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A GAZETA - 1B
CUIABÁ, 15 DE MAIO DE 2013
FALTA DE REMÉDIOS
Pessoas com doenças graves não encontram, há 4 meses, os medicamentos
na Farmácia de Alto Custo. Servidores confirmam crise na unidade
Pacientes crônicos em risco
GLÁUCIO NOGUEIRA
DA REDAÇÃO
P
acientes com câncer,
Mal de parkinson,
diabetes e problemas
renais, entre outras
doenças graves, não encontram
medicamento na Farmácia de Alto
Custo da Secretaria de Estado de
Saúde (SES/MT). Para evitar
reclamações no local, funcionários
têm ligado para estas pessoas
informando da falta do remédio.
Segundo servidores, os problemas
teriam se agravado há 4 meses
porque o secretário de Saúde, Mauri
Rodrigues de Lima, não tem
assinado as ordens de compra dos
remédios.
Na Farmácia de Alto Custo, o
clima entre pacientes e familiares é
de angústia. Caso do serralheiro
Joacil Silva, 48, que esteve no local
para conseguir insulina para a irmã,
diagnosticada com diabetes há 2
anos. “Já não sei mais o que fazer,
porque toda vez que venho para ver
se chegou o medicamento, me falam
que ainda não. Ela precisa tomar
uma injeção por dia. O que
conseguimos comprar é tão pouco
que chega a ficar 4, 5 dias sem para
render mais”.
Na sede do Cermac, onde funciona a Farmácia
Silva admite que vai até o local
de Alto Custo, poucas pessoas comparecem, já
onde os medicamentos são
que não encontram o medicamento procurado
dispensados apenas para tentar.
Portaria - Os relatos da população e dos
“Eles têm um serviço que agenda a retirada do
servidores são confirmados pela presidente da
medicamento. Quando chega perto da data, nos ligam
Associação dos Pacientes Renais e Transplantados do
para avisar e assim ela não fica sem. Mas dessa vez
Estado de Mato Grosso, Luzia de Pinheiro Canavarro.
ligaram para dizer que não tem o remédio. Venho para
“Essa é uma realidade para todos os pacientes do
ver se chegou alguma coisa e eles esqueceram de
Estado. No nosso caso, acompanhamos aqueles que
avisar”.
têm problemas renais e a situação é crítica, sem
Mãe de um paciente renal, uma servidora pública
nenhuma possibilidade de melhora caso não haja uma
do Estado, que prefere não ser identificada, também
mudança de postura”.
faz uso do serviço. Ao todo, ela retira 3 tipos de
Membro do Conselho Estadual de Saúde (CES),
medicamentos, mas há 1 ano não sabe o que é
ressalta que a questão é tema recorrente das reuniões,
conseguir adquirir todos. “Sempre falta um, ou 2, mas
que incluem o secretário
nunca mais consegui os 3. O jeito é comprar, se virar,
de Saúde. “Na última vez
fazer rifa, pegar empréstimo. Sem remédio meu
ele disse que por
menino não fica”.
Luzia de Pinheiro
enquanto não iria
Celestino Gomes Pereira, que realiza tratamento
Canavarro afirma que
comprar nenhum
contra câncer no pulmão, conta que já voltou para
pacientes renais sofrem
medicamento que consta
casa sem o remédio Sorafenibe 200mg. O
constantemente
na Portaria 172”.
medicamento é utilizado para auxiliar as sessões de
com o problema
Intrigada com o
quimioterapia. A caixa, que contém 60 comprimidos,
problema, foi buscar
custa R$ 5,7 mil e tem duração de apenas 15 dias, já
explicações com o setor responsável pelas aquisições.
que ele precisa ingerir 4 cápsulas por dia. ‘Iniciei o
“O que nos disseram é que os laboratórios não vão
tratamento aqui em Cuiabá, em fevereiro. A guia para
entregar porque ainda não receberam”.
retirada da segunda dose do remédio tinha data de 11
Luzia ressalta que a Portaria 172, editada pela
de março. Ao chegar na farmácia, os funcionários
SES, regulamenta a compra de medicamentos que não
comunicaram a falta do medicamento e disseram que
são ofertados nos âmbitos federal, estadual e
sequer há previsão para chegada do novo
municipal. O documento garante a aquisição dos
carregamento‘.
