UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DA EDUCAÇÃO COMO INCENTIVO À DOAÇÃO DE RIM NO BRASIL Por: DOLORES SANTOS FRANCISCO Orientador Prof.ª Drª MARIA CLAUDIA DUTRA LOPES BARBOSA Rio de Janeiro 2009 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DA EDUCAÇÃO COMO INCENTIVO À DOAÇÃO DE RIM NO BRASIL Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre – Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior. Por: Dolores Santos Francisco 3 AGRADECIMENTOS Aos amigos Elisa, Cezar e Maria Cristina, pelo apoio, compreensão e paciência nesta longa e trabalhosa jornada. 4 DEDICATÓRIA Ao meu pai, pelo eterno amor, carinho e dedicação, que tanta saudade deixou. Ao meu filho Pedro Henrique, que veio renovar todos estes sentimentos. 5 RESUMO O presente trabalho evidencia a situação de discrepância entre a oferta e a procura de órgãos para transplante no Brasil, principalmente o rim, ressaltando o papel da educação como importante incentivo à mudança desse quadro. Apesar de todo um histórico marcado por grandes avanços tecnológicos na área de transplantes, sem o desejo voluntário da doação, nada se concretiza. As mudanças ocorridas na legislação referentes à doação de órgãos só gerou mais dúvidas, mostrando que apesar da quantidade de informações sobre a temática em questão, ainda existem muitas dúvidas quanto à sua efetivação. Em contrapartida, segundo dados do Ministério da Saúde, cresce o número de doentes renais e a procura por rim para transplante no nosso país. As campanhas públicas de promoção da saúde, assim como a discussão de temas de saúde no âmbito escolar, ao longo dos anos, mostram o quanto a educação é um grande aliado, na conscientização de hábitos saudáveis. Sendo assim, reconhecemos o papel da educação na prevenção de doenças, quanto no desenvolvimento das ações em saúde, nas possíveis variações nas atitudes e no grau de conscientização da população frente à importância da doação renal. 6 METODOLOGIA A escolha da metodologia utilizada no desenvolvimento desse trabalho teve como proposta encontrar subsídios que pudessem avaliar o grau de informação dos educadores a cerca da doença renal e a doação de rim, assim como o papel da educação como incentivo à doação de órgãos no Brasil. Nessa direção, buscou-se embasamento em pesquisas bibliográficas ligadas ao tema e ao problema exposto. Inicialmente, houve uma pesquisa e listagem de livros sobre o assunto. De posse desses livros, após leitura e análise, foi feita uma seleção daqueles cujos textos mais se adequavam ao tema proposto. Na etapa seguinte passou-se à coleta de dados e ao resumo das informações contidas nos livros e nos sites visitados, que serviram como apoio e consulta à medida que os capítulos foram sendo escritos. Ao término da elaboração dos capítulos foi possível perceber que a metodologia empregada foi eficiente, visto que, com ela, se conseguiu alcançar aquilo que inicialmente fora proposto. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - HISTÓRIA DO TRANSPLANTE RENAL NO BRASIL 10 CAPÍTULO II - TRANSPLANTE E LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 16 CAPÍTULO III – EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO DE SAÚDE 21 CAPÍTULO IV – SAÚDE E EDUCAÇÃO: FATORES INDISSOCIÁVEIS 30 CONCLUSÃO 38 REFERÊNCIAS 39 ÍNDICE 41 8 INTRODUÇÃO “Transplante é muito mais do que uma simples cirurgia É um procedimento que envolve a mais profunda conexão entre seres humanos” (Burdick, 2005). Uma série de incentivos governamentais, diretos e indiretos para a realização de transplante de rins foi implantada no Brasil. Isso resultou em divulgação abundante do assunto, por meio da mídia, com o conseqüente aumento da divulgação do assunto entre a população. Apesar disso, o acesso a esta terapêutica é ainda restrito a uma parcela de pacientes com doenças crônicas renais. Essa restrição parece estar associada, principalmente, às limitações no número de doadores. A reduzida oferta frente à demanda de órgãos para doação obriga o esclarecimento de inúmeras questões referentes ao tema, assim como a todos os envolvidos em sua efetivação (DUARTE, 2000). O primeiro capítulo versará a respeito de um histórico do transplante renal no Brasil, sua evolução e a participação das organizações civis no desenvolvimento de atividades relacionadas ao transplante. O segundo capítulo versará sobre a evolução da legislação brasileira sobre doação de órgãos, na busca por mais transparência e importância social, ao se definirem critérios estabelecidos para conceituar morte encefálica, tanto quanto estabelecer um sistema de lista única de espera para transplante. A introdução de novas leis, decretos e portarias, normatizando a doação renal, trouxeram mais confusão para a sociedade, e tornou-se imperativo aos profissionais da saúde a realização de estudos e pesquisas, a respeito do nível de conhecimento da população sobre doação de rim no Brasil (PESSINI, 1995). 9 Não menos importante é a implementação de políticas de saúde pública que priorizem a prevenção de doenças que levam à indicação de transplante renal. O terceiro capítulo versará sobre os principais determinantes da doença renal no país e as políticas públicas de prevenção. A promoção da saúde é contextualizada e inserida como indicador forte nos processos educativos em saúde. É inegável a evolução do número de transplantes renais, no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, porém a quantidade, qualidade e confiabilidade das informações fornecidas ao público são reconhecidamente insuficientes. Reconhecer o profissional da saúde em seu papel de educador proporciona uma busca em avaliar o grau de conhecimento desses profissionais envolvidos na temática doação renal. O quarto capítulo versará sobre o papel da educação na saúde e a sua importância como instrumento de comunicação mediada pelos educadores. CAPÍTULO I 10 HISTÓRIA DO TRANSPLANTE RENAL NO BRASIL 1.1 O que é transplante? O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na troca de um órgão de um paciente doente (receptor) por outro órgão normal (doador) É, sem dúvida, a tão esperada resposta para milhares de pessoas com insuficiências orgânicas terminais ou cronicamente incapacitantes. Para alguns, o transplante é o único tratamento possível que possibilite continuar vivendo (PESSINI, 1995). Nenhum procedimento influenciou tantas especialidades médicas quanto os transplantes. Seus benefícios estendem-se às mais diversas áreas: da infectologia à cardiologia, da imunologia às pesquisas com células - tronco. Os transplantes estão entre os procedimentos mais complexos e fascinantes da medicina. Para doentes que já esgotaram todas as chances de cura para seus males, hoje é oferecida a possibilidade de se substituir, além do rim, fígado, coração, pulmão, pâncreas, intestino, córnea, medula óssea, pele, valva cardíaca, ossos e esclera ocular. (GARCIA, 2000). Esta terapêutica ainda é restrita a uma pequena parcela de pacientes com doenças crônicas terminais. Tal restrição parece estar associada, principalmente, às limitações no número de doadores e de órgãos obtidos de doadores cadáveres (GARCIA, 2000). O desenvolvimento da tecnologia médica, em especial nos últimos quarenta anos, trouxe como resultado o aumento na esperança de vida, o que, por sua vez, influenciou o crescimento demográfico com reflexos em vários outros aspectos sociais e econômicos. Esta tem sido uma repercussão importante na prevalência de doenças crônico-degenerativas, muitas delas sem alternativa de tratamento que não seja um transplante de órgão ou tecido. 