EVASÃO, REPETÊNCIA E FRACASSO NA ESCOLA: INCLUSÃO E O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL Refletir sobre o papel da Orientação Educacional, frente às questões que levam ao fracasso escolar, demanda analisar as diferentes teorias produzidas através dos tempos e as suas conseqüências no processo de ensino-aprendizagem do aluno. Contudo, mesmo sabendo que hoje a abordagem do trabalho no intuito de minimizar as questões de fracasso escolar, repetência e evasão, tem como foco central os aspectos políticos, estruturais e funcionais do sistema de ensino, há no interior da escola, uma “mistura” de práticas e teorias educativas que ora culpabilizam a escola e o professor, ora responsabilizam o aluno e sua família. Para além do jogo de “empurra-empurra”, cabe à Orientação Educacional, assim como aos demais professores, garantir ao aluno possibilidade de permanência na escola, com aprendizado significativo. Para tanto, examinemos, pois, as diversas abordagens teóricas a respeito do assunto e, a seguir, a contribuição do Orientador Educacional. 8.1 Teorias sobre a questão do fracasso escolar Grinspun (2006) descreve brevemente teorias produzidas por pesquisadores, ao longo da história da educação do século XX, que tentam explicar a origem do fracasso dos alunos na escola e contextualizar o trabalho do Orientador Educacional. Vejamos algumas dessas pesquisas: A teoria psicológica tenta explicar as diferenças individuais por meio da mensuração de aptidões intelectuais, utilizando questionários de interesses e os famosos testes de coeficiente de inteligência (Q.I.), que tentavam provar que havia pessoas mais inteligentes e capazes de aprender que outras. A função da Orientação Educacional era terapêutica, cuidando individualmente do educando a fim de ajustá-lo à escola e à sociedade, segundo suas aptidões naturais. O que valia em termos de desenvolvimento e aprendizagem era o padrão de normalidade utilizado na psicologia e na saúde. O que fugia ou interferia no que era conhecido como “normal”, era utilizado para explicar o fracasso escolar. Dessa forma, se o aluno tivesse mau rendimento, seria única e exclusivamente por sua incapacidade. Com a Teoria da Privação Cultural predominante nos anos 1960 e 1970, os alunos passaram a ser tratados como crianças que tinham uma deficiência, uma defasagem de cultura, por isso, não conseguiam acompanhar os estudos. Cabia à escola e, por sua vez, aos Orientadores Educacionais, a responsabilidade de se adequar a esse aluno das classes mais desfavorecidas, comparando suas carências, (saúde, emocional, aprendizagem etc.). Aos poucos, percebeu-se que nenhuma classe social possui uma cultura mais pobre que outra. As culturas são igualmente estruturadas e coerentes, porém, diferentes. Como a escola transmite os conteúdos culturais familiares à classe dominante, a criança, quando se depara com essa cultura, não reconhece e tem dificuldade para incorporá-la, sofrendo uma marginalização cultural. Aqui, o papel do Orientador Educacional é o de resgatar a cultura dos alunos trabalhando a partir da realidade e dos valores destes. O enfoque do trabalho não é mais o individual e terapêutico. O trabalho é realizado com o grupo de alunos, e a função do Orientador Educacional é ajudá-los a sentirem-se partícipes do seu contexto escolar e educacional, independente das diferenças culturais existentes na escola. A pesquisa sobre as causas do fracasso escolar, afirma Grinspun (2006), intensificou-se a partir de 1971 com as teorias crítico-reprodutivas de Bourdieu, Passeron, Althusser, Establet e Baudelot. Tais teorias chamavam a atenção para o papel da escola como reprodutora das relações de poder e dominação cultural existentes na sociedade. Ao constatar a não neutralidade ideológica da escola, abriram-se caminhos para se pensar a não-neutralidade da atuação dos professores e dos demais membros da escola. Surgiram pesquisas apontando para os fatores intra-escolares e sua relação com a exclusão social. Alguns autores perceberam, na escola, um local de confrontação de forças progressistas e conservadoras, em que educação e política se articulam, podendo contribuir para problematizar a realidade, discuti-la e ultrapassá-la. O Orientador Educacional deve estar comprometido com essa reflexão, evidenciando, sempre que necessário, práticas discriminatórias com o objetivo de superar o fracasso escolar. Como relata Grinspun (2006, p. 84), a questão do fracasso é um problema de concepção de estrutura que tem sido tratado tanto pelos setores que ditam as políticas públicas, como pelos acadêmicos e pelos profissionais da escola, de forma fragmentada, com dificuldade de operacionalizar ações e sem efetivo envolvimento de todos. O número de crianças encaminhadas com “queixa da escola” de algum tipo de “anormalidade” tem aumentado a cada dia, mas, muitas das vezes, estas necessitam apenas de uma metodologia diferenciada, capaz de proporcionarlhes uma aprendizagem eficaz. Sabedor desses condicionantes, o papel do Orientador Educacional pode ser o de discutir sobre o fracasso escolar com o coletivo da escola, contribuindo para: • investigar práticas educativas adequadas ao aluno real; • discutir os mecanismos que a escola tem para superar questões como evasão e repetência, garantindo a permanência do aluno na escola; • procurar garantir o encaminhamento dos alunos que necessitam de atendimento especifico. A seguir, abordaremos cada um desses aspectos separadamente, mas antes... Pense e responda: A escola sempre aceitou todos os alunos? O que os teóricos dizem sobre o fracasso escolar?