FACULDADE SERRA DA MESA INSTITUTO QUALITY DE PÓS-GRADUAÇÃO RHEVYSSON MARTINS DE OLIVEIRA BRITO A VIABILIDADE DE REALIZAÇÃO DE REPOSIÇÃO VOLÊMICA POR SOCORRISTAS DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR GOIANÉSIA - GOIÁS 2009 RHEVYSSON MARTINS DE OLIVEIRA BRITO A VIABILIDADE DE REALIZAÇÃO DE REPOSIÇÃO VOLÊMICA POR SOCORRISTAS DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR Artigo apresentado ao Curso de PósGraduação em Socorros de Urgência do Instituto Quality de Pós-Graduação e da Faculdade Serra da Mesa, como requisito para obtenção do título de Especialista em Socorros de Urgência. Sob a orientação do Profº. Harisson de Abreu Pancieri GOIANÉSIA - GOIÁS 2009 RHEVYSSON MARTINS DE OLIVEIRA BRITO A VIABILIDADE DE REALIZAÇÃO DE REPOSIÇÃO VOLÊMICA POR SOCORRISTAS DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR Artigo Científico defendido e aprovado em _____ de ______________de 2009, pela Banca Examinadora constituída pelos professores. Professor Harisson Abreu Pancieri Professor Convidado Professor Msc. Edilene Trigueiro Mendonça GOIANÉSIA - GOIÁS 2009 A VIABILIDADE DE REALIZAÇÃO DE REPOSIÇÃO VOLÊMICA POR SOCORRISTAS DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR RESUMO Trata-se de estudo do tipo bibliográfico que objetivou verificar a viabilidade de militares do Corpo de Bombeiros realizarem reposição volêmica em vítimas advindas de trauma e/ou em estado de choque hipovolêmico. Os dados revelaram que legalmente não existe possibilidade, entretanto, observando a missão da Instituição que é de vidas salvar, considerando que os Bombeiros foram pioneiros nos trabalhos pré-hospitalares no país, e ainda que possuem conhecimentos mínimos para tal, se treinados devidamente, os militares Bombeiros poderão executar manobras de reposição de volume sob regulação médica. Palavras chaves: Central de Regulação Médica de Urgências, Atendimento Pré Hospitalar, Corpo de Bombeiros Militar, Reposição de Volume THE VOLEMIC REPLACEMENT VIABILITY MADE BY EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS ON MILITARY FIRE DEPARTMENT ABSTRACT This is a bibliographical study aimed to verify the feasibility of Military Firefighters to perform volemic replacement on victims of trauma and/or hypovolemic shock. The data recealed that there is not legal possibility, however noting that life saving is the institution’s mission, and considering the Firemen were pioneers of pre-hospitalar work in the country, and still have minimal knowledge to do so, if trained properly, the Military may perform replacement maneuvers of volume, under medic regulation. Keywords: Medic Urgency Central Regulation, Pre-hospitalar Service Military Firefighters, Volume Replacenment A VIABILIDADE DE REALIZAÇÃO DE REPOSIÇÃO VOLÊMICA POR SOCORRISTAS DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR RHEVYSSON Martins de O. Brito 1 INTRODUÇÃO Sabe-se hoje que a área de Urgência e Emergência constitui um importante componente de assistência à saúde. O crescimento da demanda de serviço nesta área nos últimos anos tem contribuído decisivamente para a sobrecarga dos serviços de Urgência e Emergência disponibilizados para o atendimento da população devido ao aumento do número de acidentes, da violência urbana e a insuficiente estruturação da rede assistencial. Na atualidade existem várias ações já desenvolvidas pelo Ministério da Saúde, em parceria com as Secretarias de Saúde dos Municípios no sentido de implantar um processo de melhoria do atendimento às Urgências e Emergências no País. Entretanto, quando se fala de Brasil leva-se em consideração a grande extensão territorial, que impõe distâncias significativas entre municípios de pequeno e médio porte e seus respectivos municípios de referência, para a atenção hospitalar especializada e de alta complexidade. Portanto, são necessários serviços intermediários, capazes de garantir uma cadeia de reanimação e estabilização, além de referência adequada para os pacientes graves; e uma cadeia de cuidados imediatos com capacidade de solução para pacientes agudos não-graves; leva-se em consideração a dificuldade de implantar políticas sérias e resolutivas; considera-se ainda a dificuldade da estruturação dos Estados que são incapazes de atender toda a demanda. E por fim, temos o aumento desordenado da população causando vários problemas sociais. Considerando a Urgência e Emergência, quando falamos em salvar vidas, uma grande gama de profissionais se interagem. Há várias profissões que, no intuito de preservar o bem maior – a vida – se especializam e se capacitam nas suas áreas de atuação, para lidar com os possíveis transtornos, mas mesmo assim há a inadequação das leis e legislações o que torna, às vezes, morosos o trabalho preventivo, o préhospitalar e até mesmo o intra-hospitalar. Na atividade pré-hospitalar dentre vários profissionais que compõe as equipes de atendimento, encontram-se os Bombeiros que vêm se capacitando para atender aos mais diversos quadros de emergência. Esses profissionais na ânsia de salvar vidas fomentam o aperfeiçoamento de seu trabalho na busca de excelência nos serviços. Faça-se saber que além de uma “simples” missão constitucional – salvar vidas e bens –, esse é um serviço de dedicação; de busca de perfeição para que se possa cada dia salvar ou melhorar ao máximo a sobrevida das vítimas. E, ainda, trabalhando a idéia que a intervenção do Corpo de Bombeiros no processo recuperativo das vítimas se dá em um período mínimo, porém, determinante à vida (localização da vítima; tratamento pré-hospitalar; encaminhamento a atendimento médico); e por estarem envolvidos nessa área de atendimento pré-hospitalar fazendo resgate diuturnamente, os Bombeiros se deparam com várias situações que necessitariam de intervenções mais específicas. Não somente para salvar as possíveis vidas, mas como para diminuir o tempo que as vítimas passarão no hospital devido a um atendimento de maior qualidade no pré-hospitalar, diminuir o tempo de recuperação e diminuir a taxa de mortalidade. Desta forma, verificou-se a necessidade de buscar através de estudos o questionamento da reposição volêmica por parte dos integrantes do Corpo de Bombeiros Militar em vítimas, principalmente, advindas de traumas e/ou dos crescentes acidentes de trânsito que ocorrem no país. Onde esses profissionais, trabalhando com soluções isotônicas e sob orientações do médico regulador possam, nos primeiros instantes do atendimento, trazer uma maior chance de sobrevida as vítimas que o necessitarem. A abordagem feita considerou o trabalho desenvolvido pelos Bombeiros do Resgate na fase de atendimento pré-hospitalar. O trabalho buscou questionar a necessidade de militares do Corpo de Bombeiros em realizar manobras invasivas repondo volume em vítimas que o necessitem ou que estejam em estado de Choque. Para tanto foram observadas normas, Leis, Decretos, Literaturas Específicas entre outros, que de modo geral, trazem bibliograficamente a importância do assunto. 