10 A DIETA ENTERAL NA REABILITAÇÃO E CICATRIZAÇÃO DO PACIENTE QUEIMADO Elieth Maria Costa Pereira¹, Francisca Conceição Dutra², Sandra C. Heim Lonien³ RESUMO As queimaduras estão entre os traumas mais graves que pode atingir o ser humano, pois provoca uma resposta metabólica intensa que repercute em quase todos os órgãos e sistemas. Apesar dos progressos alcançados no tratamento das queimaduras ainda é grande a taxa de mortalidade e a incapacitação física. O metabolismo acelerado provoca um quadro de desnutrição protéico-calórica com um consumo de até 200% das reservas energéticas desses pacientes. A intervenção nutricional precoce no grande queimado melhora o estado hipermetabolico e catabólico contribuindo para a cicatrização e reparo das queimaduras. A nutrição enteral é benéfica para esses pacientes, pois ajuda a repor energias e calorias, mantém a integridade do trato digestivo, além de atuar favoravelmente no processo de cicatrização, auxiliando na reabilitação do paciente queimado. Palavras-chave: Queimaduras. Hipermetabolismo. Catabolismo. Cicatrização. Terapia nutricional enteral. ABSTRACT Burns are among the most serious trauma may reach the human being, since it causes a metabolic response intense which affects almost all organs and systems. Despite the progress made in the treatment of burns is still great the mortality rate and disablement physics. The metabolism accelerated causes a framework for protein-calorie malnutrition with a consumption of up to 200% of energy reserves these patients. The nutritional intervention early in the great burned improves the state hypermetabolic and catabolic contributing to the healing and repair of burns. The enteral nutrition is beneficial for these patients, because aid to reappoint energies and calories, maintains the integrity of the digestive tract, in addition to act positively in the process of healing, helping in burned patient rehabilitation. Key words: Burns. Hypermetabolism. Catabolism. Healing. Enteral nutrition therapy. ¹Graduada em Enfermagem pelo Instituto de Ensino Superior de Londrina – INESUL. ²Graduada em Enfermagem pelo Instituto de Ensino superior de Londrina – INESUL ³Graduada em Biologia, Mestre em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina, Docente de Enfermagem do Instituto de Ensino Superior de Londrina – INESUL. 11 INTRODUÇÃO As queimaduras são consideradas lesões altamente agressivas, por causar alterações não só físicas como também psicológicas. O indivíduo é afetado por distúrbios físicos como alterações metabólicas, perda de volume de líquidos, risco para infecção, dor, além dos estressores psicológicos como separação da família, deformidades corporais, e submissão de cuidados (SANTOS et al., 2009). Estima-se que no Brasil ocorrem em torno de 1000.000 de acidentes por queimaduras ao ano, sendo que 100.000 pacientes procuraram atendimento hospitalar e, destes, cerca de 2.500 pacientes irão falecer direta ou indiretamente de suas lesões (GOMES, 2001). De acordo com Gomes (2001) um centro de queimados de porte necessita de todo um moderno aparato técnico-científico que o sustente e, acima de tudo, de uma equipe multidisciplinar unida e dinâmica. A pele integra reveste o corpo humano protegendo contra agressões externas como fungos, bactérias e também fatores ambientais (VIDAL, 2006). É formada por duas camadas sendo epiderme e derme (STANLEY; RICHARD, 2004). A lesão provocada pela queimadura resulta em efeitos físicos nestas camadas. A queimadura caracteriza-se pela ação direta ou indireta do calor sobre o corpo humano devido o contato com chamas, líquido aquecidos, frio extremo substancia químicas e radiação e são classificadas de acordo com a profundidade em queimaduras de primeiro, segundo e terceiro grau (SERRA; GOMES ; CRISOSTOMO, 2006). No Brasil as queimaduras com álcool são prevalentes, pois é o único