XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 PROGRESSÃO CONTINUADA: REFLEXÕES NECESSÁRIAS APÓS UMA DÉCADA DE IMPLANTAÇÃO Sérgio Eduardo Gomes da Silva – [email protected] Programa de Pós-Graduação em Educação FCT – UNESP/ Presidente Prudente RESUMO O processo de democratização da escola pública ocorrido nos últimos anos permitiu uma grande expansão nas oportunidades de acesso ao ensino. Esta expansão trouxe consigo o desafio de garantir a qualidade de maneira a atender este novo público que passou a frequentar os bancos escolares. Neste sentido, a implantação da Progressão Continuada surge como política pública que visa atender os anseios de um novo tipo de aluno que passou a fazer parte da escola pública. Desta maneira, o presente trabalho resulta de parte de nossa pesquisa de mestrado intitulada “Progressão Continuada: perspectivas docentes sobre a melhoria da qualidade do ensino após uma década de implantação”, que tem como objetivo compreender as perspectivas docentes sobre a melhoria da qualidade do ensino no sistema no qual estão inseridos. Como metodologia realizaremos uma pesquisa bibliográfica sobre o tema a ser estudado, o levantamento de dados do município de Presidente Prudente para compreensão do cenário político local e a entrevista com professores das escolas selecionadas, seguindo o IDEB como índice para escolha das escolas, sendo duas escolas com o maior, duas de nível intermediário e duas escolas com o menor. Para analisar os dados, utilizaremos a análise de conteúdo. Nesse trabalho apresentamos como resultados parciais, os elementos históricos para a contextualização do nosso objeto de pesquisa e o levantamento de dados realizados junto aos Programas de Pós-Graduação de Universidades Públicas do Estado de São Paulo, no qual percebemos que a temática tem sido abordada nos programas, porém ainda não foram exploradas as perspectivas dos docentes após uma década, sendo este tempo considerado como razoável para retomar as discussões sobre uma política pública. Palavras-chave: Perspectivas docentes; Qualidade do Ensino; Progressão Continuada Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.004050 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 1. INTRODUÇÃO Este trabalho refere-se ao Projeto de Pesquisa de Mestrado em andamento intitulado “Progressão Continuada: perspectivas docentes sobre a melhoria da qualidade do ensino após uma década de implantação”, vinculado à linha de pesquisa Políticas Públicas, Organização Escolar e Formação de Professores do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Campus de Presidente Prudente. O projeto de pesquisa surgiu a partir da necessidade de compreender como as políticas públicas educacionais interferem no cotidiano escolar a fim de perceber quais mudanças ocorrem nas perspectivas dos professores do município de Presidente Prudente – SP após uma década de implantação da Progressão Continuada como forma de organização das escolas no Estado de São Paulo e na maioria das Redes Municipais através do processo de Municipalização do Ensino. A hipótese deste trabalho é que devido as alterações provocadas pelas medidas que instituíram a Progressão Continuada, estas geraram uma perspectiva no professor sobre o sistema no qual está inserido que pode interferir em seu exercício na sala de aula, tanto no aspecto positivo, efetivando práticas que viabilizam a melhoria da qualidade do ensino, quanto no aspecto negativo, agregando pouco valor a sua prática e consequentemente não contribuindo para melhorar esta qualidade conforme destacam Viégas e Souza (2006) e Jefrey (2006) referindo-se ao período de implantação. Considerando que o processo de democratização do acesso ao ensino ocorrido nos últimos anos permitiu que a escola pública obtivesse um avanço quantitativo por meio da ampliação de vagas de modo que “a escola pública para poucos, no passado, cedeu lugar para muitos no presente”. (LEITE e DI GIORGI, 2004. p. 136) No entanto, de acordo com Beisiegel (2006) esta ampliação das redes escolares no Brasil não veio acompanhada de investimentos mínimos necessários, ocorrendo mediante a improvisação de prédios escolares, salas de aulas, horários de atendimento e funcionamento e até mesmo o improviso de professores. A escola do passado possuía alunos pertencentes à elite brasileira e que tinham um contato muito amplo com o universo cultural historicamente construído em seu ambiente familiar, porém hoje, esta se destina a atender principalmente crianças vindas Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.004051 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 das camadas populares excluídas de uma vivência cultural significativa que lhes oferecessem melhores oportunidades de inserção na vida social. Beisiegel (2006) ao tratar da questão da qualidade do ensino na escola pública destaca a necessidade desta adequar o currículo e sua forma de