em destaque PUBLICAÇÃO BIMESTRAL DA SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO – ANO VIII – N0 1 – JANEIRO/FEVEREIRO 2013 Valorização do cardiologista de SP: prioridade em 2013 • Contagem regressiva para o XXXIV Congresso • Clube de benefícios SOCESP: bons descontos em produtos e serviços • Estudo mapeia risco cardiovascular de população com mais de 80 anos 4 XXXIV Congresso da SOCESP 6 Vantagens – Clube de Benefícios 7 Atualização – Reciclagem em Cardiologia 8 Pesquisa – Risco cardiovascular 9 Políticas Públicas – Carta do RJ 11 Sua Carreira – Lei Seca 12 Gestão Pública – Empresas equilibradas 13 Defesa profissional – Valorização 15 Serviço 16 Regionais – Campinas/Marília 17 Estudo multicêntrico – Emapo 18 Surpreenda-se 19 Agenda 20 Multidisciplinar Um ano de desafios e avanços As perspectivas para 2013 são as melhores, quando pensamos na cardiologia de São Paulo. Estamos investindo em novos estudos, como o que mapeia o risco cardiovascular na população com mais de 80 anos e na consolidação do Emapo, projeto de avaliação perioperatória que permite registrar pacientes e reunir banco de dados individual. Simultaneamente, seguimos com as ações para qualificar ainda mais nossas ferramentas científicas. O Curso Nacional de Reciclagem passa por um processo de rejuvenescimento, que pretende torná-lo mais dinâmico, interativo, enfim, com uma programação e didáticas bem focadas nas necessidades de revisão do conhecimento da especialidade atualmente. Melhor ainda são as notícias do Congresso SOCESP. Em sua XXXIV edição, um dos focos é estimular a formação de médicos centrados na prevenção desde a infância, para que, independentemente da especialidade ou área de atuação, estejam sempre atentos à oportunidade de destacar estes cuidados durante a assistência à população. Teremos também em nosso evento mais tradicional um inédito Encontro Estadual de Serviços de Cardiologia Pediátrica, para a integração e troca de experiências. É apenas uma das novidades que você conhecerá nas próximas páginas. Ao sócio da SOCESP, boas notícias na área de serviços. Agora, você tem um Clube de Benefícios para comprar com descontos e vantagens nas melhores lojas do Brasil, de automóveis a eletrônicos. Por fim, entro no assunto que será nossa prioridade em 2013: a defesa profissional do cardiologista. Já começamos a fechar, com as demais entidades estaduais e nacionais, a estratégia para o movimento deste ano. As reivindicações para a saúde suplementar são contratos com cláusulas de reajustes anuais, honorários mínimos de R$ 90,00; recomposição de todos os procedimentos, tendo como base de cálculo a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos. Exigimos respeito dos planos de saúde e convênios. Temos até uma linha de ação, que você conhecerá em detalhes nas próximas páginas, incluindo a possibilidade de iniciar uma série de protestos, com a suspensão por tempo determinado do exame ergométrico. Vamos em frente. Obrigado. editorial ÍNDICE Carlos Magalhães, Presidente da SOCESP S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 3 socesp em foco Contagem regressiva pa Tudo pronto para mais um grande encontro científico promovido pela SOCESP. De 30 de maio a 1º de junho, no Transamérica Expo Center, na capital paulista, você será testemunha presencial da excelência do XXXIV Congresso da SOCESP, cujo tema central é Ampliando os Horizontes na Prevenção Cardiovascular. As discussões terão o intuito de destacar o grande consenso atual de desviar um pouco o foco da doença cardiovascular já instalada para a prevenção e os cuidados integrados. Ieda Jatene, presidente do congresso, argumenta que essa iniciativa põe a SOCESP ao lado das principais entidades médicas mundiais, incentivando a formação de especialistas centrados na prevenção desde a infância, para que, independentemente da especialidade ou área de atuação, estejam sempre atentos à oportunidade de destacar estes cuidados durante a assistência à população. 4 S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA O XXXIV Congresso da SOCESP sediará inédito Encontro Estadual de Serviços de Cardiologia Pediátrica, dirigido a especialistas de todo o Brasil, para a integração e troca de experiências. “Ao longo de todo o dia 31 de maio, sexta-feira, discutiremos casos, alternando a participação de serviços do interior e da capital. Essa atividade é pioneira e certamente atrairá os profissionais ligados às cardiopatias congênitas”, avalia Ieda Jatene. FÓRUM DE PREVENÇÃO Realizado paralelamente às demais atividades científicas do congresso, o Fórum de Prevenção Integrada reunirá representantes de diversos segmentos para a discussão de ações de aprimoramento da prevenção cardiovascular. O intuito, destaca Mauricio Wajngarten, coordenador da Comissão Científica do Congresso e do ara o XXXIV Congresso Fórum, é contribuir para a melhoria na prevenção das doenças cardiovasculares, por meio de reuniões periódicas. “O fórum terá não apenas especialistas e estudiosos do assunto, que detêm conhecimento científico para melhorar a prevenção, mas também representantes de esferas políticas e pessoas ligadas à mídia, que contribuirão com propostas claras para esse aprimoramento. Cada etapa resultará em um documento com propostas da SOCESP para melhorar a saúde cardíaca dos cidadãos brasileiros”, explica Wajngarten. Esse documento será amplamente divulgado para a comunidade e encaminhado às autoridades para que possam orientar futuras ações de saúde pública. Neste primeiro encontro, o mote dos debates será o público infantil. “Desejamos que o debate seja, sobretudo, construtivo e objetivo, evitando um catastrofismo de divulgação de coisas ruins e discussões estéreis.” O fórum terá caráter permanente e promoverá, a cada reunião, o acompanhamento daquilo que já foi discutido em outras etapas e das ações tomadas a partir delas. Assim, será possível avaliar, elaborar e questionar novas recomendações antes de partir para outros tópicos. PROGRAMAÇÃO CIENTÍFICA A programação já está totalmente finalizada, conforme informa Miguel Moretti, o outro coordenador da comissão cientítica. Segundo ele, em breve, a grade completa será divulgada no site e por meio de mala direta aos associados, para que possam começar a se programar. “Focados em nosso dia a dia, os temas falam a língua do cardiologista e são voltados para as necessidades tanto daquele que faz consultório como para os de atividade acadêmica”, afirma Moretti. Para atender a todas as necessidades desses profissionais, a comissão organizadora destacou alguns pontos de suma importância, incluindo discussões sobre revascularização do miocárdio e o melhor momento para a sua indicação, uso de medicamentos na hipertensão e até mesmo situações como aquela em que os resultados de exames diagnósticos não batem com a impressão clínica do cardiologista sobre o paciente. “Para isso, contaremos com renomados profissionais locais e também com convidados do American College of Cardiology e da American Heart Association.” Outros pontos altos do congresso, destaca Moretti, serão o Fórum de Ciência Básica, com foco na medicina translacional, e uma sessão especial sobre mitos e verdades da atividade física e da reabilitação cardiovascular na prevenção de doenças cardiovasculares. “Também merecerá atenção especial o debate sobre a utilização de dispositivos de circulação cardíaca assistida, que é um tema bastante em alta hoje em dia.” CERTIFICAÇÃO DIGITAL Já instituída em empresas da área da saúde, chegou a vez também de os cardiologistas adotarem a certificação digital. Trata-se de documentos eletrônicos (e-CPF e e-CNPJ) que asseguram a integridade das informações e a autoria das transações