em destaque PUBLICAÇÃO BIMESTRAL DA SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO – ANO VIII – N0 5 – SETEMBRO/OUTUBRO 2013 Teste ergométrico deve ser acompanhado por um médico, determina CFM Tudo sobre o Congresso 2014 4 Dia Mundial do Coração 6 Teste ergométrico 7 Bombeiros no CTEC 8 Deu na mídia 9 Agende-se 10 Sua carreira 11 CFM vai à justiça 12 Enfermagem na Assistência Circulatória 13 Gestão pública 14 Saúde suplementar 15 Inglês para médicos 16 Férias com filhos 18 A SOCESP e o cidadão 19 Agenda 20 Perguntas e respostas Vencendo obstáculos Colega cardiologista, mais dois meses e chegamos ao fim de 2013. Ano pontuado por desafios, obstáculos, mas também de avanços. Com a virada para 2014, também entramos em nova fase da SOCESP. Nossa diretoria encerra sua representação, sendo que passaremos a responsabilidade de honrar os especialistas de São Paulo ao grande amigo Francisco Fonseca e a seu grupo gestor. Muito me orgulho de ter trabalhado durante todo o último biênio para defender aos anseios dos cardiologistas paulistas. Foi uma passagem breve, porém rica. Muitas vezes demos murro em ponta de faca, mas chegamos a vitórias expressivas. A começar pelo tradicional Congresso SOCESP, que manteve sua elevada qualidade e ganhou em inovações. As duas edições que tivemos o prazer de ajudar a organizar foram elogiadas e cumpriram em 100% o objetivo de levar o que há de excelência em nossa especialidade a médicos e profissionais das áreas multidisciplinares. Nosso calendário científico, aliás, foi exuberante em todos os aspectos. As Regionais e os Departamentos mantiveram-se ativos durante o tempo inteiro, municiando seus públicos com educação continuada de qualidade em quantidade adequada. Na Defesa Profissional, temos outros pontos a festejar. Os anos de 2012 e 2103 foram dos mais recompensadores na luta por valorização na saúde suplementar. Muitas empresas reajustaram honorários e a negociação coletiva virou realidade. Durante todo esse processo caminhamos ao lado das entidades estaduais - Associação Paulista de Medicina, Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo e Sindicatos de Médicos – em um movimento que evidenciou uma vez mais a importância de nossa união. Claro que ainda há muito o que fazer, são vários os desafios e demasiadas as demandas urgentes dos médicos brasileiros. Na saúde pública, o governo fez prevalecer o programa Mais Médicos à base da força. Temos uma série de restrições a tal encaminhamento. Entretanto, torcemos para dar certo. De qualquer forma, permaneceremos vigilantes, cobrando ações eficazes para melhorar a assistência aos cidadãos, como aumento do financiamento, gestão responsável e uma política de real interiorização da medicina. Nossa diretoria tem ainda dois meses de trabalho; e muito trabalhará. Haverá novamente uma oportunidade de falarmos a você no SOCESP em Destaque de dezembro. Mesmo assim, desde já quero agradecer ao apoio. Obrigado, cardiologista paulista. editorial ÍNDICE Carlos Magalhães, Presidente da SOCESP S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 3 cidadania Dia Mundial do Coração: a Importância da atividade física: no ABC, os idosos fizeram exercícios de alongamento com o auxílio de um professor de Educação Física As doenças cardiovasculares são a causa número um de mortes no mundo. A cada ano, registram-se cerca de 17,3 milhões de óbitos. Mas esse quadro pode mudar com a inclusão de hábitos saudáveis na rotina das pessoas. E a intenção da campanha do Dia Mundial do Coração (29 de setembro) é esclarecer justamente isso à população. A iniciativa da Federação Mundial do Coração (World Heart Federation), apoiada pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e pela SBC, teve ações de conscientização em todo o país. No Estado, a SOCESP promoveu atividades em diversas regionais. Confira algumas delas a seguir. ABC PAULISTA A ação aconteceu na entidade filantrópica sem fins lucrativos Cidade dos Meninos "Maria No município de Botucatu, estudantes da FMB distribuíram fôlderes com orientações sobre dieta balanceada e os riscos da vida sedentária aos passantes 4 S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 Imaculada", em Santo André, em 25 de setembro. “A ideia do evento foi conscientizar sobre os fatores de risco para doenças cardiovasculares. Para propagar nossa mensagem, usamos materiais simples: balança, fita métrica, medidores de Pressão Arterial e contamos com a ajuda de um professor de Educação Física”, relata o presidente Silvio Cembranelli. O mutirão ocorreu em duas etapas: a primeira com idosos e a segunda com crianças de 4 a 9 anos. No intervalo entre o atendimento dos grupos houve uma palestra com um professor de educação física sobre a importância da prática esportiva e da alimentação balanceada. Além do material informativo, a equipe médica ofereceu ao público da terceira idade pesagem, aferição de PA e medição de circunferência abdominal. Foram assistidos cerca de cem adultos. As 320 crianças acompanharam um vídeo educativo sobre a saúde do coração e o prejuízo causado pelo sedentarismo. Por meio de atividades desenvolvidas no auditório, os presentes foram estimulados a desenvolver hábitos saudáveis. “Pela receptividade do público, acredito que atingimos plenamente os nossos objetivos”, comemora Cembranelli. BOTUCATU Em 25 de setembro, a SOCESP, com apoio da Liga de Cardiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB), realizou rodada de conscientização no Boulevard do Hospital das Clínicas da instituição. Foram distribuídos folders aos passantes, que receberam orientações sobre qualidade de vida. Segundo a presidente Silméia Garcia Zanati, a contribuição da Liga de Cardiologia foi importante. “Além dos membros da Regional Botucatu, pudemos contar com a participação dos alunos da Liga, integrada por alunos do 1º ao 4º ano do Curso de Medicina da FMB, complementando o trabalho educativo da universidade junto à comunidade”. Com a presença de mais de 200 pessoas, entre pacientes, acompanhantes e funcionários, foram abordados temas como controle da hipertensão arterial, diabetes, colesterol, peso, estresse, exercícios físicos e alimentação saudável. MARÍLIA Organizados pela SOCESP, alunos da Faculdade de Medicina da Unimar (Universidade de Marília) atenderam cerca de 200 pessoas no Esmeralda Shopping, em 25 de setembro. A ação contou com a SOCESP onde o povo está Alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de Marília alertaram a população sobre as doenças cardiovasculares no Esmeralda Shopping distribuição de panfletos e orientação à população sobre dieta, atividades físicas e doenças cardiovasculares, conta André dos Santos Moro, da Regional. PIRACICABA Em 25 de setembro, das 8h às 12h, houve ação da campanha na Praça José Bonifácio, localizada na região central da cidade. A iniciativa foi apoiada pela Prefeitura de Piracicaba e pelas secretarias municipais de Saúde e de Esportes, Lazer e Atividades Motoras. As atividades planejadas pela SOCESP foram aferição de PA, cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), medida da circunferência abdominal, orientação nutricional, atividades motoras (ioga e macroginástica) e distribuição de material educativo. “Foi um sucesso pela grande procura e participação da população: atendemos aproximadamente mil pessoas! Atingimos adultos e crianças”, comenta Francisco Ramos