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Uma visão Ética Jean Bernard, hematologista, presidente da Academia de Ciências e também do comitê nacional consultivo de ética para as ciências da vida e da saúde, da França, afirma que: [...] a pessoa é uma individualidade biológica, um ser de relações psicossociais, o indivíduo para os juristas. Contudo, ela transcende essas definições analíticas. Ela aparece com um valor. (...) Nos problemas éticos decorrentes dos processos das pesquisas biológicas e médicas devem ser respeitados todos os homens e o homem todo [...]. (Jean Bernard, 1994 apud COSTA, 1998, p.39) O ser humano na apreciação desse eminente cientista merece respeito. Este é um tema relevante na história do pensamento ético. No século XVIII, Immanuel Kant (1965 apud COSTA, 1998, p.39), destacado filósofo da moral fez uma afirmação parecida “os seres racionais são chamados de pessoas porque sua natureza os diferencia como fins em si mesmo quer dizer, como algo que não pode ser usado somente como meio e, portanto, limita nesse sentido todo capricho e é um objeto de respeito”. Dentro desse contexto de valorização do ser humano encontra-se a ética da saúde. O surgimento das éticas aplicadas, a exemplo da ética da saúde, responde a uma dupla necessidade: de um lado, tenta-se diminuir a distância que se abriu entre ética e conhecimento; de outro, procura-se instrumentos para recolocar questões pertinentes à relação entre ciência e valor, relação esgarçada por conta de conjunturas históricas, sobretudo contemporâneas, que contribuíram para o aparecimento de dúvidas profundas a cerca dos significados e alcance do progresso científico. Mesclado a isso encontramos impasses a cerca do campo jurídico, que é um espaço propício a discutir e rediscutir as ações não somente jurídicas das leis vigentes, mas as ações práticas, vivenciadas no cotidiano de determinados grupos sociais. Entretanto, quando se fala em vidas, vidas humanas, essa visão jurídica se torna míope e a ética, a moral e todos os campos epistemológicos entram em cena. Já nos primórdios da civilização do pensamento ocidental há sinais desse interesse pelo valor do ser humano e pelo respeito a ele devido. No Corpus Hippocraticum (1984, p.298) – denominação dada ao conjunto dos escritos da tradição hipocrática é manifestado o interesse por não lesar ou danificar as pessoas, de forma geral, e as pessoas enfermas, de modo particular. Não causar prejuízo ou dano foi a primeira grande norma da conduta eticamente correta dos profissionais de medicina e do cuidado da saúde. O interesse em conhecer o que é bom, o bem, e os seus opostos, o que é mau e o mal, como os princípios e argumentos que os fundamentam, é o conteúdo geral da ética teórica. Já o estudo que se ocupa das ações das pessoas, se o seu agir pode ser qualificado como de bom ou de mau, é o conteúdo da ética prática. As teorias éticas ou as escolas éticas que apresentam a suas doutrinas como uma série de normas para agir bem ou de modo correto são chamadas de éticas normativas. Esse conjunto de estudo vem a somar aos mais diversos estudos científicos desenvolvidos na área da saúde que necessita, não somente de desenvolvimento jurídico, prático ou normativo, mas também, de desenvolvimento ético-moral. Na discussão ética dos problemas relacionados à saúde, se leva ainda em consideração que no dia-a-dia, muitos profissionais, incluídos os do cuidado à saúde, pautam o seu agir profissional por normas ou regras provenientes dos chamados códigos deontológicos de uma determinada profissão ou, também, embora não seja melhor denominação, códigos de ética ou códigos de ética profissional. Assim um conflito ético-moral sobre o exercício da profissão, realizado apenas no âmbito jurídico ou somente no plano deontológico não resolveria os problemas que enfrentamos na área médica, principalmente quando se fala em emergência, onde o pronto atendimento deve ser aplicado de forma rápida, segura e com competência. Sabe-se que devido aos avanços da tecnologia nos mais diversos campos, fazemse necessária a discussão sobre a conveniência, uso adequado, riscos e ameaças da mesma para a humanidade, tanto de forma geral como para o indivíduo em particular. Hans Jonas (1995 apud COSTA, 1998, p.40) situa muito bem esse problema ao afirmar que estamos precisando de um tratado tecnológico-ético (tractatus technologicoethicus) para nossa civilização. Os princípios da ética sobre a conduta boa ou má, certa ou errada, justa ou injusta aplicam-se, na época atual, a problemas novos decorrentes do progresso tecnológico e da nova sensibilidade ética da civilização e cultura contemporânea. Assim, por exemplo, podemos nos perguntar: qual seria a viabilidade de um Bombeiro, bem treinado e capacitado, fazer reposição volêmica no pré-hospitalar caso se verifique a necessidade agindo sob a orientação médica? Essa e outras perguntas se encaixam dentro da ética aplicada que tem uma pluralidade de formas, que não fogem no final das discussões de dois princípios básicos: Princípio da Beneficência e do Princípio da Não-Maleficência. O Princípio da Beneficência tem como regra norteadora da prática médica, odontológica, psicológica, e da enfermagem, e entre outras, o bem do paciente, o seu bem estar e os seus interesses, de acordo com os critérios do bem fornecidos pela medicina, odontologia, psicologia e enfermagem. Fundamenta-se nesse princípio a imagem que perdurou do médico ao longo da história, e que está fundada na tradição hipocrática já aludida: “usarei o tratamento para o bem dos enfermos segundo minha capacidade e juízo, mas nunca para fazer o mal e a injustiça”. (Epícuro, 1974, p.143 apud COSTA, 1998, p. 42- 47). Segundo Frankena (1969 apud COSTA, 1998, p.47) o Princípio da Beneficência não causa danos, previne danos e retira os danos ocasionados. Beauchamp e Childress adotam os elementos de Frankena e os reclassificam