CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE - FaC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL EMANUELLE CRISTINE ROCHA BRANDÃO PARA ALÉM DE CROCHÊS E TRICÔS: OS PAPÉIS SOCIAIS EXERCIDOS PELAS IDOSAS DO PROJETO SAÚDE, BOMBEIROS E SOCIEDADE SOB A PERSPECTIVA DA FEMINIZAÇÃO DO ENVELHECIMENTO NA CONTEMPORANEIDADE. FORTALEZA 2013 EMANUELLE CRISTINE ROCHA BRANDÃO PARA ALÉM DE CROCHÊS E TRICÔS: OS PAPÉIS SOCIAIS EXERCIDOS PELAS IDOSAS DO PROJETO SAÚDE, BOMBEIROS E SOCIEDADE SOB A PERSPECTIVA DA FEMINIZAÇÃO DO ENVELHECIMENTO NA CONTEMPORANEIDADE. Monografia submetida à aprovação do Curso de Bacharelado em Serviço Social da Faculdade Cearense – FaC, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Profª. Ms. Valney Rocha Maciel FORTALEZA 2013 EMANUELLE CRISTINE ROCHA BRANDÃO PARA ALÉM DE CROCHÊS E TRICÔS: OS PAPÉIS SOCIAIS EXERCIDOS PELAS IDOSAS DO PROJETO SAÚDE, BOMBEIROS E SOCIEDADE SOB A PERSPECTIVA DA FEMINIZAÇÃO DO ENVELHECIMENTO NA CONTEMPORANEIDADE. Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelas professoras. Data de aprovação: ____/____/____ BANCA EXAMINADORA _________________________________________________ Profª Ms. Valney Rocha Maciel (Orientadora) - FaC Assistente Social e Mestre em Políticas Públicas _________________________________________________ Profª Ms. Kelly Maria Gomes Menezes - RATIO Assistente Social e Mestre em Políticas Públicas _________________________________________________ Ruth Brito dos Santos Assistente Social e Mestre em Políticas Públicas e Sociedade A Deus, por ter me sustentado em meio a tantas dificuldades e por me conceder a graça de chegar até aqui. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar a Deus, por ter tornado um sonho em realidade. Pelo dom da vida, proteção e provisão. Por ter me capacitado e por me acolher em seus braços. Por ter escutado as minhas orações e súplicas, e acima de tudo, por ter entregue seu filho na cruz para que eu pudesse ter vida. Por ter me sustentado em todas as vezes que pensei em desistir. Obrigada Senhor por tudo que fez e por tudo que ainda fará. Eu creio! Ao meu esposo, Tiago, por ser amigo e companheiro, pelo seu amor e dedicação. Pela sua cumplicidade e por tornar a minha vida bem mais feliz. Por acreditar em mim e estar ao meu lado. Meu primeiro, único e eterno namorado! O nosso amor nasceu no coração de Deus. Amo você infinitamente! Aos meus pais, Osmar e Denilda, por serem exemplo de bom procedimento e de uma família que agrada a Deus. Pela dedicação e amor. Sem vocês eu não teria chegado até aqui. Que no tempo oportuno, desfrutem de uma velhice tranquila e feliz. Muito obrigada por tudo. Amo vocês! As minhas irmãs, Deborah e Denise, pela amizade e apoio. Que vocês sejam grandes mulheres virtuosas e permaneçam firmes nos propósitos do Senhor. Também amo vocês! A todos os familiares, de sangue e de coração, que torcem por minha felicidade e sucesso e sei que se alegram com minhas conquistas. Muito Obrigada! A minha orientadora, Professora Valney, pelo empenho, compromisso e dedicação. Pela grandiosa contribuição à construção deste trabalho. Só posso descrever nossa parceria em uma palavra: Magnífica! À Banca Examinadora por ter aceitado o convite, ilustríssimas, Kelly Maria e Ruth Brito. Suas dissertações tornaram-se, para mim, grandiosa fonte de inspiração para este estudo e para muitos que virão. A todos os professores do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense – FaC que foram importantíssimos em minha trajetória acadêmica, em especial a Professora Eliane Nunes, pelos ensinamentos imprescindíveis para a construção desta Monografia e pela tranquilidade transmitida a cada aula ministrada. As minhas supervisoras de campo, Fátima Frota (Estágio I – Fórum Clóvis Beviláqua) e Janaina Barros (Estágio II e III – CRAS Couto Fernandes) que muito contribuíram durante esse período de aproximação com a prática e compreensão da atuação profissional. Muito obrigada. Mesmo longe não me esqueço de vocês. As idosas do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade pela solidariedade, acolhimento, sorrisos e por tão prontamente se disporem a partilhar um pouco de suas ricas experiências. Obrigada! Aos colegas de curso, em especial Denise, Maria José, Renata, Marilene, Michelle, Lilian, Beatriz, Fabiana e Catiana, grandes amigas e companheiras. Torço muito por vocês. Sentirei saudades. Por fim, agradeço àqueles que de alguma forma se fizeram presentes e contribuíram para tornar esse momento possível. A todos o meu muito obrigada! “Não me rejeites na minha velhice; quando me faltarem as forças, não me desampares.” Salmos 71:9 RESUMO O aumento da longevidade, atualmente, é percebido como um fenômeno de caráter mundial. Isso implica que a população idosa está crescendo em ritmo acelerado, causando importantes e intensas modificações. Nesta perspectiva é possível compreender a manifestação de outro fenômeno: a feminização do envelhecimento. Para tanto a presente pesquisa objetivou-se a identificar os papéis sociais exercidos pelas idosas participantes do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade (PSBS), executado pelo Corpo de Bombeiros do Estado do Ceará, no bairro Henrique Jorge, sob a perspectiva da feminização do envelhecimento na contemporaneidade. De forma específica, os objetivos que nortearam este estudo foram: identificar as mudanças dos papéis sociais da mulher idosa ao longo do processo de envelhecimento; analisar a influência da feminização do envelhecimento na construção de novos papéis sociais; compreender como as idosas reconhecem seu “lugar” e “função” na sociedade contemporânea; identificar se a participação no Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade influência na construção de novos papéis sociais e traçar um perfil socioeconômico das idosas participantes do referido projeto no núcleo Henrique Jorge. Deste modo, as protagonistas desta pesquisa são as idosas participantes do projeto, no bairro Henrique Jorge, há pelo menos um ano. Para tanto, lançou-se mão de três tipos de pesquisa: bibliográfica, documental e de campo. A fim de apreender a realidade a partir dos discursos dos sujeitos fez-se uso essencialmente da pesquisa qualitativa, além de fontes basicamente numéricas. Como técnica para a coleta de dados, utilizou-se a observação simples, aplicação de questionários e entrevistas semiestruturadas. Para análise dos dados colhidos optou-se por uma aproximação da Hermenêutica Dialética. As categorias centrais que embasaram este trabalho foram: velhice, envelhecimento e papéis sociais. Observou-se ao longo deste estudo que as idosas na contemporaneidade exercem inúmeros e diferentes papéis sociais construídos e desconstruídos culturalmente e surpreendem ao incorporar lugares e funções não pertencentes, de um modo geral, ao contingente populacional feminino. Deste modo, rompem dia a dia com os estigmas culturais a elas impostos, ultrapassando as paredes do ambiente familiar e a rotina de crochetar e tricotar. Palavras-chave: Envelhecimento. Feminização do Envelhecimento. Papéis Sociais. Velhice. ABSTRACT The increase in longevity is currently perceived as a phenomenon of worldwide character. This implies that the elderly population is growing at a rapid pace, causing intense and important modifications. In this perspective it is possible to understand the demonstration of another phenomenon: the feminization of aging. So, the present research aimed to identify the social roles exercised by elderly women participants of the Project Saúde, Bombeiros e Sociedade, run by the Fire Department of the State of Ceara, in the district of Henrique Jorge, under the perspective of the feminization of aging in contemporaneity. Specifically, the objectives that guided this study were: to identify the changes in the social roles of the elderly woman during the aging process, to analyze the influence of the feminization of aging on the construction of new social roles; to comprehend how the elderly women recognize their "place" and "function" in the contemporary society; to identify if the participation in the Project Saúde, Bombeiros e Sociedade it has influence on the construction of new social roles and it plot a socioeconomic profile of the elderly participants of that project in the district of Henrique Jorge. Thus, the leading figures of this research are the elderly women participants of the project in the district of Henrique Jorge, at least a year ago. Therefore, it applied three types of inquiry: literature review, documentary and field search. It was used qualitative research mainly in order to apprehend the reality from the discourses of the subjects, in addition to sources numeric basically. It was applied the simple observation, questionnaires and semi-structured interviews as a technique for data gathering. To analyze the data collected it was chose an approach of Dialectical Hermeneutics. The central categories that based this work were: old age, aging, gender and social roles. It was observed throughout this study that the elderly women in contemporaneity exert countless and different social roles constructed and deconstructed culturally, and, in general way, they surprised to incorporate functions and places not belonging the female population group. Thus, they break cultural stigmas placed on them daily and going beyond the walls of the home environment and routine of crochet and knit. Keywords: Aging. Feminization of Aging. Social Roles. Old age. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 1 – Taxa de Natalidade...............................................................................18 Quadro 2 – Taxa de Mortalidade.............................................................................18 Quadro 3 – Crescimento Vegetativo ou Natural......................................................19 Gráfico 1 – Evolução da população de idosos/Brasil, Nordeste e Ceará..............26 Gráfico 2 – Ranking brasileiro da proporção de idosos em 1998...........................27 Gráfico 3 – Ranking brasileiro da proporção de idosos em 2008...........................27 Tabela 1 – Expectativa de vida ao nascer, por sexo e região demográfica.........39 Tabela 2 – Perfil dos Sujeitos da Pesquisa (%).....................................................47 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BM Brigada Militar CBMCE Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará CRAS Centro de Referência da Assistência Social CTDH Centro de Treinamento e Desenvolvimento Humano CV Crescimento Vegetativo ou Natural FaC Faculdade Cearense IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará ONU Organizações das Nações Unidas PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PSBS Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade SUS Sistema Único de Saúde. TM Taxa de Mortalidade TN Taxa bruta de Natalidade SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................12 1. ASPECTOS GERAIS SOBRE O ENVELHECIMENTO.........................................14 1.1 O fenômeno do envelhecimento no mundo: uma revolução demográfica.........14 1.1.1 Demograficamente falando: conceitos básicos para se compreender o fenômeno do envelhecimento....................................................................................15 1.2 Envelhecimento populacional brasileiro: conquistas e desafios.........................18 1.2.1 Conquistas a serem celebradas x Desafios a serem superados.....................19 1.2.1.1 As legislações de proteção ao idoso no Brasil...............................................21 1.2.1.1.1 Constituição da República Federativa do Brasil..........................................21 1.2.1.1.2 Política Nacional do Idoso...........................................................................23 1.2.1.1.3 Estatuto do Idoso.........................................................................................24 1.3 Envelhecimento em números: perfil dos idosos no Ceará...................................24 1.4 A construção cultural da identidade social da pessoa idosa...............................27 1.4.1 Formas de entender a velhice: natural e cultural..............................................27 2. PAPÉIS SOCIAIS: LUGARES E FUNÇÕES DA MULHER IDOSA.....................31 2.1 A categoria papel social sob a perspectiva sociológica.......................................31 2.1.1 Status ou Papel Social?....................................................................................34 2.1.2 Atribuído x Assumido........................................................................................35 2.2 Homem x Mulher: papel social como uma questão de gênero............................35 2.2.1 O fenômeno da feminização do envelhecimento..............................................38 2.3 As novas funções assumidas pela mulher idosa na contemporaneidade.........39 3. TRAJETÓRIA DA PESQUISA DE CAMPO E AS ANÁLISES..............................41 3.1 Metodologicamente falando.................................................................................41 3.2 Conhecendo o campo: Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade – PSBS.........44 3.3 Perfil dos sujeitos da pesquisa.............................................................................45 3.4 “Crochetando” e “Tricotando”: percepções das protagonistas deste estudo através das análises dos discursos............................................................................47 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................61 ANEXO.......................................................................................................................64 APÊNDICE.................................................................................................................68 12 INTRODUÇÃO O aumento da longevidade, atualmente, é percebido como um fenômeno mundial. Isso implica que a população idosa está crescendo em ritmo acelerado, causando importantes modificações demográficas, econômicas e sociais. O fato é que o contingente populacional de idosos, mesmo crescente, continua marginalizado e as diferenças quanto ao gênero só se intensificam, já que a experiência de envelhecer se processa de modo distinto para homens e para mulheres (BERZINS, 2003). Ao analisarmos o processo de envelhecimento é possível compreender a manifestação de outro fenômeno de caráter mundial: a feminização da velhice, onde as mulheres idosas representam o maior percentual do contingente de idosos. Berzins (2003) explica que “o recorte de gênero [...] é determinante inclusive do lugar que os idosos e as idosas ocupam na vida social” (BERZINS, 2003, p. 28). As mulheres, ao longo dos anos, exerceram importantes papéis sociais, construídos e desconstruídos culturalmente. Deste modo, o processo de envelhecimento é determinante para a construção de novos papéis sociais que podem se processar de forma assumida ou atribuída, a partir da interação indivíduo e sociedade. Nessa perspectiva, de um modo geral, este estudo objetivou-se a identificar os papéis sociais exercidos pelas idosas participantes do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade (PSBS), executado pelo Corpo de Bombeiros do Estado do Ceará (CBMCE), sob a perspectiva da feminização do envelhecimento na contemporaneidade, no núcleo Henrique Jorge. Inicialmente foram quatro os objetivos que nortearam este estudo: identificar as mudanças dos papéis sociais da mulher idosa ao longo do processo de envelhecimento; analisar a influência da feminização do envelhecimento