Os desafios no cotidiano da gestão da escola pública Luzia Correia de Vasconcelos e-mail: [email protected] Maria Juraci Lima Queiroz e-mail: [email protected] Resumo A gestão democrática não se decreta, mas se constrói coletiva e permanentemente, alguns desafios se colocam para sua efetivação nos sistemas de ensino. Nessa direção, os processos formativos escolares que acontecem em todos os espaços da escola revelam a construção de uma nova gestão orientada pela efetivação de meios de participação, de descentralização de poder e, portanto do exercício de cidadania. Desse modo, a construção da gestão democrática passa pela garantia de alguns princípios fundamentais, como: a participação política, a gratuidade do ensino, a universalização da educação básica, a coordenação, planejamento e a descentralização dos processos de decisão e de execução e o fortalecimento das unidades escolares, a operação dos conselhos enquanto instancia de consulta, articulação com a sociedade e deliberação em matérias educacionais, o financiamento da educação, a elaboração coletiva de diretrizes gerais definindo uma base comum para a ação e a formação dos trabalhadores em educação e a exigência dos planos de carreira que propiciem condições dignas de trabalho. Palavras – chave: Gestão democrática. Cidadania. Conselhos escolares. Avaliação. Introdução A partir do inicio da década de 1980, com a chamada transição democrática, a sociedade brasileira projetou um novo quadro de mobilização social, suficientemente amplo para provocar mudanças nas relações de poder na educação. Essas mudanças exigiram o redimensionamento de toda a comunidade escolar nos processos de tomada de decisões, tornado-se assim, o principal elemento de democratização no espaço escolar. A educação constitui um dos instrumentos de construção de uma sociedade democrática, na medida em que universaliza o saber sistematizado, fundamental para o exercício da cidadania. Freitas afirma que: A Constituição Federal de 1988 já apontava para modificações necessárias na gestão educacional, com vistas a imprimir-lhes qualidade. Do conjunto dos dispositivos constitucionais sobre educação, é possível inferir que essa qualidade diz respeito ao caráter democrático, cooperativo, planejado e responsável da gestão educacional, orientado pelos princípios arrolados no artigo 206 da mesma. Entre estes, colocam-se a garantia de um padrão de qualidade do ensino e a gestão democrática. (2000, p. 3) Esse objetivo requer o desenvolvimento de uma concepção de educação que vise não apenas a integração do educando na sociedade, mas a sua formação integral como cidadão e agente transformador do processo continuo capaz de possibilitar-lhe o desenvolvimento de sua criatividade e de sua capacidade de critica que o leve a participar ativamente do processo social, político, cultura e educacional. Para tanto, com a realização do Projeto de Intervenção no Colégio Estadual Archangela Milhomem a comunidade escolar pode entender que a educação é um processo social colaborativo que demanda a participação de todos da comunidade interna da escola, assim dos pais e da sociedade em geral. Dessa participação conjunta e organizada é que resulta a qualidade do ensino para todos, principio da democratização da educação. A partir dessa concepção, as metas, estratégias e relações nas escolas serão repensadas pela equipe diretiva de forma coletiva visando a melhoria do ensino nessa instituição com vistas a buscar a socialização das decisões caracterizadas pelo pluralismo de idéias em nível cultural, político e social. Segundo Carvalho (1979: p.22) “à medida que a consciência se desenvolve, o dever vai sendo transformado em vontade coletiva”, isto é, vai – se criando no interior da escola uma cultura própria orientada pela realização dos ideais da educação, que passam a fazer parte natural do modo de ser e de fazer da escola e, por isso mesmo não precisa ser imposta de fora para dentro. Portanto, a participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática, possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de tomada de decisões e no funcionamento do conselho escolar. O objetivo principal deste trabalho foi promover maior integração para o fortalecimento da equipe escolar no fortalecimento dos Conselhos Escolares, parte integrante e imprescindível da gestão democrática. 1 - O inicio da gestão democrática Da ótica da organização e gestão, o atual sistema brasileiro de ensino é resultado de mudanças importantes no processo de reforma do Estado e fruto de alterações introduzidas em 1988 pela Constituição Federal, em 1996 pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e em 2001 pelo Plano Nacional de Educação. A Constituição Federal do Brasil de 1988 declara a educação como um direito social, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Nesse contexto, a criação do Conselho Escolar torna-se fundamental, pois o processo de discussão nas unidades escolares implanta a ação conjunta com a responsabilidade de todos no processo educativo. Através deste mecanismo de ação coletiva é que efetivamente serão canalizados os esforços da comunidade escolar em direção à renovação da escola, na busca da melhoria do ensino e de uma sociedade humana mais democrática. De acordo com os cadernos do Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares: A gestão democrática implica a efetivação de novos processos de organização e gestão baseados em uma dinâmica que favoreça os processos coletivos e participativos de decisão. Nesse sentido, a participação constitui uma das