Trabalho-Victor-Turner

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Universidade Federal de Pelotas
Bacharelado de Antropologia
Disciplina Antropologia Rural
Vida e Obra de Victor Turner
Cátia Simone Castro Gabriel da Silva
Profa. Dra. Renata Menasche
2011
Vida e obra de Victor Turner
Como explica Adam Kuper (1978, pág. 128), na década de 1930 a política
colonial britânica na África começou a mudar, foi decidido desenvolver as colônias
econômicas e administrativamente, mas as mudanças tiveram efeito nos antropólogos
que receberam incentivos financeiros para desenvolver pesquisas nesse continente.
A Antropologia britânica começou a desenvolver-se a partir das bolsas
financiadas aos antropólogos pelo instituto, International of African Language oud
Cultures, que foi fundado em 1926 com o apóio de antropólogos, missionários,
funcionários coloniais; tais incentivos fizeram do instituto uma verdadeira força para a
Antropologia britânica durante a década de 1930.
Houve um enorme desenvolvimento intelectual, devido as verbas para as
pesquisas, e publicações de monografias e simpósios resultantes dos trabalhos de
campo, fazendo do Instituto a mais importante editora antropológica do mundo.
A sociedade africana estava coesa com a chegada da civilização européia e o
maior problema que a administração colonial percebeu foi que a cultura do lugar
poderia se perder, e então o Instituto declarou que as pesquisas deveriam ser dirigidas
para o entendimento dos fatores de coesão social, como esses fatores estavam sendo
afetados pelas novas influências, quais as formas de cooperação entre as sociedades
africanas e a civilização ocidental (KUPER. 1978, pág. 128).
Os fundos destinados à pesquisa eram para todas as colônias, as maiores
parcelas foram destinadas as pesquisas nas áreas da agricultura, veterinária e sivicultura
(35%), e as pesquisas médicas (16%) e as pesquisas sociais e econômicas receberam
apenas (9%). Logo após a 2ª. Guerra foi fundado o Colonial Social Science Research
Council (C.S.S.R.C.), e os antropólogos constituiam o principal grupo de cientistas
sociais trabalhando em campo africano e assim fundos de incentivo foram colocado e
houve uma expansão da Antropologia britânica nessa época.
Entre os vários antropólogos britânicos que estavam trabalhando nas colônias
africanas temos Victor Turner, filho de um engenheiro e uma atriz, nasceu em 1920 na
Escócia e faleceu nos Estados Unidos aos 63 anos de um ataque cardíaco, no dia 19 de
dezembro de 1983.
Victor Turner casou-se em 1943 com Edith Davis, com quem teve filhos e em
1949 gradua-se em Antropologia na U.L. tendo estudado com Leach, Radcliffe-Brow,
Forde e Firth. Possuia interesse em estudar o movimento hippie, as peregrinações, os
heróis nacionais, os franciscanos, o mundo religioso e o seu profundo interesse pelo
caminho da santificação, analisados através dos ritos e dos símbolos.
Como escocês Victor Turner, enfrentou obstáculos para conseguir visto de
trabalho quando aceitou a oferta da Universidade de Cornell, transferindo-se de
Manchester, Inglaterra para Ithaca, Estado de Nova York, nos Estados Unidos.
Entre os anos de 1951 até 1954, Turner fez pesquisa de campo junto ao povo
Ndembu, localizados no noroeste da Zâmbia, no centro sul da África observando o
sistema ritual desse povo juntou seus ensaios na Floresta de Símbolos, através dos
quais delineou um novo modo de lidar com os rituais e com os símbolos.
Após seus estudos com o povo Ndembu, Turner retorna para os Estados
Unidos e nos anos 60 do século passado, o autor viveu os períodos mais significativos
para a sociedade e a cultura americana, foi uma década histórica para os americanos, no
entanto Victor não residiu toda a década naquele país, mas intercalou, entre uma vida
dura de pesquisas etnológicas e ensino universitário, e viagens rotineiras entre o Rio e
Niterói e jornadas que levaram-no ao sertão paraense e goiano do médio rio Tocantins,
para visitar as aldeias dos índios Gaviões e Apinayé e, a partir de agosto de 1963 ao
riquíssimo ambiente material e intelectual do então Departamento de Relações Sociais
da Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos.
Nos períodos entre 1964 e 1967, suportou o endurecimento do clima político
nacional brasileiro, vivendo em aldeias indígenas isoladas, quase como um renunciante
do mundo, após voltou a Harvard como candidato a doutorado em 1967, e ali viveu
ininteruptamente até 1970. Nesta instituição obteve seu doutoramento em antropologia
na década de 1973.