feitas nos meios virtuais, como, por exemplo, a emissão de atestados médicos. Esses certificados, exigidos na entrega de DMED (Declaração de Serviços Médicos e de Saúde), DIRF (Declaração do Imposto Retido na Fonte) e a DIPJ (Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica), também já são obrigatórios para a emissão de guias do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) referentes a funcionários de clínicas e consultórios. Para sanar todas as dúvidas sobre o tema e também adquirir os certificados digitais, a SOCESP contará com um estande exclusivo no congresso. Assim, entre uma aula e outra, você poderá resolver mais esta questão. GRANDES DESTAQUES Uma das ideias que provavelmente será um grande atrativo para todos os participantes virá no último dia do congresso. “Uma sessão final de grandes destaques será realizada no sábado, 1º de junho, com a participação de todos os coordenadores, para a abordagem dos principais tópicos debatidos ao longo do encontro. Todos os coordenadores das diferentes áreas farão, nesta oportunidade, um resumo de alguns minutos, de tudo o que foi discutido de importante em sua área”, revela Ieda Jatene. S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 5 vantagens Clube de benefícios SOCESP: bons descontos em produtos e serviços Os médicos associados à SOCESP acabam de receber um presentão. Falamos da plataforma on-line do Clube de Benefícios, que oferece descontos especiais em serviços, produtos, atrações culturais e de lazer. As vantagens se estendem a uma vasta rede de parcerias com empresas de grande porte, como Submarino, Polishop, Walmart, Ponto Frio, Sony e muitas outras. Isso, sem falar que também há previsão de facilidades em montadoras de veículos e concessionárias renomadas, de marcas famosas: Land Rover, BMW, Mini (do Mini Cooper), Fiat, Renault, Volkswagen e Peugeot. “Temos tabelas de 6 até 20% de desconto. Aliás, por solicitação da SOCESP, procuramos colocar dentro do portal descontos fora do convencional, realmente importantes”, comenta Nívea Raio, diretora comercial da 1000 Vantagens, empresa contratada pela Sociedade para administrar a plataforma. Mais do que um portal estático, espera-se que o Clube de Benefícios preencha as necessidades do perfil dos especialistas, compradores altamente 6 S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 seletivos. A ideia é que encontrem variedade e qualidade de consumo. Não é somente na plataforma do Clube de Benefícios SOCESP que as lojas virtuais dos parceiros oferecem os descontos. Eles valem para os estabelecimentos físicos, além de academias, universidades, teatros e alguns cinemas. Para melhorar, agora em março, as vantagens se multiplicarão, abrangendo planos odontológicos, valealimentação, vale- refeição, combustível, farmácia, gift card, health care e muito mais. Para obter acesso ao pacote de benefícios e serviços oferecidos pelo Clube de Benefícios, basta que o associado entre, com seu login e senha, no link “Lazer & Serviços”, no portal www.socesp.org.br. Para garantir a comodidade do usuário, ao receber o cartão de benefícios, também acompanhará um fôlder de boas-vindas com as melhores ofertas. “A ideia é mostrar, de uma forma bem expressiva, o quanto eles são bem- vindos”, diz Nívea. “Foi uma orientação da diretoria da SOCESP, e vamos cumpri-la à risca, buscando, todos os dias, novas e melhores vantagens para os associados.” Em sua vigésima segunda edição, o Curso Nacional de Reciclagem em Cardiologia da SOCESP adquire novo formato, com o intuito de se tornar ainda mais dinâmico e produtivo. Os blocos temáticos das distintas áreas, essenciais à boa prática da especialidade, se encerrarão sempre com “sessões interativas”, para que a audiência possa testar os conhecimentos adquiridos e partilhar experiências com os palestrantes. “Serão apresentadas algumas questões e a plateia votará de forma eletrônica. A seguir, as respostas serão comentadas pelos palestrantes que compuserem a sessão. Nesse momento, o público poderá participar de uma forma ativa, para tirar dúvidas, fazer questionamentos e comentar experiências”, revela Fernanda Consolim-Colombo, diretora científica da SOCESP. “Esse remanejamento do curso contribuirá sem dúvida para a melhor apreensão do conteúdo do curso.” Até 2012, os módulos complementares, que já tinham como objetivo maior interatividade da plateia, aconteciam no último dia do Curso de Reciclagem e eram sempre optativos. Agora, as “sessões interativas” estarão inseridas na programação, estimulando o debate entre os participantes e a mesa. “Mais do que simplesmente assistir à aula, a interatividade despertará a atenção de quem está recebendo a informação, atribuindo ao indivíduo um papel ativo na dinâmica do evento.” A reestruturação do formato do curso busca deixar os temas menos áridos, permitindo ao congressista adotar uma visão de aplicabilidade da teoria exposta. “O conteúdo é denso e sempre será focado na revisão de todos os temas importantes da cardiologia. O que muda é a forma como este será apresentado”, pondera Fernanda. atualização Nasce um novo Curso Nacional de Reciclagem em Cardiologia pacientes cardiopatas ou que se interessam pela área, como clínicos gerais ou endocrinologistas. Também é indispensável para que médicos recémformados ou estudantes que aspiram à cardiologia tenham maior contato com a área. Serão dias de imersão em todo o conteúdo da especialidade, atualizando e oferecendo ferramentas para um maior embasamento à prática diária. SERVIÇO O curso de reciclagem é coordenado por Carlos Magalhães, presidente da sociedade; João Fernando Monteiro Ferreira, diretor de publicações; Francisco Antonio Helfenstein Fonseca, vicepresidente; e Fernanda Consolim Colombo, diretora científica. Ocorre de 13 a 17 de julho, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, capital. Sócios da SOCESP e da Sociedade Brasileira de Cardiologia têm desconto. Mais informações no portal www.socesp.org.br ou com o Departamento de Eventos da SOCESP em (11) 3179-0039. ACREDITAÇÃO O Curso Nacional de Reciclagem em Cardiologia segue as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), valendo pontos na revalidação do Título de Especialista em Cardiologia. Além disso, é aberto não apenas a cardiologistas, mas também aos demais profissionais que atuam com S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 7 pesquisa Estudo mapeia risco cardiovascular de população com mais de 80 anos Tendo em vista a possibilidade de promover boa saúde aos idosos, a SOCESP realiza projeto que visa identificar as características cardiovasculares após os 80 anos de vida. A motivação é a necessidade social, além da clínica, conforme esclarece Andrei C. Sposito, diretor de promoção e pesquisa da Sociedade. “O estudo é pioneiro, único na área, justamente por causa da faixa etária. Hoje, todos os dados aplicados a esta camada da população são extrapolados de pesquisas com pessoas mais jovens. Mesmo com a previsão de aumento de 25 vezes desse grupo de idosos até 2050, inexiste informação específica”, informa Sposito. O trabalho vai ao encontro de uma tendência em escala mundial: a do envelhecimento da população associado a fatores como o avanço da medicina, melhorias nas condições de saneamento nas cidades e diminuição da taxa de fecundidade. Serão acompanhados idosos ativos e autônomos na realização de tarefas e até mesmo em planejamentos a longo prazo. AMOSTRAGEM O chamado“estudo de amostragem populacional” é composto de algumas etapas. A primeira consiste em visitar, por meio de sorteio, cerca de 10 mil domicílios cujos moradores tenham 80 anos ou mais. 8 S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 “O projeto ainda está em fase de planejamento”, explica Sposito. “Mas espera-se que esta triagem sirva para avaliar, por meio de um check-up cardiovascular extremamente detalhado, feito em mil participantes (500 homens e 500 mulheres), a presença dos fatores de risco.” Tabagismo, hipertensão, diabetes e outros elementos relacionados a problemas cardíacos serão investigados, bem como o tratamento e a atenção que os participantes lhes têm disposto. Divididos estrategicamente, os participantes do estudo serão direcionados de acordo com a classe econômica e gênero. “A preocupação com a divisão fundada na ideia de estrato social baseia-se na premissa de que aqueles mais bem amparados do ponto de vista financeiro muito provavelmente seriam mais bem amparados do ponto de vista clínico, tendo maior facilidade de acesso a convênios, medicamentos e condições de trabalho mais favoráveis à idade, assim, a divisão garantiria a existência de grupos representativos de todas as classes (A, B, C, D e E).” Sposito não descarta, no entanto, que ao final do estudo não sejam encontradas grandes diferenças entre as classes estudadas. ETAPAS Contemplando toda a cidade de São Paulo, a avaliação terá um desenrolar de cinco anos, nos quais todos aqueles que fizeram o check-up serão assistidos e devidamente orientados. Os participantes receberão feedbacks que incluem materiais didáticos, informação quanto à prevenção dos males que os acometem na idade avançada e acompanhamento médico. “A expectativa é identificar quais são as características responsáveis por prover maior longevidade aos indivíduos de idade avançada, bem como os elementos mais associados a problemas cardíacos nessa camada da população.” “Pensando em medidas preventivas que se antecipem aos problemas diagnosticados é que será possível estabelecer estratégias e políticas de saúde pública”, pondera Sposito. “Precisamos definir quais são as características que colocam os idosos em risco para saber o que a medicina pode fazer de melhor para eles. Esperamos terminar este estudo com metas que possam ser implantadas socialmente, base para qualquer estratégia de prevenção. Afinal, o que temos feito é cuidar dessas pessoas a partir de estudos feitos em indivíduos mais jovens.” políticas públicas Entidades médicas mundiais elaboram a Carta do Rio de Janeiro Documento, liderado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, busca reduzir em 25% a mortalidade em todo o mundo até 2025 Lideradas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia no III Brasil Prevent / I América Latina Prevent, realizado no Rio de Janeiro, de 30 de novembro a 2 de dezembro de 2012, importantes sociedades de cardiologia de todo o planeta elaboraram a Carta do Rio de Janeiro. Trata-se de documento que estabelece estratégias para campanhas de prevenção de doenças cardiovasculares no Brasil, na América Latina e no mundo. O objetivo é reduzir em 25% a mortalidade até 2025, referendando a meta global estabelecida na Assembleia Mundial de Saúde (WHA), em consonância com a Reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre Prevenção e Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). As entidades buscam alterar o atual perfil epidemiológico destas doenças, que são responsáveis por cerca de 17 milhões de mortes ao ano no mundo, 315 mil delas somente no Brasil. Segundo a Carta do Rio de Janeiro, em 2008, 36 milhões (63%) das mortes globais foram causadas por DCNT, das quais 9 milhões ocorreram antes dos 60 anos de idade. Além disso, quase 80% das principais doenças crônicas (29 milhões) ocorreram em países de baixa e média renda. O documento reconhece, porém, que as doenças cardiovasculares continuarão sendo a principal causa de morte no mundo, cerca de 7,3 milhões/ ano, número que deverá superar 23,6 milhões até 2030, especialmente na América Latina, onde cerca de 40% das mortes ocorrem durante os anos mais produtivos de vida. Assinado pelos presidentes Jadelson P. Andrade (Sociedade Brasileira de Cardiologia), Donna K. Arnett (American Heart Association), Fausto Pinto (European Society of Cardiology), Sidney C. Smith Jr (World Heart Federation) e Daniel Piñero (Interamerican Society of Cardiology), o texto fornece uma visão geral das doenças cardiovasculares e traça ações estratégicas para reduzir a prevalência de fatores de risco que contribuem para a alta mortalidade e morbidade. Também participaram de sua elaboração Carlos Alberto Machado, Gláucia Maria M. Oliveira, Hans F. Dohmann, Luiz Alberto P. Mattos e Stephan Gielen. A Carta do Rio de Janeiro será publicada como artigo especial nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia e em jornais e revistas científicas das sociedades médicas que a apoiam, como acontece com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 9 políticas públicas Principais deliberações Trabalhar coletivamente em defesa das metas globais para prevenção e controle de DNT, abrangendo o uso de medicamentos e dos principais fatores de risco para prevenir infarto agudo do miocárdio e acidentes vasculares encefálicos. Implementar políticas públicas para prevenção e controle das DCNT na população em geral e nos grupos específicos, no Brasil e nas Américas, para atingir a meta global de redução de 25% na mortalidade prematura até 2025. Defender coletivamente o controle das DCNT, incluindo-as em discussões de fóruns nacionais e internacionais. Trabalhar na redução da mortalidade, morbidade e incapacidade causadas pelas DCNT, por meio de ações conjuntas de prevenção e promoção da saúde, associadas com diagnóstico precoce e tratamento. Fornecer o mais alto nível de educação médica continuada e conhecimento científico para os profissionais de atenção primária, cardiologistas, enfermeiros intensivistas e outros profissionais de saúde. Agir sobre os determinantes sociais que influenciam os fatores de risco para DNT, por meio de políticas governamentais para promover ambientes físicos e sociais adequados para a redução da exposição ao risco, facilitando a adoção de hábitos saudáveis por parte da população, em ambientes escolares, de trabalho e de lazer, espaços urbanos e outros. Atuar com os governos para o desenvolvi- mento e aplicação de um programa de prevenção cardiovascular nos países, estabelecendo formas de avaliação dos resultados junto à população. Treinar e qualificar os profissionais de saúde para o tratamento das emergências cardiovasculares e encorajar os leigos a obter técnicas e competências em ressuscitação cardiopulmonar utilizando protocolos estabelecidos pelas sociedades científicas. Desenvolver projetos colaborativos que apoiem a abordagem “curso de vida”, que enfatiza a promoção da saúde e estratégias de prevenção para minimizar o risco de DNT em todos os estágios da vida. Mobilizar os meios de comunicação para levar informações contínuas sobre a importância das doenças cardiovasculares, seus principais fatores de risco e formas de prevenção, ampliando a divulgação para a população, com o intuito de evitar sua ocorrência e ressaltar a importância do diagnóstico precoce para reduzir a mortalidade. Implementar ações para aquisição de informação epidemiológica, incluindo mortalidade e morbidade cardiovascular, execução e manutenção de registros já existentes em alguns dos signatários, visando ao desenvolvimento de estratégias que promovam o planejamento das ações de saúde. Criar um fórum internacional de discussão permanente para monitorar as ações voltadas para prevenção, diagnóstico e tratamento dos fatores de risco cardiovascular na América Latina. Estabelecer campanhas de prevenção cardiovascular, promovendo esforços consistentes para obter a meta de