bandeiras fundamentais a serem implementadas pelos diferentes atores que constroem o cotidiano escolar. Por meio dessa modalidade de administração participativa ocorre a extinção do autoritarismo centralizado, e eliminação da diferença entre dirigentes e dirigidos, a participação efetiva dos diferentes segmentos da equipe diretiva – diretor, secretario, coordenadores pedagógicos, técnicos e auxiliares de serviço e ainda, os docentes, discentes pais de alunos e membros da comunidade externa na tomada de decisões, alcançando-se assim o fortalecimento do líder da escola em relação às normas emanadas dos órgãos administrativos centrais. Desse modo, a criação do conselho escolar significa mobilizar toda a comunidade escolar em torno de um grande movimento que vise a transformação global da escola, fazendo um trabalho que identifique as condições reais da escola. A atuação colegiada se realiza formalmente na escola a partir de órgãos colegiados denominados conselhos escolares, que se constituem em espaços efetivos e organizados de participação da comunidade escolar na gestão da escola. Segundo Heloísa Lück (2007), Um órgão colegiado escolar constitui-se em um mecanismo de gestão da escola que tem por objetivo auxiliar na tomada de decisões em todas as suas áreas de atuação, procurando diferentes meios para se alcançar o objetivo de ajudar o estabelecimento de ensino em todos os seus aspectos, pela participação de modo interativo de pais, professores e funcionários. Vale dizer que todos os processos e ações participativas promovidas pela escola somente se justificam na medida em que sejam orientadas para melhorar os resultados dos alunos. Um aspecto muito importante que foi foco durante o desenvolvimento do Projeto de Intervenção, foi destacar para a comunidade escolar que a participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática, possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. A participação da comunidade possibilita o conhecimento e a avaliação dos serviços oferecidos. De acordo com Gadotti e Romão (1997, p. 16), a participação influi na democratização da gestão e na melhoria da qualidade de ensino. A eficácia da escola é garantida por um trabalho coletivo a ser coordenado pelo diretor, envolvendo a todos, corpo administrativo, funcionários, professores, estudantes, grêmio, pais, voluntários da escola e a comunidade em torno, algo fundamental para unir o grupo e todos se perceberem construtores responsáveis pelos resultados, garantindo um clima escolar harmônico, nesse momento o funcionamento do conselho escolar é necessário para ouvir a voz de todos. O objetivo principal da escola é promover a formação integral do cidadão, o desenvolvimento do seu senso critico e de sua capacidade de transformar a si próprio e ao seu meio.Portanto, a gestão escolar democrática se constrói não só com a participação na gestão, mas com a gestão da participação (ROMÃO E PADILHA, 1997). Um conselho escolar atuante, contribui na construção de um futuro melhor, construção da liberdade, tornar-se mais gente, a ampliação das condições pessoais para pensar, conviver e admirar produzindo retornos significativos. O membro do conselho escolar participa das reuniões de forma voluntaria contribuindo da discussão coletiva propondo melhorias para a educação na escola e acompanha a elaboração, execução e avaliação do Projeto Político Pedagógico e outros aspectos da gestão escolar. Nessa perspectiva, o conselho escolar é uma instancia importante para que a escola contribua na construção da democracia e da cidadania. O conselho escolar atua de forma a contribuir cada vez mais para que a escola cumpra sua função tanto de educar, quanto de construir a democracia e a cidadania, através da participação respeitando e valorizando a cultura do estudante e da comunidade (LIMA1996). A gestão escolar constitui uma dimensão de atuação que objetiva promover a organização e mobilização de condições tanto materiais quanto humanas para garantir o avanço do processo educacional na escola, buscando sempre a promoção efetiva da aprendizagem pelos alunos, tronando-os capazes de enfrentar os desafios da sociedade globalizada. Portanto, cabe ressaltar que a gestão escolar é uma dimensão de atuação, um meio e não um fim em si mesmo, uma vez que o objetivo da gestão é a aprendizagem efetiva dos alunos, fazendo-os pensar criticamente, ser capazes de resolver problemas e tomar decisões fundamentadas, resolver conflitos e muitas outras competências que são necessárias para a prática da cidadania. 2 – Conselho Escolar A gestão participativa é normalmente entendida como uma forma regular e significante de envolvimento dos funcionários de uma organização, no seu processo decisório (LIKERT, 1971; XAVIER, AMARAL e MARRA, 1994). Ao se referir às escolas, o conceito de gestão participativa envolve alem de professores e funcionários, os pais, os alunos e qualquer outro representante da comunidade que esteja interessado na escola e na melhoria do processo pedagógico. Daí o entendimento de que o conceito de gestão já pressupõe em si, a idéia de participação, isto é, do trabalho associado de pessoas analisando situações, decidindo sobre seu encaminhamento e agindo sobre elas, em conjunto. Participar da administração de recursos financeiros da escola é apenas uma das ações do conselho escolar, que tem as seguintes atribuições, ( DOURADO, 2006): Consultivas: respondendo consultas sobre leis educacionais e suas aplicações; Deliberativas: decidindo a respeito de assuntos sobre os quais tenha poder de decisão; Fiscais: promovendo