PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE AMIDO ENTRECRUZADO COM PRÉ-POLÍMERO DE POLIÓXIDO DE PROPILENO – TOLUENO DIISOCIANATO Alessandra L. Da Róz1*, Antonio A. S. Curvelo2 1* Instituto de Química de São Carlos da USP, caixa postal 780, CEP13560-970, São Carlos, SP- [email protected]; 2 Instituto de Química de São Carlos da USP- aprí[email protected] Preparation and characterization of cross-linked starch This work describes the preparation and characterization of a new starch cross-linked derivative. The cross links were produced by reaction of native cornstarch with polypropyleneoxide-toluene diisocyanate pre-polymer. Infrared analysis evidenced the conversion of starch in the cross-linked derivative. The thermogravimetric analysis of this derivative exhibited a decrease in the degradation temperature when compared with the starting starch. Differential Scanning Calorimetric results showed that the material exhibited changes in the correspondent DSC curves that can be attributed to glass transition temperatures (Tg) in –60 and 44°C. Introdução A necessidade de novos materiais, com características diversificadas, além da necessidade de se empregar matérias-primas provenientes de fontes renováveis vem aumentando o interesse no estudo de polissacarídeos, tal como a celulose e o amido. Estas matérias primas são abundantes, renováveis, possuem custo relativamente baixo, representam um importante segmento econômico e sua utilização pela industria é um passo adiante na conscientização ecológica1,2,3,4,5. O amido contém dois polissacarídeos em sua estrutura: amilose e amilopectina. A amilose é formada por unidades de anidroglicose ligadas entre si por ligações α-1-4, resultando num polímero linear. A amilopectina é constituída por unidades de anidroglicose ligadas umas às outras por ligações α-14, distinguindo-se da amilose por possuir cerca de 4 a 5% das unidades de anidroglicose ligadas por ligações α-1-6, resultando num polímero ramificado6. Sendo um composto poli-hidroxilado, o amido pode sofrer reações características de álcoois e levar à produção de derivados contendo funções éster, éter, uretana, etc. Amidos entrecruzados são obtidos pela reação com reagentes bifuncionais, resultando em produtos contendo um maior afastamento das cadeias macromoleculares8. Produtos de entrecruzamento que utilizam o amido como vem ganhando atenção na literatura especializada, mas a utilização de diisocianatos como agentes de entrecruzamento tem recebido ainda pouca atenção. Experimental Reação de entrecruzamento A preparação de amido entrecruzado foi realizada em câmara seca, onde uma mistura de 1g de amido de milho híbrido seco (com 28% de amilose) e 20mL de dimetilsulfóxido (DMSO) foi mantida sob agitação por 30 minutos à temperatura ambiente, quando foi adicionado pré polímero de polióxido de propileno-tolueno diisocianato (Biocol BS40 – Resibras). A reação foi mantida sob agitação constante por uma semana. Após este período, a reação foi interrompida pela adição de 2mL de metanol e 200mL de uma mistura de metanol/água, numa proporção de 7:3 v/v. O produto foi lavado com tetraidrofurano (THF) para a retirada de excesso do reagente. Caracterização do amido enxertado Espectroscopia no Infravermelho: Utilizaram-se pastilhas de KBr na proporção KBr/amostra de 100:1, em equipamento FT-IR BOMEM modelo MB-102. Termogravimetria: A análise Termogravimétrica foi realizada em equipamento SHIMADZU TGA-50, sob fluxo de nitrogênio de 20mL/min, em panela de platina com massa de amostra de aproximadamente 5mg. As corridas foram realizadas no intervalo da temperatura ambiente a 800°C, com taxa de aquecimento de 10°C/min. Calorimetria Diferencial Exploratória (DSC): A análise por Calorimetria Diferencial Exploratória foi realizada em aparelho SHIMADZU DSC-50, sob fluxo de nitrogênio de 20mL/min, com massa de aproximadamente 5mg em panela de alumínio tampada. A primeira corrida foi realizada no intervalo da temperatura ambiente a 110°C, com taxa de aquecimento de 10°C/min e a segunda e terceira corridas foram realizadas com taxa de aquecimento de 5°C/min, entre –100 e 150°C. Solubilidade: A solubilidade do amido in natura, do amido entrecruzado e do diisocianato foram testadas em DMSO com aquecimento de aproximadamente 100°C e THF. Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros 821 à ocorrência de transições devidas a movimentos de relaxação moleculares. A análise por DSC da amostra entrecruzada revelou a presença de temperaturas de transição vítrea (Tg) em aproximadamente –60 e 44°C (Figura 3B), com valor de capacidade calorífica (∆Cp) de 0,444 e 0,06J/g.°C, respectivamente. o Temperatura ( C) - TGA 100 A B Figura 2. Fotos mostrando a amido entrecruzado antes (1A) e após permanecer em THF (1B). A análise por Termogravimetria revelou que o amido entrecruzado apresenta dois patamares de perda de massa (Figura 3A). O primeiro patamar, próximo dos 100°C é devido a eliminação de água ou do solvente utilizado na purificação da amostra. O segundo patamar apresenta onset em 346°C e endset em 405°C, sendo relativo à degradação do produto e levou a perda de massa de 98% já a 410°C. O amido de partida apresentou onset em 311°C, endset em 349°C e perda de massa de 81,5% até 600ºC. Diferentemente do amido, que possui perda de massa de 11% devido à eliminação de água, seu derivado entrecruzado se apresentou mais hidrofóbico e menos estável termicamente. A reação de entrecruzamento promove o entrecruzamento das cadeias de amilose e amilopectina, mas ao mesmo tempo, as cadeias do prépolímero são suficientemente longas para possibilitar o afastamento entre as cadeias de amilose e amilopectina, ocorrendo, então, mudanças típicas na curva de Calorimetria Diferencial Exploratória (DSC) do derivado entrecruzado. Como nas temperaturas em que ocorreram tais mudanças de linha de base não foram observados indícios de decomposição, degradação ou qualquer outro fenômeno passível de detecção pela análise termogravimétrica, atribuiu-se essas mudanças 822 500 600 700 100 -0,5 80 -1,0 Fluxo de Calor (mW) Figura 1. Fotos mostrando a amido entrecruzado antes (1A) e após permanecer em DMSO (1B). 400 0,0 -1,5 60 -2,0 -2,5 40 -3,0 -3,5 -5,0 -100 20 amido entrecruzado amido in natura -4,5 B 300 0,5 -4,0 A 200 Perda de massa (%) Resultados e Discussão A análise de infravermelho confirmou a conversão do amido em seu derivado entrecruzado pelo aparecimento das bandas relativas aos estiramentos NH (3316cm-1) e C=O (1710cm-1) de uretanas. Uma das características de polímeros entrecruzados é a ocorrência de inchamento, em grau variado como função da extensão do entrecruzamento. Testes realizadas com DMSO (que dissolve o amido) e THF (que dissolve o pré-polímero) levaram ao inchamento das amostras de amido entrecruzado, tendo sido observado um maior inchamento quando do uso de THF (Figuras 1 e 2). 0 -75 -50 -25 o 0 25 50 75 100 Temperatura ( C) - DSC Figura 3. Termogramas e curvas DSC do amido in natura e amido entrecruzado com pré-polímero de polióxido de propilenotolueno diisocianato. Conclusões A reação do amido de milho com o prépolímero de polipropileno-tolueno diisocianato levou à produção de um derivado entrecruzado com capacidade de inchamento, sem a perda de características termoplásticas. O derivado obtido apresentou temperaturas de transição vítrea em –60 e 44°C, menor caráter hidrofílico e menor estabilidade térmica, quando comparado ao amido in natura. Agradecimentos À FAPESP e a Corn Products do Brasil Referências Bibliográficas 1. M. Nothenberg Anuário Brasileiro do Plástico 1996, 6-15. 2. R. L. Shogren; G. F. Fanta; W. M. Doane Starch 1993, 8, 276. 3. W. M. Doane; C. L. Swanson; G. F. Fanta in ACS Symposium Series 476 Washington, 1990, 469. 4. K. Poutanen; P. Forssell Trend in Polym. Sci. 1996, 4,128. 5. J. J. G. Van Soest; J. F. G. Vliegenthart Tibtech 1997, 15, 208. 6. J. JANE, S. LIM, I. PAETAU, K. SPENCE, S. WANG, Biodegradable plastics made from agricultural biopolymers, in M. L. FISHMAN, R. B. FRIEDMAN, S. J. HUANG, Polymers from agricultural co products, American chemical Society, Washington, 1994. p.247. 7. R. E. KIRK, in Encyclopedia of chemical technology; John Wiley, New York, 1982, v.21. 8. K. W. KIRBY. Textile industry in modified starches: properties and uses, CRC Press, Florida, 1987. Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros