Leishmaniose Tegumentar: uma Doença em Expansão Estudo

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ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ – ESPCE
PAULO MARCELO MARTINS RODRIGUES
ESPECIALIZAÇÃO EM DERMATOSES DE INTERESSE SANITÁRIO
LEISHMANIOSE TEGUMENTAR: Uma Doença em expansão
Estudo Bibliográfico
FRANCISCO ERIVAN ALVES
FORTALEZA – CE
2007
FRANCISCO ERIVAN ALVES
LEISHMANIOSE TEGUMENTAR: Uma Doença em expansão
Estudo Bibliográfico
Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização
em Dermatoses de Interesse Sanitário apresentado à
Escola de Saúde Publica do Ceará - ESPCE, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Especialista em Dermatose de Interesse Sanitário.
Professora-orientadora: Dra. Tereza Lúcia Prata de Almeida
FORTALEZA – CE
2007
FRANCISCO ERIVAN ALVES
LEISHMANIOSE TEGUMENTAR: Uma Doença em expansão
Estudo Bibliográfico
Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Dermatoses de Interesse Sanitário
apresentado à Escola de Saúde Pública do Ceara - ESPCE, como requisito parcial para a
obtenção do título de Especialista em Dermatose de Interesse Sanitário.
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________
Thereza Lúcia de Almeida Prata – Msc - Orientadora
___________________________________________
Tânia Maria Poti Sales –Msc - Coordenadora
___________________________________________
Eni Terezinha Fleck de Paula Pessoa - Msc
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado em: 14/12/2007
FORTALEZA – CE
2007
DEDICATÓRIA
Á minha esposa Cibele e aos meus filhos Mariana
e Gabriel, que souberam me entender e me
encorajar a lutar pelos meus ideais.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vitória de cada dia e pela certeza que ele está sempre guiando os
meus passos.
Aos meus pais e meus irmãos, pelo carinho, compreensão e afeto.
Aos mestres, pelo conhecimento partilhado ao longo dessa caminhada.
A todos aqueles que contribuíram de forma direta ou indireta para a realização
deste trabalho.
RESUMO
ALVES, Francisco Erivan. Leishmaniose Tegumentar: Uma doença em expansão –
Estudo Bibliográfico. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em
Dermatose de Interesse Sanitário. Escola de Saúde Pública do Ceará – ESPCE.
A Leishmaniose Tegumentar Americana permanece endêmica em várias áreas
brasileiras. Tem distribuição mundial, com um número de 350 milhões de pessoas
vivendo em regiões endêmicas correndo o risco de contrair a infecção. A doença acomete
mais freqüentemente os trabalhadores que invadem as florestas tropicais ou moram
próximo as elas. Esse estudo tem como objetivo conhecer e compreender a
Leishmaniose Tegumentar Americana a partir de uma revisão da literatura. Trata-se de
um estudo bibliográfico, desenvolvido na cidade de Juazeiro do Norte - CE, com o acervo
bibliográfico disponível em biblioteca de faculdades pública e privada, bem como através
de via on-line. A coleta de dados foi realizada no ano de 2006, com a finalidade de
desvendar questionamentos acerca da problemática descrita. Os resultados foram
descritos textualmente, obedecendo a uma sistematização no sentido de alcançar os
objetivos propostos neste estudo. Acreditamos na importância desse estudo para se
compreender a eco-epidemiologia da doença, diagnosticá-la, determinar os mecanismos
envolvidos e definir estratégias e medidas eficientes de profilaxia e controle.
Palavras-chave: Leishmaniose Tegumentar Americana; Epidemiologia; Medidas de
controle
ABSTRACT
ALVES, Francisco Erivan. Leishmaniose Tegument: An illness in expansion Bibliographical Study. Work of Conclusion of the Course of Specialization in Dermatosis
of Sanitary Interest. School of Public Health of Ceará - ESPCE. The Leishmaniose
American Tegument remains endemic in some Brazilian areas. It has world-wide
distribution, with a number of 350 million people living in endemic regions running the
risk to contract the infection. The illness acomete more frequently the workers who
invade the tropical forests or live next they. This study it has as objective to know and to
understand the Leishmaniose American Tegument from a revision of literature. One is
about a bibliographical study, developed in the city of Juazeiro of the North - CE, with
the available bibliographical quantity in public and private library of facultieses, as well
as through saw on-line. The collection of data was carried through in the year of 2006,
with the purpose to unmask questionings concerning problematic the described one.
The results had been described textualmente, obeying a systematization in the direction
to reach the objectives considered in this study. We believe the importance of this study
to understand the echo-epidemiology of the illness, to diagnosis it, to determine the
involved mechanisms and to define strategies and efficient measures of Prophylaxis
and control.
Word-key: Leishmaniose American Tegument; Epidemiology; Measures of control.
LISTA DE ABREVIATURAS
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
LTA - Leishmaniose Tegumentar Americana
IDRM - Intradermorreação de Montenegro
OMS – Organização Mundial de Saúde
LCD - Leishmaniose Cutânea Difusa
LT – Leishmaniose Tegumentar
LM – Leishmaniose Mucosa
LV – Leishmaniose Visceral
SFM – Sistema Fagócito Mononuclear
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO.................................................................................................... 10
2.
OBJETIVOS.........................................................................................................14
2.1. Objetivo Geral........................................................................................................14
2.2. Objetivos Específicos...........................................................................................14
3.
REFERENCIAL
TEÓRICO.......................................................................................................................16
3.1. Considerações históricas, conceituais e epidemiológicas da Leishmaniose
Tegumentar
Americana....................................................................................................................16
3.2. Aspectos diagnósticos e terapêuticos da Leishmaniose Tegumentar
Americana.....................................................................................................................23
3.3. Medidas gerais de controle para a Leishmaniose Tegumentar
Americana.....................................................................................................................29
4.
TRAJETÓRIA
METODOLÓGICA.........................................................................................................34
4.1. Tipo de Estudo......................................................................................................34
4.2. Local de Estudo....................................................................................................34
4.3. Coleta de Dados...................................................................................................34
4.4. Análise e Discussão dos resultados..................................................................34
5.
DISCUSSÃO DE RESULTADOS.......................................................................36
6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................41
REFERÊNCIAS............................................................................................................44
Introdução
1. INTRODUÇÃO
A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), apesar de ser uma doença que
acompanha o homem desde a antigüidade e ter sido confirmada no Brasil pela primeira
vez em 1909 por Lindenberg que encontrou formas de Leishmania em lesões cutâneas
em indivíduos que trabalhavam nas matas do interior do estado de São Paulo (Basano;
Camargo, 2004), vem sendo atualmente assunto de intensas discussões entre
pesquisadores uma vez que tal doença nos últimos tempos vem se expandindo por
várias partes do Brasil e do mundo, constituindo-se assim como um sério problema de
saúde pública. Devido a essa caracterização, a LTA vem sendo alvo de muitas
pesquisas, principalmente no que se trata do planejamento e implementação de ações
de saúde com o objetivo de controlar a doença.
De acordo com Castro et al. (2002), a Leishmaniose tem distribuição mundial,
com um número de 350 milhões de pessoas vivendo em regiões endêmicas correndo o
risco de contrair a infecção. O gênero Leishmania, no Novo Mundo, ocorre desde a
península de Yucatán, no México, até o norte da Argentina, por onde se distribuem pelo
menos 17 tipos, causando diversas formas clínico-epidemiológicas. Destes, dez são
verificados como parasitas do homem. No Brasil, sete tipos circulam: Leishmania
amazonensis (nas regiões norte e nordeste), Leishmania guvanensis (na região norte),
Leishmania brasiliensis (da região norte até a região sul), Leishmania shawi,
Leishmania naiffi e Leishmania lainsoni (na região norte) e Leishmania infantum (na
região norte, nordeste e parte do sudeste do país).
Tendo em vista essa distribuição das espécies de Leishmania no Brasil, pode se
perceber que a Leishmaniose Tegumentar ocorre em quase todos os estados
brasileiros e acomete pessoas de todas as faixas etárias e de ambos os sexos. No
Brasil, entre os anos de 1956 e 1976 foram registrados 33.991 casos humanos
(CASTRO, 2002). O período de 1980 a 1990 foi marcado por um total de 154.103
casos. Já de 1985 a 1999 foram registrados no país 388.155 casos autóctones de
Leishmaniose Tegumentar. Embora a incidência da LTA no Brasil não apresente dados
fidedignos e muito provavelmente encontre-se aquém do valor real, comparando-se os
valores absolutos e o coeficiente de detecção, houve um aumento de 13.654 casos/ano
para 30.550 casos/ano, e de 10,45 casos/100.000 habitantes para 18,63 casos/100.000
habitantes nestes dois últimos períodos, respectivamente (Basano; Camargo, 2004).
Continuando na linha de raciocínio de Basano e Camargo (2004), esses autores
afirmam que vários estudos brasileiros apontam para a ocorrência de LTA e seus
vetores em todo o território brasileiro, porem apresentando-se com diferentes
coeficientes de incidência. Com base em dados recentemente divulgados pelo
Ministério da Saúde em 2004 relativos aos casos de LTA identificados no ano de 2003,
a região norte apresentou um total de 14.200 casos, a região nordeste 8005 casos, a
região sudeste 3472 casos, a região sul 951 casos e a região centro-oeste 4635 casos.
No entanto, tendo como base esses números, deve-se ressaltar que a
ocorrência do perfil periurbano de transmissão, esta relacionada com a falta de
saneamento básico, a situação econômica precária, a migração da população para as
periferias das cidades, aos materiais de construção inadequados e ao convívio com
animais ermos ou mesmo domesticados que servem de novos reservatórios da
doença, aliados ao aumento da população de ratos que se concentram nos depósitos
de lixo destas áreas (Basano; Camargo, 2004). Complementando a idéia dos autores
citados, Silveira et al. (1996) afirmam que a Leishmaniose Tegumentar ocorre em áreas
onde há derrubada de matas e colonização recente, mas ultimamente vem sendo
verificada também em áreas de colonização antiga onde existem matas residuais ou de
segunda formação.
A Leishmaniose Tegumentar Americana trata-se de uma doença não contagiosa,
de evolução crônica, que acomete as estruturas da pele e cartilaginosas da
nasofaringe, de forma localizada ou difusa, causada por várias espécies de
protozoários digenéticos da ordem Kinetoplastida, família Trypanossomatide e do
gênero Leishmania. Essas causam primariamente infecções de caráter zoonótico,
acometendo o homem e seus animais domesticados de maneira secundária (Basano;
Camargo, 2004). A doença abrange desde formas inaparentes, lesões discretas de
pele que podem evoluir espontaneamente para a cura, ulcerações múltiplas, lesões de
mucosas até formas com tendência a metástases e recidivas, de curso lento e
tratamento difícil (SILVEIRA et al., 1996).
Para Castro et al. (2002) a Leishmaniose é uma zoonose causada por
protozoário parasita do gênero Leishmania, cujo ciclo tem a participação de um
hospedeiro vertebrado e um invertebrado. Durante seu ciclo biológico, este protozoário
apresenta duas formas: amastigota e promastigota. A forma amastigota parasita o
fagossoma das células do Sistema Fagócito Mononuclear (SFM) dos hospedeiros
vertebrados como homens, animais selvagens e animais domésticos. A forma
promastigota habita o aparelho digestivo do vetor, que são insetos da família
Psvchodidae, subfamília Phlebotominae.
Nesse sentido, para o Ministério da Saúde (2000) a Leishmaniose Tegumentar
Americana, também conhecida como leishmaniose mucocutânea, úlcera de Bauru,
ferida brava etc., tem sido assinalada no Brasil em todos os seus estados e, portanto
configura-se como uma das afecções dermatológicas que merece maior atenção,
devido à magnitude da doença, assim como pelo risco de ocorrência de deformidades
que pode produzir no homem, como também pelo envolvimento psicológico do doente,
com reflexos no campo social e econômico, uma vez que, na maioria dos casos, pode
ser considerada uma doença ocupacional.
É com base nessas descrições iniciais que se pode perceber a grandiosidade da
problemática da Leishmaniose Tegumentar Americana no Brasil e no Mundo. Assim,
apesar da ciência já ter descoberto e executado muito no âmbito da LTA, a realidade
com a qual vivenciamos em nosso país ainda nos entristece e nos faz repensar acerca
das ações desenvolvidas perante essa doença. Então, conhecer e compreender a
Leishmaniose Tegumentar Americana, suas particularidades e sua expansão em nível
do território nacional brasileiro, bem como investigar e descrever as medidas eficazes
de controle para a mesma, são as questões norteadoras e motivadoras para a
realização deste estudo bibliográfico.
Objetivos
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral

Conhecer e compreender a Leishmaniose Tegumentar Americana a partir de
uma revisão da literatura.
2.2. Objetivos Específicos

Descrever considerações históricas, conceituais e epidemiológicas da
Leishmaniose Tegumentar Americana

Descrever
aspectos
diagnósticos
e
terapêuticos
da
Leishmaniose
Tegumentar Americana

Descrever e propor medidas gerais de controle para a Leishmaniose
Tegumentar Americana
Referencial Teórico
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1
Considerações
históricas,
conceituais
e
epidemiológicas
da
Leishmaniose Tegumentar Americana
Segundo Basano e Camargo (2004) a Leishmaniose Tegumentar Americana
(LTA) trata-se de uma doença que está presente na vida do homem desde a
antiguidade, uma vez que existem relatos e descrições encontradas acerca desta
doença na literatura desde o século I d.C. Em nível mundial, reportando-se inicialmente
às Américas, foram encontradas cerâmicas pré-colombianas, datadas de 400-900 anos
d.C, produzidas pelos índios no Peru, que apresentam mutilações de lábios e narizes,
características da espúndia, hoje conhecida como
leishmaniose
cutâneo-mucosa.
Algum tempo depois, através de estudos da paleomedicina, foram descobertas múmias
com lesões de pele e mucosas características da leishmaniose.
A primeira referência de Leishmaniose Tegumentar Americana no Brasil
encontra-se no documento da Pastoral Religiosa Político-Geográfica de 1827, citado no
livro de Telli, que tem como título “Antiguidad de La Syfilis en El Peru”, onde ele relata a
viagem de Frei Dom Hipólito Sanches de Fayas y Quiros de Tabatinga (AM) até o Peru,
percorrendo as regiões do vale amazônico (BASANO; CAMARGO, 2004).
Os autores acima referenciados afirmam ainda que o primeiro a observar o
parasita do gênero Leishmania foi Cunningham no ano de 1885, na Índia, em caos de
leishmaniose visceral. No Brasil, Cerqueira, em 1885, observando a moléstia da pele
indentificou-a clinicamente como botão de Biskra. Em 1895, na Ítália, Breda, descreveu
a moléstia em italianos provenientes de São Paulo. Todavia, no Brasil, a natureza
leishmaniótica das lesões cutâneas e nasofaríngeas só foi confirmada, pela primeira
vez, em 1909, por Lindenberg, que encontrou formas de Leishmania, idênticas à
Leishmania tropica da Leishmaniose do Velho Mundo, em lesões cutâneas dos
trabalhadores das matas no interior do estado de São Paulo.
Ainda de acordo com Basano e Camargo (2004), o cientista Gaspar Vianna, por
considerar o parasita diferente da Leishmania tropica, o nomeou como Leishmania
braziliensis, firmando-o assim como o agente etiológico da “úlcera de bauru”, “ferida
brava” ou “nariz de tapir”. Dessa forma, até a década de setenta, todos os casos de
Leishmaniose Tegumentar Americana eram atribuídos a Leishmania braziliensis, porém
com advento e aprimoramento das técnicas de análise e a intensificação dos estudos
ecológicos e epidemiológicos, outras espécies foram sendo descobertas e descritas.
Levando em consideração a abordagem histórica descrita por Faust et al.
(1994), em 1900, William Leishman identificou um protozoário no baço de um soldado
que havia vindo a óbito na Índia, em decorrência de uma febre local conhecida como
febre “dundum”
ou “Kala-azar”. Suas anotações não foram publicadas até 1903
quando Donovan encontrou o mesmo parasita em outro paciente. Ainda no mesmo
ano, Laveran & Mesnil descreveram o protozoário com o nome de Piroplasma donovan.
Leonard Rogers, em 1904, foi o primeiro a conseguir cultivar o parasita e observou que
nas culturas ele era visto sob a forma flagelada. Patton, em 1907 observou as formas
leishmanias (amastigotas) em monócitos e as formas leptomonas (promastigotas) no
intestino de insetos que eram alimentados sobre pacientes com calazar.
Um dos agentes etiológicos da doença é a Leishmania guyanensis, que foi
isolada pela primeira vez por Floch em 1954, o qual é responsável pela forma cutânea
difusa da leishmaniose. A Leishmania amazonesis, isolada por Lainson e Shaw em
1972 é responsável pela forma clinica cutânea, porém alguns casos podem
desenvolver a forma clínica difusa e incurável da doença. Já a Leishmania braziliensis,
isolada por Vianna em 1911 é a causadora da forma cutâneo-mucosa (COSTA et
al.,1991).
Enquanto aspectos conceituais sobre a Leishmaniose Tegumentar Americana,
de acordo com Brasil (2000), esta trata-se de uma doença infecciosa, não contagiosa,
causada por protozoários do gênero Leishmania, que acomete pele e mucosa. É
primariamente uma infecção zoonótica, afetando outros animais que não o homem, o
qual pode ser envolvido secundariamente.
Complementando a idéia, Wygaarden et al. (1993), afirmam que a Leishmaniose
é uma infecção por protozoário causada por várias espécies do gênero Leishmania.
Paradoxalmente, as células hospedeiras desses parasitas intracelulares são fagócitos
mononucleares, células que normalmente destroem microrganismos. Na natureza a
infecção geralmente é uma zoonose, com transmissão do parasita por mosquito
flebótomos para animais selvagens ou domésticos, principalmente roedores e caninos,
sendo os seres humanos hospedeiros acidentais.
A Leishmaniose Tegumentar Americana é transmitida habitualmente através da
picada de insetos que pode pertencer a várias espécies de flebotomíneos de diferentes
gêneros, dependendo da localização geográfica. A Leishmania é um protozoário
pertencente à família Trypanosomatídae com duas formas principais: uma flagelada ou
promastigota, encontrada no tubo digestivo do inseto vetor e em alguns meios de
cultura artificiais, e outra aflagelada ou amastigota, vista nos tecidos dos hospedeiros
vertebrados, como o homem e outros animais superiores (BRASIL, 2000).
Em se tratando do período de incubação da doença, no homem, este é em
média, de dois meses, podendo apresentar períodos mais curtos, em torno de duas
semanas, ou mais longos, chegando até dois anos. A Leishmaniose Tegumentar
Americana, inclui a leishmaniose cutânea – LC e a leishmaniose mucosa – LM
(BRASIL, 2000).
A doença cutânea geralmente manifesta-se por uma ou mais úlceras indolentes,
mas pode haver amplo espectro de envolvimento cutâneo. Quando parasitas de lesões
cutâneas algumas vezes metastatizam para produzir lesões destrutivas posteriores da
oronasofaringe, o resultado é a leishmaniose cutâneo-mucosa.
A forma clínica mucosa é detectada em apenas 3% a 5% dos casos da
Leishmaniose Tegumentar Americana. Os vetores da LTA são dípteros da família
Psychodidae denominados flebotomíneos, também conhecidos como; Cangalha,
Cangalhinha, mosquito-palha, birigui, tatuíra, etc (COSTA et al,1991).
Observa-se dentre as principias características desses vetores as seguintes:
eles são menores que os pernilongos comuns; todos se apresentam muito pilosos e de
coloração clara (cor de palha ou castanhos claros); sempre pousam com as asas
eretas e entreabertas, sendo que as fêmeas exercem hematofagia, preferencialmente,
no horário noturno a partir das 20h00min. As fêmeas depositam seus ovos em uma
média de 40 a 70, sendo que estes se agrupam em lugares úmidos e com matéria
orgânica, ficam aderentes ao substrato, graças a substâncias viscosas que
acompanham as desovas. O período de incubação estende-se de 6 a 17 dias, variando
conforme a temperatura. A eclosão, geralmente se dá de 7 a 10 dias após a postura.
As Larvas, possuem 4 mudas, que variam no seu período de desenvolvimento,
conforme a espécie, a temperatura, a umidade e o alimento disponível, podendo durar
de 18 dias até meses, nas épocas frias e secas. A pupa não se alimenta,
permanecendo imóvel. A duração do período pupal varia de 7-12 dias, dependentes
também da temperatura e de fatores genéticos (COURTNA, 1996).
Quando sai da fase larvária e se torna adulto, o que ocorre por meio da eclosão,
observa-se que os machos nascem antes das fêmeas, sendo que a fase do nascimento
ocorre preferencialmente no período noturno. A cópula ou ato reprodutivo entre os
mosquitos ocorre em superfície, e pode até mesmo se dar enquanto a fêmea está se
alimentando, parasitando nos hospedeiros ou até no homem.
Observa-se que ambos os sexos necessitam de carboidratos como fonte de
reposição energética. A fim de suprir as suas carências energéticas o mosquito busca
sugar o néctar das flores e frutos.
A duração total do ciclo varia em um período decorrido entre 28 a 75 dias.
Observa-se que as fêmeas necessitam de sangue para o desenvolvimento dos ovos
nessa fase. Em sua fase alada, os mosquitos movem-se de modo saltitante, com vôos
curtos e têm um ciclo de vida até um mês. Os principais criadouros do flebótomos são:
ambientes extradomiciliares são raízes tubulares de árvores, ocos, depressões e
buracos de tronco e toca de animais, entre e sob as rochas, fendas e juntas (BRASIL,
2000).
Há também a grande possibilidade de que o mosquito se desenvolva nos
ambiente domiciliar, onde existam locais que sejam atrativos à proliferação do mesmo,
como por exemplo: pocilgas, tendo algumas espécies, a grande capacidade de se
adaptarem ao ambiente domiciliar humano, quando ocorre destruição do seu habitat
natural. São mamíferos silvestres: roedores, canídeos, marsupiais, ungulados e
endentados, que são os ratos, cães, gambás, raposas, tamanduá, bicho-preguiça
(EVANS,1990).
O inseto ao picar o hospedeiro desenvolve o parasito no intestino tornando-se
infectante. Ao picar novo hospedeiro (homem ou animal), irá transmitir o parasito. O
seu período de transmissibilidade ocorre enquanto houver parasitas nas lesões.
De acordo com Brasil (2000), são referidas várias formas clínico-epidemiológicas
relacionadas a diferentes subgêneros e espécies da Leishmania:

Leishmania amazonensis: encontrada pelas florestas primárias e secundárias
da Amazônia (Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins e sudoeste do
Maranhão), particularmente em áreas tipo igapó e de floresta tipo várzea.
Tem como hospedeiros naturais vários marsupiais, que às vezes apresenta o
parasita na pele sem lesões cutâneas. Seus principais vetores são os
Lutzomyia flavisculetta, Lutzomyia reducta e Lutzomyia nociva, os quais tem
hábitos noturnos e vôo baixo, e são pouco antropofílicos. A doença humana é
relativamente rara, podendo ocorrer lesão ulcerada, geralmente única.
Alguns indivíduos podem desenvolver o quadro clássico da Leishmaniose
cutânea difusa (LCD), caracterizado por: infiltrações, pápulas e tubérculos,
envolvendo
extensas áreas cutâneas. Esta forma da doença é apenas
controlável, sem ocorrer a cura.

Leishmania (Viannia) guyanensis: aparentemente limitada ao norte da Bacia
Amazônica e estendendo-se pelas Guianas, é encontrada principalmente em
florestas de terra firma. Vários mamíferos silvestres foram identificados como
hospedeiros naturais (preguiça, tamanduá, marsupiais e roedores). A
infecção animal é geralmente inaparente, com parasitas encontrados na pele
e vísceras. Os vetores são Lutzomyia anduzei, Lutzomyia whitmani e
Lutzomyia umbratilis, que é o principal vetos, costumando pousar durante o
dia em troncos de árvores e atacar o homem em grande quantidade, quando
perturbado. A doença atinge principalmente indivíduos do sexo masculino,
jovens e adultos, em fase produtiva, o que caracteriza a ocorrência
ocupacional nas frentes de trabalho, associada ao desflorestamento,
penetração em áreas de florestas virgens, e exercícios militares.

