Abordagem Farmacológica da Tuberculose Pulmonar

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ
Faculdade de Ciências Médicas – FCM
Departamento de Farmacologia
Abordagem
Farmacológica da
Tuberculose Pulmonar
Alunos:
Bethania Bretas
Izabella Chaves Silva Pinto
Juliana Ribeiro Constante
Jurraine Herculano Pereira
Larissa Vieira da Conceição
Luciano Pereira Reciputti
Nandara Cristina Paiva
Nathália Roberto Fortins Gonçalves
Nathalia Vétere Melo
Nathane Braga Resende
Thaís Albuquerque
1. INTRODUÇÃO
A Tuberculose pulmonar é uma doença infecto-contagiosa causada por uma bactériaMycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch. Outras espécies de micobactérias também podem
causar a tuberculose. São elas: Mycobacterium bovis, Mycobacterium africanum e Mycrobacterium
microti. A tuberculose continua sendo um sério problema de saúde pública. O Brasil, juntamente
com outros 21 países em desenvolvimento, alberga 80% dos casos da doença. Estima-se que cerca de
um terço da população mundial está infectada com o Mycobacterium tuberculosis.
No Brasil, os bolsões de pobreza, a epidemia de AIDS e a deterioração dos serviços públicos
de saúde dificultam seu controle. A cura dos casos bacilíferos continua sendo a melhor estratégia de
prevenção da doença. Em geral, a fonte de infecção é o indivíduo com a forma pulmonar da doença,
que elimina bacilos para o exterior. Calcula-se que, durante um ano, numa comunidade, um
indivíduo bacilífero poderá infectar, em média, de 10 a 15 pessoas.
Após a infecção pelo M. tuberculosis, transcorrem, em média, 4 a 12 semanas para a detecção
das lesões primárias. A maioria dos novos casos da doença pulmonar ocorre em torno de 12 meses
após a infecção inicial. A probabilidade de o indivíduo vir a ser infectado, e de que essa infecção
evolua para a doença, depende de múltiplas causas, destacando-se as condições sócio-econômicas e
algumas condições clínicas (diabetes mellitus, silicose, uso prolongado de corticosteróides ou outros
imunossupressores, neoplasias, uso de drogas e infecção pelo HIV). A evolução do quadro clínico
dependerá da forma de infecção: primo-infecção ou reinfecção exógena.
1.1 HISTÓRIA CLÍNICA
A história clinica que seria compatível com a tuberculose (TB) é um quadro infeccioso de
evolução lenta, situação mais comum na prática clinica. Porém, a tuberculose pode se manifestar de
diversas formas, com quadros clínicos variáveis e até pode ser diagnosticada numa fase
assintomática, como ocorre no caso dos comunicantes de tuberculose. Também deve apresentar
alguns critérios, como: apresentar sintomas e sinais sugestivos de tuberculose pulmonar tosse seca ou
produtiva por três semanas ou mais, febre vespertina, perda de peso, sudorese noturna, dor torácica,
dispnéia e astenia; história de tratamento anterior para tuberculose; presença de fatores de risco para
o desenvolvimento da TB doença (infecção pelo HIV, diabetes, câncer, etilismo).
Esta variedade de apresentações comum na doença pode ser decorrente de alguns fatores,
como por exemplo:
a) Formas crônicas e agudas de TB mediadas por aspectos constitucionais do hospedeiro, de suas
condições sócio-econômicas e culturais, como por exemplo, desnutrição e outras situações de
imunodepressão e deficiência na imunidade celular, estrato social desfavorável, moradia em
aglomerados, onde um bacilífero poderia infectar até dezenas de pessoas, dentre outras;
b) Retardo no diagnóstico, por incapacidade das famílias de reconhecerem os sintomas
apresentados pela pessoa infectada ou da equipe de saúde, que pode enfrentar dificuldades
materiais e de pessoal para tal diagnóstico.
1.2 EPIDEMIOLOGIA
A tuberculose continua sendo um importante problema de saúde pública, especialmente em
países em desenvolvimento. Estima-se que cerca de 1,7 bilhões de indivíduos em todo o mundo
estejam infectados pelo M. tuberculosis, correspondendo a 30% da população mundial. Nos países
desenvolvidos, cerca de 40.000 mortes são devidas à tuberculose e mais de 400.000 casos novos são
descobertos a cada ano. Nesses países, a tuberculose é mais freqüente entre as pessoas idosas, nas
minorias étnicas e imigrantes estrangeiros. Nos países em desenvolvimento, estima-se que ocorreram
cerca de 2,8 milhões de mortes por tuberculose e 7,5 milhões de casos novos, atingindo a todos os
grupos etários, com maior predomínio nos indivíduos economicamente ativos.
O Brasil ocupa o 15º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de
tuberculose no mundo e estima-se que, do total da população, 35 a 45 milhões de pessoas estão
infectadas pelo M. tuberculosis, com aproximadamente 100 mil casos novos por ano. O número de
mortes pela doença em nosso meio é de 4 a 5 mil, anualmente. Com o surgimento, em 1981, da
Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS), vem-se observando, tanto em países
desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, um crescente número de casos notificados de
tuberculose em pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). A associação
(HIV/TB) constitui, nos dias atuais, um sério problema de saúde pública, podendo levar ao aumento
da morbidade e mortalidade pela tuberculose, em muitos países.
1.3 FATORES DE RISCO
Fatores de risco para tuberculose incluem:

Infecção por HIV;

Baixo nível sócio- econômico;

Alcoolismo;

Falta de moradia;

Condições de moradia precária, com aglomeração;

Doenças que enfraquecem o sistema imunológico;

Trabalhadores de saúde.
1.4 TRANSMISSÃO
A tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa. O Bacilo de Koch (BK) é capaz de se
propagar através do ar, por meio de gotículas contendo os bacilos expelidos por um doente com
tuberculose ou portador assintomático de tuberculose pulmonar ao tossir, espirrar ou falar em voz
alta. Quando estas gotículas são inaladas por pessoas sadias, provocam a infecção tuberculosa e o
risco de desenvolver a doença.
A propagação da tuberculose está intimamente ligada às condições de vida da população.
Prolifera, como todas as doenças infecciosas, em áreas de grande concentração humana, com
serviços de infraestrutura urbana deficiente, como saneamento e habitação, onde existe fome e
miséria.
O Período de incubação demora em média 4 a 12 semanas após a infecção pelo M.
tuberculosis, até que seja detectado as lesões primárias. A maioria dos novos casos da doença
pulmonar ocorre em torno de 12 meses após a infecção inicial.
