109 O LÚDICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA EM CONTEÚDOS MATEMÁTICOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL. Anna Paulla Sousa Xavier1 Everton Cardoso Borges2 Maria Bernadete Pozzobom Costa3 RESUMO: As atividades lúdicas são importantes aliadas no processo ensino aprendizagem. Assim, a pesquisa buscou conhecer se os conteúdos de Matemática são trabalhados com atividades lúdicas em aulas de Educação Física, com crianças de 1º ao 3º do Ensino Fundamental. Constatou-se que o desenvolvimento de atividades lúdicas planejadas e orientadas é pouco utilizado nas aulas de Matemática e de Educação Física e que poderiam ser usadas no trabalho com a contagem, para elaboração e resolução de situações problemas com operações fundamentais em situações de jogos, para desenvolver a lateralidade e trajeto, dentre outros conteúdos matemáticos. Palavras-chaves: atividades lúdicas, matemática, ensino-aprendizagem, educação física. ABSTRACT: Play activities are important allies in the learning process. Thus, the research sought to know if the contents of mathematics are worked with recreational activities in physical education classes, with children from 1st to 3rd Elementary School. It was found that the development of recreational activities planned and directed is little used in mathematics classes and physical education and that could be used in work with the count, for preparation and resolution of problem situations with core operations in gaming situations, for develop lateralitylandçpath,lamonglotherlmathematicallcontent. Keywords: play activities, mathematics, teaching and learning, physical education. 1. Autora do Artigo, Graduanda em Pedagogia pelas Faculdades Unidas do Vale dos Araguaia. 2. Co-orientador do TCC. Licenciatura em Educação Física e História. Bacharel em Teologia. Especialização em Educação Física escolar: com aprofundamento em esportes 3. Orientadora do TCC. Graduada em Pedagogia pelas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. Especialista em Didática e Metodologia, UFMT. Professora de Práticas de Ensino, Currículo e Organização do Trabalho Pedagógico, Estágio Curricular Supervisionado do Curso de Pedagogia das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia, e-mail: [email protected] . 1. INTRODUÇÃO É por meio de atividades lúdicas e interativas que se busca a construção de conhecimentos matemáticos em diferentes momentos do processo ensino aprendizagem, portanto, considerando as relações estabelecidas entre a Matemática e a Educação Física, pensamos em desenvolver conhecimentos matemáticos propostos às crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Com o tema “A Ludicidade da Educação Física nos Conteúdos Matemáticos” foi que surgiu o interesse para investigar se os docentes de duas Escolas Municipais do Ensino Fundamental, denominadas de escola x e y, do 1º ao 3º ano na cidade de Barra do Garças,MT desenvolvem atividades de Educação Física que favorecem o processo de ensino aprendizagem de Conteúdos Matemáticos. Os estudos no Curso de Pedagogia, principalmente os relacionados à Matemática e aos de Educação Física oportunizaram o conhecimento de que o professor pode e deve utilizar atividades de movimentos para realizar contagens, fazer operações de quantidade, bem como desenvolver a lateralidade, a localização, os trajetos, e outros conhecimentos. Essas vivências fizeram com que alguns questionamentos em relação à possibilidade de trabalhar nas aulas de Educação Físicas conteúdos matemáticos On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X fossem surgindo e ajudaram a definir o problema: será que as instituições escolares trabalham conteúdos matemáticos utilizando a ludicidade de Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental? Dessa forma, o objetivo principal da pesquisa é de constatar se os conteúdos matemáticos são trabalhados por meio da ludicidade da Educação Física. 