redução de 25% da taxa de mortalidade até 2025. As campanhas devem envolver os fatores de risco cardiovascular especificados nas diretrizes e pela Organização Mundial da Saúde. O problema no Brasil “Estima-se que a redução de 10% da taxa de mortalidade causada por doença isquêmica do coração e acidente vascular encefálico geraria uma economia estimada em US$ 25 bilhões por ano para os países de baixa e média rendas.” No Brasil, as DCNT são um problema de saúde de grande magnitude, correspondendo a 72% das causas de morte, especialmente doenças cardiovasculares (31,3%), câncer (16,3%), doenças respiratórias crônicas (5,8%) e diabetes 10 S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 (5,2%), afetando indivíduos de todos os níveis socioeconômicos e, mais especificamente, aqueles que pertencem a grupos vulneráveis, como os idosos e as pessoas com baixos níveis educacional e econômico. Cerca de 300 mil brasileiros morrem anualmente devido a doenças cardiovasculares, como infarto, acidente vascular encefálico, insuficiências cardíaca e renal ou morte súbita, o que significa 820 mortes por dia, 30 mortes por hora ou uma morte a cada 2 minutos. sua carreira Joel Silva/Folha Imagem José Luiz Portella Engenheiro, ex-secretário estadual e municipal em São Paulo, comentarista/ articulista da rádio CBN, Rede TV e Folha.com Lei seca Sancionada pela presidente Dilma, sem vetos, em 20 de dezembro de 2012, a nova Lei Seca traz algumas mudanças. A multa passou de R$ 957,70 para R$ 1.9515,40 e na reincidência em 12 meses, dobra. Bom, ficou mais salgada e isso conta bastante. O aprimoramento mais importante, contudo, é fazer uma lei mais fácil de operacionalizar. A lei antiga falava na quantidade de álcool no sangue de 0,6 gramas de álcool por litro de sangue, o que implicava a necessidade de medição. Como ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo, estabelecia-se a confusão. O que permitia a impunidade. No Brasil há quatro maneiras de fazer uma lei não pegar: 1 – redação confusa, propiciando à defesa uma série de questionamentos e ao juiz outra série de interpretações; 2 – punição não especificada. A norma impõe uma conduta, mas não especifica a sanção. Aconteceu na primeira versão da Lei Pelé. Os clubes eram obrigados a publicar o balanço anual, porém não se dizia como e nem a punição para o infrator. Não funcionava. Quem não cumpria não era penalizado; 3 – necessidade de regulamentação. A lei é aprovada , contudo, lá no cantinho de algum parágrafo, consta que precisará ser regulamentada pelo órgão tal e qual. E fica parada anos e anos sem a regulamentação. Sem ela, a lei não tem eficácia; 4 – norma difícil de ser aplicada. A lei é feita sem se pensar na operacionalização. Normalmente é uma manifestação de vontade para mostrar alguma iniciativa do legislativo, responder a uma questão candente da sociedade, mais para marcar presença no momento, e seu texto dificulta a prática. É o caso da Lei Seca antiga. Como já vimos, a medida da quantidade de álcool trazia problemas na operação. Então, avançamos. A nova lei permite um exame por agente da lei ou profissional qualificado que pode constatar o estado de embriaguez. Se o suposto infrator se julgar injustiçado pela relativa subjetividade do agente pode pedir o teste de bafômetro para comprovar que não está alcoolizado. Inverte o ônus da prova. Tem uma parte que depende da sociedade. A responsabilidade. Evitar a bebida. O objetivo de uma lei só é alcançado com a adesão natural da maioria da sociedade. Nós, cidadãos, precisamos deixar de pagar para ver. Os dois avanços na Lei Seca, o endurecimento da pena e a construção de uma norma mais eficaz devem servir de exemplo para revermos outras leis importantes que não pegaram porque são mal elaboradas. Texto publicado na Folha.com “O objetivo de uma lei só é alcançado com a adesão natural da maioria da sociedade. Nós, cidadãos, precisamos deixar de pagar para ver" S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 11 gestão pública Empresas equilibradas favorecem o crescimento Antoninho Marmo Trevisan Presidente da Trevisan Escola de Negócios e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da Presidência da República Considerando que o equilíbrio financeiro das empresas é fundamental para a sustentabilidade do crescimento econômico, é louvável a iniciativa do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) de criar uma comissão para estudar formas de ampliar e melhorar a formação dos profissionais do setor. Convidado a participar da iniciativa, uma de minhas sugestões é estimular as parcerias entre a iniciativa privada e as instituições de ensino. Em recente visita aos Estados Unidos, constatei que as firmas de auditoria têm relação muito saudável e produtiva com as faculdades de ciências contábeis, patrocinando encontros, cafés e até as bibliotecas. Esse é um modelo que gera bons resultados. Também é interessante promover palestras de sócios das firmas aos alunos das instituições de ensino. É sempre importante educar pelo exemplo. Isso ajuda a atrair mais pessoas para a profissão, e um grande compromisso dos contadores é mostrar aos jovens que a carreira pode ser emocionante, desafiadora e propiciadora de conquistas. Dado o significado do contador para o sucesso das empresas, em todos os setores de atividade, a falta desses profissionais no Brasil é preocupante. Daí, a pertinência da iniciativa do CFC. A contabilidade e a auditoria passaram por grande evolução no país. O profissional seguia códigos (tributário, contábil e legal) e trabalhava baseado em protocolos. Com a convergência brasileira ao padrão mundial, as empresas precisam de profissionais melhor qualificados e atualizados quanto às transformações introduzidas pelo IFRS (normas internacionais de contabilidade) e pela ISA (normas internacionais de auditoria). 12 S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 O apagão profissional na área ainda não atingiu um ponto crítico porque as empresas conseguem atrair profissionais das firmas de auditoria e dos escritórios de contabilidade e consultoria para suprir as necessidades de seus departamentos de auditoria interna, controladoria e financeiro. Porém, essa alternativa evidencia o quanto o déficit de contadores afeta todos os setores. É preciso avançar nisso, pois o atual ambiente de negócios torna-se cada dia mais complexo, o que aumenta a busca por executivos com um perfil holístico. Diretores e presidentes das empresas precisam ter amplo leque de conhecimentos, a exemplo dos auditores e contadores, que, ao longo de suas carreiras, desenvolvem múltiplas habilidades e acumulam conhecimentos abrangentes sobre diversos setores econômicos, o que os habilita a ocupar cargos de destaque nas empresas. Não é sem razão, portanto, que temos observado que triplicou o número de profissionais de advocacia, administração e engenharia que buscam uma segunda formação e se matriculam no curso superior de ciências contábeis. A contabilidade floresce na democracia, pela demanda crescente por informação e transparência. A carreira, que perdeu relevância durante a ditadura militar e os anos de hiperinflação no Brasil, começou a reconquistar espaço, tanto com a Lei das S/A quanto com a convergência do país às normas internacionais. No atual ambiente democrático e globalizado, as ciências contábeis são decisivas para a credibilidade dos setores público e privado e, portanto, para o desenvolvimento! A importante participação da SOCESP em 2012 nas mais diversas questões de defesa profissional foi apenas o princípio de uma estratégia encarada como prioridade pela atual diretoria. Para 2013, a meta é arregimentar ainda mais ferramentas e