XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010. MARKETING VIRAL: PERCEPÇÃO E DISSEMINAÇÃO ENTRE JOVENS INTERNAUTAS DE CIDADES DO VALE DO ITAJAÍ - SC Carla Uller (FURB) [email protected] Giancarlo Gomes (FURB) [email protected] Rita Buzzi Rausch (FURB) [email protected] O marketing viral é considerado a evolução do marketing boca a boca para o meio digital. Ele abrange o planejamento e a execução de ações que têm como objetivo principal estimular o marketing boca a boca da empresa pela Internet, aproveitanndo-se das redes virtuais de contato. Neste contexto, o marketing, tão atuante nos meios massivos de comunicação, volta-se também para o mercado digital. O presente artigo tem como tema o marketing viral, o qual se configura como uma estratégia de marketing inserida no meio digital, disseminada pela rede como um “vírus”. O uso da rede mundial de computadores como meio de divulgação da mensagem promocionais envolvem aspectos de interatividade e sincronicidade tornando-se frequentes na formulação de programas de comunicação de marketing. Todavia, é necessário ponderar, esse tipo de efeito nem sempre funciona de forma controlada, é possível que o envio da mensagem aconteça de forma negativa, com uma corrente que leva à disseminação de críticas ou então de comentários negativos quanto ao material propagado. Neste contexto, o estudo teve por objetivo geral, analisar como jovens internautas percebem e disseminam o marketing viral. Mais especificamente verificar a compreensão e disseminação do marketing viral pelo público pesquisado e identificar quais modelos de narrativas são bem sucedidas neste público. A pesquisa classifica-se como predominantemente qualitativa, embora utilize dados quantitativos. Quanto aos objetivos possui um caráter exploratório. Quanto aos procedimentos foi feito um levantamento ou survey, em que os dados foram coletados por meio de questionário com questões abertas e fechadas via endereço de e-mail dos participantes. A amostragem foi não probabilística e por acessibilidade ou conveniência. Os sujeitos foram 52 jovens com idade entre 17 e 30 anos, que utilizam a Internet e que residem no Médio Vale do Itajaí. Conclui-se que a grande maioria dos participantes desconhece a estratégia viral. Os sujeitos demonstraram estar mais interessados no que a mensagem transmite a eles, se eles gostarem, vão retransmitir, caso contrário, não. A mensagem precisa ter apelos que incentivam a disseminação. A grande maioria dos jovens internautas pesquisados desconhece a estratégia viral, não observando a convivência com a mesma, uma vez que uma parte significativa dos entrevistados assumiu repassar mensagens a outras pessoas. Tal conclusão mostra a invisibilidade do viral - os entrevistados disseminam, sem ter consciência de que o fazem. No que se refere às narrativas que são bem sucedidas no público pesquisado, conclui-se que a mensagem viral deve passar uma Palavras-chaves: Marketing Viral. Internet. Jovens Internautas 2 1. Introdução As demandas da atual sociedade criaram um modelo de organização social democrático e descentralizado, facilitado pela conectividade digital. A sociedade aproveita esta conectividade para o encontro com grupos que preencham seus interesses, favorecendo o compartilhamento de ideias comuns. A Internet permite que pessoas e computadores fiquem interligados, que mensagens sejam transmitidas e transformadas em tempo real, realimentando constantemente a rede, ultrapassando as barreiras geográficas. É crescente interesse por parte acadêmica em dedicar-se a pesquisas sobre o e-marketing e em especial às diversas estratégias de comunicação tendo como base o uso da Internet. Entre outros podemos citar os estudos de Modzelewski (2000); Barret (2001); Barwise, Elberse e Hammond (2002); Bentivegna (2002); Subramani e Rajagopalan (2003); Henry (2003); Phelps, et al (2004); Osterwij e Loeffen (2005); Andrade, Mazzon e Katz (2006); Hill (2006); Silva (2008); Ho e Dempsey (2009), entre outros. A novidade introduzida pela Internet é a multiplicidade de maneiras do indivíduo manifestar a sua opinião e, no caso específico da relação cliente e empresa, tornar-se um agente ativo de divulgação da marca, produto ou serviço de determinada organização. Essa multiplicidade de mecanismos associa-se e ao mesmo tempo implica no potencial de alcance dessa participação do cliente, ao extrapolar o simples círculo de amizades, sendo replicada indefinidamente pela rede. (SILVA, 2008). Mais de 80% das pessoas seguem as