O cuidado colaborativo auxilia no tratamento da ansiedade

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O cuidado colaborativo auxilia no tratamento da ansiedade?
Revista:
Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade
ID Manuscrito:
691
Seção:
ARTIGOS DE REVISÃO
Palavras-chave:
Ansiedade; Atenção Básica; Cuidado Colaborativo.
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Seção: ARTIGOS DE REVISÃO
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O cuidado colaborativo auxilia no tratamento da ansiedade?
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Título inglês
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Título espanhol
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Título resumido: ?
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Fonte de financiamento: nenhuma.
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Conflito de interesses: declararam não haver.
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Parecer CEP: ok
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Recebido em: 19/01/2013.
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Aprovado em:
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Resumo
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Transtornos de ansiedade ou sintomas ansiosos fazem parte do cotidiano da atenção básica.
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Esta revisão bibliográfica procura responder se o cuidado colaborativo (no Brasil chamado
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apoio matricial) colabora no tratamento desses transtornos e/ou nos sintomas de ansiedade.
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Foi realizada uma busca na literatura utilizando os bancos de dados do PUBMED, ISI,
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PSYCINFO e LILACS. Foram encontrados um total de 106 artigos, sendo utilizados 7 artigos,
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após os critérios de exclusão. Os resultados mostram maior melhora nos sintomas de
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ansiedade nos pacientes que receberam os cuidados colaborativos do que nos grupos
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controles sem essa intervenção.
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Palavras-chave: Ansiedade; Atenção Básica; Cuidado Colaborativo.
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Abstract:
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Keywords: Collaborative Care; Shared Care; Primary Care; Anxiety; Generalized Anxiety
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Disorder; Panic Disorder; Phobia; Social Phobia; Post Traumatic Stress Disorder; Obsessive
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Compulsive Disorder; Anxiety Disorder NOS.
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Resumén:
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Palabras clave
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Introdução
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Transtornos mentais são muito freqüentes em Atenção Primária à Saúde (APS), com
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sua prevalência variando de 20 a 30%1 na maioria dos estudos epidemiológicos em diversos
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países. A presença de transtornos mentais aumenta o risco de doenças não-psiquiátricas e
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dificulta a aderência à consultas preventivas ou curativas. Quando concomitante à um
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problema físico, os distúrbios psiquiátricos causam muito mais incapacidade do que cada
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um dos problemas individualmente. No entanto, menos de 50% dos casos de psiquiatria em
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APS são adequadamente diagnosticados e tratados1. Portanto, segundo a OMS2, um
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funcionamento eficiente da atenção primária no manejo desses transtornos mentais é um
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objetivo importante a ser alcançado em saúde pública.
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Ao longo das últimas décadas, ações de Cuidado Colaborativo (CC) para tratamento
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de transtornos mentais – ou seja, estratégias de acompanhamento conjunto por
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profissionais de APS e especialistas em saúde mental, dentro de serviços de cuidados
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primários – tem se mostrado efetivas e com custo-benefício adequado. No Brasil o CC é
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realizado principalmente pelas equipes de apoio matricial dos Núcleos de Apoio à Saúde da
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Família (NASF)2.
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Existem diversos trabalhos na literatura, incluindo revisões, sobre cuidados
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colaborativos e depressão. Entretanto, existem poucos artigos contemplando CC e
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ansiedade.
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O objetivo do presente trabalho é realizar uma revisão bibliográfica sobre estudos
envolvendo cuidado colaborativo e ansiedade.
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Métodos
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Foi realizada uma busca na literatura utilizando os bancos de dados do PUBMED, ISI,
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PSYCINFO e LILACS de todos os artigos que descrevem o impacto do cuidado colaborativo
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no tratamento dos transtornos de ansiedade ou sintomas de ansiedade. Nesta revisão não
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houve limitação temporal, devido ao tema ser assunto relativamente novo.
