Exemplo de Monografia - AVM Faculdade Integrada

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DA EDUCAÇÃO COMO INCENTIVO À DOAÇÃO DE
RIM NO BRASIL
Por: DOLORES SANTOS FRANCISCO
Orientador
Prof.ª Drª MARIA CLAUDIA DUTRA LOPES BARBOSA
Rio de Janeiro
2009
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DA EDUCAÇÃO COMO INCENTIVO À DOAÇÃO DE
RIM NO BRASIL
Apresentação de monografia ao Instituto
A Vez do Mestre – Universidade
Candido Mendes como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista
em Docência do Ensino Superior.
Por: Dolores Santos Francisco
3
AGRADECIMENTOS
Aos amigos Elisa, Cezar e Maria
Cristina, pelo apoio, compreensão e
paciência nesta longa e trabalhosa
jornada.
4
DEDICATÓRIA
Ao meu pai, pelo eterno amor, carinho e
dedicação, que tanta saudade deixou. Ao
meu filho Pedro Henrique, que veio
renovar todos estes sentimentos.
5
RESUMO
O presente trabalho evidencia a situação de discrepância entre a oferta
e a procura de órgãos para transplante no Brasil, principalmente o rim,
ressaltando o papel da educação como importante incentivo à mudança desse
quadro. Apesar de todo um histórico marcado por grandes avanços
tecnológicos na área de transplantes, sem o desejo voluntário da doação, nada
se concretiza. As mudanças ocorridas na legislação referentes à doação de
órgãos só gerou mais dúvidas, mostrando que apesar da quantidade de
informações sobre a temática em questão, ainda existem muitas dúvidas
quanto à sua efetivação. Em contrapartida, segundo dados do Ministério da
Saúde, cresce o número de doentes renais e a procura por rim para
transplante no nosso país.
As campanhas públicas de promoção da saúde, assim como a
discussão de temas de saúde no âmbito escolar, ao longo dos anos, mostram
o quanto a educação é um grande aliado, na conscientização de hábitos
saudáveis. Sendo assim, reconhecemos o papel da educação na prevenção de
doenças, quanto no desenvolvimento das ações em saúde, nas possíveis
variações nas atitudes e no grau de conscientização da população frente à
importância da doação renal.
6
METODOLOGIA
A escolha da metodologia utilizada no desenvolvimento desse trabalho
teve como proposta encontrar subsídios que pudessem avaliar o grau de
informação dos educadores a cerca da doença renal e a doação de rim, assim
como o papel da educação como incentivo à doação de órgãos no Brasil.
Nessa direção, buscou-se embasamento em pesquisas bibliográficas ligadas
ao tema e ao problema exposto.
Inicialmente, houve uma pesquisa e listagem de livros sobre o assunto.
De posse desses livros, após leitura e análise, foi feita uma seleção daqueles
cujos textos mais se adequavam ao tema proposto.
Na etapa seguinte passou-se à coleta de dados e ao resumo das
informações contidas nos livros e nos sites visitados, que serviram como apoio
e consulta à medida que os capítulos foram sendo escritos.
Ao término da elaboração dos capítulos foi possível perceber que a
metodologia empregada foi eficiente, visto que, com ela, se conseguiu alcançar
aquilo que inicialmente fora proposto.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
08
CAPÍTULO I - HISTÓRIA DO TRANSPLANTE RENAL NO BRASIL
10
CAPÍTULO II - TRANSPLANTE E LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
16
CAPÍTULO III – EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO DE SAÚDE
21
CAPÍTULO IV – SAÚDE E EDUCAÇÃO: FATORES INDISSOCIÁVEIS
30
CONCLUSÃO
38
REFERÊNCIAS
39
ÍNDICE
41
8
INTRODUÇÃO
“Transplante é muito mais do que uma simples cirurgia É
um procedimento que envolve a mais profunda conexão
entre seres humanos” (Burdick, 2005).
Uma série de incentivos governamentais, diretos e indiretos para a
realização de transplante de rins foi implantada no Brasil. Isso resultou em
divulgação abundante do assunto, por meio da mídia, com o conseqüente
aumento da divulgação do assunto entre a população. Apesar disso, o acesso
a esta terapêutica é ainda restrito a uma parcela de pacientes com doenças
crônicas renais. Essa restrição parece estar associada, principalmente, às
limitações no número de doadores. A reduzida oferta frente à demanda de
órgãos para doação obriga o esclarecimento de inúmeras questões referentes
ao tema, assim como a todos os envolvidos em sua efetivação (DUARTE,
2000).
O primeiro capítulo versará a respeito de um histórico do transplante
renal no Brasil, sua evolução e a participação das organizações civis no
desenvolvimento de atividades relacionadas ao transplante.
O segundo capítulo versará sobre a evolução da legislação brasileira
sobre doação de órgãos, na busca por mais transparência e importância social,
ao se definirem critérios estabelecidos para conceituar morte encefálica, tanto
quanto estabelecer um sistema de lista única de espera para transplante.
A introdução de novas leis, decretos e portarias, normatizando a doação
renal, trouxeram mais confusão para a sociedade, e tornou-se imperativo aos
profissionais da saúde a realização de estudos e pesquisas, a respeito do nível
de conhecimento da população sobre doação de rim no Brasil (PESSINI,
1995).
9
Não menos importante é a implementação de políticas de saúde pública
que priorizem a prevenção de doenças que levam à indicação de transplante
renal.
O terceiro capítulo versará sobre os principais determinantes da doença
renal no país e as políticas públicas de prevenção. A promoção da saúde é
contextualizada e inserida como indicador forte nos processos educativos em
saúde.
É inegável a evolução do número de transplantes renais, no Brasil,
segundo dados do Ministério da Saúde, porém a quantidade, qualidade e
confiabilidade das informações fornecidas ao público são reconhecidamente
insuficientes. Reconhecer o profissional da saúde em seu papel de educador
proporciona uma busca em avaliar o grau de conhecimento desses
profissionais envolvidos na temática doação renal.
O quarto capítulo versará sobre o papel da educação na saúde e a sua
importância como instrumento de comunicação mediada pelos educadores.
CAPÍTULO I
10
HISTÓRIA DO TRANSPLANTE RENAL NO BRASIL
1.1
O que é transplante?
O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na troca de um
órgão de um paciente doente (receptor) por outro órgão normal (doador) É,
sem dúvida, a tão esperada resposta para milhares de pessoas com
insuficiências orgânicas terminais ou cronicamente incapacitantes. Para
alguns, o transplante é o único tratamento possível que possibilite continuar
vivendo (PESSINI, 1995).
