Centros Completamente Simétricos Marcos Leandro Mendes Carvalho ([email protected]) Orientador: João Carlos da Rocha Medrado ([email protected]) III Bienal da SBM - IME/UFG - 2006 Resumo O retrato de fase de um campo vetorial é completamente simétrico se ele é invariante com respeito a um grupo formado por quatro involuções. Um exemplo simples é o centro local definido pelo germe de um campo vetorial analı́tico com aproximação linear não degenerada. Pelo Teorema de Poincaré-Lyapunov este centro é difeomorfo ao centro definido pelo campo vetorial ẋ = y ẏ = −x (1) E conseqüentemente ele é completamente simétrico. Neste trabalho foi dada uma classificação de centros completamente simétricos, por germes de campos vetoriais com aproximação linear não degenerada, nilpotente e por germes com 2-jatos nulo e 3-jatos genérico. Objetivo Preliminares Pn Definição 1 Seja a 1-forma ω = i=1 aidxi e I(ω) é o ideal gerado por a1, a2, ..., an. Dizemos que 0 ∈ Rn é um ponto singular algebricamente isolado de ω se Λ0X (n)/I(ω) é um espaço vetorial de dimensão finita sobre R. Definição 2 Um difeomorfismo local é uma involução se ψ : (Rn, 0) −→ (Rn, 0) Segue que, dentre os campos lineares não degenerados a sela, o nó com autovalores distintos, nó diagonalizável com autovalores iguais, assim como o centro são completamente simétricos. Como conseqüência dos casos acima, na categoria C ∞ o retrato de fase de um campo vetorial X no plano com aproximação linear X(x) = Ax no ponto singular 0 ∈ R2 é completamente simétrico desde que os autovalores de A sejam reais, distintos e não ressonantes. O mesmo é verdade para categoria C ω desde que não possua pequenos denominadores, pois se possuı́sse, não seria possı́vel obter convergência das séries normalizadoras. Teorema 2 Na categoria C ω qualquer centro não degenerado é completamente simétrico e difeomorfo ao centro dado pelo campo vetorial X(x, y) = (y, −x) . É natural questionar se todo campo completamente simétrico é difeomorfo a um campo vetorial não degenerado, porém pelos exemplos abaixo vemos que isto não é verdade. Exemplo 1 Seja a famı́lia de campos vetoriais Hamiltonianos nilpotentes definidos por ∂H ∂H X(x, y) = ,− , H(x, y) = y 2 + x2m, m ∈ N, m ≥ 2. ∂y ∂x (4) Pelo Lema 1 o campo vetorial (4) é {φ, ϕ}−reversı́vel de onde concluı́mos que X define um centro completamente simétrico. Exemplo 2 Seja X o campo vetorial definido por X(x, y) = (λ + µ)x2y + y 3, −x3 + λxy 2 , µ > −2. (5) Pelo Lema 1 este campo vetorial é {φ, ϕ}-reversı́vel e portanto é completamente simétrico. tal que ψ ◦ ψ = Id. Reduções É fácil ver que φ : (x, y) −→ (−x, y), ϕ : (x, y) −→ (x, −y). (2) são involuções. Definição 3 Um campo vetorial X em (Rn, 0) é ψ-reversı́vel se ψ(p)∗X(p) = −X(ψ(p)), p ∈ (Rn, 0) onde ψ é uma involução. X é reversı́vel se ele é ψ-reversı́vel para alguma involução ψ e o conjunto S =Fix(ψ) é uma variedade k-dimensional de Rn. Se X é reversı́vel com respeito as involuções ψ1, ψ2, . . . , ψl , l ∈ N ∗, diremos que X é {ψ1, ψ2, . . . , ψl }– reversı́vel. Lema 1 Sejam X um campo vetorial no plano na categoria C ∞ ou C ω (real analı́tica) e as involuções φ e ϕ definidas por (4). X é {φ, ϕ}−reversı́vel se, e somente se, este tem a forma X(x, y) = yZ1(x2, y 2), xZ2(x2, y 2) . (3) Centros Completamente Simétricos No que se segue todos os elementos são germes em 0 ∈ R2 nas categorias C ∞ ou C ω (real analı́tica). Definição 4 Um retrato de fase é dito simétrico com respeito a uma involução ψ se a imagem de toda órbita, por meio de ψ, também é uma órbita deste retrato de fase. Definição 5 Um retrato de fase é dito completamente simétrico se este é simétrico com respeito a um grupo consistindo de quatro involuções, incluindo a identidade. Teorema 1 Qualquer grupo finito G 6= {Id} de involuções no plano consiste de duas involuções Id, ψ, onde ψ é uma involução