na construção de novos papéis sociais; compreender como as idosas reconhecem seu “lugar” e “função” na sociedade contemporânea e identificar se a participação no Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade influência na construção de novos papéis sociais. Entretanto ao longo desta pesquisa, viu-se a importância de traçar um perfil socioeconômico das idosas participantes do projeto no núcleo Henrique Jorge. O interesse pela temática protagonista desta pesquisa surgiu lentamente e de forma progressiva, tal qual uma flor que floresce, mas que antes, precisa ser 13 semeada e regada, de sorte que todos possam apreciar sua beleza, textura e aroma. As sementes que motivaram o meu interesse pelo tema foram lançadas a partir de experiências pessoais com familiares que, apesar da idade, muito se destacam no meio em que vivem e rompem, dia a dia, com o estigma cultural, carregado de preconceitos, imposto a pessoa idosa. Durante o percurso acadêmico, mais precisamente na disciplina de Gerontologia1 – ministrada pela Professora Mariana Aderaldo – pude regar aquelas sementes outrora lançadas, onde a cada aula ministrada e a cada descoberta me cativei por esse mundo tão vasto. Entretanto, o meu jardim de motivações floresceu durante o período de estágio no Centro de Referência da Assistência Social – CRAS Couto Fernandes. Lá, estagiei por dois semestres, onde, a partir de então, entrei em contato com o Grupo de Idosos. Nesse espaço de tempo, elaborei e executei um Projeto de Intervenção2 acerca da quebra de vínculos familiares, e me aproximei ainda mais do universo do idoso, e das questões que norteiam o envelhecimento. O presente estudo apresentou três tipos de pesquisa: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e pesquisa de campo. Foi bibliográfica, pois desenvolveu-se “a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos [...]” (GIL, 2008, p. 50). Teve caráter documental, pois fezse uso de materiais que não receberam um tratamento minucioso, ou que ainda podem ser modificados de acordo com os objetivos da pesquisa, como bem diz Gil (2005). E foi de campo, pois, como explicita Oliveira (2002) consistiu na observação dos fatos tal como ocorrem, na coleta de dados e no registro de variáveis para análises futuras. A pesquisa realizada foi de natureza qualitativa, pois trabalhou “com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos [...]” (MINAYO, 2002, p. 22). Entretanto optou-se também, por alguns dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outras fontes, 1 Disciplina cursada durante o 6º período. Projeto de Intervenção intitulado: “Idoso e suas relações familiares”. Elaborado e executado durante as disciplinas de Estágio II e Estágio III, respectivamente, ministradas pela professora Virzângela Paula Sandy Mendes, durante o 6º e 7º período de curso. 2 14 essencialmente numéricas e/ou estatísticas, a fim de enriquecer ainda mais esta pesquisa. Como técnica para a coleta de dados, utilizou-se a aplicação de questionários para obtenção de respostas mais rápidas e precisa (LAKATOS e MARCONI, 2003) e entrevistas semiestruturadas, possibilitando ao entrevistado uma maior liberdade em seu discurso. O presente estudo utilizou-se do método dialético que “fornece bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, já que estabelece que os fatos sociais não podem ser entendidos quando considerados isoladamente”, consoante Gil (2005). De modo específico aproximou-se da Hermenêutica Dialética, sob a ótica de Minayo (2002). O primeiro capítulo, que tem como título Aspectos gerais sobre o envelhecimento, aborda o envelhecimento e suas questões partindo do geral para o particular, permitindo ao leitor uma viagem ao mundo, Brasil e Ceará. Tal capítulo refere ainda à discussão dos seguintes conceitos: a construção cultural da identidade social da pessoa idosa, velhice natural e velhice cultural, e conquistas e desafios a serem celebradas. O segundo capítulo intitulado Papéis sociais: lugares e funções da mulher idosa refere-se a categoria papel social sob a perspectiva sociológica. Discute o papel social como relação entre indivíduo e sociedade e aborda realidade da mulher idosa, como as novas funções assumidas na contemporaneidade, trazendo conceitos importantes como a feminização do envelhecimento. Além de abordar o papel social como uma questão de gênero, o que de fato é. Partindo dessa abordagem o terceiro capítulo, Trajetória da pesquisa e as análises, apresenta em seu corpo a metodologia utilizada – o tipo de pesquisa, instrumentos de coletas de dados, o cenário, a amostra, o perfil dos sujeitos – e as análises. Neste momento é possível verificar uma análise mais profunda das categorias envelhecimento, velhice, papéis sociais e contemplar os discursos dos sujeitos da pesquisa. 15 1. ASPECTOS GERAIS SOBRE O ENVELHECIMENTO 1.1 O fenômeno do envelhecimento no mundo: uma revolução demográfica O aumento da longevidade, atualmente, é percebido como um fenômeno recorrente em todo o mundo, isso implica que a população maior de sessenta anos esta crescendo rapidamente e que em termos gerais o mundo esta se tornando velho, pois o aumento da longevidade deixa de ser uma característica exclusiva de países desenvolvidos. O fato é que o fenômeno do envelhecimento mundial se mostra de formas diferentes em diversos países do mundo, como explicita Veras (2003): [...] No bloco dos chamados países desenvolvidos, tal processo se deu de forma lenta, ao longo de mais de cem anos [...] Já no grupo dos países chamados em desenvolvimento, tendo o Brasil como exemplo, este processo se caracteriza pela rapidez com que o aumento absoluto e relativo das populações adulta e idosa modificou a pirâmide populacional [...] (VERAS, 2003, p. 6). O envelhecimento mundial representa não só um processo onde o aumento da longevidade ocorre de modo contínuo, mas também implica na redução das taxas de fecundidade. Dois fatores principais podem ser considerados para a projeção do fenômeno do envelhecimento. O primeiro diz respeito, as mudanças gerais na área da saúde da população, proporcionando uma melhor qualidade de vida e consequentemente o aumento da longevidade. O segundo representa a redução das taxas de fecundidade e natalidade, ocasionada pelas mudanças relativas ao papel social que a mulher exerce na contemporaneidade e a popularização dos métodos anticoncepcionais, como afirmam Coimbra e Tibúrcio (2006). No que diz respeito à saúde, torna-se de suma importância destacar o movimento da Reforma Sanitária3 (1976 a 1988), que com muitos esforços e diversas lutas, obteve o reconhecimento da saúde como direito social 4, pela primeira vez em uma Constituição, como descreve Paim (2009). Em longo prazo essa conquista – que antecedeu o Sistema Único de Saúde - SUS – representou e 3 4 Para um maior aprofundamento consultar O que é o SUS (2009) de PAIM, Jairnilson Silva. Artigo 196 da Constituição da República Federativa do Brasil (1988) 16 representa avanços inigualáveis no campo da saúde, garantido acesso universal e igualitário – pelo menos é assim que prevê a Constituição Federal. A mulher, por sua vez, galgou grande espaço social ao entrar no mercado de trabalho, entretanto acabou por ter um acúmulo de funções – a chamada dupla jornada de trabalho, como ressalta Coimbra e Tibúrcio (2006). Estes afirmam ainda que: “[...] a diminuição da fertilidade está associada à conscientização dos deveres e custos de se criar um filho e ao uso de anticoncepcionais” (COIMBRA e TIBÚRCIO, 2006, p. 481). Com distintas e cansativas obrigações a maternidade ocorre de forma mais planejada e tardia e consequentemente as taxas de fecundidade tendem a cair ainda mais. De acordo com as Organizações das Nações Unidas - ONU as projeções para o ano de 2050 apontam para um contínuo declínio das taxas de fertilidade total – cerca de 2 filhos por mulher – enquanto que em 1980 essa taxa era de quase 4 filhos por mulher. Este conjunto de fatores justifica o fenômeno do envelhecimento mundial, onde ocorre a diminuição da população jovem (quedas nas taxas de fecundidade e ou/natalidade) e o aumento da população idosa (longevidade) resultando em um processo chamado de revolução demográfica. 1.1.1Demograficamente falando: conceitos básicos para se compreender o fenômeno do envelhecimento. Para se entender o fenômeno do envelhecendo do ponto de vista demográfico, torna-se importante conhecer alguns conceitos básicos – de forma simples e objetiva – que norteiam o envelhecimento populacional mundial. São estes: taxa de natalidade (TN), taxa de fecundidade, taxa de mortalidade (TM), envelhecimento populacional, crescimento natural ou vegetativo (CV) e transição demográfica. A taxa de natalidade é obtida pela razão entre o número de nascidos e a população total, como explicam Coimbra e Tibúrcio (2006, p. 474): “[...] a relação existente entre o número de nascimentos em um ano com relação à população total”. A fórmula utilizada para o cálculo da taxa de natalidade está descrita no quadro1: 17 QUADRO 1 – Taxa de Natalidade TN (%ₒ) = x 1.000 Fonte: Geografia: Uma análise do Espaço Geográfico. 2006. Nos termos de Coimbra e Tibúrcio (2006), o número de nascidos por mulher em idade reprodutiva (dos 15 aos 49 anos) representa a taxa de fecundidade. Esta ainda pode ser elencada de forma total – taxa de fecundidade total – correspondendo “ao número médio de filhos por mulheres nesse intervalo de idade” (COIMBRA e TIBÚRCIO, 2006, p. 474). A taxa de mortalidade é explicitada pelo quadro seguinte: QUADRO 2 – Taxa de Mortalidade TM (%ₒ) = x 1.000 Fonte: Geografia: Uma análise do Espaço Geográfico. 2006. Através da fórmula descrita no quadro 2 é possível verificar os números de óbitos, durante um ano em relação à população total (COIMBRA e TIBÚRCIO, 2006). Esse cálculo permite identificar a razão entra o número de óbitos e a totalidade populacional. O envelhecimento populacional representa o crescimento da população idosa, em relação à população total, como diz Berzins (2003): Em demografia, entende-se por envelhecimento populacional o processo de crescimento da população considerada idosa em uma dimensão tal que, de forma sustentada, amplia-se a sua participação relativa no total da população [...] (BERZINS, 2003, p. 22). Trata-se aqui, da razão entre a população idosa e a população jovem. Para os estudiosos se o percentual da população idosa oscilar entre 8% e 10% da população total, esta é considerada envelhecida. (BERZINS, 2003). Assim, a população idosa brasileira, que cresce de modo acelerado, supera a população jovem. A população mundial está envelhecendo num ritmo muito acentuado e sem precedentes na história da humanidade. Estima-se que a população mundial de idosos seja de 629 milhões de pessoas com um crescimento 18 anual da taxa de 2%, ritmo este consideravelmente mais alto em relação ao resto da população e três vezes mais do que há 50 anos. Até pouco tempo o envelhecimento populacional era encarado como algo sendo específico dos países desenvolvidos. (BERZINS, 2003, p. 22). O Crescimento natural ou vegetativo “[...] é a diferença positiva entre as taxas de natalidade e mortalidade” (VESENTINI, 2006, p. 183). Nos termos de Coimbra e Tibúrcio (2006), o crescimento natural ou vegetativo é o “saldo obtido entre as taxas de natalidade e de mortalidade” (COIMBRA e TIBÚRCIO, 2006, p. 474), como descreve o quadro abaixo: QUADRO 3 – CRESCIMENTO VEGETATIVO OU NATURAL CV = TN - TM Fonte: Geografia: Uma análise do Espaço Geográfico. 2006. Por fim, o processo de transição demográfica ou revolução demográfica é caracterizado pela diminuição da taxa de mortalidade, seguida da diminuição da taxa de fecundidade, ocasionando a redução da população jovem e o aumento da população idosa, como afirma Coimbra e Tibúrcio (2006). Estes conceitos demográficos são extremamente importantes para o entendimento do processo de envelhecimento com fenômeno mundial. Processo tal, que não se refere apenas à longevidade – no sentido de aumento da expectativa de vida – entretanto utiliza-se de uma somatória de fatores e conceitos, que determinam o envelhecimento como um fenômeno. 1.2 Envelhecimento populacional brasileiro: conquistas e desafios. Baseado em dados recentes, pode-se afirmar que nunca a faixa etária dos idosos no Brasil apontou tanto para a longevidade. O fenômeno do envelhecimento deve-se ao fato de que os idosos estão vivendo cada vez mais e que há um significativo declínio nas taxas de fecundidade. Isso implica em grandes repercussões econômicas e sociais, onde o Brasil, nesse aspecto, está prestes a se equiparar a países de primeiro mundo. 19 O processo de transição demográfica que em poucas décadas mudou o padrão de fecundidade feminina brasileira provocou forte desaceleração na taxa de crescimento demográfico do país. A queda de fecundidade, iniciada em meados da década de 1960 e intensificada nas duas seguintes, continuou em 1990 de forma moderada. Em 1984, a taxa de fecundidade estava em 3,5. Em 1991, reduziu para 2,6 e a de 1999 estava em 2,3. (BERZINS, 2003, p. 25, grifo nosso). A pirâmide etária brasileira sofreu importantes modificações ao longo dos anos, apontando para uma desaceleração do crescimento populacional. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2008, a tendência é que em 2030 o Brasil apresente uma população superdesenvolvida, como o Japão, por exemplo. Esse tema foi e é palco de inúmeras discussões que se objetivam a compreender o universo da terceira idade, seus desafios e conquistas. As conquistas se referem ao aumento da expectativa de vida. Os desafios são muitos, mas se resumem a promover um envelhecimento ativo, como afirma Berzins (2003). 1.2.1 Conquistas a serem celebradas x Desafios a serem superados O aumento da longevidade representa uma conquista ímpar a ser celebrada. A população idosa aos poucos está garantindo seu espaço quer sejam nas legislações quer sejam na efetivação dos direitos sociais. O fato é que o mundo, de um modo geral, abriga um fenômeno que só tende a aumentar. O aumento da longevidade é um fato e deve ser reconhecido como uma conquista social resultado principalmente da evolução da medicina e da cobertura dos serviços de saúde entre outros fatores, mas deve também ser visto como um desafio, não só para os governos, mas para a própria sociedade e para as famílias. (IPECE, 2009, p. 6) Inúmeros são os desafios no tocante ao fenômeno do envelhecimento, principalmente no Brasil. O fato é que a população idosa se encontra completamente desprotegida e as legislações – como o Estatuto do Idoso – não são capazes de garantir todos os direitos que lhe são devidos. “Ocorre que o fenômeno do envelhecimento com toda sua pujança e necessidades, se dá nesse contexto desfavorável à proteção social pública” (PEREIRA, 2005, p. 3). Cabe aqui destacar principalmente o não compromisso por parte dos governantes brasileiros e consequentemente a não efetivação dos direitos sociais 20 (PEREIRA, 2005). Este constitui o principal desafio a ser superado pelo contingente da população idosa e da sociedade de um modo geral. [...] os governos têm diminuído o seu compromisso [...] elevando a idade para o acesso a aposentadorias, seja aumentando a carga tributária dos contribuintes ou, ainda reduzindo o raio de proteção social pública, optado por políticas sociais focalizadas [...] (PEREIRA, 2005, p. 4). A população idosa tende a ser materialmente menos favorecida em comparação a outros segmentos populacionais, como afirma Pereira (2005). “A aposentadoria provoca queda de rendimentos [...] Além disso, é o segmento que mais sofre com a inflação” (PEREIRA, 2005, p. 6-7). Deste modo, chegar à terceira idade significa vivenciar transformações não só físicas e sociais, mas também econômicas. Nota-se que mesmo com o apoio de legislações e políticas há uma falha nas execuções e nas garantias dos direitos. Faz-se necessário uma maior mobilização social que garanta uma efetividade das leis. Desta forma torna-se importante uma articulada mobilização política à defesa dos direitos dos idosos. O fato é que, as leis existem, entretanto são falhas e na grande maioria das vezes não executadas. Veras (2003), acerca do crescimento da população idosa, explica que: Para enfrentar este crescimento esperado da população de idosos será necessário que se invista em várias frentes. A questão social do idoso, face à sua dimensão, exige uma política ampla e articulada entre os vários órgãos de governo e organizações não governamentais [...] (VERAS, 2003). O fato é que o Brasil não está preparado para atender às necessidades geradas pelo fenômeno do envelhecimento, tampouco articula políticas públicas capazes de suprir essa parcela população. O que gerará cada vez mais uma exclusão social, já que a sociedade, de um modo geral, se mostra culturamente alienada, a ponto de marginalizar e inferiorizar a pessoa idosa. 