AÇAI: PRODUÇÃO E SUSTENTABILIDADE NA REGIÃO NORTE Rafael Vale Padilha 1, Thais Reis2, Maria Suely Margalho do Vale 3 , Ivandi Silva Teixeira4 1 Graduando em Administração da Estácio Faculdade do Pará – Rua Municipalidade, 839 – Reduto, 66050-350 – Belém-Pa – Brasil – [email protected] 2 Graduanda em Publicidade e Propaganda da Estácio Faculdade do Pará – Rua Municipalidade, 839 – Reduto, 66050-350 – Belém-Pa – Brasil – [email protected] 3 Co-Orientadora e Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional - Programa de Pós-graduação em Gestão e Desenvolvimento Regional - PPGDR - Universidade de Taubaté – Rua Visconde do Rio Branco, 210 Centro - 12020-040 – Taubaté/SP – Brasil – [email protected] 4 Orientador e Professor da Estácio Faculdade do Pará, Rua Municipalidade, 839 – Reduto, 66050-350 – Belém-Pa – Brasil – [email protected] Resumo: Este estudo retrata a história da Amazônia por estarem ligados à exploração de suas riquezas naturais, vegetais, animais e minerais e que a partir do século XVII, diversos ciclos econômicos se sucederam, caracterizados pela exploração selvagem de alguns produtos, estando o açaí entre eles. Nesse sentido, este estudo objetiva possibilitar a interpretação e análise dos dados, problemas e atitudes dos produtores do açaí na região norte do país. Assim, esta pesquisa, caracteriza-se como exploratório, descritivo, com abordagem qualitativa a partir de levantamento bibliográfico de estudos do açaí, como um símbolo da cultura nortista e da influência de sua produção na economia paraense, pois esta visão valoriza o desenvolvimento local sustentável como um possível caminho para a melhoria da qualidade de vida das populações e para a conquista de modos de vida mais sustentáveis, principalmente para os que vivem no estuário do rio Amazonas.. Palavras-chave: Região Norte, Economia, Sustentabilidade e Produção de Açaí. Área: Ciências Sociais Aplicadas Introdução A história da Amazônia está ligada à exploração de suas riquezas naturais, vegetais, animais e minerais, sendo que, a partir do século XVII, diversos ciclos econômicos se sucederam, caracterizados pela exploração selvagem de alguns produtos, estando o açaí entre eles. A grande concentração de riqueza em recursos, amplitude e acumulação de biodiversidade tornou a região Norte uma base de interesses e disputas geopolíticas, levados pela sucessão de ciclos, que não levou ao desenvolvimento sustentável da Amazônia. Esses fatores econômicos e com características do desenvolvimento regional foi mudado a partir da década de 70, com a fase socioeconômica da região, para um redesenho do espaço em função do crescimento econômico e populacional, da intensa integração à economia nacional e da diversidade da estrutura produtiva local. Dessa forma, o açaí se destaca entre os diversos recursos vegetais pela sua abundância e por produzir importante alimento para as populações locais, além de ser a principal fonte de matéria-prima para a agroindústria de palmito na Região Norte. Este estudo objetiva possibilitar a interpretação e análise dos dados, problemas e atitudes dos produtores do açaí. Metodologia A pesquisa caracteriza-se como exploratório, com levantamento bibliográfico e descritivo com abordagem qualitativa, a partir de estudos realizado da produção de açaí. Resultado Histórico da Evolução da Economia da Região Norte Com a evolução da economia regional entre 1970 e 1985 o Brasil registrou taxas elevadas de crescimento, e a região Norte também o fez. De acordo com Buarque (1989), a economia brasileira até o ano de 2004, cresceu em torno de 7% ao ano, enquanto a região Norte registrou um dinamismo equivalente a taxas anuais de mais de 11%. Para o autor, essa adesão da economia XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e VI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica Júnior - Universidade do Vale do Paraíba 1 nortista à brasileira apresentou certo deslocamento, pois se desagregada a dinâmica da economia nacional no período de 1970-90 e, se comparado