na forma a seguir: NãoMaleficência ou a obrigação de não causar danos, beneficência a obrigação de prevenir danos, retirar danos e promover bens. As exigências mais comuns das leis não consistem na prestação de serviços se não em restrições, expressas geralmente de forma negativa, por exemplo, não roubar. No mais das vezes, o Princípio de Não-Maleficência envolve abstenção, enquanto o Princípio da Beneficência requer ação. O Princípio da Não-Maleficência é devido a todas as pessoas, enquanto que Princípio da Beneficência, na prática é menos abrangente. Assim, fica um grande e pretensioso impasse onde agir pode se tornar perigoso tanto quanto abster-se, porque a não execução de procedimentos simples e básicos pode transformar quadros estáveis em quadro totalmente instáveis o que pode ocasionar a morte de uma vítima. A exemplo de uma vítima de ferimento de arma de fogo, onde há grande perca de volume sanguíneo; existe grande distância entre a vítima e o hospital e curta distância entre os Bombeiros. Os Bombeiros, legalmente, não podem realizar manobras invasivas (reposição de volume) independentemente de orientação médica, entretanto se o fizerem, tal procedimento, poderá determinar ou auxiliar na sobrevida do paciente, inclusive, dependendo da situação, pode determinar resultados de vida ou morte àquela pessoa. Bem e mal; vida e morte; ética e legislação; o que se joga...? O que se quer...? Definições de pontos de vista interferem no resultado final deste simples exemplo. 2.2 Legislações sobre o APH – Atendimento Pré-Hospitalar O atendimento pré-hospitalar é uma área de atuação médica que vem recebendo atenção diferenciada em nosso meio. Fundamenta-se, primeiramente, por proporcionar a detecção rápida de situações de risco à vida ou função, a intervenção precoce iniciada a partir do local de ocorrência e o encaminhamento direto ao serviço especializado de saúde. Esta atuação pode diminuir significativamente as seqüelas e mortes resultantes dos agravos. O Brasil passou por um processo de “transição nosológica”. Na transição de décadas, dos anos 80 para os anos 90, o país, até então, das verminoses, iniciou-se em um perfil semelhante ao de países desenvolvidos com o crescimento acentuado de mortalidade por moléstias cardiovasculares, câncer e o trauma. De lá para cá, existe uma busca em atenção ao atendimento Urgente e Emergencial, principalmente os advindos de traumas que têm sua expressão nos acidentes de trânsito. O Programa de Enfrentamento às Emergências e Trauma de 1990, lançado pelo Ministério da Saúde, previa 04(quatro) fases para diminuir os problemas advindos do trauma, sendo elas a fase de Prevenção, Atendimento Pré-Hospitalar, Atendimento Intra-Hospitalar e a Fase última de Reabilitação. A prevalência do trauma está em franca expansão e tudo faz prever que ele será um dos grandes problemas de saúde pública do próximo milênio; o trauma é a terceira causa global de mortalidade; o trauma é a primeira causa de mortalidade na faixa etária de 05 a 40 anos; o trauma é responsável por cerca de 50% das mortes na faixa etária de 01 a 15 anos; morrem de acidentes automobilísticos mais de 30.000 brasileiros por ano; os acidentes de trânsito são responsáveis por apenas um terço das mortes por traumas. Os dois terços restantes são resultados de numerosas outras causas, com destaque para as violências interpessoais; o trauma consome mais anos de vida que as moléstias cardiovasculares e o câncer; os acidentes de trânsito custam aos cofres públicos aproximadamente 1,5 bilhões de dólares por ano, incluindo cerca de 200 milhões na assistência às vítimas, 400 milhões em danos materiais e 800 milhões em perda de produção. (Programa de Enfrentamento à Emergência e Trauma, 1990, p. 05 e 06). Assim, pensando nesse quadro de acidentes onde o trauma é o fator que desencadeia os vários tipos de ocorrência na área pré-hospitalar, busca-se, incessantemente, aperfeiçoar as leis vigentes. O trauma é a principal causa de morte na faixa etária de 1 a 44 anos. Entre os adolescentes, 80% das mortes são decorrentes de trauma. Sessenta por cento das mortes na infância são secundárias a trauma. Por ano, morrem, em decorrência ao de trauma, três vezes mais americanos do que morreram na guerra do Vietnã. A cada dez anos, morrem mais pessoas por trauma do que morreram em todos os conflitos militares americanos juntos. Além disso, a cada ano, 11 milhões de pessoas ficam com incapacitação temporária e 450.000 com incapacitação permanente. Só na faixa etária acima dos 50 anos é que o câncer e as doenças cardiovasculares começam a competir com o trauma como causas de morte. (PHTLS, 2003, p.02) Logo em seguida outros Programas surgiram para reforçar o que já havia de legislação a exemplo do Programa de Enfrentamento ao Trauma e a Violência InterPessoal. Devido as necessidade de acertar arestas foi lançado o Código de Trânsito Brasileiro que reforçou as bases da saúde contra os acidentes traumáticos. Em consonância com o que já existia o Conselho Federal de Medicina estabeleceu algumas resoluções (Resolução Nº 1.529/2008 revogada pela Resolução N º 1.671/2003). E nos últimos dez anos, o Ministério da Saúde lançou uma série de Portarias regulando os serviços através do Sistema Único de Saúde: Portaria Nº 737 de 16 de maio de 2001, Portaria Nº 1.828 de 02 de setembro de 2004, Portaria Nº 2.420 de 09 de novembro de 2004, Portaria Nº 1.863 de 29 de setembro de 2004, Portaria Nº 1.864 de 29 de setembro de 2004, Portaria Nº 2.072 de 30 de outubro de 2003, Portaria Nº 2.048 de 05 de novembro de 2002 e Portaria Nº 2.657 de 16 de dezembro de 2004. De todos estes o documento central é a Portaria Nº 2.048 de 05 de novembro de 2002 que transcorre sobre o atendimento pré-hospitalar considerando como nível préhospitalar móvel na área de urgência, o atendimento que procura chegar precocemente à vítima, após ter ocorrido um agravo à sua saúde (de natureza clínica, cirúrgica, traumática, inclusive as psiquiátricas), que possa levar a sofrimento, seqüelas ou mesmo à morte, sendo necessário, portanto, prestar-lhe atendimento e/ou transporte adequado a um serviço de saúde devidamente hierarquizado e integrado ao Sistema Único de Saúde. Considerando que um adequado funcionamento do atendimento pré-hospitalar trará diminuição dos riscos em todos os agravos de urgência/emergência e o interesse público na minimização das seqüelas em vítimas de traumas, com conseqüente redução dos