11 O (REVISTA VEJA, N ANO?). Há a necessidade de número na citação de campo e o ano no qual a reportagem foi escrita. No que tange aos vários programas substitutivos da função renal no tratamento da insuficiência renal crônica (IRC), o transplante renal é o mais efetivo para a reabilitação socioeconômica do paciente urêmico. O transplante renal foi admitido como terapia eficaz após a década de 1960. (PESTANHA et al., 2005). 1.2 Evolução do transplante renal Transplantes renais são realizados de forma experimental em cães na cidade de Viena em 1902. Já em 1913, no Japão, um rim de macaco é transplantado para uma menina com envenenamento por mercúrio. Na Ucrânia, são tentados os primeiros transplantes renais homólogos de cadáveres, porém, apenas em 1954, em Boston, Estados Unidos, acontece o primeiro transplante de rim entre gêmeos idênticos (IANHEZ, 1994). O primeiro transplante renal no Brasil, com doador cadáver, foi realizado em 1964, no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, quando Sérgio Vieira Miranda, 18 anos, portador de pielonefrite crônica recebeu um rim de uma criança de nove meses, portadora de hidrocefalia. Participaram dos transplantes os cirurgiões Alberto Gentile, Pedro Abdalla, Carlos Rudge, Oscar Régua, Ivonildo Torquato e Antônio Carlos Cavalcante (opus cit., 1994). O primeiro transplante renal no Brasil, com doador vivo, data de 21 de janeiro de 1965, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, chefiada pelo professor J. Geraldo de Campos Freire e pelo professor Emil Sabbaga. O paciente recebeu um rim do irmão e viveu, normalmente, mais de oito anos. No mesmo ano de 1965, outros três transplantes foram realizados também com doador vivo, no mesmo serviço, agora denominado de Unidade de Transplante Renal (IANHEZ, 1994). 12 A equipe de transplantes de São Paulo realizou em 1967 o primeiro transplante em um hospital privado (Hospital Sírio-Libanês) e, em 1971, esta mesma equipe realizou o primeiro transplante com doador não cosanguíneo no Brasil - doação de esposa para esposo. Em 1972, foram apresentados no VI Congresso Brasileiro de Nefrologia, 14 casos de transplante renal realizados entre agosto de 1968 e maio de 1972, no Rio de Janeiro, sendo três de doador voluntário (opus cit. 1994). A Sociedade Brasileira de Nefrologia cria, em 1976, a Comissão de Diálise e Transplante, cuja finalidade era a de coordenar as atividades de diálise e de transplante no Brasil, que, naquela altura, já se tinha desenvolvido muito. Em 1978, essa Comissão publicou, pela primeira vez, a situação do transplante renal no Brasil. Até 1970 existiam no Brasil cinco centros de transplantes; de 1970 a 1976, foram criados mais 11 centros. Dos 16 centros em atividade, em 1976, seis estavam localizados em hospitais universitários e seis em hospitais privados. Contudo, 66,8% dos transplantes realizados foram efetuados em hospitais universitários e somente 27% em hospitais privados (Idem, 1994). Esses dados, analisados pela Sociedade Brasileira de Nefrologia, mostravam, claramente, que o número de transplantes executados era pequeno para a demanda e que a maioria dos pacientes portadores de insuficiência renal crônica falecia antes do início de diálise ou durante, e poucos tinham possibilidade de se submeter ao transplante. Não havia nenhuma preocupação de órgãos governamentais competentes para programação adequada do paciente renal crônico (IANHEZ, 1994). A Comissão de Diálise e Transplante da Sociedade Brasileira de Nefrologia apresenta em1982, os dados dos transplantes renais realizados até Dezembro de 1981. Nessa data, já existiam no Brasil 53 centros distribuídos 13 nos diversos Estados. Dos 53 serviços, 48 estavam localizados nas regiões Sul e Sudeste (opus cit, 1994). O número total de transplantes até a data do último relatório era, aproximadamente de 2.100, com a seguinte proporção de doadores: doador vivo parente, 75,9%; cadáver, 12,6%; e doador vivo não parente, 11,6%. Notase, em relação aos dados anteriores, diminuição no número de doadores cadáveres e aumento dos doadores vivos não parentes. Esse fato era decorrente da maior facilidade na execução dos transplantes com doador vivo e pela falta de estímulo ao uso de doador cadáver, que somente era realizado em grandes centros universitários, com grande esforço das equipes clínicas e cirúrgicas e com grande infra-estrutura hospitalar (Idem, 1994) Em 19 de dezembro de 1986, foi fundada em SÃO PAULO a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), que tem por finalidade: • Estimular o desenvolvimento de todas as atividades relacionadas com transplantes de órgãos no Brasil; • Congregar os profissionais e as entidades envolvidas ou interessadas em transplantes de órgãos; • Contribuir para o estabelecimento de normas para a criação e aperfeiçoamento de legislação relacionada com transplantes de órgãos; • Estimular a criação de centros de doação, banco de órgãos, serviços de identificação de receptores e outros contatos para difundir ao público a preciosidade de doação de órgãos após a morte. A Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, no seu primeiro ano de fundação, cria seu conceito de morte encefálica, e solicita ao Conselho Federal de Medicina e à Associação Médica Brasileira a aprovação do seu conceito. 