1.5 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A tuberculose pulmonar pode ser classificada como primária ou secundária:
a) Tuberculose pulmonar primária: é decorrente de uma infecção inicial pelo Bacilo de Koch, a
lesão formada após a infecção é geralmente periférica e acompanhada de linfadenopatia hiliar
ou paratraqueal, e pode não ser detectado na radiografia de tórax. A lesão pode curar
espontaneamente e formar um nódulo calcificado (lesão de Gohn), mais tardiamente. Os
bacilos atingem a corrente sanguínea à partir da lesão pulmonar ou dos linfonodos e se
disseminam por vários órgãos, gerando lesões granulomatosas.
b) Doença Secundária: resulta da reativação endógena da infecção latente, geralmente localizado
em ápice pulmonar e segmentos posteriores de lobos superiores. O acometimento do
parênquima pulmonar varia de acordo com a resposta imunológica do paciente, variam desde
pequenos infiltrados, até a doença cavitária extensa com conteúdo necrótico.
Classicamente os principais sintomas são:

Tosse crônica com expectoração mucopurulenta. O sintoma respiratório é definido pela
persistência da tosse produtiva por um período maior que 3 semanas;

Fenômenos hemoptoicos, desde laivos sanguinolentos presentes no escarro até
hemoptises maciças;

Febre predominantemente vespertina diária, acompanhada de sudorese noturna;

Perda ponderal.
A depender da extensão do processo, o paciente pode apresentar dor pleurítica e dispneia
progressiva.
2. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
EXAME BACTERIOLÓGICO: é o método mais importante, seguro, rápido e de baixo custo
para o diagnóstico, controle do tratamento e vigilância de resistência aos tuberculostáticos. Pode ser
realizado de duas maneiras:
a) Exame direto (pesquisa de BAAR): recomenda-se coleta de três amostras de secreção das vias
aéreas inferiores, em dias subseqüentes, pela manhã, antes do desjejum. Pacientes pobres em
escarro podem fazer a indução do mesmo a partir da nebulização com solução salina
hipertônica (NaCl 3%). É importante salientar que todo paciente com suspeita de tuberculose
deve permanecer em isolamento respiratório até que seja considerado não-bacilífero (três
pesquisas de BAAR no escarro negativas). Este material deve chegar rapidamente ao
laboratório ou, se necessário, ser conservado em geladeira até seu processamento.
b) Cultura para micobactéria: está indicada nos casos suspeitos que se mantêm com baciloscopia
negativa, nas situações de falência terapêutica (para observação de resistência). Após o
isolamento, quando disponível, é feito o teste de sensibilidade aos tuberculostáticos e
tipificação do bacilo.
PROVA TUBERCULÍNICA (PPD): método auxiliar para o diagnóstico de pacientes não
imunizados com BCG. Quando negativa, sugere a investigação de outras doenças que possam ter
apresentação semelhante à tuberculose. Quando positiva, indica contato atual ou pregresso com a
micobactéria, necessitando de outros achados que confirmem a infecção. Sabe-se que indivíduos
imunodeprimidos podem apresentar reação anérgica ao PPD, mesmo quando gravemente enfermos
pela doença. Apesar da interpretação dificultada em nosso meio, o PPD ainda é solicitado de rotina,
quando disponível, para todos pacientes com suspeita de tuberculose, imunocompetentes ou não.
ESTUDO DO LÍQUIDO PLEURAL: o líquido deve ser enviado para o Laboratório de
Bacteriologia e também para o Laboratório de Anatomia Patológica para exame de citologia; o
exsudato é a característica dos derrames cavitários por tuberculose. A celularidade costuma ser
baixa, mas sempre com predomínio de linfócitos (acima de 90%). Nos derrames pleurais, o líquido
costuma ser pobre em células mesoteliais. O aumento da ADA (adenosina deaminase) guarda certa
especificidade com os derrames tuberculosos, especialmente se seu valor encontra-se acima de
40UI/l e há combinação com outros fatores sugestivos, como idade inferior a 45 anos, pleocitose à
custa de linfócitos e proteínas= 4,5g/dl. Sempre que possível, o procedimento de drenagem de
derrame pleural (seja para fins de alívio ou diagnóstico) deve ser seguido de biópsia de pleura, com
envio do fragmento para o Laboratório de Anatomia Patológica.
ESTUDO ANATOMO-PATOLÓGICO: a presença de reação granulomatosa, com ou sem
necrose caseosa, e ainda, a presença de bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) fazem o diagnóstico
de tuberculose. O material a ser estudado pode ser resultado de biópsia de linfonodos enfartados ou
fistulizados, de pleura, pericárdio, mucosa gastrintestinal, bexiga, rins, pele, medula óssea ou fígado.
Ultimamente temos tido boa experiência com o diagnóstico presuntivo de tuberculose à análise de
biópsia hepática. Portanto, em casos de difícil diagnóstico, com vistas ao início da terapêutica
específica, sugerimos a biópsia hepática de rotina para estes pacientes, desde que tenham condições
clínicas para tal procedimento.
3. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO NA TUBERCULOSE PULMONAR
3.1 ERA PRÉ-QUIMIOTERÁPICA:
Consistia em medida higieno- dietéticas que englobavam: isolamento e repouso do paciente,
superalimentação e permanência em um local com clima adqeuado. E também a colapsoterapia, por
meio do colapso artificial de um pulmão, geralmente mediante o pneumotórax artificial.
3.2 PRIMEIRAS DROGAS:
- 1944: Estreptomicina
- 1946: PAS (ácido para-amino-salicílico)
- 1952: Isoniazida
- 1957: Rifampicina
- A partir de1970: tratamentos <12 meses, utilização de esquema trilpo (RIP) em 6 meses
A escolha do esquema terapêutico baseia–se na compreensão da biologia do Mycobacterium
tuberculosis, no hospedeiro e nas atividades específicas dos fármacos, e deve levar em conta a
prevalência e o padrão de suscetibilidade da tuberculose na comunidade em questão. Os esquemas
visam um tratamento mais curto e eficiente, e são divididos em uma fase que é bactericida, seguida
por uma fase de esterilização. Ao longo da fase inicial, a maior parte dos bacilos é eliminada, há
resolução dos sintomas e o paciente torna-se não- infectante. A fase de esterilização serve para
eliminar os bacilos que resistiram ao primeiro ciclo.
3.3 AGENTES TUBERCULOSTÁTICOS DE PRIMEIRA LINHA
3.3.1 RIFAMPICINA:
Mecanismo de Ação: Atividade bactericida intra e extracelular. Além disso, se liga à RNA
polimerase, inibindo-a. É um importante agente tuberculostático. A dose usada é menor ou igual a 1
micrograma por mililitro.
Farmacologia: É um macrocíclico complexo e lipossolúvel que sofre rápida adsorção após
administração oral ou intravenosa. A rifampicina se distribui bem nos tecidos, inclusive nas
meninges inflamadas. O fármaco tinge os líquidos corporais de laranja-avermelhado, mostrando se o
paciente aderiu ao tratamento. Inicialmente é excretada pela bile e pela circulação entero-hepática. O
fármaco é administrado 3x/semana, 2x/semana ou diariamente, em uma dose de 600mg para adultos
(10mg/kg) e 10 a 20mg/kg para criança.