Nenhum procedimento influenciou tantas especialidades médicas
quanto os transplantes. Seus benefícios estendem-se às mais diversas áreas:
da infectologia à cardiologia, da imunologia às pesquisas com células - tronco.
Os transplantes estão entre os procedimentos mais complexos e fascinantes
da medicina. Para doentes que já esgotaram todas as chances de cura para
seus males, hoje é oferecida a possibilidade de se substituir, além do rim,
fígado, coração, pulmão, pâncreas, intestino, córnea, medula óssea, pele,
valva cardíaca, ossos e esclera ocular. (GARCIA, 2000).
Esta terapêutica ainda é restrita a uma pequena parcela de pacientes
com doenças crônicas terminais. Tal restrição parece estar associada,
principalmente, às limitações no número de doadores e de órgãos obtidos de
doadores cadáveres (GARCIA, 2000).
O desenvolvimento da tecnologia médica, em especial nos últimos
quarenta anos, trouxe como resultado o aumento na esperança de vida, o que,
por sua vez, influenciou o crescimento demográfico com reflexos em vários
outros aspectos sociais e econômicos. Esta tem sido uma repercussão
importante na prevalência de doenças crônico-degenerativas, muitas delas
sem alternativa de tratamento que não seja um transplante de órgão ou tecido.
11
O
(REVISTA VEJA, N
ANO?).
Há a necessidade de número na citação de
campo e o ano no qual a reportagem foi escrita.
No que tange aos vários programas substitutivos da função renal no
tratamento da insuficiência renal crônica (IRC), o transplante renal é o mais
efetivo para a reabilitação socioeconômica do paciente urêmico. O transplante
renal foi admitido como terapia eficaz após a década de 1960. (PESTANHA et
al., 2005).
1.2
Evolução do transplante renal
Transplantes renais são realizados de forma experimental em cães na
cidade de Viena em 1902. Já em 1913, no Japão, um rim de macaco é
transplantado para uma menina com envenenamento por mercúrio. Na
Ucrânia, são tentados os primeiros transplantes renais homólogos de
cadáveres, porém, apenas em 1954, em Boston, Estados Unidos, acontece o
primeiro transplante de rim entre gêmeos idênticos (IANHEZ, 1994).
O primeiro transplante renal no Brasil, com doador cadáver, foi
realizado em 1964, no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro,
quando Sérgio Vieira Miranda, 18 anos, portador de pielonefrite crônica
recebeu um rim de uma criança de nove meses, portadora de hidrocefalia.
Participaram dos transplantes os cirurgiões Alberto Gentile, Pedro Abdalla,
Carlos Rudge, Oscar Régua, Ivonildo Torquato e Antônio Carlos Cavalcante
(opus cit., 1994).
O primeiro transplante renal no Brasil, com doador vivo, data de 21 de
janeiro de 1965, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, chefiada pelo professor J. Geraldo de Campos
Freire e pelo professor Emil Sabbaga. O paciente recebeu um rim do irmão e
viveu, normalmente, mais de oito anos. No mesmo ano de 1965, outros três
transplantes foram realizados também com doador vivo, no mesmo serviço,
agora denominado de Unidade de Transplante Renal (IANHEZ, 1994).
12
A equipe de transplantes de São Paulo realizou em 1967 o primeiro
transplante em um hospital privado (Hospital Sírio-Libanês) e, em 1971, esta
mesma equipe realizou o primeiro transplante com doador não cosanguíneo no
Brasil - doação de esposa para esposo. Em 1972, foram apresentados no VI
Congresso Brasileiro de Nefrologia, 14 casos de transplante renal realizados
entre agosto de 1968 e maio de 1972, no Rio de Janeiro, sendo três de doador
voluntário (opus cit. 1994).
A Sociedade Brasileira de Nefrologia cria, em 1976, a Comissão de
Diálise e Transplante, cuja finalidade era a de coordenar as atividades de
diálise e de transplante no Brasil, que, naquela altura, já se tinha desenvolvido
muito. Em 1978, essa Comissão publicou, pela primeira vez, a situação do
transplante renal no Brasil.
Até 1970 existiam no Brasil cinco centros de transplantes; de 1970 a
1976, foram criados mais 11 centros. Dos 16 centros em atividade, em 1976,
seis estavam localizados em hospitais universitários e seis em hospitais
privados. Contudo, 66,8% dos transplantes realizados foram efetuados em
hospitais universitários e somente 27% em hospitais privados (Idem, 1994).
Esses dados, analisados pela Sociedade Brasileira de Nefrologia,
mostravam, claramente, que o número de transplantes executados era
pequeno para a demanda e que a maioria dos pacientes portadores de
insuficiência renal crônica falecia antes do início de diálise ou durante, e
poucos tinham possibilidade de se submeter ao transplante. Não havia
nenhuma
preocupação
de
órgãos
governamentais
competentes
para
programação adequada do paciente renal crônico (IANHEZ, 1994).
A Comissão de Diálise e Transplante da Sociedade Brasileira de
Nefrologia apresenta em1982, os dados dos transplantes renais realizados até
Dezembro de 1981. Nessa data, já existiam no Brasil 53 centros distribuídos
13
nos diversos Estados. Dos 53 serviços, 48 estavam localizados nas regiões Sul
e Sudeste (opus cit, 1994).
O número total de transplantes até a data do último relatório era,
aproximadamente de 2.100, com a seguinte proporção de doadores: doador
vivo parente, 75,9%; cadáver, 12,6%; e doador vivo não parente, 11,6%. Notase, em relação aos dados anteriores, diminuição no número de doadores
cadáveres e aumento dos doadores vivos não parentes. Esse fato era
decorrente da maior facilidade na execução dos transplantes com doador vivo
e pela falta de estímulo ao uso de doador cadáver, que somente era realizado
em grandes centros universitários, com grande esforço das equipes clínicas e
cirúrgicas e com grande infra-estrutura hospitalar (Idem, 1994)
Em 19 de dezembro de 1986, foi fundada em SÃO PAULO a
Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), que tem por
finalidade:
•
Estimular o desenvolvimento de todas as atividades relacionadas com
transplantes de órgãos no Brasil;
•
Congregar os profissionais e as entidades envolvidas ou interessadas em
transplantes de órgãos;
•
Contribuir para o estabelecimento de normas para a criação e
aperfeiçoamento de legislação relacionada com transplantes de órgãos;
•
Estimular a criação de centros de doação, banco de órgãos, serviços de
identificação de receptores e outros contatos para difundir ao público a
preciosidade de doação de órgãos após a morte.
A Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, no seu primeiro
ano de fundação, cria seu conceito de morte encefálica, e solicita ao Conselho
Federal de Medicina e à Associação Médica Brasileira a aprovação do seu
conceito.
14
Em quatro de fevereiro de 1987, a portaria interministerial nº 12 Ministério da Educação e da Previdência e Assistência Social cria o SIRCTRANS (Sistema Integrado para o Tratamento do Renal Crônico e do
Transplante Renal), no sentido de incentivar o transplante de rins no Brasil,
dando ênfase aos transplantes com doador cadáver (IANHEZ, 1994).
Essa portaria designou dois coordenadores, um representando o
Ministério da Educação e outro o Ministério da Previdência e Assistência
Social, os quais organizaram uma Câmara Técnica para reger o órgão, com
um representante dos cinco serviços universitários, com indiscutível e
expressiva experiência em transplante renal, além de um representante da
Sociedade Brasileira de Nefrologia. (opus cit., 1994)
Embora a percentagem de sucesso do transplante renal seja alta, com
cirurgia de baixo risco, a situação do paciente com insuficiência renal crônica
do Brasil ainda é crítica, pois, embora o tratamento dialítico seja oferecido a
muitos, o transplante renal é oferecido a uma minoria, apesar do custo menor e
de uma reabilitação superior (Idem, 1994).
Vários grupos se organizaram, com o intuito de aumentar a captação de
órgãos. A organização de serviços de captação de órgãos trouxe significativo
aumento do número de transplantes renais com doador cadáver. Dados da
ABTO mostram que em 1991 foram realizados no Brasil 1.200 transplantes.
Em 2007 foram realizados no Brasil um total de 3.040 transplantes
renais, sendo em 2008 registrados 3154 transplantes dessa natureza. Estes
números estão longe da realidade atual de suas necessidades (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2009).
Atualmente, segundo dados do Ministério da Saúde, existem 548
estabelecimentos de saúde e 1.376 equipes médicas autorizadas a realizar
transplante no Brasil. O Sistema Nacional de Transplante está presente em 25
15
estados do país, por meio das Centrais Estaduais de Transplante. Apenas os
estados de Roraima e Tocantins, não apresentam Centrais de Notificação.
O Brasil tem o maior programa público de transplantes do mundo. De
cada 100 cirurgias do gênero, 92 são pagas pelo governo, que investe,
anualmente, 530 milhões de reais no sistema (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2009).
16
CAPÍTULO II
TRANSPLANTE E LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
2. 1. A Legislação brasileira
No Brasil, a primeira lei que regulamentou a possibilidade de transplante
com doador cadáver foi a Lei nº. 5479 de 10 de agosto de 1968 na qual o
“consentimento
informado”
à
doação,
possibilitava
que
os
familiares
consentissem a utilização de órgãos e tecidos, promovendo a existência dos
primeiros programas de transplante com doador cadáver. Em 1997, a Lei nº.
9.434, modificou esta forma de consentimento, instituindo o “consentimento
presumido”; situação que colocou todo cidadão como doador de órgãos, a
menos que houvesse manifestado em vida, contrário à doação. A forma de
recusa em vida à doação baseava – se no registro em documento de
identidade (RG) ou carteira nacional de habilitação (CNH), da expressão não
doador de órgãos e tecidos (PASSARINHO, 2003).
Como esta mudança não foi acompanhada de adequado esclarecimento
à população brasileira, a maioria dos documentos de identidade foi emitida
com manifestação contrária à doação. Em alguns Estados da Federação, esse
índice chegou a 90%.
A Lei nº. 10.211 restabeleceu, no ano 2000, o “consentimento
informado” como forma à doação de órgãos, invalidando também qualquer
forma de manifestação do morto em vida, e tornando o consentimento familiar
decisório no processo de doação.O período de vigência da doação presumida
no Brasil foi interpretado como estímulo negativo à doação de órgãos(opus cit.,
2003).
17
A política nacional de transplante de órgãos e tecidos está
fundamentada na Legislação (Lei nº. 9.434/1997 e Lei nº. 10.211/2001), tendo
como diretrizes a gratuidade da doação, a beneficência em relação aos
receptores e não maleficência em relação aos doadores vivos. Estabelece
também
garantias
e
direitos
aos
pacientes
que
necessitam
destes
procedimentos e regula toda a rede assistencial através de autorizações e
reautorizações de funcionamento de equipes e instituições. Toda a política de
transplante está em sintonia com as Leis nº. 8.080/1990 e nº. 80142/1990, que
regem o funcionamento do SUS (ABBUD, 2006).
Desde sua criação em 1997, o Sistema Nacional de Transplantes
(SNT) implementou passos importantes para beneficiar a procura e captação
de órgãos para transplantes no Brasil.Porém, a escassez de doadores efetivos,
e consequentemente de órgãos, continua sendo o estrito gargalo que se
recusa em abrir-se para o aumento do nº de transplantes (IANHEZ, 1999).
Os dispositivos legais que, no Brasil, normatizam os transplantes renais,
definem três tipos de doadores: O cadáver, o vivo parente e o vivo nãoparente. A Lei nº. 9.434 de quatro de Fevereiro de 1997 amplia os critérios
para doação em vida, permitindo a qualquer pessoa juridicamente capaz, doar,
para transplante, um de seus órgãos duplos, desde que essa doação não
comprometa a saúde do doador e que seja de forma gratuita (PASSARINHO,
2003).
Em 23 de Março de 2001, foi editada a Lei nº. 10.211, dando nova
redação ao artigo 9º da Lei nº. 90434/97: “Art. 9º. É permitido à pessoa
juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do corpo
vivo para fins terapêuticos ou transplantes em cônjuges ou parentes
cosanguíneos até o quarto grau ou em qualquer outra pessoa, mediante
autorização judicial. (opus cit., 2003).
18
Não podem ser considerados doadores pessoas portadoras de
doenças infecciosas incuráveis, câncer ou doenças que pela sua evolução
tenham comprometido o estado do órgão. Também não podem ser doadores:
pessoas sem documento de identidade ou indigentes e menores de 21 anos
sem a expressa autorização dos responsáveis. Mas em geral, nos tornamos
doadores quando ocorre a morte encefálica. Tipicamente são pessoas que
sofreram um acidente que provocou um dano no cérebro. (PASSARINHO,
2003).
2. 2. O critério de morte encefálica: quando o cérebro pára
Morte encefálica é a interrupção definitiva e irreversível de todas as
atividades cerebrais. Como o cérebro comanda todas as atividades do corpo,
quando morre, os demais órgãos e tecidos também morrem. Alguns resistem
mais tempo, outros nem tanto (ABBUD, 2006).