14 Em quatro de fevereiro de 1987, a portaria interministerial nº 12 Ministério da Educação e da Previdência e Assistência Social cria o SIRCTRANS (Sistema Integrado para o Tratamento do Renal Crônico e do Transplante Renal), no sentido de incentivar o transplante de rins no Brasil, dando ênfase aos transplantes com doador cadáver (IANHEZ, 1994). Essa portaria designou dois coordenadores, um representando o Ministério da Educação e outro o Ministério da Previdência e Assistência Social, os quais organizaram uma Câmara Técnica para reger o órgão, com um representante dos cinco serviços universitários, com indiscutível e expressiva experiência em transplante renal, além de um representante da Sociedade Brasileira de Nefrologia. (opus cit., 1994) Embora a percentagem de sucesso do transplante renal seja alta, com cirurgia de baixo risco, a situação do paciente com insuficiência renal crônica do Brasil ainda é crítica, pois, embora o tratamento dialítico seja oferecido a muitos, o transplante renal é oferecido a uma minoria, apesar do custo menor e de uma reabilitação superior (Idem, 1994). Vários grupos se organizaram, com o intuito de aumentar a captação de órgãos. A organização de serviços de captação de órgãos trouxe significativo aumento do número de transplantes renais com doador cadáver. Dados da ABTO mostram que em 1991 foram realizados no Brasil 1.200 transplantes. Em 2007 foram realizados no Brasil um total de 3.040 transplantes renais, sendo em 2008 registrados 3154 transplantes dessa natureza. Estes números estão longe da realidade atual de suas necessidades (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Atualmente, segundo dados do Ministério da Saúde, existem 548 estabelecimentos de saúde e 1.376 equipes médicas autorizadas a realizar transplante no Brasil. O Sistema Nacional de Transplante está presente em 25 15 estados do país, por meio das Centrais Estaduais de Transplante. Apenas os estados de Roraima e Tocantins, não apresentam Centrais de Notificação. O Brasil tem o maior programa público de transplantes do mundo. De cada 100 cirurgias do gênero, 92 são pagas pelo governo, que investe, anualmente, 530 milhões de reais no sistema (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). 16 CAPÍTULO II TRANSPLANTE E LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 2. 1. A Legislação brasileira No Brasil, a primeira lei que regulamentou a possibilidade de transplante com doador cadáver foi a Lei nº. 5479 de 10 de agosto de 1968 na qual o “consentimento informado” à doação, possibilitava que os familiares consentissem a utilização de órgãos e tecidos, promovendo a existência dos primeiros programas de transplante com doador cadáver. Em 1997, a Lei nº. 9.434, modificou esta forma de consentimento, instituindo o “consentimento presumido”; situação que colocou todo cidadão como doador de órgãos, a menos que houvesse manifestado em vida, contrário à doação. A forma de recusa em vida à doação baseava – se no registro em documento de identidade (RG) ou carteira nacional de habilitação (CNH), da expressão não doador de órgãos e tecidos (PASSARINHO, 2003). Como esta mudança não foi acompanhada de adequado esclarecimento à população brasileira, a maioria dos documentos de identidade foi emitida com manifestação contrária à doação. Em alguns Estados da Federação, esse índice chegou a 90%. A Lei nº. 10.211 restabeleceu, no ano 2000, o “consentimento informado” como forma à doação de órgãos, invalidando também qualquer forma de manifestação do morto em vida, e tornando o consentimento familiar decisório no processo de doação.O período de vigência da doação presumida no Brasil foi interpretado como estímulo negativo à doação de órgãos(opus cit., 2003). 17 A política nacional de transplante de órgãos e tecidos está fundamentada na Legislação (Lei nº. 9.434/1997 e Lei nº. 10.211/2001), tendo como diretrizes a gratuidade da doação, a beneficência em relação aos receptores e não maleficência em relação aos doadores vivos. Estabelece também garantias e direitos aos pacientes que necessitam destes procedimentos e regula toda a rede assistencial através de autorizações e reautorizações de funcionamento de equipes e instituições. Toda a política de transplante está em sintonia com as Leis nº. 8.080/1990 e nº. 80142/1990, que regem o funcionamento do SUS (ABBUD, 2006). Desde sua criação em 1997, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) implementou passos importantes para beneficiar a procura e captação de órgãos para transplantes no Brasil.Porém, a escassez de doadores efetivos, e consequentemente de órgãos, continua sendo o estrito gargalo que se recusa em abrir-se para o aumento do nº de transplantes (IANHEZ, 1999). Os dispositivos legais que, no Brasil, normatizam os transplantes renais, definem três tipos de doadores: O cadáver, o vivo parente e o vivo nãoparente. A Lei nº. 9.434 de quatro de Fevereiro de 1997 amplia os critérios para doação em vida, permitindo a qualquer pessoa juridicamente capaz, doar, para transplante, um de seus órgãos duplos, desde que essa doação não comprometa a saúde do doador e que seja de forma gratuita (PASSARINHO, 2003). Em 23 de Março de 2001, foi editada a Lei nº. 10.211, dando nova redação ao artigo 9º da Lei nº. 90434/97: “Art. 9º. É permitido à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do corpo vivo para fins terapêuticos ou transplantes em cônjuges ou parentes cosanguíneos até o quarto grau ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial. (opus cit., 2003). 18 Não podem ser considerados doadores pessoas portadoras de doenças infecciosas incuráveis, câncer ou doenças que pela sua evolução tenham comprometido o estado do órgão. Também não podem ser doadores: pessoas sem documento de identidade ou indigentes e menores de 21 anos sem a expressa autorização dos responsáveis. Mas em geral, nos tornamos doadores quando ocorre a morte encefálica. Tipicamente são pessoas que sofreram um acidente que provocou um dano no cérebro. (PASSARINHO, 2003). 2. 