2. A LUDICIDADE DA EDUCAÇÃO FÍSICA E OS CONTEÚDOS MATEMÁTICOS Os movimentos do corpo são fundamentais para minimizar as dificuldades de aprendizado que se manifestam durante a escolaridade da criança. Esses são aproveitados nas brincadeiras e jogos que tem seu aspecto lúdico, de diversão e de prazer e contribuem para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizado da criança, refletindo na realidade escolar e na cultura em que ela está inserida. A atividade lúdica é tão antiga quanto os jogos, os brinquedos e as brincadeiras. Até mesmo nos tempos da Companhia de Jesus, de Inácio de Loyola, já se compreendia o jogo como exercício auxiliar de ensino, despertando o interesse para se aprender algo novo. Dessa forma, muitos profissionais devem aprender a Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º9 Vol – 3 p. 109 - 112 110 diferenciar os tipos de jogos, não só como brincadeira, mas como recurso de ensino, dando o verdadeiro valor a esta importante ferramenta de ensino (KISHIMOTO, 2009, p.24). O ensino da matemática, por ser entendido, ainda, como uma ciência exata nos remete ao erro de pensarmos em uma única maneira de chegarmos a uma resposta, quando na verdade as possibilidades e caminhos para isso podem ser inúmeros. Uma delas é por meio das atividades de Educação Física, que podem ser utilizadas para o estudo da Matemática. Para as crianças, nos primeiros anos de escolaridade, entender o que é a matemática e suas funções na vida diária é muito abstrato. Neste momento o lúdico deve se fazer presente, pois ele faz parte do contexto de infância da criança. Afinal, brincar faz sentido para ela. As coisas que as crianças observam (a mãe fazendo compras, a numeração das casas, os horários das atividades da família), os cálculos que elas próprias fazem (soma de pontos de um jogos, controle de quantidade de figurinhas que possuem) e as referencias que consegue estabelecer ( estar distante de , estar próximo de ) serão transformadas em objetos de reflexão e se integrarão ás suas primeiras atividades matemáticas escolares (PCN – Matemática, Brasil 2000, p.63). Em contraponto estão os professores que se empenham em ensinar os conteúdos pré estabelecidos do currículo, tendo como seu único instrumento o conhecimento escolar. O professor poderia lançar mão de brincadeiras, de jogos, de situações reais. Assim, ele poderia passar de simples transmissor de conteúdos para mediador do conhecimento dos alunos, pois ele não é o único a manter o saber absoluto. Tem o papel de desafiar seus alunos para que com suas próprias construções sejam capazes de progredir em seus aprendizados por meio de atividades que envolvam a ludicidade. Pimentel (2012) defende que “O ensino através do lúdico cria um ambiente atraente, servindo de estímulo para o desenvolvimento integral da criança, agindo como facilitador”. Para o professor que utiliza de forma adequada o lúdico, percebe-se que o auxilia no processo ensino aprendizagem, possibilitando ao aluno fazer descobertas e subsidiando o trabalho do professor. Ainda, desperta o interesse do aluno para o conteúdo trabalhado e serve como recursos para solucionar problemas, criar condições de socialização entre os alunos, estabelecer e discutir regras e propor novas soluções a situações de desafios. Tudo isso sem que a aula seja temida ou frustrante para o aluno. A atividade lúdica traz autonomia aos alunos de forma que, cada vez mais, ele utilize para aprender e para progredir em seus conhecimentos de forma autônoma. Acredita-se que a matemática pode ser bem melhor explorada através de contextos significativos, On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X jogos e brincadeiras trabalhadas na Educação Física, já que traz o conteúdo que era meramente decorado, explicado e treinado, como algo que faz sentido e pode ser utilizado na vida prática e no divertimento. Segundo o PCN BRASIL-Matemática, (2000) é importante destacar que a matemática deve ser vista pelo aluno como um conhecimento que pode favorecer o desenvolvimento do raciocínio, da sua capacidade expressiva, de sua sensibilidade estética, de sua imaginação. Estabelecer relações entre objetos, fatos e conceitos, generalizar, prever, projetar, abstrair, ou seja, apontar direções, apresentar estratégias e alternativas para os alunos estabelecerem múltiplas ligações e associações entre significados de um conceito. É preciso mudar a forma mecânica de ensinar Matemática, pois o momento atual requer uma matemática viva, que possa provocar nos aprendizes e educadores o gosto e a confiança para enfrentar desafios. Enfim, motivá-los. Isso pode ser efetivado utilizando a ludicidade. Se brinquedos é sempre suporte de brincadeiras, sua utilização deveria criar momentos lúdicos de