Leishmania (Viannia) braziliensis: tem ampla distribuição, do sul do Pará ao
Nordeste, atingindo também o centro sul do país e algumas áreas da
Amazônia Oriental. Até o momento não se conseguiu identificar animais
silvestres como reservatórios, porém é freqüente o encontro de várias
espécies domésticas como o cão, eqüinos, mulas e roedores domésticos ou
sinatrópicos, albergando em proporção expressiva ao parasita. A doença
humana é caracterizada por úlcera cutânea, única ou múltipla, cuja principal
complicação é a metástase por via hematogênica, para as mucosas da
nasofaringe, com destruição desses tecidos. Felizmente a freqüência desta
complicação vem sendo reduzida, não excedendo a 2% dos casos nas áreas
endêmicas. Provavelmente esta redução relaciona-se com o diagnóstico e
tratamento precoces.
Outras espécies de Leishmanias têm sido isoladas de casos humanos, caninos,
roedores e marsupiais, de diferentes regiões do Brasil e apresentam características
biológicas e bioquímicas distintas, estando relacionadas a aspectos clínicoepidemiológicos diferentes.
Enquanto considerações epidemiológicas, Brasil (2000) afirma que na década
de 50, houve uma diminuição geral da ocorrência de casos de LTA, porém nos últimos
20 anos, vem apresentando franco crescimento, tanto em magnitude como em
expansão geográfica, observando-se surtos epidêmicos nas regiões sul, sudeste,
centro-oeste, nordeste, e mais recentemente, na região norte, mais precisamente na
área amazônica, relacionados ao processo predatório de colonização.
Nos anos de 1985 a 1999, foram registrados no Brasil 388.155 casos autóctones
de Leishmaniose Tegumentar Americana. Comparando-se dados de 1985 (13.654
casos) com os de 1999 (30.550), observa-se que o coeficiente de detecção desta
doença no Brasil aumentou de 10,45/100.000 habitantes para 18,63/100.000
habitantes, em função da melhoria do fluxo de informação. Não obstante, é possível
também revelar que observou-se também uma expansão geográfica crescente, uma
vez que em 1994 foram registrados casos em 1861 municípios, representando 36,9%
do total de municípios do país; e em 1998 houve uma nova expansão da doença para
2.055 municípios (BRASIL, 2000).
Avaliando a distribuição dos casos por região do país, Brasil (2000) diz que na
região Norte, em 82% dos municípios há registros de casos autóctones, sendo que nos
estados do Amapá e Roraima 100% dos municípios apresentaram autoctonia. Já no
Nordeste houve um aumento gradativo no número de municípios atingidos pela
Leishmaniose Tegumentar Americana no período de 1994 a 1998, destacando o
estado do Maranhão que apresentou um crescimento de 39% no período citado,
registrando casos em 88,5% dos municípios.
No Centro-Oeste, a Leishmaniose Tegumentar Americana vem expandindo,
tendo atingido 64,3% dos municípios avaliados em 1998, correspondendo a um
aumento de 10% em relação ao ano de 1994. Em Mato Grosso 100% dos municípios
têm registro de casos autóctones. No estado de Goiás verificou-se também uma
expansão significativa, passando de 71 municípios atingidos em 1994 para 113 em
1998, o que corresponde a um acréscimo de 62%.
Quanto à região Sudeste, esta apresentou uma queda gradativa no período de
1994 a 1997, entretanto em 1998 houve um acréscimo de 27% em relação ao ano
anterior. Ressalta-se que os estados do Espírito Santo e Minas Gerais foram os que
apresentaram o maior percentual de municípios com LTA em 1998, com 50,5% e
46,3%, respectivamente. No sul do país, o Paraná vem apresentando aumento
gradativo no número de municípios com casos de LTA, passando de 117 municípios
em 1994 para 146 em 1998 (BRASIL, 2000).
Com relação ao coeficiente de detecção da Leishmaniose Tegumentar
Americana, de acordo com dados da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) de 1999,
observou-se que neste referido ano na região Norte 85,7% dos estados apresentaram
coeficiente de detecção acima de 71/100.000 habitantes, com destaque para o estado
do Amapá que corresponde a 10 vezes mais o coeficiente de detecção do país. No
Nordeste, em 44% dos estados (Maranhão, Bahia, Ceará e Pernambuco), o coeficiente
de detecção foi alto, sendo que o Maranhão apresentou o maior coeficiente em 1999
com 55,72/100.000 habitantes.
O Centro-Oeste corresponde a segunda maior região em coeficiente de
detecção, com 50,45/100.000 habitantes, destacando o estado do Mato Grosso em
1999 com 4.895 casos autóctones de LTA e coeficiente de detecção 206,05/100.000
habitantes. As regiões Sul e Sudeste apresentaram coeficiente de detecção bem
inferiores às demais, sendo que o estado de Espírito Santo apresentou em 1999 o
maior coeficiente, com 30,11/100.000 habitantes. Verifica-se ainda que o Paraná é o
responsável por 98% dos casos da região Sul, com coeficiente de 4,88/100.000
habitantes.
Mediante esses dados epidemiológicos, Brasil (2000) afirma ainda que
atualmente, pode-se dizer que no Brasil, a doença apresenta dois padrões
epidemiológicos característicos:

Surtos epidêmicos associados à derrubada das matas para a construção de
estradas e instalação de povoados em regiões pioneiras, e a exploração
desordenada da floresta, como derrubada das matas para extração de
madeira, agricultura, pecuária, entre outras. Neste caso a Leishmaniose
Tegumentar é fundamentalmente, uma zoonose de animais silvestres, que
pode atingir o homem quando entra em contato com os focos zoonóticos.