o ritmo da economia regional, a proporção desse crescimento em relação ao nacional aumentou à medida que a economia brasileira foi perdendo velocidade e dinamismo. No período de 1970-75, correspondente a maior expansão da economia brasileira, o Norte cresceu ligeiramente menos que a economia nacional: 9:23% contra 10,21%, respectivamente. Com esses dados, Buarque (1989) esclarece que no qüinqüênio correspondente ao ciclo de desaceleração da economia brasileira (1975-80), a economia regional registrou a mais alta taxa de crescimento de sua história (15,79% ao ano), representando mais de duas vezes a taxa de crescimento da economia nacional. Já na década de 80, correspondente ao período de instabilidade e crise brasileira, quando a taxa de crescimento da economia nacional foi a mais baixa (1,23% ano ), a dinâmica regional também declinou. Para Buarque, no período de 1980 e 1990, a economia da região Norte registrou um crescimento de 5,77%, correspondente a cinco vezes o ritmo da economia brasileira Esse parcial deslocamento da economia regional em relação à nacional decorreu em virtude do efeito retardado de investimentos e de transferência da capital para a região, sobretudo para Carajás, para onde era voltado o mercado internacional. No período de 1980-90, o Estado do Pará (concentração do Complexo de Carajás) apresentou aumento das exportações superior a 13% ao ano, sendo duas vezes acima da média brasileira. Essa dinâmica da economia regional foi estimulada por dois fatores, segundo Buarque (1989): • os investimentos públicos em infraestrutura e na atividade produtiva minero metalúrgica, abrindo a fronteira e criando condições para o escoamento da produção, estabelecendo margens favoráveis de concorrência; • os incentivos fiscais e financeiros, que promoveram os investimentos produtivos privados na região Norte. Com isso, houve um aumento da formação bruta de capital fixo e regional, em especial dos investimentos públicos na região. de famílias, sendo sua entrada maciça e brutal sobre o mercado externo, no início dos anos 1990, prefigurando o desenvolvimento de uma nova produção de renda (Rogez (2000). O açaizeiro é uma palmeira nativa da Amazônia e abundante nas áreas de várzeas, ocupa áreas planas, baixas, de formação sedimentar recente, que margeiam os rios e apresentam extensões de alguns quilômetros de largura. Essas áreas, ao longo do Rio Amazonas e seus afluentes, são distinguidos em várzea alta, várzea baixa e igapó. É considerada uma importante fonte natural de recursos para os nativos. Poullet (1998),considera que o açaí é um dos produtos mais importantes da vida alimentar e cultural da população. Para Rogez (2000), o açaizeiro é a palmeira mais produtiva do ecossistema que abriga a população do delta do Amazonas, podendo fornecer madeira para construções rurais, palha para coberturas, remédios, matéria-prima para artesanato e corante. Mas, é como fonte de alimentos a sua primordial importância. Oferece o palmito e o fruto, de onde é extraído o suco do açaí, também conhecido na Amazônia como vinho de açaí. Seguramente um dos mais populares e tradicionais recursos nutricionais das populações ribeirinhas de grande parte da Amazônia. Mourão (1999), observa que ao longo do tempo e ao redor do mundo muitas atividades humanas estiveram ligadas às palmeiras e Jardim e Cunha (1998), consideram que as palmeiras indicam a presença humana em uma determinada área, em decorrência das práticas agrícolas, de cultivo e de manejo para variados fins. O açaí desempenha este papel para os amazônidas em função das suas multiutilidades. A extração do Palmito na região se iniciou nos anos sessenta. Motivada pela quase extinção dos palmiteiros da Mata Atlântica, o Euterpe Edulis, a indústria de palmito do sul e sudeste do país instalou-se na Floresta Amazônica e passou a consumir Açaí. Uma característica importante para o aproveitamento da palmeira é ser cespitosa (Furia, 1993), ou seja, emite brotações, ou perfilhos, que surgem na base da planta (Nogueira