O cuidado colaborativo auxilia no tratamento da ansiedade? Revista: Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade ID Manuscrito: 691 Seção: ARTIGOS DE REVISÃO Palavras-chave: Ansiedade; Atenção Básica; Cuidado Colaborativo. 1 Seção: ARTIGOS DE REVISÃO 2 3 O cuidado colaborativo auxilia no tratamento da ansiedade? 4 5 Título inglês 6 7 Título espanhol 8 9 Título resumido: ? 10 11 Fonte de financiamento: nenhuma. 12 Conflito de interesses: declararam não haver. 13 Parecer CEP: ok 14 15 Recebido em: 19/01/2013. 16 Aprovado em: 17 18 19 Resumo 20 21 Transtornos de ansiedade ou sintomas ansiosos fazem parte do cotidiano da atenção básica. 22 Esta revisão bibliográfica procura responder se o cuidado colaborativo (no Brasil chamado 23 apoio matricial) colabora no tratamento desses transtornos e/ou nos sintomas de ansiedade. 24 Foi realizada uma busca na literatura utilizando os bancos de dados do PUBMED, ISI, 25 PSYCINFO e LILACS. Foram encontrados um total de 106 artigos, sendo utilizados 7 artigos, 26 após os critérios de exclusão. Os resultados mostram maior melhora nos sintomas de 27 ansiedade nos pacientes que receberam os cuidados colaborativos do que nos grupos 28 controles sem essa intervenção. 29 30 Palavras-chave: Ansiedade; Atenção Básica; Cuidado Colaborativo. 31 32 33 Abstract: 34 35 36 37 2 38 39 40 41 42 43 Keywords: Collaborative Care; Shared Care; Primary Care; Anxiety; Generalized Anxiety 44 Disorder; Panic Disorder; Phobia; Social Phobia; Post Traumatic Stress Disorder; Obsessive 45 Compulsive Disorder; Anxiety Disorder NOS. 46 47 Resumén: 48 49 50 51 52 53 54 55 56 Palabras clave 57 58 59 60 61 Introdução 62 63 Transtornos mentais são muito freqüentes em Atenção Primária à Saúde (APS), com 64 sua prevalência variando de 20 a 30%1 na maioria dos estudos epidemiológicos em diversos 65 países. A presença de transtornos mentais aumenta o risco de doenças não-psiquiátricas e 66 dificulta a aderência à consultas preventivas ou curativas. Quando concomitante à um 67 problema físico, os distúrbios psiquiátricos causam muito mais incapacidade do que cada 68 um dos problemas individualmente. No entanto, menos de 50% dos casos de psiquiatria em 69 APS são adequadamente diagnosticados e tratados1. Portanto, segundo a OMS2, um 70 funcionamento eficiente da atenção primária no manejo desses transtornos mentais é um 71 objetivo importante a ser alcançado em saúde pública. 72 Ao longo das últimas décadas, ações de Cuidado Colaborativo (CC) para tratamento 73 de transtornos mentais – ou seja, estratégias de acompanhamento conjunto por 74 profissionais de APS e especialistas em saúde mental, dentro de serviços de cuidados 3 75 primários – tem se mostrado efetivas e com custo-benefício adequado. No Brasil o CC é 76 realizado principalmente pelas equipes de apoio matricial dos Núcleos de Apoio à Saúde da 77 Família (NASF)2. 78 Existem diversos trabalhos na literatura, incluindo revisões, sobre cuidados 79 colaborativos e depressão. Entretanto, existem poucos artigos contemplando CC e 80 ansiedade. 81 82 O objetivo do presente trabalho é realizar uma revisão bibliográfica sobre estudos envolvendo cuidado colaborativo e ansiedade. 