tomar nenhum cuidado. No grupo das mulheres 12,22% relataram tomar algum tipo de cuidado com a ingestão concomitante com algum alimento. 66 5.3 Avaliação Antropométrica A análise das principais características antropométricas dos participantes do estudo estão representadas nos gráficos 7 e 8 e na tabela 4. Gráfico 7 - Classificação do IMC entre membros do sexo feminino Feminino 10,00% 32,22% 57,78% Desnutrição Eutróficos Sobrepeso 67 Gráfico 8 - Classificação do IMC entre membros do sexo masculino Masculino 8,57% 54,29% 37,14% Desnutrição Eutróficos Sobrepeso Tabela 4 – Principais características antropométricas dos participantes do estudo Feminino Variáveis n Média Desvio Padrão Mínimo Máximo Idade (em anos) Peso (em Kg) Altura (em metro) Circunferência da Cintura (em cm) Circunferência do Braço (em cm) Circunferência da Panturrilha (em cm) 90 90 90 90 90 90 71,11 70,13 1,58 95,39 30,55 35,21 7,48 14,49 0,07 11,68 3,65 3,51 60,00 32,30 1,43 62,00 19,00 25,00 91,00 118,80 1,82 125,00 40,00 45,00 O peso médio entre as pacientes femininas pesquisadas foi de 70,13 quilos, com desvio padrão de 14,49 quilos, mostrando uma grande variabilidade entre os pesos das 90 pacientes pesquisadas. Podemos observar essa variabilidade analisando o peso mínimo que foi de 32,30 quilos e o peso máximo de 118,80 quilos. 68 A altura média das idosas foi de 1,58 metros, com desvio padrão de 0,07 metros, apontando uma pequena variabilidade da altura, onde a altura mínima foi de 1,43 metros e a altura máxima de 1,82 metros. Masculino Variáveis n Média Desvio Padrão Mínimo Máximo Idade (em anos) Peso (em Kg) Altura (em metro) Circunferência da Cintura (em cm) Circunferência do Braço (em cm) Circunferência da Panturrilha (em cm) 35 35 35 35 35 35 72,00 80,04 1,70 102,31 29,80 35,74 7,15 13,71 0,09 10,07 3,50 2,89 60,00 53,90 1,42 75,00 22,00 29,00 83,00 120,10 1,89 126,00 40,00 42,00 O peso médio entre os idosos masculinos foi de 80,04 quilos, com desvio padrão de 13,71 quilos, apresentando uma grande variabilidade entre os 35 pacientes pesquisados, com peso mínimo de 53,90 quilos e peso máximo de 120,10 quilos. Já a altura média entre os homens foi de 1,70 metros, com desvio padrão de 0,09 metros, mostrando assim como nas mulheres pesquisadas, uma pequena variabilidade, com altura mínima de 1,42 metros e altura máxima de 1,89 metros. 5.4 Avaliação do Recordatório de um dia Habitual Com base na ingestão média de nutrientes através da avaliação da ingestão alimentar de um dia usual, foram calculados os valores de energia, macronutrientes e micronutrientes para ambos os gêneros. A ingestão diária de energia e nutrientes dos participantes da pesquisa encontra-se descrita na tabela 5. 69 Tabela 5 – Consumo alimentar de energia e macronutrientes obtido pelo Recordatório alimentar de um dia habitual Energia e Macronutrientes Média / +DP Energia (kcal) Carboidrato Valor absoluto (g) Percentual do VET (%) Proteína Valor absoluto (g) Percentual do VET (%) Lipídio Valor absoluto (g) Percentual do VET (%) Homens (n = 35) 1587,98 (194,90) Mulheres (n = 90) 1483,18 (268,36) Total (n = 125) 1511,68 (254,31) 177,98 (30,76) 44,83 ( 7,74) 183,93 (37,29) 49,6 (10,05) 182,26 (35,70) 48,22 (9,44) 61,35 (14,47) 15,45 ( 3,64) 52,34 (11,90) 14,11 (3,20) 54,86 (13,30) 14,5 (3,52) 69,80 (13,55) 39,55 (7,68) 60,57 (16,62) 36,7 (10,08) 63,15 (16,34) 37,59 (9,72) A ingestão diária de micronutrientes no grupo estudado encontra-se descrita na tabela 6. Tabela 6 – Consumo alimentar de micronutrientes obtido pelo Recordatório alimentar de um dia habitual Micronutrientes Média / +DP Fibras (g) Cálcio (mg) Ferro (mg) Folato (mg) Magnésio (mg) Potássio (mg) Vitamina B12 (mg) Vitamina D Zinco (mg) Homens (n = 35) 18,34(5,59) 538,07(236) 8,03(2) 168,74(85,79) 246,81(90,05) 2167,74(410,78) 4,55(1,48) 3,26(2,16) 11,77(4,31) Mulheres (n = 90) 16,02(5,13) 513,50(205,94) 7(2,55) 145,66(85,98) 229,30(90,54) 1959,60(400,20) 6,24(2,37) 3,25(1,73) 10,02(2,92) Total (n = 125) 16,67 (5,35}) 520,24 (214,49) 7,29(2,45) 152,13(86,56) 234,21(87,93) 2017,88(411,96) 5,77(2,24) 3,25(1,85) 10,51(3,45) Podemos observar, com 95% de confiança, que há evidência de que as mulheres pesquisadas não estão tendo uma ingestão alimentar igual à recomendada pela DRI’s (p ≤ 0,05), com exceção do Zinco e da Vitamina B12. Também utilizando o teste t de Student para uma amostra, podemos observar, com 95% de confiança, que há evidência de que os homens pesquisados estão ingerindo, em média, Ferro (p > 0,05) e Zinco (p > 0,05), em quantidades iguais as recomendadas pela DRI’s. Pros demais nutrientes, com os mesmos 95% de confiança, há evidências que os homens estão ingerindo em quantidades, em média, diferentes dos recomendados pela DRI’s (p ≤ 0,05). 