AULA PRÁTICA DE QUÍMICA FARMACÊUTICA Dia da aula e horário: sextas-feiras das 21:10h às 22:50h (frequência: quinzenal) Título da Aula: Verificação da Influência do pH e do pKa na ionização dos Fármacos Objetivo Observar a influência do pH na relação das concentrações de formas ionizadas e não ionizadas de três fármacos: ácido acetilsalicílico (caráter ácido, pKa=5), paracetamol (ácido muito fraco considerado de caráter neutro, pKa=10) e p-aminofenol (caráter básico, pKa do ácido conjugado=6). Fundamento Considerando que as formas não ionizadas de um fármaco são mais solúveis em solventes orgânicos e menos solúveis em água que as formas ionizadas, a quantidade de fármaco em um volume orgânico, adicionado a uma solução aquosa do fármaco, será proporcional à quantidade de fármaco na forma não ionizada. Assim, comparando-se as concentrações de um fármaco nas fases orgânicas separadas de soluções aquosas em diferentes pH, é possível verificar em que pH o fármaco está menos ionizado. Procedimento Em tubos de ensaio, adicionar as amostras de ácido acetilsalicílico (AAS), paracetamol (PC), p-aminofenol (AF), as soluções de pH 1 e 8 e o solvente, seguindo o especificado na tabela abaixo: TUBO SUBSTÂNCIA Volume Volume (mL) de Volume RESULTADO (Peso em mg) (mL) de Solução Tampão (mL) de (F ou f) Solução Na2HPO4/NaH2PO4 Acetato de HCl pH=8* de Etila pH=1 1 AAS (30) 3 3 2 AAS (30) 3 3 3 PC (20) 3 3 4 PC (20) 3 3 5 AF (20) 3 3 6 AF (20) 3 3 *Misturar 1 mL de solução de Na2HPO4 a 0,2 mol/L e 19 mL de solução de NaH2PO4 a 0,2 mol/L Agitar vigorosamente, deixar em repouso até ocorrer a separação das fases aquosa e orgânica e aplicar, com o auxílio de um capilar, volumes aproximadamente iguais de cada uma das fases orgânicas em placa de sílica com indicador de fluorescência. Secar e observar a placa sob luz ultravioleta. Comparar as fluorescências das manchas relativas ao mesmo fármaco especificando como forte (F) ou fraco (f). Cálculo Calcular as relações das concentrações das formas ionizadas e não ionizadas dos três fármacos em pH 1 e 8 e verificar se o resultado do experimento está de acordo com o que pode ser previsto pelos cálculos. MATERIAIS Tubos de ensaio de 15 ou 20 mL Capilar Papel manteiga para secagem Ácido acetilsalicílico (AAS) Paracetamol (PC) p-aminofenol (AF) Solução de HCl (pH=1) Tampão Na2HPO4/NaH2PO4 (pH=8) Solução Acetato de Etila EQUIPAMENTOS Estante supote para tubos de ensaio Balança eletrônica (mg) Placa de sílica com indicador de fluorescência Luz ultravioleta QUANTIDADE 6 por grupo 6 por grupo 3 por grupo 60 mg por grupo 40 mg por grupo 40 mg por grupo 9 mL por grupo 9 mL por grupo 18 mL por grupo QUANTIDADE 1 por grupo 2 por laboratório 6 por grupo - Descartar o material utilizado conforme as Normas Internacionais de Segurança: As soluções presentes nos tubos deverão ser desprezadas na pia, com água corrente. CÁLCULO DA DISSOCIAÇÃO DE FÁRMACOS Caros alunos, Devido a impossibilidade de ministrar a presente aula prática, vou exemplificar, através dos cálculos abaixo, como o pH do meio influencia na dissociação de princípios ativos e, consequentemente, na absorção e no desencadeamento da atividade farmacológica dos mesmos. Equação de Henderson-Hasselbalch para ÁCIDOS: pKa = pH + log { [ácido não dissociado] ÷ [ácido dissociado] } Equação de Henderson-Hasselbalch para BASES: pKa = pH + log { [base ionizada] ÷ [base não-ionizada] } Temos, abaixo, três fármacos com características e pKa diferentes: Ácido acetilsalicílico (caráter ácido, pKa=5) Paracetamol (ácido muito fraco considerado de caráter neutro, pKa=10) p-aminofenol (caráter básico, pKa do ácido conjugado=6) O cálculo da dissociação é útil para responder as seguintes perguntas: Em qual pH (ou sistema biológico) a absorção do fármaco será mais eficiente? E em qual pH o efeito farmacológico será máximo? Tomemos como exemplo o primeiro fármaco mencionado acima, o ácido acetilsalicílico, cujo caráter é ácido e o pKa (ou grau de dissociação) é 5. Consideremos, também, que este fármaco encontra-se em meios biológicos de pH=1 e pH=8, que podem representar o estômago e o intestino delgado, respectivamente. Em qual destes órgãos o ácido acetilsalicílico será mais bem absorvido? E em qual órgão apresentará maior atividade? Veja: No estômago: pH=1 pKa = pH + log { [ácido não dissociado] ÷ [ácido dissociado] } 5 = 1 + log { [ácido não dissociado] ÷ [ácido dissociado] } 5 – 1 = log { [ácido não dissociado] ÷ [ácido dissociado] } 4 = log { [ácido não dissociado] ÷ [ácido dissociado] } 104 = [ácido não dissociado] ÷ [ácido dissociado] 104 [ácido dissociado] = [ácido não dissociado] 10.000×[ácido dissociado] = [ácido não dissociado] Portanto, quando o pH do meio é igual a 1 (meio ácido), a concentração da forma não dissociada do ácido acetilsalicílico é DEZ MIL VEZES MAIOR do que a concentração da forma dissociada. Sendo assim, o ácido acetilsalicílico será mais bem absorvido (capacidade de atravessar membranas) no estômago, e praticamente não exercerá ação farmacológica. No intestino delgado: pH=8 pKa = pH + log { [ácido não dissociado] ÷ [ácido dissociado] } 5 = 8 + log { [ácido não dissociado] ÷ [ácido dissociado] } 5 – 8 = log { [ácido não dissociado] ÷ [ácido dissociado] } -3 = log { [ácido não dissociado] ÷ [ácido dissociado] } 10-3 = [ácido não dissociado] ÷ [ácido dissociado] 10-3[ácido dissociado] = [ácido não dissociado] 0,001×[ácido dissociado] = [ácido não dissociado] Portanto, quando o pH do meio é igual a 8 (meio básico), a concentração da forma não dissociada do ácido acetilsalicílico é MIL VEZES MENOR do que a concentração da forma dissociada. Sendo assim, o ácido acetilsalicílico praticamente NÃO será absorvido (capacidade de atravessar membranas) no intestino delgado, mas sua ação farmacológica será máxima. Os cálculos para os fármacos Paracetamol e p-aminofenol ficam como lição de casa. Estou à disposição para qualquer dúvida.