Leishmaniose em regiões de colonização antiga, relacionada ao processo
migratório, ocupação de encostas e aglomerados semiurbanizados na
periferia de centros urbanos, não associada à derrubada das matas. Neste
padrão, cães, eqüinos e roedores parecem ter papel importante como novos
reservatórios do parasita e tem-se discutido a possível adaptação de vetores
e parasitas a ambientes modificados e a reservatórios.
3.2. Aspectos diagnósticos e terapêuticos da Leishmaniose Tegumentar
Americana
Com relação ao diagnóstico da doença observa-se que o quadro cutâneo, iniciase pelo aparecimento de pequena lesão eritemato-papulosa no local da picada do
vetor, posteriormente há formação de um nódulo que pode atingir 1 cm de diâmetro e
aproximadamente 4 semanas de evolução, com o aparecimento de uma crosta central
(BRASIL, 2000).
A perda desta crosta dá origem a uma úlcera, que evolui formando úlcera
leishmaniótica clássica, de formato arredondado, com bordas elevadas e infiltradas. A
lesão inicial pode ser única ou múltipla, dependendo do número de picadas infectantes.
A mucosa mais freqüentemente acometida é a da região nasal, os principais sinais e
sintomas são epistaxe, eliminação de crostas e obstrução nasal. Existem duas formas
extremas: a ulceração e não ulcerativa e as formas intermediárias. Além das lesões
nasais, podem ocorrer lesões em lábios, língua, palato, orofaringe e laringe (DYE,
1996).
Diante dos transtornos que a leishmaniose tegumentar causa no homem, faz-se
necessário conhecer a expansão da doença, para melhor diagnosticar e tratar. Assim,
de acordo com Alvar (1994) os métodos mais utilizados para o diagnóstico da
leishmaniose tegumentar são: exame parasitológico direto (esfregaço de raspado da
lesão); cultura em meio de N.N.N. ou similar - inoculação em hamster (isolamento para
classificação de leishmania; exame histopatológico (biopsia da lesão); métodos
indiretos ou imunológicos; reação intradérmica de Montenegro (IRM); reação
imunofluorescência indireta (RIFI); reação de Hemaglutinação passiva; reação de
fixação de complemento (RFC); reação de aglutinação direta; reação de Elisa; reação
de Dot Elisa.
O diagnóstico clínico, pode ser feito com base nas características da lesão
associadas a anamnese, onde os dados epidemiológicos são de grande importância.
As formas tegumentares do Novo Mundo compreendem uma síndrome cujas
manifestações clínicas dependem de alguns fatores como a espécie de Leishmania
envolvida e a relação do parasita com seu hospedeiro.
A
Leishmaniose
cutânea
(LC)
é
definida
pela
presença
de
lesões
exclusivamente na pele, que se iniciam no ponto de inoculação das promastigotas
infectantes, através da picada do vetor, para qualquer das espécies de Leishmania
causadoras da doença (MARZOCHI,1992).
As lesões cutâneas da LTA apresentam lesões na pele que pode se caracterizar
na forma localizada (única ou múltipla), a forma disseminada (lesões muito numerosas
em várias áreas do corpo) e a forma difusa. Na maioria das vezes a doença apresentase como uma lesão ulcerada única (ADLER,1994).
Segundo Adler (1994), a forma
cutânea localizada, apresenta uma lesão
ulcerada franca que é a mais comum e se caracteriza por úlcera com bordas elevadas,
em moldura. O fundo é granuloso, com ou sem exsudação. Em geral, as úlceras são
indolores. Observa-se também outros tipos de lesão como úlcero-crostosa, impetigóide,
ectimatóide, úlcero-vegetante, e verrucosa crostosa, além de tuberosa, linquenóide e
outras. Nestas formas, na fase inicial, é freqüente a linfangite e/ou adenopatia satélite,
que poderia preceder a lesão de pele. Ás vezes, no cordão linfático podem se
desenvolver nódulos, que se ulceram, lembrando a esporotricose. Podem ser
observados pápulas na periferia das lesões.
A forma cutânea disseminada se caracteriza por lesões ulceradas pequenas, às
vezes acneiformes distribuídas por todo o corpo (disseminação hematogênica). As
formas localizadas e disseminadas costumam responder bem à terapêutica tradicional.
A Leishmaniose Cutânea Difusa (LCD) é considerada forma rara da leishmaniose
tegumentar e se encontra distribuída em alguns países das Américas, África e Ásia.
Essa variante de leishmaniose tegumentar caracteriza-se por maciço comprometimento
dérmico, natureza crônica, com recaídas freqüentes e anergia a teste intradérmico de
Montenegro (BRASIL, 2000).
A leishmaniose tegumentar difusa apresenta aspectos clínicos, imunológicos,
parasitológicos, anatomopatológicos e terapêuticos diferentes das outras formas de
leishmaniose cutânea, existindo duas possibilidades para explicar esta adversidade: 1as diferenças seriam devidas a uma deficiência imunológica especifica dos
hospedeiros; e 2- representam duas entidades diversas, causadas por subespécies
diferentes de leishmanias capazes de induzir imunodepressão especifica no hospedeiro
infectado.
Entre as formas menos comuns de LTA encontra-se a leishmaniose cutânea
difusa (LCD) situada no pólo anérgico da doença, em oposição á forma polar resistente
representada pela leishmaniose cutâneo-mucosa (LCM) e parte das leishmanioses
cutâneas localizadas (CONVIT, et al,1993).
As características clínicas iniciais da LCD apresentam-se como mácula, pápula
ou nódulo no local da inoculação. Ao contrário do que ocorre com a leishmaniose
cutânea, não se observa ulceração, evoluindo comparecimento de outras lesões
semelhantes na vizinhança, e em período variável, de meses a anos, ocorre
disseminação hematogênica do parasita com aparecimento de outras lesões em várias
partes do corpo.
As áreas mais freqüentemente afetadas são: face (nariz, regiões malares, lábio
superior, pavilhão auricular) e membros (braço, antebraço, pernas, pés). A doença
poupa o couro cabeludo, regiões inguinocrurais, axilas e regiões das palmas das mãos.
As lesões são eritematosas, sob a forma de pápulas, tubérculos, nódulos e infiltrações
difusas e, menos freqüentemente, sob a forma tumoral (BRASIL, 2000).
A infiltração pode envolver extensas áreas do corpo e, quando presente na face,
confere ao paciente o aspecto leonino, confundindo-se com a hanseníase virchowiana.
Quando as lesões localizam-se sobre as superfícies ou áreas sujeitas a traumas, pode
haver exulcerações ou apresentar superfície hiperceratósicas, verrugo-vegetante ou
queloidiana. Podem ser observadas ainda lesões verrugosas ungueais associadas a
lesões verrugosas das extremidades distais dos pododáctilos.
Não há referência na literatura quanto aos aspectos histopatológico inicias na
LCD humana. Como de um modo geral os pacientes são diagnosticados na face
evolutiva da doença, nota-se quadro monótono, constituído por macrófagos
vacuolizados, repletos de parasitas, escurecendo as estruturas da derme e da
hipoderme. Ao exame físico, em um paciente portador de lesões cutâneas deve-se
também examinar as mucosas.
A leishmaniose mucosa (LM), também denominada espúndia, é condição de difícil
tratamento e prognóstico reservado quanto á possibilidade de cura. Está associada à
Leishmania braziliensis, na maioria dos casos ocorrendo em intervalo de tempo
variável após a instalação da lesão inicial. Os fatores que contribuem para que uma
doença inicialmente cutânea evolua para essa forma tardia são provavelmente: a
demora
na
cicatrização
da
lesão
primária
e
tratamento
inicial inadequado
(MARSDEN,1986).
Com base em Brasil (2000) a apresentação mucosa da LTA é na maioria das
vezes secundária às lesões cutâneas, surgindo geralmente, meses ou anos após a
resolução das lesões de pele. Ás vezes, porém, não se identifica a porta de entrada
supondo-se que as lesões sejam originadas de infecção subclínica. O teste de
Montenegro retardada do paciente avalia a reação de hipersensibilidade retardada do
paciente e é utilizada para o diagnóstico ou para monitorizarão de programas de
vacinação. Sua positividade varia de 82,4% e 100% de acordo com os vários trabalhos
realizados e esta variação pode ser atribuída a diferenças na preparação do antígeno
utilizado.
São mais freqüentemente acometidas as cavidades nasais, seguidas da faringe,
laringe e cavidade oral. Portanto, as queixas mais comuns no acometimento nasal são
obstruções, epistaxe, rinorréia e crostas; da faringe, odinofagia, da laringe, rouquidão e
tosse, da cavidade oral, ferida na boca. As lesões podem ser discretas com poucos
