CLOROQUINA Nome Genérico: difosfato de cloroquina Classe Química: derivado sintético 4-aminoquinolina Classe Terapêutica: antimalárico Forma Farmacêutica e Apresentação: Cloroquina 150 mg, em envelope com 10 comprimidos • Malária por Plasmodium vivax, • P. ovale e P. malariae • A maior parte das cepas de P. falciparum tornaram-se resistentes à Cloroquina. • Doenças auto-imunes: artrite reumatóide e lúpus eritematoso Amebíase extra-intestinal, incluindo abscesso amebiano do fígado • Outros usos: vasculite cutânea crônica, porfiria cutânea tardia, hipercalcemia associada a sarcoidose, erupção polimorfa brilhante. No Brasil, as espécies prevalentes de plasmódio são o P. vivax e o P. falciparum. Não existe um tratamento único igualmente efetivo contra as duas espécies. Além disso, a diferenciação da infecção pelo quadro clínico pode ser difícil, implicando a necessidade de diagnóstico laboratorial para o tratamento adequado. Infecção simultânea pelas duas espécies também pode ocorrer. Em áreas endêmicas, não sendo possível o diagnóstico parasitológico, recomenda-se que seja feito o imunoteste (ParaSight-Fa), que identifica apenas a malária causada pelo P. falciparum, e que os pacientes com sintomatologia compatível com malária e com imunoteste negativo sejam tratados para malária vivax. O tratamento de caso suspeito, sem confirmação diagnóstica, deve ser dirigido primeiramente para o P. falciparum, em área de prevalência dessa espécie. Se não houver melhora, o paciente deve ser encaminhado para unidade com qualificação para o tratamento correto. Estas recomendações constam do Manual de terapêutica da malária, do Ministério da Saúde, que deve orientar todas as ações de tratamento de todos os pacientes. Farmanguinhos/Fiocruz Miolo Memento14X21_2006_4.PMD 59 O tratamento adequado e oportuno previne a ocorrência de casos graves e a morte por malária, além de eliminar as fontes de infecção para os mosquitos, contribuindo para redução da transmissão da doença. • Malária O fosfato de cloroquina oral é a droga de escolha para tratamento das formas não complicadas, leves a moderadas de malária causadas por P. malariae, P. ovale e cepas susceptíveis de P. vivax e P. falciparum. Nas formas leves e moderadas de malária por P. falciparum resistentes à cloroquina, o tratamento pode ser feito com sulfato de quinina, associado com pirimetamina e sulfadoxina, doxiciclina, tetraciclina ou clindamicina. Como a cloroquina é ativa apenas contra as formas eritrocíticas 59 Memento Terapêutico 29/6/2006, 15:16 CLOROQUINA • ANTIMALÁRICO INDICAÇÕES ANTIMALÁRICO • CLOROQUINA CLOROQUINA pequena parte da droga está presente na parede intestinal. O metronidazol é considerado o tratamento de escolha para tratamento da doença intestinal e mesmo do abscesso hepático. assexuais do plasmódio, a droga não pode prevenir ataques primários prolongados e recorrência de malária por P. ovale e P. vivax e não promove a cura radical da malária causada por estas espécies, por causa de seus estágios exoeritrocitários. Assim, a primaquina pode ser associada a cloroquina para profilaxia e tratamento da malaria por P. ovale e P. vivax. Na artrite reumatóide, embora possa ser utilizada, vem sendo substituída por outras drogas, como o metotrexato. É usada como adjunto ao corticosteróide tópico no tratamento do lúpus eritematoso discóide e adjunto do corticosteróide sistêmico no tratamento do lúpus eritematoso sistêmico, quando a artrite é um sinal significativo. O uso prolongado da cloroquina pode provocar efeitos tóxicos graves e às vezes irreversíveis. • Amebíase extra-intestinal Cloroquina tem sido usada para tratamento da amebíase extraintestinal, incluindo abscesso hepático, causados por E. histolytica. Não é eficaz como tratamento da amebíase intestinal, pois é quase completamente absorvida pelo intestino delgado e apenas uma CONTRA-INDICAÇÕES • Hipersensibilidade conhecida • Portadores de psoríase • Porfiria POSOLOGIA • Tratamento da malária causada por P. malariae ou P. ovale e cepas de P. falciparum ou P. vivax susceptíveis à cloroquina. — Adultos e crianças: 25 mg/kg de cloroquina base, administrados em 3 dias. Diferentes esquemas de tratamento podem ser usados: 1) dose inicial de 10 mg de base/kg, seguida de 5 mg/kg 6 a 8 horas depois e 5 mg/kg em cada um dos dois dias