país onde este é usado livremente na forma liquida, inclusive como produto de limpeza doméstica (GOMES, 2001). Apesar dos avanços da medicina no tratamento das queimaduras com o uso de enxertia e novas técnicas de curativos, as taxas de mortalidade ainda são grandes devido às complicações como infecções, sepse e desnutrição (STANLEY; RICHARD, 2004). As vítimas de queimaduras apresentam um aumento acelerado em seu metabolismo chegando a um gasto energético de até 50% acima do normal, em conseqüência de lesão extensa. O hipermetabolismo leva a uma perda exagerada de massa magra corporal o que vem a causar a instalação da desnutrição (WAITZBERG.;NETO.;LEIRI,2006). Vitima de lesão térmica acima de 20% da superfície corpórea queimada necessita de um suporte nutricional precoce e individualizado já nas primeiras 6 horas após a queimadura, 12 com a finalidade de acelerar o processo de cicatrização, preservar e manter a integridade corporal e prevenir o hipercatabolismo muscular (SACRAMENTO et al., 2006). A nutrição enteral é um método terapêutico de grande interesse para o meio hospitalar, devido aos baixos custos dos produtos utilizados e ao fácil manejo operacional, aliados à sua alta eficiência. Porém a eficácia do método está relacionada ao conhecimento das técnicas disponíveis e a atuação de cada membro da equipe multidisciplinar. A enfermagem desempenha papel fundamental no sucesso do tratamento acompanhando o paciente em todas as fases (SOUZA, 1997). O presente trabalho traz informações a cerca da nutrição enteral, ressaltando a sua eficácia na cicatrização de queimaduras e inserindo-a em um plano de ação assistencial de enfermagem para o paciente queimado. PATOFISIOLOGIA DO PACIENTE QUEIMADO Várias são as alterações fisiológicas decorrentes do trauma físico por queimaduras. Segundo Stanley e Richard (2004) as queimaduras provocam grandes mudanças metabólicas e catabolicas para o organismo, ocasionando rápida diminuição do peso corporal e das reservas energéticas, que são fundamentais para a cicatrização. Com o trauma térmico há exposição de colágeno no tecido afetado e, conseqüentemente, ativação e liberação de mediadores químicos como a histamina liberada pelos mastócitos. A histamina provoca o aumento da permeabilidade capilar, permitindo a passagem de um filtrado plasmático para o interstício dos tecidos afetados, provocando importante edema tecidual e significativa hipovolêmia. O sistema calicreína ativado produz cinina que aumenta mais ainda a permeabilidade capilar, agravando o edema tecidual e a hipovolemia (SERRA; GOMES; CRISÓSTOMO, 2006). Segundo Starkey (2001), além da histamina, outros mediadores químicos são liberados pelas células como as prostaglandinas, que também aumentam a permeabilidade vascular, a serotonina, um vasoconstritor de grande poder e os leucotrienos, ácidos graxos que atuam provocando a contração da musculatura lisa. Esses mediadores químicos são responsáveis por controlar o processo de inflamação. Para Faintuch (1997) e Demling (2004) no paciente vítima de queimadura as secreções endógenas são ativadas, havendo um aumento na liberação principalmente de catecolaminas, cortisol e glucagon que têm grande poder catabolico. 13 Costa Jr (2006) refere que as alterações neuroendócrinas na fase inicial do trauma, apresentam-se como resistência periférica aos hormônios, com o objetivo de poupar energia. Em fase mais prolongada predominam as alterações do hipotálamo, contribuindo para a grande perda de proteínas. Pollara; Helena Jr e Pinotti (1997) ressaltam que o metabolismo no paciente politraumatizado é diferente do daquele observado em jejum ou desnutridos crônicos. A principal diferença é ativação do sistema neuroendócrino que leva ao hipermetabolismo. De acordo com Bogassian e Bogassian (2006) os hormônios mais atuantes na resposta endócrina e que possuem ações e efeitos