sintomas, daí a necessidade de sempre se buscar a identificação de doenças em
mucosas.
Ao exame clínico, pode-se observar infiltração, ulceração, perfuração do septo
nasal, lesões úlcero vegetantes, úlcero crostosa ou úlcero destrutivas. Poderá ocorrer
destruição parcial ou total da pirâmide nasal e outras estruturas acometidas na boca.
Outras mucosas, como língua e órgãos genitais, são raramente atingidas.
A presença de uma ou várias cicatrizes atróficas em pele ou histórias de úlceras
cutâneas com evolução prolongada, ao lado das queixas acima referidas, reforçam o
diagnóstico clínico de leishmaniose mucosa. A ausência de cicatrizes não afasta a
suspeita clínica de acometimento mucoso por leishmaniose, devendo ser investigada
outras patologias com diagnóstico diferencial.
A lesão mucosa associada ao comprometimento cutâneo da LTA pode ser
concomitante o acometimento mucoso à distância da lesão ativa de pele, ou contígua,
quando o comprometimento mucoso ocorre por extensão da lesão de pele situada
próximas de mucosas. O diagnóstico precoce de qualquer lesão mucosa é essencial
para que a resposta terapêutica seja mais efetiva e sejam evitadas as seqüelas
deformantes e/ou funcionais (BRASIL, 2000).
O comprometimento ganglionar pode ser primário (enfartamento de gânglios
precedendo à lesão de pele) ou secundário (enfartamento de cadeia ganglionar na
região de pele, após a identificação desta) e raramente pode apresentar-se
generalizada. O diagnóstico diferencial nas lesões cutâneas, devem ser excluídas:
úlceras traumáticas, úlceras de estase, úlceras de membros inferiores por anemia
falciforme,
pielodermites,
paracoccodioidomicose,
esporotricose,
cromomicose,
neoplasias cutâneas, sífilis e tuberculose cutânea. A hanseníase virchowiana deverá
ser excluída, principalmente no diagnóstico diferencial de leishmaniose cutânea difusa
(MANSON, 1987).
Nas lesões mucosas, o diagnóstico diferencial deve ser feito com a
paracoccidioidomicose, hanseníase virchowiana, rinoscleroma, bouba, sífilis terciária,
granuloma médio facial e neoplasias.
No diagnóstico epidemiológico verifica-se a existência de casos de LTA na
região, precedência de área endêmica (viagem de lazer ou trabalho, residência
anterior); referência de cães ou eqüinos com lesões e residindo nas proximidades;
inserção em áreas florestais. Nas lesões cutâneas, os dados epidemiológicos referidos
são recentes (em média 2 meses); nos casos de acometimento mucoso é essencial
buscar também a história pregressa de ulceração de pele de longa duração, além da
existência de cicatriz e utilização de medicamentos para leishmaniose (BRASIL, 2000).
Quanto ao diagnóstico parasitológico, para este realmente ser confirmado,
somente se obtém pela demonstração do parasita, que pode ser conseguida através de
diferentes técnicas parasitológicas de pesquisa direta e indireta. O exame mais
simples, e por essa razão geralmente o primeiro a ser realizado, é a pesquisa direta
das formas amastigotas em material obtido da lesão por escarificação, aspiração ou
biópsia da borda da úlcera, corado pelo Giemsa ou Leishman. A chance de se
encontrar o parasita é inversamente proporcional ao tempo de duração da lesão e a
sensibilidade do método nos casos produzidos por Leishmania braziliensis está em
torno de 100% nos dois primeiros meses de evolução, 75% aos seis meses e 20%
acima dos 12 meses (FURTADO, 1980).
Quanto ao diagnóstico imunológico, a intradermorreação de Montenegro (IDRM),
detecta a presença de hipersensibilidade tardia uma vez que imunologicamente, a LTA
se caracteriza pelo aparecimento de uma resposta celular durante a doença a após a
cura da infecção, seja de forma espontânea ou após tratamento (SCHAW, 1999).
Levando
em
consideração
os
aspectos terapêuticos da
Leishmaniose
Tegumentar Americana, a droga de primeira escolha é o antimonial pentavalente.
Dessa forma, visando padronizar o esquema terapêutico, a Organização Mundial de
Saúde (OMS) recomenda que a dose deste antimonial seja calculada em mg/kg/dia. Há
dois tipos de antimoniais pentavalentes que podem ser utilizados: o antimoniato N-metil
glucamina e o Stibogluconato de sódio.
Este antimonial é indicado para o tratamento de todas as formas de
leishmaniose tegumentar, embora as formas mucosas exijam maior cuidado, podendo
apresentar respostas mais lentas e maior possibilidade de recidivas. Não havendo
resposta satisfatória com o tratamento pelo antimonial pentavalente, as drogas de
segunda escolha são a anfotericina B e a pentamida. As lesões ulceradas podem sofrer
contaminação secundária, razão pela qual devem ser prescritos cuidados locais como
limpeza com água e sabão e se possível compressas com permanganato de potássio
com diluição de 1/5000ml (BRASIL, 2000).
Nas formas cutâneas localizadas e disseminadas a dose recomendada varia
entre 10 a 20mg/kg/dia. Sugere-se 15mg/kg/dia tanto para o adulto quanto para
crianças durante 20 dias seguidos. Nunca deve ser utilizada dose superior a 3
ampolas/dia ou 15ml/dia para o adulto. Se não houver cicatrização completa após três
meses do término do tratamento, o esquema deverá ser repetido, prolongando-se,
desta vez, a duração da série para 30 dias. Em caso de não resposta, utilizar uma das
drogas de segunda escolha. Na forma difusa a dose é de 20mg/kg/dia, durante 20 dias
seguidos. Na fase inicial pode responder ao antimonial, porém são freqüentes as
múltiplas recidivas, sendo
necessário
encaminhar o
paciente
para
serviços
especializados.
Em todas as lesões de acometimento mucoso a dose recomendada é de
20mg/kg/dia, durante 30 dias seguidos de preferência em ambiente hospitalar. Se não
houver cicatrização completa após três meses do término do tratamento, o esquema
deverá ser repetido apenas uma vez. Em caso de na resposta, utilizar uma das drogas
de segunda escolha (BRASIL, 2000).
O critério de cura é clínico e recomenda-se que seja feito o acompanhamento
mensal do paciente por três meses consecutivos, e após a cura clínica, acompanhar o
paciente até completar 12 meses após o término do tratamento. Dessa forma, nas
formas cutâneas, o critério de cura é definido pelo aspecto clínico das lesões:
reepitelização das lesões ulceradas ou não, regressão total da infiltração e eritema, até
3 meses após a conclusão do esquema terapêutico. Já nas formas mucosas, o critério
de cura é clínico definido pela regressão de todos os sinais comprovado pelo exame
otorrinolaringológico, até 6 meses após a conclusão do esquema terapêutico. Na
ausência do especialista o clínico deve ser treinado para realizar pelo menos rinoscopia
anterior. Nos locais onde não há clínico, o paciente deve ser encaminhado para o
serviço de referência, para avaliação de cura.
O paciente deve retornar mensalmente à consulta durante três meses
consecutivos após o término do esquema terapêutico para ser avaliada a cura clínica.
Uma vez curado, o mesmo deverá ser acompanhado de 2 em 2 meses até completar
12 meses após o tratamento (BRASIL, 2000).
3.3. Medidas gerais de controle para a Leishmaniose Tegumentar
Americana
O primeiro ponto a ser destacado enquanto medidas de controle da
Leishmaniose Tegumentar Americana é a Vigilância Epidemiológica, pois, por se
constituir um grande problema de saúde pública, devido à sua magnitude e a franca
expansão verificada nos últimos anos, é importante o registro e acompanhamento de
casos, através de um sistema de informação que vise à investigação e controle de
focos, objetivando assim o planejamento das ações de saúde de forma a controlar a
mesma (BRASIL, 2000).
A detecção de casos de Leishmaniose Tegumentar Americana pode ocorrer
através de: busca ativa de casos na área de foco; ações dos agentes de saúde;
demanda espontânea às Unidades de Saúde; e encaminhamento de suspeitos. Para
que sejam definidos os casos de LTA usam-se os seguintes critérios: 01. Caso suspeito
de Leishmaniose cutânea: todo indivíduo com presença de úlcera cutânea, com fundo
granuloso e bordas infiltradas em moldura; 02. Caso suspeito de Leishmaniose
mucosa: todo indivíduo com presença de úlcera na mucosa nasal, com perfuração ou
perda do septo nasal, podendo atingir lábios e boca; e 03. Caso confirmado de
Leishmaniose cutânea e/ou mucosa: a confirmação dos casos clinicamente suspeitos
deverão preencher no mínimo um dos seguintes critérios:

Residência, procedência ou deslocamento em área com confirmação de
transmissão e encontro do parasita nos exames parasitológicos diretos e/ou
indireto.

Residência, procedência ou deslocamento em área com confirmação de
transmissão e intradermorreação de Montenegro - IRM - positiva.

Residência, procedência ou deslocamento em área com confirmação de
transmissão sem acesso a métodos de diagnóstico. Nas formas mucosas
considerar a presença de cicatrizes cutâneas como critério complementar
para confirmação do diagnóstico.
Existem ainda os casos autóctones, que são aqueles confirmados de
Leishmaniose Tegumentar Americana com provável infecção no local de residência
(BRASIL, 2000).
A conduta a ser realizada diante de um caso suspeito refere-se ao procedimento
de submeter o caso à investigação clínica e epidemiológica, e se disponível, aos
métodos auxiliares de diagnóstico. Caso seja confirmado, inicia-se o tratamento
segundo normas técnicas e acompanha-se mensalmente (para avaliação da cura
clínica) até 3 meses após conclusão do esquema terapêutico.
Após a detecção de casos de LTA, a investigação epidemiológica faz-se
necessária para identificar: se a área é endêmica ou se é um novo foco; se o caso é
autóctone ou importado (informar ao serviço de saúde do local de origem);
características do caso (forma clínica, idade e sexo); e realizar busca ativa de casos
novos e caracterizá-los clínica e laboratorialmente (BRASIL, 2000).
Em se tratando de medidas de atuação na cadeia de transmissão da doença, em
virtude das características epidemiológicas peculiares da LTA as estratégias de
controle devem ser flexíveis e distintas, adequadas a cada região ou foco particular. A
diversidade de agentes, de reservatórios, de vetores, de situações epidemiológicas,
aliada ao conhecimento ainda insuficiente sobre vários desses aspectos, evidencia a
complexidade do controle. Para a seleção de estratégias adequadas a cada região
geográfica deverá ser considerada a análise epidemiológica dos dados referentes a:

Registro dos casos humanos quanto à forma clínica, sexo, idade e
procedência;

Estudos entomológicos para definir as espécies vetoras, sua dispersão,
graus de antropofilia e exotilia, infecção natural;

Estudos parasitológicos para definir a espécie do agente etiológico circulante
no foco;

Estudos ecológicos para determinação dos reservatórios animais envolvidos;