83 84 85 Métodos 86 87 Foi realizada uma busca na literatura utilizando os bancos de dados do PUBMED, ISI, 88 PSYCINFO e LILACS de todos os artigos que descrevem o impacto do cuidado colaborativo 89 no tratamento dos transtornos de ansiedade ou sintomas de ansiedade. Nesta revisão não 90 houve limitação temporal, devido ao tema ser assunto relativamente novo. 91 As palavras-chave utilizadas foram: “collaborative care” ou “shared care” e “primary 92 care” e “anxiety” ou “generalized anxiety disorder” ou “panic disorder” ou “phobia” ou “social 93 phobia” ou “post traumatic stress disorder” ou “obsessive compulsive disorder” ou “anxiety 94 disorder NOS”. Foram excluídos desta revisão todos os artigos que não fossem 95 exclusivamente de ansiedade ou transtornos ansiosos, todas as revisões bibliográficas e 96 todos os artigos que não tinham relação com o tema. Artigos que embora fossem de 97 ansiedade porém não medissem o impacto do cuidado colaborativo através de instrumentos 98 estruturados (escalas e/ou entrevistas diagnósticas) também foram excluídos. 99 100 101 Resultados 102 103 Foram encontrados um total de 106 artigos, sendo utilizados após os critérios de 104 exclusão 7 artigos (representando 5 populações distintas). O trabalho mais antigo é do ano 105 de 2004 e o mais recente de 2011. Dois artigos avaliam o impacto em saúde mental do 106 cuidado colaborativo nos sintomas de ansiedade e os outros cinco artigos medem esse 107 impacto em transtornos ansiosos específicos (transtorno de ansiedade generalizada, 108 transtorno do pânico, fobia social e transtorno de estresse pós-traumático). 109 O número total de pacientes estudados foi de 2239. 4 110 Com exceção do artigo de Bryan et al3, em que o seguimento foi realizado de acordo 111 com o número de sessões, todos os outros trabalhos apresentam um seguimento 112 longitudinal dos pacientes que varia de 12 à 24 meses. (Tabela 1) 113 114 Tabela 1. Características dos estudos selecionados. 115 116 117 118 A presença de um “Case Manager” foi constante, variando nos estudos apenas a 119 formação destes profissionais. Sua função teve amplo espetro, desde sugestões e 120 recomendações ao médico de atenção primária, monitoramento através de escalas 121 padronizadas até o emprego de técnicas cognitivo-comportamentais junto aos pacientes. 122 123 Dentre as 5 populações estudadas nesta revisão, 2 tiveram a presença de um médico especialista em psiquiatria. (Tabelas 2 e 3) 124 125 Todos os 7 artigos mostraram que o CC reduziu os sintomas de ansiedade (Tabela 4). 126 127 Tabela 2. Componentes da intervenção. 128 5 ! "#$%#&' (%") *$+%, )- #)%.) / (, - ")- #)%.) 01..2 %, )- #)%.) 3%#1, )- #)%.) 01+4*+$, - ) - #)%.) ! "5- 6(%.(7%891!: 1)"#$%!& #' #( %)*! ; ""("#- , #- )<16(%.) ! ) ! , =- $2 - ($1) ! ) ! ) >"(6?.1' 1) >$1@""(1, %.): - )<%A: - )B - , #%.) ! ) ! ) ! "#C: %, #- ): - )>"(61.1' (%) ! ) ! "5- 6(%.("#%)- 2 )D12 C, (6%891) ! ) ! ) >$1@""(1, %.)B - "#$- )1C)E 1C#1$) <C5- $F("91)4)! "5- 6(%.("#%)- 2 ) <%A: - )B - , #%.G) ! ) >"(HC(%#$%) 129 130 131 ! ) ! ) >"(6?.1' 1!+%' ,- )! Tabela 3. Características do cuidado colaborativo. 132 ! "#$%& ' (& $)& * +%' , & ' (& $)& ! & ! & - . ))/ $%& ' (& $)& 0$(. %& ' (& $)& - . #1! #"%' & & ' (& $)& ! & ! & 2, ("$(34+$, & 2567$7+. %$+, 8& 9 "$)& : "' , ' %7+$)& ; ' <(. & . 6& $65+. 1=+, 6$)& ! & ! & 2567$>?. & =+$& (' )' @ . %' & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & ! & 2, ("$(34+$, & A. / B. "($/ ' %($+, 8& C' 46+/ ' %(. & =+$& ; ' )' @ . %' & * +, +($, & %$& 6%+5$5' & 5' & , $D5' & ! & ; ' "$B+$& A. 4%+E =. 1 A. / B. "($/ ' %($)& F2%("' =+, ($& G . E =$7+. %$)& ! & ! & 2, ("$(34+$, & BF& / 35+7. & H: C8& C64' , (I ' , & $. & / 35+7. & 5' & H: C& , . J "' & .& ("$($/ ' %(. & ! & ! & H)4. "+(/ . & 5' & / ' 5+7$>?. & K' ' 5J $7L& 5. & AG & , . J "' & .& , ' 46+/ ' %(. & F& ("$($/ ' %(. & 133 134 135 9 B+%+?. & 5. & : , +M6+$("$& ! & ! & Tabela 4. Resultados. 136 6 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 Discussão 156 157 Esta revisão reforça a eficácia da estratégia do CC no tratamento dos sintomas de 158 ansiedade e dos transtornos ansiosos. Entretanto, algumas questões devem ser discutidas 159 para uma análise mais minuciosa. 160 161 162 163 164 165 Todos os artigos selecionados foram realizados em países desenvolvidos, o que torna questionável extrapolarmos os resultados para países em desenvolvimento. Alem disso, a formação profissional do “Case Manager” (CM) varia em todas as populações estudadas, dificultando analisar se essa questão é relevante. A presença de um CM em todos os estudos também limita os resultados para aplicação em locais onde não existe esse profissional. 166 Outro ponto a ser ressaltado são as diferentes escalas de seguimento utilizadas nos 167 sete estudos, o que torna difícil sua comparação. Dessa forma, faz-se necessária uma meta- 168 análise no futuro para avaliação mais profunda dos achados. 169 Dois artigos apresentam algumas limitações: o artigo de Bryan et al3 não tem um 170 grupo controle e o artigo de Vines et al4, cuja randomização foi feita pelo próprio medico da 171 APS (o que pode ter gerado um viés, uma vez que na medida inicial o grupo de intervenção 172 apresentou escores de ansiedade maiores do que o grupo controle, sugerindo que foram 173 selecionados para esse grupo os pacientes mais sintomáticos). 7 174 O artigo de Katon et al7 sugere que o custo do tratamento dos pacientes com 175 transtornos de ansiedade utilizando o CC é maior do que pelo cuidado tradicional. 176 Entretanto, quando o custo total é analisado, incluindo internações hospitalares, o CC 177 mostra-se custo-efetivo. 178 179 180 Conclusão 181 182 183 Todos os artigos mostraram que os sintomas de ansiedade diminuíram com o uso da estratégia colaborativa em saúde mental em atenção primária. 184 185 186 Referências 187 188 1-Azevedo-Marques, J.M. Detecção e diagnóstico de transtornos mentais pela equipe de 189 saúde da família. 2009. 172f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 190 Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. 191 192 2-Ministério da Saúde. Diretrizes do NASF, Núcleo de apoio à saúde da família. Cadernos 193 de atenção básica, n.27 – Ministério da saúde, Brasília, DF, 2009. 194 195 3-Bryan, CJ; Morrow, C; Appolonio, KK. Impact of Behavioral Health Consultant 196 Interventions on Patient Symptoms and Functioning in an Integrated Family Medicine Clinic. 197 Journal of Clinical Psychology, v.65, n.3, p.281-293, 2009. 198 http://dx.doi.org/10.1002/jclp.20539 199 200 4-Vines, RF; Richards, JC; Thomson, DM, et al. Clinical psychology in general practice: a 201 cohort study. Medical Journal of Australia, v.181, n.2, p.74-77, 2004. 202 203 5-Rollman, B; Belnap, B; Mazundar, S et al. A Randomized Trial to improve the quality of 204 treatment for panic and generalized anxiety disorders in primary care. Archives of General 205 Psychiatry, v.62, p.1332-1341, 2005. http://dx.doi.org/10.1001/archpsyc.62.12.1332 206 207 6-Roy-Byrne, PP; Craske, MG; Stein, MB, et al. A Randomized effectiveness trial of 208 cognitive-behavioral therapy and medication for primary care panic disorder. Archives of 209 General Psychiatry, v.62, n.3, p.290-298, 2005. http://dx.doi.org/10.1001/archpsyc.62.3.290 210 8 211 7-Katon, W; Russo, J; Sherbourne, C, et al. Incremental cost-effectiveness of a collaborative 212 care intervention for panic disorder. Psychological Medicine, v.36, n.3, p.353-363, 2006. 213 http://dx.doi.org/10.1017/S0033291705006896 214 215 8-Roy-Byrne, P; Craske, MG; Sullivan, G, et al. Delivery of Evidence-Based Treatment for 216 Multiple Anxiety Disorders in Primary Care A Randomized Controlled Trial. 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