recomendações de um familiar, amigo ou um profissional ao adquirirem um produto ou serviço. Cada cliente possui uma rede de relacionamentos. Essa rede de contato se torna a principal fonte para os consumidores obterem informações sobre inovações. (CAFFERKY, 1999). As novas possibilidades proporcionadas pelo uso da rede mundial de computadores como meio de divulgação da mensagem promocional envolvem aspectos de interatividade e sincronicidade tornando-se frequentes na formulação de programas de comunicação de marketing das organizações. (ANDRADE; MAZZON e KATZ, 2006). Do ponto de vista acadêmico os autores argumentam que a abordagem sistematizada sobre o tema deve fornecer subsídios para o entendimento da natureza destes novos processos, da eficiência das estratégias adotadas, dos resultados obtidos em termos de capacidade de alcance da mensagem, de sua decodificação e da atitude do receptor em relação à mensagem e ao anunciante. Neste novo contexto, o marketing, tão atuante nos meios massivos de comunicação, volta-se também para o mercado digital. Estratégias diversificadas passam a ser aplicadas no meio on-line, como chamado marketing viral. No entanto, existe certa divergência e compreensão do que seja marketing viral, neste contexto, o estudo tem por objetivo analisar como jovens internautas percebem e disseminam o marketing viral. Mais especificamente verificar a compreensão e disseminação do marketing viral pelo público pesquisado e identificar quais modelos de narrativas são bem sucedidas neste público. Para mensurar de forma empírica os resultados relativos a estes temas, foi realizada pesquisa exploratória junto a 52 usuários da Internet. Esta pesquisa foi dividida em quatro partes, além desta primeira parte introdutória, a segunda apresenta a fundamentação que orienta o estudo. Na terceira consta a metodologia seguida para desenvolvimento da pesquisa. Na quarta etapa estão descritos os resultados da pesquisa e, por último, estão sintetizadas as considerações finais. 3 2. Apresentação Teórica de Conceitos-chave 2.1 Marketing “Boca a Boca” O marketing boca a boca pode ser considerado tão antigo quanto a fala, uma vez que comunicar é uma necessidade do ser humano. Rosen (2001) esclarece que o marketing boca a boca é o burburinho, conversa, difusão de mensagem de pessoa para pessoa. Por outro lado, “a divulgação de novos produtos e serviços por canais interpessoais é também conhecida como propaganda boca a boca.” (SCHIFFMAN; KANUK, 1995, p.395, grifo nosso). Para Carson (2005) o boca-a-boca é reconhecido como uma das mais poderosas ferramentas para influenciar o mercado, no entanto ainda representa um enigma para os praticantes de marketing na medida em que as teorias intuitivas acessíveis a respeito de como o boca-a-boca funciona, não se conectam com as metodologias de pesquisa utilizadas para planejamento quantitativo. A maior parte do marketing ainda se concentra em como usar a publicidade e outras ferramentas para influenciar individualmente cada cliente, ignorando o fato da aquisição de diversos produtos fazer parte de um processo social. Essa aquisição envolve não só a interação pessoal entre a empresa e o cliente, mas também muitas trocas de informações e influências entre as pessoas que rodeiam o cliente (ROSEN, 2001, p.19). Na visão de Cuneo (1994, p.12), “as empresas freqüentemente empregam técnicas para acelerar a difusão de novos produtos e serviços utilizando a propaganda boca a boca.” Os comentários utilizam muitos veículos, mas independentemente de se deslocarem por meio de linhas telefônicas, mensagens eletrônicas, folhas de papel ou por cima da mesa de jantar, os comentários começam sempre em um cérebro e acabam em outro (ROSEN, 2001). Chetochine (2006) cita que estamos cada vez mais interligados por tecnologias que se espalham à velocidade da luz. Com esta disseminação, há mais informação. Rosen (2001, p.27) escreve que para se proteger de tantos anúncios que recebemos por dia, “os clientes filtram a maioria das mensagens que chegam até eles por intermédio dos meios de comunicação de massa. Não obstante, esses mesmos clientes ouvem seus amigos.” Segundo Bentivegna (2002), o crescimento do número de consumidores conectados à Internet motiva as empresas a buscarem caminhos para maximizar o marketing boca a boca por meio de ferramentas on-line, como o marketing viral. Para Rosen (2001), quanto mais conectados estiverem seus clientes, mais você dependerá dos rumores para realizar futuros negócios. As novas ferramentas permitem que os clientes se comuniquem não só com as pessoas que conhecem, mas também com estranhos. Elas permitem na essência que cada cliente irradie informações para o resto do mundo. No entendimento de Dizerd Jr. (2000), o futuro das comunicações está na confluência das mídias antiga e nova. A nova mídia a que o autor se refere é a Internet. 