organização a fim de atender o tipo de aluno que possui em seu interior ao afirmar que: [...] há algumas décadas, quando a escola secundária ministrava cursos de latim para crianças que tinham entre seus objetivos ingressar na escola superior (em escolas de direito, entre outras), aí então esses conteúdos da escola secundária estavam adequados às necessidades de sua clientela. Já não ocorreria o mesmo hoje se o latim fosse transmitido numa escola que se transformou em parte da formação geral de todos os cidadãos. (BEISIEGEL, 2006, p. 112-13). Partindo desta premissa de ampliação das oportunidades escolares às camadas menos favorecidas no Brasil, percebe-se um imenso desafio colocado para a escola atual que é a de melhorar a qualidade do ensino, uma vez que em termos quantitativos já fora alcançado mediante o acesso. Com o despontar do mundo contemporâneo e suas mudanças nas esferas educacionais, política, econômica e social, a escola não pode mais oferecer um ensino pautado em princípios burocratizantes, mas deve estar preparada para atender os desafios desta nova sociedade, uma vez que compete a ela lidar com a formação daqueles que dela fazem parte, assegurando-lhes a oportunidade de atuarem como sujeitos críticos na sociedade na qual estão inseridos. Objetivando melhorar a qualidade do ensino oferecido no interior da escola, fazse necessário que esta seja uma instituição educativa em amplos os sentidos, não se restringindo apenas as funções pedagógicas, englobando também questões de aspectos políticos e sociais. Deste modo, o ensino sistemático dos saberes historicamente acumulados pela sociedade deve vir acompanhado de um ensino que permita aos alunos sua atuação como cidadãos. Neste sentido concordamos com Di Giorgi, Leite e Rodrigues (2005) quando afirmam que: Uma escola pública preocupada em realizar uma verdadeira inclusão social deve educar a todos com qualidade, propiciando-lhes uma consciência cidadã que assegure as condições de enfrentamento aos desafios do mundo contemporâneo. Da mesma forma, será preciso reavaliar as práticas existentes e essencialmente recriá-las. Temos, portanto, além de uma nova clientela, a necessidade de assumirmos novas características organizacionais e pedagógicas frente às atuais demandas oriundas do processo de desenvolvimento econômico, científico e tecnológico. (DI GIORGI, LEITE, RODRIGUES. 2005. p. 33) Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.004052 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 Sendo assim, entendemos que são vários e complexos os papéis outorgados à escola pública nos dias atuais, porém muito há de se fazer para que o ensino seja considerado de fato de qualidade, uma vez que as atuais conjunturas social, política, histórica e econômica impõem a necessidade de repensar as práticas no interior da escola, a fim de atender as demandas do mundo contemporâneo. É no âmbito das novas reformas educacionais vivenciadas no Brasil e da inserção das camadas populares na escola que a Progressão Continuada surge como forma de implementar uma nova maneira de organização da escola para além do regime seriado, tendo em vista o novo alunado que a frequenta. Ao buscarmos as origens da Progressão Continuada, retornaremos ao século passado, momento em que os altos índices de reprovação e evasão preocupavam educadores e políticos daquela época. Durante os anos 1960 o Estado de São Paulo propôs algumas iniciativas a fim de criar condições para a implantação da Progressão Continuada, porém sua concretização começa de fato no começo dos anos 1970, década esta marcada pela organização da classe trabalhadora a nível nacional, através dos órgãos representativos como sindicatos e associações, meios pelos quais se buscava retomar sua identidade cidadã, aproveitando o momento em que o Estado Brasileiro estava desmoralizado pelo período de repressão que vivera. Estes momentos de grande participação popular abriram precedentes para que na década de 1980 um novo período democrático se instalasse no país, contexto este em que nasce a nova Constituição Federal em 1988, ampliando o debate sobre o papel político da educação no país tendo em vista a necessidade de garantir uma educação para todos com qualidade social. A crise que ocorreu em meio ao período de redemocratização do país também atingiu a escola fazendo com que esta repensasse seu papel na sociedade que começava a adotar um discurso de cunho neoliberal conforme destaca Gadotti (1994): A crise paradigmática também atinge a escola e ela se pergunta sobre si mesma, sobre seu papel como instituição numa sociedade pósmoderna e pós-industrial, caracterizada pela globalização da economia e das comunicações, pelo pluralismo político, pela emergência do poder local. Nessa sociedade cresce a reivindicação pela autonomia contra toda forma de uniformização e o desejo de afirmação da singularidade de cada região, de cada língua