et al, 1995), crescendo em touceiras, ou rebolada (na linguagem cabocla), como mostra a Figura 1. A Produção do Açaí e sua Influência na Economia Local O açaizeiro é uma palmeira que fornece dois produtos alimentares essenciais: o palmito e os frutos, a partir dos quais a bebida açaí é elaborada. Essa bebida se destina principalmente a um mercado local e totalmente informal e constitui a base da renda de dezenas de milhares XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e VI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica Júnior - Universidade do Vale do Paraíba 2 cacho com centenas de frutos com peso médio total de 4 kg (ROGEZ, 2000). Figura 1 - O Açaizeiro (Euterpe Olerácea) Fonte: ROGEZ (2000) Variedades dos Frutos do Açaizeiro Segundo Rogez (2000), comumente são comercializados dois tipos de frutos do açaizeiro: • Preto - Apresenta coloração arroxeada, é o mais comum e, portanto, o mais consumido. É mais resistente ao ataque de pragas como a broca. • Branco - É mais raro, tem coloração verde, mesmo quando maduro. Tem grande procura no mercado e pequena diferença de sabor,se comparado ao açaí preto. Rogez (2000), supõe tratar-se de albinismo, visto que o cultivo da variedade não foi possível pelos produtores, no entanto foram constatadas diferenças botânicas entre elas. • Pesquisadores do Museu Paraense Emilio Goeldi já identificaram outras variedades. Muitas delas, mesmo pouco conhecidas, já estão ameaçadas de extinção. O açaizeiro é muito versátil (Nogueira et al; 1995), pode ser encontrado nos solos úmidos que margeiam cursos naturais de águas correntes, conhecidos na Amazônia como igapós e várzeas, áreas que são constantemente invadidas pelas águas dos rios em diferentes tipos de solos. O açaizeiro sobrevive nos solos pouco aerados, graças às raízes adaptadas.. A palmeira absorve os minerais necessários devido ao número de raízes que processam um grande volume de terra. ROGEZ (2000). Os frutos começam a surgir após o terceiro ano (Figura 3) do açaizeiro. Da base da bainha das folhas crescem as inflorescências (Espádice), que se desenvolvem após a queda da folha, um pouco abaixo da região colunar, na axila das folhas. À medida que os frutos amadurecem a angulação da espádice vai mudando em relação ao tronco (FÚRIA, 1993), e neste estágio a Espádice pode ser denominada de cacho, ou vassoura, na linguagem cabocla, (ROGEZ, 2000). Cada planta produz, em média, de três a oito inflorescências. Cada uma dará origem a um Figura 3 - A) Detalhes da floração e da copa de um açaizeiro Fonte: ROGEZ (2000) A Colheita do Açaí A forma mais utilizada para colher o açaí é escalando o estipe com auxilio de um anel de fibra, envolvendo os pés e removendo o cacho manualmente. Para Rogez (2000), esta é uma tarefa que geralmente é reservada aos homens, na faixa etária entre 12 e 25 anos e peso inferior aos 60 kg. . O processo de escalada é mostrado esquematicamente na Figura 4. É um processo rápido que consiste em prender os pés com uma argola de fibra (peconha), contrapor os pés ao estipe e envolver a palmeira com as mãos. Em seguida, subir com movimentos de flexão e extensão das costas e das pernas até alcançar o cacho para cortá-lo e trazê-lo até o solo, evitando que toque o chão, para reduzir a contaminação e a perda dos frutos que se desprendem. Figura 4 - Detalhes da escalada do estipe na colheita do açaí Fonte: ROGEZ (2000) A Debulha e Seleção do Produto A debulha dos caroços é a etapa que consiste em retirar os frutos do cacho e é realizada pelo mesmo trabalhador que realizou a coleta. O apanhador envolve os ramos com os dedos e força os frutos para baixo para que caiam no XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e VI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica Júnior - Universidade do Vale do Paraíba 3 paneiro (rasa), onde serão transportados no açaizal. A rasa também serve para armazenar e comercializar os frutos. Ao final da debulha, a mesma pessoa realiza a etapa de seleção dos frutos, para eliminar os