Efeitos Adversos: Desconforto gastrintestinal, é o mais comum. E quando administrada com
isoniazida ou pirazinamida pode ocorrer hepatite. Exantema (0,8%), anemia hemolítica (<1%),
trombocitopenia são outros efeitos adversos. A rifampicina é um potente indutor de enzimas
microssômicas hepáticas e, portanto diminui a meia veida de fármacos como a digoxina, varfarina,
metadona, inibidores da protease do HIV e contraceptivos orais.
Resistência: Resulta em mutações pontuais espontâneas que alteram a subunidade beta do
gene da RNA polimerase (rpoB). Estudos mostraram que 96% das cepas resistentes à rifampicina
apresentam uma mutação de sentido errôneo em uma região de 91- bp do gene.
3.3.2 ISONIAZIDA (INH) :
É o segundo melhor agente tuberculostático, além de ser barato, sintetizado no mundo todo,
muito seletiva para micobactériass e bem tolerada.
Mecanismo de Ação: A isoniazida é a hidrazida do ácido isonicotínico, uma pequena
molécula hidrossolúvel, que penetra facilmente na célula. Faz inibição da síntese de acido micólico
na parede celular através das vias dependentes de oxigênio, como a reação catalase-peroxidase. A
isoniazida é um agente bacteriostático contra bacilos dormentes e bactericida contra
microorganismos de multiplicação rápida extra e intra-celulares. As concentrações inibitórias
mínimas para cepas de M. tuberculosis do tipo silvetre são <0,1 micrograma por mililitro.
Farmacologia: As preparações tanto oral como intramuscular de isoniazida são rapidamente
absorvidas. A dose oral para adultos é de 300mg/dia. O fármaco difunde-se bem por todo corpo e
alcança concentrações terapêuticas no soro, liquido cefelorraquidiano e tecidos infectados, incluindo
granulomas caseosos. É metabolizada no fígado por acetilação e hidrólise. Seus metabólitos são
secretados pela urina. A dose diária recomendada nos EUA para tratamento de tuberculose é de 5
mg/kg para adultose de 10 a 20 mg/ kg para crianças, com dose diária máxima de 300 mg para
ambos os grupos. Para o tratamento intermitente, utiliza-se uma dose máxima de 900 mg 2 ou 3
vezes /semana. Não há necessidade de ajuste da dose de isoniazida em pacientes com insuficiência
renal ou doença renal que exija hemodiálise crônica. A isoniazida pode ser administrada na via
endovenosa em casos de urgência.
Efeitos Adversos: Os principais são hepatotoxicidade e neuropatia periférica. Outras reações
raras, ou menos significativas são exantema (2%), febre (1,2%), anemia, acne, sintomas de artrite,
síndromes semelhantes ao Lúpus Eritematoso Sistêmico, atrofia óptica, convulsões e sintomas
psiquiátricos. A hepatotoxicidade associada à isoniazida consiste na elevação transitória e
assintomática de aminotransferase (20%), hepatite sintomática (< 1%) e hepatite fulminante com
insuficiência hepática (<0,01%). A hepatite associada à isoniazida é idiossincrásica, e a sua
incidência aumenta com a idade, consumo de álcool, administração concomitante de rifampicina e
infecção ativa pelo vírus da hepatite B, bem como mulheres grávidas ou no período pós-parto
imediato (3meses após o parto).
Resistência: As cepas resistentes à isoniazida apresentam, em sua maioria, alterações de
aminoácidos no gene da catalase peroxidase (katG) ou no promotor de um lócus de dois genes,
conhecido como inhA. As mutações no sentido errôneo ou a deleção de katG também estão
associadas a uma redução da atividade da catalase e peroxidase.
3.3.3 ETAMBUTOL:
É um derivado da etilenodiamina, é um composto hidrossolúvel, ativo apenas contra
micobactérias. As espécies sensíveis consistem no M. tuberculosis, M. marinum, M. kansasii e
microrganismos do MAC. Entre os fármacos de primeira linha, o etambutol é o menos potente contra
o M. tuberculosis. É utilizado mais frequentemente com a rifampicina no tratamento da tuberculose
em pacientes que não conseguem tolerar a isoniazida ou que se acredita estejam infectados por
microrganismos resistentes à isoniazida.
Mecanismo de Ação: Em doses convencionais é bacteriostático contra o M. tuberculosis. Seu
mecanismo básico de ação parece consistir na inibição de arabinosiltransferase, que medeia a
polimerização de arabinose em arabinobalactano na parede celular.
Farmacologia: Após a administração oral, 75 a 80 % de uma dose de etambutol são
absorvidos pelo trato gastrointestinal. Os níveis séricos máximos de 2 a 4 microgramas/ml são
alcançados 2 a 4 horas após a dose diária padrão de 15mg/kg para adultos. A distribuição do fármaco
pelo corpo é adequada, exceto no LCR, onde alcança apenas níveis baixos. Para tratamento
intermitente, a dose é de 50mg/kg 2 vezes/semana ou 30mg/kg 3 vezes/semana. É necessário reduzir
a dose em pacientes com insuficiência renal para evitar o acúmulo do fármaco e sua toxicidade.
Efeitos Adversos: É habitualmente bem tolerado. A neurite óptica retrobulbar constitui o
efeito adverso mais grave. Os sintomas de toxicidade ocular desenvolvem-se tipicamente vários
meses após o início do tratamento. O risco depende da dose e duração do tratamento; essa reação
surge em 5% dos pacientes que recebem uma dose diária de 25mg/kg, porém em menos de 1% dos
pacientes aos quais se administra uma dose diária de 15mg/kg. A neurite óptica com perda visual
associada é habitualmente reversível, porém a recuperação pode levar mais que 6 meses.
Resistência: A resistência do M.tuberculosis ao etambutol está mais comumente relacionada
com mutações de sentido errôneo no gene embB que codifica a arabinosiltranferase. As espécies de
MNT intrinsecamente resistentes ao etambutol apresentam variações de aminoácidos nessa região do
gene, enquanto as espécies sensíveis possuem as mesmas sequências de aminoácidos.
3.3.4 PIRAZINAMIDA:
É um derivado do ácido nicotínico. É um agente bactericida importante utilizado no
tratamento de curta duração da tuberculose.
Mecanismo de Ação: Espectro estreito de atividade antibacteriana, que essencialmente inclui
apenas M. tuberculosis. O fármaco é bactericida para microrganismos de metabolismo lento,
localizados no ambiente ácido dos fagócitos ou do granuloma caseoso, sendo ativo apenas em pH
menos que 6. É considerado um prófármaco, sendo convertido pelo bacilo da tuberculose na forma
ativa, o ácido pirazinóico.