indesejáveis são: - Catecolaminas, liberadas pela medula supra-renal, são consideradas as mais importantes efetoras da reação endócrina ao trauma. Principais ações: vasoconstrição das arteríolas, melhora da contratilidade e força cardíaca, estimulo da glicogenese, da lipólise e da proteólise, além de inibição da ação da insulina. - Cortisol, liberado no lobo anterior da glândula hipófise através de estímulos da zona traumatizada. O cortisol retém sódio e elimina potássio, causa quebra das gorduras e proteínas. Apresenta um excesso de consumo muscular, metabolismo intenso, edema e retardo na cicatrização, levando a um catabolismo protéico acentuado, balanço hidrogenado negativo, redução da massa muscular e perda de peso. De acordo com Pollara; Helena Jr e Pinotti (1997) e Demling (2004) pacientes queimados apresentam um grau maior de exacerbação em seu sistema neuroendócrino, tendo suas necessidades energéticas aumentadas em até 200%, com uma perda de nitrogênio em torno de 40g/dia, podendo alcançar uma perda de massa magra de 1,5g/dia. O grau de catabolismo é proporcional a extensão da área lesada que não foi enxertada, especialmente pela ação das catecolaminas e interleucinas. O índice metabólico só volta ao normal com o completo fechamento da lesão. Como as necessidades energéticas são prolongadas, as fontes de energia são rapidamente consumidas levando a perda de tecido muscular e a desnutrição (WOLF; HERNDON, 2003).E a oferta de nutrientes ao paciente grave queimado pode diminuir o catabolismo e melhorar a evolução clinica (FERREIRA, 2007). Uma avaliação das necessidades nutricionais logo após a queimadura é fundamental para instituir a terapia nutricional, com a finalidade de diminuir os efeitos do hipermetabolismo e do catabolismo (WAITZBERG., NETO; LEIRI, 2006). 14 O inicio precoce de um suporte nutricional é indispensável para amenizar a resposta metabólica, acelerar o processo de cicatrização, minimizar a resposta inflamatória, manter sobre controle a perda de peso e reduzir a morbi-mortalidade (COSTA JR, 2006). TERAPIA NUTRICIONAL Segundo Vasconcelos e Tirapegui (2008) o paciente com enfermidades graves tem sido objeto de grande interesse nos últimos anos. A terapia nutricional para esses pacientes é muito importante, pois visa prevenir a desnutrição de proteínas e calorias, além de adequar as necessidades nutricionais desses pacientes. Para Posthauer, Thomas (2004) existem seis classes de nutrientes: - Hidratos de carbono: fornecem energia, a deficiência no fornecimento de hidrato de carbono causa perda muscular, obrigando o organismo a fazer a quebra das proteínas para gerar energia. - Proteínas e aminoácidos: a proteína e o único nutriente que contém nitrogênio, hidrogênio, oxigênio e também enxofre e fósforo. Todos esses elementos combinados formam os aminoácidos que são a menor unidade das proteínas. - Vitaminas não são produzidas pelo corpo, são obtidas através dos alimentos, que desempenham papel importante na cicatrização, atuam na síntese de colágeno. - Alguns minerais como zinco cobre e ferro agem para a formação e transporte do colágeno e oxigênio, porem a água pode ser o mais importante dos nutrientes atuando na hidratação, como solvente para os minerais, vitaminas, aminoácidos e outras pequenas moléculas. A água compõe 60% do peso corporal de um adulto e esta distribuída nos fluidos intravascular, intersticial e intracelular. A desnutrição hospitalar vem sendo indicada como a maior responsável pelos altos índices de morbi-mortalidade em pacientes internados além de ser a causa de varias complicações clinicas e elevar os custos das instituições de saúde. A equipe multidisciplinar que presta a assistência está envolvida diretamente nesse processo sendo de grande importância que o enfermeiro saiba identificar um paciente desnutrido e também as complicações que a desnutrição hospitalar pode causar (SANTOS; ABREU, 2005). 15 HISTÓRICO Oliveira e Moron (1997) narram que a nutrição enteral já com o conhecimento das principais vias de acesso testemunhou na metade do século XX conhecimentos sobre a importância dos nutrientes e das vias metabólicas para seu uso pelo organismo. Shike (2003) ressalta que a pratica de introduzir nutrientes no trato gastrointestinal originou-se na antiguidade com os egípcios. Os médicos gregos usavam enemas contendo vinho, soro de leite, leite e caldo de cevada para tratar diarréia e fornecer nutrientes. No século XIX, médicos europeus instalavam líquidos e alimentos como extrato de carne, leite e uísque no reto dos pacientes. A alimentação retal foi usada até o começo do século XX. Faintuch (1997) relata que as primeiras sondas gástricas de borracha apareceram antes da Segunda Guerra Mundial. Porém seu material era inadequado causando grande irritação nos tecidos levando a sua substituição pelos plásticos (PVC) em 1950. As sondas de Levine eram calibrosas e mais cômodas ao serem inseridas no estômago, porém o plástico do PVC em contato com líquido do organismo liberavam substancias que atacavam as mucosas, além da rigidez e do calibre da sonda atrapalhar a respiração, a deglutição, provocando também necroses nasais e do epitélio da faringe e do esôfago. De acordo com Faintuch (1997) a era do suporte nutricional teve inicio no final da década de 1960, com novas formulas dietéticas, rotinas e vias de acesso, além do uso de ingredientes naturais, maneiras de administração e variedades de nutrientes, sondas e protocolos que caracterizam a nutrição enteral nos dias atuais.Atualmente grandes avanços técnicos tem surgido, aperfeiçoamento das sondas, utilizações de bombas de infusão , permitindo uma oferta adequada de nutrientes, levando em considerações as vias de acesso, nasoenteral,gastrostomia e jejunostomia sendo as duas últimas por procedimentos cirúrgicos. NUTRIÇÃO ENTERAL De acordo com Neto (2003) a nutrição enteral resume-se na administração de nutrientes com formulas químicas apropriadas, através da introdução direta no estomago ou no intestino delgado com o auxilio de sondas. É indicada quando o paciente não pode, não deve ou não quer comer de maneira a satisfazer suas necessidades básicas. Também é usada para corrigir distúrbios metabólicos. 16 Shike (2003) ressalta que a terapia enteral tem indicações para pacientes que mantém as funções gastrintestinais de digestão e absorção porem não consegue ingerir alimentos de forma adequada. Segundo a resolução nº 449 da ANVISA (BRASIL, 1999) a nutrição enteral é a ingestão controlada de nutrientes na forma isolada ou combinada, especialmente formulada e elaborada para uso por sonda ou via oral, nasal, sendo industrializada ou não, exclusiva ou parcialmente para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos órgãos ou sistemas. OBJETIVOS DA NUTRIÇÃO ENTERAL O suporte nutricional é eficiente se realizado de acordo com protocolos definidos e por uma equipe multiprofissional que inclui: médico, enfermeiro, nutricionista e farmacêutico/bioquímico. O principal objetivo do suporte nutricional é prover energia e nutrientes para sustentar o sistema fisiológico e manter a massa magra do paciente e estar sempre reavaliando as evoluções nas fases de hipercatabolismo, tentando estabelecer a recuperação do paciente (LARSON; ANÇÃO ; MONTE, 1998). De acordo com Zaros (2008) a terapia nutricional tem como objetivo prover as necessidades energéticas e protéicas e fornecer nutrientes específicos, pois o fornecimento inadequado de calorias compromete a cicatrização das lesões e a recuperação da massa magra. O suporte nutricional além de fornecer energia e nutrientes para manter os sistemas fisiológicos e a massa magra, proporciona a vantagem de se escolher fórmulas de nutrientes adequadas às condições do paciente queimado(NOBREGA; ALMEIDA; RUBIO, 1998). Cortes et al. (2003) afirmam que o paciente em terapia intensiva, geralmente apresenta um estado de hipermetabolismo em virtude do trauma, e sepse ou outro quadro de gravidade. Para esses pacientes o suporte nutricional é de grande utilidade na sua evolução clinica. O oferecimento de calorias deve ser ajustado as necessidades dos pacientes, alem de fornecer subsídios para a produção de proteínas. Minerais, vitaminas e água deverão ser ofertados conforme as necessidades do paciente. Para Sacramento et al. (2006) a terapia nutricional causou uma mudança notável no tratamento do paciente queimado, apresentando alternativas ao hipercatabolismo descontrolado, agindo diretamente na sobrevivência de vitimas de queimaduras. 17 Segundo Murta (2006) o alimento desempenha papel importante no funcionamento e reabilitação da saúde, além de combater o estado de debilidade do organismo durante o tratamento de doenças ou lesão. Uma terapia nutricional adequada é o primeiro passo para a recuperação, a alimentação é tão importante como outras terapias, assumindo maior importância em situação de estresse e doenças com longos períodos de duração. Segundo Unamuno e Marchini (2002) a cada dia que passa a terapia nutricional têm sido considerada como um fator de extrema importância na recuperação de doentes, porém, a oferta de nutrientes através de sondas melhora o estado nutricional dos pacientes desde que o aparelho digestivo conserve pelo menos parte de sua capacidade de absorção. Dreyer e Brito (2003) afirmam que o suporte nutricional é um conjunto de procedimentos terapêuticos que visa manter e recuperar o estado nutricional dos pacientes, sendo a nutrição enteral a melhor forma de fornecer nutrientes ao pacientes com trato gastrointestinal funcionante, mas que não conseguem se alimentar satisfatoriamente por via ora. Segundo Sacramento et al. (2006) os pacientes com mais de 20% de superfície corporal queimada, e os que apresentam um estado nutricional complicado durante a internação, devem receber nutrição enteral via sonda nas primeiras 6horas de queimaduras, devendo atender as necessidades individuais, levando em consideração a idade, peso, altura, estresse metabólico, a extensão da área queimada e o estado nutricional anterior. Gomes et al. (2006) afirmam que o suporte nutricional causou grande avanço no tratamento do paciente queimado, o que tornou possível a recuperação de pacientes com até 80% de área corporal queimada. O principal objetivo da terapia nutricional é diminuir as complicações clinicas do paciente, além de evitar o risco de infecção, tornar mais rápida a cicatrização e diminuir o tempo de internação. O suporte nutricional tem como objetivo fornecer energia e nutrientes para manter os sistemas fisiológicos e a massa magra, além de escolher fórmulas de nutrientes adequadas às condições do paciente queimado. (NOBREGA; ALMEIDA e RUBIO,1998). Vieira (2006) a avaliação nutricional no paciente queimado é absolutamente necessária até que 95% da superfície queimada estejam curadas.O ganho de energia para o funcionamento do organismo é imprescindível a sobrevivência do ser vivo, pois os alimentos são fontes de matéria prima e energia. Os processos catabólicos e anabólicos são mediados por enzimas e hormônios, exigindo o uso de nutrientes, energia, oxigênio e hidrogênio (WAITZBERG e GONÇALVES, 1997). 