Farina, coordenador da ação da Campanha do Dia Mundial do Coração em Piracicaba. VALE DO PARAÍBA O Vale do Paraíba recebeu duas ações organizadas pela Regional, conta Fábio Roberto da Silva Baptista, coordenador da ação da Campanha do Dia Mundial do Coração no Vale do Paraíba. Em 3 de outubro, na Casa do Idoso, e, no dia seguinte, no Colinas Shopping, em São José dos Campos. Na primeira, foram realizadas distribuição de panfletos com orientações sobre fatores de riscos, pesagem, medição de PA e de circunferência abdominal. Além disso, com o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar formada por enfermeiros, fisioterapeutas, educadores físicos e médicos, os idosos praticaram exercícios físicos. No shopping, os interessados receberam infor- mações sobre as doenças e os exames preventivos. A média de público atendido em cada um dos eventos foi de mais 300 pessoas, entre idosos, adultos e crianças. “Na nossa Regional, as ações da Campanha já são tradição. No Shopping já realizamos há cinco anos. Anteriormente, atuávamos na rua. Na Casa do Idoso, esta é a primeira vez”, diz Baptista. A ação da Campanha na Praça José Bonifácio, em Piracicaba, contou com atividades motoras como a macroginástica JUNDIAÍ Em 5 de outubro, o Parque da Cidade, em Jundiaí, foi o ponto de encontro da atividade desenvolvida pela SOCESP, lembra Paulo Alexandre da Costa, coordenador da ação da Campanha do Dia Mundial do Coração em Jundiaí. Foram feitas aferição de PA, cálculo de Índice de Massa Corporal (IMC), dosagem de glicemia e distribuição de cartilhas. “Sem dúvida, temos a intenção de realizar novamente”, afirma Paulo. “Neste ano, cedemos entrevista a TV Tem (afiliada da TV Globo) para falar sobre a Campanha do Dia Mundial do Coração, o que foi bem interessante.” Em duas ações da Campanha no Vale do Paraíba, a população foi atendida com pesagem, medição de P.A. e de circunferência abdominal S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 5 resolução Teste ergométrico deve ser acompanhado por médico, determina CFM Cardiologistas aprovam decisão, mas ainda lutam por melhores honorários para o procedimento Em 27 de setembro, foi publicada no Diário Oficial da União a Resolução 2021/13 do Conselho Federal de Medicina (CFM) que determina que todas as etapas da aplicação do teste ergométrico ao paciente devem ter acompanhamento médico. Afinal, é o único profissional habilitado a atender possíveis emergências cardiovasculares. A presença física do médico é imprescindível para monitoramento de sinais vitais e eventual detecção de alterações o mais precocemente possível, para eventualmente interromper o teste antes que algo grave aconteça. A iniciativa do CFM, assim, foi recebida com satisfação pela SOCESP, que há anos pleiteia tal regulamentação. No entanto, é consenso de que ainda há outros aspectos a serem melhorados, como a remuneração do cardiologista para o procedimento. Atualmente, segundo a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos de 2010, da Associação Médica Brasileira (AMB), o teste ergométrico vale R$ 156,38 e o cardiopulmonar R$ 263,37. O problema é que os convênios dificilmente pagam mais do que R$ 55,00 e R$ 136,00, respectivamente. Esta bandeira já foi levantada em diversas oportunidades, como em 25 de abril, Dia Nacional de Advertência aos Planos de Saúde. A reivindicação da SOCESP por melhor remuneração do teste ergométrico conta com o apoio da Associação Paulista de Medicina, CREMESP e SIMESP. O presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, Carlos Magalhães, afirma que é compromisso da diretoria lutar pela revisão de todos os procedimentos defasados e pela valorização do trabalho do especialista. Para isso, a SOCESP seguirá ativa em todos os movimentos que apontem para a possibilidade de honorários justos e reconhecimento para aos profissionais do Estado. SEGURANÇA A taxa de mortalidade do teste ergométrico é de um em mil, sendo que a estatística é informada ao paciente antes da realização do teste. Alberto F. Piccolotto Naccarato, coordenador de eventos da SOCESP, reitera que o exame só deve ser realizado quando solicitado pelo médico, pois pode apresentar resultados dúbios apontando “falsos positivos” ou “falsos negativos”, distorção que só um especialista em cardiologia pode detectar. Segundo Carlos Magalhães, o nível de precisão do teste ergométrico é considerado bom. Ele é essencial ao paciente por trazer informações que garantem mais segurança para o tratamento ou para iniciar a prática de atividades físicas. “Com o auxílio da avaliação ergométrica é possível propor mudanças nos hábitos dos pacientes, o que diminui riscos na prescrição de exercícios. Além disso, muitas doenças, inclusive cardíacas, podem ser evitadas ou amenizadas com a prática regular de exercícios físicos.” 6 S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 treinamento Curso de Instrutor de Suporte Básico à Vida para o Corpo de Bombeiros de São Paulo Curso de instrutor de Basic Lefie Suport certificado pela American Heart Association A SOCESP promoveu, em 21 e 22 de setembro, o Curso de Suporte Básico à Vida (BLS – Basic Suport life) para integrantes do Corpo de Bombeiros, em seu Centro de Treinamento em Emergências Cardiovasculares (CTEC), no Conjunto Nacional, na capital paulista. O diretor do CTEC, Agnaldo Píspico, destaca que o objetivo foi preparar e aperfeiçoar as brigadas da cidade, multiplicando seus conhecimentos em primeiros-socorros. Durante dois dias, instrutores treinados e credenciados de acordo com as regras e especificações da American Heart Association transmitiram os conhecimentos sobre manobras de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) em adultos e crianças, usando manequins com simuladores e Desfibriladores Externos Automáticos (DEA). Os soldados do Corpo de Bombeiros receberam informações completas para reconhecer uma parada cardíaca ou uma emergência cardiovascular. Também foram instruídos sobre a quantidade de compressões recomendadas pelo protocolo e como devem ser realizadas, além de todo o passo a passo do atendimento, incluindo como e quando usar o desfibrilador. Segundo o capitão Humberto Cesar Leão, membro da Comissão de Resgate do Corpo de Bombeiros e Instrutor de BLS treinado pela SOCESP, os integrantes da corporação ficaram muito satisfeitos e impressionados. Ele ressalta que é essencial para a equipe a atualização de conhecimentos com base nas diretrizes internacionais. “O Corpo de Bombeiros encontrou na SOCESP uma parceira estratégica para cooperação mútua no desenvolvimento do atendimento às vítimas. Isso sem falar no importante suporte científico e no sítio de treinamento certificado pela American Heart Association. Assim, nos vemos como referência no Brasil e no mundo. O mais relevante é que os frutos desta colaboração serão colhidos pela sociedade paulista.” Agnaldo Píspico conta que os formados neste curso serão, futuramente, treinadores. Diz também que, por essa razão, é essencial o aperfeiçoamento contínuo das atividades: “O que se deve pensar é que a equipe do Corpo de Bombeiros de São Paulo executa essas atividades em seu dia a dia; então o curso não servirá apenas para casos emergenciais. É fundamental aperfeiçoar e multiplicar o conhecimento da corporação, pois isto os deixa mais qualificados para assistir à população.” S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 