Farmacologia: É bem absorvida após administração oral, com faixa de concentração
plasmática de 20 a 60microgramas/ml em 1 a 2 horas após a ingestão oral da dose diária atualmente
recomendada de 15 a 30 mg/kg para adultos. O fármaco é bem distribuído em todo corpo. Os níveis
no LCR são excelentes, alcançando 50 a 100% dos níveis séricos. A meia vida sérica do fármaco é
de 9 a 11 horas. É metabolizado no fígado; seus diversos metabólitos inclui o ácido pirazinóico, a 5hidroxipirazinamida e o ácido 5-hidroxipirazinóico. Não está disponível em formulação parenteral.
Efeitos Adversos: Nas doses atuais recomendadas, a frequência de hepatotoxicidade não é
maior que no tratamento com isoniazida e rifampicina concomitantes. Recentemente, foi constatado
que a combinação ripampicina/pirazinamida outrora recomenda para tratamento da tuberculose
latente está associada à taxa inaceitavelmente alta de hepatite. A hiperuricemia constitui um efeito
adverso comum do tratamento com pirazinamida. As poliartralgias são observadas com frequência,
porém não estão relacionadas com a hiperuricemia.
Resistência: Está associada à perda de atividade do fármaco, de modo que não é mais
convertida em ácido pirazinóico. Mais de 90% dos microrganismos isolados com CIM maior que
100 microgramas/ml apresentam mutações no gene pncA que codifica a pirazinamidase. Todas as
cepas do M. bovis são naturalmente resistentes à pirazinamida e apresentam uma substituição pontual
no gene pncA.
3.3.5 ESTREPTOMICINA:
Um aminoglicosídeo isolado do Streptomyces griseus, está disponível apenas para
administração intramuscular e intravenosa. É pouco utilizado contra tuberculose devido a sua
toxicidade, dificuldade de obter níveis adequado no LCR e inconveniência de sua administração
parenteral. Entretanto nos países em desenvolvimento é utilizada com frequência em virtude do seu
baixo custo. O fármaco mostra-se ativo contra cepas não tratadas de M. tuberculosis, M. Kansasii e
M. marinum, bem como contra algumas cepas de microrganismos do MAC em níveis sérico
alcançáveis.
Mecanismo de Ação: Inibe a síntese de proteínas através da interrupção da função
ribossômica.
Farmacologia: Os níveis séricos a alcançam um pico de 25 a 40microgramas/ml após a dose
de 1 g. É bactericida para as bactérias extracelulares de divisão rápida, porém ineficaz no ambiente
ácido existente no interior dos macrófagos. Difunde-se precariamente nas meninges. A dose habitual
para um paciente adulto de 70 kg com menos de 50 anos de idade é de 0,5 a 1g por via
intramuscular, diariamente ou 5 vezes/semana; a dose pediátrica é de 20 a 40mg/kg/dia com dose
máxima de 1g/dia. Como sua eliminação é quase que exclusivamente pelos rins, é necessária reduzir
a dose e frequência de administração (2 ou 3 vezes/semana) na maioria dos pacientes com mais de 50
anos de idade e para qualquer paciente com comprometimento renal ou peso corporal reduzido.
Efeitos Adversos: A ototoxicidade e nefrotoxicidade são as mais comuns e mais graves. A
ototoxicidade envolve perda auditiva e disfunção vestibular (perda do equilíbrio, vertigem e
zumbido). A nefrotoxicidade habitualmente se manifesta na forma de insuficiência renal não
oligúrica. As reações menos graves são a parestesia perioral, eosinofilia, exantema e febre
medicamentosa.
Resistência: Em 66% das cepas de M. tuberculosis resistentes a estreptomicina, foram
identificadas mutações em um de dois alvos: o gene do rRNA 16S e o gene que codifica a proteína
ribossômica S12. Acredita-se que ambos os alvos estejam envolvidos na ligação ribossômica da
estreptomicina.
3.4 AGENTES TUBERCULOSTATICOS DE SEGUNDA LINHA
Os fármacos alternativos relacionados a seguir são habitualmente considerados quando há
resistência aos agentes de primeira linha, falha da resposta clinica ao tratamento convencional,
reações adversas graves que limitem o tratamento ou quando há orientação especializada para lidar
com os efeitos tóxicos.
3.4.1 RIFABUTINA:
É um derivado semi-sintético de espiropiperidil ramificina, compartilha características da
rifamicina, como sua atividade contra o M. tuberculosis. A rifabutina também é ativa contra algumas
cepas de M. tuberculosis resistentes à rifampicina e tem sido recomendada para pacientes com HIV
que estão em uso de inibidores de proteases, visto que seu efeito sobre esses é menos pronunciado.
Mecanismo de ação: inibe a RNA polimerase na E.Coli e Bacillus sabtilis, assim como a
rifampicina.
Farmacologia: a rifambutina sofre rápida absorção após uma dose única dose oral de 300mg.
É um fármaco que se distribui melhor nos tecidos. As concentrações no LCR correspondem de 30 a
70% nos níveis plasmáticos em pacientes infectados por HIV que apresentam meningite. A meia
vida do fármaco é longa, em média de 45h, em virtude da lenta metabolização hepática. A
claritromina e fluoconazol parece que bloqueiam o metabolismo hepático da rifabutina, aumentando
seus níveis séricos.
Efeitos Adversos: ocorrem, geralmente, em pacientes que recebem mais de 300mg/dia. Os
sintomas mais comuns são os gastrintestinais, cefaléia, astenia, dor torácica, mialgia e insônia. A
maioria dos pacientes em uso de rifabutina apresentam urina e outros líquidos corporais de coloração
alaranjada a castanha. A rifabutina induz as enzimas hepáticas do citocromo P450.
Resistência: é atribuível ao mecanismo da rifampicina, ou seja, mutações que envolvem o
gene rpoB. Entretanto dos 14 alelos rpoB mutantes que conferem resistência à rifampicina, apenas
nove conferem resistência de alto nível, apenas nove conferem resistência de alto nível à rifabutina;
os cinco restantes resultam apenas em pequenas alterações da CIM da rifabutina, que permanece em
menor quantidade ou igual a 0,5 micrograma por mililitro. Por conseguinte, a rifabutina inibe cerca
cerca de 25% das cepas de M.tuberculosis resistentes à rifampicina
O esquema clássico de escolha terapêutica consiste em 2 meses de RIP, seguidas por um
período de 4 meses de isoniazida e rifampicina. No caso de pacientes, epidemiologicamente
identificados, infectados por cepas não resistentes, deve-se utilizar etambutol ou estreptomicina
durante os dois primeiros meses até que sejam obtidos os resultados do teste de sensibilidade dessa
cepa. O tratamento pode ser diário ou intermitente, três vezes por semana durante todo o tratamento
ou duas vezes por semana após uma fase inicial de tratamento diário. A fase de esterilização por
rifampicina e isoniazida uma vez por semana tem uma boa eficácia para os pacientes que seguiram
estritamente as prescrições na fase inicial do tratamento e apresenta bacterioscopia negativa em 2
meses, na cultura de escarro. No caso de pacientes com tuberculose pulmonar e cultura de escarro
negativa, o tratamento pode ser reduzido a 4 meses. Já no caso de paciente com deficiência de
vitamias (alcoólatras, gestantes, desnutridos, diabético, doentes renais crônicos, pacientes com HIV/
AIDS), deve-se incluir no esquema a piridoxina (10 a 25 mg/dia).
