DESENVOLVIMENTO DE NANOPARTÍCULAS DE PLA – PEG CONTENDO ZIDOVUDINA E AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE ENCAPSULAÇÃO Ana Cristina de Mattos (IC-voluntária), Diani Meza Casa (IC-PAIC), Luciana Facco Dalmolin (IC-PIBIC/CNPq), Rubiana Mara Mainardes (DEFAROrientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Farmácia/Setor de Ciências da Saúde – Guarapuava – PR Ciências da Saúde - Farmacotecnia Palavras-chave: encapsulação. nanopartículas PLA-PEG, zidovudina, eficiência de Resumo A Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS) é atualmente a pandemia de maior impacto, sendo que mais de 40 milhões de pessoas estão infectadas com o vírus HIV. A zidovudina (AZT) é um fármaco utilizado no tratamento da AIDS. As nanopartículas poliméricas se mostram como eficientes dispositivos para promover liberação controlada de fármacos e minimizar efeitos tóxicos. Assim, desenvolveu-se nanopartículas contendo zidovudina e avaliou-se a eficiência de encapsulação. Os resultados indicaram que a associação do PLA com PEG leva a um aumento na eficiência de encapsulação do AZT nas nanopartículas. Introdução A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) foi inicialmente descrita em 1981, e a veloz evolução da doença, fez com que ocorressem intensas pesquisas com o intuito de identificar seu agente etiológico para, enfim, desenvolver fármacos com o propósito de combater o agente causador, ou pelo menos, melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O primeiro fármaco empregado no tratamento da AIDS foi o AZT que atua inibindo a enzima transcriptase reversa, impedindo à multiplicação e/ou a liberação de novos vírus¹. Porém, o AZT apresenta algumas características farmacocinéticas que contribuem para a sua toxicidade in vivo. O desenvolvimento de nanopartículas constitui uma boa estratégia para a veiculação de AZT, pois impede que o AZT seja rapidamente degradado pelo suco gástrico, enzimas pancreáticas, suco biliar e outras enzimas do trato gastrintestinal, potencializando-o. Dentre os polímeros utilizados para o seu preparo, o ácido poli-láctico (PLA) é bastante utilizado devido à sua característica biocompatível e biodegradável². Entretanto, em pouco tempo, essas nanopartículas são removidas da circulação sanguínea, Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. e para que isto não ocorra, recebem um revestimento de polímeros hidrofílicos, principalmente o polietilenoglicol (PEG), os quais são carreadores coloidais de fármacos que apresentam tempo prolongado de circulação sanguínea, o que dificulta os processos de opsonização e fagocitose realizados pelas células de defesa do organismo. Com isso, o objetivo deste trabalho foi desenvolver nanopartículas de PLA – PEG contendo zidovudina com o intuito de verificar e determinar a eficácia de encapsulação. Materiais e métodos Padronização de metodologia analítica para determinação de AZT por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) As condições cromatográficas utilizadas foram as pré-estabelecidas pela Farmacopéia Americana (USP XXXII) e a fase móvel utilizada foi metanol:água (25:75) que foi previamente filtrada por membrana de poro 0,45 μm e em seguida degaseificada através de sonicação no banho por 30mim. A curva analítica foi construída a partir de uma solução padrão de AZT em uma concentração média de 10mg/mL. Construiu-se uma curva em metanol:água (25:75), com diferentes concentrações de AZT (1-100 µg/mL), com o objetivo de padronizar o método de quantificação do AZT nas nanopartículas. Os valores foram lançados em gráfico de dispersão linear, sendo calculada a equação da reta, desvios padrão e coeficientes de variação para cada concentração. Preparação das nanopartículas contendo AZT As nanopartículas de PLA foram preparadas pela técnica da dupla emulsão (A/O/A) evaporação do solvente. Por essa técnica, 50mg de PLA foram dissolvidos em 2 mL de diclorometano, constituindo a fase oleosa e esta foi emulsionada em 2mL de solução aquosa de PVA (0,2%) contendo AZT (30 mg) por meio de sonicação (30s). Essa primeira emulsão A/O obtida foi reemulsionada em um volume de 4mL de solução aquosa de PVA (1%), resultando na emulsão múltipla (A/O/A) formada por sonicação (1 min). Em seguida, a emulsão foi submetida à evaporação do solvente orgânico por meio de evaporador rotatório à pressão negativa (20 min, 37ºC). Finalmente, as nanopartículas foram isoladas do fármaco não-encapsulado por ultracentrifugação à 14.000 rpm à 4°C e isolou-se o sobrenadante para posterior análise. Para a obtenção das nanopartículas formadas por blendas de PLA com PEG de diferentes pesos moleculares (2kDa, 10kDa, 20kDa e 35kDa), foi