7 deu na mídia Folha de S. Paulo Boneco 'cardíaco' treina alunos na USP Segundo reportagem da Folha de São Paulo, o trabalho de encontrar pacientes que sejam voluntários em aulas de cardiologia está perto do fim na USP de Ribeirão Preto. A solução atende pelo nome de Harvey, boneco com reações sofisticadas, que simula pulsação e problemas cardíacos em diferentes intensidades e locais do corpo, para apontar possíveis doenças cardiovasculares. Com esse grau de reações, o protótipo, importado dos Estados Unidos, é o primeiro a funcionar no país, de acordo com o Hospital das Clínicas de Ribeirão. Outros três modelos devem ser instalados até o final do ano em faculdades de Fortaleza, Salvador e Porto Alegre. Harvey, em funcionamento há um mês, foi assim batizado como referência a William Harvey, um dos mais importantes estudiosos do sistema circulatório. O simulador custou US$ 50 mil, financiados pela USP, e é capaz de simular 33 tipos de doenças. Sua diferença entre tantos outros bonecos já em uso nas aulas de medicina está na sutileza e quantidade de sinais do sistema circulatório que demonstra, conforme Antonio Pazin Filho, coordenador da unidade de emergência do HC e chefe da divisão de emergências clínicas. Mais informações no link http://www1.folha. uol.com.br/equilibrioesaude/2013/10/1350945boneco-cardiaco-treina-alunos-de-medicinana-usp-de-ribeirao.shtml 8 S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 O GLOBO Cardiologia brasileira reduz nível considerado bom para o colesterol ruim Durante o 68º Congresso Brasileiro de Cardiologia, no Rio de Janeiro, foi anunciada a V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), de acordo com o noticiado pelo jornal O Globo. Com o novo consenso, cardiologistas do país deverão ter mais rigor no controle do colesterol do infarto, do que ocorre até nos Estados Unidos. Segundo Hermes Toros Xavier, presidente do Departamento de Aterosclerose da SBC e editor da nova diretriz, 30% dos brasileiros adultos estão no sinal vermelho do nível da gordura que gruda nas paredes das artérias e devem procurar o médico para avaliar os riscos de doenças cardiovasculares. O risco de doenças cardiovasculares é separado em três níveis: o alto, o intermediário e o baixo. Quanto mais comportamentos e histórico genético ruins, mais se avança na escala. Para quem está no risco intermediário, o nível de colesterol deve ficar agora entre 70mg e 100mg e não mais entre 100mg e 130mg. A diretriz está mais rigorosa com mulheres: um risco superior a 10% já é considerado alto, enquanto que, para homens, chega-se ao pior nível quem tem 20% de risco. Segundo Xavier, o rigor com as mulheres ocorre porque, nas últimas décadas, elas têm ficado mais hipertensas e com mais excesso de peso. Com isso, as doenças cardiovasculares, como infarto e derrame, deixaram de ser um mal masculino e são, cada vez mais, femininos. No país, para cada dez casos de infarto, quatro já são de mulheres. "O Brasil está à frente da diretriz americana sobre o tema. Estamos entre os pioneiros a adotar metas rigorosas", declara Xavier. A reportagem completa pode ser acessada por meio do link http://oglobo.globo. com/saude/cardiologia-brasileira-vai-reduzir-nivel-considerado-bom-para-colesterol-ruim 9812899#ixzz2dw6odBEG Em virtude do aguardado campeonato de futebol, organizado pela Federação Internacional de Futebol (FIFA), entre junho e julho de 2014, o Congresso da SOCESP, que geralmente acontece durante o feriado de Corpus Christi, foi antecipado para 21, 22 e 23 de março. O encontro científico deve atrair cerca de 7 mil cardiologistas, profissionais de áreas correlatas e estudantes. Será realizado no Transamérica Expo, em São Paulo, sob tema central ‘As inovações da Cardiologia na prática clínica’. “A discussão será muito além daquilo que é novidade hoje. Resgataremos as inovações das diferentes épocas da cardiologia que mudaram o rumo da especialidade, como é o caso dos inibidores de enzima de conversão, do uso dos stents ou das cirurgias minimamente invasivas”, explica Miguel Moretti, presidente do Congresso. A ideia é verificar aqueles avanços do passado que seguem até os dias de hoje incorporados à pratica diária. “A partir deste paralelo, discutiremos as inovações atuais, e o caminho pelo qual percorrerão até que estejam incorporadas ao nosso dia a dia.” O tema não se restringirá à cardiologia. Norteará, também, as discussões das áreas multidisciplinares do Congresso, como nutrição, fisioterapia, enfermagem, educação física, entre outras. PROGRAMA CIENTÍFICO Toda a programação científica já está definida e os convites enviados aos palestrantes já vem sendo confirmados. Alguns dos pontos altos serão, sem dúvida, três diferentes momentos que selam as parcerias formadas pela SOCESP com algumas das principais instituições internacionais de cardiologia. Logo no primeiro dia, assim como aconteceu na edição 2013, ocorrerá o Simpósio SOCESP American College; com dois representantes da associação americana abrindo oficialmente o Congresso. “Haverá também o Simpósio SOCESP Sociedade Europeia de Aterosclerose, igualmente representada por dois conferencistas internacionais, além do Simpósio SOCESP Cardiosource, inédito no país, com a presença de um porta-voz deles.” O objetivo é oferecer toda a qualidade da infraestrutura e da programação científica que o associado já conhece, além de novidades e conteúdos especialmente formatados com o melhor da cardiologia mundial. Assim, a SOCESP busca não apenas manter o costumeiro padrão de excelência, mas seguir crescendo, como tem acontecido ano após ano. agende-se As novidades do Congresso de 2014 “É um indicador do empenho de toda a equipe da SOCESP e de sua diretoria, e do crescente interesse dos profissionais da área em se manterem atualizados e cada vez melhor preparados para atender a população da melhor forma possível. Com esse histórico de edições que se superam, é uma grande honra e um desafio presidir o Congresso da SOCESP. Mesmo com toda a experiência que nós da Comissão Científica acumulamos, juntos, há sempre a preocupação em alcançar as expectativas”, comenta Miguel Moretti, que nos últimos anos ocupou os cargos de diretor científico (2012) e coordenador executivo (2013) do evento. As atividades estarão divididas em Estado da Arte, Casos Clínicos, Colóquios, Controvérsias, Miniconferências, Temas Livres Orais, Mesas-Redondas, Pontos de Vista e Sessões Especiais. TEMAS LIVRES Os Temas Livres inscritos para a próxima edição do Congresso estão divididos entre categorias da cardiologia (tendo como os autores principais médicos ou acadêmicos) e dos departamentos multidisciplinares. Os melhores trabalhos serão agraciados com os prêmios Jovem Pesquisador - Josef Feher, Melhor Pesquisa Básica - Cantídio de Moura Campos Filho e Melhor Pesquisa Aplicada - Luiz Venere Décourt. Também terão a honraria de ser apresentados em uma sessão especial, no formato de “pôster comentado”. Mais informações disponíveis no site oficial do congresso: http://www.socesp2014.com.br. XXXV Congresso da SOCESP Data: 21, 22 e 23 de março de 2014 Local: Transamérica Expo Center Endereço: Av. Dr. Mário Villas Boas Rodrigues, 387 S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 9 sua carreira Falta medir a felicidade nas cidades José Luiz Portella é engenheiro, ex-secretário estadual e municipal em São