V Curso de Ventilação Mecânica II Curso de Sono Novotel Jaraguá - São Paulo/SP 22 a 24 de março de 2012 Diagnóstico diferencial da sonolência diurna excessiva Stella Marcia A. Tavares Coordenadora do Laboratório de Sono da Neurofisiologia Clínica do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP Responsável pelo Setor de Polissonografia da Neurofisiologia Clínica do Hospital Israelita Albert Einstein Definiçã Definição ção de sonolê sonolência • Sonolência: estado fisiológico ou não que promove o sono, o qual é revertido ou satisfeito ao se obter um sono adequado - Função biológica normal: no período de sono habitual - Sonolência “anormal”: fora do período de sono habitual FATORES DETERMINANTES DE SE 1. Quantidade de sono 2. Qualidade de sono 3. Faixa etária 4. Ritmo circadiano 5. Medicações/Drogas 6. Patologias (Roehrs et al, 2000) 1. QUANTIDADE DE SONO • intensidade da SE: diretamente relacionada à quantidade de sono noturno • privação parcial ou total de sono em indivíduos normais: sonolência diurna, avaliada objetivamente pelo teste das múltiplas latências • restrições leves (1h/noite) levam a aumento progressivo de sonolência diurna ⇒ reversão se há aumento do tempo de sono noturno Privaçã Privação ção voluntá voluntária de sono é a causa mais comum de SE. 2. QUALIDADE DE SONO sonolê sonolência diurna també também está está associada com qualidade e continuidade de sono noturno 2. QUALIDADE DE SONO • vários fatores podem causar despertares breves (microdespertares) que necessariamente não encurtam o período de sono mas levam a um sono fragmentado o qual pode causar SE • transtornos respiratórios durante o sono • atividade motora anormal como bruxismo, transtorno de movimentos periódicos dos membros durante o sono •diferentes medicamentos •despertares espontâneos nas insônias e em outras condições médicas como dor aguda, dor crônica, doenças sistêmicas e fatores ambientais como luz, calor, ruído, ronco do cônjuge 3. Faixa etá etária • quando se avalia um paciente com queixa de SE, é essencial considerar a faixa etária pois os padrões de sono se alteram com a idade recém-nascido, lactente, criança, adolescente, adulto jovem, idoso 3. Faixa etá etária adolescentes: - apresentam alterações físicas, hormonais e psicológicas, assim como do sono noturno e do alerta diurno • diminuição do alerta e presença de sonolência diurna • manifestação de transtornos como narcolepsia, hipersônia idiopática, Síndrome de Kleine-Levin na segunda década 3. Faixa etá etária • indiví indivíduos idosos: - apresentam modificações dos padrões de sono como: • aumento de latência de sono, despertares durante a noite, cochilos diurnos • fragmentação do respiratórios/motores sono noturno por transtornos 4. Ritmo circadiano • ciclo vigília-sono apresenta padrão bifásico no adulto, com dois períodos de tendência para o sono: um a noite e outro menor no período da tarde 5. Medicaçõ Medicações/Drogas ções/Drogas Vários agentes podem causar SE: • benzodiazepínicos, barbitúricos • antihistamínicos H1 • antidepressivos • neurolépticos • anticonvulsivantes • agonistas dopaminérgicos (pramipexole) • beta bloqueadores • álcool: agente com efeito sedativo mais comumente utilizado • drogas abuso: maconha 6. Patologias • SE pode ser decorrente de: • transtornos comportamentais/psicofisiológicos • transtornos clínicos gerais • transtornos psiquiátricos • transtornos neurológicos • transtornos primários do sono Transtornos comportamentais/psicofisioló ógicos comportamentais/psicofisiol - higiene de sono inadequada: hábitos incompatíveis com um esquema sono-vigília saudável - síndrome do sono insuficiente: duração de sono mais curta que a esperada