1.2.1.1 As legislações de proteção ao idoso no Brasil Com o rápido envelhecimento da população, torna-se necessário uma maior articulação de políticas assistenciais direcionadas ao idoso, de modo que 21 sejam garantidos efetivamente todos os direitos necessários – validados por leis – à um envelhecimento saudável e uma maior qualidade de vida. Conquistas, nesse sentido, evidenciam-se principalmente através das seguintes legislações: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Política Nacional do Idoso de 1994 e Estatuto do Idoso de 2003. O processo de elaboração da Constituição de 1988 possibilitou a participação efetiva da sociedade e culminou na garantia da elaboração de diversas leis que vieram atender expectativas demandadas pelos mais diversos segmentos sociais. (BRUNO, 2003, p. 78, grifo nosso). A Constituição Federal (1988) representou e representa um salto no atendimento às necessidades da população idosa e sua formulação ao longo dos anos impulsionou a construção de legislações mais específicas, particulares á terceira idade, como por exemplo, a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso. Torna-se imprescindível que o Brasil crie mecanismos de modo que, a sociedade se adapte ao crescimento do número de idosos. Crescimento tal, que não ira se estancar, pelo contrário, a tendência, segundo a PNAD 2008, é que o Brasil se torne superdesenvolvido até 2030. As legislações que garantem direitos aos idosos são, sem dúvida nenhuma, grandes avanços, mas ao mesmo tempo são complexos desafios. Faz-se necessário a repercussão da efetivação dos direitos sociais e uma ampliação e efetivação de políticas públicas voltadas para essa parcela da população tão excluída e estigmatizada. 1.2.1.1.1 Constituição da República Federativa Do Brasil A Constituição Federal de 1988 – Art. 1º, incisos I, II, III, IV e V – assegura os seguintes fundamentos: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Desta forma, são perceptíveis fundamentos generalizados e aplicados a todos, sem distinção, como afirma o Art. 3º, inciso IV que diz: “promover o bem a todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (BRASIL, 2010, grifo nosso). 22 Nota-se, através dos artigos citados anteriormente, que todo cidadão brasileiro está amparado por lei e tem seus direitos assegurados (CIELO E VAZ, 2009). Assim, em seus fundamentos e objetos fundamentais a Constituição se expressa livre de preconceitos ou qualquer forma de exclusão, abrangendo também os cidadãos idosos. A Constituição da República Federativa do Brasil promove garantias ao idoso sob a perspectiva de amparo e direito a vida, de forma mais específica. Vejamos: Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. Parágrafo 1º - Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. Parágrafo 2º - Aos Maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade nos transportes coletivos urbanos. (BRASIL, 2010). Trata-se aqui de artigos que dão ênfase ao público idoso e asseguram-lhe amparo familiar, social e estatal. É importante afirmar que a participação comunitária também recebeu destaque, sendo pontuada no Art. 230. Isso implica que o bemestar da pessoa idosa, vai além da saúde física e do contato familiar, exige uma inclusão social através de uma participação comunitária ativa. A realidade brasileira sempre marginalizou essa parcela da população, que nem sempre foi tão significativa, O idoso quase sempre não é tratado como cidadão, a realidade obrigou o constituinte a ser bem claro no texto, estabelecendo meios legais para que o mesmo deixe de ser discriminado e receba o tratamento que lhe é devido. (CIELO e VAZ, 2009, p. 35). No que se refere à assistência social a Constituição garante ao idoso no Art. 203, inciso V, um salário mínimo de benefício mensal, sob a condição de não possuir meios de prover à própria manutenção ou ser provida por seus familiares. A Constituição Federal do Brasil foi um salto no que diz respeito aos direitos da pessoa idosa e impulsionou novas legislações de caráter específico, é o caso da Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso, abordadas nos subitens a seguir. 23 1.2.1.1.2 Política Nacional do Idoso A promoção da longevidade e da qualidade de vida do idoso é o objetivo da Política Nacional do Idoso5, e define as competências das entidades envolvidas no processo, bem como os órgãos públicos. Deste modo faz-se necessário uma articulação entre a família do idoso, a sociedade, bem como o Estado. Estabelecese no Artigo 3º que: I – a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida; II – o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos; III – o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza; (POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO, 1996). Esta lei é fruto das mobilizações sociais, sendo uma resposta aos inúmeros debates ocorridos ao longo dos anos, como apontam Cielo e Vaz (2009): [...] resultado de inúmeros debates e consultas ocorridas nos Estados e Municípios, nos quais participaram idosos em plena atividade, aposentados, educadores, profissionais da área de gerontologia e geriatria e várias entidades representativas desse seguimento, que elaboraram um documento que se transformou no texto base da lei. (CIELO E VAZ, 2009, p. 38, grifo nosso). A Política Nacional do Idoso, ainda é bastante desconhecida e seus objetivos assegurados no Art. 1º - assegurar os direitos sociais ao idoso, criando condições par promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade – não são efetivados. O que se percebe é uma enorme distância entre as leis e suas efetivações, este constitui um dos maiores – senão o maior – problemas e desafios sociais a serem superados. 1.2.1.1.3 Estatuto do Idoso O Estatuto do Idoso6 tem em seu eixo central a proteção integral garantindo aos idosos todos os direitos fundamentais, assegurando-lhes todas as 5 6 Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003. 24 necessidades básicas como: direito à vida, liberdade, respeito e dignidade, alimentos e etc. (ESTATUTO DO IDOSO, 2003). Essa lei se constitui com uma forma de afirmar a Política Nacional do Idoso, como diz Bruno (2003): [...] além de ratificar os direitos demarcados pela Política Nacional do Idoso, acrescenta novos dispositivos e cria mecanismos para coibir a discriminação contra os sujeitos idosos. Prevê penas de crimes de maus-tratos de idosos e concessão de vários benefícios. Consolida os direitos já assegurados na Constituição federal, tentando sobretudo proteger o idoso em situação de risco social. (BRUNO, 2003, p. 79, grifo nosso). O Estatuto do Idoso apresenta uma difusão maior do que a Política Nacional de Idoso que o antecedeu, entretanto o Brasil se estanca no que diz respeito efetivações, deste modo os direitos sociais garantidos, ficam na grande maioria das vezes só no papel. 1.3 Envelhecimento em números: perfil dos idosos no Ceará. Considerando a evolução do envelhecimento no Ceará percebe-se um constante aumento do número de idosos, não contrariando a realidade brasileira e mundial. O Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPECE, que ao longo dos anos desenvolve a divulgação uma série de estudos, apresenta diversas características da população idosa cearense “[...] abordando a representatividade dessa população no estado por gênero, situação geográfica, faixa etária, além de aspectos relativos ao idoso na família, educacionais [...]”. Através desses estudos, elaborados a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de PNAD do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, é possível compreender a realidade do fenômeno do envelhecimento no Ceará em números. Deste modo, este tópico terá como base o texto para discussão de nº 80, publicado pelo IPECE e de autoria de Raquel Sales, Eveline Barbosa e Jimmy Oliveira, que trata do perfil do idoso no Ceará – 1998 a 2008, além de dados mais recentes fornecidos diretamente pelo IBGE e PNAD. O fenômeno do envelhecimento no Ceará ocorreu de forma significativa e ascendente, 25 Segundo os dados da PNAD de 2008, existem 914.514 idosos no Ceará o que representa 10,8% da população residente do Estado. Em relação a 1998 houve um crescimento de 48,6% na população de idosos o que representa um crescimento significativo dessa população. (IPECE, 2009, p. 6). O gráfico 1 apresenta, de forma evolutiva e comparativa, o número de idosos no Brasil, Nordeste e Ceará durante um período de dez anos (1998 a 2008). Percebe-se que tanto no Brasil, quanto no Nordeste e Ceará há um número crescente, ou seja, o número de idosos só aumentou nesse período. GRÁFICO 1 – Evolução da População de Idosos / Brasil, Nordeste e Ceará (1998 – 2008). Fonte: PNAD 1998 a 2008. Percebe-se que o Brasil é um país em processo de envelhecimento, como demonstra o gráfico 1, exposto anteriormente. Especificamente, o estado do Ceará apresentou uma população de 914.514 idosos em 2008, consideravelmente superior aos dados de 1998. (IPECE, 2009). A proporção de idosos no Ceará em 1998 foi de 8,81 – o que o coloca em 6º lugar – ficando atrás apenas do Rio de Janeiro, Paraíba, Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. Em 2008 a população de idosos aumentou para 10,85, entretanto, no ranking brasileiro, a proporção de idosos apresenta um declínio, ficando na 10ª posição. Como é possível perceber no gráfico a seguir: 26 GRÁFICO 2 – Ranking brasileiro da proporção de idosos em 2008. Fonte: PNAD 2008. No Nordeste, conforme dados de 2008, o Ceará ocupa a 3ª posição no ranking com 10,85 de proporção de idosos, ficando atrás apenas da Paraíba e do Piauí, como é possível perceber no Gráfico 3. Deste modo fica evidente que o fenômeno do envelhecimento além de ser uma realidade brasileira, pertence particularmente ao Ceará, que têm sua população de idosos em constante ascensão. GRÁFICO 3 – Ranking Nordeste - Proporção de idosos em 2008. Fonte: PNAD 2008 No que diz respeito ao gênero, percebe-se que a razão entre os sexos deste contingente populacional é bastante diferenciada, “sendo maior o número de mulheres idosas, o que corrobora a hipótese de que as mulheres vivem mais do que os homens” (IPECE, 2009, p. 13). No Ceará, em 1988 os homens idosos representavam 283.811 enquanto que as idosas somavam 335.106. Dez anos depois, os homens idosos totalizavam 404.566 e as mulheres idosas 514.948, consoantes dados da PNAD 1998 e 2008. 27 Assim, de forma alguma a velhice se restringe a países de primeiro mundo. Nesta perspectiva Menezes salienta que: “[...] a velhice, que sempre fora jogada para debaixo do tapete durante quase toda a história, ganha notoriedade a partir de agora e deve se manter como tema de estudo permanente e pauta da agenda pública nacional” (MENEZES, 2012, p. 96). 1.4 A construção cultural da identidade social da pessoa idosa. Apesar do advento da longevidade populacional, culturamente o processo de envelhecimento ainda é carregado de aspectos negativos. A sociedade ao longo dos anos estigmatizou a velhice de tal forma que envelhecer não é percebido e/ou vivenciado como um processo natural da vida. Desta forma todos querem viver muito, entretanto ninguém quer envelhecer (SCHNEIDER e IRIGARAY, 2008). Ficar velho se tornou uma perda imensurável e acima de tudo é uma condição de limitações, dependências e perdas impostas pela sociedade e desenhadas culturalmente ao longo dos anos. Para a compreensão da construção cultural da identidade da pessoa idosa faz-se necessários abordar alguns conceitos – que neste caso se apresentam de modo intrínseco: cultura e identidade. O primeiro compreende aspectos tangíveis e intangíveis, como afirma Giddens (2005). Já o segundo refere-se “as características que os outros atribuem a um indivíduo. Estas podem ser vistas como marcadores que indicam, de um modo geral, quem a pessoa é” (GIDDENS, 2005, p. 29). 1.4.1 Formas de entender a velhice: natural e cultural A identidade do idoso, como afirma Mercadante, é construída ao mesmo tempo sob dois aspectos: natural e cultural. [...] É natural e, portanto, universal se apreendida como um fenômeno biológico, mas é também imediatamente um fato cultural na medida em que é revestida de conteúdos simbólicos. São esses conteúdos que informam as ações e as representações dos sujeitos. (MERCADANTE, 2003, p. 56). 28 Tomando por base a velhice natural torna-se importante compreender o conjunto de transformações biológicas – do ponto de vista científico7 – que envolvem a pessoa idosa. Estas se materializam nas alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas (CARVALHO FILHO, 1996). Tais alterações8 ocorrem ao longo dos anos, constituindo assim um processo natural que caracteriza o envelhecimento. As mudanças e as perdas fazem parte do envelhecimento. [...] a pele fica mais fina e friável, menos elástica e com menos oleosidade. A visão também declina [...] A audição diminui ao longo dos anos [...] Com o envelhecimento, o peso e o volume do encéfalo diminuem por perda de neurônios, mas, apesar desta redução, as funções mentais permanecem preservadas até o final da vida. (COSTA & PEREIRA, 2005 apud SCHINEIDER, IRIGARAY, 2008, p. 590). As transformações biológicas representam diversas mudanças no organismo, como por exemplo, envelhecimento das células e tecidos, alterações de peso e estatura, mudanças no sistema cardiovascular e muitas outras, como afirma Carvalho Filho (1996). Esse conjunto peculiar do processo de envelhecimento vai produzir algumas perdas e gerar adaptações à nova realidade biológica, além de gerar um quadro clínico mais instável e suscetível às doenças. Na perspectiva de Mercadante, a velhice cultural é aquela que é construída socialmente, ao longo dos anos e é posta como algo contrário à identidade jovem. No modelo social de velho, as qualidade a ele atribuídas são estigmatizadoras e contrapostas às atribuídas aos jovens. Assim sendo, qualidades como atividade, produtividade, memória, beleza e força são características e presentes no corpo dos indivíduos jovens e as qualidades opostas a estas presentes no corpo dos idosos. (MERCADANTE, 2003, p.56, grifo nosso). Culturalmente a pessoa idosa é excluída de vários lugares sociais9 – principalmente os relativos aos setores produtivos10. Essa identidade dada ao idoso foi e é construída em diversos períodos históricos e em diferentes sociedades, de 7 Refiro-me aqui a transformações físicas, pautadas pela Medicina. Acerca disto consultar PAPALÉO NETTO, 1996. 