Paulo, comentarista/articulista da Folha.com 10 Não sabemos o que nos faz feliz onde vivemos. Sócrates já dizia, há 2500 anos, que o homem gosta da vida boa. Da felicidade. E nós ignoramos como encontrá-la. Não dá para construir o que não se consegue medir. É difícil medir felicidade. Há o lado objetivo, concreto, ligado a condições que podem ser medidas por índices numéricos, como saúde, moradia, renda per capita, percepção de segurança, desigualdade. Contudo, há o lado objetivo que depende de cada pessoa e do seu respectivo projeto de vida. Duas pessoas que vivem numa mesma metrópole, são vizinhas e têm os mesmos padrões emitem sinais diferentes de satisfação. De uma forma ou de outra, há inúmeras pesquisas avaliando a percepção mental de felicidade. Como cada um se sente. Já a felicidade que nos relaciona com a cidade, não. O tema fica no rame-rame de sempre e limita-se a pedir mais saúde, educação e transporte. Simplista demais. Faltam dados que associem atividades diárias das pessoas ao prazer. Recentemente, saiu o IDHM-Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios. Pela terceira vez seguida, São Caetano do Sul foi o campeão no Brasil. O IDHM baseia-se em três índices: saúde (longevidade), renda e educação. A impressão de boa parte das pessoas é que a detentora do título de campeã do IDHM é a cidade mais agradável para se viver. Não é necessariamente assim. Há outros fatores não avaliados, fundamentais. Na prática, a qualidade de vida nas cidades é medida com boa precisão quando nos atemos a índices objetivos, como os acima citados. Coisas mais racionais. Já os índices subjetivos não são mensurados. A medida sobre eles é escassa e incerta. As prefeituras não investem em ouvir sobre como as pessoas se sentem, independentemente da infraestrutura que as rodeia. A felicidade que cada um sente ao viver em determinado local também tem um aspecto subjetivo que é desprezado. Deveria ser objeto de estudo profundo e servir de roteiro S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 para as políticas públicas e ações privadas. Estamos perdendo a conta da vida comunitária nas cidades e a importância dos nossos sentimentos. A perda não é pouca coisa. Estrelado pelos irmãos Schlegel, Novalis e Goethe, o movimento romântico alemão surgiu para se contrapor ao domínio da razão. Para enxergar o sentimento. Ele valorizou a vida comunitária. Por enquanto, repetimos padrões e andamos às cegas, negligenciando nossa própria fortuna. A felicidade tem paradoxos. Segundo o economista Eduardo Giannetti, o crescimento econômico ocorrido nos Estados Unidos e Europa após a Segunda Guerra não alterou o nível de satisfação das pessoas. A melhoria indiscutível dos padrões em saúde, transporte e educação de grande parte dos municípios do Brasil, apontada no IDHM de 2013 (base 2010), também não significou mais felicidade aos seus respectivos cidadãos. Há algo a mais a ser apurado para desvendar a questão. Por que não se pergunta mais claramente à população quais usos e costumes do cotidiano que lhe propiciam prazer: caminhar com segurança?; curtir uma praça, um parque?; flanar pelas ruas da cidade?; Ver um jogo de futebol em paz? As universidades brasileiras dedicam-se pouco a investigar isso. A perscrutar o que torna o intangível, o impalpável, passível de medição. Se pudermos identificar ações concretas que nos deixem felizes subjetivamente, poderemos mensurá-las tornando mais fácil construir a cidade melhor. Com certeza, o número de pessoas que utiliza as ruas é uma medida de cidade feliz. A felicidade pessoal está ligada à mente da pessoa. O prazer de viver em uma metrópole está associado à disposição de ocupá-la. Seria legal, e indispensável, medir quanta gente se dispõe a sair de casa ou a retardar a volta para o lar para curtir a vida oferecida fora dos prédios. Seria bom encontrarmos outras questões que pudessem nos dar a pista para mensurar o que nos faz feliz. Além das universidades e do poder público, a sociedade deveria debruçar-se mais nessa questão. O que temos sobre o tema é desesperadoramente insuficiente. O paradoxo, nas metrópoles, é que lidamos com muita informação irrelevante, enquanto o essencial é desconhecido. Tentar a felicidade é da natureza humana. Melhor sermos obsessivos nessa busca. Afinal, como disse Millôr Fernandes, "a vida é perto". Por que não procurá-la onde a gente mora? Texto publicado na Folha.com Publicada no Diário Oficial no último dia 24 de setembro, uma resolução do Conselho Federal de Farmácia (CFF) autoriza o farmacêutico a prescrever medicamentos para a população. O Conselho Federal de Medicina (CFM) questiona a medida e, amparado no próprio decreto 85.878/81, que rege a profissão do farmacêutico, contesta na Justiça a legalidade da resolução. “O diagnóstico e a prescrição são prerrogativas dos médicos, pois eles receberam conhecimento específico para tanto. Os outros profissionais de saúde também têm suas atribuições exclusivas, já que receberam informações necessárias. Mas nenhum deles pode diagnosticar e prescrever”, diz o vice-presidente da SOGESP, Jarbas Magalhães. Na outra ponta está a Lei de Regulamentação da Medicina (12.842/13) que, em seu artigo 2º, inciso II, diz que é de responsabilidade do médico o diagnóstico nosológico, ou seja, a prevenção, o diagnóstico e a prescrição do tratamento são atribuições apenas do profissional de Medicina, e nenhuma outra categoria tem esse direito. “O diagnóstico das doenças e seu respectivo tratamento são atribuições exclusivas do médico, desde que surgiu esta milenar profissão. O farmacêutico tem um importante papel na equipe multiprofissional de Saúde, que é o de orientar o uso adequado dos medi- polêmica CFM vai à Justiça contra a prescrição farmacêutica camentos prescritos pelos médicos”, pontua Renato Azevedo Júnior, do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). RISCO À SAÚDE A resolução do CFF classifica algumas doenças como “transtorno menor”, minimizando, dessa forma, a importância do acompanhamento médico. Porém, é sabido que qualquer patologia, por menos grave que pareça, deve ser avaliada pelo profissional de Medicina, que tem conhecimento e preparo para identificar possíveis complicações. Além disso, a resolução também fala “nos limites da atenção básica à saúde”, colocação igualmente grave na ótica das entidades médicas. Outro ponto que traz riscos para a saúde do paciente é a permissão que o farmacêutico passa a ter para renovar uma receita prescrita por um médico. A pergunta é: como poderia outro profissional prolongar um tratamento ou interrompê-lo, sendo que o médico é quem fez toda a anamnese e é o único de fato capacitado para esses procedimentos? “Nesse caso não há meio termo. Só o médico pode diagnosticar e prescrever quando falamos em saúde de seres humanos. Dor de cabeça não é doença, cólica também não, muito menos coriza. Mas atrás destes sintomas, o indivíduo pode trazer hemorragias, apendicite ou pneumonia”, finaliza Meinão. População discorda da resolução Recentemente, o Instituto de Ciências, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) entrevistou 2.650 pessoas de 15 capitais brasileiras, com idades entre 18 e 60 anos, para verificar o nível de aprovação da resolução do CFF. O resultado foi o seguinte: 61% são contrárias à resolução; 65% acham que a resolução não facilitará o tratamento de doenças; 58% não confiam nas prescrições de farmacêuticos. S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 11 multidisciplinar Enfermagem na Assistência Circulatória Mecânica Rita de Cassia Gengo e Silva, Ivany de Carvalho Machado Baptista, Rita de Cassia Ribeiro de Macedo, Rosa Bosquetti, Andrea Cotait* Os avanços científicos e tecnológicos no tratamento das doenças cardíacas têm levado à maior sobrevida dos pacientes e ao consequente aumento na incidência de insuficiência cardíaca (IC). Dentre as opções terapêuticas para a IC avançada, destaca-se a assistência circulatória mecânica (ACM), definida como um conjunto de técnicas e equipamentos capazes de manter as condições hemodinâmicas dos pacientes por períodos prolongados e substituir total, ou parcialmente, de forma temporária ou definitiva, as funções de bombeamento do coração. Sua finalidade primordial é garantir a perfusão sistêmica e evitar a disfunção de múltiplos órgãos. Desse modo, tornaram-se fundamentais no tratamento do choque cardiogênico e na manutenção do suporte circulatório de pacientes com IC avançada. Historicamente, os dispositivos de ACM foram desenvolvidos para facilitar a realização de cirurgias cardíacas a céu aberto. Desde a década de 1960, o National Heart, Lung and Blood Institute patrocina o desenvolvimento desses dispositivos, incluindo o coração artificial total. A primeira e a segunda gerações dos dispositivos de ACM foram desenvolvidas com fluxo pulsátil e contínuo, respectivamente. Por sua vez, os dispositivos de ACM de terceira geração utilizam sistema de levitação magnética e parecem ser mais duradouros e ter menos efeitos mecânicos sobre os componentes sanguíneos. No Brasil, destaca-se o emprego pioneiro dos dispositivos de ACM em pacientes portadores de cardiopatia chagásica. A ACM tem sido utilizada predominantemente como ponte para recuperação ou para transplante. Contudo, em alguns países, tem sido utilizada como terapia de destino para os pacientes com IC avançada e contraindicações para o transplante cardíaco. Sabe-se que a utilização prolongada da ACM reverte alterações celulares que ocorrem na fase avançada da IC. Consequentemente, observase a melhora clínica do paciente, com redução da hipertensão pulmonar e melhora da função renal, de modo que as contraindicações para o transplante são revertidas. Há critérios bem definidos para a indicação dos dispositivos de ACM, quais sejam: idade inferior a 70 anos, choque cardiogênico em uso de altas doses de catecolaminas, hipotensão arterial persistente e indicadores hemodinâmicos de falência uni ou biventricular. Nesse cenário de atenção à saúde de alta complexidade, é preciso definir as competências do enfermeiro no atendimento dos pacientes em uso de dispositivos de ACM. Porém, estudos na área de enfermagem são escassos. Casida e Ilacqua (2011) publicaram uma pesquisa do tipo survey, na qual verificou-se que tanto os registered nurses (enfermeiros graduados e aprovados em exame nacional de licença nos Estados Unidos) quanto os advanced practice nurses (enfermeiros que têm alto nível de educação formal, como mestrado ou doutorado em enfermagem) realizavam o cuidado a esses pacientes. Metade dos participantes relatou que lhes fora exigido o curso de suporte avançado de vida em cardiologia e um mínimo de dois anos de experiência em cuidados intensivos ou em cirurgia cardíaca. Todavia, grande parte dos participantes relatou que os conhecimentos específicos foram adquiridos durante o treinamento em serviço. No estudo, o papel do enfermeiro nos programas de ACM foi descrito como multifacetado, incluindo o provimento de cuidados diretos ao paciente, educação, ensino, pesquisa e gestão. Os participantes relataram que dentre suas contribuições para o cuidado ao paciente e nos resultados organizacionais estão: melhorar a qualidade de vida dos pacientes e de seus cuidadores, contribuir para a adesão ao tratamento e para a satisfação do paciente com o cuidado, reduzir as complicações pós-operatórias, bem como as taxas de readmissão hospitalar e o tempo de internação. Portanto, é possível inferir que os enfermeiros contribuem sobremaneira para o alcance de resultados de saúde positivos para o paciente em uso de dispositivos de ACM, bem como para os indicadores organizacionais. Ressalta-se que esses profissionais necessitam de conhecimentos e habilidades específicos, além de experiência clínica para prestar assistência com competência e segurança. *Departamento de Enfermagem da SOCESP REFERÊNCIAS (ENDNOTES) Casida JM, Ilacqua J. A survey of nurses in the mechanical circulatory support programs in the United States. Heart & Lung. 2011;40(4):e103-e111. Fiorelli AI, Oliveira Junior JL, Coelho GHB, Rocha DC. Assistência circulatória mecânica: porque e quando. RevMed (São Paulo). 2008;87(1):1-15. Gelape CL, Pham SM. Avanços no suporte circulatório mecânico no tratamento da insuficiência cardíaca. Arq Bras Cardiol. 2012;98(2):e36-e43. Peura JL et al. Recommendations for the use of mechanical circulatory support: device strategies and patient selection. A scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2012;126:2648-67. 12 S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff na 68ª Assembleia Geral das Nações Unidas foi muito lúcido quanto à gravidade da espionagem eletrônica contra o Brasil e outros países. Também se mostrou pertinente à sua proposta de que a ONU regulamente a questão e garanta a soberania cibernética dos povos. É preciso avançar nesse processo, pois informação é o bem contemporâneo mais valioso. Seu domínio é um imenso diferencial de competitividade. Ademais, trata-se de algo diretamente ligado à segurança nacional, à medida que há elementos fundamentais a serem protegidos, como os referentes às potencialidades do Brasil: área agriculturável disponível mais ampla, maiores reserva hídrica e biodiversidade do Planeta, grande produção de alimentos, biocombustíveis, óleo e gás. Ante os olhares internacionais, o País precisa preocupar-se em blindar seus dados estratégicos. No entanto, independentemente da espionagem estrangeira, é necessário questionar se não estamos, nós próprios, facilitando o acesso de outras nações ao precioso acervo da produção científica de nossas universidades, patentes, estudos e pesquisas das empresas. Sabemos que imenso volume de conteúdos de nossas instituições é hospedado em plataformas de TI localizadas em distintos países, inclusive nos Estados Unidos. É seguro esse processo? Por mais que se tenham cuidados jurídicos nos protocolos e contratos, sabe-se que a informática e a internet são campos suscetíveis às intromissões indesejadas. Se os norte-americanos conseguiram quebrar as barreiras criptográficas do sistema de computadores da Presidência da República brasileira, o que dizer de arquivos hospedados na sua casa? Talvez haja aí uma contradição: ao mesmo tempo em que conclamamos a ONU a impedir a espionagem na Web e nos sistemas eletrônicos de informação, mantemos um modelo que, por si só, expõe a risco nosso patrimônio de conhecimento. Não adiantam barreiras para impedir que as raposas entrem no nosso galinheiro se, espontaneamente, entregamos parte de nossas galinhas para que lobos, em seu habitat natural, tomem conta delas. É um contrassenso. Temos progredido a passos lentos, mas consistentes, na área de pesquisa e inovação (P&D). Ainda precisamos evoluir