custos hospitalares. (Resolução CFM 1.671, 2003) A mesma Portaria regula que os atendimentos pré-hospitalares móveis devem contar com profissionais oriundos da área da saúde (médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, etc.) e não oriundos da área de saúde (policiais militares, bombeiros militares, etc.). Em particular, existe uma tendência a desconsiderar os Bombeiros como elemento integrante da área de saúde, a Portaria não autoriza que os mesmo possam realizar manobras invasivas ficando os Bombeiros restritos as manobras de suporte básico à vida. Já os profissionais da área de saúde, além dos médicos e enfermeiros, os técnicos em enfermagem, por exemplo, estão autorizados a realizar manobras conservadoras, além de estarem habilitados a realização de procedimentos a eles delegados. Essa é uma visão fiscalizadora e zelosa que, além do Ministério da Saúde, envolve também o Conselho Federal de Medicina como mostra a Resolução 1.671 de julho de 2003 “[...] competência dos bombeiros [...] utilizar instrumentos de monitorização não-invasiva conforme protocolo local autorizado [...]”. O Conselho também faz registro sobre os profissionais da enfermagem: [...] Profissionais habilitados para o atendimento pré-hospitalar e credenciados para integrar a guarnição de ambulâncias do serviço de atendimento pré-hospitalar. Além da intervenção conservadora, são habilitados a realizar procedimentos, sob prescrição médica, na vítima do trauma e de outras emergências médicas [...] (Resolução CFM .1671, 2003) Apesar destas restrições para com os Bombeiros, os conselhos Regionais de Medicina podem editar resoluções no âmbito de sua competência, assim em 1993, o CREMESP – Conselho Regional de Medicina de São Paulo – editou a Recomendação CREMESO Nº. 01/93, vazada nos seguintes termos: Que os profissionais habilitados e credenciados pela Divisão de Ensino do Corpo de Bombeiros no Curso Técnico em Emergências Médicas nível intermediário, poderão executar os procedimentos de: infusão venosa, emprego de PharingoTrachaeal Lúmen Airway”(PTL) e desfibrilação automática, sob estrita supervisão médica, somente nos locais das ocorrências, e quando em serviço nas Unidades de Resgate do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo. (Conselho Regional de Medicina do Estado de Santa Catarina, 2000, p. 9395) Tal Recomendação foi baseada no fato de funcionar, em São Paulo, o serviço de atendimento pré-hospitalar com participação do Corpo de Bombeiros (formado por pessoal treinado pelos protocolos norte americano de suporte básico da vida e contando com a coordenação médica nos locais de ocorrências mais graves). Posteriormente, no entanto, o CREMESP verificou o equívoco cometido face às diferenças existentes entre a legislação norte-americana e a brasileira, no que diz respeito á habilitação profissional. Uma dessas enormes diferenças se relaciona à existência do denominado Paramedic (Paramédico) nos Estados Unidos, profissão inexistente no Brasil, e expressão não conhecida pelo Conselho Nacional de Saúde, que desde 1993 “recomenda a eliminação do termo e sua substituição por Profissional da Saúde” (Resolução CNS Nº 44/93 – apud Conselho Regional de Medicina do Estado de Santa Catarina, 2000, p. 93-95). Já no Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro existe um trabalho diferente no que tange ao APH (Atendimento Pré-Hospitalar). Quase todos os profissionais envolvidos no atendimento ao paciente são oriundos da área da saúde: médicos, enfermeiros, farmacêuticos e técnicos de enfermagem. Todas as equipes profissionais, antes de serem incorporados ao serviço, são treinadas pelo Centro de Educação Profissional em Atendimento Pré-hospitalar (CEPAP), em instalações modernas e empregando manequins de simulação de última geração e técnicas baseadas em protocolos de atendimento voltados para emergências pré-hospitalares em nível de suporte básico e avançado de vida. Assim, eles, além de Bombeiros, são profissionais de saúde podendo, por exemplo, fazer trabalhos não conservadores, como reposição volêmica. A mesma lei que proíbe os Bombeiros de fazer manobras invasivas, regula e autoriza esse e outros tipos de manobras por parte dos profissionais de saúde. Procedimento semelhante acontece no SAMU – Sistema de Atendimento Móvel a Urgências – que contrata somente profissionais de saúde para trabalhar no APH ficando somente os motoristas das viaturas como socorristas: “ ... socorristas são profissionais não médicos habilitados para prestar atendimento de urgência-emergência em nível préhospitalar, sob supervisão e coordenação médica.” ( Resolução CFM Nº 1.529, 1998) Em suma, há documentos/legislações que identificam, ainda, que o socorro às vítimas em via pública e no domicílio do paciente é um ato médico: “É importante frisar e definir que o sistema de atendimento pré-hospitalar é um serviço médico. Assim, sua coordenação, regulação e supervisão direta e a distância deve ser efetuada unicamente por médico.” (Resolução CFM Nº 1.671, 2003). Portanto, sua coordenação e supervisão deverão ser, exclusivamente, realizadas por médico, seja com presença no local do evento ou supervisionando, em central de comunicação (médico regulador), sua execução por outros profissionais habilitados para tal fim. Médicos Reguladores: médicos que, com base nas informações colhidas dos usuários, quando estes acionam a central de regulação, são os responsáveis pelo gerenciamento, definição e operacionalização dos meios disponíveis e necessários para responder a tais solicitações, utilizando-se de protocolos técnicos e da faculdade de arbitrar sobre os equipamentos de saúde do sistema necessários ao adequado atendimento do paciente. (Portaria 2.048/GM, 2002) Considerando que os procedimentos delegados a profissionais não-médicos podem ser estabelecidos pelo médico regulador através de protocolos específicos, cabendo ao médico responsável técnico da instituição a supervisão de todas as atividades do serviço. (Resolução CFM 1.671, 2003) E a supervisão médica vai além da presença física em muitos casos. Isso é possível, porque, hoje, se reconhece a telemedicina e seus benefícios. [...] Considerando que a telemedicina deve contribuir para favorecer a relação individual médico-paciente; [...] Definir a telemedicina como o exercício da Medicina através da utilização de metodologias interativas de comunicação audio-visual e de dados, com o objetivo de assistência, educação