livre exploração, nos quais prevalecem à incerteza do ato e não se buscam resultados. Porem, se os mesmos objetivos servem como auxiliar da ação docente busca-se resultados em relação à aprendizagem de conceitos e noções ou, mesmo, ao desenvolvimento de algumas habilidades. Nesse caso, o objeto conhecido como brinquedo não realiza sua função lúdica, deixa de ser brinquedo para torna-se material pedagógico (KISHIMOTO, 2009,p.14). A motivação é importante no trabalho docente e contribui para a aprendizagem, entretanto nem sempre recebe a devida atenção do professor no desenvolvimento do seu trabalho. Muitas vezes, ele se ocupa em providenciar material e transmitir o conteúdo e se esquece da motivação. Oliveira (2012) afirma que “Nós, como educadores matemáticos devemos procurar alternativas para aumentar a motivação para a aprendizagem”. Nesse sentido, o ensino-aprendizagem da matemática requer o uso de instrumentos mediadores de conhecimento, visto que através de jogos matemáticos as crianças podem desenvolver a autonomia, as relações de respeito e de confiança em si e nos colegas. Maluf (2008, p. 61) afirma que “O brincar é assegurar a sobrevivência de sonhos e promover uma construção de conhecimentos vinculados ao prazer de viver e aprender de uma forma natural e agradável”. Dessa forma, entendemos que o lúdico contribui na elaboração de conhecimentos necessários para o cotidiano da criança. A brincadeira é o caminho que percorremos felizes, expressando o que nos vai ao coração, revelando o nosso eu autêntico, nosso modo livre e criador de curtir a vida; viramos crianças quando já não somos mais, a diferença para as crianças é que vivem ainda um tempo Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º9 Vol – 3 p. 109 - 112 111 mesmo de ser criança, de brincar. (MALUF, 2008, p 36). As crianças hoje estão desenvolvendo suas potencialidades por meio das atividades lúdicas. Muitas vezes o professor se perde e não consegue mais atrair atenção, por isso é preciso motivar os alunos, pois se o educando mudou, o educador também precisa mudar. Segundo Lara (2003), o professor deve ter a pretensão de ministrar aulas mais prazerosas para que a aprendizagem se torne atrativa. Um dos pontos importantes para o professor atualizar sua metodologia é perceber que a criança de hoje é extremamente questionadora e ativa. É muito mais fácil e eficiente aprender por meio de jogos, pois “A criança, ao jogar, não só incorpora regras socialmente estabelecidas, mas também cria possibilidades de significados e desenvolve conceitos é o que justifica a adoção do jogo como aliado importante nas práticas pedagógicas.” (SEDUC, 2000, p 157). O professor pode adaptar o conteúdo programático ao jogo, tentando atingir diferentes objetivos simultaneamente, além de estar desenvolvendo conhecimentos com o aluno. 3. OS DADOS ENCONTRADOS A técnica utilizada na pesquisa foi descritiva e exploratória com questões fechadas, (ABEC,2012). A pesquisa foi realizada em duas escolas municipais de bairros distintos, na cidade de Barra do Garças, MT. Perceberam-se níveis socioeconômicos diferenciados nas escolas, sendo que ambas atendem a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Quanto à estrutura física, as salas são de tamanho razoável, a área externa conta com uma quadra esportiva e espaço de recreação, o que permite o desenvolvimento de brincadeiras e de jogos que podem ser realizados pelo professor. Foram respondidos sete questionários, por quatro professoras de uma escola e por três de outra. Tendo em vista a análise das respostas dadas nos questionários apresentam-se os dados obtidos e algumas considerações a seguir. Na questão proposta sobre o desenvolvimento de atividades recreativas que envolvia contagem em sala de aula, aproximadamente 71% dos professores responderam que realizam duas vezes por semana. Conforme Golbert (2002, p. 25): É essencial reconhecer que os processos de aprendizagem da matemática e seus produtos, assim como os modos matemáticos de pensamento, são inteiramente sociais, que a criança constrói ativamente sua compreensão matemática, a medida que participa de processos coletivos, na sala de aula. Portanto, é importante o desenvolvimento de atividades lúdicas tanto no ambiente da sala de aula como fora dela, pois elas auxiliam no processo ensino aprendizagem uma vez que