Delfim Netto e o “milagre econômico” brasileiro (1968-73)* Felipe Marineli** Instituto de Estudos Brasileiros, USP, SP 1. Objetivos 3. Resultados Neste trabalho pretende-se articular a política econômica concretizada no “milagre econômico” brasileiro (1968-1973) com o arrimo teórico dado por Antônio Delfim Netto, então ministro da Fazenda (1967-1974), buscando compreender a gênese e a função social de seu pensamento. A pesquisa possui como horizonte quatro aspectos fundamentais: em primeiro lugar, pretende realizar a reconstituição sumária do debate econômico das décadas de 1940-60 no Brasil para a contextualização teórica de Delfim Netto e do debate travado por ele; em segundo lugar, busca a investigação minuciosa da teoria econômica do referido autor, isto é, a compreensão da lógica interna de suas construções teóricas; em terceiro lugar, intenta compreender se, e de que modo, sua interpretação foi aplicada à realidade brasileira no período em que foi ministro da Fazenda (1967-1974), observando a confrontação com o processo econômico e com as políticas concretas do período; por último, o estudo irá analisar o modo como Delfim Netto se volta ao “milagre” desde sua saída do Ministério da Fazenda até o final da década de 1970. Como ainda se encontra em fase inicial, a pesquisa ainda não possui resultados substanciais. Cabe apontar, entretanto, que a política econômica levada a cabo por Delfim Netto promoveu o crescimento econômico acelerado ao mesmo tempo em que aprofundou as desigualdades econômicosociais do país. 2. Procedimentos Além das teorizações sobre a economia brasileira nas décadas de 1940-60, este trabalho se ocupará dos textos de Delfim Netto produzidos desde o início de sua produção teórica, em 1959, até o final da década de 1970, encontrados em livros, periódicos, artigos de jornais etc., que não foram reunidos por nenhuma instituição voltada à pesquisa, estando, porém, distribuídos por bibliotecas de órgãos públicos e privados. Para o exame da política econômica, serão utilizados dados descritivos retirados de periódicos coetâneos e posteriores ao período estudado. Também serão utilizadas análises da realidade e do pensamento econômico nacionais realizadas por autores que se propuseram a compreender os aspectos ideológicos e político-econômicos do período – e que, desse modo, analisaram a gênese, as implicações e os desdobramentos do modo específico de reprodução do sistema capitalista no Brasil, assim como as transformações que estavam em curso. 4. Conclusões Parciais O tecnocrata Delfim Netto não separa a política da economia ao intervir não apenas na realidade econômica do país, mas também na realidade política e social[1], como o principal responsável pela aplicação da política econômica do governo entre 1967 e 1974. Delfim Netto, ao contrário dos desenvolvimentistas nacionalistas[2] ou da corrente desenvolvimentista nacionalista do setor público[3], conforme a nomenclatura que se adote, não coloca como eixo central de sua análise a confrontação com o padrão existente de distribuição de renda, senão como aspecto tributário do crescimento econômico acelerado. Desenvolvimento econômico, para Delfim Netto, significa aumento absoluto da produção e da produtividade, em função do crescimento da população e da incrementação da acumulação de capital, por meio de maior reinvestimento da parcela do produto obtido. O desenvolvimento econômico se constitui, portanto, antes de tudo, como acumulação de capital[4]. 5. Referências Bibliográficas [1] DELFIM NETTO, A. Dêem-me o ano e fiquem com a década. ESTUDOS ECONÔMICOS BRASILEIROS. [S.l.]: Edições APEC, n.7, p. 15-24, 1970. [2] SOLA, L. Idéias econômicas, decisões políticas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998. [3] BIELSCHOWSKY, R. Pensamento Econômico Brasileiro. 4ª edição. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000. [4] DELFIM NETTO, A. 1967/1968: Política Econômica e Financeira do Governo. 64p. Trabalho não publicado. 1968a. * Pesquisa desenvolvida com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) sob a orientação do Prof. Dr. Alexandre de Freitas Barbosa. ** Graduando em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.