9 Papéis sociais. Neste caso o mundo do trabalho. 10 Se tomarmos por base a ontologia do ser social, na percepção de que se manifesta através das relações de trabalho, o idoso ao ser excluído desse processo, deixa de ser um ser social. “Portanto, o trabalho enquanto criador de valores de uso, coisas úteis, forma de intercâmbio entre o ser social e a natureza não pode extinguirse do universo da sociabilidade humana [...]” (SANTOS, 2005, p. 49). 8 29 acordo com Mercadante (1996). É atribuída à velhice características negativas provenientes de uma cultura social fundamentada em preconceitos. Aqui, para pontuar melhor a identidade social da pessoa idosa, torna-se importante enfatizar a diferenciação entre velhice e envelhecimento. Consoante Schneider e Irigaray (2008) existem diversas formas de se definir e conceituar a velhice. Uma delas é a definição da Organização Mundial de Saúde, fundamentada na idade cronológica. Já para San Martín e Pastor (1996), não há um consenso, tendo em vista que a vida do indivíduo não se resume apenas pela simples cronologia, deste modo o tempo vivido de forma alguma tem propriedade para definir o termo velhice (SAN MARTIR e PASTOR, 1996 apud SHINEIDER e IRIGARAY, 2008). O fato é que pode haver velhos jovens e vice-versa, já que existe um conjunto de fatores que definem a velhice. Schneider e Irigaray (2008) afirmam que, [...] pelas condições físicas, funcionais, mentais e de saúde das pessoas, o que equivale a firmar que podem ser observadas diferentes idades biológicas e subjetivas em indivíduos com mesma idade cronológica. (SCHNEIDER E IRIGARAY, 2008, p. 589). Nesta perspectiva, a compreensão de velhice, em nossa sociedade, diz respeito à exclusão ou no mínimo uma desvalorização, considerando o idoso como ser improdutivo e sem participação ativa na vida social. Assim a partir da argumentação precedente, uma primeira avaliação do significado de ser velho, na nossa cultura, deve, sem dúvida, levar em conta a análise do mundo econômico, do trabalho, das ideias de produtividade/improdutividade e como esses mesmos elementos são simbolicamente constituídos para os sujeitos – velhos, não velhos, homens, mulheres, classes sociais, etc. – que vivem na sociedade. (PAPALÉO NETTO, 1996, p. 5). O envelhecimento é um processo irreversível, que se inscreve no tempo, e pertence a todas as etapas da vida e não somente última, como afirma Messy (2003). Assim, todos – sem exceção – fazemos parte deste processo e envelhecemos todos os dias, desde o nascimento. Já a velhice é um estado característico do idoso. (MESSY, 2003). Ser idoso – com idade igual ou superior a sessenta anos11 – é ser considerado um fardo social e econômico. 11 Assim prevê o Art. 1º da Lei Nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 – Estatuto do Idoso. 30 A sociedade moderna encontra-se hoje diante de uma situação contraditória: de um lado, defronta-se com o crescimento massivo da população de idosos, fruto do aumento da expectativa média de vida da raça humana, e, de outro, se omite ou adota mesmo atitudes preconceituosas sobre o velho e a velhice, retardando destarte a implementação de medidas que visão minorar o pesado fardo dos que ingressaram na terceira idade. (PAPALÉO NETTO, 1996, p. 9). Essa visão cultural, onde a pessoa idosa é percebida como um peso, se expressa na sociedade em geral e também no ambiente familiar, tendo em vista que, na maioria das vezes o idoso não é compreendido em suas limitações, tampouco recebe os cuidados necessários. Em boa parte dos casos ocorre a agressão física, que traz sérias consequências físicas e emocionais, podendo até levar a morte, como descreve Minayo (2005). “A vitimização desse grupo social, no entanto, é um problema cultural de raízes seculares e suas manifestações são facilmente reconhecidas” (MINAYO, 2005, p. 16). O Fato é que, houve grandes e importantes mudanças, no que diz respeito à resposta pública à categoria velhice. Tais mudanças caracterizam hoje a velhice como questão social, bem como diz Santos (2005): [...] na antiguidade e, até bem pouco tempo, a questão da velhice era “problema” da família e não um problema social. Não havia, portanto, uma resposta pública para o grande contingente de velhos que perambulava pelas ruas ou morria dentro da casa. Hoje, já se pode vislumbrar um novo encaminhamento político em relação à velhice, agora tratada como uma questão social que a todos afeta e que tem mobilizado instâncias públicas, privadas, governo, empresas, ONG’s, voluntariado e a família, em busca de novos caminhos e novos conceitos para a questão (SANTOS, 2005, p. 105). Nesta perspectiva, tornar-se velho em uma sociedade com tanto problemas sociais, econômicos e estruturais constitui-se em um enorme desafio para os indivíduos, para o conjunto da sociedade e para o Estado, no sentido de oferecer condições qualificadas para o prolongamento da vida (RODRIGUES e RAUTH, 2006). 31 2. PAPÉIS SOCIAIS: LUGARES E FUNÇÕES DA MULHER IDOSA 2.1 A categoria papel social sob a perspectiva sociológica Na sociedade – em todas as épocas – o homem assume diversos papéis ao longo de sua existência. Tais papéis tem poder caracterizante, e se portam como um rótulo que acompanha o indivíduo. Torna-se de suma importância compreender a categoria papel social como ponte principal para o entendimento dos lugares e funções ocupados pela a mulher idosa na contemporaneidade. Nesta perspectiva, este tópico, se propõe a relembrar aspectos e conceitos sociológicos de importantes autores, de forma simples e objetiva, que ao longo dos anos denominaram e caracterizaram a categoria papel social. O objeto da sociologia, como expressa Soares (2010, p. 88), “deve ser procurado no espaço de entrecruzamento do homem e da sociedade, na mediação que se estabelece entre o homem e o mundo”. Deste modo a sociologia ocupa-se das relações entre indivíduo e sociedade, homem e mundo. A dificuldade durante muitos anos foi explicar o ponto de interseção dado entre o indivíduo e a sociedade. (SOARES, 2010). Acerca disso Dahrendorf (1969) explica que: [...] o problema da sociologia é encontrar esse ponto onde os elementos básicos das relações sociais (indivíduo e sociedade) estão em sua forma pura e começam a relacionar-se. Este ponto é nomeado pelo autor de “fato irritante” ou, de maneira mais rebuscada, “papéis sociais”. (DAHRENDORF apud SOARES, 2010, p. 88, grifo nosso). Émile Durkheim, em “As regras do método sociológico” (1984) já apontava indícios iniciais e discretos da relação entre indivíduo sociedade. Nesta obra construiu o objeto da eminente ciência social: os fatos sociais. (SOARES, 2010). Deste modo, Durkheim (1984) se detém então a explicar o seu objeto sociológico: Quando desempenho meus deveres de irmão de esposo ou cidadão, quando me desincumbo de encargos que contraí, pratico deveres que estão definidos fora de mim e de meus atos, no direito e nos costumes. Mesmo estando de acordo com os sentimentos que me são próprios, sentindo-lhes interiormente a realidade, esta não deixa de ser objetiva; pois não fui eu que os estabeleci, antes os recebi pela educação. (DURKHEIM, 1984, p. 29 apud SOARES, 2010, p. 88-89). 32 Dahrendorf (1969), a partir destas ideias, solucionou o problema do objeto de estudo da sociologia, como afirma Soares (2010): “defendendo que os papeis sociais são o ponto de aderência ente as abstrações indivíduo e sociedade” (SOARES, 2010, p. 89). [...] Esses elementos, ao entrarem em contato, transformam-se a si mesmos 12 e o indivíduo global passa a ser o homo sociologicus habitado por papéis sociais atribuídos pela sociedade. Assim, o “homem puro” converte-se em algo significante para a sociologia quando assume lugar e função importantes na sociedade, ou seja, quando ele próprio assiste ao nascimento do homo sociologicus. (SOARES, 2010, p. 89) Soares (2010), em sua dissertação – “A cadeira de balanço está vazia: os papéis sociais dos idosos participantes de grupos de convivência na cidade de Fortaleza” – refere-se a categoria papel social, ao exemplificar as possíveis posições que um homem idoso pode assumir. A autora afirma: “[...] nessa exemplificação, observamos que aquele homem possui não só a posição de avô, mas antes a posição de “ser idoso” em uma determinada sociedade [...] ”. Deste modo, identificar um único papel social não determina de forma geral aquele individuo, pelo contrário, já que este é capaz de assumir diferentes papéis ao longo de sua existência. [...] saber apenas uma posição social que o indivíduo ocupa nem sempre revela todas as pistas necessárias ao entendimento global deste ser, visto que cada homo sociologicus – assim como o ator – pode assumir uma multiplicidade de papéis. Mas apesar disso, ela nos esclarece o que as pessoas fazem no seu cotidiano ou, pelo menos, deveriam fazer. (SOARES, 2010, p. 92). Desta forma os papéis sociais, que se constituem um objeto de estudo sociológico, condicionam e orientam o comportamento de cada indivíduo de modo que através da socialização são capazes de aprender e desempenhar novos papéis, como explicita Giddens (2005). Compreender o processo cultural também é imprescindível para o entendimento da relação individuo e sociedade e por sua vez para a compreensão das construções e desconstruções dos papéis sociais. Ferreira (2003), acerca da construção cultural e da civilização, afirma que: 12 Termo utilizado por Dahrendorf. “[...] ‘o homem puro’ converte-se em algo significante para a sociologia quando assume lugar e função importantes na sociedade, ou seja, quando ele próprio assiste ao nascimento do homo sociologicus”. (SOARES, 2010, p. 89). 33 Esse processo civilizador milenar só poderia ocorrer em grupo, em sociedade. E seu produto é o que pode ser denominado de cultura. O homem, ao conhecer, compartilhar e registrar o produto de sua atividade pensante cria cultura. Existe um longo fio processual, que foi tecido pela capacidade cognitiva humana ao longo da História, a unir em uma totalidade cheia de sentido as naves espaciais controladas por redes computacionais de um homem das cavernas. Somos, não existem mais dúvida, seres socioculturais. (FERREIRA, 2003, p. 28, grifo nosso). Torna-se claro que o processo de civilização – que ocorre em grupo e/ou sociedade – produz uma evolução cultural através das inúmeras relações entre indivíduos e sociedade, já que “desde os primeiros momentos da História aos dias de hoje estabelecem relações entre si que fazem parte de suas rotinas cotidianas” (FERREIRA, 2003, p.31). Deste modo, o processo cultural tem grande influência na construção de novos papéis sociais, tendo em vista que, este é formado a partir das relações e interações sociais provenientes de cultura. Assim a categoria papel social é manifestada a partir da “teia de relações existentes entre os indivíduos na vida coletiva” (FERREIRA, 2003, p.32). Nesta perspectiva, os idosos têm suas relações sociais modificadas, de sorte que culturalmente ultrapassar a barreira dos sessentas anos – ou simplesmente ser velho – significam enormes perdas de papéis sociais. Nada absolutamente natural, pelo contrário, representam imposições. Scortegagna e Oliveira (2012) salientam que: [...] ao se pensar nos aspectos sociais da velhice remetem diretamente aos papéis sociais que os idosos assumiram durante toda sua vida e a perda destes papéis a partir do momento em que alcançaram esta etapa de vida. (SCORTEGAGNA e OLIVEIRA, 2012, p. 5, grifo nosso). Assim, chegar a esta etapa da vida vai muito além das transformações biológicas. São as transformações sociais que mais incomodam. Estas provocam enormes impactos e na grande maioria das vezes excluem a população idosa e lhes atribuem novos papéis sociais, considerados de um modo geral, pertinentes a faixa etária deste contingente. Consoante Beauvoir (1990), tais transformações são impostas, entretanto nos portamos de forma pacífica, tendo em vista que: “é a classe dominante que impõe às pessoas idosas seu estatuto, mas o conjunto da população ativa se faz cúmplice dela” (BEAUVOIR, 1990, p. 265). 34 Deste modo, o exercício de ocupar posições com direitos e deveres preestabelecidos é próprio da condição humana. “Se a sociologia implica em uma concepção não só da sociedade, mas também do próprio homem, não é exagero afirmar, o homem é um animal que ocupa posições” (VILA NOVA, 2008, p. 127). Para dar mais clareza, o individuo, em suas relações sociais, necessita ocupar posições, de modo a exercer status e produzir ações materializadas em papéis sociais. 2.1.1 Status ou Papel Social? É importante pontuar aqui uma diferenciação entre status e papel social. “Se o status realça o fato de que nos grupos sociais relevantes existem expectativas de tipo normativo, o papel enfatiza os elementos que compõem o comportamento esperado.” (LAKATOS e MARCONI, 1999, p. 102, grifo do autor). Deste modo o status enfatiza determinada posição tal como é entendida por um grupo ou sociedade, já o papel permite destaca o indivíduo que ocupa a posição. (LAKATOS e MARCONI, 1999, grifo do autor). Para dar mais clareza “o status realça o fato de que nos grupos sociais relevantes existem expectativas de tipo normativo, o papel enfatiza os elementos que compõem o comportamento”. (LAKATOS e MARCONI, 1999, p. 102, grifo do autor). Oliveira (2008) descreve uma correlação entre status e papel social: Papéis sociais são os comportamentos que o grupo social espera de qualquer pessoa que ocupe certo status social. Corresponde mais precisamente às tarefas, às obrigações inerentes ao status. Por exemplo, de um médico se espera que atenda corretamente seus pacientes, que se preocupe com eles, que ouça suas queixas, que faça um diagnóstico preciso e que trate as enfermidades de modo competente. Caso não aja assim, não estará cumprindo o papel que seu status de médico determina e será, portanto, questionado pela sociedade. (OLIVEIRA, 2008, p. 117, grifo do autor). O que há de fato é uma relação intrínseca entre ambos, onde um de modo algum exclui o outro. “Status e papel social são coisas inseparáveis e só distinguimos para fins de estudo. Não há status que não corresponda a um papel social, e vice-versa”. (OLIVEIRA, 2008, p. 117, grifo do autor). 35 Desta forma, cada status dado ao indivíduo corresponde a um papel social, onde a categoria papel social representa o “comportamento esperado pelos indivíduos em determinados status. O indivíduo desempenha tantos papéis quantos sejam os status que ele ocupe [...] é portanto, a expressão comportamental do status, a sua concretização em ações” (VILA NOVA, 2008, p. 131). 2.1.2 Atribuído X Assumido Os papéis sociais podem se apresentar de dois modos, como aponta Lakatos e Marconi (1999): atribuído e assumido. É atribuído quando lhe são conferidos de forma externa ao indivíduo, podendo ser automático 13 e intencional14. É assumido quando ocorre de forma voluntária sem imposição, partindo de vontade própria. (LAKATOS e MARCONI, 1999). Acerca disto, Ferreira (2003) ressalta que “constituindo um dos parâmetros fundamentais que definem a vida social, há uma tensão permanente entre os impulsos que partem das necessidades dos indivíduos e as demandas que provem da sociedade” (FERREIRA, 2003, p. 31). Os modos como os papéis sociais se apresentam definem uma diferenciação entre cada indivíduo de uma coletividade, apontando para uma característica específica. Trata-se de um “conjunto de maneiras de agir que caracteriza comportamento dos indivíduos no exercício de determinada função em determinada coletividade”. (LAKATOS e MARCONI, 1999, p. 105). 