2.2 Internet Poucos anos foram suficientes para grandes evoluções tecnológicas que mudaram o caminho da história humana. A Rede Mundial de Computadores, popularmente conhecida como Internet, é hoje um fenômeno crescente em todo o mundo. Conforme Schullo et al (2001, p.99), “a Internet era uma rede muito calma e pequena há apenas alguns anos.” 4 Muitos estudiosos, a exemplo de Venetianer (1999, p.59), citam que “a Internet nasceu nos meios acadêmicos e militares.” De acordo com Schullo et al (2001, p. 100), “a primeira descrição registrada de interações através de redes foi uma série de memorandos escritos por J.C.R. Licklider, do MIT, em agosto de 1962.” Ainda consideram que “Licklider visualizou um conjunto de computadores interligados globalmente através do qual todos teriam acesso rápido a dados e programas de qualquer lugar.” Carniello (2003, p.125), versa que “os desafios de temporalidade e da espacialidade para emissão de uma mensagem foram as razões que levaram o homem a buscar meios [...] para emissão, armazenamento e distribuição das mensagens.” Segundo a pesquisa Twitter Brasil (2009), as ferramentas 2.0 que o público do Microblog Twitter mais utiliza são: Orkut (90.97%), Youtube (89.63%) e Blog (59.27%). Atualmente, o receptor pode editar a informação, questioná-la e retransmiti-la. Conforme Dizard Jr (2000, p. 41), “os consumidores podem até mesmo evitar a estrutura da mídia antiga, instalando suas próprias redes eletrônicas. O resultado pode ser uma nova espécie de ambiente de comunicações democrático.” Com tantas possibilidades, a sociedade muda, mudando com isso, o discurso da comunicação. Há uma revolução nas relações comerciais e de consumo Cartellieri et al (2002) argumenta que as características que fazem da Internet um veículo superior, incluem sua possibilidade de direcionamento, interatividade e customização. A formação da esfera comunicativa moderna, que se estruturou com o nascimento dos meios de comunicação, provocou o surgimento de uma série de fenômenos novos, no contexto dos quais esses meios foram se tornando cada vez mais poderosos, despertando a preocupação das mais diversas disciplinas do conhecimento humano para com a comunicação (RÜDIGER,1998, p.15). A Internet alcança muitos públicos. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD de 2005, principalmente o público jovem, ícone representativo da adesão às novas tecnologias. As empresas passam a utilizar a Internet como canal de comunicação com o consumidor, que passa a ser mais ativo, quer se autoservir, pesquisar sobre o produto. Dizard Jr, (2000, p.40) escreve que “a mídia clássica e a nova mídia oferecem recursos de informação e entretenimento para grandes públicos, de maneira conveniente e a preços competitivos.” Esta competitividade movimenta os mercados, trazendo concorrência e novas possibilidades de estratégias comerciais. 2.3 Marketing Viral O marketing viral é considerado a evolução do marketing boca a boca para o meio digital. Rosen (2001, p.33) cita a afirmação de Steve Douty, vice-presidente de Marketing da Hotmail, ao se referir ao marketing viral: “é a comunicação boca a boca sob efeito de anabolizantes.” A Internet acelera os rumores, fazendo com o MSN, e-mails, blogs, entre outros, sejam condutores virtuais da comunicação boca a boca. Bruner (1998, p.192) escreve que “com milhões de sites competindo pela atenção dos usuários [...] as empresas da web precisam construir tráfego rapidamente para atingir seus objetivos de marketing.” O nome marketing viral, embora venha a sugerir algo inédito, somente o é, no limite em que os fenômenos da comunicação mediática o podem ser: ela carrega consigo significados, pistas de fenômenos já assimilados e conhecidos do público, pois essa é uma pré-condição necessária para que o novo possa ser entendido. (SILVA, 2008) Rosen (2001, p.195) escreve que “as técnicas do marketing viral se prestam aos produtos que permitem às pessoas interagir de alguma forma.” E ainda, que o marketing viral 5 “terá o máximo de efeito se seu produto puder ser incorporado de alguma forma na comunicação entre duas pessoas”. Para Subramani e Rajagopalan (2003, p.300), o