2. O critério de morte encefálica: quando o cérebro pára Morte encefálica é a interrupção definitiva e irreversível de todas as atividades cerebrais. Como o cérebro comanda todas as atividades do corpo, quando morre, os demais órgãos e tecidos também morrem. Alguns resistem mais tempo, outros nem tanto (ABBUD, 2006). Os critérios para o diagnóstico de morte encefálica (ME) foram definidos na Resolução CFM nº. 2.268/97, que conceitua morte com consequência de processo irreversível e de causa reconhecida. A equipe necessária para confirmar a ME, foi estabelecida pelo Decreto nº. 2.268/97. A constatação da ME deve ser feita por dois médicos não participantes das equipes de transplante, sendo um deles neurologista. Estes realizarão exames clínicos e complementares, em momentos distintos, variando de acordo com a faixa etária do potencial doador. A partir daí, ocorre o preenchimento do Termo de Declaração de ME. (opus cit., 2006). As condições circulatórias e respiratórias serão mantidas por meios artificiais até que seja viabilizada a remoção dos órgãos para transplante. Após a confirmação da ME, a Central de Transplante é notificada. A Central localiza e entra em entendimento com a família do doador e pede seu consentimento mesmo que a pessoa tenha manifestado em vida, o desejo de doar. A Central de Transplante repassa a notificação de que há um doador em potencial, para 19 uma OPO (Organização de Procura de Órgãos). Em seguida, o doador é submetido a uma série de exames para verificar se não possui doenças que possam comprometer o transplante (hepatite, AIDS,...). Estando tudo OK, a Central de Transplante faz um cruzamento da compatibilidade com os pacientes em lista de espera, onde todos são inscritos por uma equipe responsável pela realização do transplante (JORNAL BRASILEIRO DE TRANSPLANTES, 2006). A partir da captação, o implante do órgão é responsabilidade da equipe transplantadora, devidamente autorizado pela CNCDO (Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos). Após o transplante, o corpo é devidamente recomposto e liberado para os familiares. As Comissões têm como principal objetivo articular-se com as Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do estado ou Distrito Federal, com os profissionais de saúde encarregados do diagnóstico de morte encefálica, além de zelar pela manutenção de potenciais doadores, identificação dos recursos diagnósticos para viabilização do processo, organização de rotinas e protocolos, no âmbito da instituição, garantindo a adequada entrevista familiar para solicitação de doação e promovendo um programa de educação continuada para compreensão deste processo. (opus cit., 2006). O fato de a ME ser um procedimento legal de notificação compulsória para as centrais de transplantes, continua sendo o assunto, desconhecido por muitos profissionais da área (Idem, 2006). 2.3. Sistema de lista única A fila para transplante no SUS para cada órgão ou tecido é única, e o atendimento é por ordem de chegada, considerados critérios técnicos, de urgência e geográficos específicos, de acordo com a Portaria nº. 91/GM/MS, 20 de 23 de Janeiro de 2001. A fila é disciplinada pela Portaria nº. 3407/GM/MS, de cinco de Agosto de 1998 (http:// dtr2001.saude.gov.br/sus/Portarias). Ao ser inscrito, o paciente deve receber um comprovante de sua inclusão, expedido pela Comissão de Notificação, Captação e Doação de Órgãos, além dos critérios de distribuição do órgão. O sistema de lista única, criado pelo Ministério da Saúde, é organizado segundo a secretaria de saúde de cada estado. Todos os órgãos ou tecidos obtidos de um doador falecido deverão ser distribuídos segundo o sistema de fila única. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Quando um órgão captado não é transplantado no estado, a CNCDO checa se há um receptor na região. Se não houver, o órgão é disponibilizado na fila nacional. Como o transplante é um procedimento que depende da existência do órgão de um doador, o Ministério da Saúde afirma que não há como o candidato ter a garantia de que será atendido. Ainda assim, a ordem da fila deverá ser respeitada. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS, 2003). Segundo dados do Ministério da Saúde existem, atualmente, 68.906 pessoas na lista de espera para transplante, sendo 34.789 pessoas somente à espera de um rim. Nem o doador, nem seus familiares, podem escolher o receptor. A não ser em caso de doação em vida. O receptor será sempre indicado pela Central de Transplante, evitando, assim, a comercialização de órgãos. No momento, existe uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Federal sobre o tráfico de órgãos no Brasil.(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS, 2003). Enquanto isso, na fila, pessoas em número visivelmente mais elevado do que os órgãos disponíveis aguardam. 21 CAPÍTULO III EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO DE SAÚDE: A PREVENÇÃO DA DOENÇA RENAL 3.1. A doença renal Rins saudáveis limpam o sangue removendo excesso de fluidos, minerais e resíduos. Mas também produzem hormônios para manter os ossos fortes e o sangue saudável. Quando os rins falham, resíduos perigosos acumulam no organismo, a pressão arterial pode aumentar e o organismo pode reter fluidos em excesso e não fabricar células sanguíneas vermelhas suficientes. Quando isso acontece, o tratamento com hemodiálise precisa substituir o trabalho dos rins (HIGA, 2007). Na hemodiálise, certa quantidade de sangue flui durante determinado tempo através de um equipamento especial que remove os resíduos e fluídos extra. Isso limpa o sangue que retorna ao corpo. Remover os resíduos perigosos, sal e fluídos extra, ajuda a controlar a pressão sanguínea e manter o equilíbrio apropriado de substâncias como potássio e sódio no organismo. (http:www..copacabanarunners.net/hemodiálise.html). A doença renal é uma lesão do órgão com perda progressiva e irreversível da função dos rins. Em sua fase mais avançada é definida como Insuficiência Renal Crônica (IRC), quando os rins não conseguem manter a normalidade do meio interno do paciente. Se diagnosticada precocemente, e com condutas terapêuticas apropriadas, serão reduzidos os custos e o sofrimento dos pacientes (opus cit., 2007). Os rins têm a capacidade de adaptação à perda de sua função. Os sinais importantes de falência renal aparecem somente em estágios 22 avançados de insuficiência renal. A grande maioria das doenças do rim cursa de forma insidiosa, determinando declínio da função renal em tempo variável, avaliado em anos. É sabido que, em uma grande parcela destes pacientes, a perda da função renal poderia ter sido evitada ou retardada (ABBUD, 2004). As causas mais comuns que levam à doença renal são hipertensão arterial, diabetes e glomerulonefrites, embora outras causas, como nefropatias familiares e hereditárias, sejam importantes causas de insuficiência renal crônica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). A doença renal crônica traz consigo uma série de questões que marcam a vida do indivíduo, a partir do diagnóstico, sendo comuns as manifestações psíquicas acarretando alterações na interação social e desequilíbrios psicológicos, não somente do paciente como também da família que o acompanha (HIGA, 2007). As repercussões sociais, psicológicas e de restrição de qualidade de vida são significativas, além de um custo social muito grande (encargos previdenciários, afastamento precoce do