3.4.2 RIFAPENTINA:
Mecanismo de Ação: É um antibiótico semi-sintético ciclopentil rifamicina, análogo à
rifampicina. Apesar de semelhante à rifampicina, a rifapentina é lipofílica e de ação mais longa, o
que melhora adesão do paciente. Exerce seu efeito bactericida ao inibir a RNA polimerase
dependente de DNA nas bactérias sensíveis.
Farmacologia: Ativa contra M. tuberculosis e M. avium e, assim como a rifampicina, é um
potente indutor das enzimas do citocromo P450 e possui o mesmo perfil de interações
medicamentosas e de toxicidade. A rifapentina e seu metabolito microbiologicamente ativo, 25desacentilrifapentina, possuem meia-vida de eliminação de 13h. Inibe a bactéria com a concentração
de 0,03 a 0,12 µg/ml e a dose é de 600 mg (10 mg/kg), 1 ou 2 vezes/semana. Após administração
oral alcança concentrações séricas máximas em 5 a 6h e o estado de equilíbrio dinâmico em 10 dias.
Excreção hepática de 70% do fármaco. É indicada em casos de cepas sensíveis à rifampicina e
apenas durante a fase de continuação, ou seja, após os 2 meses iniciais de terapia e, idealmente, após
as conversões de culturas de culturas de escarro em negativas.
Efeitos Adversos: Semelhantes aos da rifampicina. As interações medicamentosas são menores
que as da rifampicina e maiores que as da rifabutina. Possui efeitos teratogênicos.
Resistência: As cepas de M. tuberculosis resistentes à rifampicina, rifabutina e rifapentina
envolvem mutações pontuais espontâneas no gene rpoB. Todas as cepas resistentes à rifampicina são
também à rifapentina. Há resistência cruzada entre rifapentina e rifampicina completa. A rifapentina
não deve ser utilizada em pacientes HIV positivos, pois há taxa de recidiva inaceitavelmente alta
com microrganismos resistentes à rifampicina.
3.4.3 ETIONAMIDA:
A etionamida está quimicamente relacionada com a isoniazida e à exemplo da isoniazida e da
pirazinamida é um derivado do ácido isonicotínico.
Mecanismo de Ação: É um agente bacteriostático contra o metabolismo do M. tuberculosis e
de algumas MNT, bloqueia a síntese de ácidos micólicos.
Farmacologia: É pouco solúvel em água e apenas disponível na forma oral. Há inibição in vitro
da maioria dos bacilos com 2,5 µg/ml e as concentrações séricas de aproximadamente 20 µg/ml no
plasma e nos tecidos são alcançadas com doses de 1 g/dia (ou 15 mg/kg/dia), porém a administração
segue uma dose inicial de 250 mg, 1 vez/dia, e vai aumentando 250 mg até atingir 1 g como
recomendado. As concentrações no LCR são iguais as do soro. Com frequência devido à tolerância,
deve optar-se por uma dose diária total de 500 a 750 mg.
Efeitos Adversos: A etionamida é mais útil no tratamento da tuberculose resistente à múltiplos
fármacos, entretanto seu uso é seriamente limitado pois a droga é muito pouco tolerada devido a sua
alta toxicidade e efeitos colaterais frequentes que consistem em irritação gástrica intensa, sintomas
neurológicos graves (que podem ser aliviados pela piridoxina), é metabolizada pelo fígado e portanto
hepatotóxica, podendo levar à hepatite reversível e ,por fim, à reações de hipersensibilidade e
hipotireoidismo.
Resistência: Como única medicação a etionamida sofre resistência rapidamente tanto in vitro
quanto in vivo. Pode haver resistência cruzada de baixo nível entre isoniazida e a etionamida.
3.4.4 CAPREOMICINA
Mecanismo de Ação: A capreomicina é um antibiótico polipeptídico cíclico complexo, inibidor
da síntese proteica e derivado do Streptomyces capreolus. Assemelha-se à estreptomicina em relação
à dose, mecanismo de ação, farmacologia e toxicidade. Depois da estreptomicina, a capreomicina é o
fármaco injetável de escolha para o tratamento da tuberculose.
Farmacologia: Administrada apenas por via intramuscular geralmente em doses de 10 a 15
mg/kg/dia (ou 1 g diária no máximo) ou 5 vezes/semana, chegando portanto à níveis sanguíneos
máximos de 20 a 40 µg/ml. Após 2 a 4 meses a dose deve ser reduzida para 1 g 2 ou 3 vezes/semana.
Efeitos Adversos: A capreomicina é nefrotóxica e ototóxica, levando à surdez, zumbidos e
distúrbios vestibulares. A toxicidade é reduzida quando se administra 1g, 2 ou 3 vezes/semana, após
a obtenção de uma resposta inicial com um esquema posológico diário. A injeção local provoca dor
intensa local podendo formar abcessos estéreis.
Resistência: As concentrações de 10 µg/ml, in vitro, inibem muitas micobactérias, inclusive
cepas de M. tuberculosis resistentes à múltiplos fármacos, e quando estas cepas são resistentes à
estreptomicina ou à amicacina são habitualmente sensíveis à capreomicina. É comum haver
resistência cruzada entre a canamicina e a amicacina, mas não com a estreptomicina.
3.4.5 CICLOSSERINA
Mecanismo de Ação: A ciclosserina (D-4-amino-3-isoxazolidinona) é um minibidor de parede
celular e é produzida pelo Srteptomyces orchidaceus; mostra-se ativo contra um amplo espectro de
bactérias incluído o M. tuberculosis. Administrada oralmente distribui-se amplamente pelos líquidos
corporais e LCR.
Farmacologia: A dose para tuberculose é de 0,5 a 1 g/dia em 2 doses fracionadas. Como é
depurada pelos rins, a dose deve ser reduzida à metade se a depuração da creatinina for menor que 50
ml/min. A faixa recomendada de concentração máxima é de 20 a 40 µg/ml e é alcançada 2 a 4h após
uma dose. A piridoxina deve ser administrada com ciclosserina na dose de 150 mg/dia, visto que essa
associação melhora a toxicidade neurológica discutida adiante.
Efeitos Adversos: Os efeitos tóxicos mais graves limitam seu uso e consistem em neuropatia
periférica e disfunção do sistema nervoso central como psicose (com suicídio em alguns casos),
convulsões, cefaléias, sonolência além de reações alérgicas. Há contra indicação para epiléticos,
abuso aditivo de álcool, insuficiência renal grave ou história de depressão ou psicose. Os efeitos
adversos, que são mais comuns nas 2 primeiras semanas de terapia, ocorrem em mais ou menos 25%
dos pacientes, principalmente se administrados em doses mais altas. Os efeitos colaterais podem ser
minimizados com a monitoração das concentrações séricas máximas já descritas.
