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Sexônia faz a pessoa transar dormindo; entenda
Durante as crises de sexônia, as manifestações podem ir de carícias a relações de fato
Matéria publicada em 11 de Dezembro de 2015
Sonambulismo, mexer as pernas sem parar, falar dormindo (sonilóquio), ranger os
dentes (bruxismo) e terror noturno são as mais conhecidas parassonias, nome dado aos
distúrbios dos sono caracterizados por movimentos anormais que causam interrupções
no padrão normal de descanso e geram cansaço, irritação e prejuízo às funções
cognitivas e físicas no dia seguinte. Nenhuma delas, porém, é tão complexa quanto a
sexônia, distúrbio que leva a pessoa a fazer sexo enquanto dorme.
Parece o melhor dos mundos, já que transar e dormir são duas atividades prazerosas,
mas na prática não é bem assim. Se não tratada, a sexônia é uma condição médica que
pode causar vários problemas.
De acordo com Lívia Leite Góes Gitaí, doutora em neurologia pela FMRP (Faculdade de
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Medicina de Ribeirão Preto) da USP (Universidade de São Paulo) e membro da ABN
(Academia Brasileira de Neurologia), a sexônia está classificada primariamente como
despertar confusional, uma vez que costuma se limitar a atividades na própria cama,
mas também já foi relatada em episódios de sonambulismo, em que o indivíduo se
levanta e caminha.
\"O despertar confusional e o sonambulismo são parassonias do tipo desordem do
despertar, nas quais a pessoa apresenta um despertar parcial durante o sono de ondas
lentas e assim fica em um estado de dissociação entre a vigília e o sono profundo\",
afirma.
Durante as crises, as manifestações variam. \"Pode acontecer masturbação, carícias,
conversas, sexo oral ou anal e mesmo as relações de fato, hétero ou homossexuais\",
diz Geraldo Rizzo, neurologista e especialista em medicina do sono, do Hospital
Moinhos de Vento, de Porto Alegre.
Impulsos violentos
A participação ou não de uma outra pessoa no ato é a parte delicada da questão, pois
mesmo os parceiros de anos podem se assustar com os ataques. É por isso que,
segundo o neurofisiologista Leonardo Ierardi Goulart, do Laboratório do Sono do
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Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, a sexônia é perigosa.
\"Os comportamentos sexuais podem acontecer acompanhados de impulsos violentos.
É um distúrbio com implicações psicológicas e sociais extremamente impactantes, com
o risco, inclusive, de ser considerado crime\", afirma Goulart.
Já existiram casos de homens –a maior parte dos portadores do distúrbio pertence ao
sexo masculino, na faixa entre 25 e 40 anos– que foram acusados de abuso sexual por
atacarem mulheres e crianças durante episódios de sexônia.
\"Há alguns casos documentados de julgamentos em que a defesa alegou a presença
do distúrbio como forma de inocentar. A presença de especialistas em medicina do sono
durante o processo é importante para avaliação das circunstâncias, pois há
características fenomenológicas muito úteis na diferenciação entre sexônia e simulação.
Na sexônia, por exemplo, o indivíduo fica em estado transicional entre o sono profundo
e a vigília, não sendo capaz de realizar atividades complexas\", fala Lívia.
O transtorno não tem nada a ver com a libido. \"Não se trata de desejo nem há nenhum
tipo de disfunção hormonal envolvido\", diz Antônio Carlos Montanaro, neurologista do
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Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
É um comportamento automático desencadeado pela ativação de sistemas cerebrais
relacionados a automatismos de funções como alimentar, vaguear e procriar. \"A
duração dos episódios varia, mas eles costumam ser breves. Nem sempre a pessoa se
lembra do que houve no dia seguinte\", fala Luciano Ribeiro, neurologista da ABS
(Associação Brasileira do Sono). Alguns episódios, no entanto, podem durar cerca de 30
a 40 minutos.
Em
seu
artigo
\"Sexsomnia:
Abnormal
Sexual
Behavior
During
Sleep\"
(\"Comportamento Sexual Anormal durante o Sono\", na tradução do inglês), Monica
Levy Andersen, professora livre-docente do Departamento de Psicobiologia e chefe da
disciplina de Medicina e Biologia do Sono da Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo), aponta os principais fatores, reconhecidos por estudos, que desencadeiam a
sexônia: privação de sono, sono fragmentado, consumo de drogas e/ou álcool, estresse
e fadiga excessiva.
Ela observa que vem ocorrendo um aumento de distúrbios no ritmo de sono-vigília e na
incidência da privação do sono na população geral. \"Entre as principais razões
destacam-se a exposição constante à luz e a atividades artificiais, como ver TV ou
acessar a internet, associadas às pressões sociais e econômicas para encurtar o tempo
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gasto no sono\", diz Monica.
Durante uma crise de sexônia, a pessoa não deve ser acordada –a não ser que a
manifestação envolva violência–, mas reconduzida ao sono e/ou de volta à cama,
evitando-se sempre excesso de estímulo, tátil, luminoso ou sonoro.
Diagnóstico
Além do EEG (eletroencefalograma), outro exame significativo para identificar o distúrbio
é a polissonografia, que registra as ondas cerebrais, o nível de oxigênio no sangue e a
frequência cardíaca e respiratória, assim como os movimentos dos olhos e nas pernas
durante o sono.
\"Se não ocorrerem manifestações típicas durante a noite de realização do exame, o que
é muito comum, uma vez que os episódios não costumam ser diários, a polissonografia
pode mostrar sinais indiretos indicativos de parassonia e, principalmente, pode contribuir
para o diagnóstico de outros transtornos do sono que estejam contribuindo para o
quadro\", diz Lívia.
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Alguns especialistas recomendam que o exame seja feito ao lado do parceiro, para uma
comprovação mais efetiva. A polissonografia é um procedimento que pode ajudar no
acúmulo de evidências, mas o diagnóstico final só é dado depois de uma anamnese
detalhada para avaliar os hábitos do paciente.
O tratamento depende de cada caso, mas costuma envolver medicamentos,
psicoterapia e até meditação. \"Geralmente, o tratamento não é definitivo, e a tendência
à sexônia sempre vai existir\", diz Leonardo, do Einstein.
Também é fundamental o controle do ambiente para minimizar o risco de danos como a
presença de grades nas janelas, o controle das chaves das portas e a retirada de
instrumentos potencialmente perigosos da cabeceira ou do quarto.
O ideal é que não só o paciente aprenda a lidar com a questão, como também o par e a
família se informem com especialistas para descobrir qual a melhor maneira de ajudar a
evitar os episódios. \"Reconhecer a sexônia como um transtorno do sono passível de
diagnóstico médico pode ser um alívio em uma trajetória de silêncio, medo, culpa e
vergonha\", fala Lívia.
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Fonte: Uol
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