18 COMPLICAÇÕES COM A DIETA ENTERAL Para Maia, Lameu e Vianna (2006) as complicações da nutrição enteral estão ligadas ao uso de sondas nasojejunais, sendo: - Mecânicas: irritação nasofaringe, otite, sinusite, obstrução da sonda, perfuração do duodeno. - Gastrintestinais: dor abdominal, cólicas, distensão, náuseas e diarréia. - Metabólicas: Hiperglicemia levando ao coma. Segundo Pollara, Helena JR e Pinotti (1997) as complicações de nutrição enteral ocorrem em cerca de 5% dos pacientes e estão relacionados com problemas técnicos e mecânicos podendo levar a desnutrição, comprometimento do sistema imunológico, perda de massa muscular e dificuldade de cicatrização, sendo: - Sondas rígidas de polietileno posicionadas por via oral ou nasal podem causar sinusite, otite média, ulcera de asa nasal e irritação faríngea. - Posicionamento inadequado da sonda principalmente quando a porção distal se encontra no esôfago ou árvore traquiobrônquica . - Incidência por aspiração, sendo 40% as causas. - Obstrução de sondas por medicações. - Contaminação bacteriana da dieta, podendo causar diarréia. - A superalimentação sendo mais prejudicial do que a subnutrição. O paciente grave internado na Unidade de Terapia Intensiva sob terapia nutricional enteral, comumente apresenta prejuízos nutricionais. Geralmente, exibe fatores que limitam a administração plena da terapia, como a disfunção do trato gastrointestinal, dada, por exemplo, pela estase, vômitos, diarréia, distensão abdominal, jejum para exames e procedimentos médicos, de enfermagem e fisioterapia, impedindo assim o fornecimento adequado de nutrientes (FUJINO ; NOGUEIRA, 2007.pg220-226). Cuidados de Enfermagem com a Dieta Enteral Para Unamuno e Marchini (2002) a equipe que presta cuidados a pacientes que recebem terapia nutricional através de sonda, devem ter conhecimento especializado sobre a 19 instalação e administração da dieta, além de treinamento para prevenir e reconhecer as complicações. Na Resolução COFEN (2003) compete ao enfermeiro assumir o acesso ao trato gastrintestinal através da passagem de sonda com fio guia introdutor e transpilórica acompanhando o posicionamento por avaliação radiológica. Souza (1997) afirma que é função da enfermagem instalar e administrar a dieta, reconhecer as complicações facilitando assim o tratamento. De acordo com Freitas e Mendes (2006) indivíduos vítimas de lesões térmicas exigirão assistência de enfermagem intensiva e qualificada, devido às lesões e seqüelas causadas pelas queimaduras. O enfermeiro será desafiado diariamente a compor planos de cuidados que atenda as ameaças físicas que possam ocorrer, além dos aspectos sociais e psicológicos. Para Dreyer ; Brito (2003) o enfermeiro e sua equipe desempenham papel fundamental em identificar pacientes desnutridos em risco de desnutrição, pois paciente que apresentam perda de peso expressiva, índice de massa corporal abaixo do normal devem ser monitorados com atenção e quando indicado receber terapia nutricional. De acordo com Souza (1997) a nutrição enteral tem despertado grande interesse no ambiente hospitalar, devido aos custos da matéria-prima serem mais acessíveis, além da sua alta eficácia. No entanto a sua eficácia está ligada ao conhecimento das técnicas utilizadas e da atuação da equipe multidisciplinar, pois a equipe de enfermagem acompanha de perto a evolução do paciente em todas as suas fases. A equipe de enfermagem deve ser habilitada e treinada, para que juntamente com a equipe multidisciplinar possa prestar cuidados integrais de maneira total, visando um resultado positivo, pois a equipe de enfermagem atua na infusão da nutrição desde a sua administração até as reações apresentadas pelo paciente durante a terapia nutricional (CIOSAK et al. 2006). Segundo Nóbrega, Almeida e Rubio (1998) no inicio, a infusão da dieta é feita em volumes menores para que o paciente possa se adaptar ao volume e a osmolaridade da solução. De acordo com Vidal (2006) a assistência de enfermagem na alimentação entral deve priorizar alguns cuidados como: - A dieta enteral deve ser instalada geralmente de três em três horas (de acordo com prescrição médica); - Administradas em gota a gota; 20 - Trocar equipo a cada 24 horas, e após administração lavar sonda com água potável. DIAGNÓSTICO E PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM O restabelecimento do paciente com injúria por queimaduras depende de um correto diagnóstico de enfermagem, o qual provoca intervenções específicas a cada caso, proporcionando o sucesso do tratamento. Para ilustrar, apresentamos uma tabela (tabela 2) com possíveis diagnósticos e prescrições para o paciente queimado. 