sindicâncias; aplicando sansões a pessoas fiscais ou jurídicas que não cumprem leis ou normas; solicitando esclarecimentos dos responsáveis ao constatar irregularidades e denunciá-las aos órgãos competentes. Os poderes e atribuições do conselho escolar precisam basear-se em questões definidas na legislação estadual. Os conselhos são fundamentais para a autonomia dos sistemas de ensino. Legalmente os conselhos escolares encontram respaldo em diversas legislações, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394/96, no seu artigo 14, afirma que: Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino publico na educação básica de acordo com suas peculiaridades, conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Os conselhos escolares devem ter como compromisso fundamental a construção de uma sociedade democrática, os conselhos escolares são o sustentáculo de projetos político pedagógicos que permitem a definição dos rumos e das prioridades das escolas numa perspectiva emancipadora, que realmente considera os interesses e as necessidades da maioria da sociedade (DOURADO, 2006). É importante ressaltar que para o exercício do conselho escolar, é necessário entender que: é indispensável considerar que a qualidade que se pretende atingir é a qualidade social, ou seja, a realização de um trabalho escolar que represente, no cotidiano vivido, crescimento intelectual, afetivo, político e social dos envolvidos – tendo como horizonte a transformação da realidade brasileira -, o que não pode ser avaliado/medido apenas por estatísticas e índices oficiais. (Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, 2004, p. 48) Os conselhos escolares, ao compreenderem suas atribuições e funções, exercem as decisões, que refletem a pluralidade de interesses e visões que existem entre os diversos segmentos envolvidos, tal postura legitima as ações e proporciona uma maior transparência das decisões tomadas, tendo-se a garantia de decisões efetivamente coletivas e de um espaço para que todos os segmentos da comunidade escolar possam expressar suas idéias e necessidades, contribuindo para as discussões dos problemas e a busca de soluções. O foco principal do trabalho desenvolvido no Colégio Estadual Archangela Milhomem, foi o de resgatar o sentido de que toda pessoa tem um poder de influencia sobre o contexto de que faz parte, exercendo-o independentemente da sua consciência desse fato e da direção e intenção de sua atividade. E que no entanto, a falta de consciência do poder de participação que tem, do que decorrem resultados negativos para a organização social e para as próprias pessoas que constituem o ambiente escolar. A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por uma força de atuação consciente, pela qual os membros de uma unidade social reconhecem e assumem seu poder de exercer influencia na determinação da dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e de seus resultados, poder esse resultante de sua competência e vontade de compreender, decidir e agir em torno de questões que lhe são afetas. (Lück, 1996). É com essa perspectiva democrática, que devemos avançar em prol de uma sociedade política (DALLARI, 1986). Os conselhos escolares dentro das unidades escolares, são instrumento privilegiado do exercício político da cidadania e da gestão escolar compartilhada. Falar em democracia, como vimos, é falar em participação, participação reclama envolvimento. Nesse sentido, os conselhos escolares são instâncias democráticas representativas importantes. 3 – Considerações finais Os pontos levantados anteriormente apresentam-se como indicadores de ampliação dos horizontes da democratização da gestão por meio da discussão da função social e política da escola e das alterações frente aos processos de construção de ações no projeto político pedagógico da escola que visa marcos de formação, incorporando a formação continuada, a melhoria das condições de trabalho frente ao cenário sociopolítico-economico e cultural. A construção de uma gestão participativa torna-se efetiva quando seus membros tanto internos: diretor, professores, funcionários e alunos, quanto externos: pais e comunidade, participam coletivamente e criticamente das decisões, não apenas como meros participantes e sim como construtores de um processo que vise a melhoria das condições humanas e sociais dos indivíduos presentes tanto dentro da escola, quanto em seu entorno. Não se deve esperar que apenas os segmentos escolares tomem consciência da importância da participação. É preciso criar condições e mecanismos que favoreçam e garantam a gestão participativa em substituição às praticas centralizadoras, (BASTOS 2002). Durante os estudos dos cadernos dos conselhos escolares ficou claro que a função dos conselhos é orientar, opinar e decidir sobre tudo o que tem a ver com a qualidade da escola, discutindo propostas e implementando ações conjuntas, que a gestão democrática é sustentada por um projeto pedagógico, elaborado e executado por todos os envolvidos na comunidade escolar. 4 – Referências DOURADO, Luiz Fernandes. Gestão da educação da escola publica.1 ed. Brasilia: Universidade de Brasilia, 2006. LIBÂNEO, José Carlos. Educação escolar: políticas, estrutura e organização/José Carlos Libâneo, João Ferreira de Oliveira, Mirza Seabra Toschi – 7 ed. – São Paulo: Cortez, 2009. LÜCK, Heloísa. A escola participativa) O trabalho do gestor escolar. 3ª ed. Petrópolis, Vozes, 2005. VEIGA, Ilma Passo Alencastro. Projeto Político Pedagógico da escola, uma construção possível. 19ª ed. Campinas SP, Papirus, 1995.