etc. (GADOTTI, 1994, p. 33) Segundo Saviani (1988) a formulação de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) neste contexto de crise surgiria com a finalidade de Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.004053 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 determinar os fins da educação indicando os caminhos que devem ser seguidos e apontando os meios pelos quais será possível garantir a qualidade social na educação. Dentro deste contexto de amplas discussões, visando a democratização do país e o fortalecimento da autonomia da escola surge a nova LDB aprovada em 1996 com respaldo na recente aprovada Constituição Federal de 1988. Segundo Saviani (1997) esta nova Lei da Educação redefiniu os papéis da União, Distrito Federal, Estados e Municípios, onde os municípios no âmbito educacional incumbir-se-ão de oferecer a Educação Infantil nas creches e pré-escolas e atuar prioritariamente na oferta do Ensino Fundamental como podemos observar na lei 9394/96: Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: (...) V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino. (BRASIL, 1996) Além desta redefinição de papéis, a LDB fez apontamentos de cunho políticopedagógico, abrindo pressupostos para a implantação de uma nova forma de organização da escola para além do regime seriado, conforme o artigo 23 da lei 9394/96: A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o processo de aprendizagem assim o recomendar. (BRASIL, 1996) Ainda em 1996, baseando-se no princípio da descentralização previsto na Constituição de 1988 e nas recentes tramitações no Congresso Nacional, entre elas a tramitação da elaboração da nova LDB, o Estado de São Paulo inicia o processo de municipalização do Ensino através do decreto 40. 673 de 16 de fevereiro de 1996 que institui o Programa de Ação de Parceria Educacional Estado-Município para atendimento ao Ensino Fundamental. Dois anos após a iniciativa do Estado de São Paulo em municipalizar o Ensino Fundamental, tem-se o inicio da implantação do Regime de Progressão Continuada na Rede Estadual por meio da Resolução SE, nº 4, de 15 de janeiro de 1998 em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que no artigo 32, parágrafos 1º e Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.004054 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 2º, possibilitam aos sistemas de ensino a organização do Ensino Fundamental em ciclos com a progressão continuada: §1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em ciclos. § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensinoaprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino (BRASIL, 1996) A referida resolução nº 4 da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE/SP) prevê a organização do ensino fundamental em dois ciclos de quatro anos, sendo o primeiro ciclo compreendido pelas quatro séries iniciais do Ensino Fundamental, terminando na 4ª série e o segundo ciclo compreendido pelas quatro séries finais, terminando, portanto na 8ª série. Cabe ressaltar ainda que em 1998 o Estado administrava a maioria das escolas do Ciclo I (1ª a 4ª séries) do Ensino Fundamental, fator que favoreceu a implantação da Progressão Continuada na maioria dos municípios paulistas, que após municipalizarem suas escolas optaram por seguir o modelo de organização do Estado. Segundo o Conselho Estadual de Educação, a Progressão Continuada visa combater os altos índices de reprovação e evasão da escola pública, “viabilizando a universalização da educação básica, a garantia de acesso e permanência das crianças em idade própria na escola e a melhoria geral da qualidade do ensino.” (VIÉGAS E SOUZA, 2006). Inseridos neste novo sistema de organização, a Indicação CEE 22/97 ao citar o contido na Deliberação CEE 9/97 aponta a necessidade de garantir a progressão dos alunos dentro do ciclo e na passagem de um ciclo para outro, de forma a combater veemente os elevados índices de reprovação: A Deliberação CEE 9/97, recentemente aprovada por este Colegiado, institui o regime de progressão continuada no ensino fundamental, com a possibilidade de ser organizado, no Sistema de Ensino do Estado de São Paulo, em um ou mais ciclos. O regime de progressão continuada pede avaliação continuada também do processo de aprendizagem dos alunos, o qual deve ser objeto de recuperação continuada e paralela, a partir de resultados periódicos parciais e, se necessário, no final de cada período letivo. A escola organizada em mais de um ciclo deve garantir também a progressão continuada na transição de um para outro ciclo. Enfatiza essa Deliberação, à exaustão, a necessidade de avaliações da aprendizagem, do desenvolvimento do aluno, do próprio ensino e avaliações institucionais; a necessidade das atividades de reforço e de recuperação (paralelas e contínuas), de meios alternativos de Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.004055 