mercado de trabalho), pois a maior parte dos pacientes em diálise situa-se na população economicamente ativa. As complicações decorrentes do tratamento da doença renal afetam as habilidades funcionais do paciente, limitando suas atividades diárias, sendo que, freqüentemente, as alterações não são captadas nas avaliações clínicas e biológicas convencionais. Compreender como as limitações interferem no cotidiano dos pacientes tem sido o objetivo das avaliações relacionadas à saúde (opus cit., 2007). Atualmente, a atenção prestada ao paciente portador de doença renal está pautada na terapia renal substitutiva, e, ainda assim, com problemas graves de acesso e de cobertura. O acesso desses pacientes à terapia de substituição renal, quando acontece, dá-se em momentos de graves 23 complicações da doença renal decorrentes da assistência precária (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). O paciente com insuficiência renal crônica, em programa de hemodiálise, é conduzido a conviver diariamente com uma doença incurável que o obriga a uma forma de tratamento dolorosa, de longa duração e que provoca, juntamente com a evolução da doença e suas complicações, ainda maiores limitações e alterações de grande impacto, que repercute tanto na sua própria qualidade de vida quanto na do grupo familiar (HIGA, 2007). A hemodiálise é o método mais comum para tratamento de insuficiência renal avançada e permanente e que vem crescendo no país. Antes, o número de pacientes atendidos em terapia renal era de sessenta e dois mil. Nesse ano, segundo dados do Ministério as Saúde, eles já são quase setenta mil. O número de máquinas usadas para hemodiálise também cresceu. Subiu de dez mil para treze mil aparelhos. Fazer hemodiálise é caro. Em 2000, o Ministério da Saúde pagava 600 milhões pelo serviço. Ano passado foram $ 1,3 bilhão. Mas não é só o Ministério da Saúde que paga pelo serviço. Estados e Municípios também ajudam na conta (opus cit., 2007). Para organizarem-se física e mentalmente, ao absorverem e se adaptarem às novas informações, indicações e prescrições, os pacientes ficam em estado de alerta e tensão, o que desencadeia reações de ansiedade, devido à constante exposição a situações estressoras como a diálise, dietas, transplante e a permanência freqüente em ambiente hospitalar, alterando, portanto, a qualidade de vida. A depressão é a complicação mais comum nos pacientes em diálise, e geralmente significa uma resposta a alguma perda real, ameaçada ou imaginada. Humor depressivo persistente, auto-imagem prejudicada e sentimentos pessimistas são algumas manifestações psicológicas. As queixas fisiológicas incluem distúrbio de sono, alterações de apetite e peso, ressecamento da mucosa oral e constipação e diminuição do interesse sexual (Idem, 2007). 24 O transplante renal é o tratamento de escolha para muitos pacientes com insuficiência renal, oferecendo melhor qualidade de vida e reabilitação que o tratamento dialítico, além da melhora da expectativa de vida (Abbud, 2004). 3.2. Prevenção da doença renal no Brasil As doenças renais envolvem uma série de fatores, tais como os aspectos específicos da doença renal, demográficos, da faixa etária dos pacientes em diálise e da alta prevalência dos diabéticos e hipertensos na população, que repercutem no seu perfil epidemiológico no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Em resposta às várias demandas junto ao Ministério da Saúde para a revisão do modelo de prestação de serviços de terapia renal substitutiva do Sistema Único de Saúde, instituiu- se um grupo de trabalho com o objetivo de realizar um diagnóstico sobre a situação da doença renal no Brasil. ANO: 2004 Mês Portaria Assunto Institui a Política Nacional de Atenção ao Portador de 15 de Junho GM 1168 Doença Renal, a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão. 15 de Junho 15 Junho Normatiza SAS 221 a organização e implantação das Estaduais e/ou Regionais de Atenção ao paciente portador de Doença Renal. de RDC 154 Redes Regulamento Técnico para os Serviços de Diálise. 25 As políticas em saúde devem primar pela integração de todos os níveis de complexidade e pela intersetorialidade das ações e dos serviços prestados. Cabe à direção municipal do SUS, a gestão da rede de serviços em seu território, além de estabelecer parcerias com municípios vizinhos a fim de garantir o atendimento necessário à sua população. Um processo verdadeiramente efetivo requer a combinação de vários elementos: técnico, humano, econômico, de gestão, político e cultural. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004) A atenção básica constitui o primeiro nível de atenção à saúde, compreendendo um conjunto de ações de caráter individual e coletivo, para promoção da saúde, a prevenção, o tratamento e a reabilitação de doenças e agravos. Seus princípios são: integralidade, equidade, participação social, resolubilidade, universalidade e intersetorialidade. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Na atenção básica de saúde, são utilizados diversos instrumentos de coleta de dados sobre as principais patologias que levam à doença renal. São analisadas as características qualitativas e quantitativas, quando houver, em relação à hipertensão e ao diabetes, objetivando a atualização de dados epidemiológicos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Além da coleta de dados, a incorporação tecnológica, visa à prevenção da doença renal da seguinte forma: • Tratamento estrito do diabetes mellitus; • Tratamento adequado da hipertensão arterial; • Detecção dos sinais clínicos e laboratoriais de lesão renal precoce; • Informações básicas sobre promoção da saúde e prevenção de doenças renais a toda a população, especialmente aos integrantes de grupos de risco para a doença renal crônica. 26 Ainda na atenção básica de saúde, observa-se uma falta de capacitação dos profissionais para detecção precoce e para o acompanhamento dos pacientes portadores de doença renal, onde há necessidade de uma abordagem multiprofissional e interdisciplinar. Constatou-se a importância em se integrar outros profissionais de nível superior no atendimento do paciente renal - nutricionista, psicólogo, assistente social-, nos diferentes níveis de complexidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2004) A educação em saúde tem papel fundamental no processo de promoção da saúde, onde todas as ações buscam a construção da cidadania, vinculando o serviço e o usuário. Os processos educativos devem adotar a problematização da prática como estratégia pedagógica, a fim de sustentar os processos de trabalho em saúde (opus cit., 2004). O Ministério da Saúde vem intensificando os esforços a fim de aprimorar a qualidade das ações, serviços e práticas de saúde nos vários níveis da atenção, com o propósito de consolidar a estratégia da Saúde da Família como eixo estruturante da atenção básica. É importante construir estratégias que operem a redução da vulnerabilidade dos sujeitos e da coletividade frente ao adoecimento. 