marketing viral é “a tática de criar um processo pelo qual pessoas interessadas envolvem outras.” Uma vez que todo cliente que recebe informações de um amigo pode reproduzi-las e distribuí-las instantaneamente entre dezenas ou centenas de outros amigos, essa forma de marketing por intermédio da Internet foi batizada de “marketing viral”. Da mesma forma que uma gripe se espalha por meio de espirro, tosse e apertos de mão, suas ofertas podem agora se espalhar por meio de cartões, cupons eletrônicos e e-mails do tipo convide um amigo (ROSEN, 2001, p.190). Sterne (2000) considera que o marketing viral engloba o planejamento e a execução de ações que têm como intuito estimular o marketing boca a boca da empresa pela Internet, aproveitando-se das redes virtuais de contato. Stanbouli (2003) acredita que o marketing viral nada mais é que um método de marketing adaptado ao meio Internet. Segundo ele, o marketing viral é uma “readaptação dos dispositivos e materiais simbólicos utilizados pela propaganda, integrando-os aos códigos e especificidades da Internet para distribuir uma dada mensagem, com o máximo de eficácia.” (STANBOULI, 2003, p.97). O efeito pretendido por ações deste tipo é a ampliação dos comentários que gerem evidência para o praticante de marketing, objetivando a transferência de atributos positivos e aumento dos níveis de recall e de valorização simbólica da marca. (ANDRADE; MAZZON; KATZ, 2006) Tantas definições apontam o marketing viral como uma estratégia que precisa ser bem definida e estudada antes de aplicada. A união com outras mídias podem gerar bons resultados. Segundo Ávila (2007), citando o estudo chamado The Origin & Impact of CPG New Products Buzz, publicado em julho de 2007, a mídia de massa e o mix que envolve marketing direto e ações que consideram compra de espaço na web, ainda possuem um importante papel no lançamento da maioria dos produtos nos Estados Unidos. A pesquisa aponta que de mil ações de marketing viral, apenas uma se torna bem-sucedida. Ávila (2007), ainda cita a pesquisa realizada pela Jupiter Research, com o título Bringing the Message to 31 the Masses, revelando que no ano de 2006, apenas 15% das ações de marketing viral resultaram em boca a boca feito pelos clientes. É necessário ponderar, entretanto, que esse tipo de efeito nem sempre funciona de forma controlada: é possível que o envio da mensagem ocorra de forma negativa, com uma corrente que leva à disseminação de críticas ou então de comentários desabonadores quanto ao material propagado. (ANDRADE; MAZZON; KATZ, 2006). Uma das intenções do viral é não ser percebido como tal. Rosen (2001, p. 200, 2001) cita que, “no momento em que se sentirem supostamente obrigados a divulgar seu produto, seus clientes desaparecerão”. Há ainda o marketing viral criado por pessoas comuns, sem a intenção de fazer propaganda, mas que acabam por fazê-la. Um exemplo seria a grande variedade de vídeos caseiros encontrados no site youtube, relacionados a alguma marca. Muitos destes não são solicitados por nenhuma empresa, sendo produzidos e distribuídos por conta do internauta, evidenciando quão importante é a mídia digital para o marketing. Como exemplos de marketing viral, conforme Hill et al (2006), a primeira ação bem sucedida foi utilizada pela Microsoft, por meio do Hotmail, em 1996. Todos os e-mails enviados pelos assinantes vinham com a seguinte frase no rodapé: Tenha seu e-mail grátis do Hotmail. Sua base de assinantes passou de 20 mil para um milhão em apenas seis meses. A empresa investiu US$ 50 mil, muito menos que empresas semelhantes investiam em mídias tradicionais, obtendo resultados inferiores. 6 Um segundo exemplo de marketing viral, é o Twitter, uma rede social e servidor para microblogging (<http://twitter.com>). Conforme Xavier, para a revista Você S/A (2009, p. 50), “o site TwitterCounter registrava no fim de maio cerca de 2,6 milhões de contas ativas no mundo.” Nesta rede, mensagens são distribuídas diariamente, muitas associdos a marcas. A pesquisa Twitter Brasil (2009), feita pela Bullet, demonstrou que os usuários da rede social confiam nas opiniões e dicas dos outros membros da ferramenta. 85% dos usuários acreditam que o Twitter aproxima as pessoas. A pesquisa também citou as ferramentas mais usadas pelos twitters: e-mails (74,54%), notícias (70,50%) e mensagens instantâneas (MSN/Gtalk) (66,46%), todos meios do marketing viral. O destaque é para o costume de clicar em links enviados pelo Twitter: 96,99% clicam. 