Os critérios para o diagnóstico de morte encefálica (ME) foram
definidos na Resolução CFM nº. 2.268/97, que conceitua morte com
consequência de processo irreversível e de causa reconhecida.
A equipe
necessária para confirmar a ME, foi estabelecida pelo Decreto nº. 2.268/97. A
constatação da ME deve ser feita por dois médicos não participantes das
equipes de transplante, sendo um deles neurologista. Estes realizarão exames
clínicos e complementares, em momentos distintos, variando de acordo com a
faixa etária do potencial doador. A partir daí, ocorre o preenchimento do Termo
de Declaração de ME. (opus cit., 2006).
As condições circulatórias e respiratórias serão mantidas por meios
artificiais até que seja viabilizada a remoção dos órgãos para transplante. Após
a confirmação da ME, a Central de Transplante é notificada. A Central localiza
e entra em entendimento com a família do doador e pede seu consentimento
mesmo que a pessoa tenha manifestado em vida, o desejo de doar. A Central
de Transplante repassa a notificação de que há um doador em potencial, para
19
uma OPO (Organização de Procura de Órgãos). Em seguida, o doador é
submetido a uma série de exames para verificar se não possui doenças que
possam comprometer o transplante (hepatite, AIDS,...). Estando tudo OK, a
Central de Transplante faz um cruzamento da compatibilidade com os
pacientes em lista de espera, onde todos são inscritos por uma equipe
responsável pela realização do transplante (JORNAL BRASILEIRO DE
TRANSPLANTES, 2006).
A partir da captação, o implante do órgão é responsabilidade da equipe
transplantadora, devidamente autorizado pela CNCDO (Central de Notificação,
Captação e Distribuição de Órgãos). Após o transplante, o corpo é
devidamente recomposto e liberado para os familiares.
As Comissões têm como principal objetivo articular-se com as Centrais
de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do estado ou Distrito
Federal, com os profissionais de saúde encarregados do diagnóstico de morte
encefálica, além de zelar pela manutenção de potenciais doadores,
identificação dos recursos diagnósticos para viabilização do processo,
organização de rotinas e protocolos, no âmbito da instituição, garantindo a
adequada entrevista familiar para solicitação de doação e promovendo um
programa de educação continuada para compreensão deste processo. (opus
cit., 2006).
O fato de a ME ser um procedimento legal de notificação compulsória
para as centrais de transplantes, continua sendo o assunto, desconhecido por
muitos profissionais da área (Idem, 2006).
2.3. Sistema de lista única
A fila para transplante no SUS para cada órgão ou tecido é única, e o
atendimento é por ordem de chegada, considerados critérios técnicos, de
urgência e geográficos específicos, de acordo com a Portaria nº. 91/GM/MS,
20
de 23 de Janeiro de 2001. A fila é disciplinada pela Portaria nº. 3407/GM/MS,
de cinco de Agosto de 1998 (http:// dtr2001.saude.gov.br/sus/Portarias).
Ao ser inscrito, o paciente deve receber um comprovante de sua
inclusão, expedido pela Comissão de Notificação, Captação e Doação de
Órgãos, além dos critérios de distribuição do órgão. O sistema de lista única,
criado pelo Ministério da Saúde, é organizado segundo a secretaria de saúde
de cada estado. Todos os órgãos ou tecidos obtidos de um doador falecido
deverão ser distribuídos segundo o sistema de fila única. (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004).
Quando um órgão captado não é transplantado no estado, a CNCDO
checa se há um receptor na região. Se não houver, o órgão é disponibilizado
na fila nacional. Como o transplante é um procedimento que depende da
existência do órgão de um doador, o Ministério da Saúde afirma que não há
como o candidato ter a garantia de que será atendido. Ainda assim, a ordem
da
fila
deverá
ser
respeitada.
(ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA
DE
TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS, 2003).
Segundo dados do Ministério da Saúde existem, atualmente, 68.906
pessoas na lista de espera para transplante, sendo 34.789 pessoas somente à
espera de um rim.
Nem o doador, nem seus familiares, podem escolher o receptor. A não
ser em caso de doação em vida. O receptor será sempre indicado pela Central
de Transplante, evitando, assim, a comercialização de órgãos. No momento,
existe uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Federal sobre
o
tráfico
de
órgãos
no
Brasil.(ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA
DE
TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS, 2003).
Enquanto isso, na fila, pessoas em número visivelmente mais elevado
do que os órgãos disponíveis aguardam.
21
CAPÍTULO III
EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO DE SAÚDE: A PREVENÇÃO
DA DOENÇA RENAL
3.1. A doença renal
Rins saudáveis limpam o sangue removendo excesso de fluidos,
minerais e resíduos. Mas também produzem hormônios para manter os ossos
fortes e o sangue saudável. Quando os rins falham, resíduos perigosos
acumulam no organismo, a pressão arterial pode aumentar e o organismo
pode reter fluidos em excesso e não fabricar células sanguíneas vermelhas
suficientes. Quando isso acontece, o tratamento com hemodiálise precisa
substituir o trabalho dos rins (HIGA, 2007).
Na hemodiálise, certa quantidade de sangue flui durante determinado
tempo através de um equipamento especial que remove os resíduos e fluídos
extra. Isso limpa o sangue que retorna ao corpo. Remover os resíduos
perigosos, sal e fluídos extra, ajuda a controlar a pressão sanguínea e manter
o equilíbrio apropriado de substâncias como potássio e sódio no organismo.
(http:www..copacabanarunners.net/hemodiálise.html).
A doença renal é uma lesão do órgão com perda progressiva e
irreversível da função dos rins. Em sua fase mais avançada é definida como
Insuficiência Renal Crônica (IRC), quando os rins não conseguem manter a
normalidade do meio interno do paciente. Se diagnosticada precocemente, e
com condutas terapêuticas apropriadas, serão reduzidos os custos e o
sofrimento dos pacientes (opus cit., 2007).
Os rins têm a capacidade de adaptação à perda de sua função. Os
sinais importantes de falência renal aparecem somente em estágios
22
avançados de insuficiência renal. A grande maioria das doenças do rim cursa
de forma insidiosa, determinando declínio da função renal em tempo variável,
avaliado em anos. É sabido que, em uma grande parcela destes pacientes, a
perda da função renal poderia ter sido evitada ou retardada (ABBUD, 2004).
As causas mais comuns que levam à doença renal são hipertensão
arterial, diabetes e glomerulonefrites, embora outras causas, como nefropatias
familiares e hereditárias, sejam importantes causas de insuficiência renal
crônica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
A doença renal crônica traz consigo uma série de questões que marcam
a vida do indivíduo, a partir do diagnóstico, sendo comuns as manifestações
psíquicas acarretando alterações na interação social e desequilíbrios
psicológicos, não somente do paciente como também da família que o
acompanha (HIGA, 2007).