atrair um grupo maior de cardiologistas para o embate por valorização dos honorários no Sistema Único de Saúde e na rede suplementar. Em 2 de março, por exemplo, a SOCESP participou de plenária nacional da sede da Associação Paulista de Medicina, que definiu as bandeiras do movimento médico para este ano. Na oportunidade, deixou claro às lideranças da Associação Médica Brasileira, Conselho Federal de Medicina e Federação Nacional dos Médicos que cerrará fileiras na luta por revisão imediata dos valores de todos os procedimentos da Classificação Hierarquizada de Procedimentos Médicos, reivindicação histórica que, infelizmente, tem sido ignorada por planos e seguros de saúde. “Vamos adotar uma postura ainda mais firme para chegar aonde queremos. É inadmissível continuar recebendo remuneração vil por procedimentos tão complexos e essenciais à vida, como os da cardiologia”, afirma Carlos Costa Magalhães, presidente da SOCESP. “Uma das possibilidades em debate hoje é suspendermos a realização de testes ergométricos durante uma semana, para evidenciar nossa indignação com os irrisórios honorários e mostrar nossa força.” TESTE ERGOMÉTRICO Indispensável para a prática cardiológica, o teste ergométrico é o segundo exame mais solicitado para a avaliação das doenças cardiovasculares, em especial a doença arterial coronária obstrutiva. Além da abordagem diagnóstica, a avaliação tem papel fundamental no prognóstico das doenças associadas ao coração que, se detectadas precocemente, demandam inter venções preventivas. defesa profissional Valorização do cardiologista de SP: prioridade em 2013 Adicionalmente, tem indicação na avaliação terapêutica, farmacológica ou intervencionista (cirurgia de revascularização do miocárdio e intervenção coronária percutânea), presta-se à avaliação pré-operatória de cirurgias não cardíacas, bem como é ferramenta necessária naqueles indivíduos que desejam praticar atividade esportiva, entre outras aplicações que ampliam enormemente seu espectro de ação. Não invasivo, com baixa frequência de complicações e excelente relação custo-benefício, o procedimento médico deve ser realizado por profissional qualificado – com experiência comprovada e, de preferência, com formação especializada na área de atuação, certificada pelo Departamento de Ergometria, Exercício e Reabilitação Cardiovascular (DERC) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Desta forma, pode poupar ao sistema de saúde gastos decorrentes de laudos imprecisos feitos por não médicos. Laudos imprecisos geram a necessidade de melhor apuração dos resultados, que, consequentemente, resultam em procedimentos subsequentes mais dispendiosos, como cintilografia de perfusão miocárdica, ecocardiograma sob estresse, angiotomografia de coronárias e teste cardiopulmonar - todos eles complementares ao teste ergométrico, mas não substitutivos. “Esses exames, que são mal conduzidos tecnicamente e liberados por profissionais não qualificados, com laudos imprecisos, podem não propiciar ao clínico que os solicitou as informações adequadas – gerando outros exames, consumindo ainda mais o sistema de saúde. A própria seguradora acaba perdendo, mas os planos de saúde não veem dessa forma”, diz William Chalela, diretor do Serviço de Eletrocardiologia do Instituto do Coração da FMUSP. S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 13 defesa profissional REMUNERAÇÃO AVILTANTE Quando chega a hora de remunerar o médico, o descaso estende-se a uma esfera em que nem o custo operacional é coberto: em alguns estados, o teste ergométrico chega a ser remunerado entre R$ 60,00 e R$ 70,00 como preço total, cabendo ao profissional em torno de 30% deste valor. “Desta forma, impõe-se como que uma necessidade realizar um número muito grande de procedimentos para a mínima compensação financeira, implicando em perda evidente de qualidade”, diz Luiz Eduardo Mastrocola, diretor do Serviço de Reabilitação Cardiovascular do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e do Serviço de Medicina Nuclear do Hospital do Coração. Desestimulados pela falta de reconhecimento e valorização do teste ergométrico, muitos médicos desistem de aplicá-lo. Há, inclusive, serviços que utilizam profissionais não médicos - atuando de modo ilegal e colocando em risco vidas humanas - e os que se aviltam a fazer recebendo tão pouco frequentemente empregam metodologia inadequada e infringem regras básicas de segurança. Risco maior ainda: muitas vezes nem mesmo estão aptos a atender a emergências cardiológicas como parada cardiorrespiratória, arritmias ventriculares graves, infarto agudo do miocárdio, entre outras, em locais que não dispõem da estrutura básica de assistência. “Testes ergométricos realizados por não médicos podem levar a sérias consequências, como o não reconhecimento das variáveis de risco, interpretações equivocadas ou inabilidade para reconhecer e controlar eventos potencialmente letais que possam ocorrer durante o exame”, diz Pedro Ferreira de Albuquerque, presidente do DERC. Essa situação, no entanto, não data de hoje. Ao longo dos anos, as tabelas antigas de honorários médicos tornaram-se defasadas, ou seja, não acompanharam a evolução da inflação nem a necessidade dos médicos de adquirir equipamentos e softwares mais modernos dentro de seus consultórios (atualmente, todos os serviços de ergometria só realizam o Teste Ergométrico Computadorizado). SUSPENSÃO DO PROCEDIMENTO Perpetuados valores muito baixos, conclui-se que nem os médicos são pagos adequadamente, Para 2013, a meta é arregimentar ainda mais ferramentas e atrair um grupo maior de cardiologistas para o embate por valorização dos honorários no Sistema Único de Saúde e na rede suplementar 14 S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 como às vezes sequer conseguem recuperar o investimento em todos os equipamentos necessários. Qual é a proposta da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), do Departamento de Ergometria, Exercício e Reabilitação Cardiovascular (DERC) e da Associação Médica Brasileira (AMB)? Que se faça jus à CBHPM (Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos) vigente. Elaborada com base em estudos desenvolvidos pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo - FIPE e pelas entidades médicas do País, a CBHPM propõe o justo ordenamento dos métodos e procedimentos médicos, parametrizando os honorários de acordo com critérios técnicos e estabelecendo faixas de valoração dos atos médicos pelos seus portes. A CBHPM é resultado da ação unificada da AMB, do CFM, das Sociedades de Especialidades e do apoio das demais entidades médicas brasileiras. Ela substitui quaisquer tabelas anteriores utilizadas como critério pelos planos de saúde, inclusive a tabela da AMB de 1990, que as seguradoras continuam utilizando como referencial. “A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o seu Departamento de Ergometria, Exercício e Reabilitação Cardiovascular (DERC), a SOCESP e demais sociedades estaduais estão unidas na expectativa de que as seguradoras corrijam essas distorções referentes ao valor pago pelo teste ergométrico. Já recebemos o apoio oficial da AMB, como também já levamos a questão ao conhecimento do Conselho Federal de Medicina (CFM) em sessão plenária, quando os motivos justos dessa luta foram apresentados. Todo esse movimento recebe apoio incondicional do presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Jadelson Pinheiro de Andrade, que, sob sua liderança, já está solicitando reuniões com a Agência Nacional de Saúde (ANS) para tratar sobre o tema. Nosso objetivo é que o teste ergométrico tenha valor correspondente ao proposto pela CBHPM vigente”, diz Pedro