Em 1969 o autor publica The Ritual Process: structure and anti-structure, onde
desenvolveu as noções de liminaridade e communitas a última sendo baseada na
liminaridade de Van Gennep, pois como explica Turner (2005, pág. 137), o “período
liminar” que Arnold Gennep caracterizou como ritos de passagem, definidos como
“ritos que acompanham qualquer mudança de lugar, estado, posição social ou idade”.
Gennep mostrou que todos os ritos de transição vêm marcados por três fases: separação,
margem (ou limen) e agregação.
Das três fases a separação compreende o afastamento do indivíduo ou do
grupo, de um ponto fixo na estrutura social ou de um estado. Na margem ou limiar é o
estado (passageiro) ambíguo que tem poucos atributos do estado passado ou futuro. Já a
agregação é a passagem consumada.
Turner completa dizendo que se o modelo da nossa sociedade é de uma
“estrutura de posições”, devemos encarar o período de margem ou “liminaridade” como
uma situação interestrutural.
Comenta ainda que os ritos de passagem existem em todas as sociedades e tais
ritos designam transições entre estados, um “estado” é “uma condição relativamente
fixa ou estável”. O termo “estado” também pode aplicar-se, as condições ecológicas, ou
a condição física, mental ou emocional em que uma pessoa ou grupo se encontra num
determinado momento.
Supondo-se falar também “estado de transição”, onde remete a um estado de
abertura e ambiguidade, é uma fase intermediária que difere da fase anterior e também
da posterior, ao mesmo tempo que identifica-se parcialmente com ambas, a liminaridade
favorece o modo de relação social que Turner denomina communitas, que é uma
manifestação da anti-estrutura, pois contrapõe ao modo de relacionar-se estruturado e
hierárquico de uma sociedade. Para Da Matta, communitas é um “estado social no qual
as pessoas podiam dissolver seus papéis oficiais para gozarem de uma trégua da
realidade e da seriedade mortal da vida.”, (2005, pág. 18).
Também em 1969, Da Matta conhece Victor Turner e através de alguns
encontros poderam solidificar o elo de amor pela antropologia do símbolos e no caso de
Da Matta dos rituais nacionais. De fevereiro a março de 1979, Victor e sua esposa Edie
visitaram o Brasil, quando foram hóspedes de Da Matta, além de inúmeros encontros
formais e informais que já haviam ocorrido em Ithaca, Nova York e Rio de Janeiro entre
outros, incentivaram a amizade dos dois.
Da Matta, diz que tanto Douglas, quanto Turner possuem um fascínio pelo
sagrado e como católicos dividem junto com outros intelectuais esse fascínio pelo poder
das encruzilhadas, dos valores em conflito onde, “as florestas de símbolos, as mitologias
e os carnavais nos ajudam na travessia” (2005, pág. 28).
Turner foi criador de uma antropologia do drama e do ritual, o qual propunha
um programa de análise no qual a vida ritual deveria ser vista como um mecanismo
privilegiado de valores negativos e ou reprimidos que eles trazem a tona, através de
objetos especiais e gestos bizarro, um conjunto de “símbolos” interligados, verdadeiros
caminhos ou sendas, que vistos em conjunto parecia uma floresta cuja exploração
transformava.
Victor foi um estudioso obcecado pelas formas rituais, por aquilo que a
sociedade se via obrigada
a produzir, como testemunhamos nos nossos desfiles
carnavalescos, fica sempre aquém ou além dos entrechos, valores e personagens a serem
dramatizados.
Outro elemento importante é a noção de que os símbolos fazem coisas, e com
isso transformam situações, estados e pessoas. Turner, foi obrigado a descobrir o papel
dos símbolos, quando foi estudar os conflitos endêmicos da sociedade Ndembu, sem
dispensar a questão de um centro pelo qual passavam os atos rituais.
Para Turner o “símbolo é a unidade última de estrutura específica em um
contexto ritual.” (2005, pág. 49). Sendo encarado pelo consenso geral como tipificando,
representando ou lembrando algo através de qualidades análogas ou por pensamentos.
