Dólar em alta: culpa é dividida entre efeito da crise e ação dos especuladores Um absoluto desajuste na cotação do real frente ao dólar vem sendo observado nos últimos meses, com uma queda acumulada de mais de 60% desde o início de agosto. Para boa parte do mercado, a principal causa desse movimento é atribuída aos reflexos da crise internacional. No entanto, existe outro fator que pode estar influenciando essa exagerada oscilação na taxa de câmbio. A percepção da maioria ganha força se levarmos em conta os sólidos fundamentos da economia brasileira, os quais não justificariam o forte declínio recente de sua moeda. Por outro lado, na opinião de Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio, além dos efeitos da crise, um fenômeno em particular também tem exercido forte pressão sobre o real: o movimento dos especuladores no mercado. "O Brasil estava preparado com sólidos fundamentos para conviver com a crise e suas conseqüências, mas não estava e nem está preparado para o movimento extremamente especulativo desvendado ao início das repercussões da crise no mercado de derivativos, de modo que o governo brasileiro não tem instrumentos para conter a apreciação e nem a depreciação do real quando decorrente de especulações", disse Nehme. Atuação do BC estimula especulação Para o especialista, já há algum tempo o forte movimento de especulação no mercado de derivativos vem contaminando o preço da moeda no mercado à vista. E ironicamente, um dos fatores que pode estar incentivando a ação dos especuladores, em sua visão, é justamente a atuação do Banco Central através dos leilões de swap cambial, o que em tese, deveria combater o avanço do dólar. "A atuação do BC no mercado de dólar futuro tem efeito maligno, estimula e sustenta a especulação, já que não consegue proporcionar liquidez à demanda reprimida. No momento, a demanda efetivamente reprimida deseja dólar a preço mais baixo, mas como não é atendida, deixa a liquidez em poder dos especuladores", explica o diretor da NGO. Explicitando um pouco mais, pode ser que a estratégia do BC esteja estimulando o aumento das "posições compradas" dos bancos e dos investidores estrangeiros, e não atingindo o objetivo de dar liquidez aos "vendidos" que estão encurralados e não têm interesse em zerar suas posições neste nível de taxa, pois representaria um enorme prejuízo. Segundo Nehme, é inquestionável que o ambiente de turbulência externa afeta o Brasil, mas o que se presencia na formação do preço do câmbio no País ultrapassa em muito esta contaminação. Sendo assim, ele afirma que "o preço da moeda norte-americana no mercado à vista é mera conseqüência do preço formado no mercado futuro, que está manipulado pelos especuladores". Pág. 1/2 Sem pressão em 2009 Questionado sobre a perspectiva para a moeda brasileira em 2009, o diretor da NGO mostra um tom mais otimista, mas sem deixar de lado a preocupação com o efeito especulativo. "Se conseguirmos eliminar o forte ambiente de especulações, acredito que o preço do dólar possa ficar entre R$ 2,10 e R$ 2,20 no ano que vem", afirmou. Nehme entende que tanto as exportações quanto as importações brasileiras sofrerão retração no próximo ano, visto que com um esperado nível mais baixo de atividade econômica, serão importadas menos matérias-primas, bens de capital e bens de consumo não-essenciais. Além disso, avalia que faltarão linhas de financiamentos externos. Por outro lado, o especialista ressalta que uma atividade menor da economia sugere remessa menor de lucros e dividendos, o que tende a reduzir o impacto na conta de transações correntes. "Não vemos, portanto, pressões adicionais no câmbio em 2009", conclui. Pág. 2/2