70 5.5 Avaliação da Frequência do Consumo de Alimentos Os dados da frequência de ingestão de vários tipos de alimentos consumidos estão descritos na tabela 7. Tabela 7 – Distribuição da frequência do consumo alimentar Grupo de Alimentos n (%) 1.Leite e Derivados Leite Iogurte Queijo Margarina 2.Carne e ovos Carne bovina Carne suína Frango Peixe Ovos Fígado 3. Leguminosas Feijão Lentilha Ervilha Soja 4. Cereais Arroz Batata inglesa Farinha mandioca Macarrão Pão Biscoito 5. Frutas 6. Vegetais 7. Açúcar 8. Gordura 9.Refrigerante 10. Chocolate 11. Balas Nunca < 1/m Homens (n = 35) 1 - 1/s 3/m 4 16 9 5 0 2 1 0 1 4 6 0 2 5 2 0 4 7 9 5 24 1 8 25 11 26 20 13 1 4 3 0 1 16 12 0 1 8 11 3 20 24 33 7 56 12 11 67 15 42 29 18 1 6 4 0 2 20 18 0 3 13 13 3 24 31 42 12 80 13 19 92 3 4 1 4 6 15 1 0 0 3 1 14 1 2 1 20 7 6 1 2 2 6 9 0 27 27 30 2 9 0 2 0 1 0 3 0 6 8 0 7 13 26 1 1 0 11 10 35 2 5 0 50 21 27 8 7 3 16 19 1 71 68 85 6 25 1 2 1 2 0 2 0 9 12 1 11 19 41 2 1 0 14 11 49 3 7 1 70 28 33 9 9 5 22 28 1 98 95 115 8 34 1 4 1 3 0 5 0 3 5 32 35 0 7 2 0 1 15 1 0 1 6 0 0 18 2 0 0 12 0 0 0 6 6 80 90 1 8 5 0 1 44 4 0 8 24 1 0 40 8 0 0 34 0 0 0 9 11 112 125 1 15 7 0 2 59 5 0 9 30 1 0 58 10 0 0 46 0 0 0 0 2 4 0 0 0 0 0 16 0 6 8 3 0 1 2 0 0 2 0 0 1 0 2 6 4 0 1 11 0 1 2 0 0 3 0 10 10 7 1 0 8 4 1 6 0 0 1 0 9 5 2 5 28 8 27 0 20 8 4 3 1 7 6 10 29 3 2 4 33 5 27 31 11 34 1 0 9 0 0 9 3 1 1 0 0 42 0 9 19 10 0 1 9 0 0 0 0 0 2 0 4 19 8 0 1 12 5 0 7 1 0 7 0 23 26 10 1 8 36 8 0 12 3 1 4 1 29 15 15 15 74 21 68 1 50 14 8 6 2 21 11 34 74 6 3 6 88 20 72 81 29 87 4 0 13 0 2 13 3 1 1 0 0 58 0 15 27 13 0 2 11 0 0 2 0 0 3 0 6 25 12 0 2 23 5 1 9 1 0 10 0 33 36 17 2 8 44 12 1 18 3 1 5 1 38 20 17 20 102 29 95 1 70 22 12 9 3 28 17 44 103 9 5 10 121 25 99 112 40 121 5 0 22 2 – 4/s 1/d Nunca < 1/m Mulheres (n = 90) 1 - 1/s 3/m 2 – 4/s 1/d Nunca < 1/m Total (n = 125) 1 - 1/s 3/m 2 – 4/s 1/d Verificou-se que entre os alimentos consumidos em maior frequência diária está o leite, o pão, o arroz, os vegetais e as gorduras. 73 6 DISCUSSÃO Observa-se um aumento gradativo da longevidade, resultado da diminuição das taxas de fecundidade e de mortalidade nas últimas décadas. Como consequência, desencadeia-se o fenômeno de envelhecimento populacional, gerando novas demandas sociais. Com o aumento da idade cronológica, podem surgir inúmeras causas de fragilidade ou risco para os indivíduos, das quais, destacam-se a presença de múltiplas patologias, situação econômica precária, internação hospitalar nos últimos 12 meses, ingestão de muitos medicamentos, e reações adversas a esses medicamentos (FLORES; MENGUE, 2005). A polifarmácia tem sido classificada por alguns autores como o uso concomitante de cinco ou mais medicamentos clinicamente indicados. Estima-se que 23% da população brasileira consomem 60% da produção nacional de medicamentos, principalmente as pessoas acima de 60 anos (FLORES; MENGUE, 2005). O presente estudo foi proposto com a finalidade de conhecer um pouco sobre os hábitos alimentares, a utilização de medicamentos e dados antropométricos de um grupo de indivíduos pertencentes ao programa de Estratégia de Saúde do município de Humaitá, região noroeste do RS. Dessa forma, o intuito da pesquisa foi demonstrar as possíveis interações que acontecem entre os medicamentos utilizados, e a alimentação que essa faixa etária tem, e as possíveis deficiências que podem acometer estes indivíduos, além de avaliá-los nutricionalmente. Sabe-se que, na população idosa, o número de mulheres é maior em relação aos homens, estando essa diferença relacionada à expectativa de vida, assim como as mudanças sociais ocorridas no decorrer dos anos. Nesta perspectiva, a feminilização da população idosa gera transformações sociais, que necessitam ser apreendidas para que se possa contribuir com a sua qualidade de vida e sua atividade social (TAVARES, et al, 2007). A distribuição por sexos do contingente dos idosos deste estudo segue a tendência apresentada nos diversos estudos e nas pesquisas de base populacional 74 sobre envelhecimento, ou seja, um maior número de mulheres, 87 para 50 de homens, numa proporção de 100 mulheres para 57,5 homens. Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, para cada 100 mulheres idosas, existem 78,6 homens idosos. O diferencial por sexo entre os idosos, acentuado nos últimos anos, pode ser explicado pela diferença no ritmo de crescimento das populações idosas, feminina e masculina, causado principalmente pela situação de mortalidade diferencial por sexo (MORAIS et al, 2008). Quanto à cor da pele, a maioria dos participantes é de cor branca, a história da colonização e da formação do município pode explicar o elevado índice de idosos de cor branca, 71% dos homens são de cor branca, 10% das mulheres são negras, no total dos participantes, somente 15% são mulatos, e os demais são na minoria negros, estes dados podem ser comparados com os dados das pesquisas do IBGE, que afirma que a Região Sul é constituída por 80,8% de pessoas brancas. Com relação à escolaridade, a maioria dos participantes só cursou as primeiras séries, que hoje chamamos Ensino Fundamental incompleto, na sua maioria só sabem assinar seu nome, e os demais são analfabetos, e a minoria terminou o Ensino Médio. Dos participantes do sexo masculino, 91% não concluíram o Ensino Fundamental, e do sexo feminino, 8% são analfabetos, esta pesquisa vem de encontro com um estudo realizado por Morais et al, (2008) em uma cidade do interior gaúcho onde a maioria, 58,8%, é de analfabetos e/ou assinam o nome, que demonstra a baixa escolaridade em ambos os sexos. O progressivo envelhecimento da população, aliado às condições como a alteração na estrutura familiar, a migração, as fracas condições habitacionais, a desadaptação das casas às necessidades dos idosos, a grande probabilidade das alterações de saúde destes, faz com que a maioria dos idosos resida com algum familiar (PEREIRA et al, 2007). O que acontece com a maioria dos idosos participantes da pesquisa, pois os mesmos não residem sozinhos, com exceção de alguns. Durante a década de noventa, a importância da aposentadoria, na renda domiciliar, aumentou substancialmente, principalmente nos domicílios com trabalhadores não-qualificados. (CAMARGO et al, 2008). Este estudo condiz com o 75 realizado no município de Humaitá, onde mostra que 100% dos participantes recebem algum tipo de benefício. A maioria dos entrevistados relatou nunca ter fumado, fato este que vem de encontro com um estudo realizado em todo o país, que diz que na região Sul, metade dos idosos nunca havia fumado, enquanto na região Nordeste do Brasil a maioria dos idosos era composta pelos grupos de ex-fumantes e fumantes atuais (RODRIGUES et al, 2009). Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, mesmo que socialmente, a maioria das mulheres relata não fazer uso desta bebida, o que vem de encontro com o estudo realizado em Minas Gerais em pacientes diabéticos, que o resultado foi que e a maioria dos participantes não consumia bebida alcoólica, 61,90% (GERALDO et al, 2008), porém no sexo masculino, este dado não pode ser comparado ao mesmo estudo, já que os participantes da pesquisa, a maioria faz uso de algum tipo de bebida alcoólica. A relação entre atividade física, saúde, qualidade de vida e envelhecimento vem sendo cada vez mais discutida e analisada cientificamente. Atualmente é praticamente um consenso entre os profissionais da área da saúde que a atividade física é um fator determinante no sucesso do processo do envelhecimento. Um grande número de idosos participantes da pesquisa não faz nenhum tipo de atividade física, dado este que pode ser confrontado com dados de uma revisão bibliográfica realizada por Matsudo et al, (2001) que mostrou que existe uma prevalência de atividade física de 37% no sexo masculino e 24% no sexo feminino, e bem como no estudo realizado no município de Humaitá, a atividade física comumente