Ferreira de Albuquerque, presidente do DERC/SBC. A justificativa das seguradoras para os baixos valores de remuneração é de que os médicos solicitariam esse exame indiscriminadamente. Para Luiz Eduardo Mastrocolla, há de se pensar que “existe, é claro, literatura médica brasileira suficiente para definir as indicações para o teste ergométrico, documentadas em diretrizes publicadas recentemente nos arquivos brasileiros de cardiologia. Não é um procedimento que deva ser pedido para toda a população, mesmo do ponto de vista da prevenção. Existem indivíduos que estão dentro de um perfil de risco intermediário e que são melhores candidatos ao teste. Mas considerando-se que há publicações internacionais que não recomendam o exame para indivíduos assintomáticos, parece que algumas operadoras usam esse argumento para afirmar que Inglês para serviço o teste ergométrico é solicitado erroneamente pelos médicos, elevando sobremaneira os custos. Usam isso como álibi”, continua Luiz. A situação, assim, está se tornando crítica. Por mais que se tente chegar a uma negociação pela via judicial – e em alguns casos de fato se tenha conseguido flexibilizar as operadoras – muitas delas continuam pagando muito mal. Para Pedro Ferreira de Albuquerque, “a inquietude e insatisfação manifestam-se em todo país. Os médicos estão unidos, pois é inadmissível continuar recebendo essa quantia. Esperamos que as seguradoras atendam ao nosso pleito, que é fazer o pagamento de acordo com a CBHPM. Caso contrário, é quase inevitável a suspensão do procedimento”. No caso de suspensão do procedimento, os pacientes não seriam prejudicados. Afinal, “nosso ofício maior é proteger a saúde do paciente. Se houver necessidade de outro método funcional para diagnóstico, deve-se assim proceder, sempre à critério médico, mesmo que esse exame seja mais dispendioso”, comenta Pedro Ferreira de Albuquerque. E continua: “Se a SOCESP fizer a suspensão, que fique claro que terá todo o nosso apoio. Toda sociedade que se mobilize em qualquer sentido para alternar essa situação tem o apoio irrestrito do DERC”. “Vejo isso como uma solução, pois os médicos teriam de, alternativamente, solicitar outros procedimentos. Esses procedimentos, no entanto, não substituem o teste ergométrico em longo prazo. Por sua relação custo-benefício satisfatória e desde que seguindo as indicações recomendadas, o teste ergométrico é um procedimento imprescindível, indispensável no arsenal cardiológico. Tem mais de 50 anos de existência e experiência consolidada, continua crescendo em sua abrangência e oferece informações que fortalecem o binômio diagnósticoprognóstico”, argumenta Mastrocola. A ideia de deflagrar a suspensão do procedimento, contudo, é cogitada por todos os entrevistados como o último recurso do qual se lançaria mão. “A alternativa que estamos buscando é de que a Agência Nacional de Saúde (ANS) conscientize as seguradoras para que revejam esses valores”, frisa Pedro Ferreira de Albuquerque. Para William Chalela, a suspensão seria em última instância, depois de esgotadas as possibilidades de conversação entre os órgãos competentes e, também, as ações jurídicas. “Visamos em toda e qualquer circunstância o bem-estar dos pacientes”. “Temos clareza de que a situação não pode mais continuar do jeito que está”, pondera Henry Abensur, coordenador de políticas de saúde da SOCESP. “A sorte já foi lançada: ou os convênios respeitam os cardiologistas e os remuneram com dignidade ou seremos obrigados a ir mais longe na luta por nossos direitos.” MÉDICOS Gostaria de dar boas-vindas a todos que visitam nossa primeira publicação, neste ano de 2013, que vem cheia de novidades. Na estreia, um pingue-pongue com Daniel Magnone. Hope you enjoy the reading! Ricky Silveira Mello Ricky asks Daniel Magnone*: Omega 3 fatty acids, vegetal or animal? DM: In fact there is no Silveira.Mello Comunicações e Eventos Traduções e versões, revisão de Medical Papers, aulas de conversação e estrutura gramatical, tradução de teses Mobile: (11) 99946-6361 scientific evidence about Omega 3 consumption in order to prevent cardiovascular diseases. The Omega 3 present in vegetables is the ALA (alphalinolenic acid) which has no metabolic activity in high level cholesterol and triglycerides reduction. On the other hand in Omega3 fatty acids from animals, we will find EPA (eicosapentaenoic acid) and DHA (docosahexaenoic acid), which are directly linked to anti-inflammatory and antithrombotic actions. *Diretor de nutrição do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC), chefe do serviço de Nutrologia e Nutrição Clínica do Hospital do Coração – Hcor e presidente do Instituto de Metabolismo e Nutrição - IMeN Vocabulary Sudden onset = início repentino, algo ou doença que começa de repente Supine position = de costas Prone position = de bruços Decayed tooth = dente cariado Hoarseness = rouquidão Eyelid = pálpebra Watering eyes = olhos lacrimejantes Flaxseed oil = óleo de linhaça Short-lived = de curta duração From calf to heel = da panturrilha ao calcanhar Hit me with any comments and suggestions or just to say “hello” at [email protected] S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 15 regionais SOCESP Campinas: crescimento em ritmo acelerado Juliano de Lara Fernandes Presidente Com cerca de 200 associados ativos, a Regional da SOCESP Campinas abrange 32 cidades paulistas. Sempre objetivando a atualização dos profissionais da área cardiológica, sua programação anual tem como destaque o Simpósio de Doença Coronária, que reúne aproximadamente 150 especialistas, além de um curso de eletrocardiograma e mais dez reuniões científicas com temas específicos. “Um aspecto importante a que sempre nos dedicamos é a questão da atualização. Temos DIRETORIA Presidente Juliano de Lara Fernandes Diretor Científico Fabio Rossi dos Santos Primeiro-secretário Daniel Lages Dias Segundo-secretário Aloísio Marchi da Rocha sempre atividades nesse sentido desenvolvidas pela regional”, diz Juliano de Lara Fernandes, atual presidente. Para 2013, está agendada uma aula sobre arritmia cardíaca para a primeira quinzena de março, com Maurício Ibrahim Scanavacca, cardiologista e membro regular da SOCESP. Também serão ministrados cursos sobre dislipidemia e hipertensão, na Semana de Saúde, em agosto. DESAFIOS Juliano considera que a maior dificuldade enfrentada pelos médicos na localidade é a valorização do profissional, pois diversos procedimentos cardiológicos estão muito mal remunerados. Mas a regional está trabalhando para reverter a situação. No final do ano, haverá troca de presidentes e Juliano se mostra otimista: “Esperamos renovação para a SOCESP Campinas, e que a próxima gestão traga novas ideias para que nossa regional continue crescendo no mesmo ritmo”. Marília é destaque na Cardiologia do Esporte Em 24 de novembro foi realizado na regional de Marília da SOCESP o curso Cardiologia do Esporte, ministrado por Nabil Ghorayeb, enfocando aspectos da morte súbita relacionada à atividade física, bem como avaliação pré-participação em atividades esportivas e o atestado médico, que são focos de nova diretriz de Cardiologia do Esporte e Exercício. O presidente da regional Marília, André Moro, ressalta a importância desse esclarecimento sobre como se deve avaliar um indivíduo, muitas vezes sedentário, que quer fazer atividade física. “Os pacientes, principalmente se maiores de 35 anos e do sexo masculino, devem fazer avaliação cardiológica detalhada antes de iniciar atividades físicas, visto que a partir dessa faixa etária a incidência de doença arterial coronária aumenta progressivamente. O teste ergométrico em esteira é um opção acessível à maioria dos pacientes”. O