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 adaptação, reclassificação, avanço, reconhecimento, aproveitamento e aceleração de estudos, de indicadores de desempenho, controle de freqüência dos alunos e dos dispositivos regimentais adequados. Ou seja, todo esforço possível e todos os recursos disponíveis devem ser providos pela escola e pelo sistema para levar o aluno ao aproveitamento das atividades escolares para seu desenvolvimento cognitivo e social e, por conseqüência, ao progresso, o que afasta a concepção de progressão continuada da idéia de promoção automática, sugestiva de menor investimento no ensino, reforço, avaliação, reavaliação. (Indicação CEE 22/97). Uma vez implantada e consolidada como política pública educacional que disciplina a organização das escolas da Rede Estadual de São Paulo e da maioria dos municípios paulistas este projeto se justifica pela necessidade de discutir os conflitos que esta forma organizacional tem gerado na escola, na atuação do professor e como isto incide sobre as perspectivas docentes e o ensino. Segundo Viégas (2002), Viégas e Souza (2006), Jefrey (2006), Romanini (2007) e Arcas (2009) a instituição da Progressão Continuada no Estado de São Paulo não aconteceu de forma democrática, considerando que houve pouca participação dos diversos segmentos da escola nas discussões sobre a proposta, causando certa resistência ao novo sistema. Em continuidade com o pensamento de Viégas e Souza (2006) temos que a perspectiva dos professores sobre a qualidade do ensino começa a sofrer mudanças a partir da implantação do novo sistema gerando a concepção de que na verdade a Progressão Continuada assumiu o caráter de promoção automática, fato que implicaria a perda de valor do saber e do aprender pelos alunos da escola pública. Portanto, após uma década de implantação da Progressão Continuada no Estado de São Paulo levantamos as seguintes indagações: Quais são as perspectivas docentes sobre a melhoria da qualidade do ensino no Regime de Progressão Continuada após uma década de implantação? Estas perspectivas mudaram? A implantação deste Sistema representou/ representa uma perspectiva positiva para a Escola Pública atual? Quais os limites e possibilidades encontradas no Regime de Progressão Continuada para efetivar melhoria na qualidade do ensino? 2. OBJETIVOS A partir da problemática formulada, este projeto de pesquisa tem como objetivo geral investigar as perspectivas dos docentes da escola pública sobre a melhoria da Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.004056 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 qualidade do ensino inserida num contexto de organização escolar baseado no Regime de Progressão Continuada após uma década de implantação. Como objetivos específicos, a pesquisa busca compreender as concepções de qualidade e de progressão continuada presentes no ambiente escolar, buscando identificar as possibilidades e limites apontados pelos professores para efetivar melhoria na qualidade do ensino no seio da Progressão Continuada e como as perspectivas dos docentes estão afetando o ensino, seja no aspecto positivo ou negativo. 3. METODOLOGIA Para atender os objetivos expostos neste projeto, esta pesquisa insere-se numa abordagem qualitativa, tendo em vista que de acordo com Lakatos e Marconi (2010, p. 139) se constitui em: “um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”, buscando além de descrever a realidade interpretála. Sendo assim, concordamos com o apontado por Esteban (2010) sobre a abordagem qualitativa ao afirmar que: [...] é uma atividade sistêmica orientada à compreensão em profundidade de fenômenos educativos e sociais, à transformação de práticas e cenários socioeducativos, à tomada de decisões e também ao descobrimento e desenvolvimento de um corpo organizado de conhecimentos. (ESTEBAN, 2010. p. 127) Inicialmente realizar-se-á uma pesquisa bibliográfica, colocando o pesquisador em contato com diversos referenciais teóricos sobre a temática. Lakatos e Marconi (2010) destacam a importância do levantamento bibliográfico ao afirmar que: [...] ler com espírito crítico significa fazê-lo com reflexão, não admitindo idéias sem analisar ou ponderar, proposições sem discutir, nem raciocínio sem examinar; consiste em emitir juízo de valor, percebendo no texto o bom e o verdadeiro, da mesma forma que o fraco, o medíocre ou o falso. LAKATOS e MARCONI (2010, p. 3) Ainda em conformidade com Lakatos e Marconi (2010): A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de comunicação oral: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas. (LAKATOS e MARCONI, 2010, p. 166) Concomitante com a pesquisa bibliográfica será realizada pesquisa documental, a partir das legislações nas esferas Municipal, Estadual ou Federal que segundo Lakatos e Marconi (2010) “a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.004057 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois.” Por