As repercussões sociais, psicológicas e de restrição de qualidade de
vida são significativas, além de um custo social muito grande (encargos
previdenciários, afastamento precoce do mercado de trabalho), pois a maior
parte dos pacientes em diálise situa-se na população economicamente ativa.
As complicações decorrentes do tratamento da doença renal afetam as
habilidades funcionais do paciente, limitando suas atividades diárias, sendo
que, freqüentemente, as alterações não são captadas nas avaliações clínicas e
biológicas convencionais. Compreender como as limitações interferem no
cotidiano dos pacientes tem sido o objetivo das avaliações relacionadas à
saúde (opus cit., 2007).
Atualmente, a atenção prestada ao paciente portador de doença renal
está pautada na terapia renal substitutiva, e, ainda assim, com problemas
graves de acesso e de cobertura. O acesso desses pacientes à terapia de
substituição renal, quando acontece, dá-se em momentos de graves
23
complicações
da
doença
renal
decorrentes
da
assistência
precária
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
O
paciente
com
insuficiência
renal crônica,
em programa de
hemodiálise, é conduzido a conviver diariamente com uma doença incurável
que o obriga a uma forma de tratamento dolorosa, de longa duração e que
provoca, juntamente com a evolução da doença e suas complicações, ainda
maiores limitações e alterações de grande impacto, que repercute tanto na sua
própria qualidade de vida quanto na do grupo familiar (HIGA, 2007).
A hemodiálise é o método mais comum para tratamento de insuficiência
renal avançada e permanente e que vem crescendo no país. Antes, o número
de pacientes atendidos em terapia renal era de sessenta e dois mil. Nesse
ano, segundo dados do Ministério as Saúde, eles já são quase setenta mil. O
número de máquinas usadas para hemodiálise também cresceu. Subiu de dez
mil para treze mil aparelhos. Fazer hemodiálise é caro. Em 2000, o Ministério
da Saúde pagava 600 milhões pelo serviço. Ano passado foram $ 1,3 bilhão.
Mas não é só o Ministério da Saúde que paga pelo serviço. Estados e
Municípios também ajudam na conta (opus cit., 2007).
Para organizarem-se física e mentalmente, ao absorverem e se
adaptarem às novas informações, indicações e prescrições, os pacientes ficam
em estado de alerta e tensão, o que desencadeia reações de ansiedade,
devido à constante exposição a situações estressoras como a diálise, dietas,
transplante e a permanência freqüente em ambiente hospitalar, alterando,
portanto, a qualidade de vida. A depressão é a complicação mais comum nos
pacientes em diálise, e geralmente significa uma resposta a alguma perda real,
ameaçada ou imaginada. Humor depressivo persistente, auto-imagem
prejudicada
e
sentimentos
pessimistas
são
algumas
manifestações
psicológicas. As queixas fisiológicas incluem distúrbio de sono, alterações de
apetite e peso, ressecamento da mucosa oral e constipação e diminuição do
interesse sexual (Idem, 2007).
24
O transplante renal é o tratamento de escolha para muitos pacientes
com insuficiência renal, oferecendo melhor qualidade de vida e reabilitação
que o tratamento dialítico, além da melhora da expectativa de vida (Abbud,
2004).
3.2. Prevenção da doença renal no Brasil
As doenças renais envolvem uma série de fatores, tais como os
aspectos específicos da doença renal, demográficos, da faixa etária dos
pacientes em diálise e da alta prevalência dos diabéticos e hipertensos na
população,
que
repercutem
no
seu
perfil
epidemiológico
no
Brasil
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Em resposta às várias demandas junto ao Ministério da Saúde para a
revisão do modelo de prestação de serviços de terapia renal substitutiva do
Sistema Único de Saúde, instituiu- se um grupo de trabalho com o objetivo de
realizar um diagnóstico sobre a situação da doença renal no Brasil.
ANO: 2004
Mês
Portaria
Assunto
Institui a Política Nacional de Atenção ao Portador de
15
de
Junho
GM 1168
Doença Renal, a ser implantada em todas as unidades
federadas, respeitadas as competências das três esferas de
gestão.
15
de
Junho
15
Junho
Normatiza
SAS 221
a
organização
e
implantação
das
Estaduais e/ou Regionais de Atenção ao paciente portador
de Doença Renal.
de
RDC 154
Redes
Regulamento Técnico para os Serviços de Diálise.
25
As políticas em saúde devem primar pela integração de todos os níveis
de complexidade e pela intersetorialidade das ações e dos serviços prestados.
Cabe à direção municipal do SUS, a gestão da rede de serviços em seu
território, além de estabelecer parcerias com municípios vizinhos a fim de
garantir
o
atendimento
necessário
à
sua
população.
Um
processo
verdadeiramente efetivo requer a combinação de vários elementos: técnico,
humano, econômico, de gestão, político e cultural. (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2004)
A atenção básica constitui o primeiro nível de atenção à saúde,
compreendendo um conjunto de ações de caráter individual e coletivo, para
promoção da saúde, a prevenção, o tratamento e a reabilitação de doenças e
agravos. Seus princípios são: integralidade, equidade, participação social,
resolubilidade, universalidade e intersetorialidade. (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2006).
Na atenção básica de saúde, são utilizados diversos instrumentos de
coleta de dados sobre as principais patologias que levam à doença renal. São
analisadas as características qualitativas e quantitativas, quando houver, em
relação à hipertensão e ao diabetes, objetivando a atualização de dados
epidemiológicos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
Além da coleta de dados, a incorporação tecnológica, visa à prevenção
da doença renal da seguinte forma:
•
Tratamento estrito do diabetes mellitus;
•
Tratamento adequado da hipertensão arterial;
•
Detecção dos sinais clínicos e laboratoriais de lesão renal precoce;
•
Informações básicas sobre promoção da saúde e prevenção de doenças
renais a toda a população, especialmente aos integrantes de grupos de
risco para a doença renal crônica.
26
Ainda na atenção básica de saúde, observa-se uma falta de capacitação
dos profissionais para detecção precoce e para o acompanhamento dos
pacientes portadores de doença renal, onde há necessidade de uma
abordagem multiprofissional e interdisciplinar. Constatou-se a importância em
se integrar outros profissionais de nível superior no atendimento do paciente
renal - nutricionista, psicólogo, assistente social-, nos diferentes níveis de
complexidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2004)
A educação em saúde tem papel fundamental no processo de promoção da
saúde, onde todas as ações buscam a construção da cidadania, vinculando o
serviço e o usuário. Os processos educativos devem adotar a problematização
da prática como estratégia pedagógica, a fim de sustentar os processos de
trabalho em saúde (opus cit., 2004).