79,18% costumam retwittar (repassar) coisas que acham interessantes. 69,44% seguem ou já seguiram perfis de empresas, eventos ou campanhas publicitárias. Um terceiro exemplo de utilização de marketing viral, foi a venda do iPod (player de músicas) da marca Apple. Segundo Carvalho (2005), a marca utilizou blogs, virais e cartazes lambe-lambe e sem absolutamente nenhuma propaganda veiculada no Brasil, tornou o aparelho um grande desejo de consumo do país. Outro exemplo, muito conhecido e acessado por milhares de brasileiros foi uma estratégia da marca Google: o Gmail. Segundo Carvalho (2005), o Gmail criou sua concepção "por indicação", onde o internauta só podia criar um e-mail se fosse indicado por algum internauta já participante. A ideia virou febre e uma conta no Gmail chegou a ser disputada em leilões no ebay nos Estados Unidos. 3. Métodos e Técnicas da Pesquisa Para responder aos objetivos, inicialmente fez-se necessário o delineamento de um estudo bibliográfico. Partindo da necessidade de obter um conhecimento mais abrangente e atualizado dos objetivos, a pesquisa é exploratória, uma vez que, segundo Raupp e Beuren (2004, p.80) “a caracterização do estudo como pesquisa exploratória normalmente ocorre quando há pouco conhecimento sobre a temática a ser abordada.” Quanto à abordagem, a pesquisa se configura como qualitativa, com uso de dados quantitativos. Quanto aos procedimentos, a pesquisa classifica-se como de levantamento ou survey. Para Gil (1999), este tipo de pesquisa se caracteriza pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se a solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida, obter as conclusões correspondentes aos dados coletados. A amostragem foi não probabilística e por acessibilidade ou conveniência, que, segundo Colauto e Beuren (2004, p.125) “faz uso do raciocínio, dependendo exclusivamente dos critérios do pesquisador para construir amostras.” Buscou-se simular uma corrente que reproduzisse as características das táticas virais. Participaram desta pesquisa 52 jovens com idade entre 17 e 30 anos, que utilizam a Internet e que residem principalmente na cidade de Blumenau, bem como outras cidades vizinhas que integram o Médio Vale do Itajaí. Estabeleceu-se o critério da idade tendo como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2005 onde a pesquisa demonstrou que está faixa etária representa o maior índice de acesso à internet. Na coleta de dados, utilizou-se um questionário com questões abertas e fechadas, visando resultados mais objetivos. O questionário abordou questões para caracterização dos entrevistados como, gênero, idade, ocupação, questões de hábitos de consumo da internet como freqüência de acesso, finalidade do acesso, local de acesso, motivos para disseminar arquivos e tipos de arquivo 7 disseminados, bem como as associações da mensagem a marca ou empresa. O questionário também abordou fatores que influenciam a propagação da mensagem viral, e se o jovem entrevistado sabe identificar o que é marketing viral. Inicialmente, os questionários foram enviados para o endereço eletrônico de pessoas conhecidas dos pesquisadores autores da pesquisa que atendiam ao critério da idade mencionado anteriormente. Solicitou-se a estas pessoas que, além de preencherem o questionário e o devolverem, que o encaminhassem aos seus contatos eletrônicos também, respeitando o critério da idade. Portanto, os questionários foram enviados para o endereço eletrônico de determinados sujeitos, que os encaminharam a outros sujeitos e após seu preenchimento o re-encaminharam ao endereço eletrônico de origem, simulando assim as características das táticas virais. 4. Levantamento e Análise de Dados 4.1 Caracterização e perfil dos sujeitos da pesquisa Com base na idade média dos internautas do Estado de Santa Catarina, apresentada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD de 2005 foram pesquisados 52 jovens com idade entre 17 e 30 anos, que utilizam a Internet e que residiam, na fase da coleta de dados, na cidade de Blumenau e outras cidades do médio Vale do Itajaí. Destes, 32 jovens tinham idade entre 26 e 30 anos (62%), 16 entre 22 e 25 (31%) e quatro entre 17 e 21 anos (8%). 