3.3. Como promover saúde A vida em sociedade vem trazendo avanços tecnológicos cada vez mais complexos e sofisticados, colocando em risco, a saúde da sociedade. As transformações que ocorrem na sociedade também geram transformações na saúde dessa sociedade (Idem, 2004). É uma preocupação constante de a humanidade associar modernidade e vida saudável, a fim de reduzir ou minimizar os efeitos do adoecer. Percebeu-se que adoecer é resultado dos modos de organização da produção, trabalho e da sociedade, e que as ações de saúde sempre estiveram voltadas 27 para a assistência aos sintomas por eles gerados, e não necessariamente aos agentes capazes de modificar seus determinantes (MINISTÉRIO DA SAÚDE. POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE, ANO?). O termo promoção da saúde é utilizado pela primeira vez por SINGERIST, em 19469, quando ele tenta reordenar o sentido da Medicina em 4 funções: a promoção da saúde, a prevenção das enfermidades, a cura e a reabilitação.Mas, considera-se o grande marco conceitual da promoção da saúde o Informe Lalonde, datado de 1974, estabeleceu 4 dimensões do processo saúde- enfermidade- cuidado, sendo uma delas a organização do sistema de atenção à saúde.Esta consiste na quantidade, qualidade, ordem, índole e relações entre as pessoas e os recursos de provisão de atenção à saúde (REIS et al., 2002) Assim, promoção da saúde, tem como objetivo, promover qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes: modo de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais. Cabe ao gestor federal do SUS, propor uma política integrada, que faça dialogar as diversas áreas do setor sanitário, os outros setores do governo, os setores privado e não- governamental e a sociedade, compondo redes de compromisso com a qualidade de vida (opus cit., 2002) Durante o processo de criação do SUS, houve uma necessidade em ampliar o conceito de saúde, bem como de desenvolver políticas públicas a fim de promovê-la, e desta forma, construir ações que possibilitam responder às necessidades sociais em saúde (Idem, 2002). No Brasil, a promoção da saúde, busca os pontos determinantes do processo saúde- doença não só no âmbito individual, como coletivo. Assim, promover saúde requer não só intervir com ações que busquem soluções para saúde de uma população adoecida como também fortalecer a vigilância em 28 saúde, como grande colaborador em seu processo de formação. A participação social é determinante neste processo, estimulando o exercício da cidadania como um forte aliado na promoção da saúde. (MINISTÉRIO DA SAÚDE. POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE, ANO?). A participação e a mobilização social contribuem para o planejamento de ações em saúde mais próximos da necessidade da população. É imprescindível, que usuários, trabalhadores da saúde, gestores, movimentos sociais e até mesmo educadores, participem do processo de análise e formulação de ações que visem à melhoria da qualidade de vida (GONÇALVES, 1998). A construção coletiva de saberes, linguagens e práticas entre os diversos setores envolvidos na questão saúde, tornam possível criar soluções inovadoras quanto à melhoria da qualidade de vida da população. Superar as concepções tradicionais e constituir uma cultura crítica entre educadores e profissionais dos serviços de saúde, capaz de conceber intervenções inteligentes neste âmbito, são questões fundamentais para a efetivação das mudanças necessárias à promoção da saúde. Observa- se que a educação é uma ferramenta útil para a transformação das práticas em saúde, sendo um desafio permanente a construção de processos de educação integrados e sustentáveis. (MINISTÉRIO DA SAÚDE. POLÍTICA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE, 2004). À medida que se utiliza a pedagogia da problematização, verifica-se que os usuários da saúde se mostram mais críticos, participativos, com habilidades de observação e análise mais apurados. Dessa maneira, a comunidade transforma o grau de conhecimento de sua realidade e busca a solução de seus problemas (GONÇALVES, 1998). 29 Diante dessa realidade, a capacitação dos profissionais de saúde deve estar estruturada a partir da problematização do seu processo de trabalho, tomando como referência as necessidades de saúde da população.Os serviços como espaço de aprendizagem devem dar atenção à formulação de novos pactos de trabalho, capazes de absorver as demandas de cuidados às populações, ao ensino e a produção do conhecimento nesses espaços (GONÇALVES, 1998). 30 CAPÍTULO IV SAÚDE E EDUCAÇÃO: FATORES INDISSOCIÁVEIS A educação e a saúde são necessidades sociais que cada vez mais vem ganhando destaque por serem comprovadamente, uma articulação necessária à nossa realidade. Para Engel (Science 1977), nos últimos anos, esta articulação tem sido retomada como parte do trabalho do profissional da saúde e do educador. Saúde é definida como “estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não meramente ausência de doença”, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Saúde é qualidade de vida e, portanto, encontra-se vinculada aos direitos humanos, ao direito ao trabalho, à moradia, à educação, à alimentação e ao lazer. A definição de educação, segundo Brandão (1995), é a de um processo de humanização que se dá ao longo de toda a vida, de muitos modos diferentes, ocorrendo em casa, na rua, no trabalho, na igreja, na escola, entre outros. É um processo que ocorre em inúmeros espaços e diferentes situações da vida, ligada à incorporação e criação do conhecimento. Entende-se assim, que saúde e educação são indissociáveis. São necessidades sociais polêmicas, por serem consideradas direito da população e dever do Estado. Porém, são privadas e públicas, acarretando diferenças nos princípios de ação. A educação tem sido utilizada a serviço da formação do profissional da saúde para o mercado de trabalho, cada vez mais tecnicista, fragmentada e curativa, impedindo a visão global do profissional da saúde, em relação ao 31 paciente e em relação ao seu papel como educador (RODRÍGUEZ et al., 2007). Gessner, Katz e Schimpfhauser (1981) assinalam que um dos objetivos da atual formação em saúde é capacitar o profissional para dar respostas aos problemas que afetam a saúde humana, incluindo aqueles que envolvem e se relacionem com questões interdisciplinares, de cunho demográfico, social e econômico, ou seja, aos chamados problemas sócio médicos. 