realiza foi a caminhada, que na revisão de Matsudo et al, (2001) mostra que 69% dos homens e 75% das mulheres praticantes de atividade física, realizam este tipo de exercício. O estudo realizado também pode ser comparado com o feito por Geraldo et al, (2008) em pacientes idosos diabéticos, onde em relação aos hábitos de vida, no início do estudo observou-se um maior percentual de indivíduos sedentários, 54,76% em ambos os sexos, como acontece no grupo de idosos pesquisados em Humaitá. A hipertensão arterial é uma doença altamente prevalente em nosso meio, atingindo cerca de 15 a 20% da população adulta com mais de 18 anos, chegando a 76 índices de 50% nas pessoas idosas. Um estudo realizado com médicos de todo o país, mostrou que a associação de medicamentos mais prescritos pelos mesmos, coincide com os utilizados nos indivíduos que participaram da pesquisa, que são: inibidor da ECA, diurético, betabloqueador, fármacos de ação central (MION et al, 2001). A incidência de doenças crônicas é alta nos indivíduos idosos e o risco de desenvolvê-las ou de torná-las mais graves, levando a incapacidade, deve ser identificada precocemente. Isso é possível a partir da avaliação adequada do estado nutricional, a qual deve considerar as especificidades de cada indivíduo idoso, uma vez que este é parte de um grupo bastante heterogêneo (SAMPAIO, 2004). Em relação à altura, estudos apontam uma redução na altura com a idade. Este declínio se inicia por volta dos 40 anos e torna-se mais acentuado com o avançar da idade. As razões para este declínio são: achatamento das vértebras, redução dos discos intervertebrais, cifose dorsal, escoliose, arqueamento dos membros inferiores e/ou achatamento do arco plantar. (SAMPAIO, 2004). No estudo realizado, os homens têm média de altura que corresponde com a média de altura de homens da região sul, que é de 171,6cm, enquanto que na região Nordeste é de 167,9cm e na região Norte é de 165,0cm (ACUÑA; CRUZ, 2004). Para o indicador peso, estudos mostram que o homem ganha peso até os 65 anos de idade e, a partir daí, passa a perder, enquanto que a mulher aumenta de peso até os 75 anos e, apenas a partir desta idade, ela começa com a perda ponderal. As causas principais são: a perda de água corporal e a redução no peso das vísceras, além da redução de tecido muscular. Segundo dados do Índice de Massa Corpórea (IMC), a maior prevalência foi de sobrepeso que nas mulheres foi de 57,78% seguido de eutróficas que foi de 32,22%, e nos homens de 54,29% apresentavam sobrepeso, também seguidos de eutróficos que totalizavam 37,14%, estes dados condizem com dados de uma pesquisa realizada com idosos em Minas Gerais, onde a prevalência foi de sobrepeso (52,4%), seguido de eutrofia (28%) e de baixo peso (19,5%) (BUENO et al, 2008). A circunferência da panturrilha é considerada um indicador sensível de alterações musculares no indivíduo idoso e deve ser utilizada para monitoração dessas alterações, fornece a medida mais sensível de medir massa muscular no idoso, sendo 77 superior à circunferência do braço. A maioria dos indivíduos da pesquisa não apresenta perda de massa magra pelas medidas da circunferência da panturrilha. Um estudo realizado em São Paulo (SARNO et al, 2007) para ambos os sexos, houve aumento uniforme e significativo da prevalência da hipertensão arterial com o aumento do IMC e da circunferência abdominal, utilizando-se classificações usuais desses indicadores e/ou a classificação baseada em quartis da distribuição observada. Apesar de não diagnosticar estado nutricional, a utilização de medidas antropométricas para identificação do tipo de distribuição da gordura corporal, é fundamental na avaliação de risco para doenças associadas à obesidade. A classificação obtida da circunferência da cintura apontou que a maioria das mulheres apresentava esta medida aumentada e pela média das mesmas (95,39 cm) todas as participantes do sexo feminino apresentavam alto risco de desenvolver doenças cardiovasculares, já entre os homens a média obtida (102,31 cm) mostra que os mesmos, igualmente apresentam um alto risco de desenvolver este tipo de doenças. Este dado pode ser comparado com dados coletados em um estudo com diabéticos