2.2 Homem x Mulher: papel social como uma questão de gênero Entender o processo de envelhecimento como uma questão de gênero é fundamental para apreender as grandes diferenças existentes entre homens e mulheres no que diz respeito aos lugares e funções assumidas ou atribuídas ao longo dos anos. A categoria gênero traz inúmeras peculiaridades e particularidades no processo de envelhecimento, que refletem, inclusive, na categoria papéis sociais, 13 “[...] certos papéis familiares que não dependem da decisão do indivíduo – filho, irmão, primo, tio, avô [...]” (LAKATOS e MARKONI, 1999, p. 105). 14 Se expressa intencionalmente, por exemplo, na adoção de um filho, como cita Lakatos e Markoni (1999, p. 105). 36 haja vista que as mulheres – que envelhecem mais – assumem novos papéis em sua velhice, como chefe de família, por exemplo. As atividades exercidas pelas mulheres na contemporaneidade lhe proporcionam, de certo modo, uma expectativa de vida maior. Assim, como apontam estudos, as funções sociais exercidas pelas mulheres a fazem viver mais e consequentemente exercerem novos papéis sociais. Veras (2003) afirma algumas hipóteses que norteiam este assunto: [...] diferença na exposição a risco [...] diferenças no consumo de tabaco e álcool [...] diferenças na atitude em relação às doenças – as mulheres têm, de modo geral, melhor percepção da doenças e fazem uso mais constante dos serviços de saúde que os homens [...] a mortalidade materna hoje é bastante reduzida. (VERAS, 2003, p. 7) Acerca disto Berzins (2003), também afirma que alguns fatores contribuem para a longevidade da população feminina: “proteção hormonal do estrógeno, consumo diferente de tabaco e álcool, postura diferente em relação à saúde/doença e relações diferente com os serviços de saúde” (BERZINS, 2003, p. 29). As transformações mulheres durante idosas o são processo capazes de de experimentar envelhecimento 15 e são diversas essas transformações que as fazem constituir “a maioria da população idosa em todas as regiões do mundo”, como aponta Berzins (2008, p. 28). Entretanto, as diferenças promovidas pela categoria gênero não restringem-se somente a velhice feminina: [...] as desigualdades por sexo promovidas pelas condições estruturais e socioeconômicas em muitas situações alteram inclusive as condições de saúde, renda e a dinâmica familiar e tem forte impacto nas demandas por políticas públicas e prestação de serviços de proteção social. Viver mais não é sinônimo de viver melhor. (BERZINS, 2003, p. 28, grifo nosso). Nesta perspectiva, como aponta Veras (2003), “as mulheres idosas enfrentam ricos maiores de sofrer de doenças crônicas” (VERAS, 2003, p. 8). A realidade em diversos países é: [...] as mulheres que chegam aos 60 anos têm mais tendência que os homens a passar o resto de suas vidas padecendo de alguma doença. 15 Tais transformam se processam de forma diferente nos homens. 37 Dados coletados em países em desenvolvimento revelam que estes padrões são universais. (VERAS, 2003, p. 8). As desigualdades são percebidas não só nas características biológicas como também na “violência, discriminação, salários inferiores aos homens, dupla jornada etc.”, como diz Berzins (2003). Assim, as condições históricas, culturais e socioeconômicas, distinguem o papel da mulher e do homem no meio social. Deste modo, “as mulheres idosas, possivelmente, apenas refletem a estratificação e a discriminação da sociedade contra os idosos” (VERAS, 2003, p. 8). É evidente que existem diferentes papéis sociais a serem exercidos por homens e mulheres, haja vista os anseios sociais e culturais, e as etapas da vida16. O fato é que “os papéis sociais encontram-se sob constante mudança. Da mesma forma que as leis perdem a razão de ser pela mudança do contexto social, também as expectativas obrigatórias estão submetidas a um processo de revalidação” (DAHRENDORF, 1961 apud SOARES, 2010, p. 97). Para homens e mulheres, conforme status estabelecidos, são exigidos diversos papéis sociais, quase que opostos: chefe de família e dona de casa, pai e mãe, etc. Assim, “afirmar que o indivíduo desempenha papéis implica dizer que ele é um ator social. Do mesmo modo que é sociologicamente apropriado afirmar que o homem é um animal que ocupa posições, tem fundamento sociológico dizer que o homem é um ator social” (VILA NOVA, 2008, p. 131). O fato é que durante muitos anos os papéis sociais só eram impostos por uma questão de gênero, mais precisamente o sexo. De modo que existiam funções e lugares sociais especificamente de homens e de mulheres. Atualmente, grande e importante parcela social ainda se movimenta desta forma, entretanto gigantescas mudanças ocorreram e vários, neste século, papeis sociais se confundem, ou simplesmente se misturam sem conceitos pré-estabelecidos. Na contemporaneidade os papéis sociais, baseados em variáveis como gênero e idade – impostos culturalmente – tornam-se cada vez mais frágeis. O processo de envelhecimento, no âmbito de todas as suas transformações, traz consigo importantes modificações que refletem diretamente no exercício de tais papéis sociais. O fenômeno da feminização do envelhecimento, por exemplo agrega as mulheres lugares e funções dificilmente habitados por elas. 16 Infância; Fase adulta; Velhice. 38 2.2.1 O fenômeno da feminização do envelhecimento A longevidade se expressa de forma peculiar para as mulheres, já que estas representam a maior parcela do contingente populacional de idosos, superando os homens. Trata-se, portanto de um fenômeno, que ultrapassa as barreiras locais e se apresenta em todo o mundo. Deste modo, o envelhecimento – dentre suas peculiaridades – é também uma questão de gênero. Veras (2003) afirma que vários estudos apontam a categoria gênero como uma das mais marcantes especificidades deste grupo (VERAS, 2003). Deste modo o fato das mulheres viverem mais do que os homens constitui importante fonte de estudo, e é desde já, um fenômeno – a feminização do envelhecimento. A velhice feminina “vem configurando-se como temática que deve ser abordada por pesquisadores do envelhecimento, pois o fenômeno da feminização da velhice constitui-se como realidade nacional e mundial” (FRANCO e JÚNIOR, 2011, p. 7). A tabela abaixo confirma a especificidade da categoria gênero, e aponta para um aumento da longevidade feminina: Tabela 1 – Expectativa de vida ao nascer, por sexo e região demográfica. EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER (EM ANOS) REGIÃO 2000-2005 HOMENS 2045-2050 MULHERES HOMENS MULHERES Mundo 63,2 67,7 72,8 77,5 Regiões mais desenvolvidas 71,9 79,3 79,1 85,0 Regiões menos desenvolvidas 61,7 65,2 71,8 76,2 Países menos desenvolvidos 50,1 52,0 61,9 68,2 Fonte: Geografia: Uma Análise do Espaço Geográfico/ ONU World Population Prospect: The 2004 Revision. Highlights. Op. Cit. Percebe-se que, em todo mundo, há uma superioridade em relação à expectativa de vida, de sorte que as mulheres vivem mais do que os homens. A projeção para 2050 é que no mundo as mulheres cheguem, em média, a faixa etária de 77,5 anos, enquanto que os homens 72,8, o que comprova uma diferença de quase 5 anos. Berzins (2003) acerca disto, explica que: A velhice é uma experiência que se processa diferente para os homens e para as mulheres, tanto nos aspectos sociais como nos econômicos, nas condições de vida, nas doenças e até mesmo na subjetividade. Ao se 39 considerar os aspectos da velhice não podemos deixar de contemplar o recorte de gênero que é determinante inclusive do lugar que os idosos e as idosas ocupam na vida social [...] (BERZINS, 2003, p. 28). As mulheres têm em relação aos homens uma maior esperança de vida em quase todos os países que produz o aumento do número de viúvas em todo o mundo, e estas, têm cada vez mais papéis sociais acumulados, alguns impostos por sua idade outros atribuídos, de acordo com a realidade social individual de cada uma. 2.3 As novas funções assumidas pela mulher idosa na contemporaneidade As mulheres sempre acumularam, no decorrer da vida, inúmeras desvantagens, provenientes de uma discriminação historicamente fundamentada, expressa através de violências, duplas jornadas de trabalho e salários inferiores aos homens. Nesta perspectiva Menezes (2012), explica que: [...] as mulheres são mais oneradas física, psicológica e socialmente porque cabe a elas o jugo de cuidar do cônjuge, dos pais, de outros parentes velhos e até de filhos e netos, funções estas consideradas de menor poder social. No entanto, nenhuma sociedade sobreviveria sem essas funções e, contraditoriamente, não são reconhecidas como trabalho (MENEZES, 2012, p. 41). Durante muito tempo, só restou ao sexo feminino as menosprezadas tarefas de cuidar da casa, marido e filhos. E durante a velhice só sobrava-lhe a função de fazer crochês e tricôs, além de realizar atividades domésticas e cuidar de netos, claro. Entretanto, este século foi, e é, palco de grandes transformações sociais, culturais, demográficas e econômicas. A mulher atualmente assume novos e importantes papéis sociais, ainda pouco reconhecidos. O processo de envelhecimento e as transformações culturais permitiram à mulher idosa exercer importantes papéis sociais – trabalhar fora de casa, estudar, ser chefe de família e etc. Deste modo, as idosas as poucos se constituem com atores sociais de fato, como salientam Scortegagna e Oliveira (2012) acerca da sociologia do envelhecimento: A sociologia do envelhecimento pressupõe uma análise do idoso, enquanto sujeito que tem papéis sociais e inserido neste contexto, pode se constituir 40 como um ator social, capaz de lutar pelos seus direitos e mobilizar-se em favor do seu reconhecimento e melhores condições de vida. (SCORTEGAGNA e OLIVEIRA, 2012, p. 1) O fenômeno da velhice feminina17 é perceptível também através do aumento gradativo do número de viúvas em todo o mundo. O que provoca o exercício de novos papéis sociais. As mulheres agora como chefes de famílias se tronam as responsáveis principais pela renda familiar. O que ocorre de fato é um acúmulo de funções onde a mulher idosa, além realizar todas aquelas atividades historicamente impostas – cuidar da casa, netos e etc. – necessita assumir importantes papéis de lideranças além de muitas vezes trabalhar fora de casa. Nesta perspectiva Camarano (2013) discorre que: A mulher brasileira, mesmo idosa, continua desempenhando o seu papel de cuidadora, mas assumiu também o de provedora [...] Ou seja, as idosas de hoje estão assumindo papéis não esperados nem pela literatura nem pelas políticas públicas. Ao contrário do esperado, estão se transformando em um importante agente de mudança social. (CAMARANO, 2013, p. 14). O fato é que, há algum tempo atrás, como explica Camarano (2013), o envelhecimento representava para a grande maioria das mulheres brasileiras pobreza e isolamento social. A importante transformação se expressa no fato de que o final da vida e a viuvez não significam isso, necessariamente (CAMARANO, 2013). 17 Ou fenômeno do envelhecimento. 41 3. TRAJETÓRIA DA PESQUISA DE CAMPO E AS ANÁLISES Neste momento será explicitada a metodologia utilizada durante os diversos momentos da pesquisa, o campo da pesquisa (PSBS – Henrique Jorge), o perfil socioeconômico dos sujeitos entrevistados e as análises a partir dos protagonistas desta pesquisa e suas experiências bem como os grandes autores que embasam as categorias deste estudo. 3.1 Metodologicamente falando O presente estudo apresenta três tipos de pesquisa: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e pesquisa de campo. É bibliográfica, pois tem “finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno”, como salienta Oliveira (2002). Sua principal vantagem, como afirma Gil “reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisas diretamente” (GIL, 2008, p. 50). A pesquisa bibliográfica deste estudo, nos termos de Lakatos e Marconi (2003), compreendeu oito fases: escolha do tema, elaboração do plano de trabalho, identificação, localização, compilação, fichamento, análise e interpretação e redação, durante um período de 10 meses. Tem caráter documental, pois “a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias” (LAKATOS e MARCONI, 2003, p. 174). Apesar de serem semelhantes, a pesquisa bibliográfica e documental, são diferentes no que diz respeito a natureza de suas fontes: A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto que a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental valese de materiais que não receberam inda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. (GIL, 2008. P. 51). É também pesquisa de campo, pois, como explicita Lakatos e Marconi (2003) “consiste na observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem 42 espontaneamente, na coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis que se presume relevantes, para analisá-los” (LAKATOS e MARCONI, 2003, p. 186). A pesquisa realizada é de natureza qualitativa, sob a perspectiva de se compreender a realidade a partir das falas dos sujeitos participantes, identificando seus costumes, experiências e opiniões. Minayo (2010) esclarece que: [...] o método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmo, sentem e pensam. (MINAYO, 2010, p. 57). Entretanto optou-se também, por alguns dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outras fontes, essencialmente numéricas e/ou estatísticas, a fim de enriquecer ainda mais esta pesquisa, o que garante a este estudo, também, um caráter quantitativo. Todavia, como afirma Minayo (2002): “o conjunto de dados quantitativos e qualitativos [...] não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia” (MINAYO, 2002, p. 22). A pesquisa tem como campo o Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade, executado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBECE), através do Centro de Treinamento e Desenvolvimento Humano (CTDH), especificamente na Praça Afonso Pena18, no Bairro Henrique Jorge. O universo é representado pelos participantes de tal projeto. O subconjunto19 do universo – a amostra – refere-se às idosas ativas no núcleo a pelo menos 1 ano e que desejam e possuem disponibilidade para ser entrevistadas. Como técnica para a coleta de dados, utilizou-se a observação simples, aplicação de questionários e entrevistas semiestruturadas e nesta ordem. Na observação simples ou não participante o “pesquisador toma contato com a comunidade, grupo ou realidade estudada, mas sem integrar-se a ela: permanece de fora” (Lakatos e Marconi, 2003, p. 193). Os questionários, contendo 15 questões – objetivas e subjetivas, foram aplicados àquelas que se mostraram acessíveis a 18 19 Conhecida popularmente como “Praça do Henrique Jorge”. Termo usado por Minayo (2002). 