55,4% dos jovens eram do gênero masculino e 44,6% do gênero feminino. Limitando as entrevistas nas cidades da pesquisa, 68,1% dos jovens eram moradores da cidade de Blumenau, 19,1% da cidade de Gaspar e 12,8% da cidade de Indaial. Quanto às atividades dos entrevistados, foram categorizadas na pesquisa; estudante, publicitário, empresário, vendedor e outras: sendo que 10,2% responderam serem publicitários e jornalistas, professores e profissionais da área de educação (12,8%), gerentes (2,6%), estudantes (20,2%), empresários e vendedores (8,5%), os demais respondentes não informaram a sua profissão. A pesquisa focou o uso pessoal da Internet, ou seja, o uso particular – para fins pessoais, onde o marketing viral costuma ser disseminado. Todos os sujeitos da pesquisa (100%), afirmaram utilizar a Internet para fins pessoais, sendo que 78% usam para fins de entretenimento e informação, 16% para fins de informação e 6% para fins únicos de entretenimento. 89% dos jovens usavam o próprio domicílio e/ou o local de trabalho para estes fins. Os demais 11% utilizam outros locais, como lan houses, Instituições de Ensino e celulares. Com base no perfil dos participantes, buscou-se analisar as características destes nas ações de marketing viral. Assim, perguntas foram direcionadas para que este estudo pudesse responder aos objetivos propostos. Os pesquisados podem ser considerados potenciais disseminadores de marketing viral, uma vez que 70,2% acessam a Internet para fins pessoais todos os dias, 17% acessam de 4 a 5 vezes por semana e apenas 12,8% de 1 a 3 vezes por semana. Ao serem questionados sobre as ferramentas da Internet que mais usavam para atingir suas necessidades de entretenimento e/ou informação, os dados mostraram que 100% usavam e-mails, seguidos pelo MSN (66%), Orkut (59.6%), You tube (49%), jornais eletrônicos (38.3%), Twiter (19.1%), Google (17%) e Bloggers (12.8%). Percebe-se que a maioria dos jovens pesquisados utiliza-se principalmente do MSN e Orkut. Tendo como foco do trabalho identificar se os participantes recebiam e disseminavam o marketing viral, conscientemente ou não, fez-se necessária a seguinte pergunta: Costuma 8 receber mensagens pela Internet? No questionário foram exemplificadas como mensagens: fotos, vídeos, músicas, textos, cartões e afins. 95,8% dos jovens afirmaram receber mensagens pela Internet, enquanto apenas 4,2% afirmaram não receber nenhum dos exemplos citados. Mesmo os internautas que afirmaram não receber nenhuma mensagem exemplificada, continuaram a responder o questionário, mostrando o conflito da resposta dada. Questionados sobre quais pessoas enviavam as mensagens, a grande maioria assinalou amigos (85.1%) e familiares (40.4%), seguidos de colegas de trabalho (34%), e em número menor, desconhecidos (6.4%). Buscando visualizar qual o meio digital mais utilizado pelo marketing viral na região, o e-mail alcançou 100% das respostas, sendo o mais reconhecido pelos internautas quanto ao recebimento de mensagens/marketing viral, acompanhado pelo MSN (19,1%), Orkut (12,8%) e Twitter (8,5%). Tais respostas mostram os meios mais observados, contudo, não necessariamente os mais utilizados, uma vez que como citado anteriormente, o objetivo do marketing viral é não ser percebido. Essa “invisibilidade” pode ser observada na tabela 1, formulada a partir de um questionamento sobre a relação das mensagens com alguma marca ou empresa. Na tabela pode-se observar que a mensagem (marketing viral) não costuma ser associada com uma marca: Frequência Percentual (%) Sempre --Quase sempre 21 Raramente 64 Nunca 15 Tabela 1: Mensagens associadas a alguma marca ou empresa Quanto maior o número de pessoas dispostas a retransmitir uma mensagem virtual, mais veloz é a sua propagação pela Internet. Uma das perguntas mais reveladoras do estudo foi: Você costuma repassar estas mensagens a outras pessoas? 70,2% afirmaram não repassar nenhum tipo de mensagem a ninguém, enquanto 29,8% afirmaram repassar tais mensagens adiante. Para Phelps et al (2004) os consumidores que estão particularmente envolvidos no processo de encaminhamento de e-mails adiante aderem a um novo tipo de contrato social. Para dar força a esse contrato é necessário aceitar uma norma de reciprocidade, a qual dita que se alguém faz alguma coisa para você, então você está compelido a retornar este favor. Com base na questão anterior, criou-se outro questionamento: O que a mensagem precisa conter para que você a repasse? Os entrevistados enfatizaram a opção humor, seguida da opção conteúdo da mensagem. Observe na tabela 2: Fatores Percentual (%) Humor 65,9 Conteúdo 61,7 Impacto 34 Sentimento 19,1 Duração 2,1 Formato 2,1 Tamanho 8,5 Outro 2,1 Tabela 2: Fatores que influenciam a propagação da mensagem viral Analisando a tabela 2, percebe-se que narrativas relacionadas ao humor, conteúdo e impacto são