onde o resultado foi que a classificação obtida da circunferência da cintura apontou que 80,0% das mulheres e 70,5% dos homens apresentavam esta medida aumentada (GERALDO et al, 2008). Entre os vários tipos de constipação, destaca-se a funcional que se caracteriza pela ausência de causas orgânicas definidas, detectáveis pelos métodos de investigações atualmente disponíveis. É a forma mais comum da constipação em nosso meio. A constipação intestinal funcional, de acordo com os critérios de Roma II, é diagnosticada em pacientes que apresentam pelo menos duas das seguintes queixas, com duração de no mínimo 12 semanas, não necessariamente consecutivas, durante o último ano: a) menos de três evacuações por semana; b) fezes duras ou sensação de evacuação incompleta em pelo menos 25% das evacuações; c) dificuldade para evacuar em pelo menos 25% das evacuações; d) necessidade de manipulação digital para facilitar a saída das fezes (LOPES et al, 2008). No estudo realizado, os índices de constipação foram encontrados em ambos os sexos. Além da constipação, os indivíduos também relataram ter dificuldade de evacuar, mais de 8% 78 dos participantes do sexo masculino relataram serem constipados, e mais de 2% relataram ter dificuldade de evacuar, já no sexo feminino, mais de 15% das participantes confirmam ser constipadas, e mais de 11% tem dificuldade de evacuar. Nutrição saudável tem por base o reconhecimento de que um nível ótimo de saúde depende da nutrição. Com o aumento da obesidade e das doenças associadas à obesidade, no Brasil, há que se combinar orientações para a redução das deficiências nutricionais, ainda presentes, com orientações visando a prevenção das doenças crônicas não transmissíveis (SICHIERI et al, 2000). A pirâmide alimentar proposta para pacientes com mais de 70 anos, tem como objetivo evitar as carências nutricionais e as doenças relacionadas com a má alimentação. As recomendações que mais se destacam são as seguintes: Ingestão de alimentos ricos em fibras, com baixa concentração de gorduras e açúcares refinados e ingestão das quantidades superiores ao número de frações diárias de cada grupo de alimentos; Consumir diariamente oito copos de água; Possível necessidade de suplementar à dieta com cálcio e vitamina D (para reduzir o risco de fraturas ósseas) e vitamina B12; Nos grupos de alimentos, devem-se consumir alimentos integrais, produtos lácteos com pouca gordura, carnes magras, pescados e aves (SOUSA et al, 2009). Portanto, mesmo que muitos estudos epidemiológicos, em doenças crônicas, busquem um nutriente específico que seria o responsável pela diminuição da incidência, e mesmo que em alguns casos este conhecimento possa representar, no futuro, a forma mais efetiva de prevenção para uma doença específica, a abordagem coletiva das doenças crônicas não transmissíveis parece ser a forma mais indicada de prevenção primária. Assim, uma proposta de alimentação saudável, para prevenção das doenças crônicas não transmissíveis, há de propor dietas que estejam ao alcance da sociedade como um todo, e que tenham um impacto sobre os mais importantes fatores relacionados às várias doenças. Aumentar o consumo de frutas e verduras e estimular o consumo de arroz e feijão são exemplos de proposições que preenchem estes requisitos (SICHIERI et al, 2000). Autores mostram que o que acontece com o grupo pesquisado é a realidade de maioria dos idosos, que em ambos os sexos, há um déficit na ingestão tanto de 79 micronutrientes, como também dos macronutrientes, e isso acarreta uma ingestão calórica menor do que a média desejada nesta faixa etária. O consumo calórico dos pacientes que entraram no estudo mostrou-se adequado quanto às recomendações, sendo, em ambos, bastante próximo ao consumo calórico médio dos brasileiros (IBGE). Ao estratificar o valor energético total em relação à composição de macronutrientes, constatou-se que, em ambos os grupos, a distribuição foi semelhante. Os carboidratos foram responsáveis por 45% do VET total no grupo dos homens e 50% em pacientes do sexo feminino. Em relação às proteínas, estas foram responsáveis por 15% nos homens e 14% nas mulheres. Os lipídios corresponderam a 39% do VET nos homens e 37% nas mulheres. Os