próprio André é praticante de atividade física regular, já tendo participado de cinco 16 S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 meias maratonas (corridas de 21 km), sendo a última no Rio de Janeiro, em agosto de 2012. “É importante o cardiologista não só orientar seu paciente a ter uma alimentação saudável e fazer atividade física regular. Muitas vezes, o paciente se espelha no seu médico e por ele deve ser estimulado a manter hábitos saudáveis”. André Moro O Estudo Multicêntrico de Avaliação Perioperatória (Emapo) é um método brasileiro, desenvolvido pela SOCESP de acordo com a II Diretriz de Avaliação Perioperatória elaborada pela Comissão de Avaliação Perioperatória (CAPO) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). O programa está disponível gratuitamente a todos os cerca de 6 mil associados da SBC, por meio do software consultório digital. Elaborado a partir de 2000, foi idealizado por Bruno Caramelli e Claudio Pinho e tem passado por uma série de reformulações desde então, acompanhando os avanços tecnológicos. “Atualmente, estão acessíveis alguns tipos de avaliação ao paciente que será submetido a uma cirurgia. No entanto, os principais métodos são americanos e seguem os padrões médicos locais. O Emapo foi elaborado com modificações para atender à nossa realidade e contemplar variáveis que nos afetam mais de perto, como a doença da Chagas”, explica Bruno Caramelli, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Outra grande vantagem que coloca o Emapo à frente dos demais modelos internacionais é o fato de ser o único a contemplar algumas das mais recentes modernizações tecnológicas. “É o caso do desfibrilador implantável, que hoje é uma realidade na cardiologia, e que os outros estratificadores de risco não abrangem. Podemos dizer, portanto, que saímos na frente para contemplar a tecnologia.” BANCO DE DADOS Nestes 12 anos em que o Emapo tem sido utilizado, diversos colegas têm reunido valiosas informações, criando o seu próprio banco de dados e também as suas estatísticas. “É possível, por exemplo, verificar qual a taxa de complicações entre os pacientes submetidos a procedimentos específicos como cirurgia de catarata, ou de aorta, ou ainda chegar ao índice individual de complicações de mortalidade perioperatória”, explica Claudio Pinho, professor de cardiologia da Faculdade de Medicina da PUC de Campinas. Segundo ele, enquanto os índices de mortalidade nos Estados Unidos estão em torno de 0,5%, no Brasil chegam a 3%. emapo Projeto de avaliação perioperatória permite registrar pacientes e reunir banco de dados individual “Estou mais próximo das estatísticas americanas ou brasileiras, ou o que eu posso fazer para ajudar a melhorar a estatística brasileira” são algumas das perguntas que ele sugere ao cardiologista e que o Emapo pode ajudar a responder, pois além de estratificar o risco, o método sugere orientações especificas para serem seguidas no período perioperatório pela equipe multidisciplinar responsável pelo procedimento. Possuir banco de dados padronizado brasileiro tem uma série de outras vantagens, por exemplo, colaborar com informações para uma estatística brasileira de grande volume e poder comparar dados individuais e populacionais de nossa realidade com os internacionais. “Os dados armazenados no Emapo e todo o conteúdo técnico-cientifico que descreve isso, presente na diretriz de avaliação perioperatória da SBC, oferecerão muito mais subsídios para um relatório final padronizado, protegendo, inclusive, o profissional de uma possível tentativa de responsabilizá-lo por qualquer intercorrência durante a cirurgia.” Este cardiologista terá em suas mãos todos os dados fornecidos ao paciente, bem como os riscos apresentados a ele no momento da avaliação. NOVO NICHO “Todos os interessados em conhecer melhor o Emapo podem entrar em contato com o Instituto do Coração para até mesmo realizar um estágio conosco”, convida Bruno. Com um volume de cerca de 3 mil avaliações perioperatórias anuais, o Instituto pode sediar hands on e oferecer ao cardiologista a oportunidade de analisar o sistema e acompanhar toda a avaliação. Este é um novo nicho profissional: realizar a avaliação perioperatória por indicação de cirurgiões. Com pacientes com idade cada vez mais avançada, e apresentando outras doenças e complicações, esta avaliação requer cada vez mais a presença de um especialista. “Com mais de dez anos de experiência posso afirmar que a avaliação perioperatória é a porta de entrada para uma avaliação cardiológica de um novo paciente, que acabará voltando.” Mais informações no portal www.socesp.org.br. S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 17 surpreenda-se Novidades em breve João Fernando Monteiro Ferreira Fizemos, em 2012, ampla reformulação do jornal SOCESP em Destaque. Os textos tornaramse mais dinâmicos e objetivos; reformulamos o projeto visual; adotamos uma linha editorial mais abrangente, inclusive trazendo articulistas de renome na imprensa nacional para escrever sobre política, gestão e outros temas. Na prática, o SOCESP em Destaque tornou-se outro produto. Ao colocá-lo à sua disposição, tínhamos o feeling de que trilhávamos um caminho alvissareiro. Mas como ter certeza sem ouvi-lo? Para não trabalhar em um terreno de dúvidas, adotamos bases científicas para mensurar a satisfação do leitor. Ao término do ano passado, realizamos uma pesquisa para averiguar efetivamente a eficácia e qualidade da publicação. Cardiologistas do estado inteiro foram consultados e, anunciamos com alegria, o SOCESP em Destaque foi aprovado. Nada menos do que 98% dos leitores deram conceitos ótimo e bom. É um número impressionante, mas insufi- ciente para conter nossa busca por melhorias contínuas. Assim, em fevereiro, já fizemos uma reunião para rever metas e traçar novos desafios para a publicação. Então, aguarde, pois logo iremos presenteá-lo com boas novidades. em FEVEREIRO 06/02 a 10/04 (12 quartas-feiras) 1º curso de ecocardiograma para o clínico Regional São José do Rio Preto MARÇO 06 Nutrição sob o ponto de vista funcional: Quais as tendências? Departamento de Nutrição 07 Atualização em Cardiopatia Isquêmica Aguda Regional Sorocaba 07/03 a 06/06 (10 quintas-feiras) Curso de Cardiologia e cirurgia cardíaca em cardiopatias congênitas de SJRP Regional São José do Rio Preto 19 Síncope do diagnóstico ao tratamento Regional Piracicaba 20 Atualização em síndrome coronariana aguda Regional Jundiaí 21 Atualização em valvopatia aórtica Regional Botucatu 22 Atualização em insuficiência cardíaca Regional Araçatuba 22 Enfermagem na assistência circulatória mecânica Departamento de Enfermagem 23 Oficina de avaliação e prescrição de exercício físico para saúde cardiovascular Departamento de Educação Física e Esporte 23 O olhar psicológico no protocolo da dor Departamento de Psicologia 23 Medicina Baseada em Evidências Regional Franca agenda PROGRAME-SE destaque DIRETORIA DA SOCESP BIÊNIO 2012/2013 PRESIDENTE Carlos Costa Magalhães VICE-PRESIDENTE Francisco Antonio Helfenstein Fonseca PRIMEIRO-SECRETÁRIO Rui Manuel dos Santos Povoa SEGUNDO-SECRETÁRIO José Carlos Aidar Ayoub PRIMEIRO-TESOUREIRO Rui Fernando Ramos SEGUNDO-TESOUREIRO Celso Biagi DIRETORA CIENTÍFICA Fernanda Marciano Consolim Colombo DIRETOR DE PUBLICAÇÕES João Fernando Monteiro Ferreira DIRETOR DE REGIONAIS José Luiz Aziz DIRETOR DE PROMOÇÃO E PESQUISA Andrei C. Sposito DIRETOR DE INFORMÁTICA João Manoel Rossi Neto DIRETOR DE QUALIDADE ASSISTENCIAL Silas dos Santos Galvão Filho DIRETOR DO CENTRO DE EMERGÊNCIAS Agnaldo Pispico COORDENADORES DE PESQUISA José Luiz Ferreira dos Santos José Francisco Kerr Saraiva Ricardo Pavanello COORDENADOR