seguintes; 2) 10 mg/kg no primeiro dia e 7,5 mg/kg no segundo e terceiro dias. • Prevenção de recaída da malária por P. vivax: dose única semanal durante 3 meses: 37,5 mg, 75 mg, 112,5 mg, 150 mg e 300 mg para pacientes com peso corporal de 5-6 kg, 7-14 kg, 15-18 kg, 19-35 kg, 36 kg e mais, respectivamente. • Amebíase extra-intestinal: — Adultos: 600 mg de cloroquina base (1 g de fosfato), 1 vez ao dia por 2 dias e 300 mg de cloroquina base 1 vez ao dia por 2 a 3 semanas. — Crianças: 10 mg/kg 1 vez ao dia por 2 a 3 semanas (máximo de 300 mg ao dia). A cloroquina deve ser usada em associação com um amebicida. Farmanguinhos/Fiocruz Miolo Memento14X21_2006_4.PMD 60 60 Memento Terapêutico 29/6/2006, 15:16 CLOROQUINA • Profilaxia da malária: — Adultos: 300 mg de cloroquina (500 mg de fosfato de cloroquina), 1 vez na semana, 1 a 2 semanas antes da exposição e até 4 semanas após. — Crianças: 5 mg/kg (8,3 mg de fosfato de cloroquina) uma vez por semana, sempre no mesmo dia. No Brasil, com alta prevalência de Plasmodium falciparum amplamente resistente à cloroquina, este uso perde sua eficácia. Com a melhora do quadro, a dosagem deve ser gradualmente reduzida em vários meses e suspensa assim que possível. Cloroquina é usada por via oral, ou quando não for possível, por via intramuscular. Os efeitos adversos gastrointestinais podem ser reduzidos por ingestão com alimentos. Cada 100 mg de fosfato de cloroquina são equivalentes a 60 mg de cloroquina. PRECAUÇÕES • Doença hepática • Exames oftalmológicos, incluindo fundoscopia, exame com lâmpada de fenda, testes do campo visual devem ser realizados antes e periodicamente durante o tratamento prolongado com cloroquina. • A medicação deve ser suspensa imediatamente com a ocorrência de distúrbios visuais. • Pacientes com disfunção hepática e alcoólatras devem ser monitorados freqüentemente. • Contagens hematológicas devem ser realizadas periodicamente, em pacientes com uso contínuo. • As crianças são mais sensíveis aos derivados 4-aminoquinolinas. • A escolha do agente antimalárico para supressão ou quimioprofilaxia depende da área endêmica e da duração da exposição. • Os viajantes devem ser informados de que, apesar da quimioprofilaxia, é ainda possível contrair malária. • Os viajantes devem ser avisados da importância da adoção de medidas para reduzir o contato com os mosquitos, como uso de repelentes, roupas especiais, telas de proteção etc. Os repelentes mais eficazes contêm dietiltoluamida (DEET), em concentrações de 30 a 95%, mas concentrações entre 30 a 35% são eficazes e com menor risco de efeitos adversos. O efeito do repelente dura 4 horas, mas há produtos com DEET de longa duração. Alguns indivíduos apresentam reações adversas ao DEET, inclusive encefalopatia tóxica e convulsões. Estas reações podem ser minimizadas com o uso mais racional do produto, limitando as áreas corporais e com baixas concentrações. Farmanguinhos/Fiocruz Miolo Memento14X21_2006_4.PMD 61 61 Memento Terapêutico 29/6/2006, 15:16 CLOROQUINA • ANTIMALÁRICO • Lúpus eritematoso e artrite reumatóide: 150 mg de cloroquina base ao dia (250 mg de fosfato de cloroquina). CLOROQUINA • Os sintomas de malária podem se desenvolver em 6 dias após a exposição inicial ou podem aparecer apenas depois de alguns meses. • A demora no tratamento pode provocar conseqüências graves e mesmo fatais. ANTIMALÁRICO • CLOROQUINA GRAVIDEZ E LACTAÇÃO: “categoria C” do FDA (vide pág. 10) A segurança no uso de cloroquina durante a gravidez ainda não está definitivamente estabelecida. O uso prolongado para tratamento de lúpus pode acarretar danos graves em nascidos de mães com doses de 250 mg 2 vezes ao dia. Nas doses recomendadas para malária não são observados danos ao feto. Excreção no leite é pequena. EFEITOS ADVERSOS/REAÇÕES COLATERAIS Nas dosagens habituais, os efeitos adversos da cloroquina são geralmente leves e reversíveis. Inclusões ou depósitos na córnea podem ser encontrados em 30 a 70% dos pacientes. O uso prolongado e altas doses podem resultar em toxicidade grave, às vezes irreversível, incluindo retinopatia. A retinopatia pode progredir, mesmo após suspensão da droga. Se detectada precocemente pode ser reversível, mas geralmente é permanente e,em casos raros, pode levar à cegueira. Os sinais precoces da retinopatia são o aumento