43 pesquisa20. Já as entrevistas semiestruturadas21, aplicadas a três idosas desta referida parcela, possibilitaram uma maior liberdade nos discursos. A elaboração dos dados foi dada sob a perspectiva de seleção, codificação e tabulação, como afirmam Lakatos e Marconi (2003). A seleção foi realizada através do “exame minucioso dos dados” (Lakatos e Marconi, 2003, p. 166). Já a codificação foi “utilizada para categorizar os dados que se relacionam” (Lakatos e Marconi, 2003, p. 167). Enquanto que a técnica de tabular foi dada de forma manual, através da disposição de dados em tabelas, facilitando assim, a verificação de relações entre eles (Lakatos e Marconi, 2003) e proporcionando uma compreensão e interpretação mais clara e rápida. As coletas, bibliográfica e documental, foram realizadas durante os meses de agosto a maio de 2013, enquanto que a pesquisa de campo foi realizada nos meses de maio e junho de 2013, nas terças e quintas-feiras, das 17 às 18 horas ao ar livre e na própria praça, onde a execução do projeto ocorre. O método de abordagem utilizado se aproxima da Hermenêutica Dialética22, onde “[...] a fala dos atores sociais é situada em seu contexto para melhor ser compreendida [...] tem como ponto de partida o interior da fala [..] como ponto de chegada o campo da especificidade histórica e totalizante que produz a fala” (MINAYO, 2002, p. 77). Acerca do método dialético Gil (2008) salienta que: A dialética fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, já que estabelece que os fatos sociais não podem ser considerados isoladamente , abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais e etc. [...] Assim, as pesquisas fundamentadas no método dialético distinguem-se bastante das pesquisas desenvolvidas segundo a ótica positivista, que enfatiza os procedimentos quantitativos. (GIL, 2008, p. 14) O procedimento utilizado foi o método comparativo, “[...] considerando que o estudo das semelhanças e diferenças entre diversos tipos de grupos, sociedades ou povos contribui para uma melhor compreensão do comportamento humano” (Lakatos e Marconi, 2003, p. 107). As categorias teóricas que embasaram este estudo foram: envelhecimento, velhice e papéis sociais. Para tanto, utilizou-se os seguintes 20 09 questionários aplicados. Entrevista contendo 12 questões. Disponível em Apêndice B. 22 Nos termos de Minayo (2002): método hermenêutico-dialético. 21 44 autores de grande relevância para estas temáticas: Papaléo Netto (1996), Beauvoir (1990), Veras (2003), Berzins (2003), Mercadante (2003), Giddens (2005) entre outros. 3.2 Conhecendo o campo: Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade (PSBS) O projeto Saúde Bombeiros e Sociedade, executado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE), é um projeto de caráter voluntário que se iniciou junto ao Grupamento de Busca e Salvamento, conforme Portaria nº 023, de 18 de março de 200323. Tal projeto, iniciado oficialmente em 2003, foi idealizado pelos respectivos: Capitão BM24 Virgílio Ryozaburo Cláudio Sawari; Tenente BM Luís Roberto Costa; Sargento BM José Ivonildo Brito e Sargento BM Antônio Aldenor da Silva, com o objetivo de “oferecer atendimento às pessoas da terceira idade na forma de atividades físico-ocupacionais” (PORTARIA N° 023). O PSBS tem os seguintes objetivos específicos: desenvolver métodos e procedimentos adequados para o trabalho de atividade física com idosos; diminuir a inatividade gerada pela aposentadoria, proporcionar um encontro salutar entre as pessoas dando-lhes oportunidade para a reinserção social; Resgatar o conceito de tempo livre, através das atividades físicas propostas; Dar oportunidade de livre escolha das pessoas em participar de atividades físicas; Proporcionar uma boa integração do esquema corporal e de atitude (reeducação postural); Desenvolver amplitude das articulações não comprometidas por patologias (mobilidade articular); Tornar o indivíduo mais seguro na sua locomoção e assumindo em suas tarefas diárias uma posição mais simétrica (equilíbrio); Desenvolver uma organização do sistema nervoso, com utilização dos músculos certos no tempo certo e intensidade correta sem gastos energéticos (coordenação); Envolver o retreinamento de padrões respiratórios (respiração); Evitar esforço consciente para aliviar a tensão de um segmento muscular (relaxamento). (PSBS, 2010). Para inserção no PSBS são necessários os seguintes pré-requisitos: Preencher ficha de inscrição; Apresentar uma avaliação ou atestado médico de seis em seis meses, com o objetivo de identificar possíveis cardiopatias, pneumopatias e/ou outras doenças que possam limitar o idoso na 23 24 Disponível em Anexo C. Brigada Militar. 45 realização dos exercícios físicos; Responder no ato da inscrição, um questionário (anamnese) contendo informações referentes a sua vida pessoal e a sua saúde em geral. (PSBS, 2010). Conforme observação simples outrora realizada durante a pesquisa de campo, foi possível perceber que o ambiente utilizado para execução do Projeto, no bairro Henrique Jorge – um dos locus de execução do PSBS e campo deste estudo – é bastante agradável e aconchegante, além de ser um momento muito prazeroso. Neste ambiente específico a grande totalidade é composta por mulheres idosas, embora o Projeto seja destinado a toda sociedade. O PSBS em sua totalidade percebe que: [...] as alterações no processo de envelhecimento no ser humano, podem ser restringidas com a prática regular de atividades físicas, e mesmo que não em alguns casos devemos assegurar o prolongamento do tempo de vida, garantindo uma condição igualmente importante - o bem-estar cotidiano da pessoa na terceira idade. (PORTARIA Nº 23) O número de participantes no Núcleo Henrique Jorge é imprecisa, já que algumas pessoas não se integram ao PSBS de forma frequente, entretanto no período de observação simples, foi constatado cerca de 20 partícipes, sendo que deste contingente apenas cinco representavam faixa etária abaixo dos 60 anos de idade. Vale ressaltar que durante os 10 anos de execução do projeto neste referido núcleo, nunca houve uma participação masculina. 3.3 Perfil dos sujeitos da pesquisa O perfil socioeconômico dos sujeitos desta pesquisa foi traçado a partir de um questionário25, aplicado à nove idosas do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade (PSBS) – que se dispuseram a participar e se encaixam no perfil de amostragem26 – contendo 15 questões objetivas e subjetivas. Algumas questões abordam aspectos básicos de identificação – faixa etária, estado civil, renda familiar e etc. – enquanto outras dizem respeito às categorias específicas deste estudo de forma superficial, além de mudanças ocorridas após a participação no PSBS e tempo de permanência neste. 25 26 Disponível em Apêndice A. Idosas ativas no PSBS a pelo menos 1 ano. 46 Após a análise dos dados colhidos foi possível traçar socioeconômico, disposto na tabela a seguir: Tabela 2 – Perfil dos sujeitos da Pesquisa (%) 27 Faixa Etária 60 a 65 anos 22,2% 66 a 70 anos 33,3% 71 a 75 anos 33,3% 76 a 80 anos 11,1% Estado Civil Viúva 66,6% Casada 11,1% Separada/Divorciada 11,1% Solteira 11,1% Renda Familiar Inferior a 1 salário mínimo 11,1% 1 a 2 salários mínimos 55,55% 3 a 4 salários mínimos 11,11% 5 a 6 salários mínimos 0% Superior a 6 salários mínimos 22,22% Com quantas pessoas reside 1 pessoa 11,11% 2 pessoas 55,55% 3 pessoas 22,22% 4 pessoas 11,11% Com quem reside Esposo/Companheiro e Filho(s) 11,11% Filho(s) e/ou Neto(s) 55,55% Outros parentes 33,33% Sozinho 0% Grau de Escolaridade Nenhum 11,11% Ensino Fundamental Completo 11,11% Ensino Médio Completo 55,55% Superior Completo 22,22% Atividades que prática Exercícios Físicos 22,22% Exercícios Físicos e Atividades Domésticas 66,66% Exercícios Físicos e Atividades de Culturais 11,11% Trabalha atualmente Sim 55,55% Não 44,44% Estuda Atualmente 27 Sim 0% Não 100% Percentuais aproximados. um perfil 47 Deste modo, a maior parte das entrevistadas são viúvas, possuindo entre 66 e 75 anos. Parte significativa reside com 2 pessoas, sendo filho(s) e/ou neto(s). A grande maioria concluiu o Ensino Médio e 22,22% das entrevistadas possuem Ensino Superior completo. 66.6% dos sujeitos praticam atividades físicas e ainda realizam atividades domésticas em seus lares. A maioria das idosas ainda trabalha e nenhuma estuda atualmente. A renda familiar mínima é inferior a 1 salário mínimo, já a máxima ultrapassa 6 salários mínimos. Nos que diz respeito as categorias envelhecimento e papéis sociais, as idosas deste estudo – velhice, responderam de forma sucinta e objetiva algumas questões acerca destas temáticas além de tempo de permanência no PSBS, e mudanças provocadas por este. A respeito do que é ser velho a maioria encarou a velhice como algo negativo e afirmou não ser velho ou não aceitar esta etapa da vida. Para algumas o tempo passou tão rápido que nem perceberam que chegaram à velhice, para outras ser velha não está necessariamente relacionado a faixa etária. Ao serem indagadas sobre o fato das mulheres envelhecerem mais do que os homens, a resposta foi unânime: os homens não se dedicam a cuidar de sua saúde ao contrário das mulheres. Deste modo, as mulheres tem uma longevidade bem maior. Quando questionadas acerca do tempo de permanência no PSBS, a grande maioria participa a 10 anos (6 idosas), as outras estão a pelo menos 2 anos (3 idosas). Todas foram motivadas a ingressar no Projeto por incentivos de amigos e vizinhos além da necessidade de praticar exercícios físicos. Todas sem exceção, afirmam que o corpo melhorou muito desde o ingresso ao PSBS, além da sociabilidade ser bem maior, já que a participação no projeto possibilita a criação de vínculos fora do ambiente familiar. 3.4 “Crochetando” e “Tricotando”: percepções das protagonistas deste estudo através das análises dos discursos. Este tópico traz em si o momento mais importante deste estudo: os discursos das idosas entrevistadas – suas experiências, sentimentos, sensações, percepções e etc. – além de análises embasadas em grandes autores, de modo a explicitar a realidade estudada através de discussões teóricas. As entrevistas, 48 realizadas ao ar livre, superaram a formalidade e permitiram uma conversa descontraída e por muitas vezes bem-humorada. Deste modo, esse momento foi intitulado de: “Crochetando” e “Tricotando”: percepções das protagonistas deste estudo através das análises dos discursos, numa tentativa de expressar o momento da coleta das falas através de uma simples conversa entre amigas, em um significado informal, pertencente ao senso comum. Torna-se importante ressaltar que os discursos foram transcritos de forma fidedigna, sem nenhuma alteração às falas das entrevistadas. Com o objetivo de preservar a identidade das entrevistadas, dei-lhes o nome de mulheres idosas da Bíblia. Ana, a profetisa28; Sara, esposa de Abraão29 e Noemi, sogra de Rute30. Segue-se a seguir o perfil das protagonistas desta pesquisa: Ana é casada e tem 61 anos. Sua renda familiar total gira em torno de 4 salários mínimos. Atualmente mora como seu esposo e um filho. Cursou o Ensino Médio completo. Pratica exercícios físicos, faz atividades domésticas, trabalha de forma independente como consultora de cosméticos e dedica parte do seu tempo a cuidar de um neto. Sara é viúva e tem 71 anos. Sua renda familiar total gira em torno de 2 salários mínimos. Atualmente mora com um filho e um neto. Cursou o Ensino Fundamental completo. Pratica exercícios físicos, faz atividades domésticas e não trabalha fora do ambiente familiar. Noemi é viúva e tem 78 anos. Sua renda familiar total gira em torno de 7 salários mínimos. Atualmente reside com dois filhos e duas netas. Possui Nível Superior completo (Pedagogia). Pratica atividades físicas, faz atividades domésticas e não trabalha fora do ambiente familiar. O termo velhice, em nossa sociedade, é carregado de preconceitos e traz consigo uma ideia de incapacidade, inferioridade e quase sempre de exclusão. Para 28 Acerca disto consultar Lucas 2: 36-38. Acerca disto consultar Gênesis 21:1-3. 30 Acerca disto consultar Rute 1. 29 49 muitos, a velhice representa os aspectos negativos de um longo período de anos vividos, já para as idosas entrevistadas, a velhice tem outros significados: Velha eu acho que velha é... cada um que sabe se quer ser velho ou não. Mas velho não existe não. Eu acho que o velho é esse mesmo cadeirante acamado, esse é que é o velho. A pessoa que não consegue trabalhar, ele tem algum problema. Normal ele não é não. Tem que trabalhar. (ANA) Velho pra mim é aquela pessoa, que mesmo jovem e fica ali, sentado sem fazer nada. [...] Eu acho que velhice é isso: a pessoa não tem aquela vontade de viver, não tem mais prazer em nada. Nada [...] Eu acho que velho é isso aí. (SARA) Ah o velho, o velho é ser muito ruim, o velho aquele rabugento, que fica só resmungando, brigando com todo mundo. Porque o velho pode fazer parte da sociedade igual a um idoso, dependendo da natureza dele. Cada um tem a sua personalidade. (NOEMI) De um modo geral, os sujeitos da pesquisa expressam em suas falas, que o termo velhice não se caracteriza pela faixa etária, pelo contrário, a velhice está mais ligada a atitudes tomadas do que uma condição imposta. A Sra. Ana afirma que a velhice é uma questão de opção, onde é possível escolher ser velho ou não. Para a Sra. Sara a velhice é representada por aqueles que não sentem vontade nenhuma de viver, deste modo até os jovens podem ser velhos. Já para a Sra. Noemi a figura do velho é representada por aquela pessoa de personalidade forte e mal humorada, popularmente e culturalmente conhecida como “velho ranzinza”. Na sociedade, de um modo geral, a velhice é estigmatizada, carregada de preconceitos, onde o idoso só tem alguma importância, por menor que seja, se produzir, caso contrário é excluído. Nesta perspectiva Beauvoir (1990) discorre acerca da relação entre o velho e jovem: A sociedade só se preocupa com o indivíduo na medida em que este rende. Os jovens sabem disso. Sua ansiedade no momento em que abordam a vida social é simétrica à angústia dos velhos no momento em que são excluídos dela. Neste meio tempo, a rotina mascara os problemas [...] Quando compreendemos o que é a condição dos velhos, não podemos contentar-nos em reivindicar uma ‘política da velhice’ mais generosa, uma elevação das pensões, habitações sadias, lazeres organizados. É todo o sistema que está em jogo e a reivindicação só pode ser radical: mudar a vida. (BEAUVOIR, 1990, p. 665, grifo nosso). A velhice é capaz de trazer consigo todas essas concepções negativas criadas e estruturadas culturalmente ao longo dos anos, de modo que assumi-la tornou-se algo ruim, quase que mortal. Assim ser velho, não se define apenas como 50 um fenômeno biológico, mas “se cai em uma postura equivocada [...] para explicar a totalidade – comportamentos, atitudes, pensamentos dos indivíduos” (Mercadante, 1996). Almeida (2003), sobre a velhice, explica que: Nas sociedades modernas, a velhice é sinônimo de recusa e banimento. Recusa vestida com diferentes roupagens: algumas, bastante evidentes, passam pela segregação e pelo isolamento social, pela ruptura dos laços afetivos, familiares e de amizade, pela negação do direito de pensar, propor, decidir, fazer, pela expropriação do próprio corpo; outras, mais sutis, são encontradas no tom protetor, muita vezes cercado de cinismo, com que lidamos com nossos velhinhos. (ALMEIDA, 2003, p.41). Desta maneira, fica evidente que a categoria velhice, de um modo geral, não é aceita pelas idosas, tendo em vista sua ambiguidade de significações, mais precisamente seu caráter negativo, construído culturalmente. Mesmo possuindo um aspecto natural no sentido biológico, a velhice é encarada essencialmente pelo seu caráter cultural. Assim, é definida através de valores que lhe são atribuídos, como bem diz Beauvoir (1990): É o sentido que os homens conferem à sua existência, é seu sistema global de valores que define o sentido e o valor da velhice. Inversamente: através da maneira pela qual uma sociedade se comporta com seus velhos, ela desvela sem equívoco a verdade – muitas vezes cuidadosamente mascarada – de seus princípios e de seus fins. (BEAUVOIR, 1990, p. 108). Quando indagadas acerca do que é ser idoso, nota-se que as entrevistadas – Sra. Ana e Sra. Noemi – percebem o tema com uma maior naturalidade. O que não acontece com o termo velhice. Enquanto