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As palavras-chave utilizadas foram: “collaborative care” ou “shared care” e “primary
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care” e “anxiety” ou “generalized anxiety disorder” ou “panic disorder” ou “phobia” ou “social
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phobia” ou “post traumatic stress disorder” ou “obsessive compulsive disorder” ou “anxiety
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disorder NOS”. Foram excluídos desta revisão todos os artigos que não fossem
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exclusivamente de ansiedade ou transtornos ansiosos, todas as revisões bibliográficas e
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todos os artigos que não tinham relação com o tema. Artigos que embora fossem de
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ansiedade porém não medissem o impacto do cuidado colaborativo através de instrumentos
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estruturados (escalas e/ou entrevistas diagnósticas) também foram excluídos.
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Resultados
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Foram encontrados um total de 106 artigos, sendo utilizados após os critérios de
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exclusão 7 artigos (representando 5 populações distintas). O trabalho mais antigo é do ano
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de 2004 e o mais recente de 2011. Dois artigos avaliam o impacto em saúde mental do
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cuidado colaborativo nos sintomas de ansiedade e os outros cinco artigos medem esse
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impacto em transtornos ansiosos específicos (transtorno de ansiedade generalizada,
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transtorno do pânico, fobia social e transtorno de estresse pós-traumático).
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O número total de pacientes estudados foi de 2239.
4
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Com exceção do artigo de Bryan et al3, em que o seguimento foi realizado de acordo
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com o número de sessões, todos os outros trabalhos apresentam um seguimento
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longitudinal dos pacientes que varia de 12 à 24 meses. (Tabela 1)
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Tabela 1. Características dos estudos selecionados.
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A presença de um “Case Manager” foi constante, variando nos estudos apenas a
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formação destes profissionais. Sua função teve amplo espetro, desde sugestões e
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recomendações ao médico de atenção primária, monitoramento através de escalas
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padronizadas até o emprego de técnicas cognitivo-comportamentais junto aos pacientes.
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Dentre as 5 populações estudadas nesta revisão, 2 tiveram a presença de um
médico especialista em psiquiatria. (Tabelas 2 e 3)
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Todos os 7 artigos mostraram que o CC reduziu os sintomas de ansiedade (Tabela
4).
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Tabela 2. Componentes da intervenção.
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5
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Tabela 3. Características do cuidado colaborativo.
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Tabela 4. Resultados.
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Discussão
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Esta revisão reforça a eficácia da estratégia do CC no tratamento dos sintomas de
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ansiedade e dos transtornos ansiosos. Entretanto, algumas questões devem ser discutidas
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para uma análise mais minuciosa.
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Todos os artigos selecionados foram realizados em países desenvolvidos, o que
torna questionável extrapolarmos os resultados para países em desenvolvimento.
Alem disso, a formação profissional do “Case Manager” (CM) varia em todas as
populações estudadas, dificultando analisar se essa questão é relevante.
A presença de um CM em todos os estudos também limita os resultados para
aplicação em locais onde não existe esse profissional.
166
Outro ponto a ser ressaltado são as diferentes escalas de seguimento utilizadas nos
167
sete estudos, o que torna difícil sua comparação. Dessa forma, faz-se necessária uma meta-
168
análise no futuro para avaliação mais profunda dos achados.
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Dois artigos apresentam algumas limitações: o artigo de Bryan et al3 não tem um
170
grupo controle e o artigo de Vines et al4, cuja randomização foi feita pelo próprio medico da
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APS (o que pode ter gerado um viés, uma vez que na medida inicial o grupo de intervenção
172
apresentou escores de ansiedade maiores do que o grupo controle, sugerindo que foram
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selecionados para esse grupo os pacientes mais sintomáticos).
7
174
O artigo de Katon et al7 sugere que o custo do tratamento dos pacientes com
175
transtornos de ansiedade utilizando o CC é maior do que pelo cuidado tradicional.
176
Entretanto, quando o custo total é analisado, incluindo internações hospitalares, o CC
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mostra-se custo-efetivo.
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Conclusão
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Todos os artigos mostraram que os sintomas de ansiedade diminuíram com o uso da
estratégia colaborativa em saúde mental em atenção primária.
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185
186
Referências
187
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