O Ministério da Saúde vem intensificando os esforços a fim de aprimorar a
qualidade das ações, serviços e práticas de saúde nos vários níveis da
atenção, com o propósito de consolidar a estratégia da Saúde da Família como
eixo estruturante da atenção básica. É importante construir estratégias que
operem a redução da vulnerabilidade dos sujeitos e da coletividade frente ao
adoecimento.
3.3. Como promover saúde
A vida em sociedade vem trazendo avanços tecnológicos cada vez mais
complexos e sofisticados, colocando em risco, a saúde da sociedade. As
transformações que ocorrem na sociedade também geram transformações na
saúde dessa sociedade (Idem, 2004).
É uma preocupação constante de a humanidade associar modernidade
e vida saudável, a fim de reduzir ou minimizar os efeitos do adoecer.
Percebeu-se que adoecer é resultado dos modos de organização da produção,
trabalho e da sociedade, e que as ações de saúde sempre estiveram voltadas
27
para a assistência aos sintomas por eles gerados, e não necessariamente aos
agentes capazes de modificar seus determinantes (MINISTÉRIO DA SAÚDE.
POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE, ANO?).
O termo promoção da saúde é utilizado pela primeira vez por
SINGERIST, em 19469, quando ele tenta reordenar o sentido da Medicina em
4 funções: a promoção da saúde, a prevenção das enfermidades, a cura e a
reabilitação.Mas, considera-se o grande marco conceitual da promoção da
saúde o Informe Lalonde, datado de 1974, estabeleceu 4 dimensões do
processo saúde- enfermidade- cuidado, sendo uma delas a organização do
sistema de atenção à saúde.Esta consiste na quantidade, qualidade, ordem,
índole e relações entre as pessoas e os recursos de provisão de atenção à
saúde (REIS et al., 2002)
Assim, promoção da saúde, tem como objetivo, promover qualidade de
vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus
determinantes e condicionantes: modo de viver, condições de trabalho,
habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços
essenciais. Cabe ao gestor federal do SUS, propor uma política integrada, que
faça dialogar as diversas áreas do setor sanitário, os outros setores do
governo, os setores privado e não- governamental e a sociedade, compondo
redes de compromisso com a qualidade de vida (opus cit., 2002)
Durante o processo de criação do SUS, houve uma necessidade em
ampliar o conceito de saúde, bem como de desenvolver políticas públicas a fim
de promovê-la, e desta forma, construir ações que possibilitam responder às
necessidades sociais em saúde (Idem, 2002).
No Brasil, a promoção da saúde, busca os pontos determinantes do
processo saúde- doença não só no âmbito individual, como coletivo. Assim,
promover saúde requer não só intervir com ações que busquem soluções para
saúde de uma população adoecida como também fortalecer a vigilância em
28
saúde, como grande colaborador em seu processo de formação. A
participação social é determinante neste processo, estimulando o exercício da
cidadania como um forte aliado na promoção da saúde. (MINISTÉRIO DA
SAÚDE. POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE, ANO?).
A participação e a mobilização social contribuem para o planejamento
de ações em saúde mais próximos da necessidade da população. É
imprescindível, que usuários, trabalhadores da saúde, gestores, movimentos
sociais e até mesmo educadores, participem do processo de análise e
formulação de ações que visem à melhoria da qualidade de vida
(GONÇALVES, 1998).
A construção coletiva de saberes, linguagens e práticas entre os
diversos setores envolvidos na questão saúde, tornam possível criar soluções
inovadoras quanto à melhoria da qualidade de vida da população. Superar as
concepções tradicionais e constituir uma cultura crítica entre educadores e
profissionais dos serviços de saúde, capaz de conceber intervenções
inteligentes neste âmbito, são questões fundamentais para a efetivação das
mudanças necessárias à promoção da saúde.
Observa- se que a educação é uma ferramenta útil para a
transformação das práticas em saúde, sendo um desafio permanente a
construção
de
processos
de
educação
integrados
e
sustentáveis.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE. POLÍTICA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM
SAÚDE, 2004).
À medida que se utiliza a pedagogia da problematização, verifica-se que
os usuários da saúde se mostram mais críticos, participativos, com habilidades
de observação e análise mais apurados. Dessa maneira, a comunidade
transforma o grau de conhecimento de sua realidade e busca a solução de
seus problemas (GONÇALVES, 1998).
29
Diante dessa realidade, a capacitação dos profissionais de saúde deve
estar estruturada a partir da problematização do seu processo de trabalho,
tomando como referência as necessidades de saúde da população.Os serviços
como espaço de aprendizagem devem dar atenção à formulação de novos
pactos de trabalho, capazes de absorver as demandas de cuidados às
populações, ao ensino e a produção do conhecimento nesses espaços
(GONÇALVES, 1998).
30
CAPÍTULO IV
SAÚDE E EDUCAÇÃO: FATORES INDISSOCIÁVEIS
A educação e a saúde são necessidades sociais que cada vez mais vem
ganhando destaque por serem comprovadamente, uma articulação necessária
à nossa realidade. Para Engel (Science 1977), nos últimos anos, esta
articulação tem sido retomada como parte do trabalho do profissional da saúde
e do educador.
Saúde é definida como “estado completo de bem-estar físico, mental e
social, e não meramente ausência de doença”, segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS). Saúde é qualidade de vida e, portanto, encontra-se
vinculada aos direitos humanos, ao direito ao trabalho, à moradia, à educação,
à alimentação e ao lazer.
A definição de educação, segundo Brandão (1995), é a de um processo
de humanização que se dá ao longo de toda a vida, de muitos modos
diferentes, ocorrendo em casa, na rua, no trabalho, na igreja, na escola, entre
outros. É um processo que ocorre em inúmeros espaços e diferentes situações
da vida, ligada à incorporação e criação do conhecimento.
Entende-se assim, que saúde e educação são indissociáveis. São
necessidades sociais polêmicas, por serem consideradas direito da população
e dever do Estado. Porém, são privadas e públicas, acarretando diferenças
nos princípios de ação.
A educação tem sido utilizada a serviço da formação do profissional da
saúde para o mercado de trabalho, cada vez mais tecnicista, fragmentada e
curativa, impedindo a visão global do profissional da saúde, em relação ao
31
paciente e em relação ao seu papel como educador (RODRÍGUEZ et al.,
2007).