achados da presente pesquisa diferem dos dados descritos pelo IBGE, que relatou serem os carboidratos responsáveis por quase 60% do VET na população brasileira. Em relação à ingestão de proteínas e lipídios, estes correspondem, segundo o IBGE, a 12,8% e 27,6% do VET, respectivamente. Em relação aos micronutrientes, os resultados demonstraram que, nos grupos, a ingestão diária de ferro, vitamina B12 e zinco foram comparáveis e dentro dos valores normais descritos para idade e sexo. Quando se analisaram o cálcio e vitamina D, constatou-se que a ingestão encontrava-se diminuída em relação aos valores considerados adequados para a idade e sexo. Pode-se sugerir que, muito provavelmente, o grupo de pacientes estudado apresente uma ingestão insuficiente de leite, o que poderia explicar a baixa ingestão de cálcio. Este resultado preocupa, pois cabe ressaltar que a osteoporose é considerada uma endemia no Brasil, talvez até por motivos da baixa ingestão de cálcio como o identificado neste estudo. O consumo de leite e carboidratos complexos prevaleceu sobre o consumo de frutas e vegetais nos grupos analisados. Esses resultados corroboram os resultados de outros autores (RUSSEL; SUTER, 1993). Dessa forma, pode-se inferir que também ocorra uma ingestão de fibras, minerais e vitaminas de forma inadequada. Veras et al, (2003) alertam que a característica qualitativa da dieta está relacionada à prevalência de doenças crônico-degenerativas. 80 Segundo o IBGE, o consumo de alimentos como carne, leite e derivados, frutas e leguminosas, condimentos, comidas prontas e bebidas alcoólicas aumentam conforme aumenta a renda. Já o consumo de feijão, raízes e tubérculos aumentam conforme diminui a renda. Como considerações finais, pode-se sugerir que, devido ao aumento crescente da população de idosos em nosso meio e, portanto, de doenças crônicas, estudos envolvendo os hábitos alimentares e indicadores nutricionais que possam contribuir para identificar precocemente a presença de erros alimentares e, dessa forma, instituir ações terapêuticas e educativas, deveriam ser estimulados e apoiados pelas organizações governamentais responsáveis pela saúde do idoso. 81 7 CONCLUSÃO A população estudada era composta na sua maioria por mulheres, com baixo nível de escolaridade e renda familiar média. A maioria dos idosos que participaram da pesquisa apresentaram risco muito alto para desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, além daquelas que já apresentavam. Observaram-se também altas prevalências de sobrepeso no grupo estudado, em ambos os sexos. Quanto à ingestão de macronutrientes, o que chama a atenção é o elevado consumo de lipídeos por este grupo pesquisado, que na média da população estudada ultrapassa 37%, sendo um pouco maior no sexo masculino quanto comparado ao feminino. Este consumo elevado de gordura pode ser em virtude da carne que é muito consumida naquela região, ou então pelo consumo de leite e seus derivados que são consumidos na sua forma integral, por ser uma cidade do interior gaúcho, estes produtos são oriundos de produtores rurais, sem passar por nenhum tipo de industrialização que possa diminuir o teor de gordura desses produtos. Já em relação à proteína, como dito anteriormente, existe um consumo elevado de carnes em geral, e laticínios, isso garante a ingestão adequada de proteínas. Quanto aos carboidratos, a ingestão fica um pouco abaixo da recomendada para esta faixa etária. Este dado vem na contramão do que normalmente acontece na maioria da população idosa, onde a ingestão deste macronutriente sempre ultrapassa as recomendações. A ingestão diminuída de carboidratos pode acontecer, em virtude de no grupo estudado, não haver o hábito de tomar café da tarde. Tendo em vista os medicamentos utilizados pelos participantes da pesquisa, pode-se chegar até os micronutrientes que têm sua absorção diminuída. Essa absorção é modificada pelo processo ou caminhos que ambos seguem (nutriente X fármaco ou vice-versa). Na maioria dos casos não se teve um cuidado nos horários de administração dos medicamentos, isto pode influenciar na absorção do fármaco. Estas interações podem acontecer também em virtude de possíveis alterações que acontecem