21 Tabela 2 – Diagnóstico e Prescrição de Enfermagem DIAGNOSTICO DE ENFERMAGEM Déficit de volume hídrico relacionado como aumento da permeabilidade capilar e perdas pela evaporação das queimaduras Dor relacionada com a lesão ao tecido e nervo Hipotermia relacionada com trauma por queimaduras e feridas abertas INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM Verificar sinais vitais; Puncionar acesso venoso calibroso; Monitorizar débito urinário; Manter acesso venoso pérvio e controle hídrico; Observar a evolução do edema. Administrar analgésico; Observar sinais de depressão respiratória; Monitorizar temperatura corporal; Aquecer o paciente durante a realização do curativo; Proporcionar ambiente aquecido pelo uso de cobertores e aquecedor. Risco de infecção relacionada à pele rompida, tecido traumatizado, destruição de tecidos Usar assepsia em todos os cuidados prestados ao paciente; Monitorar exames laboratoriais; Reduzir o número de visitas; Inspecionar a presença de infecção, drenagem purulenta ou descoloração da lesão queimada. Nutrição alterada: menos do que as necessidades corporais caracterizado por peso 20% ou mais abaixo do ideal, relacionado a incapacidade de absorver,ingerir,e digerir nutrientes Oferecer dieta hipercalórica e hiperproteica; Monitorar o peso diário; Administrar dieta por sonda nasoenteral; Relatar ao médico sinais de distensão abdominal, resíduo gástrico ou diarréia; Trocar equipo de dieta a cada 24hs; Lavar sonda nasoenteral com 20mls de água após administração de medicamento e dieta. Comprometimento da integridade da pele caracterizado por destruição de camadas da pele, relacionado com as feridas de queimaduras abertas, nutrição desequilibrada, emagrecimento Avaliar evolução da queimadura; Limpar área queimada conforme rotina; Manter o paciente em repouso no leito após enxertia. Hipertermia relacionada com o aumento da taxa metabólica, desidratação, trauma Administrar antitérmicos conforme prescrição; Realizar meios físicos se a temperatura não ceder com antitérmicos (compressa fria, banho morno); Observar sinais clínicos de infecção. Fonte: Diagnóstico de Enfermagem Segundo Nanda(2008). 22 CONSIDERAÇÕES FINAIS As queimaduras deixam seqüelas graves e incapacitantes, dependendo de sua extensão e profundidade podem levar a morte. Vitimas de lesões térmicas são susceptíveis a infecções, alterações hormonais e metabólicas, requerendo uma assistência de enfermagem intensiva e qualificada, com conhecimentos técnicos e científicos. Com o presente trabalho foi possível concluir que a dieta enteral iniciada precocemente previne a perda de massa magra e acelera o processo de cicatrização diminuindo a taxa de morbi-mortalidade. Ao enfermeiro compete a responsabilidade de compor diariamente planos de cuidados que atenda as necessidades físicas, sociais e psicológicas desses pacientes. REFERÊNCIAS ABREU, Eliane Souto de.; MARQUES, Mariângela E. De Alencar. Histologia da Pele Normal. In: JORGE, Silvia Angélica.; DANTAS, Sonia Regina. Abordagem multiprofissional para o tratamento de feridas. São Paulo: Atheneu, 2003. p.17-29. ANDRADE de, Alexsandra G; LIMA de, Claudia F; ALBUQUERQUE de, Ana Karla B. Efeitos do laser terapêutico no processo de cicatrização das queimaduras. Rev. Bras. Queimaduras, v.9,n.1,p.21-30,mar.2010. Disponível em: <http://www.sbqueimaduras.com.br/revista/marco2010/05efeitosdolaser.pdf>. Acesso em: 28 ago. 2010. 19h40min. ANDRIS, Deborah A.; et al. Semiologia: Bases para a Prática Assistencial. 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