Pré-Cálculo Humberto José Bortolossi Departamento de Matemática Aplicada Universidade Federal Fluminense Aula 4 23 de agosto de 2010 Aula 4 Pré-Cálculo 1 A recíproca de “Se A, então B.” Os conjuntos N = {1, 2, 3, . . .} Existem “infinitos” diferentes! e (0, 1) = {x ∈ R | 0 < x < 1} são infinitos, mas não possuem o mesmo número cardinal. Em um certo sentido, o intervalo (0, 1) é “mais infinito” do que o conjunto N dos números naturais! Aula 4 Pré-Cálculo 2 Teorema Aula 4 Pré-Cálculo 6 Teorema (5) Temos então: N e (0, 1) não possuem o mesmo número cardinal. f (1) = 0.d1,1 d1,2 d1,3 d1,4 . . . , Demonstração. f (2) = 0.d2,1 d2,2 d2,3 d2,4 . . . , (1) Devemos mostrar que não existe uma bijeção entre N e (0, 1). f (3) = 0.d3,1 d3,2 d3,3 d3,4 . . . , (2) Suponha, por absurdo, que uma tal bijeção exista: f : N → (0, 1). (3) Assim, para cada n ∈ N, f (n) é um número real entre 0 e 1 e para cada número real r entre 0 e 1 existe um único natural n tal que f (n) = r . (4) Para cada n, vamos representar o número real f (n) através de sua expansão decimal. No caso de números com duas expansões decimais (por exemplo, 0.5 = 0.49 = 0.4999 . . .), escolhemos aquela que é infinita (por exemplo, para 0.5 escolhemos 0.49). (5) Temos então: f (1) = 0.d1,1 d1,2 d1,3 d1,4 . . . , f (2) = 0.d2,1 d2,2 d2,3 d2,4 . . . , (6) Vamos construir um número real x = 0.p1 p2 p3 p4 . . . da seguinte maneira: Se d1,1 = 5, então p1 = 4. Caso contrário, p1 = 5. Se d2,2 = 5, então p2 = 4. Caso contrário, p2 = 5. Se d3,3 = 5, então p3 = 4. Caso contrário, p3 = 5. E assim por diante. (7) O número real x = 0.p1 p2 p3 p4 . . . pertence ao intervalo (0, 1), mas x = f (1) (pois p1 = d1,1 ), x = f (2) (pois p2 = d2,2 ), x = f (3) (pois p3 = d3,3 ), etc. Isto contradiz o fato de f : N → (0, 1) ser sobrejetiva. Logo, não existe bijeção entre N e (0, 1). f (3) = 0.d3,1 d3,2 d3,3 d3,4 . . . , f (4) = 0.d4,1 d4,2 d4,3 d4,4 . . . , .. . Aula 4 f (4) = 0.d4,1 d4,2 d4,3 d4,4 . . . , .. . Pré-Cálculo 20 Aula 4 Pré-Cálculo 38 Georg Cantor Números reais Matemático alemão (3 de março de 1845 – 6 de janeiro de 1918) Aula 4 Pré-Cálculo 39 Aula 4 Pré-Cálculo 40 Números reais Geometricamente: através dos pontos da reta numérica. Numericamente: através das expansões decimais. Algebricamente: através dos axiomas de corpo ordenado completo. Aula 4 Pré-Cálculo Números reais geometricamente 41 Aula 4 Pré-Cálculo 42 Medir é comparar uma grandeza com uma unidade Projeto grego: medida de segmentos (Ir para o GeoGebra) Aula 4 Pré-Cálculo 46 Segmentos comensuráveis Aula 4 Pré-Cálculo 47 Dois segmentos são sempre comensuráveis? Definições D Se um segmento u = CD é tomado como unidade, sua medida é, por definição, igual a 1. C Considere o quadrado ABCD ao lado. Segmentos congruentes, por definição, possuem a mesma medida. Dado um segmento AB, se n pontos interiores decompuserem AB em n segmentos justapostos, então a medida de AB será igual à soma das medidas desses n segmentos. Se estes segmentos parciais foram todos congruentes a u, então diremos que u cabe n vezes em AB e a medida de AB será, por definição, igual a n. A diagonal AC e o lado AB do quadrado são comensuráveis? Diremos que dois segmentos AB e CD são comensuráveis se existe um segmento w = RS que cabe n vezes em CD e m vezes em AB. Nesse caso, w será então uma medida comum de CD e AB. Observe também que, nesse caso AB m·w m = = . n · w n CD Aula 4 Pré-Cálculo A 57 B Aula 4 Pré-Cálculo 60 Dois segmentos são sempre comensuráveis? Demonstração Suponha, por absurdo, que exista w tal que AC = m · w, AB = n · w e, por conseguinte, D x= C Note então que o número x é racional. Pelo teorema de Pitágoras, Existe w tal que (AC)2 = (AB)2 + (BC)2 = (AB)2 + (AB)2 = 2 · (AB)2 . AC = m · w, AB = n · w Portanto, e, por conseguinte, x = B Pré-Cálculo AC AB 2 = 2. Resumindo: x = m/n e x 2 = 2. Sem perda de generalidade, podemos supor que x = m/n, onde m e n não possuem fatores em comum. Se x = m/n e x 2 = 2, então (m/n)2 = 2 e, por conseguinte, m2 = 2 · n2 . Então, m2 é um número par. Por um exercício resolvido em uma aula anterior, concluímos que m deve ser par: m = 2 · k para algum inteiro k . Desta maneira, 2 · n2 = m2 = (2 · k )2 = 4 · k 2 . Daí, segue-se que n2 = 2 · k 2 . Logo, n2 é par. Por por um exercício resolvido em uma anterior, concluímos que n é par. Mas se m é par e n é par, então m e n possuem um fator em comum (2), uma contradição. Não! Aula 4 2 AC m = ? n AB A AC m = . n AB 62 Para desespero de Pitágoras. . . Aula 4 Pré-Cálculo 86 Para os gregos. . . . . . os números racionais não são suficientes para descrever a medida de qualquer segmento. . . . números são medidas de segmentos e eles sabiam somar, multiplicar, dividir e ordenar números . . . . . . usando geometria! (Ir para o GeoGebra) Aula 4 Pré-Cálculo 89 Aula 4 Pré-Cálculo 94 A reta numérica (Ir para o GeoGebra) Aula 4 Pré-Cálculo 95