se tratar de pesquisa em Política Pública Educacional, será desenvolvido junto com a pesquisa documental e bibliográfica o levantamento de outros dados referentes aos aspectos educacionais, políticos, culturais e históricos do município de Presidente Prudente em consonância com o contexto em que se insere dentro do Estado de São Paulo, tendo em vista compreender o contexto educacional do município correlacionando-o com o do Estado. O estudo ainda prevê pesquisa de campo que segundo Severino (2007, p. 123) “o objeto/ fonte é abordado em seu meio ambiente próprio. A coleta dos dados é feita nas condições naturais em que os fenômenos ocorrem.” Neste levantamento pretende-se realizar questionários e entrevistas semiestruturadas com os professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino de Presidente Prudente. O critério para escolha das escolas para realização deste estudo será o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), uma vez que se constitui em um índice governamental de avaliação sobre a qualidade do ensino nos estabelecimentos de educação básica. Serão investigadas duas escolas com os melhores índices, duas escolas com os piores índices e duas escolas com índices intermediários. Visando garantir a fidedignidade das entrevistas, estas serão gravadas, transcritas e analisadas a fim de que a subjetividade dos entrevistados seja preservada. Finalmente os resultados obtidos serão submetidos à análise e reflexões teóricas feitas no decorrer de todo o processo investigativo a que se destina esta pesquisa. 4. RESULTADOS PARCIAIS Como a pesquisa encontra-se em andamento, temos alguns resultados parciais provenientes de um levantamento de teses e dissertações nos Programas de Pós Graduação em Educação no período de 2001 a 2011. O levantamento foi feito junto ao banco de dados de Universidades Públicas do Estado de São Paulo, sendo elas a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” campus de Presidente Prudente, Araraquara, Rio Claro e Marília e da Universidade de São Paulo (USP). Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.004058 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 Até o momento, foram encontrados 1483 trabalhos, entre teses e dissertações, destas Instituições Públicas no referido período. Destes, apenas 17 contemplam nossa temática, o que representa um percentual de aproximadamente 1,14%. A maioria dos trabalhos analisaram seus objetos de pesquisa a partir do contexto de implantação do Regime de Progressão Continuada, uma vez que não havia a possibilidade de uma análise em processo, como no caso de uma década, pois de acordo com a data de defesa 10 trabalhos foram defendidos antes que a Progressão Continuada completasse dez anos de implantação. Os outros 7 encontrados, embora tenham sido defendidos após uma década de implantação, iniciaram seus estudos antes do término do referido período. Estudos mais recentes como os de Jefrey (2006), Romanini (2007) e Arcas (2009) e utilizados como referencial teórico deste projeto também não enfocaram o período considerado como cerne de nossa pesquisa. Jefrey (2006) abordou em sua pesquisa as representações de docentes sobre o Regime de Progressão Continuada destacando os dilemas e possibilidades, após sete anos de implantação do Regime e da forte constatação de outras pesquisas acadêmicas que apontaram para a resistência dos professores à proposta. Romanini (2007) analisou em sua pesquisa o papel da avaliação e a influência de mecanismos intra e extra-institucionais no processo de tomada de decisões no interior das unidades escolares sobre a progressão ou não dos alunos no final do 1º Ciclo do Ensino Fundamental, num Regime de Progressão Continuada. Arcas (2009) buscou investigar em sua pesquisa as implicações da Progressão Continuada e do Sistema de Avaliação e Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) na avaliação escolar. Como podemos observar nestes três trabalhos citados e utilizados como referência, apenas Jefrey (2006) voltou seus estudos à perspectiva dos professores ao trabalhar suas representações, enquanto que Romanini (2007) e Arcas (2009) voltaram suas pesquisas para as conseqüências de implantação da Progressão Continuada. Vale enfatizar que o campus da UNESP de Presidente Prudente não possui trabalhos voltados à temática deste projeto de pesquisa, fato este que reafirma a importância e pertinência desta pesquisa sobre esta política educacional que atinge uma parcela considerável da sociedade brasileira, uma vez que, até mesmo as pesquisas encontradas no levantamento de teses e dissertações não enfatizaram o período de dez anos como sendo um período de extrema relevância no contexto educacional. Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.004059 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ARCAS, P. H. 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