que a Sra. Sara, mesmo aos 71 anos de vida, não se considera idosa. Para ela sentir-se jovem é o bastante. Deste modo, a faixa etária é incapaz de caracterizar o idoso, conforme os discursos abaixo: Idosa? Eu acho que é o tempo chegando. Passamos por aquela vida, né (sic)? Boa ou ruim, do jeito que você passou, mas tá bom. Só em você ter saúde e tá bem com sua idadezinha (sic) e com saúde. Maravilhoso! (ANA) A questão da pessoa ser idosa, é porque a pessoa pode refletir e procurar fazer o máximo que ela puder para viver bem, viver consigo mesmo. Se a pessoa não vive bem consigo não vive bem com ninguém. Procurar ser uma pessoa paciente, procurar ter mais um conforto, se você puder ter um conforto na sua casa é bom, porque tem gente – eu não sou dessas pessoas – que quer juntar dinheiro no banco. Eu procuro ter meu conforto 51 [...] E agora eu sou dona das minhas ventas (sic), e toda vida eu gostei de me vestir bem agora é que eu visto mesmo. (NOEMI) Ah, idoso? Eu não me sinto não. Depende da cabeça de qualquer um. Um exemplo: eu não me sinto velha. De jeito nenhum. (SARA) A Sra. Noemi acrescenta em seu discurso um aspecto muito interessante. Para ela ser idosa é viver bem consigo e com os outros e de forma confortável. Em meio as suas falas é possível identificar uma relação entre ser idoso e ser livre. Deste modo, fica claro que seu estado hoje lhe proporciona uma liberdade para decidir o que quer fazer e de que forma. Assim, mesmo aos seus 78 anos, decide simplesmente, viver. As idosas também foram questionadas acerca da questão gênero e a feminização do envelhecimento: Eu acho que é porque elas se cuidam mais, né (sic)? Vão mais no médico, né? Faz, como é que se diz? O exame. Assim se cuidam bem mais. Os homens, não. (ANA) Porque os homens são muito preconceituosos com eles mesmos. Porque não querem ir a médico. Fazer aquele exame da próstata, não vão não. Meu marido morreu de câncer de próstata. Porque, ave Maria, falar em médico e exame, de jeito nenhum. Tem muito idoso aqui, que tem vontade de entrar pra fazer a física, cadê que vão, tem vergonha, porque acha que se ele entrar a honra deles cai. É muito preconceituoso [...] (SARA) É porque as mulheres hoje parece que tem mais coragem, trabalham e não aquietam. Elas chegam se tem condição elas vão pra uma acadêmia. Naqueles tempo era só dentro de casa, com filhos, com marido, aquela coisa. Hoje não. Se o marido chega, cadê fulano, tá na academia, NE? Cadê fulano? Tá no cabeleireiro. As vaidosas. Vão no médico também, né? (NOEMI) De um modo geral as opiniões se cruzam. Para elas as mulheres se dedicam a cuidar do seu próprio corpo além se serem mais ativas e praticarem exercícios físicos. Enquanto que os homens, não. A esse respeito, a Sra. Sara afirma que os homens são preconceituosos consigo mesmo, não vão ao médico tampouco fazem o exame da próstata. A Sra. Noemi atribui uma característica importante a feminização do envelhecimento: o fato das mulheres serem mais ativas e trabalharem. Segundo ela anos atrás as mulheres passavam a maior parte do tempo em casa, hoje não. Para a Sra. Sara os exercícios físicos são importantes fatores contributivos para um envelhecimento saudável. Em seu discurso fica evidente que os homens não procuram tais atividades, deste modo não envelhecem com saúde. 52 No caso do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade – cenário desta pesquisa – percebe-se que a totalidade dos participantes é composta somente por mulheres e em sua grande maioria idosas. Mesmo não compreendendo a fundo o processo de feminização do envelhecimento, as entrevistadas conseguem identificar alguns motivos que levam as mulheres a constituírem a maioria da população idosa em todo o mundo. Alguns destes fatores que contribuem para a maior longevidade da população feminina são apontados por Berzins (2003): “proteção hormonal do estrógeno, inserção no mercado de trabalho, consumo diferente de tabaco e álcool, postura diferente em relação à saúde/doença e relação diferente com os serviços de saúde”. (BERZINS, 2003, p. 29). Nesta perspectiva Giddens(2005) afirma que: [...] as mulheres usufruem de maior expectativa de vida do que os homens em quase todos os países. Ao mesmo tempo, as mulheres também sofrem de maior incidência de doenças do que os homens, particularmente na velhice. As mulheres são propensas a buscarem cuidados médicos e a apresentarem maiores taxas de doenças detectadas através de auto-exame (sic) do que os homens. (GIDDENS, 2005, p. 133, grifo nosso). O fenômeno da feminização do envelhecimento também é comprovado pelos altos índices de viúvas em todo mundo. Tomando por base o perfil socioeconômico31 – traçado a partir dos questionários aplicados – é possível identificar que o percentual de viúvas gira em torno de 70% superando os números de idosas casadas. As entrevistadas também foram questionadas acerca dos papéis sociais exercidos por elas: Eu vejo que é muito importante. Todo mundo hoje em dia tem que trabalhar, né (sic)? Cê (sic) vê que eu tenho marido, tenho filho, todo mundo trabalha, eu tenho meu salariozinho também, mas mesmo assim me sinto bem fazendo minhas coisinhas. A idade não atrapalha nada não. Não, não, não, não! De jeito nenhum. Não tem que parar. Ora quanto mais velho você for se puder trabalhar é melhor, minha filha. (ANA) Eu acho que, aí meu Deus, como é que eu posso dizer? A função de ser considerada uma pessoa útil. É muito importante, porque eu faço as atividades de casa tudinho (sic), aí tem aquele horário de trabalhar, quando eu não vô (sic), eu não gosto de ficar assistindo televisão o dia todo, de jeito nenhum. Eu tenho que inventar qualquer coisa pra fazer. Sei ficar quietinha, 31 Tabela 1 – Perfil dos sujeitos da Pesquisa (%). 53 não. Ficar em casa parado não pode [...] Porque eu comecei a trabalhar com 8 anos de idade, né? Quer dizer, parar pra mim não é só pelo dinheiro não, né (sic)? Porque a pessoa tando (sic) com a mente ocupada não tá pensando besteira, né (sic)? (SARA) Isso pra mim é... eu me considero uma pessoa muito assim, é... Uma pessoa da sociedade direita, porque eu não gosto de dever, eu gosto de pagar minhas dívidas em dia. [...] E eu fiquei só com um cartão, que é onde eu tiro meu ordenado. Eu gosto das minhas coisas em dia. Se eu vejo que tem um a pessoa precisando de mim eu ajudo. Não com todo mundo, a gente tem que saber quais são as pessoas que pode fazer o bem porque outras pessoas fazem é o mal pra gente. (NOEMI) Para a Sra. Ana seu papel na sociedade é trabalhar, independente da idade, o essencial é estar ativo. Esta, afirma ainda que a idade não atrapalha em nada. Para a Sra. Sara, seu papel é ser considerada uma pessoa útil. Conforme suas falas é possível perceber que a entrevistada começou a trabalhar ainda na infância, e deste modo continuar trabalhando tem um significado que ultrapassa valores materiais. Enquanto que para a Sra. Noemi seu papel na sociedade é ser uma pessoa íntegra, que cumpre com suas obrigações de cidadã, além de ajudar as pessoas. Nota-se que nenhuma das entrevistadas reconheceu seu papel social sob a perspectiva da idade. O fato é que ao longo dos anos importantes mudanças, nesse sentido, ocorreram. Pensar a população idosa como aquela sem valor e sem produtividade ou até mesmo fazer menção aquela ideia ultrapassada de que a mulher idosa se recolhe ao lar para fazer crochês e tricôs, não faz mais nenhum sentido. As mulheres idosas assumem novos e importantes papéis sociais, que giram em torno de um sentimento: independência. É evidente que as idosas atualmente estão mais ativas, principalmente no que diz respeito ao ato laborativo. Acerca disto Veras (2003), salienta que: “[..] muito antes do que se imagina, teremos indivíduos se aposentando perto dos 60 anos de idade e iniciando um novo ciclo de vida que perdurará por mais de 30 ou 40 anos” (VERAS, 2003, p. 8). Deste modo chegar a velhice não significa necessariamente o fim da vida, mas sim, uma oportunidade para o surgimento de novas etapas a serem vivenciadas. Fica claro, pelas narrativas, que há grandes diferenças entre as idosas de hoje e as de antigamente. Diferenças tais que se evidenciam principalmente sob a perspectiva trabalho e liberdade: Muita! Antigamente nem as novas trabalhava “avali” (sic) as idosas. Muito mesmo. É... porque hoje em dia a gente trabalha, a gente tem prazer em 54 trabalhar. Antigamente o pessoal achava que num era trabalho de mulher, mulher tinha que ficar em casa [...] Hoje não. Quanto mais puder trabalhar melhor, desde que não lhe faça mal, não lhe atinja nada. (ANA) Tem, porque [...] hoje em dia eu saio, venho pra física, às vezes minha neta me leva, eu vou pra praia, shopping, assisto um filme, hoje eu gosto. Mas antigamente era difícil. Hoje em dia tem mais facilidade [...] Antigamente era difícil, Hoje em dia eu vivo no céu. Bem melhor agora. 100%. (SARA) Muito, porque hoje eu sou liberta, né (sic)? Tenho liberdade e antes não tinha [...] (NOEMI) Para a Sra. Ana muita coisa mudou, tendo em vista que as idosas de hoje trabalham, enquanto que as de antes tinham que ficar em casa. Já a Sra. Sara acredita que antigamente era muito difícil, e hoje ela tem a oportunidade de participar do PSBS, passear com seus familiares. Enquanto que a Sra. Noemi afirma que a principal diferença se encontra no fato das idosas de hoje terem conquistado sua liberdade. As diferenças se tornam mais evidentes ao serem questionadas sobre as atividades realizadas hoje por elas que suas avós jamais realizaram. Caminhada, exercício, hidroginástica, nunca fizeram, né (sic)? Nunca! Sabia nem o que era isso. Vender também não. Minha mãe e minha vó (sic) tomava conta da casa dela, aliás, as bichinha trabalhava, no roçado, Né? Feijão, milho, num sei o que, plantando, capinando, isso e aquilo outro, que é uma coisa que eu não sei fazer e nem queria pra mim. Trabalho pesado. Mas elas faziam numa boa mesmo. Como tem muita gente que faz, né? Gente que trabalha na lavoura [...] bem pesado. (ANA) Ah tem! No tempo da minha vó (sic), eu não conheci. A minha mãe era uma pessoa que ela num gostava de sair, hoje em dia essa ginástica, caminhada, ela nunca fez. (SARA) Ah, é, naquele tempo a mãe num viajava só, hoje eu pego um avião vou sozinha pra onde eu quiser, né (sic)? Eu vou daqui pra Recife, daqui pra Salvador, só. Só no grupo. Minha mãe nunca foi, nem minha vó (sic). Era uma coisa muito rígida pra elas, né (sic)? Hoje não. Qualquer pessoa pode sair sozinha hoje. (NOEMI) Pelo discurso da Sra. Ana é possível perceber que seus antepassados não praticavam exercícios físicos e nem trabalhavam do modo como ela trabalha, pelo contrário, trabalhavam na agricultura, com ela mesma diz, no “trabalho pesado”. O fato é que os costumes e as culturas mudam ao passar dos anos, com a forma de se enxergar as idosas não poderia ser diferente. O que antes era sinônimo de reclusão, invalidez, dependência etc. hoje representa liberdade e independência. 55 Abaixo se encontram alguns discursos das protagonistas deste estudo, quando indagadas acerca das atividades realizadas dentro do ambiente familiar e fora dele. Vejamos: Lavo, passo, engomo [...] Faço tudo, tudo. [...] (ANA) Fora eu saio pra fazer as minhas compras, vou Rommanel, vou pra Hermes, eu vou pras reunião da Avon, da Natura [...] (ANA) Tudo minha filha. Quem faz tudo dentro de casa sou eu. Limpo, cozinho, lavo roupa, engomo. Trabalho na máquina sou bordadeira [...] Vou a supermercado, faço pagamento, no banco. Faço tudo [...] (SARA) Fora só esses exercícios mesmo, que eu não me dou com caminhada. Bordo pra fora... Trabalho pra uma mulher há mais de 10 anos. (SARA) [...] A minha atividade na minha casa é varrer, é passar ferro, cozinhar. Não paro não [...] E bordo. Faço crochê. Bordo toalhas [...] (NOEMI) [...] E viajo pra fazer romaria, agora cheguei a pouco tempo de Salvador, foram quatro ônibus daqui [...] Agora em agosto eu vou lá pra Recife. E sempre eu sou assim. (NOEMI) Nas falas acima ficam explícitos antigos e novos papéis sociais exercidos pelas idosas. De um modo geral, todas se dedicam as atividades domésticas, o que é bastante comum entre mulheres dessa faixa etária. Entretanto assumem papéis incomuns a esse grupo. Por exemplo, a Sra. Ana se mostra bem ativa e independente ao trabalhar, aos seus 61 anos, como consultora de cosméticos, se constituindo assim como produtiva no que diz respeito ao mercado de trabalho. Já a Sra. Sara além das atividades domésticas, trabalha como bordadeira aos seus 71 anos. Enquanto que a Sra. Noemi, com quase 80 anos, além das atividades domésticas, faz crochê, é bordadeira, e realiza grandes viagens, sem familiar algum, o que demonstra total autonomia. Acerca disto Giddens (2005) explicita: Os anos mais tardios da vida são cada vez mais vistos por muitos como uma época de grandes oportunidades [...] É um tempo de reflexões sobre as realizações de toda a vida [...] Durante esse período, que agora é mais longo, os indivíduos são livres para levar vidas ativas independentes – viajando, perseguindo novos conhecimentos ou desenvolvendo novas habilidades [...] (GIDDENS, 2005, p. 147, grifo nosso). Deste modo é possível pensar as idosas como mulheres que possuem algumas limitações, entretanto as superam, buscando cada vez mais conviver 56 socialmente e fazer aquilo que lhes dá prazer, rompendo com estigmas que se apropriaram ao longo dos anos da noção de envelhecimento. Para elas o importante é acima de tudo, ter saúde, realizar atividades e procurar viver bem: É a gente ter saúde minha filha, a saúde da gente é muito importante. A gente tem que se cuidar pra poder chegar. Eu acho que sim... mas eu conheço gente que se cuida e é cheio de problema. (ANA) Você ter alguma atividade pra fazer. Tem que se mexer, porque se não se mexer enferruja. (SARA) Eu considero que eu levo uma vida assim... Procuro levar uma vida, no máximo boa, paciente, saber lidar com as pessoas, tanto os de casa como os de fora, procurar entender as pessoas como elas são e fazer o máximo, procurar viver bem. (NOEMI) Nesse aspecto o PSBS, contribui de forma significativa, para o bem estar físico, emocional e para a participação social, onde a cada dia elas conquistam novos relacionamentos. Deste modo, rompem com os estigmas culturais impostos a elas e ultrapassam as barreiras do ambiente familiar, conquistando sua independência e exercendo novas funções no contexto social. Por fim, as entrevistadas declaram se gostariam de fazer alguma coisa, entretanto não fazem por cauda da idade: Não. Tem um negócio que eu quero fazer e não faço porque eu não tenho tempo. O quê que é? Computação, que eu fui dizendo: eu vô hoje, eu vou amanhã, eu vô, eu vô amanhã... aí eu peguei o meu neto e não tenho mais condição de ir. E apreender a dirigir também. Cada vez que eu disse que ia, meus menino, dizia pra que mãe, eu não dirijo? Só que era eles, né? Eu nunca dirigi, nem sei dirigi. Pronto. Aí, isso aí eu penso que atrapalha muito a pessoa. Só o tempo mesmo e nada mais. (ANA) Uma coisa que eu tenho muita vontade de fazer é [...] viajar. Viajar! Não vou por causa do dinheiro. [...] Eu tenho vontade de um dia aprender a dirigir, mas na minha idade não dá mais. Por que agente não tem mais aquela, né? É, agilidade, e o transito hoje tá infernal. (SARA) Até hoje não. Pode ser que amanhã eu não possa fazer mais. Porque eu viajo, eu faço ginástica, né? Eu como tudo o que eu quero. Porque tem a pessoa da minha idade que não come mais o que eu como. É diabete é pressão alta. Esse “de cume” aqui é separo de fulano de tal. Não, Não. Comigo não tem isso não. Eu tomo café ainda com açúcar, eu não tomo com adoçante. Me café é com doce. (NOEMI) Assim, fica evidente que as limitações trazidas pelo processo de envelhecimento são mínimas e que as idosas tem o anseio de realizar muitas 57 coisas, entretanto ainda não as fazem devido ao tempo ou simplesmente pela questão financeira. Pode-se observar que o termo velhice, não é bem aceito e ainda traz em si aspectos negativos e inferiorizantes. No que diz respeito aos papéis que as idosas ocupam, estes, sofreram importantes modificações, e não mais se restringem ao ambiente familiar. As mulheres idosas conquistaram autonomia para trabalhar fora de casa e liderar seu lar. Entretanto, alguns papéis – como avó, dona de casa – ainda prevalecem, o gera um acúmulo de funções, já que estas exercem agora, antigos e novos papéis. 