rejeitos, aumentar a qualidade e, conseguintemente, chegar ao preço final. As Amassadeiras de Açaí As amassadeiras realizam uma atividade comercial informal. São populares e tão numerosas que o controle é difícil, tanto que não se tem conhecimento do número exato dos pontos de comercialização e da produção, mas alguns autores estimam que existam mais de 2.000 amassadeiras de açaí, somente em Belém. POULLET (1998), Os pontos de venda e processamento dos frutos são conhecidos como amassadeiras. Basicamente possuem máquina elétrica (Figura 5) para extrair o suco, que é operada por maquineiros. “como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”. A essência da ideia é alcançar uma economia mundial sustentável. Para o desenvolvimento local, esse conceito implica, antes de tudo, flexibilidade, opondo-se à rigidez das formas de organização clássica, uma estratégia de diversificação e de enriquecimento das atividades sobre um dado território com base na mobilização de seus recursos (naturais, humanos e econômicos) e de suas energias, contrárias às estratégias centralizadas de manejo do território. Representa a ideia de uma economia flexível, capaz de adaptar-se aos dados mutáveis e constitui alternativa para as economias das grandes unidades e essa política implica igualmente em estratégias de financiamento e de formação, e passa pela descentralização dos níveis de decisão política, econômica e financeira (ROGEZ, 2000) Conclusão Por ser um alimento de consumo diário e tradicional na vida do homem amazônida, principalmente naquele que vive no estuário do rio Amazonas, o açaí tornou-se um símbolo da cultura nortista e uma influência na economia paraense. Esta visão valoriza o desenvolvimento local sustentável como um possível caminho para a melhoria da qualidade de vida das populações e para a conquista de modos de vida mais sustentáveis. Figura 5 - Máquina elétrica de açaí Fonte: Rogez (2000) A produção de um maquineiro varia bastante em função da safra, do dia da semana e do tipo de açaí vendido. Baseado nas informações desse profissional a média de consumo é de dois sacos de 60 kg por dia e alguns chegam a consumir até seis sacos nos finais de semana. A produção média diária fica em torno 30 a 60 litros por saco de frutos no período da safra. Outro fator que implica no desenvolvimento do açaizeiro é o tipo de solo, a irrigação, o acréscimo de adubos ou herbicidas e da poda. Referência BUARQUE, S. C.”Desigualdades Regionais e Desenvolvimento”. Fundap: Editora da Universidade Estadual Paulista,SP, 1995. FÚRIA L. R. R. Características e usos do Açaí (Euterpe Olerácea). JARDIM, M. A. G.e CUNHA A. C. da C. Usos de Palmeiras em uma Comunidade ribeirinha do Estuário Amazônico.Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi - Paraense Emílio Goeldi Botânica, Belém-Pará, vol 12 nº 1, p. 69/76 julho/1998; Discussão O extrativismo do açaí pode ser considerado uma atividade sustentável, enquadrando-se perfeitamente às políticas adotadas pela ONU para o meio ambiente. Em 1980, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, ou Comissão Brundtland), implementou o conceito de Desenvolvimento Sustentável MOURÃO, L. Do açaí ao Palmito: Uma História Ecológica das Permanências, Tensões e Rupturas no Estuário Amazônico. Belém-Pará, 1999. 355p.Tese de doutorado em Desenvolvimento Sustentável Núcleo de Altos estudos Amazônicos-NAEA, UFPA-Universidade Federal do Pará; XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e VI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica Júnior - Universidade do Vale do Paraíba 4 NOGUEIRA, O. L. et al. A Cultura do Açaí, Coleção Plantar, Série Vermelha fruteiras EMBRAPA-CPATU-SPI. Brasília DF: 1995; POULLET, D. Açaí: Estudo da Cadeia Produtiva. 1 ed. : IEPA-GEA, 1998; ROGEZ, H. Açaí: Preparo, Composição e Melhoramento da Conservação. 1 ed. BelémPará: EDUFPA, 2000; XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e VI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica Júnior - Universidade do Vale do Paraíba 5