no número de registro de patentes, proporcionalmente muito mais baixo do que o volume de publicações científicas. Assim, não é prudente expor nosso acervo científico aos perigos agora evidenciados pelas denúncias de espionagem praticada por agências dos Estados Unidos. É preciso refletir sobre a questão, entendê-la em profundidade e, se for o caso, adotar as medidas necessárias. Há uma lição de casa a ser feita, com a participação de instituições como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Instituto de Tecnologia da Informação da Casa Civil (ITI) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). No ano passado, ao participar de um debate na Câmara dos Deputados sobre P&D, coordenado pelo deputado Newton Lima, um diplomata brasileiro especializado no tema, confessou que países como Estados Unidos e Coreia do Sul mantinham departamentos especializados em capturar conhecimento nas publicações de cientistas brasileiros. Estamos entregando o ouro ao bandido? gestão pública A proteção do conhecimento Antoninho Marmo Trevisan é presidente da Trevisan Escola de Negócios, membro do Conselho Superior do MBC (Movimento Brasil Competitivo) e do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República) S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 13 saúde suplementar Pesquisa Datafolha comprova dos pacientes com os planos as classes econômicas, que possuem plano ou seguro-saúde como titulares ou dependentes. A amostra total é de 861 entrevistas. A margem de erro máxima é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%. RESULTADOS IMPORTANTES Do grupo que recorreu aos planos nos últimos 24 meses, 79% relataram problemas; projetando o número para os 10,4 milhões de usuários chegamos a aproximadamente 8,2 milhões de pacientes enfrentando problemas. A agravante é que a média de problemas apontada é de 4,3 por pesquisado. A investigação estimulada sobre a utilização de serviços e percepção de problemas tem como principais reclamações consultas médicas (66%), exames e diagnóstico (47%), além do pronto atendimento, terceiro em uso, mas que é destacadamente o serviço com maior índice de usuários com problemas (80%). CONSULTAS MÉDICAS A Associação Paulista de Medicina, em parceria com o Datafolha e sociedades de especialidades médicas, entre elas a SOCESP, foi à população do estado de São Paulo para traçar um retrato de como anda a satisfação dos pacientes com os planos de saúde. Foram queixas recorrentes a dificuldade para a marcação de consultas, as falhas no atendimento em pronto-socorro, as dificuldades para realização de exames, cirurgias e internações hospitalares. A pesquisa foi realizada junto à população adulta que utilizou planos de saúde dos últimos 24 meses. Foram consultados homens e mulheres, com 18 anos ou mais, pertencentes a todas Local de espera lotado é o principal problema apontado pelos usuários do pronto atendimento 14 74% S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 No item consultas médicas, temos como mais frequentes: demora na marcação de consultas (52%), médico saiu do plano (28%), demora na autorização de consulta (25%). Vale lembrar que em pesquisa anterior do Datafolha junto a profissionais de medicina, 9 entre 10 relataram insatisfação por problemas diversos, como as pressões exercidas pelos planos para que reduzam exames, procedimentos distintos, além de interferências até em internações. EXAMES E DIAGNÓSTICOS Quanto aos exames e diagnósticos, as queixas mais comuns referem-se à demora para marcação (28%), poucas opções de laboratórios e clínicas 27% poucas opções de laboratórios e clínicas especializadas 28% demora para marcação especializadas (27%), tempo para autorização de exame ou procedimento (18%). PRONTO-SOCORRO Local de espera lotado é o principal problema apontado pelos usuários do pronto atendimento (74%). Demora para ser atendido também é um aspecto importante, mencionado por 55% dos usuários. Outras reclamações que merecem ser destacadas são demora ou negativa para realização de procedimentos necessários (16%), locais inadequados para receber medicação (13%) e negativa de atendimento (9%). Aqui o entendimento da APM é que os dados são preocupantes, pois é nos prontos- socorros que encontramos casos mais graves e, portanto, necessitando de resolubilidade imediata. Inglês para serviço a insatisfação de saúde MÉDICOS Dear readers, Segue aqui mais uma seleção de palavras bastante utilizadas em medical papers. To avert = prevenir Conspicuous fetal hydrops = hidropsia fetal conspícua (evidente) To eschew = abster-se de, evitar To straddle = sentar de pernas abertas, posição escarrapachada The so-called = o assim chamado Width = largura To evolve = desenvolver gradualmente, desenvolver por evolução To yield = render, produzir, lucrar (quantidade produzida) Titrate = titular uma solução, dosear, analise volumétrica, titulagem Ricky Silveira Mello Silveira.Mello Comunicações e Eventos Traduções e versões, revisão de Medical Papers, aulas de conversação e estrutura gramatical, tradução de teses Mobile: (11) 99946-6361 RECORRENDO AO SUS A pesquisa mostra também que, por falta de opções de atendimento no plano de saúde, 30% declaram que recorreram ao SUS ou ao atendimento particular, nos últimos dois anos, um aumento de 10 pontos em relação ao estudo realizado em maio de 2012 pelo Datafolha. No entendimento da APM isto significa, na prática, 50% de agravamento nesse item. OUTROS NÚMEROS 41% dos usuários apontam algum problema relativo à internação hospitalar 24% dos usuários dos serviços de cirurgias tiveram algum problema 15% dos usuários já fizeram Ricky pergunta para Francisco Antonio Helfenstein Fonseca*: What is the best anticoagulant for patients with mechanical heart valves: Wafarin or Novel Anti-Coagulants (NOACS)? Echoes from ESC Congress 2013 show that Dabigratan has failed in preventing ischemic attack, systemic embolism, MI or death among patients with mechanical valves. Warfarin remains the better choice for these patients. We believe Dabigratan only works on thrombin activity while Warfarin is also effective via factor IX. If this hypothesis is correct it will also be valid for other Xa inhibitors such as Rivaroxaban or Apixaban. * é vice-presidente da SOCESP reclamação, recurso ou notificação contra algum plano de saúde 53% concordam que os planos de saúde colocam restrições e obstáculos ao trabalho dos médicos 67% têm a percepção de que os planos dificultam a realização de exames de maior custo Só para relembrar… ACLS = Advanced Cardiovascular Life Support CPR = Cardiovascular Pulmonary Rescue BLS = Basic Life Support PALS = Pediatric Advanced Life Support Espero que aproveitem mais esta coluna e, caso tenham sugestões ou comentários, eles serão muito bem-vindos. That’s all folks! Ricky S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 15 férias Viaje com os filhos sem dor de cabeça As férias do final do ano estão chegando. É um momento de encontrar atividades para ocupar as crianças durante o recesso escolar. Se você ainda não definiu o que fará, o SOCESP em Destaque apresenta algumas opções. Trazemos dicas de como aproveitar as importantes capitais europeias Londres, Paris e Amsterdã em um roteiro que contempla os desejos infantis. Confira. LONDRES A cidade da família real inglesa está repleta de 16 S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 