4.1 – O papel da educação para a saúde O panorama da Saúde Pública acredita a classe médica contemporânea, necessita de melhorias através da educação das grandes massas, com o objetivo de promover campanhas em prol da saúde e em detrimento das doenças tributárias de prevenção e controle por meio de medidas educativas. Para cumprir essa missão, é imprescindível a divulgação das medidas indicadas, assim como contar com essas informações através dos meios de comunicação e na escola (RODRÍGUEZ, 2003). No plano das necessidades sociais, os objetivos da educação em saúde podem ser sumarizados em: desenvolvimento do senso de responsabilidade social, instrumentalização do educando para que participe conscientemente das transformações e do progresso social, formação política para o pleno exercício da cidadania, formação para as parcerias e solidariedade e integração social. (opus citi., 2003). O grau de interdependência das categorias educação e saúde é inegável, bem como de se promover saúde sem educação. Para se alcançar condições mais favoráveis de saúde para a população, afirma Campos et al. (2001): “é necessário desenvolver uma educação voltada às necessidades e possibilidades da comunidade.” 32 Dessa forma, ao conceito de educação em saúde se sobrepõe o conceito de promoção da saúde, como uma definição mais ampla de um processo que abrange a participação de toda população no contexto de sua vida cotidiana e não apenas das pessoas sob risco de adoecer (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Uma educação em saúde ampliada inclui políticas públicas, ambientes apropriados e reorientação dos serviços em saúde para além dos tratamentos clínicos e curativos,assim como propostas pedagógicas libertadoras, comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade e da cidadania, orientando-se para ações que visam melhorar a qualidade de vida e promoção do homem (RODRÍGUEZ, 1999). Geralmente a educação em saúde é realizada por meio de aconselhamentos interpessoais ou impessoais, os primeiros realizados em consultórios, escolas de forma mais direta e próxima do indivíduo e os aconselhamentos impessoais são os que ocorrem utilizando a mídia, como objetivo de atingir grande número de pessoas. Ambos visam o mesmo objetivo que é levar conhecimento, na intenção de provocar mudança de atitude (SILVA, 1999). É fundamental a preocupação qualitativa das informações levadas à população, no âmbito da saúde, como também da ampliação do campo de atuação dessas informações. Apesar da velocidade com que as informações são apresentadas, existe a necessidade em se cultivar maiores e melhores espaços para sua divulgação. A escola é um espaço onde se constituem os cidadãos de direitos, por meio de práticas realizadas por sujeitos sociais críticos e criativos, capazes de constituir conhecimentos, relações e ações que fortalecem a participação das pessoas na busca devidas mais saudáveis (MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2005). 33 Cada vez mais as escolas promovem ações educativas em saúde. É necessário promover um amplo diálogo, buscando a construção do conhecimento em saúde. Esse processo de construção coletiva do conhecimento por meio de diálogo troca de experiências e saberes, é muito valoroso. Na relação entre saúde e escola surge a possibilidade de se construir propostas que envolvam os estudantes, trabalhadores da educação, comunidade, órgãos governamentais, gestores do sistema da saúde e da educação, movimentos sociais, famílias e toda a população (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). É uma forma de fortalecer os modos participativos de pensar e fazer educação em saúde. Motivar a reflexão sobre o significado de saúde e discutir sobre as causas e possíveis soluções para os problemas existentes na comunidade que se estendem para a escola (opus cit., 2005) Um dos pontos importantes na ação educativa em saúde é o envolvimento de várias pessoas. A escola que interage com a comunidade tem maiores chances de encontrar soluções para seus problemas. Às vezes é difícil mudar a prática, mas é importante sensibilizar as pessoas. O que motiva a participação, o ponto de partida, é a discussão coletiva dos problemas e das contradições existentes na realidade (Idem, 2005). A análise dos programas de saúde escolar desenvolvidos no Brasil, ainda hoje, permitiu observar que, embora preocupados com uma ação ampla, de modo geral, eles têm na prática, uma linha assistencialista com predomínio de subprogramas isolados, como a assistência odontológica, oftalmológica e psicológica. Ou seja, a saúde escolar reproduz o paradigma de caráter assistencialista da atenção em saúde em geral, que prioriza o indivíduo e partes dele, em detrimento da coletividade e do todo (SUCUPIRA et al., 1989) A transmissão do conhecimento técnico científico não pode ser considerada como uma benesse assistencial ou ato de favor dos detentores, 34 tanto do poder como do conhecimento. As pessoas devem ter acesso fácil, oportuno e compreensível a dados e informações de qualidade sobre sua saúde e sobre as condições de vida de sua comunidade, cidade, município, estado e país. Os dados e informações devem ser claros, sem conter ambigüidade, preciso e fidedignos a serem transmitidos de maneira adequada,através de sistemas visuais e auditivos que mobilizem a atenção e motivem sua utilização.( http://www.datasus.gov.br/cns) No Brasil, o Ministério da Educação e cultura (MEC) promove desde 1995 um debate nacional com vistas à formulação de novos parâmetros curriculares em nível nacional, que incluem ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde e orientação sexual, temas para serem trabalhados nas escolas de forma transversal aos conteúdos tradicionais no Ensino Fundamental e Médio. Considera-se que os temas transversais deveriam abarcar todos os níveis de ensino, sendo o conteúdo e a complexidade dos mesmos determinados pelos órgãos e pessoas responsáveis, oferecendo os conteúdos de forma gradual e progressiva. Tais mudanças na estrutura curricular para conteúdos mais amplos estão dadas pela necessidade do momento histórico, em que a concepção holística e a globalização do mundo impõem novas metas ao sistema educacional (ARAÚJO, 1998) 4.2 – O papel do educador para a saúde Os modelos assistenciais implantados nos diferentes sistemas de saúde nas sociedades contemporâneas são influenciados e influenciam a organização das corporações profissionais determinando a forma como os profissionais e as equipes se organizam e dividem seu trabalho e as práticas profissionais. Nesse sentido, a presença de um mercado de trabalho regulamentado e onde o SUS (Sistema Único de saúde) e a organização profissional são complexos e estruturados, as modalidades assistenciais, as competências profissionais e a organização tecnológica do trabalho são fatores determinantes da inserção profissional (RODRÍGUEZ, 1999). 