Caracterização de um surto epidêmico.
As ações resultantes dessa análise têm como objetivos: 01. Diagnóstico precoce
e tratamento adequado dos casos humanos, cuja competência é da rede básica de
saúde, através do atendimento à demanda passiva, registro e busca ativa em área de
maior morbidade ou onde o acesso da população à rede é dificultado por diversos
fatores; e 02. Redução do contato homem-vetor através de aplicação do inseticida,
medidas de proteção individual e controle de reservatórios quando indicados (BRASIL,
2000).
O emprego de inseticidas contra os flebótomos é factível em situações de
transmissão peridomiciliar, domiciliar (caracterizada pela notificação de 1 ou mais
casos autóctones de LTA em menores de 10 anos residentes em áreas urbanas ou
periurbanas). Ressalta-se que a investigação epidemiológica do caso é quem indicará
o seu uso. Nas áreas florestais este método é impraticável. A aplicação do inseticida
deve ser realizada, preferencialmente, com ação residual, sobre a superfície de
paredes do domicílio e anexos domiciliares (abrigo de animais domésticos, paióis etc).
Aplicação espacial de inseticida não apresenta relação custo/ benefício satisfatória.
Já para as medidas de proteção individual, tem-se os meios mecânicos através
do uso de mosquiteiros simples ou impregnados com deltametrina (em fase de
experiência), telas finas em portas e janelas, uso de repelentes, uso de camisas de
manga comprida, calças compridas, meias e sapatos (de difícil aplicação nas regiões
de clima quente e úmido). Em áreas de risco, para assentamento de populações
humanas, tem sido sugerida uma faixa de segurança de 200 a 300 metros entre as
residências e a floresta. Entretanto, uma faixa dessa natureza teria que ser muito bem
planejada para evitar erosão e outros problemas decorrentes do desequilíbrio
ambiental, no caso de desmatamento.
Outro ponto fundamental a ser destacado quando se fala em medidas de
controle são as medidas educativas, uma vez que as atividades de educação em saúde
devem estar inseridas em todos os serviços que desenvolvem as ações de controle da
LTA,
requerendo
o
envolvimento
efetivo
das
equipes
multiprofissionais
e
multiinstitucionais com vistas ao trabalho articulado nas diferentes unidades de
prestação de serviços, através de: capacitação das equipes, englobando conhecimento
técnico, os aspectos psicológicos e a prática profissional em relação à doença e aos
doentes; a adoção de medidas preventivas considerando o conhecimento da doença,
atitudes e práticas da população (clientela), relacionada às condições de vida e
trabalho das pessoas; e estabelecimento de relação dinâmica entre o conhecimento do
profissional e vivência dos diferentes estratos sociais através da compreensão global
do processo saúde/doença, no qual intervêm fatores sociais, econômicos, políticos
culturais (BRASIL, 2000).
As ações de controle da leishmaniose tegumentar americana devem ser alvo de
uma programação contínua que tenha como objetivo: o diagnóstico do doente, através
do atendimento de demanda e busca ativa de casos, com fornecimento de insumos
para diagnóstico complementar, investigação de focos e adequado registro de sua
ocorrência; orientação terapêutica padronizada, com o fornecimento de medicação e
acompanhamento do doente; e a investigação epidemiológica dos focos e adoção de
medidas profiláticas pertinentes. Com a efetiva descentralização das endemias, as
Secretarias de Saúde Estaduais e Municipais devem assumir suas funções de controle
aos agravos prevalentes nas respectivas regiões, assim como coordenar, programar e
planejar as ações de assistência aos portadores de leishmaniose (BRASIL, 2000).
Trajetória
Metodológica
4. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
4.1. Tipo de Estudo
Esta pesquisa trata-se de um estudo bibliográfico que de acordo com Gil (2002)
“é desenvolvido com base em material já elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos”. Dessa forma, o intuito deste estudo é conhecer, analisar e
compreender as principais contribuições teóricas existentes na literatura sobre
determinado assunto, neste caso a Leishmaniose Tegumentar Americana.
É também um estudo reflexivo e critico, com a finalidade de questionar acerca
da problemática, através da literatura consultada, isto é, conhecer e analisar as
principais contribuições teóricas existentes na literatura acerca do assunto (ROSSI,
1990).
4.2. Local de Estudo
O estudo foi desenvolvido na cidade de Juazeiro do Norte - CE, com o acervo
bibliográfico disponível em biblioteca de faculdades pública e privada, bem como
através de via on-line, em sites científicos tais como o scielo.
4.3. Coleta de Dados
A coleta de dados foi contínua e realizada nos meses de Junho a Outubro do
ano 2006. Procedendo-se com sucessivas leituras sobre o material encontrado e
selecionado para que assim pudessem ser descritos toda a abordagem acerca da
Leishmaniose Tegumentar Americana.
4.4. Análise e discussão dos resultados
Os resultados foram descritos textualmente, obedecendo a uma sistematização
no sentido de alcançar os objetivos propostos neste estudo.
Discussão
dos
Resultados
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O perfil da leishmaniose no Brasil está mudando, devido à expansão humana
para áreas endêmicas florestais, de uma zoonose transmitida acidentalmente ao
homem, para uma doença de interface rural-urbana. Com a intensa urbanização e a
expansão de cidades e áreas de exploração de madeira e minério, aumentaram os
registros de casos de Leishmaniose Tegumentar Americana nos últimos anos.
No Brasil, as leishmanioses constituem grave problema de saúde pública com a
LTA sendo diagnosticada em praticamente todos os estados brasileiros. Na década de
50, houve redução dessa forma clínica, mas nos últimos 20 anos o número de casos
notificados vem aumentando progressivamente, com média anual de 28.000 casos nos
últimos dez anos.
A partir de um estudo de distribuição da febre amarela no Brasil, encontraram-se
41 casos positivos para Leishmania sendo identificados em lâminas de viscerotomias
praticadas post-mortem em indivíduos oriundos das regiões Norte e Nordeste (PENA et
al.,1934).
Em seguida, o Lutzomya longipalpis foi incriminado como espécie vetora e foram
descobertos os primeiros casos de infecção em cães. Desde então, a transmissão da
doença vem sendo descrita em vários municípios, de todas as regiões do Brasil.
A doença tem apresentado mudanças importantes no padrão de transmissão,
inicialmente predominando em zonas rurais e periurbanas e, mais recentemente, em
certos centros urbanos como Rio de Janeiro (RJ), Três Lagoas (MS), Belo Horizonte
(MG), Araçatuba (SP), Palmas (TO), Campo Grande (MS), entre outros.
Segundo (RABELO et al., 2000), a leishmaniose tegumentar apresenta lesões
ulceradas características em pele e mucosas, podendo no último caso deixar seqüelas
graves. A doença acarreta um elevado custo social, além de evidenciar grandes
potenciais perdidos, devido a maior ocorrência de óbitos em grupos etários mais
jovens.
Ocorrem cerca de 13.000 casos de leishmaniose tegumentar por ano no Brasil
por ano, precedendo de todos os estados, principalmente dos da região norte, e mais
freqüentemente de zonas rurais. A leishmaniose tegumentar é endemia na Amazônia
desde longa data. É comumente designada de “ferida brava” e constitui o segundo
problema parasitário da Amazônia. É uma infecção que tende a ser mais regional e
focal, devido estar intimamente relacionada com o desequilíbrio ecológico.
Na interpretação dos resultados da reação de Montenegro devem ser observados
os seguintes aspectos: na forma cutânea simples da LTA, a reação inflamatória pode
variar de acordo com a evolução da doença, sendo maior nas úlceras crônicas; na
forma mucosa da LTA, a reação inflamatória pode ser tão intensa a ponto de provocar
flictemas e necrose, devido ao estado hiper-reativo do paciente; na forma difusa da
LTA, a resposta é usualmente negativa devido ao estado anérgico em que se encontra
o paciente; em pacientes tratados, instala-se uma imunidade celular duradoura,