fatores indispensáveis para o sucesso do marketing viral. A diversão da 9 mensagem se mostra um ponto de destaque. Os entrevistados ressaltaram os aspectos lúdicos e de entretenimento para que repassem as mensagens. Isso vem ao encontro do que já comentaram Chung e Zao (2003) onde os autores destacam que muitas marcas utilizam o humor como forma de atrair a atenção da audiência, justificando que quando o público é diverso, o humor é uma boa opção para atrair a atenção, pois além de auxiliar a obter uma atitude favorável em relação ao que foi veiculado, fixam a marca na memória. Na década de 90, outros autores já comentaram sobre as contribuições que o humor para o marketing viral (SCOTT, KLEIN e BRYANT, 1990, CHATTOPADHYAY; BASUS, 1990; ALDEN, HOYER, LEE, 1993). Segundo Phelps et al (2004) para que o marketing viral acontece quando uma produção realmente criativa atrai a atenção e estimula a comunicação entre os consumidores, que participam ativamente do processo. Para atingir os objetivos propostos, também fez-se necessário questionar (por meio de pergunta aberta) aos sujeitos sobre como chamam/nomeiam as mensagens recebidas. Conforme a tabela, 3, 29,8% dos jovens acreditavam que todas as mensagens recebidas, as mensagens que eles conseguiam identificar, são spans. Tal definição dá-se tanto pelo fato dos entrevistados não terem conhecimento do que é marketing viral, como pela falta de conhecimento da correta definição de spans, bem como, por não associarem muitas das mensagens recebidas com as estratégias de marketing. Nenhum entrevistado nomeou as mensagens como Marketing Viral. Definição Percentual (%) Spam 29,8 E-mail 27,7 Propaganda 19,1 Mensagens 2,1 Corrente 4,3 Mailings 2,1 Merchandising 2,1 Não sei 12,8 Marketing Viral --Tabela 3: Classificação das mensagens recebidas pelos internautas Os entrevistados foram questionados (pergunta aberta) sobre o que é o marketing viral. 61,7% afirmam não saber o significado. Um número baixo, comparado com as respostas obtidas anteriormente. O restante, 39,3%, responderam saber o significado de marketing viral. Estes significados foram analisados e separados, conforme segue. 4.2 Significados de marketing viral destacados pelos sujeitos da pesquisa 4.2.1 Spam Seguindo o resultado da tabela 3, um grupo de entrevistados que afirmaram saber o significado de marketing viral, o denominaram como spam. Esta associação entre spam e marketing viral deve-se à constante presença que o spam tem no dia a dia dos internautas. A cada dia, diversas mensagens eletrônicas, com múltiplos destinatários (raramente conhecidos) são recebidas, geralmente com cunho publicitário, mas não exclusivamente. O spam tornou-se uma grande perturbação para internautas e profissionais de Tecnologia de Informação, de tal forma, que a prática abusiva do spam é considerada um problema de segurança na área da informática. 10 Ao ser confundido com spam, o marketing viral tanto mostra sua intenção de não ser percebido, aumentando as chances de ser disseminado, como também aponta um problema: Esta associação pode causar a má interpretação da estratégia e a disseminação de uma imagem negativa. 4.2.2 Vírus Por conter a palavra “viral” em sua denominação, muitos entrevistados associam o marketing viral a um vírus, arquivos mal-intencionados que interferem no funcionamento de máquinas e programas, e o classificam como um elemento duvidoso e prejudicial ao computador e ao usuário. Este grupo não consegue identificar o marketing viral. Repassa apenas as mensagens que acredita serem confiáveis. Quando identifica alguma presença de emissor, que não seja seu conhecido, associa a mensagem ao perigo e não a repassa. Tal perfil de internauta reafirma a posição de que o marketing viral não deve ser ofensivo, adentrando na vida das pessoas como um item alegre e/ou informativo. 4.2.3 Entendimento dos Jovens Internautas do que vem a ser o Marketing Viral Muitos entrevistados demonstraram conhecimento do termo e o descreveram com objetividade. Estes têm conhecimento da estratégia, sendo capazes de identificá-la. Parte destes entrevistados são estudantes e/ou profissionais de comunicação, que vivenciam o viral no seu dia a dia. O percebem em muitos meios eletrônicos, inclusive no mais recente Twitter. Compreendem a proposta da palavra viral – se espalha como um vírus – não associando a um elemento prejudicial. Mesmo identificando o marketing viral, não demonstram aversão ao mesmo, repassando-o sempre que for do interesse do grupo. Nestes internautas, o viral é consciente, mas precisa englobar narrativas interessantes para atingir o objetivo de ser disseminado. 