DESENVOLVIMENTO DE NANOPARTÍCULAS DE PLA CONTENDO ZIDOVUDINA E AVALIAÇÃO DO PERFIL DE LIBERAÇÃO IN VITRO Luciana Facco Dalmolin (PIBIC/CNPq-UNICENTRO), Diani Meza Casa (PAIC-UNICENTRO), Ana Cristina de Mattos (IC voluntária), Rubiana Mara Mainardes (Orientadora), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Farmácia/Guarapuava, PR. Ciências da Saúde - Farmacotecnia Palavras-chave: nanopartículas, zidovudina, liberação controlada. Resumo: A AIDS é a pandemia de maior impacto atualmente e constitui um dos grandes desafios para a saúde pública mundial. A zidovudina (AZT) foi o primeiro fármaco utilizado no tratamento da AIDS, porém por possuir baixa biodisponibilidade oral, o tratamento necessita de altas doses o que gera também toxicidade. Assim um sistema de liberação prolongada foi desenvolvido para veiculação do AZT, nanopartículas poliméricas compostas por ácido poli-láctico (PLA) e avaliou-se o perfil de liberação in vitro. Os resultados demonstraram que houve um pronunciado prolongamento do tempo de liberação do fármaco contido nas nanopartículas. Introdução A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) constitui uma das doenças infecciosas mais graves e um dos grandes desafios para a saúde pública mundial (OJEWOLE et al., 2008). O composto Zidovudina (AZT), foi o primeiro anti-HIV aprovado para uso clínico em 1987 e ainda é amplamente utilizado, em associação com outros antiretrovirais, para tratamento da AIDS. (NARISHETTY e PANCHAGNULA, 2004). O AZT é absorvido 30 a 90 min após administração oral, mas sofre significativo metabolismo de primeira passagem antes da distribuição sistêmica, resultando em uma biodisponibilidade de 60-70% e tempo de meia vida de apenas 1h (SERRA et al. 2008). Devido a essas características farmacocinéticas, a administração freqüente da dose é requerida, podendo resultar em efeitos adversos, sendo o principal a toxicidade hematológica, dose-dependente (BLUM et al., 1988). O uso de um sistema de liberação prolongada para o AZT representa uma estratégia interessante para vencer os efeitos colaterais advindos das suas altas e freqüentes doses. Dentro do contexto da nanotecnologia farmacêutica, as nanopartículas poliméricas se mostram como eficientes dispositivos para promover liberação controlada de fármacos, em que a velocidade da liberação do mesmo depende de fatores tais como, tamanho Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. das partículas, método de preparação, tipo de polímero utilizado, entre outros (ANDERSON e SHIVE, 1997; KAWASHIMA et al., 2001). A avaliação do perfil de liberação de um fármaco in vitro, é um requisito muito importante no conjunto de avaliações de um sistema de liberação controlada. A partir desse perfil pode-se supor como o sistema vai ser comportar in vivo. Materiais e métodos Padronização de metodologia analítica para determinação de AZT por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) As condições cromatográficas utilizadas foram as pré-estabelecidas pela Farmacopéia Americana (USP XXXII) e a fase móvel utilizada foi metanol:água (25:75). Construiu-se uma curva analítica em água destilada com diferentes concentrações de AZT (50-500 ng/mL), com o objetivo de padronizar o método de quantificação do AZT presente no meio de liberação in vitro. Preparação das nanopartículas contendo AZT As nanopartículas de PLA foram preparadas pela técnica da dupla emulsão (A/O/A) evaporação do solvente. Por essa técnica, 50mg de PLA foram dissolvidos em 2 mL de diclorometano, constituindo a fase oleosa e esta foi emulsionada em 2mL de solução aquosa de PVA (0,2%) contendo AZT (30 mg) por meio de sonicação (30s). Essa primeira emulsão A/O obtida foi reemulsionada em um volume de 4mL de solução aquosa de PVA (1%), resultando na emulsão múltipla (A/O/A) formada por sonicação (1 min). Em seguida, a emulsão foi submetida à evaporação do solvente orgânico por meio de evaporador rotatório à pressão negativa (20 min, 37ºC). Finalmente, as nanopartículas foram isoladas do fármaco nãoencapsulado por ultracentrifugação à 14.000 rpm à 4°C e isolou-se o sobrenadante para posterior análise. Determinação da eficiência de encapsulação O