3.4.6 ACIDO AMINOSSALICILICO (PAS)
Mecanismo de Ação: O ácido aminossalicílico ou paraaminossalicílico como sal de cálcio ou
sódio interfere como antagonista na síntese de folato e por isso inibe quase que exclusivamente o
crescimento do M. tuberculosis. Assemelha-se estruturalmente ao acido p-aminobenzóico (PABA) e
às sulfonamidas.
Farmacologia: Os bacilos da tuberculose são habitualmente inibidos in vitro com uma
concentração de 1 a 5 µg/ml. O PAS é rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal atingindo
níveis séricos de 50 µg/ml ou mais após uma dose oral de 4 g. A dose é de 8 a 12 g/dia e a
distribuição é ampla nos tecidos e líquidos corporais exceto no LCR. O fármaco apresenta meia vida
curta de 1h aproximadamente e, por isso, 80% da dose são rapidamente excretados na urina, em parte
como ácido aminossaliclico ativo e, em parte, como composto acetilado e outros produtos
metabólicos; em concentrações altas podem resultar em cristalúria.
Efeitos Adversos: Hoje o PAS é muito pouco utilizado devido a sua baixa tolerância e baixo
nível de atividade tuberculostática e alto nível de toxicidade gastrointestinal, que se manifesta como
náuseas, vômitos e diarréias. Esses sintomas são comuns e podem ser amenizados pela administração
nas refeições e com antiácidos. Além disso, os grânulos de PAS com revestimento entérico (4g a
cada 8h) podem ser mais bem tolerados que outras formulações e produzem níveis sanguíneos
terapêuticos mais elevados. Podem ocorrer também ulcerações pépticas e hemorragias. Com
frequência verifica-se reações de hipersensibilidade que se manifestam como febre, dores articulares,
exantemas cutâneos, hepatoesplenomegalia, hepatite, adenopatia e granulocitopenia, depois de 3 a 8
semanas de terapia com PAS, tornando necessária a interrupção do tratamento com este fármaco
temporária ou permanentemente.
3.4.7 CANAMICINA E AMICACINA
Mecanismo de Ação: São antibióticos aminoglicosídios, bactericidas e agem a nível
extracelular. A amicacina se mostra ativa contra o M. tuberculosis e contra espécies não tuberculosas
ou atípicas como algumas micobactérias de crescimento rápido.
Farmacologia: O M. tuberculosis consegue ser inibido com 1 µg/ml ou menos. Atingem-se
concentrações séricas de 30 a 50 µg/ml em 30 a 60 min após uma infusão intravenosa de 15 mg/kg.
Pode ser administrada via intramuscular ou intravenosa, 3 a 5 vezes/semana em geral no máximo 500
a 700 mg/dia.
Resistência: Está relacionada a uma alteração em um único par de bases A-G. A amicacina é
indicada para o tratamento das tuberculoses supostas ou reconhecidamente causadas por cepas
resistentes à múltiplos fármacos, e deve ser usada em associação com pelo menos um e de
preferência dois ou três fármacos aos quais o microrganismo isolado seja sensível e a dose
recomendada é a mesma da estreptomicina.
A canamicina tem sido utilizada no tratamento da tuberculose causada por cepas resistentes à
estreptomicina, porém o fármaco tornou-se obsoleto com a disponibilidade de agentes alternativos
menos tóxicos como a capreomicina e a própria amicacina. A maioria das cepas resistentes à
múltiplos fármacos são sensíveis à amicacina, que por sua vez possui poucas cepas resistentes à ela.
Não há resistência cruzada entre estreptomicina e amicacina, porém a resistência à canamicina
frequentemente indica uma resistência também à amicacina.
3.5.8 FLUOROQUINOLONAS
Mecanismo de Ação: As quinolonas fluoradas previnem a síntese de DNA através da inibição
da DNA girase. Além de sua atividade contra bactérias gram-negativas e gram-positivas, o
ciprofloxacino, o levofloxacino, o gatifloxacino e o moxifloxacino inibem cepas de M. tuberculosis
em concentrações menores que 2 µg/ml e também são ativos contra micobactérias atípicas. O
levofloxacino e o moxifloxacino são as quinolonas mais ativas contra o M. tuberculosis enquanto o
ciprofloxacino e mais ativo contra micobacterias atípicas. Estudos recentes mostram que o
moxifloxacino pode diminuir a duração do tratamento para a tuberculose sensível a fármacos. O
ofloxacino tem se mostrado tão ativo e seguro quanto o etambutol quando usado em combinação
com a isoniazida para a tuberculose pulmonar, apesar de não ser aprovado para o tratamento da
tuberculose nos EUA. Alguns especialistas classificam as quinolonas, principalmente o
moxifloxacino como agentes complementares de primeira linha.
Farmacologia: A dose padrão de ciprofloxacino é de 750 mg, 2 vezes/dia via oral, a de
levofloxacino é de 500 a 750 mg, 1 vez/dia e a de moxifloxacino é de 400 mg, 1 vez/dia. Os agentes
são bem absorvidos via oral e alcançam níveis séricos elevados; são bem distribuídos pelos tecidos e
líquidos corporais. Também podem ser administrados via intravenosa.
Efeitos Adversos: São relativamente incomuns ocorrendo em 0,5 a 10% dos casos e consistem
principalmente de reações benignas, como intolerância gastrintestinal, exantemas, tontura e cefaléia.
Resistência: As quinolonas têm se mostrado importantes especialmente contra cepas resistentes
aos fármacos de primeira linha ou pacientes intolerantes à esses fármacos. A resistência pode resultar
de qualquer uma de várias mutações puntiformes na subunidade A da girase; desenvolve-se
rapidamente quando utilizada como única medicação e por isso devemos associá-la com dois ou mais
outros agentes ativos.
3.5.9 LINEZOLIDA
Mecanismo de Ação: pertence a uma nova classe de antimicrobianos contra microrganismos
gram-positivos, são as oxazolidinonas, elas inibem a síntese de proteínas através de sua ligação ao
complexo de iniciação ribossômico 70S.
Farmacologia: Disponível em formas intravenosa e oral. Inibe cepas de M. tuberculosis in vitro
em concentrações de 4 a 8 µg/ml, alcança concentrações intracelulares satisfatórias e mostra-se ativa
em modelos murinos de tuberculose. Nesses casos o uso da linezolida foi associado à conversão de
culturas de escarro em negativas, e alguns podem ter sido curados. Doses de 600 mg 1 vez/dia
(metade da dose empregada para outras infecções bacterianas) parece ser suficiente e limitar a
ocorrência de efeitos adversos.
Efeitos Adversos: Com os ciclos prolongados da terapia necessários para o tratamento da
tuberculose foram relatados efeitos adversos significativos que podem limitar o uso da droga como
supressão de medula óssea (dose dependente e reversível) e neuropatia periférica e óptica (dose
independente e irreversível).