35 Atualmente autores convergem ao apontarem uma ampliação na explicação sociológica à dimensão da participação humana na formação e transformação das relações e instituições sociais, a par de seus determinantes macrossociais. As sociedades modernas produzem uma pluralidade de espaços do saber, onde novas identidades podem emergir novos sujeitos podem se expressar, e mudanças na natureza da prática profissional podem influenciar na construção de uma sociedade. A forma como os profissionais constroem esses espaços do saber e se inserem em novas propostas de práticas envolve dimensões relativas à sua organização profissional (GONÇALVES, 1998). Uma educação voltada para as relações sociais emergentes deve ser capaz de desencadear uma visão do todo, de rede, de transdisciplinaridade e de interdependência (MITRE, 2009) Em muitas experiências de transformação do processo de formação profissional, a participação dos profissionais dos serviços e da comunidade (usuários) na definição de conteúdos e na orientação dos trabalhos a serem desenvolvidos com os discentes tem sido essencial para que essas novas práticas sejam construídas. E novas práticas incluem uma nova concepção do planejamento e construção de conteúdos e objetivos educacionais, que segundo ZANOLLI, também precisam ser transformadas (BECKER, 2001). O incentivo à doação de rim no Brasil, por ser o órgão de maior procura para transplante, necessita alcançar maiores espaços de divulgação, assim como novos campos do conhecimento aliados a essa projeção. O educador se mostra como grande aliado para atender novas realidades dos serviços de saúde. A deficiência de profissionais com perfil adequado ao enfrentamento das novas necessidades do setor saúde e a falta de integração estrutural que impede a formação de recursos apropriados é apontada por alguns como 36 problemas centrais das reformas de sistemas e serviços de saúde (WOODWARD, 2000). Na medida em que, no Brasil, a constituição do SUS representa uma estratégia de transformação do sistema de saúde, é necessário direcionar o processo e definir as grandes políticas e estratégias em atenção ao modelo escolhido. O investimento em políticas de recursos humanos deve criar condições para a mudança na saúde do país e para aumentar a capacidade crítica e analítica dos profissionais, a fim de definir a prática técnica que melhor possa atender aos problemas de saúde da população. Inserir o educador nessas políticas de formação permite reconhecer o papel desses profissionais como de fundamental importância na divulgação e conscientização da temática doação de rim no Brasil. A necessidade de mudança na formação de recursos humanos é amplamente reconhecida e acompanhada de críticas à inércia do aparelho formador, particularmente às universidades, onde existe grande resistência e dificuldade de mudanças, e onde permanecem sendo formados profissionais que realimentam modelos assistenciais que algumas reformas buscaram superar (PAIM,1994). A educação em saúde representa uma estratégia promissora para enfrentar os múltiplos problemas que afetam as populações humanas. A capacitação dos profissionais da saúde e de seus inúmeros atores sociais, como os educadores, as lideranças comunitárias e os conselheiros de saúde, nas habilidades de defesa da saúde, capacitação e mediação (BUSS, 1999) Segundo Freire, “nenhum professor passa pelos alunos sem deixar sua marca”. Toda aula, seja qual for o objetivo que vise tem sempre uma repercussão mais ou menos ampla no comportamento e no pensamento dos alunos. O educador é o profissional que usa as palavras e gestos como instrumento de trabalho nesta luta coletiva (VASCONCELOS, 1998). 37 CONCLUSÃO Atualmente, as doenças renais ocupam um espaço importante no perfil epidemiológico das doenças que acometem nossa população. Hipertensão arterial e Diabetes Mellitus, são fatores de risco conhecidos para nossa saúde e estão intimamente ligados à doença renal crônica, seja com causas e fatores que aceleram, ainda mais, a perda da função renal (MARTINS, 2007). O impacto da doença na população está não só na redução da qualidade de vida do indivíduo e de sua família, como também no impacto econômico sobre o sistema de saúde. Cientes destes dados, as estratégias de prevenção da doença renal devem ser intensificadas por diversos segmentos da sociedade. Assim, para interferirmos de forma positiva na história da doença renal n Brasil e dessa forma reduzir as repercussões sociais, psicológicas e econômicas dessa doença é fundamental a sistematização das ações de caráter preventivo e educativo em vários níveis de atenção à saúde, alterando este panorama preocupante. (opus cit., 2007) A fim de cumprir tais objetivos, a escola continua tendo um papel preponderante, mas não exclusivo, pois também deverão estar envolvidos na responsabilidade da educação em saúde, o professor, a família e a sociedade de forma que estes elementos se integrem para garantir a formação do homem. Seria responsabilidade dos órgãos públicos, instituições, escolas, professores e profissionais de saúde, num trabalho conjunto e integrado desde o nível central até a base, estabelecer qual conhecimento e a melhor forma de oferecê-lo, levando em conta o grau de informação e nível escolar das pessoas para as quais é dirigido (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). 38 REFERÊNCIAS ARAÚJO UF. Temas transversais em educação: bases para uma formação integral. Pág. 9-17, 1998 BECKER F. Educação e construção do conhecimento, 2001. BUSS, Paulo Marchiori. Cadernos de Saúde Pública. Vol. 15, 1999. Educação em Saúde: novas perspectivas: Cadernos de Saúde Pública; 1999. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102311X1999000600001&lang=pt [Acessado em:16/06/2009]. Educação em Saúde; Cadernos de saúde Pública; 1986. Disponível em; < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102311X1999000600001&lang=pt [Acessado em: 14/06/2009]. 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