qualquer diferente da identidade, ou de quatro involuções comutativas. No último caso, existe um sistema de coordenadas locais x̃ = (x, y) tal que G = {Id, φ, ϕ, φϕ}, onde φ e ϕ são definidas em (6). Proposição 1 Seja um campo vetorial X tendo como ponto singular algebricamente isolado 0 ∈ R2 e o retrato de fases de X é um centro completamente simétrico, então X é orbitalmente equivalente a um campo vetorial reversı́vel X(x, y) = yZ1(x2, y 2), xZ2(x2, y 2) . (6) Definição 6 Dado um campo vetorial da forma (6) diremos que o campo Z(z1, z2) = (Z1(z1, z2), Z2(z1, z2)) . (7) definido em uma vizinhança total da origem do plano R2(z1, z2) é o campo associado correspondente a (6). Proposição 2 Sejam X e X̃ campos da forma (6), e sejam Z e Z̃ os correspondentes campos vetoriais associados. Assuma que Z e Z̃ são orbitalmente equivalentes via o difeomorfismo local Ψ : (z1, z2) → (z1Ψ1(z1, z2), z2Ψ2(z1, z2)), Ψ1(0) = Ψ2(0) = 1, Classificação da tripla consistindo de um campo vetorial e duas curvas transversais Seja γ uma curva regular definida pela equação f (z1, z2) = 0 de tal forma que f (0) = 0 e df (0) 6= 0. Definição 7 A ordem de tangência de um campo Z em R2(z1, z2) e uma curva regular γ = {f (z1, z2) = 0} é a dimensão do espaço vetorial R[[z1, z2]]/(f, Z(f )), onde R[[z1, z2]] é o anel de todas as séries formais, Z(f ) é a derivada de Lie ao longo do campo Z, e (f, Z(f )) é o ideal gerado pelas séries formais das funções f e Z(f ). Teorema 3 Seja Z um campo vetorial transversal ao eixo z1 e tendo ordem de tangência m com o eixo z2. Então existe um difeomorfismo local com aproximação linear sendo a identidade que preserva os eixos z1 e z2 e leva Z na forma a menos da multiplicação por uma função não nula. Conclusões Teorema 5 Todo centro completamente simétrico definido por um campo vetorial com uma aproximação linear nilpotente no ponto singular algebricamente isolado 0 ∈ R2 é difeomorfo ao centro definido pelo campo Hamiltoniano: ∂H ∂H ,− , H(x, y) = y 2 + x2m, m ≥ 2. X(x, y) = ∂y ∂x Teorema 6 Assumamos que F é um centro completamente simétrico definido pelo campo vetorial X com 2-jato nulo no ponto singular algebricamente isolado 0 ∈ R2. Então existe uma mudança de coordenadas tal que o 3-jato de X tem a forma j 3X(x, y) = a11x2y + a12y 3, a21x3 + a22xy 2 . (9) Se a12, a21 6= 0 e a dupla de autovalores da matriz A = (aij ) são não ressonantes, então na categoria C ∞ o retrato de fase F é difeomorfo ao retrato de fase definido por um campo vetorial da forma X̃(x, y) = (λ + µ)x2y + y 3, −x3 + λxy 2 , µ > −2. O mesmo é verdade para campos na categoria C ω desde de que não possua pequenos denominadores. Referências [1] Teixeira, M. A. and Yang, J., The center-focus problem and reversibility, J. Differential Equations 174(2001), No. 1, 237-251. [2] Teixeira, M. A., Local reversibility and applications, Proceedings of conference ”Real and complex singularities”, São Carlos, 1998,251265. [3] Zhitomirskii, Michail - Completely Symmetric Centers, Qualitative theory of dynamical systems 5,327-342(2004). [4] Zhitomirskii, Michail - Local normal forms for constrained systems on 2-manifolds, Bol. Soc. brasil Mat. (N.S.) 24(1993),No. 2, 211-232. (8) isto é, via um difeomorfismo local preservando os eixos z1 e z2 e tendo como aproximação linear a identidade. Então os campos vetoriais X e X̃ são orbitalmente equivalentes. ∂ ∂ m a + bz1 , ∂z1 ∂z2 Teorema 4 Sejam γ1 e γ2 curvas regulares transversais no plano. Seja Z um campo de vetores anulando-se em 0 e tendo possibilidade minimal de ordem 1 de tangência com as curvas γ1 e γ2. Sejam as retas l1 e l2 as aproximações lineares de γ1 e γ2. Então existe um difeomorfismo local com aproximação linear sendo a identidade preservando o campo vetorial Z a menos da multiplicação par uma função não nula e levando γ1, γ2 em l1, l2 respectivamente. Apoios