e pesquisa em Saúde. (Resolução do CFM Nº 1.643, 2002) A competência técnica do profissional médico é a de julgar e decidir sobre a gravidade de um caso que lhe está sendo comunicado por rádio ou telefone, enviar os recursos necessários ao atendimento (com ou sem a presença do médico na ocorrência). Igualmente, os protocolos de intervenção médica pré-hospitalar são concebidos e pactuados, garantindo perfeito entendimento entre o médico regulador e o intervencionista quanto aos elementos de decisão e intervenção: “[...] garantindo objetividade nas comunicações e precisão nos encaminhamentos decorrentes, sendo o monitoramento das missões dever do médico regulador [...]” (Resolução CFM Nº1.671, 2003). Assim, observa-se que os termos das leis abrem e fecham brechas que poderiam ser discutidos pelos profissionais referidos. Mesmo sendo definida, ela deixa margem para que possamos refletir sobre os paradigmas que nos assolam a cerca do atendimento pré-hospitalar. 2.3 O Trauma na Emergência O Trauma é definido como uma lesão corporal causada pela exposição aguda a uma forma de energia. Pode-se definir politraumatizado, segundo Apostila de Emergências Médicas do SIATE-GO (2002, p.06) “[...] como o indivíduo vítima de traumatismo de média e grande intensidade que atinja no mínimo dois compartimentos corporais representados por crânio, tórax, abdome, coluna vertebral e extremidades”. A oportunidade que o socorrista tem de prestar serviços a seu semelhante é muito maior no trauma do que em qualquer outro tipo de atendimento. Não só o número de doentes traumatizados é maior do que o de outras populações de doentes, mas também a chance de sobrevida do doente traumatizado que teve atendimento inicial adequado é maior do que a de qualquer outro doente. O socorrista pode aumentar a expectativa de vida do doente traumatizado, não somente pelo ganho de anos produtivos, mas por oportunizar ao Sistema de Saúde a recuperação mais eficiente àquela vítima. Assim, a influência do socorrista sobre o doente traumatizado é maior do que sobre qualquer outro doente. Para se ter uma noção dos problemas advindos do trauma as literaturas trazem exemplos a estes citados: Só nos Estados Unidos ocorrem 60 milhões de traumas por ano. Metade, 30 milhões de pessoas, necessita de atendimento médico urgente e 9 milhões têm algum grau de incapacitação. Trezentas mil pessoas ficam com incapacitação permanente e 8,7 milhões têm incapacitação temporária [...] o custo astronômico: de 40% dos gastos dos Estados Unidos com saúde, mais de 100 bilhões de dólares, destinam-se ao tratamento destes doentes traumatizados. Além disso, outros 300 bilhões são perdidos em salários, custos administrativos de seguros, danos materiais e custos empresariais [...] ( PHTLS, 2003, p.0205) No Brasil, em conseqüência do aumento do número de veículos, má conservação da malha rodoviária e preparo inadequado de motoristas, tem havido aumento tanto do número de acidentes quanto da gravidade das lesões produzidas por eles. Apesar da falta de dados globais, os acidentes de trânsito produzem 50.000 óbitos e 300.000 lesões definitivas por ano. Na região Metropolitana de Goiânia, que conta hoje com mais de 1.500.000 habitantes, existem 500.000 carros e 170.000 motos. A estatística média de atendimentos em 2001 do Grupo de resgate Pré-Hospitalar do Corpo de Bombeiros/SIATE foi de 1.130 pacientes/mês. (Apostila de Emergências Médicas do SIATE-GO, 2002, p. 06-08) As mortes devido ao trauma têm uma distribuição trimodal, com cada pico correspondendo a um tipo de intervenção que seria mais efetiva em reduzir a mortalidade. O primeiro pico, as mortes imediatas, representa os pacientes que morrem antes de chegar ao hospital. As lesões acometendo estas mortes incluem os grandes traumas cranianos e lacerações cardíacas ou de grandes vasos. Poucos destes pacientes teriam qualquer chance de vida, mesmo com acesso imediato ao hospital. A prevenção permanece a maior estratégia para reduzir estas mortes. O segundo grande pico, as mortes precoces, são aquelas que ocorrem nas primeiras horas após o trauma. Elas são devidas, principalmente, à insuficiência respiratória, e às hemorragias internas e são quase todas tratáveis. Entretanto, os casos graves necessitam de centros de trauma de fácil acesso e disponibilidade de especialistas e de centro cirúrgico nas 24 horas do dia. Essas primeiras horas após o trauma são chamadas de Horas de Ouro do trauma, porque conforme a Apostila de Emergências Médicas do SIATE-GO (2002, p.06) “o prognóstico definitivo do paciente politraumatizado depende, fundamentalmente, da eficiência com que suas lesões são abordadas e tratadas neste período”. O terceiro pico, as mortes tardias, consiste dos pacientes que morrem após dias ou semanas do trauma. A grande maioria se deve a infecções e a disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. O atendimento adequado na unidade de terapia intensiva é importante para reduzir essas mortes. O tratamento do politraumatizado grave exige a rápida identificação das lesões e a instituição de medidas terapêuticas para controlar as condições que ameaçam a vida. Assim, a abordagem de vítimas de trauma deve ser diferenciada, pois a vítima pode não parecer gravemente lesada. Pode haver pouca evidência externa de lesão, de maneira que, assim como descreve a Apostila de Emergências Médicas do SIATE-GO (2002, p.08), “se o mecanismo de trauma tiver sido suficiente para produzir lesões graves, toda vítima deve ser manipulada como se um trauma grave tivesse ocorrido”. E como procedimento essa mesma literatura diz: Tão logo medidas de avaliação primária, ABCDE, tenham sido tomadas, o paciente deve ser transportado segura e rapidamente ao hospital. A ênfase do atendimento pré-hospitalar deve ser: permeabilizar vias aéreas e ventilar o paciente, imobilizar a coluna cervical, obter acesso venoso e transportá-lo até o hospital mais próximo com condições para oferecer atendimento hospitalar adequado para as necessidades de cada vítima em particular. (Apostila de Emergências Médicas do SIATE-GO, 2002, p.08) A maioria dos casos de êxito letal precoce em pacientes traumatizados decorre de insuficiência respiratória aguda ou choque. Aqui, especificamente, iremos observar o estado de choque porque, como traz Apostila de Emergências Médicas do SIATE-GO (2002, p.012), “algum grau de choque sempre está presente nos pacientes politraumatizados”. Somado a isso, se sabe que o estado de choque é uma premissa para a reposição volêmica como mostra JÚNIOR e FANTONI: Reposição de líquido nos espaços intravascular e intersticial é meta prioritária no tratamento do choque causado por hemorragia, desidratação grave, queimaduras, cirurgia, sepse, e uma grande variedade de traumatismos. (JÚNIOR e FANTONI, 1999, p. 126-138 ) 2.3.1 O Estado de Choque A palavra choque foi utilizada pela primeira vez, na literatura médica, em 1731 pelo cirurgião francês Henry François Le Dran quando publicou suas experiências obtidas a partir das observações sobre ferimentos no campo de batalha. A palavra choque deriva do francês choc: parada e scoc: sacudida. É um distúrbio caracterizado pelo insuficiente suprimento sangüíneo para os tecidos e células do corpo. Pode se dizer que é a perfusão e oxigenação inadequada dos órgãos e tecidos. (KOSSHIMA, 2003) Cem anos mais tarde, Thomas Latta utilizou solução salina para tratamento do choque hipovolêmico devido à cólera. A partir desse período, os estudiosos do assunto passaram a conceituar choque segundo o modelo científico mais desenvolvido na época. Assim, Claude Bernard costumava conceituar choque por um modelo fisiológico envolvendo o sistema nervoso, assunto de maior interesse naquele período. Em 1872, Samuel Gross descrevia choque como desequilíbrio da maquinaria da vida. John Collins Warren definia como pausa no processo da vida. Em 1889, George Crile, após estudos experimentais, definiu a importância da pressão venosa e a falência do retorno venoso como fenômeno central no desenvolvimento do choque. As primeiras observações clínicas de choque surgiram durante a Primeira Guerra Mundial, quando Cannon e Bayliss levaram um grupo de fisiologistas para o atendimento de feridos no campo de batalha. Mais recentemente, diversos estudiosos passaram a identificar situações que se tornavam difíceis de serem incluídas em um só conceito. A partir daí, diversas definições surgiram, focalizando um ou outro aspecto da síndrome. Dessa forma, Mac Lean em 1972 definiu choque focalizando o fluxo sangüíneo para órgãos vitais. Parrillo, em 1994 chama a atenção para a característica de redução generalizada da disponibilidade de Oxigênio para os tecidos. As literaturas atuais também trazem conceitos didáticos a cerca do que seria o estado de choque: “[...] choque é uma anormalidade do sistema circulatório, que resulta em perfusão orgânica e oxigenação tecidual inadequada [...]” explica o ATLS – Advanced Trauma Life Support – (1995, p. 77). O choque pode ser classificado segundo diversos critérios. O critério etiológico procura enfatizar a causa desencadeante do choque, assim encontramos os termos choque hemorrágico, traumático, anafilático e neurogênico. O critério clínico enfatiza a forma de apresentação, assim temos o choque hipotensivo, choque normotensivo, choque frio, choque quente etc. O critério mais comumente utilizado nos dias de hoje procura enfatizar o aspecto hemodinâmico subjacente, assim temos: choque hipovolêmico, choque cardiogênico, choque obstrutivo e choque distributivo. No choque hipovolêmico, a utilização do substrato energético está comprometida devido à hipoperfusão tecidual, conseqüente à redução do volume circulante. No choque cardiogênico, o oxigênio não é utilizado adequadamente devido à falência da contração ventricular, o qual gera pressão insuficiente para perfusão tecidual. No choque obstrutivo, a perfusão é comprometida por obstáculo mecânico ao fluxo sangüíneo gerado pela concentração ventricular, ou por restrição à diástole. O choque distributivo pode se apresentar de duas formas hemodinâmicas: com baixa resistência vascular sistêmica (fase inicial do choque séptico, choque anafilático etc.) ou com alta resistência vascular sistêmica (fase tardia do choque séptico). Em todas as formas, a utilização do substrato energético está comprometida por alterações da microcirculação ou do metabolismo celular modificado por diferentes mediadores. [...] Em seguida, dá-se prioridade à letra “C” que corresponde à manutenção da circulação. A hipovolemia grave está presente na grande maioria com causas clínicas e cirúrgicas de choque circulatório e em até um terço dos pacientes com infarto agudo do miocárdio e hipoperfusão. Conseqüentemente, a rápida infusão de líquidos é necessária para expandir o volume intravascular e restaurar o retorno venoso. A terapia com líquidos está em relação direta com os parâmetros específicos do desempenho circulatório restaurado, como a freqüência cardíaca, pressão arterial, pressão venosa, central (PVC), débito cardíaco (DC), diurese e depuração do lactato arterial. (MARSON, 1998, p.373) O modelo fisiopatológico adotado, para explicar a evolução do processo de choque, considera que todas as formas de choque apresentam uma resposta semelhante quanto ao fluxo sangüíneo que se torna reduzido. A redução do volume circulante efetivo pode ser devido à redução do volume circulante, à falência miocárdica ou ao aumento das necessidades metabólicas. A resposta inicial do organismo é redistribui o fluxo de sangue para órgãos essenciais como o cérebro e o coração, em detrimento de outros como o fígado, os rins, o intestino etc. o que pode tecer um quadro clínico generalizado de disfunção de sistemas e órgãos. O tratamento do paciente em estado de choque pode ser dividido em: medidas gerais, medidas específicas, observação contínua e medidas de apoio. As medidas gerais procuram garantir uma respiração adequada com suplementação de oxigênio, estabelecimento de um acesso vascular para infusão de líquidos e um controle rigoroso de entrada e saída de líquidos. Quanto à taxa de sobrevida, verificaram 100% de sobrevida nos animais tratados com a solução hipertônica, enquanto que aqueles tratados com soro fisiológico vieram a óbito nas primeiras 6,5 horas após o período de sangramento. (Junior e Fantoni, 1999) As medidas específicas são dirigidas para os diferentes tipos de choque (hipovolêmico, cardiogênico, obstrutivo ou distributivo). A observação contínua envolve uma monitorização hemodinâmica invasiva e controle clínico-laboratorial dos sistemas orgânicos envolvidos. As medidas de apoio são as que demonstram ser benéficas no tratamento do choque. A reposição de volume e o uso de drogas vasoativas devem se basear nos dados encontrados a partir da monitorização hemodinâmica. Soluções hipertônicas têm sido utilizadas no tratamento do choque hipovolêmico, desde o início do século. Relatou-se o aumento da sobrevida em pacientes com cólera submetidos a tratamento com solução hipertônica de cioreto de sódio a 1,5%. (Junior e Fantoni, 1999 apud Shertel e Tobias, 1992) A mais importante medida de apoio no tratamento do choque consiste na rápida e adequada reposição de líquido como mostra o ATLS (1995, p. 25 e 85) “Como mínimo, devem ser inseridos dois cateteres venosos de grosso calibre “ [...] o volume líquido inicial é administrado tão rapidamente quanto possível. A dose habitual é de um a dois litros em adultos e de 20 ml/kg em crianças [...]”