atrações destinadas ao público infantil. O cartão postal de Londres, o enorme relógio Big Ben, chama a atenção de todos que passam à frente da torre da Casa do Parlamento britânico. Um famoso ponto turístico que também agrada o público mirim é a “London Eye”, roda-gigante bastante disputada em todas as épocas do ano. Dela, pode-se ter uma vista de toda a cidade a 135 metros de altura. O museu de brinquedos, o “Childhood Museum”, deixa qualquer pequeno encantado. Lá, os visitantes encontrarão objetos e artefatos produzidos desde Londres 1600 até os dias atuais. Contudo, o passeio que mais costuma divertir a todos é a ida noturna ao Museu de História Natural. A garotada acampa e dorme no local para, na madrugada, conhecer a vasta coleção de espécies do mundo natural reunidas ao longo de 400 anos. No dia seguinte, é servido um café da manhã antes de o estabelecimento abrir as portas para o público. Amsterdã PARIS Eleita uma das cidades mais românticas do mundo, Paris também proporciona diversão e aventura para público juvenil. Para as famílias amantes da natureza e ar livre, a capital francesa é a escolha certa. O Jardin du Luxembourg tem vista maravilhosa, sendo considerado um dos lugares mais charmosos da cidade. Além de possuir o lindo lago e plantas exuberantes, conta com ótimo parquinho e um tradicional teatro de marionetes. Já os mais aventureiros vão gostar de subir os 318 metros da Torre Eiffel. A arquitetura impressiona tanto crianças quanto adultos. Os destinos mais procurados pelos turistas mirins são o Parc de la Villette, por conta da Cidade das Crianças, a Cidade da Ciência e da Indústria. A criançada pode brincar o dia todo com atividades e jogos temáticos sobre tecnologia, meio ambiente, curiosidades, física e química. Assim como Londres, Paris tem uma roda gigante para os turistas aventureiros. Aliás, a cidade das luzes tem a maior roda-gigante transportável do mundo, conhecida como Roue de Paris. As famílias poderão ver os sonhos da garotada se transformando em realidade na Euro Disney. O parque contém brinquedos radicais, carros alegóricos, belíssimos restaurantes e, é claro, os personagens da Disney. AMSTERDÃ Amsterdã tem fama de cidade perfeita para os adultos. Mas há várias atrações e pontos turísticos destinados às crianças. Quem curte a natureza vai adorar passar um dia no Amstelpark. O parque não fica tão próximo do centro, mas vale visitá-lo pela beleza. Pode-se fazer piquenique, jogar golfe, conhecer a fazendinha e passear entre os animais. Além disso, os mais agitados não vão nem sentir o tempo passar enquanto brincam no playground, na tirolesa e no trenzinho. Outro parque bastante Paris visitado é o Vondel Park. Para quem gosta de entrar em contato com os animais, o zoológico Artis é outro destino interessante. O museu de ciências NEMO é ótimo para os curiosos, que adoram descobrir e aprender. Chama muito a atenção por conta da arquitetura em formato de navio. Um dos mais famosos pontos turísticos de Amsterdã é o museu Van Gogh. A visita inclui uma passada na área infantil da loja do museu. S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 17 surpreenda-se A SOCESP e o cidadão João Fernando Monteiro Ferreira Tivemos há cerca de um mês mais uma edição do Dia Mundial do Coração. Em todo o Brasil, cardiologistas saíram às ruas para oferecer aos cidadãos informações sobre a saúde cardiovascular, os riscos e a importância da prevenção. No estado de São Paulo, ações da SOCESP ecoaram de norte a sul, de leste a oeste. Nossas regionais organizaram uma espécie de mutirão, indo onde o povo está. Foi uma elogiável demonstração de cidadania. As doenças do coração precisam ser combatidas com o remédio adequado: a informação. Hoje, são as que mais matam em todo o planeta. São mais de 17 milhões de óbitos ao ano, boa parte porque não tivemos, em passado não muito distante, a capacidade de mostrar ao coletivo a relevância dos bons hábitos. Importante é que agora o estamos fazendo. Indo à população para falar sobre alimentação saudável, a necessidade de se exercitar, os riscos do fumo, do álcool e assim por diante, galgamos a prevenção ao primeiro plano. Isso certamente se refletirá positivamente nos próximos anos, recompensando-nos com um Brasil mais saudável e de coração forte. Por tudo isso, presto aqui minha homenagem às regionais da SOCESP, à sua diretoria e aos voluntários que fizeram do 29 de setembro um dos mais importantes Dia Mundial do Coração de todos os tempos. Histórias que inventei para minhas netas (mas que servem para todos os netos e netas) Às vésperas do Dia da Criança, o cardiologista Fernando Nobre lançou seu primeiro livro infantil, Histórias Que Inventei Para Minhas Netas (mas que servem para todos os netos e netas), pela Editora Manole, selo Amarilys. A história apresenta quatro contos: "O gato que era amigo do rato", "O peixe que queria voar e o pássaro que queria nadar", "Os pássaros coloridos e a pombinha branca" e "A bruxa boazinha". Cheia de fantasias bem-humoradas, lições de vida, de convivência e de valores éticos e morais, a obra traz tudo contado com aquele jeitinho de avô, para ser passado adiante por muitos avôs e avós. “O livro é o resul- 18 S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 tado de um exercício dos mais gratificantes. Netos são figuras sem comparação e foi do maravilhoso convívio com minhas netas que essas histórias nasceram e eu as escrevi. A escritora Rachel de Queiroz disse que ‘netos são filhos com açúcar’, e é para essas doces criaturas que esse livro foi escrito. Acho que netos e netas gostarão dessas histórias e ficarão felizes com elas. E se isso acontecer, ficarei mais feliz ainda!", destaca o autor. Fernando Nobre é avô de Maria Helena e de Luiza, que adoram a hora de ir dormir ao som das suas histórias. Cardiologista com especialização em Hipertensão Arterial, tem 24 livros publicados na área de conhecimentos afeitos à cardiologia (incluindo o Tratado de Cardiologia SOCESP, que venceu o Prêmio Jabuti, em 2006, como Melhor Livro de Ciências da Saúde), mais de 170 artigos científicos em revistas médicas nacionais e internacionais, tendo contribuído com a produção de 70 capítulos em livros de medicina publicados no Brasil e no exterior. em NOVEMBRO 12 Aorta: atualização no diagnóstico e tratamento Regional Campinas 19 Diabetes melitus tipo 2 - o que o cardiologista deve saber Regional Piracicaba 21 Aspectos atuais do diagnóstico e tratamento do choque cardiogênico Regional Botucatu 22 Cardiologia do Esporte, Avaliação Pré Participação e Prevenção de Morte Súbita e Atestados Médicos Regional Bauru 23 Arritmias Supraventriculares Regional Araraquara 23 Simpósio pulmão/coração Regional Franca 23 Cardiologia e esporte Regional Vale do Paraíba 27 Atualização em hipertensão arterial Regional Santos 28 PCR Simpósio de emergência Regional Presidente Prudente 30 Diabetes mellitus e doença cardiovascular Regional ABCDM / Departamento de Nutrição DEZEMBRO 4 Grupo de estudos de Nutrição em Cardiologia Departamento de Nutrição 7 Jornada de Psicologia Departamento de Psicologia Outras informações sobre os eventos, ligue (11) 3179-0044 agenda PROGRAME-SE destaque DIRETORIA DA SOCESP BIÊNIO 2012/2013 PRESIDENTE Carlos Costa Magalhães VICE-PRESIDENTE Francisco Antonio Helfenstein Fonseca PRIMEIRO-SECRETÁRIO Rui Manuel dos Santos Povoa SEGUNDO-SECRETÁRIO José