TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Econômica TSUNAMI MONETÁRIO EM DÓLAR AUMENTA A VELOCIDADE DE VALORIZAÇÃO DO YUAN Mario Juan da Silva Leal Economista A expansão monetária conduzida por Ben Bernanke (Presidente do Federal Reserve – FED) desde o final de 2010 está quase completa. A Base Monetária nos Estados Unidos da América (EUA) saltou de US$ 1,96 trilhão, em outubro de 2010, para US$ 2,5 trilhões em abril de 2011, aproximando-se essa expansão já dos US$ 0,60 trilhões planejados inicialmente. Com isso, de agora em diante a entrada de dólares nos países emergentes tende a ser menor do que a registrada neste início de 2011. A decisão norte-americana de promover esse inusitado derrame de dólares por todo o planeta provocou reações em toda parte e ficou conhecida como Tsunami Monetário. Embora não declarada, a motivação política principal de tal decisão foi dar uma resposta à prática predatória chinesa de manter sua moeda superdesvalorizada artificialmente. Devemos lembrar também que essa decisão aproveitou-se das circunstâncias especiais em que se encontra a economia norte-americana, em que prevalece ainda baixa inflação, acompanhada de baixos níveis de atividade econômica. A condição única e singular ostentada pelo dólar de ser a única moeda 100% conversível de todo o planeta, visto que é aceita como meio de pagamento na liquidação de transações em qualquer lugar, é, sem dúvida, um privilégio que nenhum outro país tem. Sem entrar no mérito de questões éticas, de parte a parte, EUA e China se enfrentam em jogo estratégico. Isso posto, podemos afirmar que, entre tantas outras, a peça central da estratégia chinesa é manter sua moeda especialmente desvalorizada em relação ao dólar, pois esta ostenta ainda a condição de grande moeda conversível do planeta, emitida que é pelos EUA, ainda a maior e mais poderosa economia, apesar dos problemas que enfrenta desde 2008. A rationale econômica por trás do Tsunami Monetário posto em prática pelos EUA para fazer frente à superdesvalorização do yuan em relação ao dólar é simples e sugere alguns comentários: Maio de 2011 2 − uma disponibilidade maior de dólar tende a aumentar a entrada de capital que os investidores levam para os países emergentes, como China, Brasil e outros, pois é a parte do mundo que mostra crescimento econômico e taxas de retorno compensadoras; − a entrada de capital adicional na China em 2011 poderia ultrapassar a alta capacidade de poupar da China (superior a 40% PIB), que se veria, com isso, obrigada a valorizar sua moeda ou a emitir títulos públicos para recomprar o câmbio, inflacionando sua economia; − os números mostram que a estratégia norte-americana já está dando certo, já está acontecendo. Em relação à média da taxa de câmbio praticada em 2010, 6,76 yuan/US$, a atual taxa de câmbio neste mês de maio de 2011, 6,49 yuan /US$, já está 4% mais valorizada, dando maior velocidade ao lento processo de valorização daquela moeda; − no Brasil essa entrada adicional de dólares promoveu uma valorização adicional da taxa de câmbio, que mudou em 2011 dos já valorizados R$/US$ 1,70 para os atuais R$/US$ 1,57, ou seja, 6,75% de valorização adicional em apenas quatro meses CONCLUSÕES − a grande arma utilizada pelos norte-americanos, com alta capacidade dissuasória, capaz de mover a taxa de câmbio chinesa, que vem sendo mantida desvalorizada com o uso da maior taxa de poupança do planeta, só foi possível a partir da aceitação universal do dólar como meio de pagamento; − o lastro que confere aceitação ao dólar está ancorado no passado e na estrutura de instituições que lá foram estabelecidas. A crise financeira de 2008, que culminou com a destruição de um espetacular estoque de ativos financeiros, deixou uma recessão não menos espetacular no primeiro mundo; − as lições da crise sugerem que tanto a conversibilidade das moedas como a sobrevida das instituições globais no futuro próximo exigem a presença de maior regulação financeira e o desenvolvimento de políticas econômicas menos dependentes dos humores políticos e especificidades técnicas locais; − a entronização do princípio da sustentabilidade deve ajudar a estimular o surgimento de estabilizadores automáticos, aumentando a consistência intertemporal dos processos e instrumentos de crescimento e desenvolvimento econômico. Trabalhos Técnicos Maio de 2011