para a faixa etária - hipersônia psicofisiológica: reativa a um estresse (conhecido como “fuga”) Transtornos clí clínicos gerais diferentes doenças médicas podem estar associadas com fragmentação do sono e SE: - insuficiência cardíaca - câncer - doenças endócrinas: hipotireoidismo, acromegalia - insuficiência hepática - insuficiência renal - insuficiência respiratória - anemia grave Transtornos psiquiá psiquiátricos • fatores psiquiátricos, tais como depressão, devem sempre ser considerados na investigação da SE • maior parte dos pacientes com depressão apresenta queixas de insônia, porém alguns podem apresentar SE • apesar de depressão ter sido sempre considerada uma causa importante de SE, a demonstração de SE real ou propensão de sono importante nestes pacientes é menos comum que a queixa de fadiga ou de falta de energia Transtornos neuroló neurológicos • SE pode estar associada a doenças de sistema nervoso central • processos tóxicos e metabólicos • doenças estruturais em tálamo, hipotálamo, tronco cerebral • SE também é relatada após encefalites ou trauma craniano • pacientes epilépticos podem queixar-se de SE • sono fragmentado e SE são comuns em doenças neurodegenerativas, incluindo Parkinson, Alzheimer Transtornos primá primários do sono - transtornos respiratórios do sono - transtorno dos movimentos periódicos dos membros - narcolepsia - hipersônia idiopática - hipersônia recorrente - transtornos do ciclo circadiano TRANSTORNO DOS MOVIMENTOS PERIÓ PERIÓDICOS DOS MEMBROS • também conhecido como “mioclonias noturnas”, movimentos periódicos das pernas, movimentos periódicos do sono • movimentos repetitivos e estereotipados que acometem principalmente MMII TRANSTORNO DOS MOVIMENTOS PERIÓ PERIÓDICOS DOS MEMBROS • movimentos duram de 0,5-10 segundos, ocorrendo em intervalos de 5-90 segundos • dorso-flexão do pé, com extensão dos artelhos, flexão parcial do joelho e por vezes do quadril TRANSTORNO DOS MOVIMENTOS PERIÓ PERIÓDICOS DOS MEMBROS • queixa de insônia (sono fragmentado e/ou não reparador) e/ou de sonolência diurna • insônia inicial quando associado com síndrome das pernas inquietas • uso de antidepressivos pode desencadear ou agravar o quadro • diagnóstico de exclusão TRANSTORNO DOS MOVIMENTOS PERIÓ PERIÓDICOS DOS MEMBROS •diagnóstico polissonográfico: registro de atividade do músculo tibial anterior • índice leve: 15-25/hora • índice moderado: 25-50/hora • acentuado: > 50/hora ou índice despertares >25/hora NARCOLEPSIA • transtorno neurodegenerativo crônico, de etiologia autoimune – genética – ambiental, caracterizado por • sonolência excessiva • cataplexia • alucinações hipnagógicas • paralisia do sono • sono noturno fragmentado NARCOLEPSIA • Sonolência excessiva • ataques de sono ou sonolência mais constante • cochilos podem ser reparadores e com sonhos • geralmente é o primeiro sintoma de narcolepsia e está presente em 100% dos casos • início mais comum na segunda década de vida • persiste por toda a vida NARCOLEPSIA • Cataplexia • episódios de perda súbita do tônus muscular de um ou mais grupos da musculatura voluntária (exceto músculos respiratórios e oculares) sempre desencadeados por emoções (raiva, susto, riso, etc) • curta duração, com alerta preservado • cerca de 70% dos casos • patognomônico de narcolepsia • pode ser muito incapacitante NARCOLEPSIA • Alucinações hipnagógicas • experiências de percepções muito vívidas, principalmente visuais, que ocorrem na transição vigília-sono • geralmente apavorantes • 20-40% dos casos • quando ocorrem no despertar: alucinações hipnopômpicas • em indivíduos normais pós privação de sono ou em esquemas irregulares de sono NARCOLEPSIA • Paralisia do sono • episódios de incapacidade transitória para se mover, ocorrendo na transição vigília-sono ou sono-vigília • 20-50% dos casos de narcolepsia • 5% da população geral, história familiar • pós-privação de sono, uso de álcool, sono irregular NARCOLEPSIA Prevalência do antígeno HLA DQB-1 • População geral = 8 a 28% • Narcolepsia sem cataplexia = 30 a 60% • Narcolepsia com cataplexia = 88-98% Tipagem HLA: útil em casos de SE + suspeita cataplexia NARCOLEPSIA Dosagem de Hipocretina-1 no LCR Níveis anormais < 110 pg/mL • Narcolepsia + cataplexia: Hcr-I no CSF < 110 = 90-95%* • Narcolepsia sem cataplexia: Hcr-I no CSF < 110 = 10 a 33% * Sensibilidade = 87% * Especificidade = 99% NARCOLEPSIA • diagnóstico • história clínica (cataplexia) • Polissonografia e Teste das Latências Múltiplas de Sono SONO REM PRECOCE NARCOLEPSIA Avaliaçã Avaliação ção Neurofisioló Neurofisiológica 1. Polissonografia • Latência de sono REM, eficiência sono, micro-despertares • Movimentos de membros, sono REM sem atonia • Pausas respiratórias 2. Teste das latências múltiplas do sono • Latência média nos cinco registros < 8 minutos • Dois ou mais registros com sono REM = diagnóstico Diagnó Diagnóstico de Narcolepsia com e sem Cataplexia 1. SE + cataplexia = diagnóstico definitivo 2. SE sem cataplexia: avaliação neurofisiológica 3. Se o TLMS for positivo = diagnóstico de narcolepsia 4. Se o TLMS for negativo: repetir PSG /TLMS em quanto tempo ? Diagnó Diagnóstico de Narcolepsia com e sem Cataplexia 5. Se o segundo TLMS for negativo: realizar HLA 6. Se o HLA for positivo: realizar hipocretina no LCR 7. Hipocretina LCR < 110 = Narcolepsia 8. Hipocretina LCR > 110 = não é Narcolepsia 9. Repertir LCR em quanto tempo ? HIPERSÔ HIPERSÔNIA IDIOPÁ IDIOPÁTICA • queixa persistente de SE, presumivelmente decorrente de um distúrbio do SNC • sono noturno geralmente longo (> 8 horas) • cochilos diurnos prolongados (1-2 horas), não reparadores • início mais comum na segunda década de vida • PSG e TLMS: sinais de hipersonolência, sem o registro de sono REM precoce HIPERSÔ HIPERSÔNIA RECORRENTE Síndrome de KleineKleine-Levin • episódios de SE com duração de dias a semanas, ocorrendo em intervalos de meses a anos • fase sintomática caracteriza-se por períodos prolongados de sono (18-20 horas) • hiperfagia (forma clássica), sintomas psiquiátricos (depressão, ansiedade, hiper/hipossexualidade, alucinações) • início geralmente na segunda/terceira década de vida CAUSAS DE SE Patologias Primárias Induzida Privação de sono Álcool Hipnóticos Medicamentos Fatores ambientais SAOS Narcolepsia Hipersônia Idiopática Hipersônia recorrente Movi/os periódicos Secundárias Neurológica Psiquiátrica Infecciosa Metabólica Endócrina Pós-traumática ATENÇÃO COM DORMIDOR LONGO INVESTIGAÇÃ INVESTIGAÇÃO ÇÃO DA SE História de sono detalhada História clínica e psiquátrica Exames complementares Polissonografia Teste Múltiplo Das Latências Do Sono POLISSONOGRAMA Pacientes com sonolência excessiva deveriam ser SEMPRE submetidos à polissonografia, exceto se sonolência for claramente secundária a privação de sono ou a uso de medicamento. TESTE MÚLTIPLO DAS LATÊNCIAS DO SONO • consiste de 4-5 registros poligráficos durante o dia, realizados em intervalos de 2 horas, geralmente após um polissonograma noturno • avalia: 1) rapidez para dormir em uma situação soporífera 2) aparecimento de sono REM precoce (essencial para o diagnóstico de narcolepsia) TESTE MÚLTIPLO DAS LATÊNCIAS DO SONO suspender medicações com ação no sistema nervoso central (por ex., antidepressivos, ansiolíticos, hipnóticos, estimulantes, uso crônico de álcool) aguardar pelo menos 14 dias sem qualquer medicação para a realização do TMLS