remédios destes pacientes, evitando a demora
Os problemas enfrentados pelos pacientes têm
causada nas ações judiciais. “Como já se
revoltado os servidores responsáveis pelo
sabe que haverá o pedido de liminar e o
atendimento. Um deles abordou a reportagem, que
deferimento, isso acaba, em tese,
esteve no local nesta terça-feira (14), e fez um
facilitando a entrega do remédio para quem
desabafo. “Estamos cansados de ver estas pessoas
precisa”.
chegarem aqui e não encontrarem o remédio. Ao
or meio de nota, a SES informa que
No entanto, segundo ela, isso não tem
mesmo tempo, vemos que a Secretaria pouco ou nada
a maioria das aquisições de
ocorrido com nenhum paciente crônico ou
tem feito para resolver a situação. Problemas pontuais
medicamentos priorizam a abertura de
grave. No caso dos pacientes renais, cita o
acontecem em todos os lugares, mas aqui está
processos de Pregão para Registro de
Cloridrato de Cinacalcet, recomendado
crônico”.
Preços. Para tanto, utilizou-se como critério
para pacientes em fase terminal ou que
Outro servidor garantiu que há pelo menos 4
a formação de 3 grandes grupos de
fazem a hemodiálise, processo de filtragem
meses nenhuma ordem de compra é assinado por
medicamentos, originando-se 14 processos
artificial do sangue, que substituiu a função
Rodrigues, o que ocasionou um desabastecimento
para aquisição de ‘Medicamentos de Alto
dos rins. O medicamento ajuda a impedir a
total dos remédios de alto custo na farmácia. “Falam
Custo‘, ‘Medicamentos da Portaria 172‘ e
descalcificação dos ossos, problema
que estão fazendo uma licitação, um pregão, mas até
‘Medicamentos oriundos de Demanda
comum em pacientes renais de longa data.
agora nada foi definido. Ignoram até demandas
Judicial‘
Este cálcio, ingressa na corrente
judiciais. Não sei se falta dinheiro, mas remédio eu
Tais processos encontram-se tramitando,
sanguínea e pode obstruir ou “petrificar”
posso assegurar que falta”.
de modo que não havendo nenhum
artérias, levando muitos à morte. “O
O funcionário público garante que esta é a pior
questionamento de ordem técnica e/ou
Estado compra por 6 meses este remédio e
crise enfrentada pela farmácia nos últimos anos.
judicial, em breve todos os medicamentos
fica 6 meses sem comprar. Como o
“Hoje mesmo vi dispensarem 4 pessoas que
referenciados em tais grupos estarão
tratamento é evolutivo, mesmo quem
precisavam de insulina, sem previsão para o retorno”.
licitados e serão adquiridos de maneira
toma, com a interrupção, fica do jeito de
Acredita que o caso apenas não ganhou a repercussão
imediata, de acordo com a necessidade e
quem não tomou”. A saída seria uma
adequada por conta da dispensa de grande parte dos
respeitando o processamento legal.
cirurgia, que é um procedimento
pacientes pelo telefone. “Quando eles chegam aqui e
A SES afirma que, caso seja necessário,
complicado, ou o fim da locomoção destes
notam que não tem nada, se juntam, chamam a
poderá deflagrar um processo para
pacientes. “Ficam tão debilitados que não
imprensa, fazem escândalo. Agora, de casa, ninguém
aquisição de medicamentos em regime de
conseguem sequer andar”.
vai fazer isso”.
goutro lado
P
urgência e emergência, o que muito embora
não será regra na atual administração, se
justificaria com base na necessidade da
população.
Deve ser salientado que os processos de
aquisições de medicamentos não são
concluídos da maneira célere como se
necessita, pois por se tratarem de
medicamentos de alto custo, não estão
disponibilizados no mercado local,
dependendo, via de conseqüência, da
participação de laboratórios e empresas
com sedes noutras unidades da federação
nos certames licitatórios,
independentemente da modalidade.
Por fim, afirma que “sendo sabedor das
necessidades da população, o atual
secretário de Estado de Saúde em nenhum
momento se furtou de sua obrigação, de
modo que vem adotando todas as medidas
cabíveis para a solucionar o problema de
maneira imediata”.