Efeito do extrato alcoólico de Tagetes erecta L. (Compositae) sobre a biologia de Plutella xylostella, L. (Lepidoptera: Plutellidae). Marcelo da C. Mendonça1; Roseane C. P. Trindade2; Renata A. Simões1; Michelle da F. Santos1; José O. Dantas1; Renata Silva-Mann1; Arie F. Blank1. 1 UFS - Depto. de Engenharia Agronômica, Av. Marechal Rondon s/n, 49100-000 São Cristóvão-SE. [email protected] (Apoio: CNPq). 2 UFAL - Depto. de Química, Campus A. C. Simões, BR 104 Norte, Km 14 – Tabuleiro do Martins 57072-900, Maceió-Al. RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do extrato alcoólico de Tagetes erecta na mortalidade larval e biologia da traça-das-crucíferas (Plutella xylostella). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com quatro tratamentos (extratos da folha, flores, ramos e raiz) mais a testemunha (H2O), com cinco repetições cada uma composta por 12 larvas de P. xylostella no primeiro instar. Os extratos foram preparados com as estruturas secas da planta (folha, flor, ramo e raiz) imersas em álcool para a obtenção dos extratos alcoólicos. Folhas de couve imersas nos tratamentos foram oferecidas às larvas de P. xylostella. O extrato da raiz foi o mais eficiente, causando a mortalidade de 85% das larvas. A duração das fases larval e pupal não foram afetadas pelos extratos, porém, a viabilidade foi reduzida pelo extrato da raiz. Palavras-chaves: Tagetes erecta, traça-das-crucíferas, Inseticida botânico, controle alternativo. ABSTRACT Effect of alcoholic extract of Tagetes erecta L. (Compositae) on biology of Plutella xylostella , L.(Plutellidae). The objective of this work was to evaluate the effect of alcoholic extract of Tagetes erecta in larval surviving and biology of Diamondback moth (Plutella xylostella). The experimental design was completely randomized with five treatments (leaves, flowers and roots extract) and a control (H2O), with five replications compound by analyze of twelve first instar larva of xylostella. The extracts were prepared using dried structures of plants (leaves, flowers, stems and roots) for to obtain alcoholic extract. The spring green leaves were immersed in different extracts, and were used to feeding the P. xylostella larva. The root’s extract was the most efficient causing a larval mortality of 85%. The larval and pupal period were not affected by treatments, however, their viability was reduced by root’s extract. Keywords: Tagetes erecta, diamondback moth, botanic insecticide, alternative control. A traça-das-crucíferas é considerada a praga mais importante do cultivo de brássicas no mundo (Talekar & Shelton, 1993). A resistência dessa praga aos inseticidas químicos em várias regiões produtoras de hortaliças tem contribuído para o fracasso do seu controle. Este fato favorece a um crescente interesse na busca por métodos de controle alternativos, que sejam eficientes e possibilitem a preservação da biodiversidade do agroecossistema. A utilização de extratos de plantas, com atividade inseticida têm sido uma alternativa para o controle de pragas em diferentes culturas, principalmente, por serem de baixo custo e facilmente degradáveis não contaminando o meio ambiente. Segundo Klocke (1989), são conhecidas mais de 2.000 espécies de plantas que apresentam alguma ação inseticida. O gênero Tagetes possui uma variedade de espécies que têm sido empregadas para diversos fins: cultivos ornamentais, produção de pigmentos naturais, ação bactericida e fungicida e na rotação de cultura com espécies de hortaliças, propiciando a cobertura do solo e o efetivo controle de nematóides. A ação inseticida e repelente do óleo essencial de Tagetes spp. para o controle de várias espécies de insetos, pragas agrícolas e vetores de doenças, tem sido relatada em muitas publicações, destacando-se os compostos terpenóides como responsáveis pela bioatividade (Vasudevan et al., 1997; Broussalis et al., 1999). O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do extrato alcoólico das diferentes estruturas da planta de T. erecta sobre a biologia e mortalidade larval de P. xylostella. MATERIAIS E MÉTODOS Os extratos da planta foram preparados no Laboratório de Fitotecnia/DEA da Universidade Federal de Sergipe e nos testes de bioatividade foram utilizados em insetos da criação de P. xylostella do Laboratório de Ecologia Química/DQ da Universidade Federal de Alagoas. O delineamento experimental empregado foi inteiramente casualizado com quatro