realizado o seguinte protocolo: o PLA (50 mg) e o PEG (10 mg), foram dissolvidos em diclorometano e emulsionados com solução aquosa de PVA (0,1%) contendo AZT através de sonicação com banho de gelo. Então essa primeira emulsão A/O foi re-emulsionada em uma solução aquosa de PVA (0,7%), resultando na emulsão múltipla (A/O/A) formada por sonicação. Em seguida, a emulsão foi submetida à evaporação do solvente orgânico por meio de evaporador rotatório à pressão negativa, e por final submetida à Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. ultracentrifugação para separação do fármaco não encapsulado. As nanopartículas resultantes foram congeladas e liofilizadas por 48h. Determinação da eficiência de encapsulação Foram realizadas análises indiretas para avaliar a eficiência de encapsulação do AZT nas nanopartículas. O sobrenadante coletado foi diluído em fase móvel (metanol: água), filtrado em membrana de poro 0,22 µm e analisado por CLAE onde foi determinada a concentração de fármaco não-encapsulado às nanopartículas. Essa concentração foi calculada, aplicando-se a média dos valores das áreas sob a curva do AZT na equação da reta obtida pela curva analítica em metanol: água (1:4). A eficiência de encapsulação (EE%) foi determinada de acordo com a seguinte equação: EE% = quantidade inicial de AZT – concentração analítica x 100 quantidade inicial de AZT Análise estatística Os resultados foram apresentados como média ± desvio padrão. Comparações estatísticas foram feitas pela ANOVA com 95% de confiança. Diferenças foram consideradas estatisticamente significantes com p < 0,05. Resultados e Discussão As condições cromatográficas utilizadas foram adequadas para a análise do AZT no sobrenadante (proveniente da separação do fármaco livre das nanopartículas). A partir dos cromatogramas, pode-se observar que a fase móvel composta pela mistura de metanol: água (1:4) foi eficiente na determinação do AZT em 265nm, verificando-se um tempo de retenção de 10,3 minutos. Uma curva obtida em metanol: água (1:4) foi necessária para a determinação da concentração de AZT encapsulado nas nanopartículas (Fig. 1), a qual foi construída com base na variação da área sob a curva do pico característico do fármaco pela sua concentração. Figura 1 – Curva analítica do AZT em metanol: água (1:4), n=3. (Fase móvel: metanol: água em 265nm). Os resultados indicam linearidade no intervalo de concentração utilizado (1-100µg/mL), garantindo confiança no uso da equação da reta obtida por essa curva analítica (y=1,86.105 x + 1,79. 104 / r2=0,9998). Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. A eficiência de encapsulação foi determinada indiretamente por CLAE após a separação do fármaco livre das nanopartículas, por meio da leitura do sobrenadante. Os resultados estão presentes na tabela 1. Tabela 1. Eficiência de encapsulação do AZT nas diferentes formulações de nanopartículas. Nanopartículas Eficiência de Encapsulação (EE%) PLA 28, 56 ± 6,45 PLA-PEG (2KDa) 39,22 ± 10,41 PLA-PEG (10KDa) 47,77 ± 0,87 PLA-PEG (20KDa) 48,58 ± 3,45 PLA-PEG (35KDa) 3,56 ± 0,67 De acordo com os resultados obtidos, pode-se observar que o PEG exerce influencia na capacidade das partículas em encapsular o AZT. Verificou-se que as nanopartículas compostas apenas de PLA mostraram a menor eficiência de encapsulação. Já as partículas contendo PEG em sua formulação tiveram maior potencial em encapsular o AZT, com exceção da formulação composta por PEG 35KDa; pois a natureza anfifílica da blenda formada por PLA-PEG permite uma melhor dispersão entre a fase aquosa (contendo o AZT) e a fase orgânica, melhorando o processo de emulsificação e consequentemente as propriedades de encapsulação. Uma provável razão para a baixa eficácia da blenda contendo PEG 35KDa em encapsular o AZT poderia ser justificada pelo alto valor do peso molecular do PEG que dificulta o processo de emulsificação por deixar a fase aquosa interna muito viscosa. Conclusões Nanopartículas de PLA, de blendas de PLA-PEG foram desenvolvidas para veiculação de AZT. O trabalho ilustrou a importância da formação de blenda de PLA com um polímero hidrofílico na eficiência de encapsulação do fármaco e também no perfil de liberação deste a partir das nanopartículas. A maior eficiência de encapsulação foi obtida na formulação contendo PEG 20KDa. Referências ¹ Brunton, L.L.; Lazo, J.S.; Parker, K.L. Goodman & Gilman: as Bases Farmacológicas da Terapêutica. Ed. McGraw-Hill, 10a edição, 1821p, 2006. ² Jain, R.A. The manufacturing techniques of various loaded biodegradable poly(lactide-co-glycolide)(PLGA) devices. Biomaterials, v.21, p.2475-2490, 2000. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.