nos órgãos ou meios comuns a ambos, o nutriente e o fármaco, interferindo na absorção. Outro fator que pode interferir é o tipo de alimento utilizado, ou o principio 82 ativo do fármaco que está sendo administrado, bem como o local de ação predestinado do fármaco, e o local de absorção do nutriente. Ao analisar a ingestão de micronutrientes, principalmente àqueles que têm sua absorção diminuída por alguns fármacos, notou-se que eles estão abaixo das necessidades estabelecidas pelas DRI’s para essa faixa etária. Com exceção do Zinco, da Vitamina B12 e ferro que quase alcançam, os demais micronutrientes avaliados não atingiram as recomendações, o que torna preocupante, pois além destes nutrientes já não serem absorvidos de forma adequada pelo organismo dos indivíduos idosos eles não foram consumidos dentro de uma recomendação estabelecida para esta faixa etária. Estes micronutrientes são encontrados principalmente em frutas, verduras e alimentos integrais, e estes alimentos não são muito consumidos por esta população. A baixa ingestão pode ser, em virtude, de que estes alimentos são mais caros, o que demanda uma renda maior para sua aquisição, ou também porque não há um incentivo para utilização dos mesmos, pois não se tem o hábito de consumir estes alimentos. Há também, a questão de que alimentos refinados e industrializados são menos trabalhosos para o preparo do que alimentos naturais, que precisam ser lavados, descascados e só depois consumidos, enquanto que biscoitos, balas, doces não demandam essa mão-de-obra. Ao final da década de 90, verificou-se uma vasta literatura demonstrando como os constituintes dos alimentos podem influenciar a biodisponibilidade de fármacos e vice-versa. Entretanto, depara-se com a falta de informações de ordem prática, em programas voltados para a população, os quais ajudariam muito à equipe de saúde e, principalmente, os usuários de medicamentos de uso contínuo, portadores de doenças crônicas degenerativas, idosos e aqueles com estado nutricional inadequado. Muitos dos efeitos adversos observados ao longo da vida de um indivíduo não são documentados ou, então, são simplesmente entendidos como consequências do medicamento, não se considerando o processo de interação fármaco-nutriente. A avaliação nutricional antropométrica do idoso é de extrema importância para a identificação das alterações que acompanham o envelhecimento e se refletem no estado nutricional, carências nutricionais e no possível desenvolvimento de doenças. Diante dos resultados encontrados, nota-se que as atividades desenvolvidas 83 em programas abertos para a terceira idade devem ser voltadas às necessidades e expectativas da população, promovendo melhora da qualidade de vida para os idosos. Programas de educação nutricional continuada e de monitoramento do estado nutricional e de saúde são necessários para melhoria da qualidade de vida destes indivíduos, com o intuito de que esta fase da vida possa ser vivida da melhor maneira possível, com mais intensidade, diminuindo o risco de enfermidades. 84 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ACUÑA, K.; CRUZ, T. Avaliação do estado nutricional de adultos e idosos e situação nutricional da população brasileira. Arq Bras Endocrinol Metab v.48 n.3 São Paulo, 2004. ALVES, A.L.H. Recomendações nutricionais em geriatria. In: HARGREAVES, L.H.H. Geriatria. Brasília, DF: Senado Federal, 2006. AMAYA-FARFAN, J.; DOMENE, S.M.A.; PADOVANI, R.M. 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Prim Care. 1994; 95 APÊNDICE 96 9.1 APÊNDICE I – TERMO DE CONSENTIMENTO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DO PARTICIPANTE Estamos realizando um projeto para o Trabalho de Conclusão (TCC) de Curso de Nutrição intitulado “Interações entre fármacos X nutrientes em um grupo de idosos do município de Humaitá – RS”. O (a) sr(a). foi plenamente esclarecido de que participando deste projeto, estará participando de um estudo de cunho acadêmico, que tem como um dos objetivos “analisar as interações que podem ocorrer entre fármacos X nutrientes em um grupo de idosos do município de Humaitá – RS. Embora o (a) sr(a) venha a aceitar a participar neste projeto, estará garantido que o (a) sr (a) poderá