Por que é importante dizer não para uma criança? Giuliana Temple1 As crianças precisam aprender, desde muito pequenas, qual é o limite do seu universo, o espaço têm para se manifestar, conhecer o mundo e o outro. O "não" serve como uma espécie de barreira, que ajuda a criança a construir, inclusive, a noção do seu próprio limite. Crianças que não ouvem o "não" são crianças sem limites, sem delimitação de si mesmas e acabam se espalhando no mundo. Na infância, essa ausência de limites é até tolerada, mas na adolescência e vida adulta, uma pessoa sem limites, que invade o espaço dos demais, é considerada inadequada, chata, e consequentemente, terá dificuldades de convivência. Atualmente os pais vivem uma série de dificuldades cotidianas e para não ouvir choros e gritos, muitas vezes, concordam e cedem. Essa atitude pode prejudicar os filhos. A criança precisa aprender qual é o seu limite no mundo e, para isso, precisa aprender também a se frustrar. Nem sempre a criança lida bem com o "não" e com a frustração de não ter seus desejos atendidos, mas esse exercício na infância permite o surgimento de uma pessoa mais tolerante. Muitas vezes, na tentativa de acertar e não deixar a criança "passando vontades", os pais acabam cedendo e fazendo as vontades dos filhos, mas com isso eles aprendem que se insistirem um pouco mais com os pais terão o que querem. Ouvir o choro de uma criança insatisfeita não é agradável, mas aprender a acolher o filho em suas frustrações é um exercício de carinho e amor que os pais precisam fazer. Com isso se aproximarão afetivamente mais de seus filhos, criando laços de amor e confiança. A permissividade dos pais muitas vezes pode ser uma forma de compensar outras coisas como por exemplo o tempo passado longe dos filhos, a falta ou a dificuldade de expressar afeto, os sentimentos de culpa por não sentirem bons o suficiente , etc. Mas o que muitos pais não sabem é que dar limites para os filhos dizendo o "não", fortalece a relação. Crianças que têm "limites" são crianças mais tranquilas, mais seguras e confiam mais em seus educadores. 1 Psicóloga clínica no Espaço Multi Vida, especialista em Psicologia e Educação, mestre em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano pela USP. Professora universitária nas Disciplinas Desenvolvimento Humano, Psicologia Escolar e Educacional. (contato pelo email:[email protected]) Os filhos não querem que seus pais sejam legais como seus amigos, eles querem pais nos quais possam confiar suas dúvidas, angústias e incertezas. Por isso o melhor caminho para o equilíbrio nas relações é sempre o do diálogo. Conversar, conversar e conversar! Entender o que e por que os filhos querem determinadas coisas, saber qual é o momento de "delimitar" ou o momento de ceder. Opiniões e ideias rígidas não contribuem para a educação, apenas criam distância e medo. Muitas vezes os pais voltam atrás numa decisão ou em um "não" e isto não necessariamente é prejudicial. Pode ser uma forma de rever posições e ensinar os filhos a serem mais tolerantes e compreensivos, ouvindo a opinião e as vontades do outro. O que é prejudicial para as crianças é não ter uma diretriz clara da sua educação; mudanças bruscas de decisão e um ou dos dois pais confundem as crianças, deixando-as inseguras e indecisas. Finalmente, precisamos nos questionar de qual criança de fato estamos falando! Será que a dificuldade dos pais de dizer "não" para seu filho não é na verdade, uma dificuldade de dizer "não" para a criança que ele foi? Será que ao realizar os desejos dos filhos, os pais não estão de fato, realizando seus próprios desejos? Para encerrar, gostaria que refletíssemos na dificuldade que nós adultos temos de dizer "não" para nós mesmos, o quanto somos permissivos conosco e cruéis com os outros. Só pode dizer "não" para uma criança, um adulto que sabe lidar com suas próprias frustrações.