Resistência: É um fármaco de último recurso para tratamento de infecções causadas por cepas
resistentes, que também são resistentes à vários outros agentes de primeira e segunda linhas.
3.5 TRATAMENTOS ESPECIAIS
a) Coinfecção por vírus de imunodeficiência humana (HIV): o tratamento da tuberculose nos
indivíduos infectados por HIV é semelhante ao dos indivíduos não infectados (2
HRZE/4HR). No entanto, existem algumas situações que podem condicionar a escolha do
regime terapêutico, salientando-se a coexistência de outras doenças e seus tratamentos, o
perfil psicológico do doente, a capacidade de adesão a tratamentos prolongados, o maior
número de interações medicamentosas e de efeitos secundários, perturbações da absorção e
reações paradoxais no decurso das terapêuticas. Nestes doentes deve-se privilegiar o uso da
medicação conjunta (antibacilar e antirretroviral), com vista à melhoria da adesão ao
tratamento.
b) Tuberculose na criança: em geral, o esquema de tratamento da tuberculose na criança é o
mesmo do utilizado nos adultos, com a exceção do etambutol, que não é usado por rotina. As
formas mais frequentes de manifestação de tuberculose nesta classe etária têm pouca carga
bacilífera, havendo pouco risco de desenvolvimento de resistências. No entanto, algumas
crianças e adolescentes podem apresentar manifestações da doença “tipo adulto”, com
infiltrado no lobo superior, cavitação ou com produção de expectoração. Nestas situações, a
fase inicial deve incluir os quatro fármacos (RIP + etambutol) até à obtenção de
antibiograma.
c) Gravidez e amamentação: o tratamento inicial consiste em HRZE. Apesar de todos estes
fármacos travessarem a barreira placentária, não parece ter efeitos teratogênicos (também
válido para pirazinamida). A estreptomicina é o único antibacilar documentadamente
associado a efeitos nocivos no feto (surdez congénita) pelo que não deve ser utilizada. Se a
pirazinamida não for utilizada no esquema inicial, a duração do tratamento deverá ter
obrigatoriamente 9 meses. A amamentação deve ser encorajada. A concentração mínima dos
antibacilares de 1.ª linha no leite não produz qualquer efeito tóxico na criança. Da mesma
forma, deve ter-se em atenção que as mesmas concentrações não devem ser consideradas
suficientes para o tratamento da tuberculose ativa ou da tuberculose latente do recém-nascido.
Está recomendada a associação de piridoxina (25 mg/dia) a todas as mulheres que estejam
sendo medicadas com isoniazida e que estejam grávidas ou amamentando.
3.6 PRINCIPAIS EFEITOS ADVERSOS DOS FÁRMACOS
Os efeitos colaterais, principalmente os mais graves, estão relacionados a uma maior taxa de
abandono do tratamento, uma vez que acarretam maior tempo de terapia e maior número de
hospitalizações e de consultas ambulatoriais e domiciliares. Além disso, alterações no esquema
terapêutico decorrentes desses efeitos adversos ocasionam a inclusão de uma ou mais drogas menos
potentes e mais tóxicas, aumento do risco de falência do tratamento, recorrência da doença e, em
algumas ocasiões, o aumento da duração do tratamento, com consequente diminuição da aderência
ao mesmo.
Os fatores relacionados às reações adversas no tratamento da tuberculose são múltiplos, mas
os principais determinantes destas reações são a dose administrada, horários de administração da
medicação, idade, estado nutricional, gravidez, alcoolismo, condições da função hepática e renal e
co- infecção pelo HIV. Estas reações podem ser divididas em dois grupos:
a) Menores ou leves: ocorrem entre 5% e 20% dos casos e não implicam em modificação
imediata do esquema padronizado. Estes efeitos são controláveis com medidas
relativamente simples, como explicações adicionais e encorajamento do paciente;
mudança na forma e/ou horário das tomadas das medicações; e uso de medicamentos
sintomáticos.
b) Maiores ou graves: são menos frequentes (em torno de 2%), podendo chegar a 8% em
serviços especializados, e implicam na interrupção ou alteração do tratamento.
a) Toxicidade hepática: está frequentemente associada ao tratamento antibacilar, sendo
potencialmente grave. Define-se como uma elevação das transaminases superior a três vezes
o limite superior normal, na presença de sintomas ou elevação das transaminases superior a
cinco vezes o limite superior normal, na ausência de sintomas. Ocorre mais frequentemente
nos indivíduos com hábitos etílicos, nos coinfectados pelo vírus da hepatite C ou vírus da
hepatite B e nos indivíduos mais idosos. Recomenda-se a suspensão de todos os fármacos
potencialmente hepatotóxicos (H, R, Z) e a identificação de outras causas possíveis (ex:
vírica, álcool). Perante quadros de resolução mais lenta, prevê-se introdução temporária de
um esquema terapêutico com fármacos de menor potencial hepatotóxico (ex: etambutol,
estreptomicina, amicacina/canamicina, fluoroquinolona). As H, R e Z devem ser reiniciadas
após a diminuição das transaminases para valores inferiores a duas vezes o normal, de forma
gradual. Durante esse período, deve-se proceder a uma monitorização clínica e analítica.
b) Lesões cutâneas: podem ser provocadas por qualquer um dos antibacilares. A atitude a tomar
depende da gravidade da manifestação. Se a extensão das lesões for mínima poderá bastar a
associação de anti-histamínico anti-H1 seletivo, não sendo necessária a interrupção do
tratamento. Nas reações generalizada, com febre e/ou acometimento das mucosas, deve-se
suspender todo o tratamento. Após melhoria da erupção deve proceder à reintrodução gradual
dos fármacos de 1.ª linha.
c) Perturbações gastrintestinais: náuseas, vômitos, epigastralgia e dor abdominal, são mais
frequentes nas primeiras semanas de tratamento. Pode-se alterar a hora de administração,
associar a administração da medicação à ingestão de alimentos ou utilizar, se necessário, um
protetor gástrico.
d) Artralgia: geralmente relacionado à pirazinamida e pode ser atribuído à hiperuricemia. O
mecanismo se deve ao ácido pirazinóico, principal metabólito da pirazinamida, que inibe a
secreção tubular renal do ácido úrico, causando aumento da sua concentração no soro e,
conseqüentemente, dores articulares.
3.7 RETORNO AO TRATAMENTO APÓS INTERRUPÇÃO
Em face de interrupções ou abandonos ao tratamento, a decisão terapêutica deve ser baseada
no resultado das baciloscopias, no tempo de abandono e no tempo de tratamento já efetuado.
Sempre que os exames diretos ou de cultura da expectoração, realizados à data da
reintrodução da terapêutica antibacilar, forem positivos, o esquema terapêutico deve ser reiniciado,
independentemente de qualquer outro fator. Nessa altura deve ser repetido teste de susceptibilidade
aos antibacilares.