Gessner, Katz e Schimpfhauser (1981) assinalam que um dos objetivos
da atual formação em saúde é capacitar o profissional para dar respostas aos
problemas que afetam a saúde humana, incluindo aqueles que envolvem e se
relacionem com questões interdisciplinares, de cunho demográfico, social e
econômico, ou seja, aos chamados problemas sócio médicos.
4.1 – O papel da educação para a saúde
O
panorama
da
Saúde
Pública
acredita
a
classe
médica
contemporânea, necessita de melhorias através da educação das grandes
massas, com o objetivo de promover campanhas em prol da saúde e em
detrimento das doenças tributárias de prevenção e controle por meio de
medidas educativas. Para cumprir essa missão, é imprescindível a divulgação
das medidas indicadas, assim como contar com essas informações através
dos meios de comunicação e na escola (RODRÍGUEZ, 2003).
No plano das necessidades sociais, os objetivos da educação em saúde
podem ser sumarizados em: desenvolvimento do senso de responsabilidade
social, instrumentalização do educando para que participe conscientemente
das transformações e do progresso social, formação política para o pleno
exercício da cidadania, formação para as parcerias e solidariedade e
integração social. (opus citi., 2003).
O grau de interdependência das categorias educação e saúde é
inegável, bem como de se promover saúde sem educação. Para se alcançar
condições mais favoráveis de saúde para a população, afirma Campos et al.
(2001): “é necessário desenvolver uma educação voltada às necessidades e
possibilidades da comunidade.”
32
Dessa forma, ao conceito de educação em saúde se sobrepõe o
conceito de promoção da saúde, como uma definição mais ampla de um
processo que abrange a participação de toda população no contexto de sua
vida cotidiana e não apenas das pessoas sob risco de adoecer (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2005).
Uma educação em saúde ampliada inclui políticas públicas, ambientes
apropriados e reorientação dos serviços em saúde para além dos tratamentos
clínicos
e
curativos,assim
como
propostas
pedagógicas
libertadoras,
comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade e da cidadania,
orientando-se para ações que visam melhorar a qualidade de vida e promoção
do homem (RODRÍGUEZ, 1999).
Geralmente a educação em saúde é realizada por meio de
aconselhamentos interpessoais ou impessoais, os primeiros realizados em
consultórios, escolas de forma mais direta e próxima do indivíduo e os
aconselhamentos impessoais são os que ocorrem utilizando a mídia, como
objetivo de atingir grande número de pessoas. Ambos visam o mesmo objetivo
que é levar conhecimento, na intenção de provocar mudança de atitude
(SILVA, 1999).
É fundamental a preocupação qualitativa das informações levadas à
população, no âmbito da saúde, como também da ampliação do campo de
atuação dessas informações. Apesar da velocidade com que as informações
são apresentadas, existe a necessidade em se cultivar maiores e melhores
espaços para sua divulgação. A escola é um espaço onde se constituem os
cidadãos de direitos, por meio de práticas realizadas por sujeitos sociais
críticos e criativos, capazes de constituir conhecimentos, relações e ações que
fortalecem a participação das pessoas na busca devidas mais saudáveis
(MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2005).
33
Cada vez mais as escolas promovem ações educativas em saúde. É
necessário promover um amplo diálogo, buscando a construção do
conhecimento em saúde. Esse processo de construção coletiva do
conhecimento por meio de diálogo troca de experiências e saberes, é muito
valoroso. Na relação entre saúde e escola surge a possibilidade de se construir
propostas que envolvam os estudantes, trabalhadores da educação,
comunidade, órgãos governamentais, gestores do sistema da saúde e da
educação, movimentos sociais, famílias e toda a população (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2005).
É uma forma de fortalecer os modos participativos de pensar e fazer
educação em saúde. Motivar a reflexão sobre o significado de saúde e discutir
sobre as causas e possíveis soluções para os problemas existentes na
comunidade que se estendem para a escola (opus cit., 2005)
Um dos pontos importantes na ação educativa em saúde é o
envolvimento de várias pessoas. A escola que interage com a comunidade tem
maiores chances de encontrar soluções para seus problemas. Às vezes é difícil
mudar a prática, mas é importante sensibilizar as pessoas. O que motiva a
participação, o ponto de partida, é a discussão coletiva dos problemas e das
contradições existentes na realidade (Idem, 2005).
A análise dos programas de saúde escolar desenvolvidos no Brasil,
ainda hoje, permitiu observar que, embora preocupados com uma ação ampla,
de modo geral, eles têm na prática, uma linha assistencialista com predomínio
de subprogramas isolados, como a assistência odontológica, oftalmológica e
psicológica. Ou seja, a saúde escolar reproduz o paradigma de caráter
assistencialista da atenção em saúde em geral, que prioriza o indivíduo e
partes dele, em detrimento da coletividade e do todo (SUCUPIRA et al., 1989)
A transmissão do conhecimento técnico científico não pode ser
considerada como uma benesse assistencial ou ato de favor dos detentores,
34
tanto do poder como do conhecimento. As pessoas devem ter acesso fácil,
oportuno e compreensível a dados e informações de qualidade sobre sua
saúde e sobre as condições de vida de sua comunidade, cidade, município,
estado e país. Os dados e informações devem ser claros, sem conter
ambigüidade, preciso e fidedignos a serem transmitidos de maneira
adequada,através de sistemas visuais e auditivos que mobilizem a atenção e
motivem sua utilização.( http://www.datasus.gov.br/cns)
No Brasil, o Ministério da Educação e cultura (MEC) promove desde
1995 um debate nacional com vistas à formulação de novos parâmetros
curriculares em nível nacional, que incluem ética, pluralidade cultural, meio
ambiente, saúde e orientação sexual, temas para serem trabalhados nas
escolas de forma transversal aos conteúdos tradicionais no Ensino
Fundamental e Médio. Considera-se que os temas transversais deveriam
abarcar todos os níveis de ensino, sendo o conteúdo e a complexidade dos
mesmos determinados pelos órgãos e pessoas responsáveis, oferecendo os
conteúdos de forma gradual e progressiva. Tais mudanças na estrutura
curricular para conteúdos mais amplos estão dadas pela necessidade do
momento histórico, em que a concepção holística e a globalização do mundo
impõem novas metas ao sistema educacional (ARAÚJO, 1998)
4.2 – O papel do educador para a saúde
Os modelos assistenciais implantados nos diferentes sistemas de saúde
nas
sociedades
contemporâneas
são
influenciados
e
influenciam
a
organização das corporações profissionais determinando a forma como os
profissionais e as equipes se organizam e dividem seu trabalho e as práticas
profissionais. Nesse sentido, a presença de um mercado de trabalho
regulamentado e onde o SUS (Sistema Único de saúde) e a organização
profissional são complexos e estruturados, as modalidades assistenciais, as
competências profissionais e a organização tecnológica do trabalho são fatores
determinantes da inserção profissional (RODRÍGUEZ, 1999).