permanecendo teste positivo durante muitos anos e, em alguns casos, indefinidamente
(RABELO et al., 2000).
Em 1993, a Organização Mundial da Saúde definiu a leishmaniose como a
segunda doença causada por protozoário de importância em saúde pública, superada
apenas pela malária. No Brasil, no período de 1987 a 1996, foram notificados cerca
280 mil casos de forma tegumentar da doença. A Leishmaniose Tegumentar
Americana é uma doença de notificação compulsória no Brasil (portaria Ministério da
Saúde de 08/12/2003). A detecção dos casos pode ocorrer através de busca ativa de
casos na área de foco; ações dos agentes de saúde; demanda espontânea às
unidades de saúde e encaminhamento de suspeitos.
Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), a Leishmaniose
ocorre em 88 países e sua notificação é compulsória em apenas 30 deles. Do total de
casos já registrados de leishmaniose tegumentar (LT), 90% ocorreram em apenas seis
países: Irã, Arábia Saudita, Síria e Afeganistão (Velho Mudo), Brasil e Peru (América
do Sul).
Após a detecção de casos de LTA, a investigação epidemiológica faz-se
necessária para identificar, se a área é endêmica ou se é um novo foco; se o caso é
autóctone ou importado (informar ao serviço de saúde do local de origem); registrar as
características do caso (forma clínica, idade, e sexo); e realizar busca ativa de outros
casos novos e caracterizá-los clínica e laboratorialmente.
Toda pessoa que apresentar ferida de difícil cicatrização deverá procurar o
Centro de Saúde ou Unidade Básica de Saúde, para a realização do exame especifico
e, se for o caso iniciar o tratamento.
As medidas de proteção individual são meios mecânicos através do uso de
mosqueteiros simples, telas finas em portas e janelas, uso de repelentes, uso de
camisas de manga comprida, calças compridas, meias e sapatos (de difícil adoção nas
regiões de clima quente e úmido) e evitar freqüentar a mata em horário noturno, a partir
das 20:00 horas. Em áreas de risco, para assentamento de populações humanas, tem
sido sugerida uma faixa de segurança de 200 a 300 metros entre as residências e a
florestas, para evitar problemas decorrentes do desequilíbrio ambiental, no caso de
desmatamento.
As atividades de educação em saúde devem estar inseridas em todos os
serviços que desenvolvam as ações de controle de leishmaniose tegumentar,
requerendo o envolvimento efetivo das equipes multiprofissionais e multiinstitucionais
com vistas ao trabalho articulado nas diferentes unidades de prestação de serviço,
através de capacitação das equipes, englobando conhecimento técnico, aspectos
psicológicos e a prática profissional em relação à doença e aos doentes; adoção de
medidas preventivas considerando o conhecimento da doença, atitudes e práticas da
população (clientela), relacionada às condições de vida e trabalho das pessoas e
estabelecimento de relação dinâmica entre o conhecimento do profissional e vivência
dos diferentes estratos sociais através da compreensão global do processo
saúde/doença, no qual intervêm fatores sociais, econômicos políticos culturais
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000).
As medidas de controle químico com inseticidas de ação residual só serão
empregadas quando for constatada que a transmissão se deu no ambiente domiciliar e
tenha sido detectado dois ou mais casos na área de foco, no período de seis meses, da
notificação do primeiro caso. Para tanto são utilizados inseticidas da classe dos
piretróides (deltametrina).
Segundo o Ministério da Saúde em 2000, o critério de cura é clinico e
recomenda-se que seja feito o acompanhamento mensal do paciente por três meses
consecutivos, e após a cura clínica, seguimento até completar doze meses do término
do tratamento.
Na forma cutânea, o critério de cura é definido pelo aspecto clínico das lesões:
reepitelização das lesões ulceradas ou não, regressão total da infiltração e eritema, até
três meses após a conclusão terapêutica.
Na forma mucosa, o critério de cura é clínico definido pela regressão de todos os
sinais e comprovados pelo exame otorrinolaringológico, até seis meses após a
conclusão do esquema terapêutico.
No acompanhamento regular, o paciente deve retornar mensalmente à consulta
durante três meses consecutivos após o término do esquema terapêutico para ser
avaliada a cura clínica. Uma vez curado, o mesmo deverá ser acompanhado de dois
em dois meses até completar 12 meses após o tratamento.
De acordo com Brasil (2000), ações de controle da leishmaniose tegumentar
americana devem-se ser alvo de uma programação contínua que tenha como objetivo:
o diagnóstico do doente, através de atendimento de demanda e busca ativa de casos,
com fornecimento de insumos para diagnóstico complementar, investigação de focos e
adequado registro de sua ocorrência; orientação terapêutica padronizada, com o
fornecimento de medicação e acompanhamento do doente e a investigação
epidemiológica dos focos e adoção de medidas profiláticas pertinentes.
Dessa forma, a Organização Mundial de Saúde definiu que a luta contra a
leishmaniose deve ser parte da atenção primária a saúde; destacando as
responsabilidades de esferas locais e federais, e da população em geral, para o
combate da expansão da doença e o controle da mesma.
Considerações Finais
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leishmaniose é uma doença originariamente restrita ao ambiente silvestre ou
em pequenas localidades rurais. Todavia, as transformações ocorridas no meio
ambiente como desmatamento, expansão das áreas urbanas e condições precárias de
habitação e saneamento, estão causando uma incidência crescente desta enfermidade
em centros urbanos de médio porte, em área domiciliar ou peri-domiciliar. É um
crescente problema de saúde pública no país e em outras áreas do continente
americano, sendo uma endemia em franca expansão geográfica.
Dessa forma, a Leishmaniose Tegumentar Americana configura-se como uma
doença de cadeia de transmissão complexa sujeita, em uma mesma região, a diversos
determinantes, incluindo o desequilíbrio ecológico produzido pela ação invasiva do
homem aos nichos naturais da infecção, as variações sazonais e a susceptibilidade da
população.
A Leishmaniose Tegumentar Americana é uma doença de alta prevalência em
muitas áreas tropicais e subtropicais do mundo. Em vários países da América Latina
constitui um grave problema de saúde pública pelo impacto negativo que representa
nas esferas psicológica, sociocultural e econômica. No Brasil, todos os estados da
Federação registraram casos de LT com uma freqüência constante a partir do ano
2000. Durante 2004, o Estado da Bahia, na região Nordeste, foi o segundo Estado
depois do Maranhão, em relatar maior numero de casos.
O diagnóstico laboratorial da Leishmaniose Tegumentar Americana pode ser
feito pela pesquisa direta do parasito em material obtido de úlceras, por
intradermorreação de Montenegro e pesquisa de anticorpos anti-Leishmania. Contudo,
na maioria das vezes, os laboratórios não estão preparados para a realização destes
exames, lançando-se mão apenas do diagnóstico clínico nos serviços de assistência
médica. Estes fatos têm acarretado a subnotificação da doença, a demora para o início
e, conseqüentemente, o prolongamento do tratamento.
O conhecimento da população sobre a doença, nas regiões de sua ocorrência,
inúmeras vezes é restrito, levando ao retardo na procura do diagnóstico e do
tratamento, sendo as populações rurais de área endêmica as mais carentes de
informação. Na maioria das áreas onde existe a leishmaniose, o conhecimento sobre a
enfermidade restringe-se, muitas vezes, a pessoas que já tiveram a doença ou àquelas
que já tiveram casos na família ou vizinhos, ocorrendo desinformação sobre a
transmissão e o tratamento, o que dificulta o estabelecimento de estratégias de
controle. Portanto a implementação de campanhas educativas, de modo a divulgar as
formas de prevenção se torne cada vez mais necessária, para evitar a expansão da
doença.
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