. A hipovolemia está, em geral, associada a todos os tipos de choque e sua persistência constitui o fator perpetuador da hipoperfusão tecidual. O primeiro princípio de reposição volêmica consiste em fornecer, com segurança, o líquido que o paciente perdeu. Os efeitos de uma solução hipertônica de cloreto de sódio e lactato em pacientes na vigência de choque hipovolêmico resultante de queimaduras, demonstrando que o tratamento com a solução hipertônica foi efetivo e seguro. (Junior e Fantoni, 1999 apud Mofano e Col, 1973) O paciente que não se apresenta anêmico poderá receber soluções de cristalóides (soro fisiológico, Ringer etc.) ou coloidais (expansores plasmáticos de diferentes composições). Conforme o ATLS (1995, p. 85) “a solução de Ringer lactato é a escolha inicial. A solução salina fisiológica é a segunda escolha para a reposição de volume em politraumatizado”. Ainda fazendo considerações a cerca da reposição volêmica temos: Há dois motivos para se obter acesso venoso em qualquer doente na fase pré-hospitalar: reposição volêmica e administração de drogas. O terceiro, um motivo intra-hospitalar, é monitorizar as funções cardíacas. O acesso pode ser obtido por punção venosa periférica ou central ou por punção intra-óssea [...] O local ideal para o aceso venoso num doente traumatizado são os acessos periféricos de grosso calibre (preferencialmente 2 acesso).”(PHTLS, 2003, p.184-18 Dentro da necessidade de estudar a reposição volêmica vários estudos vêm comprovando, ao longo dos anos, a necessidade de se repor o volume o quanto antes possível em vítimas traumatizadas/chocadas: Pequenos volumes de cloreto de sódio hipertônico (NACI a 7,5%), restauram a pressão arterial, o débito cardíaco e o fluxo regional, quando injetados em animais em choque hemorrágico grave. Em estudos clínicos de hipotensão pós-traumática, foram também observados benefícios com o uso de soluções salinas hipertônicas, principalmente para vitimas de trauma necessitando de cirurgia e nos portadores de trauma craniano e com hipotensão sistêmica. (SILVA, 2003) [...] ainda neste estudo os autores verificaram que a administração da solução de cloreto de sódio a 3% durante a fase de transporte de pacientes vítimas de traumatismo, apresentando hipotensão, normalizou a pressão arterial, pH e o débito cardíaco. (Junior e Fantoni, 1999) Na literatura há vários estudos sobre as diversas soluções para reposição volêmica. Entretanto, nos serviços de urgência e emergência a solução habitualmente utilizada na prática clínica é o RL (Ringer Lactato), motivo pelo qual foi padronizada a utilização dessa solução no protocolo. (HIRANO, 2003) 3 ANÁLISE DO EXPOSTO Preservar e manter a vida de uma pessoa até que esta receba assistência hospitalar. Em poucas palavras, esta pode ser uma definição do que são primeiros socorros. No entanto, não são poucas as situações em que estes podem ser prestados e os socorristas devem estar cientes que sua ação deve ser precisa, rápida e tranqüila. Então, é indispensável ao socorrista um aprendizado teórico e prático, além da experiência diária, que possa permitir-lhe prestar os primeiros socorros de maneira segura e correta. O atendimento pré-hospitalar vem sofrendo transformações ao longo dos tempos. Na medida em que as tecnologias vão se aperfeiçoando, conforme se percebe a necessidade, cada vez maior, de implementar técnicas mais eficientes e especializadas, estudos são feitos e refeitos para trazer uma melhoria do sistema. Entretanto, no âmbito do atendimento pré-hospitalar, por profissionais não médicos, esse aperfeiçoamento fica inviabilizado, pois segundo as legislações específicas, não há a possibilidade de o socorrista realizar atos de competência da área da saúde, mas há a necessidade em alguns casos de reposição volêmica. Visto que o Médico Regulador das Emergências, nem o Médico Socorrista não conseguem estar presentes em todas as ocorrências. Justifica-se a necessidade de se buscar alternativas viáveis para a preservação da vida do paciente visto que esta é o bem maior. O que se percebe é que as vidas das vítimas poderiam estar sendo poupadas e a morbidade diminuída, se houvesse a reposição volêmica precoce, mediante a orientação médica, pois existe uma alta incidência de vítimas advindas do trauma que, em algum nível, estão em estado de choque. Assim, em uma atmosfera favorável, onde já fornecendo treinamento aos socorristas do Resgate do Corpo de Bombeiros Militar e orientado pelo médico regulador, esses militares poderiam puncionar uma veia e aplicar solução indicada pelo médico. Isso iria contribuir para o CBMGO de duas formas, primeiro porque o serviço estaria sendo especializado mostrando que há interesse em buscar excelência nos serviços; segundo porque, cada vez mais, estaríamos aproximando do objetivo dos Bombeiros que é salvar vidas. Quando se fala em salvar vidas uma série de análises devem ser feitas para que o melhor possa ser feito às vítimas: Os serviços de Urgências e Emergências de todo o país encontram-se constantemente congestionado. Um trabalho bem desenvolvido ou adiantado pelo atendimento pré-hospitalar agilizaria o próprio trabalho intra-hospitalar melhorando a qualidade do atendimento, diminuindo o período que a vítima se encontraria no hospital, com conseqüente diminuição de gastos públicos e com aumento de sobrevida. Quando se fala de Brasil tem que levar em consideração que existe uma grande extensão territorial, que impõe distâncias significativas entre local do acidente e hospital de referência, o que de certa forma, dificulta uma cadeia de reanimação e estabilização e referência adequada para os pacientes graves; e uma cadeia de cuidados imediatos e resolutivos para pacientes agudos e agudos não graves. Observa-se ainda a idéia de que a intervenção dos Bombeiros/Socorristas no processo recuperativo das vítimas se dá em um período mínimo e determinante à vida de forma que a experiência aliada a técnicas eficientes possa restaurar o quadro de sobrevida que aumentará. Eticamente não se pode esquecer que a vida não deve ser utilizada como meio do processo, e sim como objeto que se visa salvar. O campo de atuação dos profissionais se torna restrito levando em consideração somente a visão jurídica, que é míope perante a Ética e todos os campos Epistemológicos. Uma primeira manifestação a cerca do assunto mostra o interesse por não lesar ou danificar as pessoas, de forma geral, e as pessoas enfermas, de modo particular. Outro aspecto é observado dentro dos planos deontológicos, cujos problemas não se resolvem em totalidade quando se fala em área médica, principalmente porque na área de emergência, onde o pronto atendimento deve ser aplicado de forma rápida. Fica explícito, eticamente falando, que a base dos princípios éticos da medicina está em torno do Princípio da Beneficência e da NãoMaleficência. O primeiro resume em agir conhecendo o que se faz e o segundo em abster-se, devido ao despreparo, para não prejudicar. Um outro foco de considerações pode-se estender aos históricos do trabalho do atendimento pré-hospitalar. Ele vai, simplesmente, mostrar que houve evoluções nos trabalhos desenvolvidos por representantes do atendimento pré-hospitalar. Entretanto, o mais interessante que observar a evolução é se atentar à existência de duas escolas de atendimento pré-hospitalar: uma preconizando o atendimento in loco levando toda a assistência ao local do acidentado (Européia) e outra a norte-americana que visa o rápido atendimento – transporte rápido de vítimas. Assim, o misto, juntar o que há de melhor entre os procedimentos citados, dessas duas escolas traria o que há de “mais perfeito” no atendimento pré-hospitalar. Dentro das legislações há pontos fundamentais relacionados ao atendimento préhospitalar. Os documentos transcorrem sobre o atendimento pré-hospitalar considerando como nível pré-hospitalar móvel na área de urgência, o atendimento que procura chegar precocemente à vítima, após ter ocorrido um agravo à sua saúde; mostrando que existem equipes da área de saúde e profissionais que não são da área da saúde. As leis trazem, para um mesmo ocorrido (acidente), responsabilidades diferentes às equipes que prestam socorro. Os Bombeiros, por exemplo, estão proibidos de fazer qualquer manobra invasiva. Já as equipes de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, etc.) têm ampla atuação, conforme responsabilidade de cada um. A análise realizada tende a mostrar que existe a dificuldade legal de Bombeiros fazerem reposição volêmica. Fato esse indiscutível, pois a portaria que trata do assunto é precisa e clara. Temos que levar em consideração, é claro, os aspectos legais e formais, mas observa-se que nestas últimas legislações não houve pesquisa para conhecer melhor o trabalho prestado pelos Bombeiros, pois no início dos trabalhos PréHospitalares no país, quase que, exclusivamente, os Bombeiros realizavam trabalhos pré-hospitalares. Estes profissionais que se aperfeiçoam, têm em sua formação horas em Primeiros Socorros, saem da formação e se especializam tendo mais muitas horas em Primeiros Socorros, e especificamente em situações adversas, não podem puncionar uma veia e repor volume orientado por médicos reguladores. O paralelo permitido se faz, pois muitos técnicos de enfermagem, que são autorizados pelas normas a tomarem atitudes invasivas, nem sempre são capazes de fazê-lo, principalmente se o colocarmos em uma situação adversas, o que aos Bombeiros é uma rotina. Ressalta-se também que, conforme o Consenso Brasileiro de Monitorização e Suporte Hemodinâmico prescrito na Revista Brasileira de Terapia Intensiva ( 2006 Vol.18 , p 162) “a restauração da volemia deve ser obtida o mais precoce possível e parece que o tempo influencia mais do que o tipo de solução cristalóide ou colóide administrado” e além disso, na mesma revista “ considera que há baixos custos e poucos efeitos colaterais diretos de aplicação de soluções cristalóides...”. Resume-se que não há muito problemas em administrar estes repositores de volume e que em termos de custos são baixos. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho do socorrista é relevante visto que, com o uso adequado e eficiente de seus conhecimentos no local de um acidente, ele é capaz de salvar vidas e impedir ou aliviar o sofrimento. Esse é o único e exclusivo objetivo do trabalho que busca aperfeiçoar e melhorar as técnicas de conhecimento dos Bombeiros/Socorritas para que esses homens possam estar administrando cuidados básicos e determinantes à vida. Como existe uma necessidade de maior atuação quando se consideram vítimas traumatizadas; sabendo que os Bombeiros não podem, legalmente, agir invasivamente nas vítimas, mesmo que essas o necessitem; sabendo que o CBMGO é uma instituição legalmente responsável por assistir vítimas de diversos acidentes; sabendo ainda que existe, por parte dos Bombeiros, um grande domínio dos conhecimentos a respeito do Choque; expondo ainda uma impressão subjetiva de profissionais da saúde que explicam que os Bombeiros têm capacidade de repassar as informações dos estados das vítimas, chega-se na viabilidade desses Bombeiros/Socorristas fazerem manobras invasivas desde que sejam treinados para isso. Assim, poderão se especializar e dar um melhor tratamento Pré-Hospitalar às vítimas que atendem. De forma geral então deve-se: 1º - Adequar a legislação atual para que os Militares do Corpo de Bombeiros possam, legalmente, ter amparo; ( opção a médio/longo prazo) 2º - Quando da realização de Concursos, incluir nas fileiras da Instituição pessoas com formação na Área de Saúde; (opção a médio/longo prazo) 3º - Sem adequar a legislação pertinente, pode-se, fazendo comparações entre as grades curriculares – Curso Técnico de Enfermagem x Cursos Militares –, fazer adequação á grade de Disciplina dos Militares no Curso de Formação e/ou Curso de Especialização; (opção a curto prazo) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACCIOLY, Ricardo. APH no Brasil. Disponível em: <http://www.aph.com.br/2002/ pr.asp >. Acesso em: 10 de out. 2005. American College of Surgeons. ATLS – Advanced Trauma Life Support. 3º ed., 1995. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução Nº 1.643, de 07 de agosto de 2002. 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