sobrenadante resultante do processo de ultracentrifugação foi convenientemente diluído em fase móvel e analisado por CLAE com o auxílio da curva analítica construída utilizando as mesmas condições do ensaio. As análises foram realizadas em triplicata. Por este método indireto foi determinada a concentração de fármaco não-encapsulado às nanopartículas. Determinação do perfil de liberação in vitro do AZT a partir das nanopartículas As nanopartículas contendo AZT foram incubadas em tubos com 2 mL de água destilada e mantidas sob agitação em estufa à 37°C. Em intervalos de tempo pré-determinados (30 min, 2, 4, 6, 8, 10, 12, 24, 36, 48, 60 e 72h) os tubos foram centrifugados (14.000 rpm à 4°C) durante 20 minutos e o sobrenadante foi retirado e analisado por CLAE, sendo que as nanopartículas foram ressuspensas em 2mL de água destilada e novamente incubadas até o próximo tempo de coleta. Análise estatística Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Os resultados foram apresentados como média ± desvio padrão. Comparações estatísticas foram feitas pela ANOVA com 95% de confiança. Diferenças foram consideradas estatisticamente significantes com p < 0,05. Resultados e Discussão A curva analítica foi construída com base na variação da área sob a curva do pico característico do fármaco pela sua concentração. A figura 1 ilustra a curva analítica do AZT em água, que foi utilizada para análise da quantidade de fármaco liberado por unidade de tempo. Figura 1 – Curva analítica do AZT em água, n=3. (Fase móvel: metanol:água em 265nm). Os resultados indicam linearidade no intervalo de concentração utilizado (50-500ng/mL), garantindo confiança no uso da equação da reta obtida por essa curva analítica (y= 2,27.102 x + 1,76. 103 / r2=0,9993). A eficiência de encapsulação foi determinada indiretamente, por meio da leitura por CLAE do sobrenadante. Os resultados estão presentes na tabela 1. Tabela 1. Eficiência de encapsulação do AZT na formulação de nanopartículas de PLA. Nanopartículas Eficiência de Encapsulação (EE %) PLA 28, 56 ± 6,45 Avaliou-se o perfil de liberação in vitro do AZT a partir da formulação de nanopartículas de PLA. Os resultados, após 264h de ensaio estão apresentados na figura 2: Figura 2 – Perfil de liberação in vitro do AZT a partir de nanopartículas de PLA. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Os resultados do ensaio de liberação demonstraram que houve um pronunciado prolongamento do tempo de liberação do fármaco contido nas nanopartículas. Pode-se observar uma liberação inicial rápida do AZT seguida de uma fase extremamente lenta. Esse efeito, em que ocorre uma liberação rápida de fármaco no início do experimento, é conhecido como efeito burst, está relacionado a uma rápida liberação de fármaco que se encontra na adsorvido na superfície das partículas. A partir do momento que as nanopartículas entram em contato com o meio de liberação, ocorre rapidamente a dessorção do fármaco da superfície das partículas e este é liberado no meio receptor. Após essa rápida liberação inicial, observou-se que a velocidade de liberação do AZT tornou-se mais lenta e prolongada. Analisando a estrutura da superfície das nanopartículas de PLA, obviamente, a natureza menos hidrofílica das cadeias terminais do PLA na superfície das NP restringiu a hidratação inicial da matriz polimérica, resultando em uma liberação mais lenta do fármaco. Conclusões Nanopartículas de PLA foram desenvolvidas para veiculação de AZT. Os resultados dos testes in vitro demonstraram que houve um pronunciado prolongamento do tempo de liberação do fármaco contido nas nanopartículas. Agradecimentos Agradecimento ao CNPq pela concessão da Bolsa de Iniciação Científica. Referências Anderson, J.M.; Shive, M.S. Biodegradable and biocompatibility of PLA and PLGA microspheres. Adv. Drug Del. Reviews, v.28, p.5-24, 1997. Blum, M.R.; Liao, S.H.T.; Good, S.S.; Miranda, P. Pharmacokinetics and bioavailability of zidovudine in humans. Am. J. Med., v. 85, p. 189–194, 1988. Kawashima,Y. Nanoparticulate systems for improved drug delivery. Adv Drug Del. Reviews, v.47, p.1-2, 2001. Narishetty, S. T. 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