Os símbolos que o autor observava em campo eram, empiricamente, objetos, atividades,
relações, eventos, festas e unidades espaciais em uma situação ritual e os símbolos não
compreendidos não tinham lugar na pesquisa, pois eles precisam indicar algo para os
atores, caso não indique, tornam-se irrelevantes. (TURNER. 2005, pág. 56)
Os seus trabalhos são fortemente influenciado pelo estrutural-funcionalismo
britânico do período, mas aparecem neles uma forte tendência a uma ruptura da
perspectiva estrutural passando a uma abordagem simbólico-interpretativa nas
sociedades por ele estudadas. Sendo esta a sua contribuição para a Antropologia, onde
os símbolos são uma forma de interpretação cultural de uma sociedade.
Tuner explica que cada ritual tem sua própria teologia, tem seus objetivos
explicitamente formulados, e os símbolos instrumentais podem ser encarados como
meio de atingir esses propósitos (2005, pág. 63).
Os ritos de passagem acompanham as crises de vida culturalmente definidas,
seja num grupo preparando-se para a guerra, como para festejar por uma passagem de
escassez ou de colheita. E os ritos não só dizem respeito de mudança de status, mas
também dizem da entrada num status recém-alcançado. Onde o sujeito submetido ao
ritual de passagem fica, no decorrer do período liminar, estruturalmente, ou mesmo
“invisível”.
Alguns tipos de rituais o que por exemplo o autor chama de uma crise de vida,
é um ponto importante no desenvolvimento físico ou social do indivíduo, como o
nascimento, a puberdade ou a morte. Nas sociedades mais simples do mundo, também
em muitas “civilizadas” existe uma série de cerimônias ou rituais destinados a marcar a
transição de uma fase da vida ou do status social para outra.
Estas cerimônias de crises de vida não dizem respeito apenas ao indivíduo,
mas também marcam mudanças nas relações de todas as pessoas ligadas a ele por laços
de sangue, casamento, dinheiro, controle político e outras.
“Qualquer que seja a sociedade na qual vivemos, estamos
ligados uns aos outros, e nossos “grandes momentos” são
“grandes momentos” para os outros também” (TURNER.
2005, pág. 29).
O autor deu dois exemplos de cerimônias: a cerimônia de nascimento, tanto
os meninos quanto as meninas passam por cerimônias de iniciação, a forma e o
propósito das cerimônias diferem enormemente em cada caso.
E a cerimônia funerária, onde o autor percebeu que a quantidade de “pompa e
circunstância” de um funeral depende da riqueza e importância do morto, neste
momento, um novo padrão de relações sociais deve ser estabelecido: onde alguém deve
ser responsável por suas dívidas, o destino da viúva e dos herdeiros...
Nos rituais de aflição, tema principal da vida religiosa Ndembu, onde
associaram má sorte na caça, problemas reprodutivos femininos e várias formas de
doença aos espíritos dos mortos. Inclusive quando é diagnosticado que uma pessoa foi
“apanhado” por tal espírito, se tornará objeto de um elaborado ritual.
Os cultos de caça, à caça é uma atribuição masculina e por isso a conexão com
a iniciação dos meninos durante a qual, valores básicos da sociedade Ndembu são
ensinados, através de graus sucessivos de iniciação no culto das sombras de caçadores,
permitindo ao caçador “ver rapidamentee os animais”, “atraí-los para onde ele está” e
“se tornar invisível para eles” (TURNER. 2005, Pág. 41).
E os cultos de fertilidade das mulheres, o autor cita que foi a muitos rituais
ligados a problemas reprodutivos das mulheres e ouviu falar sobre muitos mais. É
possível que a predominância atual de tais problemas esteja associada, por um lado, à
escassez e baixos valores protéico de alguns alimentos.
Já nos cultos curativos, os africanos curandeiros imitam os europeus dançando
em casais, usando roupas européias, e servindo comida européia aos pacientes.
Referências bibliográficas:
DA MATTA, Roberto. Apresentação liminar à obra e à graça de Victor Turner
e à sua Antropologia da Ambiguidade. In: TURNER, Victor. Floresta de símbolos:
aspectos do ritual Ndembu. Niterói: Ed. UFF, 2005.
KUPER,
Adam.
Antropologia
e
colonialismo.
In:
Antropólogos
e
Antropologia. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978.
TURNER, Victor. Introdução. In: Floresta de símbolos: aspectos do ritual
Ndembu. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense. 2005. p. 29 – 46.
TURNER, Victor. Os símbolos no ritual Ndembu. In: Floresta de símbolos.
Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense. 2005. p. 49 – 82.
TURNER, Victor. Aspectos do ritual Ndembu. In: Floresta de símbolos.
Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense. 2005. p. 137 – 158.
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