generalizado da granulosidade e o edema da retina. A lesão progride para uma área central de despigmentação da mácula, circundado por um anel concêntrico de pigmentação. Estreitamento de arteríolas, palidez do disco ótico, atrofia ótica, pigmentação incompleta da retina e lesões maculares, como edema, atrofia, pigmentação anormal e perda do reflexo foveano podem ser encontrados. + Mais freqüentes – Menos freqüentes 0 Raros ou muito raros SNC: transtorno da acomodação visual, visão turva, cefaléia, fadiga, nervosismo, ansiedade, apatia, irritabilidade, agitação, agressividade, confusão, alteração da personalidade, depressão e estimulação psíquica, neurite periférica, neuromiopatia AC: alterações do eletrocardiograma, como inversão da onda T e alargamento do complexo QRS, bloqueio AV, cardiomiopatia AD: irritação gastrointestinal, náuseas, vômitos, estomatite, insuficiência hepática fulminante HEMAT: neutropenia, agranulocitose, anemia aplástica, trombocitopenia AGU: insuficiência renal em pacientes com deficiência de G-6-PD DERM: prurido, coloração azul-escura da boca, pele e unhas, branqueamento dos cabelos, queda de cabelos, exantema cutâneo Outros: opacidade da córnea, ataque agudo de porfiria e psoríase em pessoas susceptíveis, ototoxicidade, fraqueza muscular Farmanguinhos/Fiocruz Miolo Memento14X21_2006_4.PMD 62 62 Memento Terapêutico 29/6/2006, 15:16 CLOROQUINA INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS SUPERDOSAGEM Como os derivados 4-aminoquinolinas são rápida e completamente absorvidos pelo trato gastrointestinal, os sintomas de toxicidade aguda podem ocorrer dentro de 30 minutos após ingestão da droga e a morte dentro de 2 horas. As crianças são mais sensíveis, mas a margem de segurança para adultos também é pequena. Doses de 1,5 a 2,0 g podem ser fatais. Os sintomas e sinais da superdosagem incluem cefaléia, sonolência, distúrbios visuais, náuseas, vômitos, hipopotassemia, alterações eletrocardiográficas, colapso cardiovascular, convulsão. Hipotensão pode progredir para choque e parada respiratória e cardíaca. O tratamento deve ser urgente. Lavagem gástrica realizada prontamente pode resultar em algum benefício. Manutenção das funções cardiovasculares e respiratórias são as medidas mais importantes. Procedimentos de diálise não são úteis. FARMACOLOGIA CLÍNICA Cloroquina é um agente esquizonticida sangüíneo ativo contra as formas assexuadas eritrocíticas da maioria das cepas de Plasmodium malariae, P. ovale, P. vivax, e algumas cepas de P. falciparum. A droga não é ativa contra as formas pré-eritrocitárias ou exoeritrocitárias do plasmódio. A resistência do P. falciparum à cloroquina é variável geograficamente. • Mecanismo de Ação: Os derivados 4-aminoquinolinas ligam-se às nucleoproteínas e interferem com a síntese de proteínas; inibem a polimerase do DNA e RNA. Concentramse nos vacúolos digestivos do parasita, aumentando o pH, interferindo na capacidade do parasita de metabolizar e utilizar a hemoglobina da hemácia. As formas exoeritrocitárias do plasmódio não têm vacúolos digestivos, não utilizam a hemoglobina e não são afetadas pela cloroquina. A cloroquina atua como amebicida tissular, por mecanismo pouco conhecido. Tem atividade antiinflamatória, mas o mecanismo de ação na artrite reumatóide e no lúpus não é conhecido. Estudos in vitro indicam que a cloroquina também inibe a quimiotaxe dos leucócitos polimorfonucleares, macrófagos e eosinófilos. • Farmacocinética: Absorção rápida e quase completa; pico plasmático em 1 a 2 horas; distribuise amplamente nos tecidos, concentra-se na íris, coróide e menos na córnea, retina, esclera e também nas hemácias. Atravessa a placenta e distribui-se no leite. Meia-vida plasmática de 72 a 120 horas; metabolizada no fígado e excretada lentamente na urina. Farmanguinhos/Fiocruz Miolo Memento14X21_2006_4.PMD 63 63 Memento Terapêutico 29/6/2006, 15:16 CLOROQUINA • ANTIMALÁRICO • 3–antiácidos: podem reduzir a absorção da cloroquina. • 3–clorpromazina: aumento das concentrações de clorpromazina. • 3–ciclosporina: elevação dos níveis séricos de ciclosporina, com riscos de toxicidade. • 3–cimetidina: os efeitos farmacológicos da cloroquina podem ser aumentados. • 3–metotrexato: redução dos níveis de metotrexato. • 3–praziquantel: redução da absorção do praziquantel.