conhecimentos são apreendidos sem serem impostos, mas de forma mais prazerosa. Marco (2004, p.2) define a “situação lúdica On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X como atividade na qual o sujeito perpassa por momentos de tensão criativa e alegria, que o levam a um sucesso praticamente imediato, proporcionando satisfação e prazer dotados de um fim em si mesmo”. No que diz respeito às aulas de Educação Física, aproximadamente 43% dos professores que responderam ao questionário disseram que as crianças brincam livremente e 29% deles que as crianças são orientadas em cada atividade desenvolvidas. As atividades de desenvolvimento de habilidades motoras e de capacidades físicas devem ser realizadas com significado e não somente como exercícios prontos e automáticos, pois elas são recursos do professor que permitem o desenvolvimento e o aprender do aluno. (PCN BRASIL- Educação Física, 1997). Aproximadamente 57% dos professores que responderam ao questionário afirmaram que as aulas de matemática são planejadas envolvendo em sua maioria escritas e com brincadeiras, aproximadamente 29% que as aulas são planejadas para o aluno resolver por escrito. Kishimoto (2009, p 86) diz que “deve buscar no jogo (com sentido amplo) a ludicidade das soluções construídas para as situações-problemas seriamente vividas pelo homem”. Assim, percebe-se que o professor pode utilizar as brincadeiras para a resolução de situações problema. Quando questionados sobre os recursos de ensino utilizados nas aulas de matemática, aproximadamente 57% afirmaram que usam jogos pedagógicos e brincadeiras diversas, porém 29% disseram que só usam lápis e caderno. De acordo com PCN BRASIL-Matemática (2000, p. 48), ”o jogo é uma atividade natural no desenvolvimento dos processos psicológicos básicos; supõe um “fazer sem obrigação externa e imposta”, embora demande exigências, normas e controle”. Chacuri (2012) afirma que o professor “poderá propor uma atividade lúdica com objetivos, além do simples gosto de brincar”. Daí a importância de lançar mão das atividades que são naturais para a criança no seu processo de aprendizagem. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS As atividades que estimulam e desafiam, como as motoras e de movimento corporal, que envolvem os jogos e as brincadeiras, podem auxiliar na elaboração de conhecimentos matemáticos. A ludicidade delas permite aprendizagens importantes ao desenvolvimento cognitivo da criança. O jogo é um precioso recurso pedagógico porque dá prazer. No ensino da matemática ele é relevante, pois pode transformar o espaço escolar em um espaço gerador de conhecimentos não só pelas aulas em que o aluno copia e resolve no caderno exercícios de fixação exatos, mas por meio da ludicidade das aulas de Educação Física com a intenção de desenvolver conhecimentos matemáticos. Tendo em vista o objetivo principal que era verificar se os conteúdos matemáticos são desenvolvidos em atividades lúdicas realizadas nas aulas de Educação Física com as crianças do primeiro ao terceiro ano do Ensino Fundamental, pode-se dizer que há resistência na utilização de jogos e brincadeiras, das aulas de Educação Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º9 Vol – 3 p. 109 - 112 112 Física, no trabalho docente. As práticas desenvolvidas na escola ainda carregam muito da concepção tradicional. Falta conhecimento teórico prático e disponibilidade para a execução de atividades lúdicas planejadas e orientadas que permitem, de forma intencional, aprendizagens efetivas de conteúdos matemáticos. Assim, constatou-se que as aulas de Educação Física não são utilizadas para o desenvolvimento de conhecimento matemático. Elas poderiam ser também, para trabalhar contagem nas brincadeiras e jogos, elaborações de situações problemas com operações em situações de jogos, lateralidade, trajetos, dentre outros conteúdos. A escola tem cumprido em parte o seu papel, na medida em que proporciona o ensino aprendizagem de Matemática com as atividades lúdicas. Isso ocorre por meio do incentivo e do apoio aos professores, funcionários e alunos para a utilização dessas com o envolvimento de todos. Fundamental. Dissertação de mestrado. 2004. Disponível em www.ime.unicamp.br. Acesso em 12/11/12 SEDUC. Secretaria de Estado de Educação. 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