58 CONSIDERAÇÕES FINAIS O envelhecimento populacional é compreendido, neste século, como um fenômeno mundial, tendo em vista que a população idosa vem crescendo, de forma progressiva e acelerada, em relação à população jovem, que só diminui. Deste modo, o mundo enfrenta, neste século, grandes transformações demográficas e intensas mudanças nas pirâmides etárias. O fato é que o homem nunca viveu tanto. O processo de envelhecimento é marcado por inúmeras transformações biológicas e traz consigo intensas mudanças de caráter social e econômico além de inúmeros estigmas carregados de preconceitos, impostos dia a dia àqueles que de algum modo não se adéquam ao perfil social, pelo simples fato de serem velhos. São considerados como improdutivos, imprestáveis, inúteis, incapazes e por esses motivos são isolados, escondidos, enclausurados e por pouco não se tornam invisíveis. Nesta perspectiva, a Constituição Federal (1988), representa uma enorme conquista, a ser celebrada, no que diz respeito ao âmbito dos direitos destinados aos idosos e impulsionou, a partir de então, a construção da Política Nacional do Idoso (1994), e o Estatuto do Idoso (2003), que representam legislações mais específicas destinadas à essa parcela populacional. O fato é que as legislações que asseguram direitos à pessoa idosa, não são de fato efetivadas, tampouco são capazes de romper com o preconceito empregado à esse contingente populacional tão marginalizado. Preconceito tal, presente em nossa cultura quase que forma intrínseca e constituído historicamente ao longo dos anos. A não efetivação desses direitos e a exclusão social dos idosos constituem os maiores desafios a serem superados na contemporaneidade. Neste contexto de envelhecimento, a categoria gênero traz uma peculiaridade: as mulheres apresentam uma longevidade maior do que os homens. Deste modo vivenciamos também o fenômeno da feminização do envelhecimento. Tal fenômeno, recorrente em todo mundo, ocorre devido a alguns fatores: biológicos (taxas de hormônios, por exemplo), postura diferente em relação ao consumo de 59 álcool e tabaco, utilização dos serviços de saúde de forma contínua, além de sua inserção diferenciada no mercado de trabalho. Tal característica, presente na velhice feminina, aponta para um fator importante: o número de viúvas também supera o número de casadas e solteiras. Deste modo, grande parte da população feminina enfrenta em sua velhice intensas modificações que ultrapassam noções biológicas e permeiam o universo das mudanças sociais. As mudanças sociais, decorrentes de transformações culturais, possibilitam as idosas exercerem novos papéis sociais, já que não mais, se dedicam exclusivamente a cuidar da casa, do marido e netos. Com mais frequência as mulheres idosas se objetivam a conquistar uma sociabilidade maior, o que justifica a grande aceitabilidade do Projeto, Saúde, Bombeiros e Sociedade (PSBS), que ao mesmo em que promove atividade físicas de baixo impacto gera novo vínculos sociais. O que impulsiona o surgimento de novos papéis sociais, tendo em vista que grande parte das idosas participantes do PSBS experimentam uma realidade oposta aos estigmas da velhice e se portam de forma independente e autônoma. Diante dos dados colhidos e das experiências que vivenciei ao longo deste estudo pude perceber que os papéis sociais exercidos pelas idosas sofreram importantes modificações ao longo do processo de envelhecimento. Estas assumem novos papéis na contemporaneidade que, categoricamente, não assumiriam se a variável determinante fosse a faixa etária. Deste modo, as idosas além de donas de casa e avós acrescentam outras funções, como por exemplo, chefe de família, além de trabalharem fora de casa não só para ampliar a renda familiar, mas principalmente por dois importantes motivos: satisfação própria e garantia de autonomia. O fato é que parte das protagonistas deste estudo está cada dia mais ativas e independentes, e o PSBS, enquanto espaço de participação social, tem grande influência neste aspecto. É notório que o aumento da longevidade proporciona o exercício de diferentes papéis sociais que contrariam aquela noção de que lugar de idosa é fazendo crochês e tricôs. De fato, ainda crochetam e tricotam, entretanto não são 60 movidas a isso. Pelo contrário, se reconhecem como mulheres que superam dia a dia as dificuldades a elas impostas e conquistam o espaço que lhes é devido. Este estudo procurou refletir sobre todo o processo de envelhecimento e objetivou-se a compreender os papéis sociais exercidos pelas idosas participantes do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade, sob a perspectiva da feminização do envelhecimento na contemporaneidade. Entretanto, é preciso reconhecer aqui, que este processo investigatório não se expressa de forma acabada, apenas dispõe de análise e reflexões capazes de promover futuros e maiores debates acerca desta temática, de sorte, que possibilite subsídios à diversos estudos no que diz respeito ao processo de envelhecimento e suas múltiplas expressões. 61 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Vera Lúcia Valsecchi de. Modernidade e Velhice. In: Serviço Social & Sociedade. São Paulo, ano XXIV, n. 75, pp. 35-54, set. 2003. BARROS, Micheline Soares. 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PORTARIA Nº 023, DE 18 DE MARÇO DE 2003 DOE nº 073, 17 de abril de 2003 O COMANDANTE GERAL DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO CEARÁ, no uso de suas atribuições que lhe confere o Art.9°, da Lei n°11.673, 20 de abril de 1990 - Lei de Organização Básica, e ainda: CONSIDERANDO que o PROJETO SAÚDE, BOMBEIROS E COMUNIDADE é um projeto voluntário, que teve início no Grupamento de Busca e Salvamento desta Corporação; CONSIDERANDO a visão de seus idealizadores: Cap BM Virgílio Ryozaburo Cláudio SAWAKI; Ten BM LUÍS ROBERTO Costa; Sgt BM José Ivonildo BRITO e Sgt BM Antônio ALDENOR da Silva em oferecer atendimento às pessoas da terceira idade na forma de atividades físico-ocupacionais; CONSIDERANDO que as alterações no processo de envelhecimento no ser humano, podem ser restringidas com a prática regular de atividades físicas, e mesmo que não em alguns casos devemos assegurar o prolongamento do tempo de vida, garantindo uma condição igualmente importante - o bem-estar cotidiano da pessoa na terceira idade; CONSIDERANDO que o público alvo da terceira idade está integrando-se ao Corpo de Bombeiros através da diretriz do senhor Secretário de Segurança Pública e Defesa Social; CONSIDERANDO que devemos realizar uma grande mobilização na população para conscientizar a sociedade quanto ao processo acelerado de envelhecimento sem preconceito; CONSIDERANDO que este projeto em andamento reforça através do Governo do Estado a campanha da fraternidade deste ano atendendo no momento 100 (cem) jovens da terceira idade no momento no Grupamento de Busca e Salvamento; RESOLVE: Determinar aos COMANDANTES das Unidades Bombeiro Militar do 2° e 3° Grupamentos de Incêndio e Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Bombeiros, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentarem o Plano de Unidade Didática com vistas a ampliação do Projeto Saúde, Bombeiros e Comunidade e o início das atividades com a terceira idade. QUARTEL DO COMANDO GERAL DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO CEARÁ, em Fortaleza, aos 18 de março de 2003. JOSÉ ANANIAS DUARTE FROTA - CEL QOBM 68 APÊNDICE 69 APÊNDICE A – Questionário. 1. Nome:____________________________________________________________ 2. Idade: ( ) 60 à 65 anos ( ) 66 à 70 ( ) 71 à 75 ( ) 76 à 80 ( ) 81 ou mais 3. Estado Civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúva ( ) Separado ou Divorciado ( ) União Estável 4. Renda Familiar: ( ) Inferior a 1 Salário Mínimo ( ) 1 Salário Mínimo ( ) Mais de 1 Salário mínimo e menos de 2 Salários Mínimos ( ) Mais de 2 Salários Mínimos e menos de 3 Salários Mínimos ( ) 3 Salários Mínimos ou mais. ( ) Outra: ________________ 5. Quantas pessoas moram com você atualmente: ( ) Nenhuma ( ) Uma ou Duas ( ) Três ou Quatro ( ) Cinco ou Seis ( ) Outro: _________________ 6. Com quem você mora atualmente ( ) Sozinho ( ) Esposo/Companheiro ( ) Esposo/Companheiro e filhos ( ) Com netos ( ) Com filhos e netos ( ) Outro: _________________ 7. Grau de escolaridade: ( ) Nenhum ( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Outro: _________________ 8. Atividade(s) praticada(s) atualmente (marque todas que se aplicam): 70 ( ( ( ( ( ( ) Nenhuma ) Exercícios Físicos ) Trabalhos manuais / Artesanato ) Atividades Culturais ) Atividades Sociais ) Outra: ________________ 9. Trabalha: ( ) Sim ( ) Não Especifique: _________________________________________________________ 10. Estuda: ( ) Sim ( ) Não Especifique: _________________________________________________________ 11. Para você o que é ser velho? 12. As mulheres estão vivendo mais do que os homens, isso que dizer que a maior parte da população idosa é composta por mulheres. Na sua opinião por qual motivo isso ocorre? 13. Qual o seu papel social? 14. Há quanto tempo participa do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade? O que a motivou? 15. O que mudou em sua vida depois de entrar para o PSBS? 71 APÊNDICE B – Entrevista. 1. Nome: ___________________________________________________________ 2. Quais atividades a senhora exerce dentro do ambiente familiar? 3. Quais atividades a senhora exerce fora do ambiente familiar? 4. Como a senhora percebe (qual importância) a seu papel dentro da sociedade? 5. Se compararmos as atividades realizadas por idosas há 20 anos e as suas realizadas hoje, nota-se alguma diferença? 6. O que é ser idosa? 7. O que é ser velha? 8. Os tempos mudam muito... O que a senhora faz hoje que sua mãe ou avó não fariam? 9. O que a senhora considera importante para essa fase da vida? 10. Em sua opinião como a idosa é percebida pela sociedade? 11. Porque as mulheres vivem mais do que os homens? 12. Existe algo que gostaria de fazer, porém não o faz devido às limitações impostas pela idade? 72 APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Questionário). FACULDADE CEARENSE - FaC TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Convidamos a Senhora para participar da pesquisa “Para além de crochês e tricôs: os papéis sociais exercidos pelas idosas participantes do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade sob a perspectiva da feminização do envelhecimento na contemporaneidade”, sob a responsabilidade da seguinte pesquisadora: Emanuelle Cristine Rocha Brandão (orientanda) e orientação da Profª Ms. Valney Rocha Maciel, a qual pretende identificar os papéis sociais exercidos pelas idosas participantes do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade. Sua participação é voluntária e se dará por meio do preenchimento de um questionário contendo 15 questões objetivas e subjetivas. A presente pesquisa será norteada especificamente pelos seguintes objetivos: identificar as mudanças dos papéis sociais da mulher idosa ao longo do processo de envelhecimento; analisar a influência da feminização do envelhecimento na construção de novos papéis sociais; compreender como as idosas reconhecem seu “lugar” e “função” na sociedade contemporânea e identificar se a participação no Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade influência na construção de novos papéis sociais. Desta forma, esperamos que essa pesquisa proponha grandes e novas reflexões acerca desta temática e contribua para o reconhecimento do espaço social que hoje ocupa a mulher idosa. Se depois de consentir em sua participação a Senhora desistir de continuar participando, tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa. A Senhora não terá nenhuma despesa e também não receberá nenhuma remuneração. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada em sigilo. Para qualquer outra informação, a Senhora poderá entrar em contato com o pesquisador pelo telefone: (85) XXXX-XXXX. Eu, ________________________________________________________________, fui devidamente informada sobre o teor desta pesquisa. Sendo assim, concordo com minha participação, assinando em duas vias de igual teor. ___________________, ______ de _______________ de 2013 ________________________________________________________________ Assinatura do participante ________________________________________________________________ Assinatura do Pesquisador 73 APÊNDICE D – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Entrevista). FACULDADE CEARENSE - FaC TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Convidamos a Senhora para participar da pesquisa “Para além de crochês e tricôs: os papéis sociais exercidos pelas idosas participantes do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade sob a perspectiva da feminização do envelhecimento na contemporaneidade”, sob a responsabilidade da seguinte pesquisadora: Emanuelle Cristine Rocha Brandão (orientanda) e orientação da Profª Ms. Valney Rocha Maciel, a qual pretende identificar os papéis sociais exercidos pelas idosas participantes do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade. Sua participação é voluntária e se dará por meio de uma entrevista estruturada contendo 12 questões. A presente pesquisa será norteada especificamente pelos seguintes objetivos: identificar as mudanças dos papéis sociais da mulher idosa ao longo do processo de envelhecimento; analisar a influência da feminização do envelhecimento na construção de novos papéis sociais; compreender como as idosas reconhecem seu “lugar” e “função” na sociedade contemporânea e identificar se a participação no Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade influência na construção de novos papéis sociais. Desta forma, esperamos que essa pesquisa proponha grandes e novas reflexões acerca desta temática e contribua para o reconhecimento do espaço social que hoje ocupa a mulher idosa. Se depois de consentir em sua participação a Senhora desistir de continuar participando, tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa. A Senhora não terá nenhuma despesa e também não receberá nenhuma remuneração. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada em sigilo. Para qualquer outra informação, a Senhora poderá entrar em contato com o pesquisador pelo telefone: (85) XXXX-XXXX. Eu, ________________________________________________________________, fui devidamente informada sobre o teor desta pesquisa. Sendo assim, concordo com minha participação, assinando em duas vias de igual teor. ___________________, ______ de _______________ de 2013 ________________________________________________________________ Assinatura do participante ________________________________________________________________ Assinatura do Pesquisador