Carlos Aidar Ayoub PRIMEIRO-TESOUREIRO Rui Fernando Ramos SEGUNDO-TESOUREIRO Celso Biagi DIRETORA CIENTÍFICA Fernanda Marciano Consolim Colombo DIRETOR DE PUBLICAÇÕES João Fernando Monteiro Ferreira DIRETOR DE REGIONAIS José Luiz Aziz DIRETOR DE PROMOÇÃO E PESQUISA Andrei C. Sposito DIRETOR DE INFORMÁTICA João Manoel Rossi Neto DIRETOR DE QUALIDADE ASSISTENCIAL Silas dos Santos Galvão Filho DIRETOR DO CENTRO DE EMERGÊNCIAS Agnaldo Pispico COORDENADORES DE PESQUISA José Luiz Ferreira dos Santos José Francisco Kerr Saraiva Ricardo Pavanello COORDENADOR DE EVENTOS Alberto Francisco Piccolotto Naccarato COORDENADOR DE POLÍTICAS DE SAÚDE Henry Abensur CONSELHO FISCAL – Luiz Freitag, Bruno Mahler Mioto, Ibraim Masciarelli Pinto, Edson Stefanini EDITORES – Ângela Teresa Bacelar, Beatriz Matsubara, Edson Stefanini, Moacir F. Godoy, João Carlos Hueb, Luiz Francisco Cardoso SOCESP em Destaque é editado bimestralmente pela Diretoria de Publicações da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, Avenida Paulista, 2.073 – Horsa I, 15 o andar, cj. 1.512, CEP 01311-300, São Paulo, SP. Telefone: 11 3179-0044 DIREÇÃO DE ARTE – Giselle de Aguiar Pires IMPRESSÃO – Hawaii Gráfica SOCESP NA INTERNET: www.socesp.org.br E-mail: [email protected] S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 19 perguntas e respostas Como prevenir endocardite infecciosa e infecção de loja no implante de marca-passo definitivo e CDIs? Roberto Costa Diretor da Unidade Cirúrgica de Estimulação Elétrica e Marca-Passo Instituto do Coração (InCor-HCFMUSP) 20 Processos infecciosos em dispositivos antiarrítmicos implantados são pouco frequentes: a estimativa de ocorrência deste tipo de infecção é de 1,9/1000 dispositivos/ano, sendo de 1,37/1000 para infecções de loja e de 1,14/1000 para endocardite (Arch Intern Med 2007;167:669–675). Um estudo epidemiológico realizado nos Estados Unidos, entretanto, mostra que a taxa de crescimento do número de infecções é maior do que a de implantes iniciais (J Am Coll Cardiol 2006;48:590–591). A cura da infecção passa, obrigatoriamente, pela remoção completa do dispositivo contaminado e pelo uso de antibióticos específicos, com hospitalização prolongada e custo elevado (Eur J Cardio-Thorac Surg 2010;37:875-887). A ocorrência de infecção no dispositivo dobra a chance de morte de um indivíduo com esse tipo de aparelho implantado (J Am Coll Cardiol 2006;48:590–591). Quando o tratamento é bem-sucedido, contudo, a taxa de recidiva da infecção é muito baixa. A gênese da infecção de loja e da endocardite, na maioria dos casos, está fortemente associada a procedimentos médicos e pode, portanto, ser evitada. A aglomeração de bactérias de uma ou mais espécies sobre a superfície dos dispositivos implantados leva à formação de uma matriz extracelular, o biofilme, que torna esses microrganismos mais resistentes à ação dos antibióticos. Essa barreira à ação dos antimicrobianos torna muito reduzida a chance de cura quando o dispositivo não é removido. A recomendação da American Heart Association para o tratamento de infecções de loja e de endocardites, em diretriz publicada em 2010, é a remoção de todo o sistema de estimulação (Circulation 2010;121:458-477). A contaminação, durante o implante ou outros procedimentos cirúrgicos para manutenção ou correção de problemas em dispositivos implantáveis, é a principal causa de infecções de loja. Segundo um estudo multicêntrico francês, a taxa ocorrência de infecção 12 meses após estes procedimentos é de 0,56% para implantes iniciais e de 0,99% para reintervenções (Circulation 2007;116:1349-1355). A formação de hematomas, a não utilização de antibiótico profilático e reoperações precoces aumentam significativamente o risco de infecção de loja (Circulation 2007; 116: 1349-55, Circ Arrhythm Electrophysiol. 2009;2:29–34). A segunda causa mais frequente de infecção de loja é decorrente de complicações mecânicas após troca de geradores. A falta de cuidado no preparo da antiga loja do gerador de pulsos, antes do implante do novo dispositivo, pode causar isquemia de pele, seguida por necrose, exteriorização e contaminação do dispositivo. A infecção de loja causada por contaminação hematogênica ou por traumatismos externos é raramente reportada. O tratamento inadequado de uma infecção de loja, pela falta de remoção completa do sistema de estimulação contaminado, é a principal causa de endocardite em portadores de dispositi- S O C E S P E M D E S T A Q U E – SET/OUT 2013 vos. A contaminação hematogênica, entretanto, representa importante causa de endocardite, por isso, pacientes com abscessos, úlceras crônica de pele ou processos infecciosos de repetição merecem cuidados especiais. Da mesma forma, qualquer procedimento cirúrgico a que o paciente seja submetido pode ser a porta de entrada para a contaminação dos cabos-eletrodos e, portanto, deve-se recomendar a antibioticoterapia profilática. O percentual de indivíduos imunodeprimidos é significativo dentre os acometidos por endocardite em dispositivos. A utilização de cateteres percutâneos para hemodiálise, quimioterapia, tratamento de dor crônica ou para infusão de fármacos inotrópicos ou vasoativos tem sido cada vez mais frequente na população portadora de dispositivos cardíacos implantáveis, devido ao número crescente de indivíduos com disfunção ventricular, estado clínico deteriorado e comorbidades associadas submetidos a procedimentos em estimulação cardíaca artificial. Desse modo, a problemática desses cateteres representarem uma porta de entrada para a contaminação hematogênica de cabos-eletrodos tem crescido substancialmente em importância. No mesmo sentido, a punção venosa para implante desses cateteres, em regiões contíguas a lojas de marcapasso ou de desfibrilador implantável, com contaminação direta do dispositivo, tem sido observada frequentemente. A indicação da estimulação epicárdica para os implantes iniciais em pacientes que estão em programa de hemodiálise tem sido motivo de discussão. A prevenção da infecção de loja e da endocardite em pacientes com dispositivos implantáveis passa obrigatoriamente, portanto, pela compreensão dos enfermos e dos profissionais de saúde que os atendem, do risco de contaminação do sistema de estimulação. Procedimentos para implante ou troca de dispositivos devem seguir padrões rigorosos de antissepsia, devendo ser realizados em ambiente apropriado e por médicos capacitados. Antibioticoterapia profilática deve ser usada rotineiramente, a hemostasia deve ser rigorosa e reoperações precoces devem ser evitadas. No mesmo sentido, procedimentos como hemodiálise, acessos venosos para infusão de líquidos, tratamentos cirúrgicos e, principalmente, pacientes com infecções crônicas, merecem cuidados especiais para evitar a contaminação hematogênica. Infecções de loja devem ser tratadas de imediato, com remoção de todo o material implantado, coleta de culturas e instituição de antibioticoterapia específica, sendo obrigatória a pesquisa de endocardite nesses pacientes. Quando esta estiver presente, o tempo de tratamento antibiótico deve ser estendido. Durante o tratamento da infecção, caso o paciente seja dependente de estimulação cardíaca artificial, deve ser mantido marca-passo temporário. O novo dispositivo, permanente, só deve ser implantado após o desaparecimento de todos os sinais clínicos e laboratoriais de infecção.