Abandonou-se durante a fase inicial do tratamento (primeiros 2 meses):
a) Menos de 14 dias – prossegue tratamento (completar número de doses predefinidas);
b) Mais de 14 dias – reinicia tratamento;

Abandonou-se durante a fase de manutenção:
a) Fez mais de 80% do tratamento – ponderar terminar tratamento se as baciloscopias na fase
inicial da apresentação do quadro eram negativas; caso contrário, prosseguir tratamento;
b) Menos de 80% do tratamento:
i.
Mais de 3 meses de interrupção – reinicia tratamento;
ii.
Menos de 3 meses de interrupção – prossegue tratamento (completar número de doses
predefinidas).
4. TUBERCULOSE MULTIRRESISTENTE (TBMR)
A resistência bacteriana não se constitui em fenômeno novo ou uma nova forma da doença.
Desde o aparecimento das primeiras drogas, como a estreptomicina, já se observava a presença de
bacilos naturalmente resistentes. Igualmente, não se deve a novos mecanismos, mas a mutações
genéticas já bem estabelecidas desde o início da década de 70.
A droga-resistência no Brasil está fundamentalmente associada a mau tratamento prévio. As
formas de resistência às drogas antituberculosas são:
A. Primária – aquela observada em pacientes seguramente não tratados anteriormente,
B. Infectados por uma fonte doente com forma resistente;
C. Adquirida ou secundária – resultante de uso prévio de medicação de forma
inadequada, seja por esquemas de baixa potência ou feitos por tempo insuficiente.
Realizado em nosso país recentemente, inquérito da resistência primária mostrou os seguintes
resultados: a taxa de resistência primária nos pacientes VT (virgens de tratamento) foi de 9,2% a uma
droga e de –0,8% a duas drogas; nos pacientes RT (retratamento), foi de 21,8% a uma droga e de
5,7% a duas drogas. Ainda valores baixos, porém com aumento da resistência primária no
retratamento. Como perspectiva promissora para os portadores de TBMR, vem surgindo novos
fármacos e recuperados velhos tuberculostáticos, o que possibilita a formulação de esquemas
terapêuticos alternativos. Entre os novos, destaque para os derivados quinolônicos e as novas
ansamicinas; entre os recuperados, outros aminoglicosídeos e a ciclosserina e seus análogos.
Em 1993 foi realizado o 9º Fórum em Microbiologia sobre Emergência da Tuberculose
Multidrogarresistente, estabelecidos e publicados no Anuário do Institut Pasteur. Aos pacientes com
suspeita de TBMR, rever uso prévio de drogas e confirmação in vitro da sensibilidade. Baseado
nisso, a proposta terapêutica deve se compor de, no mínimo,três medicamentos não utilizados
anteriormente, com comprovada sensibilidade in vitro. Entre esses, prioritariamente, um agente oral
do grupo das fluorquinolonas e um agente parenteral, aminoglicosídeo, nos primeiros meses do
tratamento.
Algumas experiências nacionais testando esquemas alternativos, porém com número limitado
de pacientes ou com os resultados ainda não consolidados, apresentam respostasfavoráveis que
variam de 20 a 70%. A maioria destes trabalhos foi exclusivamente com medicamentos existentes no
mercado nacional, e com pacientes quase que em sua maioria com resistência adquirida. Para
analisá-los comparativamente há uma dificuldade adicional, qual seja a metodologia não foi
semelhante. As experiências internacionais mostraram uma taxa de efetividade em torno de 54%,
também com resistência adquirida.
5. PROFILAXIA
A melhor maneira de prevenir a Tuberculose é diagnosticar e isolar rapidamente os casos
infecciosos, bem como administrar um tratamento apropriado até que o paciente se torne nãoinfeccioso e a doença seja curada. Outras estratégias consistem na vacinação com BCG e tratamento
de indivíduos com infecção da tuberculose latente que correm alto risco de desenvolver a doença
ativa.
A profilaxia, na maioria das situações, é bastante mais eficaz do que a que se pode obter na
tuberculose com a vacinação e com a quimioprofilaxia. Na tuberculose, sendo a maioria das formas
pulmonares as transmissoras da doença, é pelo seu diagnóstico precoce e pelo tratamento correto e
completo que se consegue, de forma segura e progressiva, controlar a situação epidemiológica.
Da vacina só podemos esperar um benefício parcial (erradamente, muitos ainda a criticam pelo que
ela não pode dar – a redução da tuberculose pós-primária); da quimioprofilaxia, sabe-se que os
benefícios são limitados e as implicações logísticas elevadas. Entendidas corretamente à luz das suas
potencialidades, estas medidas profiláticas podem desempenhar um papel – se bem que
complementar – muito importante na luta pelo controle desta doença.
5.1 VACINAÇÃO COM BCG:
A BCG foi obtida de uma cepa atenuada de M. bovis e administrada pela primeira vez a seres
humanos em 1921. Foram constatadas taxas de eficácia em áreas onde os lactentes são vacinados ao
nascimento e taxas mais altas na proteção de lactantes e crianças pequenas contra formas
relativamente graves de tuberculose, como a meningite tuberculosa e tuberculose miliar.
A vacina BCG é segura e raramente causa complicações graves. A resposta tecidual local
começa 2 a 3 semanas após a vacinação, com formação de cicatriz e cicatrização em 3 meses. Em 1 a
10%dos indivíduos vacinados, ocorreram efeitos colaterais – mais comumente, ulceração no local da
vacinação e linfadenite regional.
BCG e infecção HIV: há relatos de casos individuais de efeitos adversos do BCG em
soropositivos ou em doentes com AIDS e outros imunodeprimidos (mas também em indivíduos
saudáveis). Em dois estudos comparativos de populações infantis, não se encontraram diferenças
significativas entre seropositivos e controles. Na Tailândia, num estudo prospectivo em 223 recémnascidos filhos de mães soropositivas, não se registaram complicações. Foi verificada uma reduzida
taxa de conversão tuberculínica nos soropositivos. É, no entanto, desconhecida a eficácia da vacina
nestes grupos de risco. Nos casos de AIDS, é consensual a não vacinação.
BIBLIOGRAFIA:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_controle_tuberculose.pdf
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/nota_tecnica_versao_28_de_agosto_v_5.pdf
http://pt.scribd.com/doc/101918/TRATAMENTO-DA-TUBERCULOSE
http://bvsms.saude.gov.br/html/pt/dicas/dica_tuberculose.html
http://www.fmt.am.gov.br/manual/tuberculose.htm
http://www.sopterj.com.br/tuberculose/curso/1.pdf
http://www.sopterj.com.br/tuberculose/curso/6.pdf
Harrison Medicina Interna. 17ª Edição. São Paulo: McGraw-Hill, 2009
http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S087321592010000400004&lang=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-37132008001200010&script=sci_arttext
http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1526/tuberculose.htm
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