393 J. Bras. Nefrol. 1996; 18(4):393 Comentário Editorial Nutrição e dieta no transplante renal O paciente urêmico, mesmo estando bem dialisado, acaba tendo restrições dietéticas de várias ordens. São amplamente conhecidas as limitações quanto à ingestão de sal, de líquidos, de excesso de proteínas e de vegetais e frutas cruas. Associada a estas restrições há a anorexia, comum na uremia. Além disto, quadros depressivos e de grande desânimo e desalento, pela difícil situação de depender de processos artificiais de substituição do rim doente, se sobrepõem. Tudo isto leva, freqüentemente, o paciente renal crônico a um estado de desgaste nutricional, muitas vezes sério. Com um transplante renal bem sucedido, como com um passe de mágica, o paciente se vê livre destas amarras. Praticamente sem restrições alimentares e emocionalmente estimulado pela sensação de bem estar, que havia muito não sentia, o paciente passa a se alimentar livremente. Fica, assim, a um passo do oposto em que vivia, no difícil encontro do equilíbrio. Como querendo recuperar o tempo perdido, passa a comer muito e, freqüentemente, mal. A isto vêm se somar alterações metabólicas associadas ao uso de drogas como os corticosteróides e a ciclosporina, predispondo ao diabetes, às dislipidemias, à hiperuricemia, à hipertensão arterial. O médico, ou por não dar muita importância a isto, ou por desconhecer como orientá-lo adequadamente, ou por acompanhar este estado de euforia do paciente, freqüentemente negligencia a orientação dietética. Expressões como agora o Sr. pode comer à vontade são muitas vezes levadas ao pé da letra. É, por isso, muito bem vindo artigo de Papini e cols. publicado nesta edição. Traz à tona a importância de uma adequada orientação nutricional fornecendo subsídios, através de tabelas, de como elaborar um cardápio mais saudável para os nossos pacientes. Luiz Sér gio Azevedo Médico Assistente, Unidade de Transplante Renal, Divisão de Clínica Urológica HC-FMUSP