O medo do fracasso e a efemeridade do sucesso POR ANNA JULIA DO VALLE COSTA Em uma sociedade imediatista e exigente, somada a todas as incertezas oriundas das expectativas sobre as ações humanas, torna-se difícil encontrar pessoas as quais encarem os obstáculos da vida como uma maneira de mudar, de melhorar, de fazer diferente. A sensação de impotência diante de condições sociais impostas, fez com que sentimento de frustração se manifestasse estaticamente: a depressão tornou-se, claramente, o mal do século XXI, nota-se, claramente, o despreparo do ser humano para lidar com seu descontentamento: inundado por realizações efêmeras, o mesmo deixa de agir pelo simples medo de fracassar. Enquanto antigamente o fracasso era fruto de um investimento excessivo na segurança em detrimento do prazer, atualmente, o que prevalece é justamente o oposto: descarta-se a segurança e busca-se experiências cada vez mais intensas. Porém, infelizmente, observa-se que tal frustração ainda se mantém e que tal sucesso tão almejado anteriormente não fora atingido. A meu ver, isso ocorre, pois exige-se, hoje, uma extrema maleabilidade adaptativa das pessoas a um mundo instável, denominado pelo sociólogo Zigmunt Bauman de “modernidade líquida”. Dessa forma, o medo da incompetência e incapacidade incide sobre as expectativas dos indivíduos, deixando as pessoas frágeis e vulneráveis de modo que as mesmas sentem-se incapazes de dar conta das novas exigências sociais. Estas, atingem a sociedade ao passo que a maioria das pessoas acabam por atribuir ao sucesso ideais relacionados a estabilidade econômica elevada. Contudo, é triste notar que, ao buscarem seu próprio êxito, as pessoas tornam-se superficiais ou, até mesmo, acabam permanecendo alheias a realidade ao seu entorno. Mesmo aquelas as quais aparentam ter chegado no auge de seu sucesso, acabam tornando-se vítimas da efemeridade deste. Como exemplo disso, o fundador do programa “Minecraft”, após vender seu jogo à empresa Microsoft por 2,5 bilhões de dólares vem enfrentando, como afirmado pelo mesmo, “o lado vazio do sucesso”. Acredito que o sentimento de isolamento criado a partir do ciclo vicioso ao qual se associa o sucesso – ou até a felicidade –, faz com que a satisfação pessoal a qual tanto se almeja, continue sempre ausente. O fato é: o ser humano não está preparado para lidar com o fracasso. Vive-se uma época em que ser uma pessoa de sucesso é quase que uma obrigação – pessoas fracassadas são vistas, na maioria das vezes, como seres infelizes. Muitos estão fazendo força demais para demonstrar seu sucesso aos outros e sofrendo por dentro, pois ao sucumbirem por pressões externas e atenderem às expectativas alheias, deixam de ouvir aos seus próprios anseios. Além disso, ao serem acometidos por tal sentimento de “vazio” após pequenas frustrações internas, os mesmos recorrem às regalias que oferecem uma sensação de contentamento. Contudo, enquanto tais recompensas não forem adiadas, é notório que o fracasso continuará sendo uma atribuição inerente a nossa sociedade. Diante disso, acredito que caso o ser humano se prenda à ideia de que sempre há possibilidade de fracassar, este irá ausentar-se de diversas oportunidades. As pessoas nunca estarão livres de frustrações diárias, mas não podem deixar de agir por conta de receios e elevadas expectativas sobre suas ações. Faz-se necessário, portanto, perceber que o verdadeiro sucesso está em não se entregar ao fracasso, compreender que frustrações são o ponto de partida para conquistas e que é preciso perseverar – muito - diante de adversidades. Expectativas não doem, mas alcançá-las, sim. Como diria o célebre poeta Fernando Pessoa: “Quem quer passar além do bojador, tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu.”