tratamentos (extratos da folha, flores, ramos e raiz) mais a testemunha (H2O), com cinco repetições cada uma composta por 12 larvas de P. xylostella no primeiro instar. As folhas, flores, ramos e raízes de T. erecta foram separadas e secas em estufa (40ºC, por 48 horas) e trituradas em moinho para obtenção de um pó para cada estrutura da planta. Os pós foram misturados com álcool (72 horas) e o solvente foi evaporado em rotaevaporador sob pressão reduzida. Como não se tinha o conhecimento prévio da ação desses extratos sobre a traça das crucíferas, optou-se pelos os extratos brutos diluídos em água na concentração de 5.000ppm. Após a preparação dos extratos, discos de couve (Brassica oleracea) foram imersos por 30 segundos em cada tratamento, secos em temperatura ambiente (25ºC, 20 minutos) e colocadas em placas de petri em contato com larvas recém eclodidas. Para a testemunha as folhas de couve foram imersas em água. As avaliações foram diárias, quantificando-se o número de larvas mortas por tratamento, e os discos das folhas substituídos por outros submetidos aos mesmos tratamentos. Em seguida foram avaliados os dados relativos à biologia da praga (duração do período larval e viabilidade das larvas e duração do período pupal e viabilidade das pupas). Os dados originais, para análise estatística, foram transformados em x + 0,5 e submetidos a análise de variância. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05), utilizando-se o programa SAEG (Sistema para Análises Estatística – versão 5.0). RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 apresenta os dados de duração e viabilidade das fases larval e pupal de P. xylostella. Verifica-se que não houve redução dos períodos destas fases para os extratos testados em relação à testemunha. Embora a viabilidade larval tenha sido inferior para todos os tratamentos, apenas o extrato da raiz diferiu significativamente da testemunha. Resultados semelha ntes foram obtidos para a fase pupal. As pupas originárias das larvas tratadas com o extrato da raiz de T. erecta apresentaram-se menores, com manchas escuras e algumas com deformações. Tabela 1- Duração média (dias) e viabilidade das fases larval e pupal de P. xylostella tratadas com extratos das diferentes estruturas de T. erecta. São Cristóvão, UFS, 2003. Parte da planta Folha Ramo Flor Raiz Testemunha (H2O) F CV(%) Fase larval1 Duração (dias) Viabilidade (%) 6,97+0,19 a 7,80+0,79 a 6,08+0,04 a 7,40+0,64 a 6,08+0,00 a 7,40+0,53 a 6,10+1,19 a 1,80+0,64 b 6,25+0,08 a 11,80+0,08 a ns ** 0,31 13,09 17,04 17,54 Fase pupal1 Duração (dias) Viabilidade (%) 2,89+0,18 a 7,40+0,86 a 2,77+0,19 a 7,00+0,65 a 2,77+0,08 a 7,00+0,45 a 2,60+0,68 a 1,40+0,47 b 2,72+0,09 a 11,20+0,15 a ns 0,33 14,67** 15,28 17,36 1 Valores com letras iguais, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05). Os extratos da folha, do ramo, da flor e da raiz causaram um percentual de mortalidade larval de 35,0%, 38,3%, 35,5 e 85,0%, respectivamente (Figura 1). Os tratamentos com extratos da folha e do ramo não apresentaram diferença significativa pelo teste de Tukey (p ≤ 0,01). O maior percentual de mortalidade de larvas foi verificado no extrato da raiz, diferindo significativamente do extrato da flor e da testemunha. Segundo Vasudevan et al. (1997), a maior concentração de compostos bioativos de Tagetes está, predominante, localizado nas raízes da planta. a Mortalidade larval (%) 100 75 ab ab bc 50 25 c 0 Folha Ramo Flor Raiz Testemunha (H2O) Extratos das estrutas da planta Figura 1- Efeito dos extratos alcoólicos das estruturas da planta de T. erecta sobre a mortalidade de larvas de primeiro instar de P. xylostella (Valores com letras iguais, nas barras, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p ≤ 0,01). São Cristóvão, UFS, 2003. LITERATURA CITADA Broussalis, A.M.; Ferraro, G.E.; Martino, V.S.; Pinzón, R.; Coussio, J.D.; Alvarez, J.C. Argentine plants as potencial source of inseticidal compounds. Journal of Ethnopharmacology, 67, p. 219-223, 1999. Klocke, J.A.. Plant compounds as source and models of insect-control agents. In: Hostettmann, K. (Ed.), Economic and Medicinal Plant Research. Academic Press, London, p. 103-144, 1989. Talekar, N.T.; Shelton, A.M. Biology, ecology and management of the diamondback moth. Annual Review Entomology, v. 38, p. 275-301, 1993. Vasudevan, P.; Kashyap, S.; Sharma, S.. Tagetes: a multipurpose plant. Bioresource Technology, v. 62, p. 29-35, 1997.