35
Atualmente autores convergem ao apontarem uma ampliação na
explicação sociológica à dimensão da participação humana na formação e
transformação das relações e instituições sociais, a par de seus determinantes
macrossociais. As sociedades modernas produzem uma pluralidade de
espaços do saber, onde novas identidades podem emergir novos sujeitos
podem se expressar, e mudanças na natureza da prática profissional podem
influenciar na construção de uma sociedade. A forma como os profissionais
constroem esses espaços do saber e se inserem em novas propostas de
práticas
envolve
dimensões
relativas
à
sua
organização
profissional
(GONÇALVES, 1998).
Uma educação voltada para as relações sociais emergentes deve ser
capaz de desencadear uma visão do todo, de rede, de transdisciplinaridade e
de interdependência (MITRE, 2009)
Em muitas experiências de transformação do processo de formação
profissional, a participação dos profissionais dos serviços e da comunidade
(usuários) na definição de conteúdos e na orientação dos trabalhos a serem
desenvolvidos com os discentes tem sido essencial para que essas novas
práticas sejam construídas. E novas práticas incluem uma nova concepção do
planejamento e construção de conteúdos e objetivos educacionais, que
segundo ZANOLLI, também precisam ser transformadas (BECKER, 2001).
O incentivo à doação de rim no Brasil, por ser o órgão de maior procura
para transplante, necessita alcançar maiores espaços de divulgação, assim
como novos campos do conhecimento aliados a essa projeção. O educador se
mostra como grande aliado para atender novas realidades dos serviços de
saúde. A deficiência de profissionais com perfil adequado ao enfrentamento
das novas necessidades do setor saúde e a falta de integração estrutural que
impede a formação de recursos apropriados é apontada por alguns como
36
problemas centrais das reformas de sistemas e serviços de saúde
(WOODWARD, 2000).
Na medida em que, no Brasil, a constituição do SUS representa uma
estratégia de transformação do sistema de saúde, é necessário direcionar o
processo e definir as grandes políticas e estratégias em atenção ao modelo
escolhido. O investimento em políticas de recursos humanos deve criar
condições para a mudança na saúde do país e para aumentar a capacidade
crítica e analítica dos profissionais, a fim de definir a prática técnica que melhor
possa atender aos problemas de saúde da população. Inserir o educador
nessas políticas de formação permite reconhecer o papel desses profissionais
como de fundamental importância na divulgação e conscientização da temática
doação de rim no Brasil. A necessidade de mudança na formação de recursos
humanos é amplamente reconhecida e acompanhada de críticas à inércia do
aparelho formador, particularmente às universidades, onde existe grande
resistência e dificuldade de mudanças, e onde permanecem sendo formados
profissionais que realimentam modelos assistenciais que algumas reformas
buscaram superar (PAIM,1994).
A educação em saúde representa uma estratégia promissora para
enfrentar os múltiplos problemas que afetam as populações humanas.
A
capacitação dos profissionais da saúde e de seus inúmeros atores sociais,
como os educadores, as lideranças comunitárias e os conselheiros de saúde,
nas habilidades de defesa da saúde, capacitação e mediação (BUSS, 1999)
Segundo Freire, “nenhum professor passa pelos alunos sem deixar sua
marca”. Toda aula, seja qual for o objetivo que vise tem sempre uma
repercussão mais ou menos ampla no comportamento e no pensamento dos
alunos.
O educador é o profissional que usa as palavras e gestos como
instrumento de trabalho nesta luta coletiva (VASCONCELOS, 1998).
37
CONCLUSÃO
Atualmente, as doenças renais ocupam um espaço importante no perfil
epidemiológico das doenças que acometem nossa população. Hipertensão
arterial e Diabetes Mellitus, são fatores de risco conhecidos para nossa saúde
e estão intimamente ligados à doença renal crônica, seja com causas e fatores
que aceleram, ainda mais, a perda da função renal (MARTINS, 2007).
O impacto da doença na população está não só na redução da
qualidade de vida do indivíduo e de sua família, como também no impacto
econômico sobre o sistema de saúde. Cientes destes dados, as estratégias de
prevenção da doença renal devem ser intensificadas por diversos segmentos
da sociedade.
Assim, para interferirmos de forma positiva na história da doença renal
n Brasil e dessa forma reduzir as repercussões sociais, psicológicas e
econômicas dessa doença é fundamental a sistematização das ações de
caráter preventivo e educativo em vários níveis de atenção à saúde, alterando
este panorama preocupante. (opus cit., 2007)
A fim de cumprir tais objetivos, a escola continua tendo um papel
preponderante, mas não exclusivo, pois também deverão estar envolvidos na
responsabilidade da educação em saúde, o professor, a família e a sociedade
de forma que estes elementos se integrem para garantir a formação do
homem. Seria responsabilidade dos órgãos públicos, instituições, escolas,
professores e profissionais de saúde, num trabalho conjunto e integrado desde
o nível central até a base, estabelecer qual conhecimento e a melhor forma de
oferecê-lo, levando em conta o grau de informação e nível escolar das pessoas
para as quais é dirigido (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).
38
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WOODWARD K. Identidade e Diferença: Uma introdução teórica e conceitual.
2000.
40
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO
2
AGRADECIMENTO
3
DEDICATÓRIA
4
RESUMO
5
METODOLOGIA
6
SUMÁRIO
7
INTRODUÇÃO
8
CAPÍTULO I
HISTÓRIA DO TRANSPLANTE RENAL NO BRASIL
10
1.1 – O que é transplante?
10
1.2 – Evolução do transplante renal
11
CAPÍTULO II
TRANSPLANTE E LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
16
2.1 – A legislação brasileira
16
2.2 – O critério de morte encefálica: quando o cérebro para 18
2.3 – Sistema de lista única
19
CAPÍTULO III
EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO DE SAÚDE: A PREVENÇÃO DA
DOENÇA RENAL
21
3.1 – A doença renal
21
3.2 – Prevenção da doença renal no Brasil
24
3.3 – Como promover saúde
26
CAPÍTULO Iv
SAÚDE EDUCAÇÃO: FATORES INDISSOCIÁVEIS
30
41
4.1 – Papel da educação para a saúde
31
4.2 – Papel do educador para saúde
35
CONCLUSÃO
38
REFERÊNCIAS
39
ÍNDICE
41
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