4.2.4 Narrativas Conforme já ressaltado, os estilos das narrativas são os grandes responsáveis pelo sucesso do marketing viral. Assim, um grupo de entrevistados ressaltou a importância das mensagens terem um fator envolvente para que a disseminação ocorra. Narrativas apelativas, modistas, com conteúdo e principalmente, como muito humor, foram as mais citadas. Rosen (2001) lista alguns itens que considera importantes para a difusão do viral: provoque curiosidade com a raridade e o mistério, gere expectativas, evite o óbvio, leve as pessoas para os bastidores e seja um pouco abusivo. Rosen ainda cita: “É necessário que as pessoas fiquem com „água na boca‟ para começar a falar” (2001, p.175, grifo do autor). Despertar o interesse do internauta firma-se como uma importante ferramenta do marketing viral. 4.2.5 Marketing versus Propaganda Como explicado e diferenciado ao longo da fundamentação, o marketing viral é comumente confundido com a propaganda. Ao serem incentivados a definir o marketing viral, muitos entrevistados demonstraram certa confusão com a propaganda, classificando a 11 estratégia como propaganda boca a boca. Como já citado, a propaganda é uma ação do marketing, não é o marketing em si. Um índice que chamou a atenção na pesquisa foi o número de desconhecimento do tema por profissionais de comunicação. Dos entrevistados, profissionais formados em comunicação, dentre publicitários e jornalistas, 10,6% não souberem identificar o que é marketing viral. 5. Considerações Finais É importante salientar algumas limitações da pesquisa, sobretudo no que tange à coleta de questionários pela internet, o que não garante a confiança das respostas. No entanto, o estudo contribui para um melhor entendimento de como o marketing viral é entendido e disseminando por jovens internautas. Assim, respondendo ao primeiro objetivo específico, que questionou a relação entre o marketing e a Internet, conclui-se existir um grande envolvimento entre ambos. A Internet cresce diariamente, expandindo suas ferramentas e facilidades. Os profissionais de marketing, que antes utilizavam os meios massivos de comunicação, hoje, passam a utilizar a Internet como uma promissora mídia, promovendo estratégias a serem inseridas nesta, como o marketing viral, o qual usa os recursos da Internet para atingir de maneira mais rápida o publico alvo. Outro ponto relatado neste estudo buscou mostrar a compreensão e disseminação do tema pelo público pesquisado, pelo que tudo indica a grande maioria desconhece a estratégia viral, não observando a convivência com a mesma, uma vez que uma parte significativa dos entrevistados assumiu repassar mensagens a outras pessoas. Tal conclusão mostra a invisibilidade do viral - os entrevistados disseminam, sem ter consciência de que o fazem. No que se refere às narrativas que são bem sucedidas no público pesquisado, conclui-se que a mensagem viral deve passar uma linguagem familiar ao internauta. Os entrevistados estão mais interessados no que a mensagem transmite a eles. Se eles gostarem vão retransmitir, caso contrário, não. A mensagem precisa ter apelos que incentivam a disseminação. O humor é a narrativa que obtêm mais sucesso. Cativar uma quantidade inicial de internautas para que se tornem potenciais amplificadores virtuais da mensagem é um grande desafio para o profissional de marketing. Além do desafio criativo de criar mensagens que chamem a atenção, é importante que a empresa tenha grande conhecimento dos seus consumidores. O público pesquisado tem especificidades que podem ser decisórias, demonstrando certo receio na adesão de estratégia virtuais das quais não sintam segurança. O fato de comumente confundirem o marketing viral com spam conota uma fragilidade da estratégia viral. A compreensão do comportamento, educação e cultura dos consumidores pelo marketing é essencial. É necessário ainda aprofundar mais pesquisas sobre este tema, a sugestão para uma futura pesquisa é a criação e monitoração de uma campanha viral fictícia, visando o estudo aprofundado da percepção e interação do público perante a campanha. REFERÊNCIAS ALDEN,D.L.; HOYER,W.D.; LEE,C. Identifying global and culture-specific dimensions of humor in advertising: a multinational analysis. Journal of Marketing, p.64-75, abr. 1993. ANDRADE, J. MAZZON, J. A.; KATZ, S.. Você viu o Vídeo do Ronaldinho? 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