desistir a qualquer momento bastando para isso informar sua decisão. Foi esclarecido ainda que, por ser uma participação voluntária e sem interesse financeiro o (a) sr (a) não terá direito a nenhuma remuneração. Desconhecemos qualquer risco ou prejuízos por participar dela. Os dados referentes ao sr (a) serão sigilosos e privados, preceitos estes assegurados pela Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sendo que o (a) sr (a) poderá solicitar informações durante todas as fases do projeto, inclusive após a publicação dos dados obtidos a partir desta. Autoriza ainda a gravação da voz na oportunidade da entrevista. A coleta de dados será realizada pela acadêmica Gisele Natalí Hanauer (fone: 4891223466 ou 55- 35251419 ) da 7ª fase da Graduação de Nutrição da UNESC e orientado pela professora Luciane Maria Daltoé. O telefone do Comitê de Ética é 3431.2723. Criciúma (SC)____de______________de 2008. ______________________________________________________ Assinatura do Participante 97 9.2 APÊNDICE II – INQUÉRITO CLÍNICO 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE Nome Idade Data de nascimento Telefone / / Sexo Profissão Endereço Bairro Raça Grau de instrução Renda familiar .Renda disponível para a alimentação Gasto com medicamentos Nº de pessoas que residem em sua casa 2. INQUÉRITO CLÍNICO Patologia.................................................................................................................... Medicação.................................................................................................................. Tempo de uso……………………………………………………………………………… Toma algum cuidado com a ingestão concomitante com alimentos……………….. História Clínica.......................................................................................................... Hábito intestinal ( ) normal ( ) constipado ( ) difícil Tabagismo:________________________ Etilismo:__________________________ Atividade Física:______________________________________________________ 3. Dados Antropométricos IMC = peso (kg) / altura (m)² Circunferência da cintura: cm Circunferência da panturrilha: cm Circunferência do braço: cm 98 9.3 APÊNDICE III – QUESTIONÁRIO SEMIQUANTITATIVO DE FREQUÊNCIA ALIMENTAR Grupo de alimentos 1. Leite e derivados 1 xícara Iogurte Queijo Manteiga 1 colher 2. Carnes e ovos Carne bovina 1 bife Carne suína 1 pedaço Frango 1 sobrecoxa Peixe 1 filé Ovo 1 unidade Fígado 1 bife 3. Leguminosa Feijão 1concha Lentilha 1concha Ervilha 1 concha Soja 1 concha 4. Cereais Arroz Colher de sopa Batata inglesa 1 unidade colher de sopa Farinha ___ Macarrão 1 concha Frequência de Consumo Nunca Menos 1 – 3/ de uma mês vez ao mês 1/ semana 2 – 4/ semana 1/ dia 99 Pão francês Unidade Biscoito unidade 5. Frutas ___ unidade 6. Vegetais ___ concha 7. Açúcar ___ colher 8. Gordura ___ colher 9. Refrigerante copo 10. Chocolate unidade 11. Balas unidade 100 9.4 APÊNDICE IV – RECORDATÓRIO ALIMENTAR Inquérito Alimentar: Recordatório alimentar de um dia usual Refeição Alimento Quantidade ( Medidas caseiras ) Hora/local _____________ __________________________ ____________________________ _____________ __________________________ ____________________________ _____________ __________________________ ____________________________ ____________ ____________ __________________________ ____________________________ __________________________ ____________________________ __________________________ __________________________ _____________ __________________________ __________________________ _____________ __________________________ __________________________ _____________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ ____________ ____________ __________________________ ____________________________ __________________________ ____________________________ __________________________ _____________ __________________________ _____________ __________________________ _____________ __________________________ _________________________ ____________ ____________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ ____________________________ __________________________ ____________________________ FONTE: FISBERG et al, 2005 101 ANEXO 102 10.1 Aprovação comitê de ética