DE EVENTOS Alberto Francisco Piccolotto Naccarato COORDENADOR DE POLÍTICAS DE SAÚDE Henry Abensur CONSELHO FISCAL – Luiz Freitag, Bruno Mahler Mioto, Ibraim Masciarelli Pinto, Edson Stefanini EDITORES – Ângela Teresa Bacelar, Beatriz Matsubara, Edson Stefanini, Moacir F. Godoy, João Carlos Hueb, Luiz Francisco Cardoso SOCESP em Destaque é editado bimestralmente pela Diretoria de Publicações da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, Avenida Paulista, 2.073 – Horsa I, 15 o andar, cj. 1.512, CEP 01311-300, São Paulo, SP. Telefone: 11 3179-0044 DIREÇÃO DE ARTE – Giselle de Aguiar Pires IMPRESSÃO – Hawaii Gráfica SOCESP NA INTERNET: www.socesp.org.br Outras informações sobre os eventos, ligue (11) 3179-0044 E-mail: [email protected] S O C E S P E M D E S T A Q U E – JAN/FEV 2013 19 multidisciplinar Monitorização hemodinâmica Vanessa Marques F. Méndez, Especialista em fisioterapia cardiovascular pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, especialista em fisiologia do exercício pela Unifesp, fisioterapeuta da disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da Unifesp e coordenadora científica da especialização do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia Desde a execução de simples atividades, como uma sessão de exercícios físicos, até o manejo do paciente em estado crítico, a monitorização hemodinâmica é imprescindível, principalmente quando se trata de indivíduos com comprometimento do sistema cardiovascular. Em 1870, um médico alemão, Adolf Eugen Fick, mediu pela primeira vez o débito cardíaco e criou a Lei de Fick, que, de forma resumida, define a íntima relação entre os tecidos e os sistemas cardiovascular e respiratório, quando afirma que o débito cardíaco (DC) é a razão entre o consumo e a diferença arteriovenosa dos tecidos. Nesta afirmação estão inseridas todas as alterações de inúmeras situações clínicas, que são até os dias atuais motivo de estudo, pesquisa e aplicação clínica. Arthur Guyton analisou as alterações da circulação sanguínea e, em 1955, observou que o DC e a pressão venosa central (PVC) exibem algumas características peculiares: “quando ocorre uma alteração na hemodinâmica do sistema circulatório, não se pode prever o que acontecerá com o DC, a menos que se leve em consideração tanto o efeito da mudança na capacidade do coração de bombear o sangue quanto à tendência do sangue para regressar aos vasos sanguíneos.” Aplicando este conceito, Guyton criou um gráfico no qual podemos identificar os fatores determinantes do retorno venoso (volume sanguíneo, complacência venosa, resistência venosa e a pressão do átrio direito) e da função cardíaca (pré-carga, contratilidade e frequência cardíaca). Uma queda na pressão arterial sem alterações no DC indica que uma redução da resistência sistêmica foi o fator desencadeante; neste caso pode ser necessário o uso farmacológico de drogas vasoconstritoras, como a noradrenalina. Porém, se a queda da pressão sanguínea é acompanhada de uma redução do DC, devemos saber se o débito cardíaco diminuiu devido à redução da função cardíaca ou do retorno venoso, isto pode ser respondido ao observar a pressão venosa central. Se houve queda do DC e da PVC, a causa será a diminuição do retorno venoso, que pode ser revertida com a adequada reposição volêmica; caso contrário, o fator desencadeante é de causa cardíaca e, então, o uso de drogas inotrópicas pode estar indicado. Outra forma de utilizar os conceitos básicos da fisiologia à beira leito é analisar as repercussões respiratórias no sistema cardiovascular. A inspiração exerce efeito sobre as veias cava superior e inferior, sendo que quanto menor o volume de preenchimento do vaso, maior a influência das pressões negativas ou positivas sobre o seu conteúdo, com consequente maior variabilidade no seu diâmetro relacionado ao ciclo respiratório. Portanto, essa variabilidade mostra a situação dos pacientes em relação à curva de Frank-Starling, e, especificamente, para determinar se o paciente está na porção ascendente da curva, em que um aumento na pré-carga resulta em aumento de volume sistólico e o DC. Para exemplificar, na inspiração espontânea há redução da pressão pleural e, se houver concomitantemente diminuição da PVC, podemos ter um aumento do DC com a infusão de fluidos. Contudo, a PVC não será uma medida fidedigna do volume de enchimento do coração esquerdo na presença de anormalidades nos ventrículos direito ou esquerdo e anormalidades pulmonares, o que limita muito seu aproveitamento em pacientes cardiopatas. Já em pacientes sob ventilação mecânica, o aumento da pressão intratorácica resulta em uma diminuição no enchimento e na ejeção do ventrículo direito, que é inversamente proporcional ao volume corrente e/ou pressão positiva expiratória final. A redução no débito do ventrículo direito na insuflação reduz a pré-carga, o volume sistólico e, consequentemente, o débito do ventrículo esquerdo na expiração, causando oscilações na curva da pressão arterial que podemos chamar de pressão de pulso. Essa análise é um recurso simples, não invasivo, e pode prever quais pacientes terão maiores repercussões negativas da ventilação mecânica e, portanto, todo profissional que maneja estas ferramentas deve dominá-las. No entanto, algumas condições precisam ser satisfeitas: os pacientes devem estar em ventilação mecânica invasiva, sedados, paralisados, com volume corrente de 8 mL/kg, ausência de arritmias, doença valvar e com um monitor que apresente os traçados do pulso arterial e da ventilação mecânica ou respiratória numa mesma tela. Em vista deste panorama, observamos que, apesar de ser baseada em princípios fisiológicos, a correta monitorização hemodinâmica é criteriosa e sua valorização no paciente cardiopata requer atenção. Por isso, o desenvolvimento de novos dispositivos na aferição do débito cardíaco poderá fazer com que a aplicação desses princípios seja facilitada, fazendo com que possam ser empregados de modo não invasivo e respondam, assim, a vários questionamentos a respeito do impacto de práticas, desde a unidade de cuidados intensivos até a ambulatorial. REFERÊNCIAS (ENDNOTES) Guyton AC: Determination of cardiac output by equating venous return curves with cardiac response curves. Physiol Rev 1955, 35:123-129. Guyton AC. Lindsey AW, Bemathy B, RichardsonT: Venous return at various right atrial pressures and the normal venous return curve. Am J Physiol 1957, 189: 609-615. Guyton AC, Polizo D, Armstrong GG: Mean circulatory filing pressure measured immediately after cessation of heart pumping. Am J Physiol 1954, 179:261-267. Magder S, Bafaqeeh F: The clinical role of central venous pressure measurements. J Intensive Care 2007, 22: 44-51. Magder S, Lagonidis D, Erice F: The use of respiratory variations in right atrial pressure to predict the cardiac output response to PEEP. J Crit Care 2002, 16: 108-114. Nanas S, Magder S: Adaptations of the peripheral circulation to PEEP. Am Rev Respir Dis 1992, 146: 688-693. Magder S. Bench-to-bedside review: an approach to hemodynamic monitoring- Guyton at the bedside. Critical Care 2012, 16:236. Michard F, Chemla D, Richard C et al. Clinical use of respiratory changes in arterial pulse pressure to monitor the hemodynamic effects of PEEP. Am J Respir Crit Care Med 1999; 159 (3): 935-9. Huang CC, Fu JY, Hu HC et al. Prediction of fluid responsiveness in acute respiratory distress syndrome patients ventilated with low tidal volume and high positive end-expiratory pressure. Crit Care Med 2008; 36 (10): 2810-6. Rocha PN, Menezes JAV, Suassuna JHR. Avaliação hemodinâmica em paciente criticamente enfermo. 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